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Desenvolvimento Humano
Material Teórico
Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Revisão Textual:
Profª. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni
Desenvolvimento humano
Unidade e as práticas educativas
• A criança e a escola
• A educação e o letramento
• A alfabetização de adultos
• Considerações Finais
desdobramento na escola.
Em seguida faremos uma reflexão, tendo como foco a alfabetização
e o letramento. Assim, destacaremos e discutiremos os métodos
de alfabetização mais empregados nas escolas brasileiras durante
o percurso de sua história. Para tanto, apropriar-nos-emos das
ideias de Jean Piaget, Emília Ferreiro e dos educadores brasileiros
Paulo Freire e Magda Soares.
Quanto às atividades propostas na unidade, é importante que você realize todas com afinco
e determinação. Teste seus conhecimentos respondendo às questões sugeridas, observe o
que você já sabe e o que precisa, ainda, saber e amplie seus conhecimentos lendo o material
complementar sugerido.
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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Contextualização
Para o momento de contextualização, sugerimos a leitura da entrevista que tem como fonte o
jornal Folha de São Paulo e que está publicada no site do jornal virtual Lance, do Laboratório
de Neuropsicolinguística Cognitiva Experimental da Universidade de São Paulo (USP).
A entrevista é concedida pelos Professores Telma Weisz e Fernando Capovilla e tem como
título Construtivismo x Método Fônico. A entrevista foi motivada pela decisão do Ministério da
Educação de rever os métodos de alfabetização. Na entrevista, Weisz defende o construtivismo,
enquanto Capovilla defende o método Fônico para alfabetizar, e, assim, abrem um debate entre
as duas abordagens.
A entrevista encontra-se no seguinte endereço eletrônico: http://www.ip.usp.br/lance/jornal.html
Para Pensar
Leia a entrevista com atenção e depois reflita sobre seu próprio processo de alfabetização. Você
foi alfabetizado(a) através de uma cartilha? Em caso afirmativo, qual o nome da cartilha? Você
lembra o método pelo qual foi alfabetizado? Se fosse alfabetizar alguém, qual método usaria?
Justifique suas respostas.
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Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Nesta unidade iremos conhecer e investigar as práticas educativas nos anos iniciais da educação.
Trataremos das hipóteses de alfabetização durante o desenvolvimento da escrita e também
conceituaremos o termo letramento no processo de alfabetização da criança. Apresentaremos o
contexto da alfabetização e sua importância, contemplando o letramento como uma ferramenta
importante dentro do processo de alfabetização, no sentido de construção da identidade de um
indivíduo que saiba utilizar socialmente a leitura e a escrita. Neste contexto, abordaremos os
métodos de alfabetização e as dificuldades dos professores para trabalhar com a alfabetização.
Dentro desse pressuposto, as concepções acerca da alfabetização estão diretamente ligadas
às necessidades sociais, bem como o avanço do conhecimento exigido por cada época. As
investigações sobre a alfabetização mostram-nos uma abordagem, passando de um enfoque
mecanicista para um enfoque cognitivista e cultural.
A concepção do sujeito, dentro de uma abordagem tradicional, mostra-nos o educador
como impositor de conceitos rígidos e fechados, processo em que ele é o detentor de todo o
conhecimento, enquanto o aprendiz apenas o recebe (depósito), sem nenhuma possibilidade de
participação concreta no processo de alfabetização.
Essa visão mecanicista do sujeito na alfabetização é pautada na crença de que, para cada
som da fala, há uma letra e, para cada palavra, um conjunto de letras. Sob essa forma de
pensar, o ato de alfabetizar assumia que a simples transposição de códigos (oral e escrito) seria
o bastante para habilitar o sujeito a construir e interpretar mensagens, através da codificação
(escrita) e da decodificação (leitura).
Para compreendermos esse processo, recorremos ao que denominamos aquisição da
linguagem e da comunicação, que se desenvolvem segundo etapas de ordem constante,
ainda que o ritmo de progressão possa variar de um sujeito para outro, respeitando os limites
individuais ou momentâneos de cada um.
É falando e ouvindo que as crianças conseguem segmentar e aprender as palavras que lhes
interessam, e isso muito antes de serem capazes de empregá-las em frases. As primeiras palavras
das crianças reúnem, sob uma mesma denominação, vários objetivos e situações que interessam
aos que fazem parte de sua experiência.
