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3/12/2018 Crítica | Senhor Zé, bem-vindo à casa de partida | PÚBLICO

CRÍTICA

Senhor Zé, bem-vindo à casa de


partida
Quase quatro décadas depois, Maria da Soledade e José Canelas
voltaram ao ponto de partida para abrir um restaurante que
honra a memória e os pergaminhos da célebre “Mamuda” e da
Casa Nanda. Com cozinha tripeira, cortesia e carinho.

JOSÉ AUGUSTO MOREIRA • 24 de Fevereiro de 2018, 3:16

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Sim, o senhor Zé é o anfitrião e mestre
cerimónias, mas o segredo está por detrás
dos fogões, onde quem mais ordena é a
mulher, Maria da Soledade. E embora o
restaurante seja de abertura recente, os
dois protagonistas carregam consigo um
longo historial que se cruza com casas de
justificada fama e reconhecimento no
panorama local da restauração.

Tanto assim que esta abertura do Senhor


Zé foi quase como que o devolver à Baixa
do Porto de uma certa cozinha de tradição
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que, com honrosas excepções, parece


querer escapar-se por entre os dedos aos
portuenses de alma tripeira. Uma cozinha
saborosa, farta e generosa, com base na
qualidade dos produtos e à qual acresce um
serviço cortês, carinhoso e familiar, que faz
com que o cliente se sinta como em casa.

E, tal como na moderna localização por


georreferenciação, recorramos a uma
triangulação para melhor nos localizarmos.
No início era o restaurante Montenegro,
que ficou célebre como a “Mamuda”, pela
figura da cozinheira e a qualidade da sua
cozinha, que comandava com o apoio da
sobrinha.

Foi esta, juntamente com o homem da sala


(já então seu marido) e outra colaboradora
que, em 1980, saíram para fundar a Casa
Nanda. O novo restaurante rapidamente
haveria de ganhar fama e acabou por
assumir todo o protagonismo com o
posterior desaparecimento da “Mamuda”.
Mas nada é eterno e, ao fim de quase 37
anos e com a chegada de uma nova
geração, as coisas começaram a azedar e
deu-se a ruptura.

É assim que a sobrinha e o marido — Maria


da Soledade e José Canelas — voltam ao
ponto de partida. Ou seja, abriram agora o
Senhor Zé, que fica na porta em frente ao
local onde existiu a “Mamuda”, trazendo
consigo um historial e um tipo de cozinha
de muito boa memória. É caso para dizer,
bem-vindos à casa de partida.
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O espaço, que fica na zona da Praça dos


Poveiros a caminho da Batalha, é o mesmo
onde durante décadas funcionou o
restaurante Irmãos Unidos, agora
recuperado e aperaltado com ares de
modernidade para acolher o Senhor Zé.

NELSON GARRIDO

Cozinha ao fundo, à vista de quem entra,


duas salas paralelas com capacidade para
acolher umas 90 pessoas de forma ampla e
desafogada, havendo ainda uma outra no
andar superior mas apenas para funcionar
em caso de necessidade. Tectos altos, boa
luminosidade, toalhas e guardanapos em
algodão e baixela comum.

A oferta é ampla, cobrindo as mais


apreciadas especialidades regionais, das
tripas à moda do Porto ao cabrito assado
no forno, da cabeça de pescada ao bacalhau
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à Zé do Pipo, da vitela à costela mendinha


assada no forno. Todos os dias há ainda um
alargado menu do dia, com peixes e carnes
da oferta de mercado a proporcionarem
cozinhados de tacho, grelhados e assados
no forno.

Por estes dias há também o sável (em


postas fritas ou em escabeche) e a lampreia
em arroz sanguíneo ou em aveludado à
bordalesa (19€ a dose).

Numa caixinha de madeira forrada com


guardanapo branco, elegantes pãezinhos de
trigo e pedaços de uma broa escura de
milho e centeio.

A entrada individual (2€) é composta por


croquete, rissol e bolinho de bacalhau, uma
unidade de cada e todos de sabor apurado e
muito boa execução culinária. Crocante,
ainda quente e com bacalhau esfiado, o
bolinho, picado com vitela de evidente
qualidade no croquete e rissol com recheio
de camarão e creme de mariscos de
confecção primorosa.

Nos peixes, os filetes de pescada são já


quase uma lenda associada à cozinheira,
mas nem assim deixam de impressionar.
Pela confecção e sabor, de textura firme e
húmida e a separar-se em lascas
deslizantes. Envolvente de ovo e farinha de
boa fritura e sem resquícios de gorduras.
Meia dose (10,50€) que chega à mesa em
travessa branca forrada com um pano de

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linho que ajuda a absorver as gorduras,


tanto dos filetes (dois) como das gulosas
batatas fritas em rodelas. Tem ainda o
complemento de um arroz caldoso de
berbigão, de aspecto, sabor e aroma
irresistíveis. Como único senão o grão
duro, de textura seca e quase plástica, do
arroz que resiste à absorção do caldo. Com
tão boa cozinha, é mesmo uma pena não
usar o nosso carolino!

NELSON GARRIDO

O mesmo serviço com as duas postas de


peixe-galo (meia dose 13€) repousadas em
pano de linho, fritura exímia, textura e
sabores no ponto óptimo. Acompanhou,
neste caso, com especiosa açorda com ovas
do peixe.

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À falta do cabrito assado no forno, que


tinha já acabado mas cujos odores faziam
cobiçar mesa alheia, convocou-se o
costeletão de boi (26€/duas pessoas), que
se revelou um hino às boas carnes e ao
cuidado trato culinário. Peça de dimensão
mais que generosa (não devia andar longe
de 1kg) de carne minhota de boi de
trabalho e pasto natural, rosada, húmida e
suculenta e a desfazer-se na boca com
textura aveludada de iogurte. Aroma
inebriante e sabor interminável. Um
achado!

Senhor Zé
Rua do Campinho, 13-15
4000-151 Porto
Tel.: 222 051 011/919 927 431
www.restaurantesenhorze.com
Cozinha tradicional
Ambiente familiar
Fecha à segunda-feira e jantar de domingo
Estacionamento: Parque Pr. Poveiros

Quanto às sobremesas, desdobram-se no


tradicional creme queimado, aletria de
ovos, pão-de-ló húmido ou uma tarte de
maracujá (3,50€) que provámos com
agrado.

Na abundante carta de vinhos predominam


os do Douro e do Alentejo, com alguns
Verde à mistura e evidente escassez de
alternativas como Dão e Bairrada, que bem
adequados se podem mostrar à oferta da
cozinha da casa. De notar a preocupação

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com preços sensatos — mesmo com muitos


vinhos das categorias superiores —, e
sempre com indicação de datas.

Num estilo cortês e carinhoso, sem que isso


implique submissão ou mordomia, o
serviço é ágil e funcional. E com o senhor
Zé como anfitrião e mordomo, há
justificada expectativa de que estejam de
volta os tempos de glória gastronómica.

O SEU PÚBLICO EM 00 SEGUNDOS  APOIADO


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