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Introdução
Através do conhecimento popular, tem-se que a queixa e a denúncia, são atos realizados pelo
cidadão, quando da comunicação de algum crime junto a delegacia de polícia. No entanto,
tecnicamente, queixa e denúncia tem conceitos diferentes do popular e seu desconhecimento
pelo operador do direito, poderá levá-lo a prejuízos irreparáveis, seja na condição de defensor
ou de acusador, tendo em vista a estrita obediência a forma e prazos que cada uma detém. O
presente artigo, portanto, tem como finalidade, apresentar, de forma clara e breve, os
aspectos conceituais e formais de cada um destes institutos.
2. A Ação Penal
Retira-se da Constituição Federal que não há pena, nem medida de segurança sem processo
(CF, art. 5o, LIV), e não há processo sem ação.
Conceito de direito de ação: é o direito de pedir (ou exigir) a tutela jurisdicional com base em
um fato concreto.
Fundamento constitucional: CF, Art. 5o, XXV ?A lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito?. Ao judiciário cabe dirimir os litígios. Mas ele não atua de
ofício. Daí surge o direito de ação (de pedir, de postular).
Exercício regular do direito de ação: o direito de ação deve se exercido regularmente. Esse
exercício regular depende do preenchimento de algumas condições que são chamadas
?condições da ação? ou ?condições de procedibilidade?.
2.legitimidade das partes: a ativa pertence ao MP (na ação pública) e a vítima (na ação
privada); a passiva exige uma pessoa humana que tenha 18 anos ou mais na data do fato
(agente imputável)
A pessoa jurídica pode figurar no pólo passivo da ação penal, mas apenas nos crimes
ambientais (Lei 9.605/98, art. 3o), embora ainda existam divergências doutrinárias a respeito.
Neste caso, a ação penal é movida, também, contra a pessoa física que praticou o delito (dupla
imputação). A CF prevê duas hipóteses de responsabilidade penal da pessoa jurídica (arts. 173,
par. 5 e 225, par. 3o), mas somente a hipótese ambiental foi regulamentada até o momento.
4.Justa causa: significa presença do ?fumus boni júris?, isto é, prova do crime e ao menos
indícios de autoria. A ação penal deve ser viável, séria. Fundada, portanto, em provas que
dêem plausibilidade ao pedido.
Específicas que são aquelas exigidas em apenas algumas ações penais: Representação da
vítima, requisição do Ministro da Justiça.
Carência de ação: quando falta uma das condições antes mencionadas, o autor é carecedor de
ação. A carência da ação conduz à extinção do processo e arquivamento dos autos.
Como descobrir se a ação penal é pública ou privada? O artigo 100, do CP cuida do assunto, ao
dispor que a ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do
ofendido.
Titularidade: a ação penal pública incondicionada, tem como titular o Ministério Público (CPP,
art. 24, CPP, art. 100 e CF, art. 129, I). O Ministério Público (MP), com exclusividade, deve
promover a ação penal pública incondicionada, a qual somente sofre exceção (a exclusividade)
quando, por não ter sido intentada no prazo legal, possibilita à vítima a propositura da ação
penal privada subsidiária da pública.
Princípios:
3.Indisponibilidade ? O MP não pode desistir da ação penal proposta (CPP, art. 42). Não pode,
ainda, desistir do recurso interposto (CPP, art. 576). Pode, no entanto, em qualquer instância,
pedir a absolvição do réu.
4.Intranscendência ? a ação penal não pode passar da pessoa do delinqüente, porque a pena
não pode passar da pessoa do condenado ? princípio da pessoalidade da pena.
exposição do fato criminoso ? a denúncia tem de narrar o fato punível, porque a defesa se
defende do fato narrado (e não da classificação dada). A denúncia genérica, evasiva, vaga, que
não narra com clareza o fato, que faz mera referência ao IP, é inepta.
a denúncia deve ser escrita em vernáculo, isto é, em nosso idioma oficial, que é a língua
portuguesa.