A criança pode usar uma onomatopeia clássica, como “bruuuu”, para designar o carro que
passa pela rua ou qualquer meio de transporte que apareça em sua frente, pessoas ou animais
que se movimentam na rua, brinquedos que se movimentam como também manifestar o
desejo de andar de carro.
Essas palavras iniciais têm um forte caráter imitativo e não têm um significado fixo. Como
vimos na unidade anterior,a criança pensa, inicialmente, por imagens e são as imagens que
marcam a significação que ela atribui às palavras. A aquisição da linguagem verbal, que implica
o uso de palavras, tem início, em geral, entre os 12 e 24 meses de idade.
Entretanto, antes do aparecimento das primeiras palavras, observa-se o desenvolvimento
de um complexo sistema de comunicação não verbal, com intencionalidade cada vez mais
definida e que envolve a expressividade corporal, os movimentos, gestos, olhares, nuances nas
vocalizações, choro e assim por diante.
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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Para Pensar
Ter um interlocutor é fundamental para a completude do processo comunicacional. De que adiantaria
ter algo para dizer, um desejo de dizer e uma forma para fazê-lo, caso não houvesse alguém para
ouvir ou interagir? Estamos frente à importância do papel do outro, não só como nosso ouvinte, mas
também como aquele que nos fornece o instrumental simbólico a ser usado na comunicação.
Podemos dizer que a formação dos conteúdos mentais ou de nossa linguagem interior está
diretamente ligada ao desenvolvimento cognitivo. Alterações nesse aspecto podem interferir na
aquisição da linguagem, predominantemente em termos semânticos e de compreensão.
A criança e a escola
Chega a hora de a criança ir à escola e ampliar os seus contatos com os valores sociais.
Após o período de desenvolvimento da linguagem, entre os 4 e 6 anos, chega o momento
da alfabetização, a hora de ir para a escola para entrar no processo de aquisição da leitura
e da escrita.
No Brasil, em meados dos anos 80, chega uma nova teoria causando grande impacto e
revolucionando o ensino da língua nas séries iniciais do Ensino Fundamental, ao mesmo
tempo provocando uma revisão no tratamento dado ao ensino e à aprendizagem em outras
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áreas do conhecimento. Essa investigação evidencia a atividade construtiva do aluno sobre
a língua escrita, objeto de conhecimento reconhecidamente escolar, mostrando a presença
importante dos conhecimentos específicos sobre a escrita que a criança já tem e que, embora
não coincidam com os dos adultos, têm sentido para ela. Veja como Freire trata a questão
da alfabetização:
A escola consolida-se como lugar institucionalizado para o preparo das novas gerações. A
universalização da escola assume um papel de instrumento da modernização e do progresso
para “esclarecer as massas iletradas”. A leitura e a escrita tornam-se fundamentos da escola
obrigatórios e objeto de ensino e aprendizagem.
A passagem da criança para o mundo da cultura letrada instaura novas formas de relação
dos sujeitos entre si, com a natureza e com a história; um mundo novo que instaura novos
modos e conteúdos de pensar, sentir, querer e agir.
Os documentos oficiais da Federação brasileira também nos ajudam a pensar o papel da
escola, quando esta se defronta com a questão da alfabetização e do letramento, principalmente
nos anos iniciais do Ensino Fundamental I. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1º a 4º
séries) da Língua Portuguesa entendem o letramento como:
Ideias Chave
O contato que o aprendiz teve com a leitura e a escrita na vida pré-escolar deve ser levado em conta
no processo de alfabetização. Inclusive, atualmente, devemos considerar a experiência com as novas
tecnologias que os aprendizes tiveram.
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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Método sintético:
Com muitas variantes, de forma geral, desenvolve-se da “parte” para o Bb
...
“todo”, apropriando-se da soletração, que parte do nome das letras, ou da
Ba, Be, Bi
silabação, partindo da emissão de sons das sílabas, sempre em uma ordem
crescente. Como método que valoriza o fônico na alfabetização, parte dos Barriga
sons correspondentes às letras.
Posteriormente, reunidas as letras ou os sons em sílabas ou conhecidas as famílias
silábicas, ensina-se a ler palavras formadas com essas letras e/ou sons e/ou sílabas e, por
fim, ensinam-se frases isoladas ou agrupadas. Em relação à escrita, o método restringe-se
à caligrafia e à ortografia, e seu ensino, à cópia, ditados e formação de frases, enfatizando
o desenho correto das letras.
