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Quando cai um raio e queima um eletrodoméstico, a história é quase sempre a mesma. Começa o
jogo de empurra entre a empresa distribuidora e o consumidor. O dono do aparelho quer que a
concessionária pague o prejuízo. A empresa alega que não pode controlar onde os raios vão cair
e a agência reguladora, no meio, avalia caso a caso. A conclusão, na maioria das vezes, também
é parecida: alguém sai insatisfeito. Um convênio entre a Eletropaulo e o Centro de Estudos em
Regulação e Qualidade de Energia (Enerq), da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
(USP), pretende dar parâmetros mais concretos para a solução dessas discussões.
O primeiro passo do estudo foi simular, em laboratório, as ocorrências mais comuns nos cerca de
1,5 mil circuitos administrados pela Eletropaulo. 'Foi elaborada o que chamamos de Tabela
Verdade', diz o professor Nelson Kagan, da Escola Politécnica, um dos coordenadores do projeto.
Segundo ele, para cada uma das ocorrências - programadas ou não pela Eletropaulo - foram
checados os efeitos na rede elétrica. 'Verificamos, a cada teste, se houve sobre ou subtensão e a
quanto elas chegaram', diz o professor Kagan.
O aumento tem vários motivos. 'No final de 2000, foram realizadas campanhas de esclarecimento
à população, que divulgaram os números de telefones das ouvidorias da CSPE e da Aneel', diz
Kann. a elevação mais significativa, contudo, ocorreu quando ficou determinado por lei que o
telefone da comissão de energia fosse divulgado nas contas enviadas aos consumidores. 'Aí
passamos a receber 200 telefonemas por dia de reclamações', afirma o comissário.
'Somadas as ligações para esclarecimentos sobre o racionamento, o total chega a 400 ligações.'
Vale ressaltar que boa parte das reclamações não têm nada a ver com a queima de aparelhos
domésticos. Muitas são por desligamento indevido, demora na ligação ou religação, entre outros
motivos.
Em meados deste ano, o projeto da Enerq terminará. Está em elaboração, como parte do
trabalho, um software que administrará o banco de dados da pesquisa. 'A idéia é que o programa
cruze as informações trazidas pelo consumidor com as de ocorrências na rede e com as dos
testes com os eletrodomésticos', afirma Kagan. 'Será possível saber se houve problema no local
onde mora o reclamante e se a ocorrência pode ter queimado o aparelho em questão', informou
ele.
Zevi Kann, da CSPE, acredita que esse tipo de pesquisa pode contribuir para resolver muitos
problemas entre concessionárias e consumidores, mas alerta para o fato de que nem sempre as
informações podem ser utilizadas de forma direta. 'O comportamento de um televisor novo e o de
outro com dois anos de uso, mesmo que da mesma marca e modelo, por exemplo, podem ser
diferentes quando submetidos às mesmas condições', diz o comissário-geral. (Gazeta
Mercantil/Página A6) (Cláudio Bacal)