1.formal: que ocorre quando a denúncia não contem os requisitos do artigo 41, do CPP;
2.material: que ocorre quando não há justa causa, isto é, provas mínimas para iniciar a
ação penal.
Prazo para denunciar: em regra geral, se o acusado estiver preso o prazo é de 5 dias, contados
da data em que o órgão do MP receber os autos do inquérito policial (IP). Se o acusado estiver
solto, o prazo de 15 dias . Cuida-se de prazo processual (que tem contagem diferente do prazo
penal).
Denúncia fora do prazo será recebida normalmente, pois trata-se de mera irregularidade que
não afeta o processo penal.
1.Se o acusado estiver preso, a prisão pode ser relaxada, quando se constatar abusou ou má-
fé;
É possível denúncia sem IP? Sim, quando o MP conta com provas em suas mãos da existência
do crime (materialidade) e de indícios da sua autoria (CPP, art. 27 e 46).
Titularidade: titular da ação penal pública condicionada é o Ministério Público que, entretanto,
não pode agir por si só, isoladamente. Depende, neste caso, da manifestação de uma vontade
(do ofendido ? vítima, ou do Ministro da Justiça), nos termos do artigo 24 do CPP e 100, do CP.
1.quando a vítima for menor de 18 anos, exclusivamente seu representante legal pode
oferecer a representação, sendo que se a vítima não tem mais os pais, representa quem detêm
a guarda fática ou jurídica da mesma. Se seus interesses colidirem com o do representante
legal, nomeia-se curador especial, o que também acontece se a vítima não tem nenhum
representante.
2.a representação pode ser escrita ou oral (mas nesse caso deve ser reduzido a termo)
3.por ser feita pessoalmente ou por procurador com poderes especiais para este fim.
Retratação da retratação: é possível, mas desde que ocorra dentro do prazo decadencial
Prazo para representação: é de seis meses, contados do dia em que o ofendido vier a saber
quem é o autor do crime. É prazo decadencial, logo, não se suspende, não se prorroga e não se
interrompe.
Prazo: não há prazo decadencial para o Ministro, devendo-se respeitar, no entanto, o prazo
prescricional do crime.
Retratação: é possível, desde que exercida antes do oferecimento da denúncia.
Titularidade: titular da ação penal privada é o ofendido ou seu representante legal (CPP, art.
30).
Espécies:
1.Exclusivamente privada
2.Personalíssima
3.Subsidiária da pública
diferença entre ação exclusivamente privada e a ação privada personalíssima: na ação privada
personalíssima, morrendo a vítima, o direito de queixa não passa para ninguém. Na ação
exclusivamente privada, morrendo a vítima, o direito de queixa passa ao cônjuge,
companheiro, ascendente, descendente ou irmão.
Queixa ou queixa-crime: é a peça acusatória (petição inicial) que inicia a ação penal privada
3.princípio da indivisibilidade: a vítima não pode escolher o réu, ou seja, deve mover a ação
penal contra todos os autores conhecidos ou contra ninguém.
4.é possível ação privada proposta por pessoa jurídica, mas quem oferece a queixa é o
representante legal da mesma.
2.no caso de nomear procurador com poderes especiais, deve constar do instrumento de
mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso (CPP, art. 44)
4.se a vítima for pobre, o juiz nomeará advogado para promover a ação penal privada (CPP,
art. 32), considerando-se pobre aquela que declara não poder prover as despesas do processo
sem privar-se dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família.
Prazo para apresentação da queixa: seis meses, contados do dia em que a vítima vem a saber
quem foi o autor do fato. Trata-se de prazo decadencial, logo, não se suspende, não se
interrompe e não se prorroga. É prazo processual e não penal.
Ministério Público atua na ação privada como custos legis, isto é, como fiscal da lei.
Hipótese de cabimento: é a ação penal proposta pelo ofendido por meio de queixa nos crimes
de ação penal pública, quando esta não for intentada no prazo legal.
É uma ação facultativa, mas a vítima deve exercê-la dentro de um prazo. O prazo é de seis
meses e é decadencial. Conta-se da data que termina o prazo da denúncia para o MP.