A partir de 1890, implementou-se a reforma da instrução pública no Estado de São Paulo. A
base da reforma estava nos novos métodos de ensino, em especial no então novo e revolucionário
método analítico para o ensino da leitura.
Método analítico:
De acordo com o método analítico, o ensino da leitura deve ser Barriga
iniciado pelo “todo”, para depois se proceder à análise de suas partes
Bb
constitutivas. Diferentemente dos métodos de marcha sintética até então
.
utilizados, o método analítico, sobre forte influência da pedagogia norte- Ba, Be, Bi ..
americana, baseia-se em princípios didáticos derivados de uma nova
concepção — de caráter biopsicofisiológico — de criança.
Por entender a criança de uma maneira mais global, os níveis gerais e satisfatórios para o
desenvolvimento corporal, orgânico, postural e motor têm atenção especial. Aprender significa
criar novas estruturas psicomotoras que são incorporadas ao cognitivo da criança e essas novas
experiências motoras adquiridas são ajustadas às já estabelecidas.
Em meados da década de 1920, aumentam as resistências dos professores quanto à utilização
do método analítico e começa-se a buscar novas propostas de solução para os problemas do
ensino e aprendizagem iniciais da leitura e da escrita. Neste sentido, a importância do método
de alfabetização passa a ser relativizada, secundária e considerada tradicional.
As cartilhas utilizadas como recurso para alfabetização passam a se basear, predominantemente,
em métodos mistos ou ecléticos (analítico-sintético e vice-versa), com manuais para os professores.
Um exemplo é a cartilha Caminho Suave, que predominou na educação brasileira a partir de
1948, ano de seu lançamento. Também conhecida como uma metodologia de alfabetização
pela imagem, pois associava a letra a uma imagem “a de abelha”.
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Na década de 1980, essa tradição passa a ser questionada em decorrência de novas urgências
políticas e sociais, que se fazem acompanhar de propostas de mudança na educação, a fim de
se enfrentar, particularmente, o fracasso da escola na alfabetização de crianças.
Método Clínico:
Associado à teoria piagetiana, este é um método livre de conversação sobre um tema dirigido
pelo interrogador. É uma técnica experimental que orienta o curso do interrogatório, o qual é
dirigido pelas respostas do sujeito. Seu objetivo é análise do conteúdo do pensamento infantil.
Esse método inclui uma prática que testa hipóteses sobre o funcionamento da inteligência
de um sujeito enquanto este raciocina. Pouco abrangente na questão da alfabetização, mas
amplamente difundido na educação de forma geral.
A Abordagem Construtivista:
Nos anos 1980, é introduzido no Brasil o pensamento construtivista sobre alfabetização,
resultante das pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita, desenvolvidas pela pesquisadora
argentina Emília Ferreiro e seus colaboradores. O construtivismo apresenta-se como uma
revolução conceitual sobre a educação, demandando, entre outros aspectos, o abandono das
teorias e práticas tradicionais, desmetodizando o processo de alfabetização e questionando a
necessidade das cartilhas.
No construtivismo, a maneira de construir o saber é muito ampla, incluindo, realmente, as
ideias de descobrir, inventar, redescobrir, criar, sendo que aquilo que se faz é tão importante
quanto o como fazer e o porquê de fazer.
O sujeito tem um papel ativo no processo de aprendizagem, convivendo com textos e
pessoas alfabetizadas, estabelecendo uma ligação cognitiva a partir do que ele já sabe, das suas
hipóteses, das suas necessidades e do que é capaz de problematizar.
No contexto da teoria construtivista de caráter interativo, contamos com a Epistemologia
genética proposta por Jean Piaget, entendendo o pensamento e a inteligência como processos
cognitivos que têm sua base em um organismo biológico.
Para Piaget, é a partir da herança genética que o individuo constrói sua própria evolução
da inteligência, em paralelo com a maturidade e o crescimento biológico; através da
interação com o meio, desenvolve também suas capacidades básicas para a subsistência: a
adaptação e a organização.
Abordagem Histórico-social:
O enfoque histórico-cultural concebido por Vygotsky consiste em considerar o indivíduo
como resultado de um processo histórico e social, em que a linguagem desempenha um papel
essencial. Para Vygotsky, o conhecimento é um processo de interação entre sujeito e o meio.
