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FARMACÊUTICA
Fernanda Junges²
RESUMO:
A organização da Assistência Farmacêutica caracteriza-se por ações articuladas e sincronizadas
entre as diversas atividades que compõem o ciclo da Assistência Farmacêutica. Como os
medicamentos são considerados a principal ferramenta terapêutica para recuperação ou manutenção
das condições de saúde da população, a promoção do uso racional dos medicamentos é uma
ferramenta importante de atuação junto à sociedade. Neste sentido, o farmacêutico pode contribuir
sobremaneira, já que este é assunto pertinente a seu campo de atuação. Sua participação em
equipes multidisciplinares acrescenta valor aos serviços e contribui para a promoção da saúde. Este
artigo discute o ciclo da Assistência Farmacêutica enfatizando o papel do farmacêutico em cada uma
das etapas.
ABSTRACT:
The organization of the Pharmaceutical Assistance is characterized by synchronized and coordinated
actions between the different activities that compose the Pharmaceutical Assistance Cycle. As the
drugs are considered the main therapeutic tool for recovery or maintenance of health of the
population, the promotion of rational use of drugs is an important tool in society. In this sense, the
pharmacist can play an important, since this issue is pertinent to your field. Your participation in
multidisciplinary teams adds value to the services and contributes to health promotion. This article
discusses the cycle of Pharmaceutical Assistance emphasizing the role of the pharmacist in each of
the steps.
2. METODOLOGIA
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.3.1 Seleção
A indústria farmacêutica disponibiliza no mercado um grande número de
especialidades. O lançamento constante de produtos novos, geralmente frutos de
pequenas mudanças nas suas estruturas moleculares, não proporcionam nem
representam melhorias ou ganhos substanciais sob o ponto de vista terapêutico. A
comercialização de um número cada vez maior de medicamentos similares, de
equivalentes ou alternativas farmacêuticas, associada ao intenso trabalho de
marketing e disputa de mercado, acabam por estimular a prescrição e o uso
irracional de fármacos.
O que se observa realmente é um número cada vez maior de especialidades
farmacêuticas, sem que isso se traduza em uma melhoria da terapêutica
disponibilizada à população. Além disso, essa prática mercadológica geralmente traz
consigo um aumento nos preços desses novos medicamentos e,
consequentemente, dos custos dos tratamentos. Nesse contexto, torna-se
fundamental uma seleção racional de medicamentos, de maneira a proporcionar
maior eficiência administrativa e uma adequada resolutividade terapêutica, além de
contribuir para a racionalidade na prescrição e utilização de fármacos (MARIN,2003).
Os medicamentos podem ser considerados ferramentas para que o
profissional de saúde venha modificar o curso da prevenção, diagnóstico ou
tratamento de uma doença. Porém, o uso irracional de medicamentos leva ao
desenvolvimento e propagação de resistência bacteriana, reações adversas a
medicamentos, erros no uso de medicamentos, além de poder causar mais danos
que benefícios para o paciente (MELLO, 2007).
A criação de uma Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) é uma
estratégia, que estabelece um instrumento para que o gestor possa tomar decisões
mais uniformes e segundo diretrizes estabelecidas. A CFT é uma instância
colegiada, de caráter consultivo e deliberativo, que tem por finalidade selecionar
medicamentos essenciais a serem utilizados no sistema de saúde, além de
assessorar a gestão nas questões referentes a medicamentos. É geralmente
composta por profissionais de saúde com várias formações, incluindo o farmacêutico
cujo papel ultrapassa as fronteiras da seleção, estando muito ligado à educação e
promoção do uso racional de medicamentos (BARRETO; GUIMARÃES, 2010).
A CFT possui uma estrutura multidisciplinar, onde o profissional farmacêutico
atua como membro efetivo responsável por: participar na escolha, análise e
utilização de estudos científicos que fundamentem a adequada seleção de
medicamentos; participar de ações visando à promoção do uso racional de
medicamentos e o desenvolvimento da pesquisa clínica; participar na elaboração de
diretrizes clínicas e protocolos terapêuticos; participar no estabelecimento de normas
para prescrição, dispensação, administração, utilização de medicamentos e
avaliação; participar de estudos de custo-efetividade de medicamentos e outros
produtos para saúde; prover informações sobre medicamentos e outros produtos
para saúde, suspeitos de envolvimento em eventos adversos; participar da definição
de critérios que disciplinem a divulgação de medicamentos e produtos para saúde;
participar da realização de estudos de utilização de medicamentos; estimular a
utilização de indicadores epidemiológicos como critério do processo decisório de
seleção; participar da elaboração e divulgação da padronização de medicamentos,
zelando pelo seu cumprimento e participar da elaboração do guia
farmacoterapêutico (BRASIL, 2006a).
