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11/03/2018 Sociedade de classes e violência sexual (2): Uma história do estupro | Passa Palavra
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mais longa que o mundo já viu” (ibid.). É importante assinalar que este
enfoque particular do estupro, que dá destaque à opressão ligada à
desigualdade de gênero, é o que distingue a análise feminista das demais
análises sobre o estupro[15].
acerca das primeiras dez mulheres que vê e lhes pergunta se querem ter
relações sexuais com ele. O que ocorreria? No caso da mulher, podemos supor
que a maior parte dos homens aceitaria a oferta. No caso do homem, a maior
parte das mulheres ou considerariam uma ofensa ou se queixariam de seu
comportamento. E se esta mulher e este homem fossem transladados a
distintas épocas da história humana, o resultado seria o mesmo? Podemos
assegurar que a resposta das mulheres à oferta do homem seguiria sendo a
mesma, e que seguiria considerando-se como uma afronta? O normal seria
que as respostas variassem, pois a estrutura da sociedade humana, a natureza
e a forma das relações humanas etc. passaram por consideráveis mudanças
desde a época primitiva.
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estupro não tinha nada que ver com a questão do consentimento individual da
mulher. Ao contrário, o signi cado do termo estupro era um ataque à honra da
família da mulher e de sua comunidade. Neste sentido, o estupro se concebia e
identi cava com o acesso sexual ilegítimo a uma mulher, que implicava
desonra para a família/comunidade e, portanto, incluía também as relações
sexuais consentidas entre um homem e uma mulher. A segunda coisa a
apontar sobre a evolução da categoria estupro na Índia é o con ituoso e
gradual processo através do qual o termo evoluiu até chegar a englobar o
elemento de consentimento individual por parte da mulher[24]. No século
XIX, na Índia, os debates em torno da legislação colonial, como no caso do
ritual sati, a idade de matrimônio, etc., nos ajudam a perceber todo este
processo através do qual a escolha e o consentimento individual terminaram
sendo uma parte crucial do tecido legislativo das sociedades colonizadas.
Não é preciso dizer que este processo através do qual foi surgindo a gura
legal do sujeito individual, com o desenvolvimento da economia capitalista,
esteve assolado por complicações[25] e, portanto, não foi um processo de
desenvolvimento linear. Não obstante, este processo impulsionou várias
mudanças institucionais e legais, e gradualmente terminou estabelecendo
novas formas de direito de propriedade e de relações laborais que muitas vezes
desa avam o sistema tradicional de direitos baseados no nascimento. Em
muitas circunstâncias, o Estado colonial impunha deveres contratuais e
cidadãos baseados na gura do sujeito individual frente ao Estado. Neste
complexo processo, para evitar que “o indivíduo se refugiasse no anonimato
de sua comunidade” e que “mudasse o nome para escapar de suas
responsabilidades individuais legais ou contratuais”[26], é que pela primeira
vez se outorga às mulheres a condição de sujeitos individuais.
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Notas
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[14] Susan Brownmiller (1993), Against Our Will: Men, Women and Rape (New
York: Ballantine Books).
[15] Lee Ellis (1989), Theories of Rape: Inquiries into the Causes of Sexual
Aggression (New York: Hemisphere): 10.
[16] Randy Thornhill and Craig T. Palmer (2001), A Natural History of Rape:
Biological Bases of Sexual Coercion (Cambridge: The MIT Press).
[17] Não se pode negar que o problema da “história natural do estupro” é que
se baseia em muitas perspectivas sem pé nem cabeça, como aquelas que
defendem que existem diferenças genéticas entre o homem violador e o não
violador, ou que o homem sexualmente agressivo (estuprador) tem maior
capacidade de engravidar uma mulher do que aquele que não força as
mulheres.
[19] Christine Helliwell (2000), “It’s only a Penis”: Rape, Feminism, and
Di erence,” Signs, vol. 25 (3): 789-816; Peggy Reeves Sanday (1981), “The
Socio-Cultural Context of Rape: A Cross Cultural Study,” Journal of Social
Issues, vol. 37 (4): 5-27. Christine Helliwell e Peggy Sanday demostraram que
algumas comunidades contemporâneas como os Gerai da comunidade Dayak
na Indonésia ou os Minangkabua estão livres de estupros.
[22] Tal como a forma masculina da raça humana, a feminina desenvolve certa
memória muscular e sensibilidade no tato na fase pré-natal, ou seja, durante
seus 9 meses de existência na bolsa amniótica do útero materno. Protegida e
cuidada pelo cálido e espesso uído do útero, a espécie humana desenvolve
uma maior sensibilidade ao tato em certas partes de seu corpo, isto é, nas
zonas erógenas, que incluem os genitais, glândulas mamárias, lóbulos da
orelha, etc. Desenvolvendo este sentido do tato que acalma os nervos, os
músculos e os órgãos sensoriais, a espécie humana tenta replicar o que
aprendeu na fase pré-natal. Neste sentido, o sexo é uma forma desenvolvida
de tato e sensibilidade à que o ser humano se acostuma na longa fase pré-
natal. De fato, assim como o canto é uma forma desenvolvida da fala, o sexo
pode ser considerado como uma forma desenvolvida de tato humano. Claro, as
consequências e a intenção implicadas na interação sexual são determinadas
pelas formas de relacionar-se dos indivíduos. Portanto, o sexo não é só
questão de psicologia, mas está profundamente mediado e transformado pelo
meio social em que vivem os humanos. Nas sociedades divididas em classes, os
signi cados culturais e pessoais ligados aos indivíduos, objetos e situações
in uenciam enormemente em nosso desejo sexual.
[23] Radhika Singha (2000), “Settle, Mobilize, Verify: Identi cation Practices
in Colonial India”.
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[24] Radhika Singha (1998), A Despotism of Law (New Nova Délhi: Oxford
University Press).
[26] Radhika Singha (2000), “Settle, Mobilize, Verify: Identi cation Practices
in Colonial India”.
Traduzido por Pablo Polese. O texto de Maya John foi originalmente publicado
em Radical Notes e sairá dividido em sete partes, uma por semana.
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