Esse meio é entendido social e culturalmente.
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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Dentro da teoria sócio-histórica, são as condições sociais em que o sujeito está inserido que
mediarão o seu desenvolvimento no processo de aprendizagem, priorizando as interações entre
os próprios alunos e entre eles e o professor. O objetivo, então, é fazer com que os conceitos
espontâneos que as crianças desenvolvem em sua convivência social evoluam para o nível dos
conceitos científicos. Nesse sentido, o educador assume o papel de mediador privilegiado na
formação do conhecimento.
A alfabetização busca a consoante unindo-se à vogal, mas de uma forma construtivista e não
mecânica, como se fazia com as famílias silábicas (modelo tradicional). O objetivo é ampliar
o universo das expressões da criança para facilitar a incorporação da escrita. A ênfase é na
elaboração da fala, da escrita e da leitura como instrumentos simbólicos que repercutem no
desenvolvimento mental.
A criança deve contar com um ponto de partida para realizar suas próprias descobertas. Nesse
sentido, o oferecimento de modelos de texto, por exemplo, é uma estratégia válida – desde que
resulte numa atividade criativa e não cópia mecânica. Trabalhos em pequenos grupos facilitam
o aprendizado, mas cabe ao educador acompanhar individualmente o aluno.
• Silábico,
• Silábico-alfabético
• Alfabético
O quadro apresenta-nos uma ideia do desenvolvimento da escrita e da leitura da criança.
Inicialmente a criança não atribui valor à escrita; paulatinamente, a criança ira valorar as letras,
sílabas e palavras. A criança, primeiro, cria hipóteses de sua escrita para, em seguida, atribuir-
lhe o significado estabelecido pela sintaxe e gramática adulta e convencional.
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Entrando na 4º etapa, a criança começa o processo de fonetização da escrita. Veja o que
Emília Ferreiro diz sobre esta questão:
Período pré-silábico:
É a fase da pré-escrita. A criança não consegue relacionar as letras com os sons da língua
falada. Não há reconhecimento do valor sonoro. Não há entendimento da ordem das letras.
Neste momento, o aprendiz acredita que, para ler e escrever, precisa de muitas letras, sem
repetição. A criança escreve o que deseja escrever; ela ainda não percebe a forma escrita como
representação da fala.
Sapato OO -
Período silábico:
A criança interpreta a letra à sua maneira, atribuindo valor a sílaba, uma a uma. A letra é como
um símbolo. Ainda há a presença da quantidade de letras, colocando uma letra para cada sílaba.
Período Silábico-alfabético:
A criança mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas, escrevendo
ora atribuindo a cada sílaba uma letra, ora representando as unidades sonoras menores, os
fonemas. O modo silábico-alfabético precede a escrita regida pelos fundamentos alfabéticos.
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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Período Alfabético:
Neste momento, a criança entende que ler não é apenas adivinhar o que está escrito, que
será preciso reconhecer os fonemas e que, para escrever e ser compreendido em sua escrita,
será necessária uma ordem lógica na colocação das sílabas. Enfim, a criança domina o valor das
letras e das sílabas. Os erros de escrita e leitura ainda permanecem, mas o aprendiz já domina,
mesmo que ainda não de forma plena, os códigos da escrita.
Esses níveis são trabalhados em sala de aula para que o educador possa identificar como
realizará o trabalho de alfabetização de acordo com o nível apresentado pelas crianças. A criança,
agora, passa a ser vista como sujeito que interage com a escrita como objeto de conhecimento.
Importante
Nesse processo de aprendizagem das crianças, devemos considerar, ainda, os saberes sobre os espaços
entre as palavras, sobre quando usar letras maiúscula e minúscula, plurais das palavras, aspas, ponto
e vírgula, tempos verbais, etc. e sobre tantas outras regras da língua, que são complexas de aprender.
Não é uma questão de, simplesmente, decifrar códigos de escrita é também saber usá-los.
A educação e o letramento
Conceituar o termo letramento não é tarefa fácil. Podemos partir do princípio que o indivíduo
letrado é aquele que possui o domínio da leitura e da escrita. Nesse sentido, uma pessoa letrada
é aquela que domina e utiliza com competência a escrita e a leitura em seu meio social, pois, só
assim, o indivíduo se tornará letrado.