Os objetivos principais da seleção de medicamentos são: implantar políticas
de utilização de medicamentos com base em correta avaliação, seleção e emprego
terapêutico; promover a atualização e a reciclagem de temas relacionados à
terapêutica e reduzir custos (BRASIL, 1994).
A seleção de medicamentos é um processo complexo. É importante que seja
realizada considerando a contribuição das seguintes ciências: farmacoeconomia,
farmacoepidemiologia, farmacologia e terapêutica clínica, farmacovigilância, bio-
farmacotécnica e farmacocinética. Este enfoque multidisciplinar colabora para que
os diversos elementos que interferem na utilização dos medicamentos sejam
contemplados na escolha do arsenal terapêutico (REIS, 2003).
3.3.2 Programação
No Ciclo da Assistência Farmacêutica, a programação representa uma outra
atividade importante, que tem por finalidade que o serviço ou sistema disponha de
medicamentos apropriados e previamente selecionados, nas quantidades
necessárias, em tempo oportuno e cuidando para que se contribua à promoção do
uso racional dos medicamentos. Para tanto, deve empreender a quantificação dos
medicamentos a serem adquiridos e elencar as necessidades, priorizando-as e
compatibilizando-as com os recursos disponíveis, e ainda cuidar para evitar a
descontinuidade no abastecimento. A estimativa dessas necessidades representa
um dos pontos cruciais do Ciclo da Assistência Farmacêutica por sua relação direta
com o nível de acesso aos medicamentos e com o nível de perdas desses produtos.
Há várias formas de proceder a uma estimativa técnica dessas necessidades. É o
perfil de morbimortalidade, no entanto, o mais importante aspecto a considerar,
quando se busca orientação na identificação de tais necessidades. A programação é
uma atividade associada ao planejamento; sua viabilidade e factibilidade dependem
da utilização de informações gerenciais disponíveis e fidedignas, da análise da
situação local de saúde, assim como do conhecimento sobre os medicamentos
selecionados, sua indicação precípua e sua perspectiva de emprego na população-
alvo (MARIN et al., 2003).
Faz-se necessário dispor, ainda, de dados consistentes sobre o consumo de
medicamentos da área ou serviço, seu perfil demográfico e epidemiológico, a oferta
e demanda de serviços de saúde que apresenta, os recursos humanos capacitados
de que dispõe, bem como a disponibilidade financeira para a execução da
programação. Devem ser considerados ainda a área física, estrutura da Central de
Abastecimento (CAF), condições técnicas e espaço disponível (TUMA, 2009).
Independentemente do método a ser utilizado no processo ou recursos
financeiros disponíveis para atender à demanda, a programação deve refletir a
necessidade real, condição básica para se calcular os índices de cobertura local.
Somente por meio da identificação das necessidades locais pode-se determinar a
quantidade adequada de medicamentos a serem adquiridos. Recomenda-se a
combinação dos diversos métodos, para uma programação mais ajustada: perfil
epidemiológico; consumo histórico; Consumo Médio Mensal (CMM) e oferta de
serviços (BRASIL, 2006b).
A responsabilidade da programação deve ser compartilhada pelo serviço de
farmácia e a administração ou setor responsável pela aquisição, bem como com
representantes dos serviços clínicos e CFT. As decisões devem advir de consenso
após discussão dos critérios específicos, apresentados pelos membros da equipe.
Cabe aos profissionais farmacêuticos listar os medicamentos necessários, de acordo
com a seleção estabelecida; quantificar os medicamentos, de acordo com a
necessidade real; detalhar as especificações para compra; calcular o custo e
compatibilizar as necessidades com o teto financeiro previsto para efetuar a
aquisição; priorizar as necessidades, de comum acordo com a equipe de trabalho;
definir cronograma para aquisição e prazo de entrega; repassar, ao setor
responsável pelas compras, suas necessidades referentes aos produtos a serem
adquiridos e acompanhar o transcurso do processo, para apontar as urgências
(TUMA, 2009).