1.Pode, desde logo, repudiar a queixa. Neste caso, passa a contar com a obrigação de oferecer
denúncia substitutiva. Denúncia substitutiva, portanto, é a que deve ser oferecida pelo
Ministério Público no lugar da ação penal privada (CPP, art. 29)
2.se o MP não repudiar a queixa subsidiária, ele pode: aditá-la, intervir em todos os termos do
processo, fornecer provas ou indicações delas e interpor recursos.
8. A Renúncia
Natureza jurídica: é causa extintiva da punibilidade (CP, art. 107, V). A renúncia não depende
do consentimento da outra parte, é unilateral.
Hipótese de várias vítimas: A renúncia de uma vítima não afeta o direito das outras.
9. O Perdão do Ofendido
Efeitos:
Hipótese de vários querelantes: o perdão dado por um deles não prejudica o direito dos
outros.
Diferença entre perdão e renúncia: o perdão do ofendido é ato bilateral e só pode ser dado
após o início da ação penal; a renúncia é ato unilateral e só pode ocorrer antes do início da
ação penal.
10. A Perempção
Hipóteses de perempção:
1.quando, iniciada a ação, o querelante deixa de promover o andamento do processo durante
30 dias seguidos (exp: o advogado ficou com os autos do processo durante 30 dias para fazer
as alegações finais e não fez). A sanção é automática e não há intimação prévia para agir. Os
30 dias devem ser seguidos.
Diferença entre perempção e renúncia: a perempção só existe após o início da ação penal,
enquanto que a renúncia só existe antes do início da ação penal.
1.quando a peça acusatória for inepta. Ocorre inépcia quando falta requisito essencial (não
narra o fato, não aponta o acusado, etc.)
Incompetência do juízo: julgando-se o juiz incompetente ele nem rejeita nem recebe a
denúncia ou queixa, mas sim declina da competência e remete os autos ao juízo competente.
Rejeição parcial: é possível. A denúncia narra dois crimes, o juiz pode recebe-la em relação a
um e rejeita-la em relação a outro.
Renovação da ação: depende do motivo da rejeição. Se for por atipicidade do fato, não cabe.
Se foi por ausência de representação, uma vez suprida essa, pode ser reapresentada.
12. Conclusão
Enfim, contrariamente ao dito popular, não se vai à delegacia de polícia ?dar uma queixa? e
tampouco ?retirar a queixa?. Trata-se mais de papo de novela e de boteco do da realidade.
Quando o cidadão procura a delegacia de polícia, ele registra um Boletim de Ocorrência, o
famoso ?BO?, que tecnicamente, é chamado de ?Notícia Crime?. Qualquer comunicação de
um fato supostamente criminoso, é denominado notícia crime (noticiar um crime).
A partir deste momento, classificada a infração entre aquelas de ação penal pública
incondicionada, tem-se início a investigação (Inquérito Policial) para, posteriormente,
encaminhá-la ao Ministério Público que, identificando elementos de materialidade e autoria
do crime, oferece a DENÚNCIA (petição inicial que descreve o crime praticado com todas suas
circunstâncias). Cabe o juiz recebê-la ou rejeitá-la.
No caso de crimes de ação penal pública condicionada, antes de dar início as investigações, é
imprescindível a autorização da vítima (representação), sem a qual, a investigação e a ação
penal, não podem ter início.
Já para os crimes classificados como de ação penal privada, não basta a ?autorização da
vítima?, para se ter início a investigação, é necessário o requerimento da mesma e quanto a
ação penal, ou seja, o processo em si, apenas terá início com o recebimento da queixa, essa
considerada a petição inicial apresentada pela vítima em juízo, descrevendo todo o fato
criminoso, com suas respectivas circunstâncias, identificando o autor (querelado) e
testemunhas do fato.
Queixa e denúncia, portanto, não são reclamações, são, sim, peças processuais apresentadas
em juízo, cuja obediência as formalidades legais, competência, legitimidade, dentre outros
requisitos, são essenciais para sua validade.