Todavia podemos dizer que uma pessoa é letrada mesmo não sendo alfabetizada, desde
que se aproprie das práticas sociais da escrita. Ou seja, podemos entender o letramento como
estado ou condição de quem não sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais
que usam a escrita.
O outro lado da questão é que é possível também que alguém conheça basicamente os
códigos da escrita e da leitura e suas convenções, mas não faça uso desse código em seu
cotidiano. Ou ainda, a pessoa que, embora tenha desenvolvido as habilidades básicas sobre o
ler e escrever, não seja capaz de utilizar a escrita e a leitura em sua vida cotidiana. Essas pessoas
podem ser consideradas analfabetas funcionais: decodificam e codificam os signos escritos, mas
não interpretam plenamente esses signos, dificultando seu uso no cotidiano.
Como podemos notar, é complexo aclarar o que seja letramento. O termo surge a partir da
palavra inglesa literacy e pode significar letrado. Magda Soares pode nos ajudar a pensar na
dificuldade de conceituar o termo.
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Pode-se concluir, então, que há diferentes conceitos de letramento,
conceitos que variam segundo as necessidades e condições sociais
específicas de determinado momento histórico e de determinado estágio
de desenvolvimento. [...] o conceito de letramento envolve um conjunto
de fatores que variam de habilidades e conhecimentos individuais a
práticas sociais e competências funcionais e, ainda, a valores ideológicos
e metas políticas (Soares, 2001, p.80 e 81).
Trocando Ideias
Quando alfabetizado, espera-se que o aprendiz letrado se torne capaz de interpretar diferentes textos
que circulam na sociedade em que vive. Faz-se necessário, para a escola, um questionamento:
Como a escola pode alfabetizar letrando?
Ensinando a ler e a escrever e inserindo o aprendiz no contexto das práticas sociais da escrita; essa seria
uma das possíveis respostas.
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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Existem convenções que precisam ser ensinadas sobre nossa língua escrita. Além de
decodificar letras, palavras e sinais, o aprendiz precisa aprender toda técnica presente na escola,
que é muito complicada em seu início: como segurar o lápis, escrever de cima pra baixo e da
esquerda para a direita; escrever numa linha horizontal sem subir ou descer e, ainda, nos dias
atuais, devemos pensar no uso do computador e na internet.
Dois pontos devem ser abordados sobre a questão do letramento. O primeiro é entender que
o letramento não é função apenas do professor de Língua Portuguesa; os professores de todas as
disciplinas escolares são responsáveis por letrar seus aprendizes, cada um em sua especialidade. O
segundo ponto é que se deveria apresentar aos aprendizes diversos portadores de texto. Portador
de texto é tudo que, normalmente, carrega um texto, por exemplo: bulas, jornais, revistas, gibis,
bilhetes, livros, cadernos,etc. O portador de texto é um suporte para o texto. Desse modo, o
professor tem a importante tarefa de propiciar aos seus alunos contato com uma grande diversidade
de texto: textos que sejam interessantes e desafiadores, que, depois de lidos e compreendidos,
possam se revelar como uma conquista capaz de dar autonomia e independência ao aprendiz.
São complexos os conceitos de alfabetização e letramento, todavia é necessário que tratemos os
termos de forma associada. Tentando aclarar a questão, veja o que Magda Soares fala sobre os termos:
A alfabetização de adultos
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Paulo Freire mostra-nos a importância da alfabetização estar conectada ao mundo, a um
mundo culturalmente vivido e que se amplia com o uso da leitura e da escrita. Eunice, sua
primeira professora, foi fundamental nesse processo, como os pais de Paulo, que iniciaram seu
processo de alfabetização ainda em casa.
Paulo Freire sugere o termo Palavramundo. A palavra, como representação do mundo, não
pode estar desconectada da realidade. A partir dessa forma de pensar a alfabetização, o autor
faz uma proposição pedagógica para alfabetizar pessoas adultas. Para alfabetizar adultos, Paulo
Freire propõe uma abordagem que consiste em três momentos entrelaçados dentro do diálogo
e da interdisciplinaridade.
O primeiro Momento:
É a investigação temática. Educador e educando buscam, no universo vocabular do aluno e
da sociedade em que ele está inserido, as palavras e temas centrais de sua vivência.