A ausência do farmacêutico na programação, segundo Marin e colaboradores
(2003) pode desencadear uma série de problemas para a gestão da assistência
farmacêutica propiciando o predomínio da improvisação e da não observância de
recomendações técnicas.
A equipe responsável pela programação deve estabelecer a metodologia de
trabalho, os critérios de priorização de necessidades, as atribuições e
responsabilidades de cada membro, cronograma de execução, periodicidade e
modalidades de compras e elaborar os instrumentos apropriados: planilhas,
formulários adequados para o registro das informações e instrumentos de avaliação
(TUMA, 2009).
3.3.3 Aquisição
A aquisição de medicamentos representa uma das atividades do Ciclo da
Assistência Farmacêutica, constituindo-se num conjunto de procedimentos
articulados que visam a selecionar o licitante com a proposta mais vantajosa para
satisfazer uma determinada necessidade e, assim, legitimar a administração a
contratar o particular. Ela objetiva contribuir para o abastecimento de medicamentos
em quantidade adequada e qualidade assegurada, ao menor custo possível, dentro
da realidade do mercado, apoiando e promovendo uma terapêutica racional, em
área e tempo determinados(MARIN, 2003).
A aquisição de medicamentos no setor público, assim como as demais
atividades do Ciclo da Assistência Farmacêutica, é uma das peças que contribuem
para o sucesso e a credibilidade dos serviços farmacêuticos. Um elenco de
medicamentos definido dentro de rigorosos critérios, boas condições de
armazenamento e profissionais capacitados não atenderão às necessidades da rede
de serviços se houver descontinuidades no suprimento dos medicamentos.
A falta de materiais, por sua vez, é decorrente de problemas estruturais,
organizacionais e/ou individuais que permeiam as várias atividades do referido ciclo.
Considerando as amarras burocráticas e jurídicas do setor público, sem dúvida
alguma, o processo de aquisição representa um importante e delicado componente
do sistema, tornando possíveis ganhos significativos de eficiência ou, ao contrário, o
comprometimento de alguns fundamentos muito importantes: agilidade das compras,
confiabilidade dos produtos adquiridos e alcance de preços competitivos para tais
produtos (MARIN, 2003).
A falta de estrutura adequada, de organização do serviço, de qualificação de
pessoal para gestão do medicamento e de um sistema de controle e de informação
eficaz, interferem na qualidade do processo de aquisição e no aumento dos gastos
com medicamentos, contribuindo para a lentidão do processo, faltas constantes,
aumento da frequência de compras, fragmentação e compras em regime de
urgência, perdas e desperdícios (TUMA, 2009).
A maioria dos serviços farmacêuticos utiliza, como critério técnico para
aquisição, dados de consumo histórico e/ou critérios subjetivos. Em todos os
métodos de programação (por perfil epidemiológico, oferta de serviços, consumo
histórico ou ajustado), existem vantagens e desvantagens. Recomenda-se ajustar a
combinação dos vários métodos para se obter uma programação mais adequada
para que se possa quantificar melhor (BRASIL, 2006d).
Bem como a programação, a aquisição de medicamentos e produtos para
saúde é um processo que requer a participação interdisciplinar para sua eficácia.
Cabe ao farmacêutico sensibilizar os setores de planejamento, orçamento, finanças,
administrativo/compras; para a importância do trabalho multidisciplinar como forma
de assegurar a qualidade dos produtos adquiridos. A responsabilidade legal e ética
pela qualidade dos medicamentos adquiridos é do farmacêutico. Quando a unidade
de farmácia não é o responsável direto pela aquisição de medicamentos e produtos
para saúde, deve manter estreita relação com o setor responsável, assegurando a
participação através do parecer técnico (TUMA, 2009).
3.3.4 Armazenamento
Armazenamento é a etapa do Ciclo da Assistência Farmacêutica responsável
por assegurar a qualidade dos medicamentos através de condições adequadas de
armazenamento e de um controle de estoque eficaz. No Brasil, os almoxarifados
dedicados exclusivamente à armazenagem de medicamentos têm sido denominados
como Centrais de Abastecimento Farmacêutico (MARIN, 2003).