O segundo Momento:
É a tematização. Educador e educando irão buscar o significado social, tomando consciência
do mundo em que vivem, descobrindo novos temas geradores, relacionados com os que foram
inicialmente levantados. É nessa fase que serão elaboradas as fichas para a decomposição das
famílias fonéticas, dando subsídios para a leitura e para a escrita.
O terceiro momento:
É a problematização. É a hora de formar a visão crítica, partindo para a transformação do
aprendiz e do contexto vivido.
O contexto apresentado por Paulo Freire consiste no processo de silabação. A silabação: uma
vez identificada, cada palavra geradora passa a ser estudada através da divisão silábica.
Cada sílaba se desdobra em sua respectiva família silábica, com a mudança da vogal. Por
exemplo, para a palavra “FOME”, as sílabas são: FA-FE-FI-FO-FU, MA-ME-MI-MO-MU. E essas
sílabas transformam-se em outras palavras que estão no cotidiano do aprendiz, ampliando seu
repertório de palavras e sua consciência de mundo.
A discussão sobre erradicar o analfabetismo no Brasil ocorre com mais ênfase na década
de 1930, porém, na década de 1950 se amplia, com a proposta desenvolvida por Paulo Freire
para alfabetizar jovens e adultos. Freire propunha uma educação dialógica que valorizasse a
cultura popular e a utilização de temas geradores. Dentro de um contexto de conscientização,
participação e transformação social e prática social, temos resultados satisfatórios. Freire inovou
não apenas o conteúdo, mas também o método tradicional de alfabetização.
Para Freire, a alfabetização promove a socialização do indivíduo, possibilitando trocas
simbólicas, culturais e sociais; é um fator propulsor do exercício consciente da cidadania e do
desenvolvimento da sociedade como um todo.
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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Considerações finais
O contexto apresentado mostrou como podemos contemplar a alfabetização de um indivíduo
dentro da sua prática social, compreendendo a amplitude do processo de alfabetização e das
dificuldades que os professores encontram para conseguir estabelecer esse processo.
Para que possamos compreender a processo de alfabetização, primeiramente devemos
conhecer alguns aspectos importantes. Antes de aprenderem a ler e escrever, as crianças
passam por vários contextos, como, por exemplo, a aquisição da linguagem até os cinco ou
seis anos, estabelecem-se socialmente e, somente após esse processo concretizado, as elas são
encaminhadas para as escolas para serem alfabetizadas.
A alfabetização é um processo que não se resume apenas na aquisição de habilidades
mecânicas do ato de ler, baseadas nas regras gramaticais, mas também na capacidade
do indivíduo de interpretar, compreender, criticar, contextualizar e produzir conhecimento
e, para que esse processo se configure, recorremos ao letramento, que é o sentido mais
ampliado da alfabetização.
Cabe ressaltar que os conceitos apresentados sobre a alfabetização e o letramento mostram
que não podemos deixar de lado as técnicas da alfabetização e trabalhar somente com o
letramento, já que os dois se complementam. Dessa forma, devemos trabalhar com as duas
possibilidades para que possamos chegar ao objetivo de formar um indivíduo que não saiba
apenas ler e escrever, mas que também utilize socialmente a leitura e a escrita, interpretando e
contextualizando, respondendo às demandas sociais de leitura e de escrita.
Muitos educadores sentem dificuldades em realizar um trabalho contemplando a alfabetização
e o letramento. Talvez isso ocorra por falta de conhecimento sobre o assunto ou por terem certa
resistência em conceber outras possibilidades de alfabetização, contando sempre com o mesmo
método, sem levar em consideração a prática social de cada aluno.
Os novos educadores devem conhecer novas metodologias, novos pensamentos educacionais,
novas possibilidades, pois é preciso ter ciência de que, muitas vezes, temos que abrir mão de
fórmulas antigas para contemplar o processo de alfabetização de acordo com as dificuldades
apresentadas por nossos alunos. É preciso destacar a importância de alfabetizar dentro de um
contexto em que a leitura e a escrita tenham sentido para o aluno.
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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Referências
FERREIRO. E. Com todas as letras. Trad. Maria Zilda Lopes. Ed. 11º. São Paulo: Cortez,
2003.
FREIRE, P. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 47º ed. São
Paulo: Cortez, 2006.
SOARES M. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2001.
__________. O que é letramento. Diário do Grande ABC: Santo André, 2003. Disponível em:
http://www.diarionaescola.com.br/29se08.pdf. Acesso em 10/10/2012.
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Anotações
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