O armazenamento constitui-se como um conjunto de procedimentos técnicos
e administrativos que envolve diversas atividades: recebimento de medicamentos;
estocagem ou guarda; segurança de manter o material sob cuidados contra danos
físicos e roubos; conservação e controle de estoque (MARIN, 2003).
Um dos requisitos para desenvolver uma armazenagem adequada
compreende ter e seguir um manual de normas de armazenagem. O manual deve
conter: informações e procedimentos internos da empresa; procedimentos de
armazenagem; áreas de produtos em quarentena, interditados, inutilizados; áreas de
produtos de controle especial; controle de qualidade; controle de pragas; segurança
nas instalações (TUMA, 2009).
Manuais escritos de rotinas e normas de armazenamento de medicamentos
auxiliam no trabalho cotidiano e devem ser elaborados com a participação do
farmacêutico, sendo atualizados sempre que necessário. A promoção de
treinamentos periódicos para os funcionários visando a capacitação e o estímulo ao
trabalho, possibilita a integração entre os profissionais e cria um ambiente propício
para práticas seguras (ANACLETO et al., 2006).
A responsabilidade técnica do almoxarifado de medicamentos deve ser
assumida por um farmacêutico, que supervisionará e orientará as atividades da
equipe de trabalho. É atribuição do farmacêutico no âmbito de armazenagem
garantir que o produto mantenha todas as suas características, assegurando
qualidade e eficácia. O profissional deverá assegurar que as atividades operacionais
estejam dentro das normas de qualidade através de procedimentos escritos e com
registros de sua execução (TUMA, 2009).
3.3.5 Distribuição
A etapa de distribuição tem por objetivo organizar os medicamentos e
produtos para saúde que saem do almoxarifado para as unidades requisitantes em
condições de segurança. As atividades realizadas devem em geral contemplar a
separação, acomodação para o transporte e distribuição de acordo com as normas e
procedimentos operacionais adequados (TUMA, 2009).
Uma distribuição correta e racional de medicamentos deve garantir: rapidez
na entrega, através de um cronograma estabelecido, impedindo atrasos e/ou
desabastecimento ao sistema; segurança, para garantir que os produtos cheguem
nas quantidades corretas e com a qualidade desejada; transporte, considerando as
condições adequadas de segurança, o tempo de entrega e os custos financeiros;
sistema de informação e controle eficiente para um gerenciamento adequado
(MARIN, 2003).
É importante registrar no documento de saída o número dos lotes dos
medicamentos distribuídos, para que, caso ocorram problemas de qualidade, seja
possível rastrear os lotes, facilitando a identificação (BRASIL, 2001).
O processo de distribuição de medicamentos e produtos para saúde deve
estar sob a supervisão do farmacêutico, o qual deve prover condições que permitam
aos encarregados das atividades de apoio, contar de forma oportuna com os
materiais e equipamentos necessários para realização do trabalho. O profissional
farmacêutico deve elaborar normas, procedimentos operacionais e instruções de
trabalho, visando reduzir perdas por danos, reduzir tempo gasto na movimentação
dos produtos, evitar acidentes e aumentar a eficiência do processo (TUMA, 2009).
3.3.6 Dispensação
O procedimento de dispensação deve assegurar que o medicamento de boa
qualidade seja entregue ao paciente certo, na dose prescrita, na quantidade
adequada; que sejam fornecidas as informações suficientes para o uso correto e que
seja embalado de forma a preservar a qualidade do produto. Trata-se do
atendimento de um paciente específico e que, portanto, terá necessidades e
características também específicas, as quais devem ser levadas em conta no
momento do atendimento. É uma das últimas oportunidades de, ainda dentro do
sistema de saúde, identificar, corrigir ou reduzir possíveis riscos associados à
terapêutica medicamentosa (MARIN, 2003).
De acordo com a Resolução nº 20, de 5 de maio de 2011, dispensação está
definida como:
[...]ato do profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais
medicamentos a um paciente, geralmente, como resposta à apresentação
de uma receita elaborada por um profissional autorizado. Neste ato, o
farmacêutico informa e orienta ao paciente sobre o uso adequado desse
medicamento. São elementos importantes desta orientação, entre outros, a
ênfase no cumprimento do regime posológico, a influência dos alimentos, a
interação com outros medicamentos, o reconhecimento de reações
adversas potenciais e as condições de conservação do produto.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS