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Relatório 2010

ENERGIA EM ANGOLA

Centro de Estudos e Investigação Científica


Universidade Católica de Angola

Outubro de 2010
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA

Outubro 2010

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

Patrono – D. Damião Franklin


Director – Alves da Rocha

Relatório Energia em Angola 20101

José Oliveira– Coordenador do Núcleo da Energia


Alves da Rocha (CEIC)
Gurcan Gulen (CEE-UT, Texas)
Euclídes de Brito (ENE)
Jorry Mwenwchanya (IIS, Zambia)
Lawrence Musaba (SAPP, Zimbabwe)
Salvatore Carollo (ENI, Italia)
Félix Vieira Lopes (MINEA)
Emílio Londa (CEIC)
Eliana Mateus (CEIC)

Investigadores do CEIC
Alves da Rocha
Amália Quintão
Emílio Londa
Francisco Paulo
Miguel Manuel
Milton Reis
Nelson Pestana
Pedro Vaz Pinto
Regina Santos
Salim Valimamade
Sendi Baptista
Eliana Mateus
Paxote Gunza
Precioso Domingos

Administrativos
Margarida Teixeira
Evadia Kuyota
Lúcia Martins

Paginação – Offset.
Capa – Offset, Lda.
Edição – Universidade Católica de Angola
C.P. 2064
Impressão –Offset, Lda.

Tiragem 500 exemplares

Este Relatório teve o alto patrocínio da Open Society

1
Dada a desactualização de alguns dados e informações presentes nos textos originais, alguns dos artigos presentes neste
relatório foram actualizados pela equipa do CEIC pelo que, qualquer responsabilização que advenha dos mesmos, deve ser
imputada a estes e não aos seus colaboradores.

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Índice

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

PALAVRAS DO DIRECTOR

Devo começar por saudar os nossos patrocinadores, cujo apoio foi


decisivo para a elaboração do primeiro Relatório sobre Energia em Angola. É
na verdade indecoroso que a investigação na Universidade Católica de
Angola viva quase exclusivamente das doações dos nossos parceiros.
Quando deixarem de existir, a pesquisa irá parar ou, no melhor dos cenários,
diminuir drasticamente. O conhecimento, entretanto, acumulado, as
metodologias, em alguns casos inovadoras, que foram concebidas e
aplicadas, o gosto pela descoberta de novas coisas, etc., tudo se perderá.
E, na verdade, não há, nem mesmo no médio prazo, alternativas
viáveis a esta situação de dependência, semelhante à que o nosso país
apresenta face ao petróleo e aos diamantes.
O esforço de diversificação das fontes de financiamento da actividade
de investigação na UCAN esbarra com algumas barreiras quase
inultrapassáveis. A junção da consultoria à investigação, que podia ser uma
forma de financiar a pesquisa (fundamental e aplicada) tem como
impedimento a preferência dos organismos do Estado e de muitas empresas
angolanas pelas consultoras estrangeiras, nomeadamente, brasileiras e
portuguesas.
As representações locais de alguns organismos internacionais de igual
modo dão preferência ao recrutamento de consultores estrangeiros e quando
recorrem aos nacionais, a tabela de remuneração é 2 ou 3 vezes mais baixa.
Acresce que, pelas suas regras, não estão autorizados a contratar empresas
ou organismos de pesquisa angolanos, sendo apenas consentida a
contratação individual, arredando do processo instituições como o CEIC. De
resto, já vivemos algumas situações destas com algumas representações
locais de organismos internacionais.
As empresas estrangeiras em actividade no nosso país de igual forma
preferem requisitar trabalhos de consultoria às suas compatriotas, ficando,
portanto, o círculo fechado.

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Por isso, o nosso vivo agradecimento a todos os apoios das


instituições que vou citar: Open Society, ENI e Embaixada da Noruega, que
tornaram possível a remuneração dos investigadores e a edição gráfica do
Relatório sobre Energia em Angola, 2010.
Depois de algumas tentativas fracassadas de editar o Relatório sobre
Energia em Angola desde que a primeira conferência internacional foi
realizada na UCAN em 2006, este foi o ano da aparição da sua primeira
edição. Por isso, a minha segunda saudação vai para a equipa-CEIC do
Relatório de Energia, que com muita tenacidade – continua a ser muito,
muito difícil aceder à informação oficial –, dedicação e presteza conseguiu
dar à estampa um documento muito valioso e útil. Assim, o entendam,
também, os possíveis ou prováveis utilizadores.
Como se constata pela constituição da equipa que trabalhou o
Relatório, logo na primeira página, aparecem nomes de grande prestígio
internacional, como Salvatore Carollo, Gurcan Gulen, Lawrence Musaba e
Jorry Mwenwchanaya que, prontamente, se disponibilizaram em escrever os
textos solicitados e, em alguns casos, sem qualquer remuneração. A
justificação que foi apresentada para este custo zero relaciona-se com o seu
interesse em ajudar a criar na Universidade Católica de Angola um
pensamento estratégico sobre a energia – na sua acepção lata – e em
trabalhar com angolanos que afinal dominam estes assuntos e têm do país
uma perspectiva que não se tem de fora. Portanto, para esta participação
estrangeira dirijo, igualmente, a minha saudação.
O CEIC garante que, a partir de agora, o Relatório sobre a Energia em
Angola será uma realidade anual. Pelo menos enquanto se puder dispor dos
apoios que têm sido garantidos.

Luanda, 21 de Outubro de 2010.

Alves da Rocha

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

PARTE 1

ENERGIA E MACROECONOMIA

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Capítulo 1

A IMPORTÂNCIA DA ENERGIA PARA A


ESTABILIZAÇÃO MACROECONÓMICA E O
CRESCIMENTO ECONÓMICO EM ANGOLA

“A crise petrolífera internacional,


traduzida em baixos preços e reduzida
procura, teve um impacto negativo
considerável sobre as contas financeiras
do Estado angolano, a capacidade de
importação da economia e os
investimentos públicos em obras de
reconstrução das infra-estruturas”

Alves da ROCHA

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Introdução

A exposição da economia angolana aos riscos duma excessiva


dependência do petróleo – sempre destacada no Relatório Económico da
Universidade Católica e noutros estudos oficiais de instituições
internacionais – teve a sua prova de fogo em finais de 2008 e durante 2009,
quando a economia mundial entrou em estagnação e o mercado petrolífero
internacional foi objecto de choques de procura que diminuíram a produção
e o preço do produto.
Não fosse o comportamento positivo de algumas economias
emergentes (China e Índia) e desenvolvidas (Austrália, Polónia e Coreia do
Sul) e os efeitos da crise económica 2008/2009 sobre os países produtores de
petróleo teriam sido mais catastróficos.
A China, ao tornar-se no primeiro cliente do petróleo angolano e ao
ter registado um crescimento de 8,5% no seu PIB em ano de crise, contribuiu
para que a queda do ritmo de crescimento económico em Angola não tivesse
sido pior. Embora a taxa de crescimento do PIB não petrolífero tenha sido
amplamente positiva (da ordem dos 8,9% de acordo com a contabilidade do
Governo), as trocas comerciais com o gigante asiático e os seus
financiamentos foram determinantes para que Angola não entrasse em
recessão económica2.
A crise petrolífera internacional, traduzida em baixos preços e
reduzida procura, teve um impacto negativo considerável sobre as contas
financeiras do Estado angolano, a capacidade de importação da economia e
os investimentos públicos em obras de reconstrução das infra-estruturas. Os
investimentos públicos têm sido um dos motores do crescimento económico
do país, directamente pelo aumento do stock de capital físico e
indirectamente pelos efeitos a montante e a jusante que desencadeiam.
A crise nos preços do petróleo começou em Julho de 2008, quando o
preço médio do crude angolano se situou nos 130,5 dólares por barril.
Depois disso, a tendência foi a do declínio, tendo em Dezembro o barril de
2
Bastaria que o PIB petrolífero, que se retraiu 5,1% em 2009, tivesse apresentado uma performance
de -10,5% (correspondente a uma mais baixa taxa de crescimento do PIB na China, da ordem de 4%)
para que a economia angolana se colocasse à beira da recessão.

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

crude atingido o seu valor mínimo, da ordem dos 35,6 dólares. Uma quebra
de 72,7% em 5 meses (equivalente a uma média mensal de 2,3%). Receou-se
o pior, a despeito de certas opiniões terem sustentado que a crise financeira
internacional passaria ao largo da

Ev o lu ç ão c o m p ar ad a d o s p r e ç o s d o b ar r il d e p e tr ó le o (u s d )

140,0

120,0 Janeiro

Fevereiro
100,0 M arço

A bril
80,0 M aio

Junho
60,0 Julho

A go sto
40,0 Setembro

Outubro
20,0
No vembro

Dezembro
0,0
2007 2008 2009

FONTE: Relatório Económico 2009, CEIC/UCAN.

economia angolana. O Governo definiu um programa de combate a estes


efeitos que passou pela redução das despesas públicas, incluindo os
investimentos do Estado.
As reservas internacionais em divisas ressentiram-se,
dramaticamente, desta baixa nos preços do petróleo, a capacidade de
importação diminuiu e as dificuldades de transferências de invisíveis e de
aquisição de divisas aumentaram substancialmente. Alguns dos
macroeconomic fundamentals tremeram.
Assim, são compreensíveis os esforços em curso para a diversificação
da economia nacional, a única forma válida de mitigar os riscos da exposição
à economia internacional e de integração no espaço global.

Petróleo e macroeconomia

A crise internacional e a quebra das receitas petrolíferas prejudicaram


o ambiente macroeconómico que vinha melhorando desde a obtenção da
paz. Os resultados positivos verificados na recuperação dos equilíbrios
gerais da economia nacional inverteram-se em 2009, tendo a subida da taxa
de inflação e a perda de reservas em divisas sido os pontos mais importantes
da influência da turbulência dos mercados económicos e financeiros
mundiais.
Como é consabido, o stock de reservas internacionais líquidas é um
indicador importante sobre a saúde financeira das economias e de

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

atractividade do investimento estrangeiro. A baixa das exportações e do


preço do petróleo tiveram consequências dramáticas sobre a capacidade de
pagamentos externos do país, tendo a quebra no montante das reservas
internacionais ocorrido a partir de Dezembro de 2008. De facto, em
Novembro de 2008 as reservas em divisas ascenderam a mais de 20 mil
milhões de dólares, enquanto em Junho de 2009 o seu montante gravitava
em torno de 12,1 mil milhões de dólares. Ou seja, uma quebra de 8 mil
milhões em seis meses. Não havendo alternativa ao petróleo como fonte de
geração de reservas em divisas – as exportações de diamantes não
representam sequer 2% das exportações totais de petróleo – a economia
nacional acabou por absorver estes choques externos na forma duma
redução do crescimento económico, dos investimentos e da capacidade de
importação.

c o m p o r tam e n to d as r e s e r vas in te r n ac io n ais líq u id as e m m ilh õ e s d e u s d

25.000,00

20.000,00

15.000,00

10.000,00

5.000,00

0,00
fevereiro

fevereiro
novembro

novembro
abril

abril
maio

maio
março

junho
julho

março

junho
julho
janeiro

agos to
s etembro
outubro

janeiro

agos to
s etembro
outubro
dez embro

dez embro
2008 2009

FONTE: Relatório Económico 2009, CEIC/UCAN.

O programa anti-crise do Governo e a melhoria do ambiente


económico internacional depois do terceiro trimestre de 2009 permitiram a
contenção na degradação das reservas internacionais.
O mercado cambial, igualmente, se ressentiu da menor
disponibilidade de moeda externa, tendo sido limitada a oferta de divisas e
aumentadas as dificuldades de transferência para o exterior. A taxa de
câmbio paralela, cujo diferencial com a oficial tinha sido praticamente
zerado, disparou e o spread cambial chegou a atingir 27,5% em Setembro de
2009.
Os aspectos mais sensíveis da estabilização macroeconómica que
foram fortemente tocados pela economia do petróleo foram as Reservas
Internacionais Líquidas, as receitas fiscais petrolíferas, o saldo da conta de
mercadorias da Balança de Pagamentos, as intervenções no mercado
interbancário de cambiais e a redução da dívida pública externa.

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

ANGOLA-Comportamento das taxas de câmbio (Kwanzas por dólar)


120,000

100,000

80,000

txcâmbioref
60,000
txcamparale

40,000

20,000

0,000
maio

maio
março

março
setembro

novembro
dezembro

setembro

novembro
dezembro
abril

abril
junho
julho

junho
julho
janeiro

agosto

outubro

janeiro

agosto

outubro
fevereiro

fevereiro

2008 2009

FONTE: Relatório Económico de Angola 2009. Universidade Católica de Angola. Centro de Estudos e Investigação
Científica. Junho de 2010.

ANGOLA-Petróleo e macroeconomia (valores em milhões de dólares, salvo


indicação em contrário)
2006 2007 2008 2009
Vendas líquidas de divisas 5.509,5 6.645,6 8.830,5 10578,1
Reservas Internacionais Líquidas 8.539,9 11.191,0 18.011,9 12.422,2
Receitas fiscais petrolíferas 14.143,1 22.051,2 33.521,9 16.375,9
Receitas fiscais petrolíferas/PIB (%) 33,8 37,1 40,8 23,4
Inflação (%) 12,21 11,8 13,17 13,99
Défice fiscal total (% PIB) 9,9 11,4 8,8 -11,6
Exportações de petróleo 29.960,7 42.352,4 61.665,9 39.271,4
Exportações petróleo/exportações totais (%) 94,2 95,4 96,5 96,2
Saldo da Conta de Mercadorias 21.041,0 30.734,7 42.932,2 18.426,6
Dívida Pública externa (% PIB) 36,1 33,4 27,7 21,5

FONTE: Relatório Económico de Angola 2009. Universidade Católica de Angola. Centro de Estudos e
Investigação Científica. Junho de 2010.

A perversa dependência do petróleo (em 2008 e 2009 quase 97% das


exportações foram devidas a este produto) implicou um agravamento da
situação financeira do país, quer do ponto de vista dos indicadores externos,
quer do ângulo de algumas variáveis internas. Na verdade, a inflação
agravou-se face a 2008 e o saldo das contas do Estado, de excedentário em
2006, 2007 e 2008 passou a amplamente deficitário em 2009, por redução
significativa das receitas fiscais petrolíferas.
O saldo da conta de mercadorias, embora positivo em 2009, sofreu um
expressivo declínio, tendo passado de 43 mil milhões de dólares em 2008,

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

para 18,4 mil milhões de dólares em 2009, correspondendo a uma quebra de


57,2%.
A dificuldade em se contraírem empréstimos nos mercados
financeiros internacionais teve como consequência a redução do peso da
dívida pública no PIB em 2009.

Petróleo e crescimento económico

Uma série estatística longa comprova a concentração da economia


angolana em torno da actividade de extracção de petróleo desde a
independência nacional.
A regressão econométrica que relaciona o PIB nominal com os preços
e a procura internacional de petróleo – na base dum ajustamento geométrico
– apresenta valores significativos para os parâmetros de regressão: 1,45 para
as exportações de petróleo e 0,63 para os respectivos preços internacionais,
valores representativos para um intervalo de confiança de 95%.
O coeficiente geral de determinação é de 98%3. Estes valores
comprovam a elevada dependência da economia angolana de variáveis
incontroláveis internamente e sujeitas a um elevado grau de volatilidade.
Graficamente, fica bem evidente a elevada correlação entre o PIB global e
a actividade petrolífera.

ANGOLA- VARIAÇÃO PERCENTUAL DO PIB, PREÇO E EXPOORTAÇÕES DE PETRÓLEO


80

60

40

Varia Exp p
20 vari,PIB
vari. Ppdol

0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

-20

-40

FONTE: CEIC. Relatório Económico de Angola 2009.

A influência da actividade petrolífera é, também, comprovada quando


se analisa a estrutura do Produto Interno Bruto.

3
A inclusão de mais anos na regressão econométrica ensaiada no relatório de 2007 veio confirmar os
resultados do ajustamento e, mesmo o ano de 2009, embora atípico na sequência de crescimentos
positivos, não representou qualquer infirmação dos resultados gerais.

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

ESTRUTURA DA ECONOMIA ANGOLANA


(valores percentuais)

SECTORES ECONÓMICOS 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009


Agricultura e Pescas 8,4 9,7 8,6 7,8 8,0 8,3 11,0
Petróleo e refinados 49,4 51,9 56,3 57,1 55,8 57,6 42,5
Diamantes e outros 4,6 3,1 2,9 2,3 1,8 1,1 0,8
Indústria Transformadora 3,9 4,8 4,1 4,9 5,3 6,7 6,8
Energia e água 0,0 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
Construção 3,6 4,7 4,1 4,4 4,9 4,5 8,1
Comércio, bancos, seguros, teleco. 14,5 13,8 14,9 15,2 16,8 15,5 22,3
Serviços não mercantis 15,4 12,0 9,0 8,2 7,2 6,2 8,2
Produto Interno Bruto 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

FONTE: CEIC. Relatório Económico de Angola 2009.

TAXAS ANUAIS MÉDIAS DE CRESCIMENTO A PREÇOS DE 1992 (%)

SECTORES ECONÓMICOS 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009


Agricultura e Pescas 11,7 14,1 17,0 9,8 27,4 1,9 29,0
Petróleo e refinados -2,2 13,1 26,0 13,1 20,4 12,3 -5,1
Diamantes e outros 19,8 0,8 16,2 30,9 5,1 -8,6 4,6
Indústria Transformadora 11,9 13,5 24,9 44,7 32,6 11,0 10,0
Energia e água 0,2 11,5 17,4 13,2 8,6 26,1 18,3
Construção 12,6 14 16,9 30,0 37,1 25,6 23,8
Comércio, bancos, seguros, telec. 9,9 10,4 8,5 38,1 21,8 26,9 -1,5
Serviços não mercantis 1,9 2,5 2,6 8,2 4,6 1,9 5,9
Produto Interno Bruto 5,2 11,3 20,6 18,6 20,9 13,8 2,7
PIB não mineral 9,5 4,4 14,9 25,4 22,4 16,6 9,4
PIB não petrolífero 10,7 9,1 14,7 25,7 21,5 15,2 8,9

FONTE: Ministério do Planeamento e Ministérios Sectoriais.

Devido ao excepcional comportamento do sector de petróleo (extracção e


preços), a participação do respectivo valor adicionado passou de 52,5% em média
1997/2000 para 57,1% em 2008 e, a despeito de perdas momentâneas de
importância relativa da extracção de diamantes, os sectores minerais têm subscrito
praticamente 60% do total da riqueza criada no País.
Evidentemente que a situação relativa a 2009 é atípica, devido aos efeitos da
crise internacional sobre a produção de petróleo.

Através do gráfico seguinte pode verificar-se que a recuperação dos sectores


não petrolíferos tem seguido uma tendência menos oscilante e mais linear ao longo
do período de referência. Ou seja, parece que começam a estar criadas as condições
mínimas para se descolar o crescimento da economia não petrolífera do dos sectores
de enclave, podendo, também, significar a possibilidade de minimizar – pelo menos
na vertente do atrofiamento do crescimento dos sectores não minerais – os efeitos da
conhecida “doença holandesa”. Por isso se devem reforçar os investimentos na

14
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

c om porta m e nto do P IB pe trolífe ro e nã o pe trolífe ro

P IB np P IB p

26,0 25,9

20,6 21,5
20,2

15,2
12,8 13,1 13,6 13,1 12,3
9,3
7,486
4,3

-2,2
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
-5,09

reinfraestruturação do País – garantindo-se a sua qualidade e durabilidade no longo


prazo – desenvolver o sistema financeiro interno, implementar sistemas de
investigação para aproveitamento dos recursos naturais nacionais e garantir a
disponibilidade de recursos humanos qualificados no futuro.

15
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Capítulo 2

TENDÊNCIAS DOS MERCADOS


ENERGÉTICOS MUNDIAIS

“O desequilíbrio entre regiões produtoras


e consumidoras (de petróleo) está a
aumentar.(...) Em África, a produção
aumentou em cerca de 9% entre 1970 e
1990, porém, desde então, aumentou
44%”

Gurcan GULEN

16
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Procura e Oferta de Energia

Ao longo do séc. XX, o consumo mundial de energia foi dominado


pelos combustíveis fósseis, isto é, petróleo, carvão e gás natural. Este
domínio mantem-se desde a década dos 70, quando as subidas dos preços
do petróleo e o aumento da consciência ambiental levantaram inquietações
relativamente ao uso de combustíveis fósseis.
Não obstante a importância do petróleo e do carvão desde a
revolução industrial do séc. XIX, o gás natural começou a tornar-se um
combustível cada vez mais significativo a partir dos meados do séc. XX e, em
particular, depois dos choques do petróleo no decurso da década de 70.
Estes choques deram também ímpeto à expansão da energia nuclear, cujo
desenvolvimento foi interrompido na sequência de acidentes e de problemas
associados ao tratamento de resíduos. Algumas formas de energia
renovável, por exemplo, a solar, a geotérmica e a eólica, são excluídas do
gráfico que prossegue, por falta de dados históricos seguros e oportunos
acerca do seu consumo. De qualquer forma, apesar de anos de
financiamento em actividades de pesquisa e de desenvolvimento, de
programas de incentivos e de aumentos de preços de combustíveis
convencionais após a década dos 70, as tecnologias renováveis que utilizam
recursos naturais livres, como o vento e o sol, continuam a ser marginais. Os
combustíveis, como a lenha, a turfa e os resíduos animais foram, igualmente,
excluídos do gráfico. Embora sejam bastante importantes em muitos países,
eles são documentados de forma pouco fiável em termos de estatísticas de
consumo.

17
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Fonte: BP, 2010

Esta persistência dos combustíveis fósseis resulta principalmente do


facto de as infra-estruturas de produção, de tratamento, de transporte e de
distribuição de petróleo, de gás natural e de carvão serem muito onerosas e
duradouras. As tecnologias para converter estes recursos em serviços
energéticos utilizáveis e prontos para o consumo estão bem estabelecidas.
Existe uma enorme quantidade de infra-estruturas de combustíveis
fósseis não depreciadas totalmente. O não-aproveitamento integral destas
instalações seria um desperdício. Estas mesmas infra-estruturas não poderão
ser utilizadas facilmente para alternativas, tais como a produção e a
distribuição de biocombustíveis ou de hidrogénio. Por isso, mesmo que o
mundo procure mudar para combustíveis não fósseis, levar-se-á muito
tempo e serão necessárias somas avultadas de investimento para
desenvolver as infra-estruturas necessárias. Poderá ser economicamente
viável fazê-lo nas zonas em vias de desenvolvimento do mundo, onde as
infra-estruturas são limitadas ou inexistentes e onde as tecnologias
alternativas, como a energia eólica e a solar, poderão rapidamente fornecer
electricidade aos clientes.
Embora os combustíveis fósseis dominem à escala global, há
diferenças regionais.

18
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Fonte: BP, 2010

Nos dias de hoje observa-se que África é o segundo maior produtor


de carvão à escala mundial, depois da região Centro e Sul da América. O gás
natural é o combustível principal nos países da antiga União Soviética
(Euroásia), e não existe mais nada senão o petróleo e o gás natural no Médio
Oriente.
A América do Norte e a Europa parecem estar em posição mais
equilibrada, mas esta situação poderá alterar-se ao longo do tempo. Por
exemplo, há grandes projectos hidroeléctricos na China (Barragem das Três
Gargantas de 18-GW) ou o complexo da barragem de 3-GW na África
Austral. Para além disso, o debate sobre a mudança climática suscitou mais
uma vez o interesse na energia nuclear. Por sua vez, tecnologias limpas do
carvão, como o ciclo combinado de gaseificação integrada (IGCC) com
captura e separação de carbono (CCS) têm, igualmente, o potencial de
influenciar futuras preferências de combustível para a produção de
electricidade. O sector dos transportes continuará provavelmente a
depender de produtos petrolíferos, como a gasolina ou gasóleo. Os
biocombustíveis, como o etanol, ou o diesel obtido mediante a tecnologia de
gás-para-líquidos (GTL) ou mesmo de carvão-para-líquidos (CTL), poderão
incrementar o seu papel, mas os combustíveis fósseis certamente dominarão
o sector dos transportes.
O Médio Oriente continua a ser a região a liderar em termos de stock
de reservas, produção e comercialização de Petróleo e Gás Natural (BP,
2010). Quanto ao resto das regiões, estas apresentam uma situação mais
equilibrada relativamente ao stock dos seus recursos energéticos. A Energia
Nuclear tornou-se uma fonte elementar de energia para a região da América
do Norte tanto por razões económicas como ambientais. Adicionalmente a
esta, as preocupações ambientais concorrem para a maior adesão a Energia
Nuclear.
A concorrer para a manutenção de elevados consumo de
combustíveis fósseis está o facto do sector dos transportes continuar a ter
uma forte dependência de produtos petrolíferos, não obstante hoje falar-se
mais de fontes energéticas tais como os biocombustíveis e ter-se maior
proveito das mesmas.

O petróleo bruto
A procura e a oferta mundiais de petróleo sempre apresentaram um
interessante desequilíbrio, em especial depois da primeira metade do séc.
XX. Habitualmente, os países industrializados têm sofrido da escassez de
recursos necessários para satisfazerem as suas necessidades em petróleo e os
países com recursos e capacidade de produção abundantes não têm

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

necessitado de tudo aquilo de que são capazes de produzir para as suas


próprias economias. Este desequilíbrio criou uma situação mutuamente
benéfica na qual os países industrializados poderiam importar petróleo de
países ricos em recursos que, por sua vez, poderiam desenvolver as suas
economias com receitas das exportações de petróleo.
Infelizmente, devido a uma variedade de razões, as receitas do
petróleo nem sempre conduziram, nos países exportadores de petróleo, a
um desenvolvimento económico proporcional e suficientemente difundido.
As receitas não foram investidas em infra-estruturas, sectores económicos e
nem em educação da população, a níveis que fossem necessários para
sustentar um desenvolvimento económico diversificado. Muito
recentemente, as iniciativas internacionais de transparência e governação, as
reformas económicas, bem como o aumento da consciência pública nos
países produtores, começaram a ter um impacto mais positivo.

Fonte: BP, 2010

20
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Os choques petrolíferos da década dos 70 obrigaram os países


industrializados a substituírem o petróleo por combustíveis alternativos e a
aumentar os esforços de conservação e eficiência. Mas mesmo assim, o
petróleo continuou a ser um combustível essencial para estas economias,
principalmente porque não era economicamente viável substituir os
produtos petrolíferos, como a gasolina, o gasóleo e o jet fuel (combustível
para motores a jacto), enquanto combustíveis dos transportes. À medida que
as economias por esse mundo afora continuavam a crescer, a procura por
combustíveis de transporte aumentou. Construíam-se estradas,
embarcavam-se mercadorias e as classes médias emergentes exigiam
automóveis.
Por outro lado, os esforços para acumulação stocks de petróleo, como
garantia contra possíveis futuras subidas bruscas, bem como a natureza
lenta na implementação das políticas mencionadas acima, mantiveram uma
forte procura de petróleo e proporcionaram o ambiente financeiro para o
desenvolvimento de recursos fora da Organização dos Países Exportadores
de Petróleo (OPEP). Os baixos preços da década dos 80 e o incremento da
procura das economias em crescimento a nível mundial fizeram alargar o
mercado de petróleo. Todavia, como decorre das evidências, o Médio
Oriente, com 754 mil milhões de barris de reservas comprovadas, representa
57% das reservas mundiais totais de petróleo bruto. Três quartos das
reservas mundiais de petróleo bruto são controlados pela OPEP, cujos
principais membros estão no Médio Oriente.
O desequilíbrio entre regiões produtoras e consumidoras está a
aumentar. Por exemplo, a produção da América do Norte mantém-se mais
ou menos constante, enquanto o seu consumo cresceu, tornando a região
cada vez mais dependente das importações, que hoje representam cerca de
40% do consumo total4.
A região da Ásia do Pacífico apresenta também uma crescente
dependência das importações de petróleo, apesar do incremento da sua
produção. Entre 2006 e 2009, as necessidades de importações líquidas da
região aumentaram de cerca de 16,0 para 17,9 milhões barris por dia (b/d),
apesar da Crise Económica Asiática.
A região da Ásia do Pacífico constitui a porção maior do aumento nas
economias de mercados emergentes (EME), onde o consumo total cresceu de
cerca de 13% do consumo mundial, em 1970, para aproximadamente 36%,
em 2006, ao passo que, a quota-parte dos países da OCDE (Organização para

4
A região recebe os seus produtos de uma vasta gama de fontes, onde se destaca a
América Latina, África e o Médio Oriente.

21
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Cooperação Económica e Desenvolvimento) baixou de 74% para 59%. Cerca


da metade do aumento ocorreu na década dos 90, liderado primeiramente
pelos «Tigres Asiáticos» e, depois, pela China e pela Índia, cujo crescimento
económico causou um aumento da procura de petróleo.
O Médio Oriente, a África e a antiga União Soviética continuam a ser
as mais significativas regiões exportadoras. A crescente produção que se tem
evidenciado desde a década de 90 fez crescer as exportações da América do
Sul e Central, mas o comércio confinou-se principalmente à região.
Em África, a produção aumentou em cerca de 9% entre 1970 e 1990,
porém, desde então, aumentou em 44%. A maior parte do incremento de
produção foi registada na África do Oeste e Norte, em países como a
Nigéria, Angola, Argélia e Líbia.
O aumento significativo da produção permitiu também a subida das
exportações africanas de cerca de 4,7 milhões de b/d, em 1990, para 7,1
milhões b/d, em 2009, a despeito do aumento no consumo de cerca de 54%,
entre 1990 e 2009.
A produção de Médio Oriente subiu significativamente de cerca de
17,5 milhões b/d, em 1990, para quase 25 milhões b/d, em 2009, depois de
uma queda na década de 80. Como o consumo na região continua a ser
relativamente baixo (7,1 milhões b/d, apesar de reflectir um aumento de
104% dos 3,5 milhões b/d que eram consumidos em 1990), a região exportou
mais 85 milhões b/d em 2009 do que em 1999.

Oil: Inter-area movements 2009

Thousand barrels daily To


US Canada Mexico S. & C. Europe Africa Australasia China India Japan Singapore Other Asia Rest of Total
From America Pacific World
US - 150 322 583 424 60 15 58 30 78 145 15 37 1916
Canada 2464 - 2 2 7 - - ‡ - 1 - 1 ‡ 2476
Mexico 1234 22 - 33 113 - - ‡ 37 3 6 ‡ 1 1450
S. & Cent. America 2345 108 16 - 428 22 ‡ 360 200 6 219 19 3 3725
Europe 750 280 82 82 - 390 2 13 6 12 128 38 204 1987
Former Soviet Union 591 81 2 5 7043 28 18 539 21 179 143 271 144 9065
Middle East 1747 100 12 108 2135 674 116 2078 2215 3619 974 4647 ‡ 18426
North Africa 576 103 1 88 1636 - 6 180 90 7 5 66 3 2760
West Africa 1593 78 3 298 970 77 9 837 350 7 1 148 3 4373
East & Southern Africa - - - ‡ 3 ‡ ‡ 245 18 - 3 34 1 303
Australasia 15 - - - 1 ‡ - 33 3 60 69 119 ‡ 300
China 10 1 1 83 38 15 8 - 13 31 99 392 19 709
India 14 - - 20 74 8 ‡ 4 - 35 115 453 18 742
Japan - 1 2 1 23 - 49 76 1 - 136 55 1 345
Singapore - 3 2 6 39 51 227 138 52 19 - 1000 17 1552
Other Asia Pacific 105 4 5 58 92 9 336 567 110 204 556 - 14 2059
Unidentified * - 174 - ‡ 458 57 30 - - 22 - - - 741
Total imports 11444 1105 448 1366 13485 1391 817 5127 3145 4283 2598 7258 464 52930

Fonte: BP, 2010

Os países que compõem a antiga União Soviética (ex-URSS)


inverteram finalmente a tendência decrescente na produção. Liderada pela
Rússia, pelo Kazaquistão e pelo Azerbeijão, a região produz actualmente
mais de 13 milhões b/d, tendo alcançado os níveis de pico dos anos 80. Mais
importante ainda, com a nova produção esperada dos produtores da região
Cáspio, bem como da Rússia, e com um consumo que se admite não

22
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

aumentar de modo correspondentemente rápido, as exportações da ex-URSS


deverão aumentar do seu nível de 9 milhões b/d para possivelmente 10
milhões b/d até o presente ano.
O Médio Oriente é, nitidamente, o maior exportador de petróleo com
aproximadamente 18 milhões b/d (35% do total mundial), seguido da ex-
URSS, com cerca de 9 milhões de b/d, da África, com 7,1 milhões b/d e da
América do Norte, com aproximadamente 6 milhões b/d (devidos,
principalmente, ao Canadá).
A América do Norte (devido aos Estados Unidos), a Ásia do Pacífico
(Japão e cada vez mais a China) e a Europa são as grandes regiões
importadoras.

Refinação e biocombustíveis
Historicamente, o investimento no sector de refinação tem sido um
negócio de margens baixas. Na década 70, um repentino surto na construção
conduziu a 20 milhões b/d de capacidade em excesso. Isto deveu-se
parcialmente a políticas erradas, a subsidiação nos Estados Unidos, através
do programa “Small Refiner Bias” (Preconceito do Pequeno Refinador), de
pequenas refinarias ineficientes. De igual forma, muitos outros países
importadores de petróleo pensaram que possuir capacidade de refinação
interna garantia alguma segurança na oferta de produtos. Contudo, os
elevados preços de petróleo da década 70 baixaram a procura e encorajaram
alternativas, como os biocombustíveis. Por exemplo, o Brasil promoveu a
indústria do álcool, fazendo com que o Etanol representa hoje 40% do
mercado brasileiro de gasolina. De facto, o excesso de capacidade baixou o
preço dos refinados e comprimiu ainda mais as margens de lucro. Por outro
lado, os regulamentos ambientais cada vez mais rigorosos, em particular nos
Estados Unidos e na Europa, dificultaram a construção de novas refinarias.
Como resultado das baixas margens e da regulação apertada, as companhias
começaram a fechar as suas refinarias. Entre 1980 e 1985, a capacidade de
refinação decresceu em cerca de 7 milhões b/d. Quando a procura de
petróleo começou a se restabelecer, entrou em produção uma nova
capacidade de refinação, principalmente na Ásia e no Médio Oriente.

23
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Esta estreita correlação entre o desenvolvimento da capacidade de


refinação e as flutuações na procura de produtos pode ser vista no gráfico
abaixo.
Depois da experiência não lucrativa da euforia de construção dos
anos 70, o negócio de refinação tornou-se muito mais conservador. E, em
conformidade com 30%
esse desenrolar das 28% Refini ng capacity u nde r u til izati on
coisas, a utilização 26%
de capacidade 24%
global média 22%
aumentou de 70- 20%
75% para 86% no 18%
princípio da década 16%
dos 80 (vide gráfico 14%
da página seguinte). 12%
Registaram-se
80

82

84

86

88

90

92

94

96

00

04
98

02
muitas fusões e
19

19

19

19

20
19

19

19

19

19

19

20

20
aquisições,
diminuindo portanto o número de companhias no negócio de refinação,
especialmente nos Estados Unidos. Algumas refinarias conseguiram
aumentar as suas margens de lucro, investindo em unidades de “coking” e
de “cracking”, o que pode aumentar a produção de produtos de alto valor,
como a gasolina, recorrendo a ramas mais pesadas e ácidas (alto teor em
enxofre), ainda que não se deixe de cumprir com os regulamentos
ambientais rigorosos respeitantes ao funcionamento das refinarias e às
especificações dos combustíveis.
A produção de ramas pesadas e ácidas tem estado a crescer no
mundo. Este tipo de ramas é vendido com desconto em relação às ramas
leves e doces (baixo teor em enxofre). Como os preços dos produtos
continuam a permanecer
altos, não obstante o Changes in consumption and refining capacity

dispêndio de capital 5 000


destinado à construção das 4 000 C on sum ptio n
unidades de coking e 3 000 C ap aci ty

craking, as refinarias que 2 000

investem nestas tecnologias 1 000


0
são capazes de melhorar a
-1 000
sua rentabilidade. -2 000 Derived from BP data.

Contudo, à medida que -3 000


mais refinarias vão
66

69

72

75

81

84

90

96

99

05
78

93

2
8

0
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20
19

20

aumentando as suas
capacidades de tratar ramas mais pesadas, a procura destas pode, na
sequência, ocasionar a subida do seu preço.
A rigidez da capacidade de refinação é uma das causas da
persistência de preços altos do petróleo bruto nos últimos anos. O elevado

24
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

preço, por sua vez, incitou o apoio aos biocombustíveis, como o Etanol e o
Biodiesel. A União Europeia fixou a meta de 20% para os combustíveis a
utilizar nos transportes que deverão ser de origem biológica até 2020.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), estima-se um
aumento de 50%, entre 2007 e 2009, da oferta mundial de biocombustíveis,
sendo que, esse aumento foi protagonizado pela região do Norte da
América.
Os produtores de Etanol à base de milho nos Estados Unidos
recebem vários incentivos fiscais (cerca de 50 cêntimos por galão) e subsídios
agrícolas. Os consumidores que compram automóveis adaptáveis a
diferentes combustíveis, capazes de utilizar E85 (85% etanol), beneficiam de
uma redução de imposto. Com estes incentivos, não constitui surpresa que
haja mais de 70 novas refinarias de etanol e várias modernizações em curso.
Em 2007, estimava-se que quando estes projectos estiverem concluídos, em
2009, a capacidade de produção duplicaria para 12,5 mil milhões de galões.

Principais produtores de biocombustíveis, 2005


Etanol Biodiesel
Milhões de Milhões de
País Matéria-prima País Matéria-prima
galões galões
Cana-de-
Brasil 4.356 Alemanha 507 Semente de colza5
açúcar
Estados
4.284 Milho França 135 Rebento de soja
Unidos
Estados
China 528 Milho, trigo 77 Semente de colza
Unidos
Beterraba, trigo,
EC 251 Itália 60 Semente de colza
sorgo
Cana-de-
Índia 79 Áustria 22 Semente de colza
açúcar
Fonte: EarthTrends (2007), utilizando dados de WorldWatch (2006) e do Departamento de
Energia dos Estados Unidos (2006).

Em termos globais, pode-se afirmar que a produção de etanol


começou em meados da década dos 70 e alcançou quatro mil milhões de
galões em cerca de dez anos. Após o colapso do preço de petróleo, porém, a
indústria de etanol entrou num período de estagnação que durou até ao ano
de 2000. Desde então, a produção quase que triplicou, de cerca de 4,5 mil
milhões de galões para mais de 12 mil milhões de galões. O consumo de
biodiesel continua a ser relativamente pequeno, ficando por volta de mil

5
Esta semente, obtida de uma planta da família Brassicaceae, é usada na produção do Oléo ou Azeite
de Colza. No seu estado natural serve também como matéria prima na produção de Biodiesel.

25
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

milhões de galões, mas tem estado a aumentar a taxas muito altas desde
2000.
O Brasil e os Estados Unidos são os dois maiores produtores de
etanol do mundo (vide tabela acima). A produção de etanol já ultrapassou 6
mil milhões de galões, quase um aumento de 50% da cifra de 2005 indicada
na tabela.
O biodiesel tem sido mais popular na Europa. Todavia, algumas
consequências não intencionais da indústria de etanol estão a suscitar
críticas. A crescente utilização de milho e de para a produção de etanol está
a conduzir a altas nos respectivos preços, o que aumenta o custo da ração
para as indústrias de criação de gado e de aves domésticas. Os preços de
muitos produtos agrícolas estão a subir devido à reatribuição das terras de
cultivo ao milho, a fim de satisfazer a crescente procura de milho pela
indústria de etanol. As indústrias de criação de gado e de aves domésticas
estão, igualmente, a transferir parte do aumento dos seus custos de ração
para os clientes. A inflação global dos preços de alimentação poderá ser 1-2
porcento mais alta nos próximos 5-10 anos no quadro de um cenário de
produção de 15-20 mil milhões de galões de etanol.
Em países como a China e a Índia, esta troca entre comida e
combustível está a suscitar uma séria preocupação para os políticos.
Há igualmente preocupações ambientais. Um aumento da produção
de milho requer uma crescente utilização de fertilizantes e pesticidas. O
recurso a nutrientes provenientes do nitrogénio pode provocar vários efeitos
negativos ao ambiente. A crescente utilização de água para práticas agrícolas
pode provocar a depleção dos lençóis freáticos e conflitos comuns pelas
reservas de água de superfície. As emissões de gases com efeito de estufa
(GHG) pelas biorefinarias podem também estar sujeitas a uma
regulamentação no futuro. Segundo o que revelam alguns estudos, a
utilização de E85 nas zonas urbanas, a exemplo de Los Angeles, pode
agravar o problema da poluição atmosférica, formando a mistura de
nevoeiro e de fumo designada por «smog».
Nos grandes mercados como os Estados Unidos, a China e a Índia, as
infra-estruturas para transportar e distribuir etanol (vagões, camiões-
cisternas e barcaças) não se estão a expandir tão rápido quanto a capacidade
de produção. A capacidade de mistura nas refinarias pode também estar
aquém da capacidade de expansão. Nos Estados Unidos, apenas menos de
um porcento dos postos de venda vendem E85. Estes constrangimentos
elevam o custo do uso de etanol. A expansão destas infra-estruturas exige,
para além de outros recursos, um capital de investimento considerável.
A experiência brasileira revela algumas das condições que podem
levar ao estabelecimento de uma indústria de etanol bem sucedida com um
mínimo de factores externos. O Brasil possui uma grande vantagem natural
dado que a sua cana-se açúcar (a matéria-prima com maior intensidade na
produção de etanol-duas vezes a do milho) é a de produção mais barata no

26
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

mundo devido às condições da terra, ao solo e a pluviabilidade na região


centro-sul do país. Por exemplo, a pluviosidade é tal que não é necessário
qualquer investimento de vulto nos sistemas de irrigação. Há vastas
extensões de terra não explorada e não há qualquer problema de
readjudicação de terra de cultivo.
Assim, no Brasil custa cerca de US$145 para produzir uma tonelada
de cana-de-açúcar, seguindo-se a Austrália com US$185 por tonelada.
Considerando que os custos da matéria-prima correspondem a cerca de 60%
do custo total, esta vantagem natural leva a um custo de produção de etanol
no Brasil de US$0,23-0,29 por litro (US$0,87-US$1,10 por galão).
Todavia, a indústria brasileira de etanol, com o apoio do governo,
investiu também na Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para criar cerca de
500 variedades comerciais de cana que são resistentes a várias epidemias. Na
sua maioria, as refinarias de etanol no Brasil estão integradas com a moagem
de açúcar. As operações são suficientemente flexíveis para reagir às
flutuações de preços praticados nos mercados de açúcar e de etanol.
Finalmente, a produção de automóveis adaptáveis a diferentes combustíveis
e a disponibilidade generalizada de etanol nos postos de venda tornaram
este combustível atraente aos consumidores. Mais uma vez, o apoio inicial
do governo foi necessário para se construir parte das infra-estruturas e
fornecer incentivos aos consumidores para que estes comprassem
automóveis adaptáveis a diferentes combustíveis, mas, hoje, a indústria
parece ter-se tornado lucrativa por si própria.
A não ser que as condições naturais proporcionem uma vantagem
comparativa como no Brasil, os biocombustíveis, como o etanol, poderão
não ser capazes de oferecer uma alternativa de grande importância aos
produtos petrolíferos no domínio dos transportes. A concessão de subsídios
ao etanol à base de milho ou outros biocombustíveis ineficientes pode
conduzir a muitas consequências não intencionais, como pôr os
abastecimentos alimentares em risco, provocar carências de água ou
aumentar a poluição. A excitação causada por estes combustíveis poderá se
esvanecer quando alguns destes factores externos se tornarem mais visíveis.
Apesar de os altos preços actuais do petróleo tornarem a maioria destes
combustíveis competitivos no mercado, mesmo se por vezes apenas
apoiados por incentivos fiscais e por subsídios, um declínio do preço de
petróleo levará os consumidores a pensarem duas vezes antes de optar pelo
etanol ou pelo biodiesel. A produção de etanol permaneceu estável nos
limites de 4 a 4,5 mil milhões de galões como efeito do colapso do petróleo
em meados da década dos 80 até 2000-2001, quando o preço de petróleo
começou a se restabelecer.

Gás Natural

27
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

A maioria das reservas comprovadas mundiais de gás natural (mais


de 70%) encontra-se em duas regiões, nomeadamente na Euroasia e no
Médio Oriente (vide gráfico abaixo). Sobretudo a Rússia, o Irão e o Qatar
contêm a grande maioria destas reservas confirmadas. A base de recursos é
provavelmente maior, em particular no Médio Oriente, que tem muito
menos exploração de gás natural em comparação com regiões de produção
mais antiga, como os Estados Unidos, o Mar do Norte e algumas zonas da
Rússia.

Fonte: BP, 2010

Apesar da notável envergadura das suas reservas, a Euroasia o


Médio Oriente não tem sido o maior produtor de gás natural. A América do
Norte tem liderado tanto a produção como o consumo há várias décadas.
Em 2006, a produção da ex-URSS ultrapassou a da América do Norte, tendo
aumentado significativamente de 18 mil milhões de pés cúbicos (bcf) por dia
em 1970 para 75 bcf/d em 2006, enquanto a produção da América do Norte
aumentou de 64 bcf/d para apenas 73 bcf/d durante o mesmo período. Mas
a situação reverteu-se em 2009, dado que a América do Norte passou a ter
uma produção de 78 bcf, comparativamente aos 68 bcf produzidos pela
Euroasia.
Com a melhoria da economia dos projectos de gás natural liquefeito
(GNL), os países do Médio Oriente (Qatar em particular) têm estado a
aumentar as suas produções e exportações de gás natural. Em 2009,a
produção de gás natural no médio-Oriente aumentou para quase 40bcf/dia,
o que representa mais do que o dobro do que a região produzia apenas há
dez anos atrás. Com 13 bcf/dia, o Irão é o maior produtor da região. Com o
aumento de produção de gás das economias dos países fora da OCDE, a
contribuição da produção da OCDE baixou de 73% em 1970 para 38% em
2009.

28
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

As cifras relativas ao consumo são muito semelhantes às da


produção. Para as dimensões dos campos e dos mercados típicos, o
transporte de gás natural por gasoduto é economicamente mais viável até
certas distâncias. Ao contrário do petróleo, o gás natural é difícil e oneroso
de transportar a grandes distâncias por navios-cisterna (sob a forma de
GNL), sobretudo sem acordos de longo prazo entre produtores e
consumidores. E isto vale, em especial, para recursos de gás natural
encravados no interior dos países; por seu lado, o transporte de GNL por via
marítima não é uma opção imediata. Embora os projectos de GNL se tenham
tornado mais baratos, reduzindo o custo do gás entregue aos mercados
consumidores, o próprio comércio de GNL continua a ser
predominantemente regional, quer na Bacia Atlântica quer na Bacia Pacífica,
porque o transporte a longas distâncias por via marítima pode aumentar
significativamente o custo do gás entregue. Assim, a maior parte do gás
natural é utilizada ou comercializada a nível da região respectiva. Por
conseguinte, os números atinentes ao consumo são quase idênticos aos
números relativos à produção na América do Norte, do Sul e Central, no
Médio Oriente e na Ásia/Pacífico. Este quadro começa a mudar um pouco à
medida em que estão a ser construídas mais instalações para importação do
GNL em regiões da América do Norte, da Europa e da Ásia/Pacífico e
grandes navios tornam mais viável o transporte de GNL a longas distâncias.
O comércio regional por gasoduto é robusto, especialmente entre a
Euroasia e a Europa e entre o Canadá e os Estados Unidos.
O Canadá envia para os Estados Unidos 92 mil milhões de metros
cúbicos (bcm) por ano, ao passo que daí importa apenas 20 bcm. A Euroasia
exporta mais de 230 bcm por ano e a Europa importa cerca de 443 bcm. A
Áafrica segue a Euroasia na escala dos maiores importadores para a Europa
com cerca de 78 bcm por ano.

29
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Fonte: BP, 2010

A Alemanha é o segundo maior importador depois dos Estados


Unidos. Em 2009, o país importou cerca de 89 bcm, dos quais, 13 bcm
transitaram por outros países da Europa. Juntamente com a Rússia (32 bcm),
a Holanda (22 bcm) e a Noruega (30 bcm) constituem os maiores
fornecedores de gás à Alemanha.
A Itália (69
bcm), a França (49
bcm) e a Espanha
(36 bcm) são outros
grandes
importadores. À
semelhança da
Alemanha, estes
países receberam
também grande
parte das suas
importações da
Rússia. A seguir à
Rússia e à Noruega, o Canadá foi o terceiro maior exportador de gás com 92
bcm e a Holanda ocupou o quarto lugar com cerca de 50 bcm.

Electricidade

Desde meados da década de 90, a geração líquida de electricidade, à


nível mundial, vem aumentando numa proporção maior que o consumo. Em
2009, foram produzidos mundialmente 20 triliões de Kwh de electricidade
em comparação com os 8 triliões de Kwh em 1980.
Enquanto a quota parte da América do Norte baixou de 34%, em
1980, para 26%, em 2007, a Ásia aumentou significativamente a sua
contribuição, de 16% para 35%, durante o mesmo período. Por seu lado, a
quota parte dos países da Europa e Eurásia baixou de 43% para 26%, ao
passo que as outras regiões registaram ligeiros aumentos.
Enquanto muitas regiões continuaram a aumentar a sua produção de
forma contínua ao longo deste período, a produção nos países do antigo
bloco soviético (como reflectida pela região da Eurásia nestes dados) decaiu
depois da desintegração da União Soviética. A produção era de 1,6 triliões
de kWh em 1990 e, em 1998, ela baixara para menos de 1,2 triliões de kWh.
Desde então, estas economias têm estado a recuperar e, hoje, elas consomem
cerca de 1,3 triliões de kWh. A importância da relação entre energia e, em
particular electricidade, consumo e desempenho económico é, mais uma
vez, nitidamente demonstrada no decurso deste período pós-soviético.

30
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Na América Central e do Sul, a produção aumentou de 308 mil


milhões de kWh, em 1984, para 1.037 mil milhões de kWh, o que significa
uma quadruplicação. Apesar disso, a quota-parte da região na produção
mundial permaneceu razoavelmente constante e pequena, subindo apenas
de 4% para 5%. A produção líquida de electricidade no Médio-Oriente
aumentou quase seis vezes, de 92 mil milhões de kWh em 1980 ela passou
para 705 mil milhões de kWh, em 2007, porém, a região ainda representa
apenas 3,5% da totalidade mundial. De igual modo, o aumento da produção
africana de 190 mil milhões de kWh, em 1980, para 612 mil milhões de kWh
não alterou a contribuição da região (2-3%) no total mundial.

Geração de Electricidade por região


100%
90%
80% Norte da América

70% Centro e Sul da América


60% Europa
50%
Eurásia
40%
30% Médio Oriente

20% África
10%
Ásia
0%
1990 1995 2000 2005 2009

Fonte: Energy Information Administration

O mundo continua a produzir a maior parte da sua electricidade


queimando, em instalações térmicas convencionais, combustíveis fósseis
como carvão, gás natural e energia nuclear. A produção destas instalações
aumentou de 5,6 triliões de kWh em 1980 para 10,9 triliões de kWh em 2004,
embora a contribuição destes combustíveis na produção total tenha baixado
ligeiramente de 70% para 68% durante o mesmo período.

31
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Fonte: Energy Information Administration

As preocupações ambientais relativas à queima de combustíveis


fósseis (o carvão, em especial) e a volatilidade dos preços de petróleo
figuram entre as razões que levaram a buscar alternativas, como a energia
nuclear e as energias renováveis. Mas, o gás natural, um outro combustível
fóssil, apareceu como a alternativa mais favorecida. O crescente uso de gás
natural para a produção de electricidade desde os finais da década 90
alterou a tendência decrescente da energia térmica. Como a produção a gás,
através da tecnologia de ciclo combinado, é mais eficiente do que a maioria
das outras tecnologias e porque o gás natural emite menos poluentes,
quando queimado, do que o carvão ou o petróleo, os produtores, bem como
reguladores e políticos no mundo, preferem o gás natural. A expansão de
gasodutos e do comércio de GNL tornaram o gás natural disponível para um
maior número de países. Finalmente, a tendência mundial da reforma do
sector de electricidade tornou as instalações de gás natural mais atraentes
aos investidores, devido ao seu baixo custo e à rapidez da sua construção em
relação à maior parte das instalações de outro tipo. Estes factores continuam
ainda válidos, pois que o gás natural continua a ser o combustível preferido
para expandir a capacidade da produção de electricidade em todo o lado.
O Gás Natural tem sido ao longo dos anos a segunda maior fonte de
energia eléctrica, depois do carvão, com 2,7 triliões de kWh, em 2009, em
comparação com 1,7 triliões de kWh em 1980, contudo, tendo a sua quota-
parte registado um aumento de 21% em 1980 para 23% em 2009. A produção
nuclear, que se tornou popular depois das grandes subidas do preço de
petróleo e da expansão de regulamentos ambientais oficiais na década 70,
aumentou consideravelmente de 684 mil milhões de kWh em 1980 para 2.620
mil milhões de kWh em 2004. Como tal, a energia nuclear substituiu as
quotas perdidas da produção térmica e hídrica e ela constitui actualmente
20% da produção total mundial, quando comparada com apenas 9% em
1980.

32
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Os acidentes como os de Three Mile Island nos Estados Unidos e de


Chernobyl na Ucrânia e os problemas associados à armazenagem do
combustível radioactivo gasto fizeram parar a expansão das instalações
nucleares em muitos países do mundo. Este preconceito anti-nuclear tem
sido muito forte nos Estados Unidos, onde não foi construída nenhuma nova
instalação nuclear desde a década dos 70. Ao mesmo tempo, países como a
França continuam a depender da energia nuclear para o grosso do seu
fornecimento de electricidade (até 75-80% em França).
Nos últimos anos, as preocupações relativas à mudança climática e às
emissões de gases de estufa fizeram com que a indústria de energia nuclear
entrasse num período de renascimento. Os combustíveis fósseis, incluindo o
gás natural, emitem dióxido de carbono, que é apontado como o gás de
estufa mais nocivamente activo na mudança climática. Muitos actores
preferem as tecnologias renováveis, mas, apesar de décadas de programas
de incentivos, a contribuição das tecnologias renováveis e outras alternativas
(geotérmica, eólica, solar, biomassa, etc.) representa apenas 4% da produção
total de electricidade como se pode ver no gráfico. A geração a partir das
tecnologias renováveis aumentou de 31 mil milhões de kWh, em 1980, para
334 mil milhões de kWh, em 2004.
Actualmente, muita gente começa a compreender o que os
profissionais da indústria já sabiam há muito tempo, ou seja, que não é
possível satisfazer as necessidades das economias em crescimento com estas
tecnologias renováveis. Faltam-lhes as economias de escala e, sobretudo,
podem sofrer de interrupções.
Todavia, a produção por combustível revela uma variação
considerável pelas diferentes regiões do mundo. Na América do Norte, o
carvão é a maior fonte utilizada na geração de electricidade (49% do total), já
no Canadá, a energia hidroeléctrica representa 59% do total de electricidade
gerada e, no México, tem-se como principais fontes os derivados de petróleo
e o gás natural (69% do total).
Em termos mundiais a produção de energia nuclear aumentou a sua
contribuição de 11%, em 1980, à custa da produção térmica e hídrica
convencional, a qual representava 69% e 20% da produção total em 1980.
Como no resto do mundo, os geradores, principalmente produtores de
energia mercantil, têm preferido o gás natural na última década. Isto ajudou
a estabilizar a contribuição da produção térmica. Mas, particularmente nos
Estados Unidos, a crescente utilização de gás natural para a produção de
electricidade contribuiu para a subida de preço do gás natural, o que em
seguida conduziu à destruição da procura de gás em muitas indústrias e
tornou a produção a gás menos lucrativa do que esperado originalmente.
Entre 1980 e 2004, a Europa Ocidental conheceu também uma
mudança semelhante das fontes de produção, passando da convencional e
da hídrica para uma baseada na energia nuclear, cuja contribuição aumentou

33
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

de 12% para 28%, e na energia renovável, cuja contribuição foi de 27%, em


2007. A quota-parte da produção térmica convencional na produção total
baixou de 64% para 53% e a contribuição da produção hídrica baixou de 23%
para 15%.
Desde a última década que o gás natural era utilizado
extensivamente e assim tem prosseguido nos presente período, mas prevê-se
uma futura estabilização da mesma. Por exemplo, o Reino Unido substituiu
quase toda a sua capacidade de produção a carvão por uma outra assente no
gás. Em consequência, a contribuição das unidades térmicas aumentou um
pouco, na realidade, desde os finais da década dos 90. Apesar de todos os
programas de incentivos na Europa, as tecnologias renováveis representam
apenas 3-4% da produção. Claramente, com o ênfase acrescido dado à
mudança climática e ao compromisso assumido no Protocolo de Quioto, a
Europa Ocidental tem estado a aumentar o uso das tecnologias renováveis,
como a eólica, porém, estas tecnologias representam ainda uma percentagem
relativamente pequena da capacidade total.
O rápido crescimento económico na Ásia desde a década 90 conduziu
a um aumento significativo da capacidade de geração de energia. A região
sempre dependeu dos combustíveis fósseis, com 72% da produção provindo
das instalações térmicas convencionais em 1980. Esta contribuição aumentou
para 77% nos últimos anos, altura em que mais carvão e de gás natural
alimentaram a expansão da capacidade energética. No Japão, as maiores
fontes energéticas são o Gás Natural, a Energia Nuclear e o Carvão, onde as
duas primeiras fontes representam uma parcela de 51% da geração e a
última tem uma parcela de 31%.
A única região onde a produção hidroeléctrica parece ter aumentado
é a Europa Oriental e a ex-URSS. Porém, o incremento da contribuição
hidroeléctrica de 13% para 17% desde 1980 deveu-se parcialmente ao
colapso económico da região nos anos 90, o que resultou na queda da
produção de petróleo e gás. Foi igualmente mais proveitoso para Rússia
honrar as suas obrigações relativas às exportações de gás natural para
Europa do que utilizar o gás para produzir electricidade no país. Por
consequência, a produção da fonte térmica convencional desceu de 1.037 mil
milhões de kWh em 1980 para 835 mil milhões de kWh em 1999, resultando
num declínio da contribuição destes combustíveis de 80% para 64%. Uma
outra razão deste declínio é a expansão da produção nuclear de 6% para
18%.
Nas américas Central e do Sul, a energia hidroeléctrica continua a
dominar contribuindo com 67% na produção de electricidade. No Brasil,
país que pertence ao grupo dos 5 maiores produtores de energia nessa
região, a energia hidroeléctrica representa 87% do total da geração de
electricidade.
No Médio Oriente e África, praticamente quase toda a electricidade é
produzida em instalações térmicas convencionais, ou seja 97% no Médio

34
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Oriente e 80% em África. A segunda maior fonte de produção de


electricidade em África são as instalações hidroeléctricas que representam
17% da produção total. É muito provável que, futuramente, se utilize mais
gás natural em África com a descoberta de novos recursos em África do
Oeste e do Norte. A África possui, igualmente, um potencial significativo
para a construção de uma nova capacidade hídrica e há planos para uma
capacidade de vários MW no continente. Ao contrário das unidades
tratadoras de gás natural, serão necessários largas somas de dinheiro para
concretizar os grandes projectos hidroeléctricos aventados.

PARTE 2

35
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

PETRÓLEO E GÁS

“Estar na OPEP e ser o membro que mais


incrementou a sua produção em
Capítulo 3 2007/2008 faz Angola assumir algumas
responsabilidades e, uma delas, é ter de
manter um bom rácio Reservas/Produção,
se possível, melhor que o actual de cerca de
20 anos.”
PETRÓLEO E
GÁS EM
José OLIVEIRA
ANGOLA

36
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Reservas e Recursos

As reservas de petróleo de Angola – provadas e prováveis – estavam


no inicio de 2010 avaliadas pela SONANGOL em cerca de 12,6 mil milhões
de barris (Bb), volume que coloca o país na terceira posição no continente
africano, logo antes da Argélia com 12,2 Bb, já que os dois primeiros lugares
são da Líbia com 44,3Bb e da Nigéria com 37,2 Bb segundo dados da BP
Statistical Review 2010. A nível mundial Angola ocupa a 16ª posição
detendo 1% das Reservas mundiais.
O rácio reservas/produção, à média de 1,8 milhões de barris/dia de
2009, é de 20 anos, mas sabendo-se que a produção angolana está a
aumentar e vai atingir, em 2012, 2,2 milhões de barris/dia (b/d), a sua
tendência é baixar, excepto se as descobertas anuais continuarem a cobrir os
volumes produzidos anualmente como em 2005 e 2006.
Uma das diferenças entre Angola e os principais países africanos com
elevadas reservas de petróleo é que a esmagadora maioria das descobertas
angolanas, é no mar, ao contrário dos dois países da Africa do Norte e
mesmo da Nigéria que tem reservas apreciáveis em terra. Mas a maior
particularidade de Angola é que a maioria das reservas – mais de 10 mil

37
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

milhões de barris – estão em águas profundas e/ou ultra profundas, ou seja,


em zonas do mar com mais de 300 metros de coluna de água.
Este facto coloca Angola entre os quatro primeiros países do Mundo –
ao lado do Brasil, da Nigéria e dos Estados Unidos – com maiores reservas de
petróleo em águas profundas e ultra-profundas, descobertas no nosso caso
na Bacia do Congo uma das mais prolificas do Mundo.
Em termos de potencial petrolífero não descoberto, embora a pesquisa
em terra e em águas rasas possa ainda vir a revelar algumas surpresas, todos
os estudos prospectivos apontam as águas profundas – aguardando-se agora
a comprovacão do potencial do pré-sal - como a área de maiores recursos
que a exploração irá transformar em futuras reservas.
Estas foram estimadas, em meados da década de 1990, num estudo
efectuado por uma empresa norueguesa para a SONANGOL, em cerca de
91,5 mil milhões de barris – Original Oil in Place (OOIP) – dos quais cerca de
68% ainda estavam por descobrir. Por seu lado, em 2000, as estimativas dos
Serviços Geológicos dos Estados Unidos (USGS) apontavam para Angola
um potencial a descobrir de 14 mil milhões de barris de reservas. Como
desde então se descobriram já cerca de 8 mil milhões de barris de reservas, a
confirmar-se aquela estimativa teríamos apenas mais 6 mil milhões de barris
para descobrir.
As estimativas da SONANGOL são mais optimistas, considerando,
em 2003, que os recursos petrolíferos de Angola, de norte a sul, passíveis de
serem transformados em reservas, são de 30 a 45 mil milhões de barris. Se
nos lembrarmos que em 1991 o optimismo da SONANGOL previa a
descoberta de campos gigantes nas águas profundas – o que foi
demonstrado alguns anos depois no bloco 15 (nomeadamente com os
campos de HUNGO e KISSANJE) e no bloco 17 (GIRASSOL e DÁLIA)
podemos admitir que o potencial petrolífero angolano por descobrir a fim de
ser transformado em reservas se situa entre os 6 mil milhões de barris,
previstos pelo USGS e os 45 mil milhões estimados pela SONANGOL.
Talvez mais importante que os valores atribuídos aos recursos
petrolíferos por descobrir, pelas várias instituições especializadas, seja a
atracção que Angola exerce às companhias de petróleo, bem patente nos
elevados bónus pagos pelos blocos das águas profundas. A IHS Energy
atribuiu a Angola o 5º lugar mundial, num índice de 113 países que
balanceia o sucesso da pesquisa com as condições fiscais e os factores
políticos do país. A média da quantidade de petróleo descoberto em cada
furo de pesquisa, entre 1995 e 2004, bem como a taxa de sucesso na pesquisa
em águas profundas estiveram sempre, segundo a IHS, acima da média
mundial e, em alguns anos, Angola atingiu níveis de sucesso de 60, 70 e 80%,
quando o resto do mundo anda entre os 30 e 50%.
Em relação ao gás natural os recursos angolanos não têm a mesma
importância que os petrolíferos e a maior parte das reservas é de gás
associado ao petróleo pelo que, devido à falta de obrigatoriedade de

38
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

reinjeccão enquanto não se encontravam formas económicas da sua


utilização, foi até há poucos anos em parte queimado. Com o arranque da
produção em águas profundas o Ministério dos Petróleos passou a obrigar
as companhias a reinjectar o gás associado para mais tarde ser usado no
complexo de LNG que está em construcao no Soyo.
As reservas de gás natural certificadas em Angola pela empresa
Gaffney, Cline & Associated, em 2004, são de 4 Tcf, (1012 pés cúbicos) as
prováveis de 9,5 Tcf e as possíveis de 25 Tcf. Com o desenvolvimento do
Projecto Angola LNG estão a dinamizar-se acções para descobrir mais gás
natural e pensa-se que as reservas provadas irão rapidamente ultrapassar os
10 Tcf, com base nas avaliações dos campos de gás dos blocos 1 e 2 – um
poço de avaliação no campo de gás e condensados do QUILUMA já
aumentou as reserva iniciais – e no gás associado das descobertas de
petróleo dos últimos anos.

Pesquisa

A actividade de pesquisa de 2006 a 2009 inclusivé deu origem a 42


descobertas distribuídas pelos blocos de águas profundas e ultra profundas.
Durante o ano de 2009 a aquisição de linhas sísmicas 2D atingiu 816
km, a versão 3D, utensílio essencial para se encontrar petróleo, totalizou
4.657 km2, e a versão 4D, importante para se seguir o comportamento dos
campos em producao, elevou-se a 748 km2.
A assinatura, em Novembro de 2006, de novos Contratos de Partilha
de Produção (CPPs) para os blocos 1, 5, 6 e 8/06, nas águas rasas e 23 e
26/06 e o remanescente dos blocos 15, 17 e 18/06, nas águas profundas, fez
afluir ao país novas companhias operadoras tais como ENI, PETROBRAS,
TULLOW, VAALCO e MAERSK, e possibilita que a pesquisa petrolífera se
mantenha bastante dinâmica nos próximos anos, já que os primeiros cinco
anos de cada contrato constituem o período por excelência para se encontrar
novos campos de petróleo. Associadas aos novos operadores de cada bloco
entraram também na pesquisa de petróleo em Angola companhias de
pequena dimensão, tanto estrangeiras como a PARTEX e a INTER OIL,
como nacionais como a PRODOIL, INICIAL Oil & GAS e GEMA.
A complementar a extensão da pesquisa, de norte a sul do país, tanto
em terra como no mar, recorde-se que os blocos das águas rasas 2, 3 e 4/05
todos operados pela SONANGOL P&P estão também em período de
pesquisa, prevendo-se a perfuração de alguns prospectos e em 2009 iniciou
a pesquisa no bloco norte do onshore de Cabinda, também operado pela

39
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

SONANGOL
PETROLEO - A QUALIDADE DAS RAMAS ANGOLANAS
P&P, tendo o API
Bloco Sul de 50,00

Cabinda, 45,00
NB
40,00
operado pela 35,00 GR XK
PL
PLUSPETROL 30,00 CB
KS HG
efectuado já uma 25,00
boa descoberta. 20,00 KT

Em 2009 a 15,00

SONANGOL 10,00
5,00
assinou
0,00
Contratos de 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00
Risco com a Teor de Enxofre (%)
Fonte:-REVISTA ENERGIA

COBALTO Oil
para a pesquisa nos blocos 9 e 21 onde se vai explorar as formações do pré-
sal.
Ressalte-se que a suspensão «sine-die» em 2008 do Concurso
Internacional para colocar em pesquisa cerca de uma dezena de blocos
marítimos angolanos originou uma baixa da actividade de pesquisa no país
o que não é saudável para quem quer manter um nível de producão à volta
dos dois milhões de barris/dia por alguns anos. Aliás o MINPET e a
SONANGOL estão conscientes deste problema e por isso é bem provável
que em 2011 haja um concurso internacional para colocar blocos em
pesquisa.
Recorde-se que o Ministério dos Petróleos dividiu em 2006 a parte
terrestre da Bacia do Kwanza em 23 blocos de cerca de 1000 km2 cada e
criou 5 novos blocos nas águas ultra profundas – numerados de 46 a 50 – e
situados a oeste dos blocos 31 a 33 na Bacia do Congo. Algumas destas áreas
serão postas a concurso internacional nos próximos anos para manter a
actividade de pesquisa necessária à manutenção do nível das reservas.
Os blocos em terra da Bacia do Kwanza serão em parte destinados às
novas empresas privadas nacionais que se queiram dedicar à pesquisa
petrolífera mas que não têm experiência e/ou capital suficiente para se
aventurarem no mar.
As descobertas que vêm sendo feitas ao longo destes últimos anos e
as que se sucederão vão dar origem ao petróleo que se irá produzir na
próxima década.

Investimentos de Desenvolvimento

Após a descoberta dum campo de petróleo e/ou de vários


relativamente próximos uns dos outros, a sua colocação em produção
engloba uma actividade que em gíria petrolífera se chama “desenvolvimento

40
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

de reservas” a qual constitui a parte mais dispendiosa da indústria de


produção de petróleo que em terra ou em águas rasas obriga a investimentos
de dezenas e/ou centenas de milhões de dólares, mas que em águas
profundas ou ultra profundas ultrapassa sempre a marca de mil milhões de
dólares, excepto raros casos quando se vai utilizar estruturas próximas já
existentes.
Angola tem em marcha quatro grandes projectos de desenvolvimento,
todos em águas profundas - PAZ FLOR e CLOV no bloco 17 outro no bloco
18 e o PSVM no bloco 31.
Apesar de serem desenvolvimentos sem inovações tecnológicas, à
excepção do PAZFLOR que terá separação submarina, os custos serão cerca do
dobro do que custaria se tivesse sido executado há cinco anos, diferença que
põe bem em evidência que em paralelo com a subida dos preços de petróleo
têm subido os custos de todo o tipo de serviços – em especial da perfuração
dos poços quer sejam de pesquisa, produção ou injecção – e equipamentos
necessários à sua produção. Em Angola, entre 2005 e 2006, os custos de
perfuração de poços de desenvolvimento em offshore aumentaram em
média 30%. Só em 2009/10 os custos de perfuração baixaram um pouco,
entre 15 a 20%.
A desvalorização cambial do dólar em relação ao Euro de mais de
30% – em finais de 2002 o dólar e o Euro tinham valor igual mas em
Dezembro de 2006 já era preciso um dólar e trinta e dois cêntimos para
adquirir um Euro e que agora em 2010 se repete – é também um dos factores
que muito pesa no aumento de preços dos projectos petrolíferos, pois a
Europa é um grande fornecedor de equipamentos e serviços para a industria
petrolífera.
Em termos de investimento de desenvolvimento o FPSO DÁLIA que
arrancou a 15 de Dezembro de 2006 e o FPSO G.PLUTONIO que iniciou a
produção em 2007 não foram muito afectados com as subidas, devendo
rondar, quando finalizados, entre os US$ 3,5/4.0 mil milhões, até porque os
principais contratos para a sua implementação foram aprovados nos anos
2003/4. O mesmo já não se poderá dizer do PAZ FLOR que apresenta toda
uma série de inovações tecnológicas, algumas das quais se vão aplicar pela
primeira vez fora da Noruega, como as bombas multifásicas para trabalhar,
se necessário, com elevada percentagem de gás associado e a
separação/injecção de água com equipamentos colocados no fundo do mar.
A maioria dos projectos em curso está baseada em navios de
produção e armazenagem, conhecidos pela sigla inglesa FPSO construídos
de raiz para o efeito- PAZFLOR e CLOV - em estaleiros da Coreia do Sul ou
adaptados de petroleiros – Ex PSVM.
O Projecto do Bloco 18 é para produzir dois campos – PLATINA e
CHUMBO – que pela distância a que se encontram não podem ser
conectados com o FPSO GRANDE PLUTÓNIO. As primeiras estimativas de
custos do FPSO PSVM para o primeiro desenvolvimento do Bloco 31

41
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

apontavam para quase US$ 8 mil milhões, o dobro do GIRASSOL ou do


DÁLIA apesar destes dois FPSO (s) terem o dobro da capacidade de
produção que é de 250.000 b/d.

Fonte:Minpet, 2010
(a)- Inclui Braspetro, Petrogal, Naftalin, Naftagas, Ajoco, Ajex, Svenska e Ranger oil (CNR); (b)– Com a
produção do GIRASSOL após Dezembro 2001 inclui também BP,STATOIL e HYDRO
Produção

Angola completou em 2006 meio século de produção de petróleo – a


primeira descoberta foi o campo de Benfica nos arredores de Luanda em
Julho de 1955 e a produção arrancou no ano seguinte – embora só se tenha
tornado auto-suficiente em ramas para a Refinaria de Luanda após a
descoberta do campo de TOBIAS em 1961 na região de Cabo Ledo a sul do
Rio Kwanza. Desde o primeiro barril produzido em Julho de 1956 e o final
de Dezembro de 2006 Angola produziu cerca de 6,1 mil milhões de barris.
O ritmo a que a produção foi crescendo foi lento nos primeiros
tempos pelo que o país só alcançou a média de 250.000 barris/dia em 1986 –
com as ramas leves e doces PALANCA do bloco 3/80 – ou seja trinta anos
após o arranque inicial.
No entanto seis anos depois já estava a produzir acima dos 500.000
b/d para ultrapassar a média dum milhão de barris dia em Agosto de 2004
com o início da produção do KIZOMBA A, no bloco 15. Agora a um ritmo
de crescimento muito mais acelerado a marca de 1.500.000 b/d foi alcançada
dois anos e meio depois, em Janeiro de 2007, com a entrada em produção do
petróleo pesado – 23º API – do DALIA, no bloco 17.
Estes últimos anos de crescimento elevado da produção invertem
também duas situações em que o país viveu durante muitos anos. Em
Janeiro de 2004 a produção das águas rasas e profundas de Cabinda passam
a constituir menos de 50% do total nacional, sendo tendência a médio prazo
que elas venham a estabilizar-se em cerca de um quarto. Em Outubro do
mesmo ano Angola passa a produzir mais nos seus blocos de águas
profundas – em especial dos blocos 15 e 17 – do que nos das águas rasas,
situação que se irá manter no futuro.

42
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Em simultâneo, embora várias ramas angolanas das águas profundas


não sejam pesadas – GIRASSOL com 32º API e o bloco 14 tem até óleo leve –
a tendência da densidade média ponderada do petróleo angolano é para
diminuir, aproximando-se dos 30º API, em linha com a densidade média
mundial, tornando-se portanto ligeiramente mais pesado do que
anteriormente, embora com teor médio de enxofre baixo.
A diversidade de grandes companhias que o país atraiu para a sua
indústria petrolífera, faz com que nenhuma das “majors” tenha hoje uma
posição dominante na sua qualidade de operadora. Em Junho de 2007, as
três maiores companhias operadoras em Angola – CHEVRON, EXXON e
TOTAL – produziam à volta de 500.000 b/d cada uma. A próxima “major”
com destaque na produção de petróleo, a par das três existentes será a BP.
Em vésperas de atingir uma produção de 100.000 b/d está a SONANGOL
P&P, que é o braço operador da companhia nacional actuando nos blocos de
águas rasas 2, 3 e 4/05.
Angola, com estas novas produções, em menos de quatro anos, quase
duplicará a sua produção e, em 2008, já tinha atingido os 1.900,.000 b/d que
se espera poder vir a manter por alguns anos, substituindo as reservas
produzidas por novas descobertas. Assinale-se, no entanto, que só com as
descobertas feitas até meados de 2007, Angola vai ter novas produções que
se vão iniciar faseadamente até 2016, nomeadamente a partir de vários
campos de águas ultra profundas, dos blocos 31 e 32, operados
respectivamente pela BP e pela TOTAL.

Comércio Internacional

Embora tenha iniciado a produção de petróleo nos anos 50 só doze


anos mais tarde, em 1968, é que Angola começou a exportar a partir da
produção do mar de Cabinda operado pela Cabgoc, na época filial da
companhia americana GULF Oil. Dez anos depois, em 1978, já depois da
independência, a SONANGOL estreou-se no mercado internacional,
primeiro usando um agente, a empresa Marc Rich, e, em 1983, iniciando as
vendas directamente aos seus clientes através do seu escritório de Londres.
Em finais de 1997 a SONANGOL criou uma filial em Houston para
acompanhar mais de perto os utilizadores americanos das suas ramas e em
Abril de 2005 abriu a filial de Singapura para servir os seus inúmeros
clientes asiáticos.

43
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Fonte: MinPet, 2010

O principal mercado das exportações angolanas, tal como dos outros


países da costa ocidental africana, produtores de ramas leves e/ou doces, foi
até há poucos anos o dos Estados Unidos. Apesar de no final dos anos 90 já
se vislumbrar a futura importância do mercado asiático – em 2000 os países
asiáticos importaram dos países do Golfo da Guiné, incluindo Angola, à
media de 1.000.000 de b/d – ela só se concretizou nos últimos anos. Em 2003,
por exemplo, dum total de 254.000 b/d de ramas Cabinda cerca de 50% foi
vendida para a Ásia e essa percentagem foi aumentando até 2006, ano em
que atingiu 68%, a maioria para a China (49%) seguida de Taiwan com
14,5%. Os Estados Unidos que foram durante 30 anos os principais
utilizadores das ramas Cabinda em 2005 já tinham descido para 72.000 b/d e
no ano seguinte para 53.000 b/d.
A análise dos dados globais mostra que em 2004 os países da Ásia
compraram cerca de metade das exportações de petróleo angolano e nos
dois anos seguintes cerca de 45% do total. Fazendo a separação pela
variedade de ramas angolanas pode dizer-se que os asiáticos, ao longo dos
três últimos anos foram os maiores compradores de ramas Cabinda, Palanca,
Kuito e Nemba (2006). Os Estados Unidos no mesmo período foram os
maiores importadores de ramas Girassol (2004), Nemba (2005) e Kissanje e
Hungo (2006).

ANGOLA-Diferencial das ramas versus Brent (US$/bbl)

RAMAS Mínimo Máximo Dif. Ponderado

CABINDA -3,25 0,45 -1,12

PALANCA -1,92 1,9 0,42

NEMBA -2,03 1,45 -0,37

44
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

KUITO -15,1 -1,51 -5,51 Organizando os


GIRASSOL -2,24 1,07 -0,6
dados apenas pelos dois
países que mais petróleo
XIKOMBA -2,65 0,5 -0,68
importam de Angola temos
HUNGO -4,95 -0,5 -1,89
os Estados Unidos em
KISSANJE -3,73 0,4 -0,98 primeiro lugar com 450.000
DÁLIA -7,6 -0,3 -2,73 b/d e 513.000 b/d e a China
GIMBOA -3,45 -0,05 -1,98 em segundo com 359.000
b/d e 482.000 b/d, nos anos
MONDO -5,4 -0,15 -1,94
de 2005 e 2006,
PLUTÔNIO -4,23 0,4 -1,5
respectivamente. Assinale-
SAXI BATUQUE -3,75 0,25 -1,21 se ainda que Angola foi o
Fonte: MinPet, 2010
principal fornecedor da
China, em 2006, ao passo
que ocupou no mesmo ano a sétima posição em relação aos Estados Unidos.
A mesma analise para 2009 dá um nível médio de exportações de
petróleo bruto para a ASIA de 900,000 b/d, quase um navio/dia, a maioria
dos quais para a CHINA, seguida da INDIA e de TAIWAN. E no primeiro
semestre de 2010 o nível das exportações, estava apenas ligeiramente mais
baixo, rondando os 850,000 b/d para o continente asiático.
Agrupando as exportações de petróleo pela seu volume/qualidade,
em termos aproximados, Angola exportou em 2009 cerca de 285.000 b/d de
ramas leves e doces – NEMBA (225k) e PALANCA – à volta de 950.000 b/d
de petróleo médio e doce – CABINDA (180k), GIRASSOL (220k), KISSANJE
(205k), PLUTONIO (157k) e MONDO & SAXI (95k/cada) e por último cerca
de 505.000 b/d de ramas pesadas – HUNGO (195k) e DALIA (240k),
GIMBOA (13.5k) e/ou acidas KUITO (57k).
Em termos de companhias exportadoras, a SONANGOL ocupa o
primeiro lugar desde 1978, vendendo, em 2009, mais de 641.000 b/d,
seguida da EXXON, TOTAL, CHEVRON e ENI.
Comparando os diferenciais médios das ramas angolanas entre os
valores obtidos em 2006 – ver Tabela Angola –Diferenciais das Ramas versus
Brent- e os valores obtidos no 3 e 4 trimestres de 2009 - Ver Tabela
ANGOLA – Preços e Dierenciais médios em 2009 – constata-se que a
diminuição das exportações de petróleo pesado da OPEP ,devido aos cortes
de produção e o aumento das exportações para a Ásia diminuíram
consideravelmente os descontos das ramas angolanas em relação ao preço
de referencia que é o Brent.

45
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Fonte: MinPet

Após Julho 2005 Angola passou também a ser um exportador de


BUTANOS e PROPANOS extraídos do campo de gás e condenados de
SANHA, no bloco 0, através do LPG-FPSO Sanha ao ritmo de cerca de 20,000
b/d. O mesmo campo produz ainda cerca de 20,000 b/d de Condensados
que são misturados com as ramas Cabinda para exportação. Antes do
arranque do complexo do Sanha a Associação de Cabinda exportava cerca
de 2.500 b/d de LPG não segregado.

Refinação e Mercado Interno

A Refinaria de Luanda, inaugurada em 1958, com capacidade para


tratar inicialmente 100.000 Toneladas/ano, foi sucessivamente aumentada
para atingir, já após a Independência, cerca de 1.700.000 T/ano. Esta
refinaria começou por processar ramas do Kwanza, mais tarde das
produções de terra e mar de Soyo e, a partir de meados dos anos 1990,
passou a ser abastecida apenas com ramas PALANCA, uma das de maior
qualidade no país, que constituem a origem dos combustíveis vendidos no
mercado interno que por insuficientes são complementados com
importações.
O mercado interno de combustíveis que cresceu de um milhão de
toneladas/ano, em 1998, para quase dois milhões/tons/ano, em 2006 e cerca
de 3,7 Mt em 2009, é tradicionalmente um importador de produtos leves –
gasolina e gasoile. Nos últimos quatro trimestres de Julho de 2006 até Junho
de 2007 o país importou, por trimestre, uma média de 200.000 tons de
gasoile e 60.000 tons de gasolina, quantidade que subiu para cerca de 1 Mt
de gasolina, 0.8 Mt de gasoile e 0.5 Mt de JET A1 em 2009. A configuração
simples da Refinaria de Luanda – hydro-skimming – produz uma apreciável

46
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

quantidade de fuel óleo de baixo teor de enxofre que é exportado a uma


média mensal de 50.000 toneladas.
Durante muitos anos e até recentemente, Angola foi também um
importador de LPG para o mercado interno porque a produção da refinaria
e de Cabinda totalizando no seu máximo cerca de 60.000 tons/ano não
chegavam para o consumo. Em 2005, com a entrada em produção do LPG-
FPSO SANHA, no bloco 0, o país passou a ser auto-suficiente apesar do
consumo do gás de cozinha ter atingido 164.600 tons/ano, em 2009, um dos
mais elevados da África subsariana.
A nível do mercado interno de combustíveis os desafios que se põem,
nos próximos anos, são o aumento da capacidade de refinação, do número
de bombas de gasolina e estacões de serviço e da armazenagem secundária,
todos insuficientes para o consumo. Modernizar e aumentar a Refinaria de
Luanda e/ou construir a nova Refinaria do Lobito são a solução para a auto-
suficiência do país em combustíveis, com a única diferença de que a
primeira opção é muito mais económica do que a construção da nova
refinaria – destinada à exportação – mesmo levando em conta a necessidade
de se melhorar substancialmente a qualidade das nossa gasolina/gasoile,
primeiro para as normas da SADC e depois para próximo das Americanas e
Europeias.
O outro grande desafio diz respeito ao aumento dos preços de venda
da gasolina/gasoile que são subsidiados e custam hoje mais de três mil
milhões de dólares/ano ao Orçamento Geral do Estado (OGE) com
tendência sempre a subir em paralelo com os preços do petróleo e o
aumento do consumo. Angola tem vendido estes últimos anos os dois
combustíveis mais consumidos a preços inferiores ao do petróleo bruto,
apesar de estar a importar uma grande parte a preços superiores.

Notas Finais

Em relação ao sector petrolífero em 2006 – ano em análise neste


relatório embora com vários complementos para se ter uma melhor
perspectiva das actividades de petróleo e gás natural do país – foram
tomadas algumas decisões importantes que terão impacto num futuro
próximo. A adesão de Angola à OPEP – efectiva desde 2007 – o arranque no
terreno do Projecto ANGOLA LNG, a decisão da SONANGOL partir
sozinha para a construção da Refinaria do Lobito , cujo Projecto entro já em
engenharia de detalhe e o inicio das actividades para se aumentar a zona

47
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

económica exclusiva para as 300 milhas náuticas. Estas decisões justificam


alguns comentários.
O ANGOLA LNG que terá o início com apenas um trem de 5 milhões
de toneladas/ano em 2012 é um dos projectos em curso mais importantes no
sector petrolífero porque constitui a única forma de rentabilizar o gás
associado à produção de petróleo. Desenvolvido pela SONANGOL (22,8%) e
a CHEVRON (36,4%), como líderes, tem associados a TOTAL, BP e a ENI,
cada com 13,6%. A ENI adquiriu da SONANGOL a antiga participação da
EXXON que à última da hora declinou participar no projecto. A empresa
americana BECTHEL é o construtor principal do ANGOLA LNG que usará
tecnologia da CONOCO PHILLIPS conhecida pelo nome de “processo
cascata” e o investimento global rondará os US$ 10 mil milhões se
englobarmos os 7 navios especiais (US$2 mil milhões) e a rede de pipelines
necessária para levar o gás dos diferentes blocos para o SOYO (US$1,5 mil
milhões).
Em Fevereiro de 2007, a SONANGOL anunciou que continuaria
sozinha com o Projecto da nova Refinaria do Lobito porque não tinha sido
possível chegar a acordo com a SINOPEC, seu parceiro no projecto, para
construir uma refinaria de elevada complexidade/flexibilidade de forma a
poder produzir o máximo possível de gasolina, gasoile e jet dentro das
especificações Americanas e Europeias e de acordo com o mercado.
Tratando-se duma refinaria destinada principalmente à exportação com
200.000 b/d de capacidade de processamento – cerca de 4 vezes mais do que
a de Luanda – as características definidas pela SONANGOL, com apoio de
consultores, são o elemento principal para a rentabilidade do projecto
mesmo sendo o tipo de refinaria que maiores investimentos requer. De
qualquer forma a SONANGOL tem a porta aberta para as companhias de
petróleo que futuramente se queiram associar ao projecto.
A extensão da Zona Económica Exclusiva para as 300 milhas
marítimas – o limite actual é de 200 milhas – possível agora ao abrigo da
Convenção dos Direitos do Mar das Nações Unidas (UNCLOS) se o país
submeter a necessária avaliação feita por entidades especializadas, tem um
interesse especial, entre outros, devido ao potencial petrolífero das nossas
águas ultra profundas e por isso Angola está a trabalhar no dossier a
cumprir perante a UNCLOS.
Estar na OPEP e ser o membro que mais incrementou a sua produção
em 2007/2008 faz Angola assumir algumas responsabilidades e uma delas é
ter de manter um bom rácio Reservas/Produção se possível melhor que o
nosso de cerca de 20 anos. É verdade que o país tem ainda uma vasta área
com potencial petrolífero para ser pesquisado mas o mais importante para
Angola é manter os cerca 2 Mb/d de produção que alcançará em 2011 pelo
maior espaço de tempo possível mesmo que venha a manter uma taxa de
descobertas elevada no futuro.

48
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC-UCAN

Em Angola – dentro do sector petrolífero – e no estrangeiro muitos


especialistas pensam que não vai ser fácil manter por muito tempo o nível de
2 Mb/d de produção, não o aumentando, se as taxas de descoberta se
mantiverem altas porque o articulado do Contrato Angolano de Partilha de
Produção está estruturado para o rápido desenvolvimento dos campos de
petróleo encontrados. Sendo o contrato o resultado de negociações entre a
SONANGOL e as companhias petrolíferas muitos observadores pensam que
pode ser encontrada uma solução negociada favorável para ambas as partes
envolvidas se houver vontade politica.

Capítulo 4

REFINAÇÃO E MERCADO INTERNO

49
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

“Mais de metade do consumo interno de


derivado foi de gasóleo, em 2009. Este
significativo peso do gasóleo já vem dos
anos anteriores e reflete a importância dos
automóveis a gasóleo no sistema de
transportes do país, e da crescente
utilização, por parte das empresas e
particulares, de motores a diesel para
autogeração de electricidade”

Emílio LONDA

Introdução

Não obstante
todas as actividades de midstream e downstream estarem abertas a
participação do sector privado desde 2000, nos termos do Decreto nº 37/00,
com excepção da actividade de refinação que só deixou de ser uma
actividade restrita ao Estado em 2009 com o Decreto nº 36/09, poucos

50
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

agentes privados têm participado nestas fazes da cadeia de valor do sector


petrolífero.

Angola-Participantes na Cadeia de Valor.

Como vemos na figura acima, nos segmentos de aprovisionamento e


de refinação temos a participação da Associação do Bloco 0 (Topping plant),
enquanto no segmento de distribuição e marketing a Sonangalp, a Pumangol
e os outros agentes privados controlam apenas uma pequena parcela do
mercado. Como consequência, a maior parte das transacções da cadeia de
valor acontece dentro do grupo Sonangol que funciona num regime de
quase monopólio.

Refinação

A Refinaria de Luanda é a maior unidade de refinação de Angola6. É


detida em 97%7 pela Sonangol Refinaria, empresa do grupo Sonangol E.P
pertencendo os restantes 3% a pequenos accionistas. Esta unidade de
refinação está equipada com tecnologia Hydroskimming8 e tem capacidade
nominal de processar 65 000 barris de petróleo por dia (b/d) 9.

6 A Refinaria de Luanda foi construída em 1956 pela companhia belga Fina, tendo sido inaugurada em 1958, então com
capacidade para tratar 2 000 barris de petróleo por dia (bppd).
7 Esta percentagem resultou da soma dos 36% que já pertenciam a Sonangol e dos 61% comprados a petrolífera francesa
Total, em Maio de 2007.
8 Uma refinaria hydroskimming é caracterizada por estar equipada com um processo de destilação atmosférica, reforma de
naptha e um necessário uso de processos de tratamento. É mais complexa que uma topping Plant que simplesmente separa
o petróleo bruto nos seus constituintes por destilação, produzindo naptha, mas não gasolina.
9
Está programado para os próximos anos o aumento da capacidade da Refinaria de Luanda para 100 000 barris por dia e a
construção de uma refinaria em Lobito (província de Benguela) com a capacidade de processar 240 000 barris por dia. Esta
refinaria que será construída sob projecto e direcção da empresa americana Kellogg Brown & Root (KBR) está orçada em 6,4
mil milhões de dólares.

51
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

A Sonangol Logística, empresa totalmente detida pela Sonangol E.P.,


é a que procede ao aprovisionamento da Refinaria de Luanda.
Em Malongo10 existe uma pequena unidade de refinação simples
(uma Topping Plant) pertencente a Associaçãoo do Bloco 0 (Associação de
Cabinda) e operada pela Cabinda Gulf Oil Company (subsidiária da Chevron),
com a capacidade nominal de processar 12 000 b/d. Esta unidade, cujos
principais produtos são o gasóleo e o Jet Fuel, foi concebida para satisfazer
as necessidades operacionais do Bloco 0 sendo o excedente “entregue” à
Sonangol Distribuidora para a comercialização na província de Cabinda. O
petróleo bruto processado nesta unidade provem do bloco 0.
Na mesma província, dentro da base de operações do Malongo, existe
um pequeno aproveitamento de gás associado que provém da produção de
petroleo, usado para produzir GPL, numa média de 150 barris por dia para o
mercado local.
Em 2005 entrou em produção uma unidade FPSO – floating,
production, storage and off-loading vessel –, o SANHA, que produz
condensados e separa o butano e o propano do gas, possibilitando assim ao
país satisfazer grande parte da procura de LPG. Embora estando
enquadrada no upstream, o Sanha tem possibilitado satisfazer grande parte
do consumo de LPG. O SANHA é igualmente operado pela Cabinda Gulf Oil
Company e está localizado nas águas rasas de Cabinda (Bloco 0).
Em 2009 a Refinaria de Luanda processou, em média, 37.172 b/d, o
que corresponde a um ligeiro aumento de 0,6% relativamente ao ano
anterior, e a manutenção de uma taxa de utilização de 57%.
O petróleo bruto processado nesta unidade de refinação provém da
actividade petrolífera interna. Em 2009, 90% do petróleo bruto processado
proveio do campo Palanca (correspondendo a um aumento de dois pontos
percentuais relativamente a 2008), e 5% do campo Canuku, ambos situados
no Bloco 3, pertencente totalmente à Sonangol. O restante proveio do campo
Kuito, situado no Bloco 14, operado pela Chevron (31% do bloco), tendo a
Sonangol uma participação de 20% do bloco11.
A Refinaria de Luanda produziu, em média diária, 35 485 barris de
produtos por dia, que, dado o volume processado corresponde a um ganho
do processo de refinação de -4,5%, e um descrescimento de 0,4%
relativamente ao ano anterior. Mais de 63% deste total correspondeu a
produção de combustiveis médios e pesados (gasóleo, fuel oil e asfalto),
devido ao estado de degradação da refinaria, bem como da tecnologia de
que é equipada12.

10 Malongo é uma base de apoio logístico às actividades dos Blocos 0 e 14 (Ver, Anexo 3) que se situa na província de
Cabinda.
11 A Galp Energia participa neste bloco com 9%, enquanto a ENI e a Total detêm, cada, 20%.
12
Devido a necessidade de manutenção da refinaria de Luanda, efectuou-se, no mês de Maio de 2010, um shot down geral.

52
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Fonte: MinPet, 2010.

Segundo o Relatório do Ministério dos Petróleos, a queda significativa


na produção de gasolina entre 2008 e 2009 deveu-se a problemas na unidade
de produção de gasolina, Platforming.
Assim, o Mix de produção está cada vez mais em desacordo com o
mix de consumo que é caracterizado por um predomínio do gasóleo e da
gasolina, e pela inexistência de consumo de fuel oil e nafta. Esse
desajustamento traduz-se em significativas perdas comerciais, dado que os
produtos exportados têm um inferior valor de mercado comparativamente
aos importados. Esta situação que tende a prolongar-se no tempo,
encontrará no arranque da Refinaria de Lobito e/ou no aumento e
modernização da Refinaria de Luanda uma grande oportunidade de
superação.

53
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Fonte: MinPet, 2010

Considerando o preço médio de exporação do petróleo angolano (à


luz do conceito de custo de oportunidade), cada barril processado na
refinaria de Luanda custou 60,62 dólares. Considerando custos de O&M de
12% e uma magem de lucro de 5%, sabe-se que, à saída da refinaria cada
barril foi vendido a 71,29 dólares.
Devido a simplicidade da sua tecnología a Topping Plant de cabinda
produz, em média, 2.000 b/d de derivados, sendo que, o resíduo é
exportado como petróleo bruto.

Logística e Distribuição

Constituem actividades de logística aquelas que garantem o


aprovisionamento de petróleo bruto à refinaria, o armazenamento de
petróleo e derivados e o transporte primário até à entrega à distribuidora.
Por sua vez, a distribuidora garante o transporte até aos postos de venda
onde efectua a venda directa aos consumidores finais, ou entrega a terceiros
que efectuam a venda aos consumidores finais.
Em conjunto com o segmento da distribuição, a logística tem uma
capacidade de armazenagem ligeiramente acima de 600 mil m3, sendo que,
47% desta capacidade é terrestre e a restante flutuante. Desta capacidade,

54
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

337 196 m3 estão alocados à Refinaria de Luanda para o armazenamento de


petróleo bruto e derivados.
O sector está a implementar o Plano Diector de Armazenagem (PDA)
que visa ampliar a capacidade de armazenagem em terra de combustíveis e
lubrificantes para fazer face à procura corrente e à necessidade de
constituição de reservas estratégicas. No entanto, a taxa de execução dos 65.
750 m3 de capacidade adicional planeados para 2009, foi apenas de 38%.
Dentro deste programa tem particular importância a construção do Parque
dos Mulenvos orçado em mais de 54,3 milhões de dólares e o Novo Parque
de Armazenamento de Lubango, orçado em 68,7 milhões de dólares.
No final do processo o incremento na eficiência vai depender dos
novos rácios de rotação das existências e os meios de abastecimento dos
tanques de armazenagem.
Considerando uma margem sobre o custo de aquisição do segmento
de logística de 30% e para o segmento de distribuição de 10% do custo de
aquisição à refinaria, e considerando ainda a margem de comercialização
definida para cada derivado (25% para o GPL, 12,5% para a gasolina e 15%
para o gasóleo), o preço final do barril de cada derivado produzido na
Refinaria de Luanda é dada pelo gráfico abaixo.

Fonte: Cálculos do CEIC.

Exportações

As exportações de derivados de petróleo em 2009 ascenderam a 8.7


milhões de barris. Entre os principais produtos exportados encontramos o
fuel-oil, a Nafta, o Butano e o Propano que, juntos, representaram 97% das
exportações de derivados. O volume de exportações caíu 4%

55
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

comparativamente ao ano anterior devido, essencialmente, ao aumento do


consumo interno de derivados (11,8%) e à diminuição da produção da
Refinaria de Luanda (-0,4%).

Fonte: MinPet, 2010.

Depois de, em 2008, o GPL, produzido no SANHA, ter aumentado de


importância nas exportações verificou-se em 2009 um recuperar da
importância do fuel oil.
O fuel-oil continua a ser o principal derivado de exportação devido ao
facto da Refinaria de Luanda apresentar baixa capacidade tecnológica para a
obtenção de derivados mais leves a partir deste. Por outro lado, a
inexistência de indústrias pesadas no país, faz com que este combustível não
seja consumido internamente. O seu baixo valor comercial representa
elevadas perdas de oportunidade para a economia angolana.
Os principais destinos de exportação de fuel-oil têm sido os EUA (82%
em 2009), a China e a Holanda (9% para cada). Os demais derivados têm
tido como destino a Coreia, o Equador, o Japão, o Brasil, a Suécia e Portugal.

Importações

O consumo doméstico de derivados, em 2009, ascendeu a cerca de 73.


545 b/d, mais 11% do valor registado em 2008. Dada a limitação existente na
capacidade de produção de produtos leves pelas unidades de refinação do
país, a procura de gasolina, de gasóleo e jet-A1 tem sido satisfeita pela via
das importações.

56
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Fonte: MinPet, 2010.

A estrutura das importações tem sofrido uma significativa alteração.


Como se vê no gráfico acima, a importância da gasolina e do Jet-A1 nas
importações tem aumentado em contrapartida da diminuição da
importância do gasóleo. O aumento da importação de gasolina deve-se a
diminuição da produção de gasolina verificada na refinaria de Luanda e da
constituição de stocks de Jet-A1.
O principal país de origem da gasolina importada de Angola foi a
Tunísia (27%), Holanda (20%), Costa de Marfin (16%) e França (10%). No
caso do gasóleo importou-se da India (52%), Togo (21%), EUA (14%) e
Nigéria (3%). O Jet A1 foi importado da Costa de Marfin (43%), Libéria
(29%), Holanda (18%) e Benin (10%).

Comercialização

Como referido atrás, o consumo doméstico de derivados, em 2009,


ascendeu a cerca de 73 545 b/d, o que representou um aumento de 11% do
valor registado em 2008.
Mais de metade do consumo interno, em 2009, de derivado foi de
gasóleo. Este significativo peso do gasóleo já vem dos anos anteriores e
reflete a importância dos automóveis a gasóleo no sistema de transportes do
país, da crescente utilização, por parte das empresas e particulares, de
motores a diesel para autogeração de electricidade.

57
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Fonte: MinPet, 2010.

Com o objectivo de incrementar a capacidade de venda de produtos


petrolíferos está a ser implementado um Plano de Desenvolvimento da Rede
de Distribuição (PDR) que consiste na construção de mais de 700 postos de
abastecimento em cinco anos, e a reabilitação de outros. Contribuirão para
esta expansão a Sonangol, a Sonangalp, a Pumangol e outras empresas que
queiram emtrar no sector.
Em 2009, a taxa de execução da construção dos 51 postos planificados
foi de 24%. Antes disso, em 2008, foram construídos 15 novos postos de
abastecimento. Depois de serem reabilitados 8 postos em 2008, dos postos
planificados para reabilitar em 2009, apenas foi executado 1.
Esses derivados foram vendidos ao consumidor final a um preço
regulado, fixo e uniforme para todo o território. Os preços em Kwanzas
apresentados na tabela abaixo vigoravam desde 2005 e a sua conversão a
dólares americanos corresponde a taxa de câmbio média de 2009 (79.29 Akz
= 1 Usd).

Preço interno de derivados sujeitos à regulação (litro)


Kwanzas Dólares
Gasolina 40.00 0.50
Gasóleo 29.00 0.36
GPL 37.00 0.46
Petróleo 26.00 0.32
Fuel leve 21.00 0.26
Fuel pesado 14.50 0.18
Asfalto 13.50 0.17

58
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Dada a diferença entre o preço regulado e o preço final, resultante da


consideração das margens de refinação, logística, distribuição e
comercialização bem como dos custos de O&M da refinação, o Governo
concede às Sonangol um volume, já significativo, de subsídios.

Fonte: Cálculos do CEIC.

Em 2008, os subsídios aos derivados atingiu um valor histórico de


cerca de 2,7 mil milhões de dólares13. Tal como o gráfico acima ilustra, o
valor dos subsídios concedidos desde 2004 ascenderam os 8,6 mil milhões de
dólares. A tomada de consciênciado do custo de oportunidade dos
subsídios, dos custos de eficiência que implicam ao sistema e dos seus
efeitos adversos sobre a distribuição de rendimentos levou o Executivo a
aprovar a Resolução 105/2009, de 19 de Novembro, referente a estratégia de
liberalização do sector dos combustíveis. Na sequência, no dia 30 de Agosto
de 2010 foi anunciado o aumento do preço “ao consumidor” da gasolina de
40 para 60 Kwanzas/litro (incremento de 50%) e o do gasóleo de 29 para 40
Kwanzas (incremento de 33%).

A liberalização do sector

Na história do sector petrolífero angolano as actividades de


downstream sempre foram significativamente intervencionadas pelo Estado,
mesmo quando não havia uma justificação económica. Esta intervenção que
consiste no controlo do preço de venda ao consumidor final, no controlo das
margem a praticar e em restrições à entrada de potenciais agentes, tem

13
Os subsídios estimados não incluem a parte correspondente aos custos com impostos, ou seja, na verdade, os subsídios
pagos pelo Governo à Sonangol Distribuidora para compensar as vendas a desconto que realiza são maiores que os aqui
apresentados.

59
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

causado ineficiências na oferta, irracionalidade no consumo e um crescente


custo de oportunidade para as finanças públicas. Assim, está em curso um
processo de liberalização do sector, cujo “conceito” ainda não está muito
claro.
Questiona-se se a liberalização será ao nível de acesso às actividades
da cadeia de valor. No entanto, como referido atrás, quase todas as
actividades da cadeia de valor estão abertas à participação do sector privado
desde o ano de 2000. É neste contexto que vemos empresas como a
Pumangol a exercer a sua actividade, ou ainda, se divulga a entrada de uma
empresa privada no sector da refinação que vai construir a sua fábrica no
Soyo.
Questiona-se se a liberalização será no sentido de liberalização do
preço ao consumidor final. No entanto, segundo a entrevista que o Ministro
dos Petróleos concedeu a revista Economia e Mercados em Setembro deste
ano, no quadro da “liberalização”, será fixado um preço máximo de venda
ao consumidor final a ser pratico em todo território nacional, sendo que, as
empresas passaram a ter a liberdade de vender os derivados a um preço
inferior (para o referido Ministro, desta forma estará garantida a
concorrencia entre as empresas). No entanto, a concorrencia por preços pode
ser questionada sempre que estes estiverem muito próximo aos custos
médios ou existirem possibilidades de conluio entre as empresas, ou ainda,
no caso de existirem economias de escala. Em qualquer um destas situações,
o modelo do preço máximo funcionará igual ao modelo do preço fixo.
A liberalização vai abrangir as margens? Se sim, estas terão um limite
máximo ou serão determinados pela concorrência? Tendo um limite
máximo, serão determinadas por uma entidade reguladora? Que critérios
vão orientar as decisões da entidade reguladora em termos dos preços e das
margens? Qual será o grau de independência da entidade reguladora? Estas
e outras questões devem ser respondidas a fim de uma participação mais
produtiva da sociedade na definição de um modelo institucional para o
sector.
Relativamente ao modelo que está a ser adoptado para eliminar os
subsídios, levantam-se questões ligadas a sua sustentabilidade, visto que a
simples alteração do preço fixado não evita que elevados subsídios
ressurjam à medida que o preço do barril no mercado internacional
aumenta, a existênciaa ou não de instrumentos que farão chegar os
excedentes dos subsídios aos grupos mais fragilizados, bem como os
mecanismos de discriminação que permitirão evitar desvios de subsídios
que serão mantidos para sector agrícola, pesqueiro e dos transportes, tal
como proposto por várias instituições, incluindo o Ministério dos Petróleos.
Por fim, importa lembrar que, tanto o facto da margem comercial
aplicada ao gasóleo ser maior que a aplicada à gasolina, como o facto do
preço do gasóleo ser significativamente inferior ao da gosolina
(diferentemente do que acontece na maior parte dos países) causa distorções

60
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

indesejáveis na disponibilidade e consumo destes dois produtos, de certa


forma, substituíveis.

Resumo

A maior unidade de refinação do país continuou a dar provas de


ineficiência, em 2009, ao reduzir o peso dos produtos leves no total da sua
produção, não obstante o aumento do peso de imputs proveniente de ramas
mais leves. Esta incapacidade de abastecer o mercado interno obrigou a
importação de mais de metade do consumo interno de derivados.
A manutenção do actual modelo de regulação do sector continua a
determinar uma distribuição ineficiênte dos derivados, bem como, a
afectação de elevadas somas monetárias em forma de subsídios a preços.
É necessário que se acelere o processo de construção das novas
unidades de refinação e que se reforme, através de um processo inclusivo, o
actual modelo de fixação de margens e preço de venda ao consumidor fina

61
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Capítulo 5

PETRÓLEO E GÁS EM ÁFRICA

“A capacidade de refinação em África


aumentou de cerca de dois milhões de
barris/dia, em 1980, para cerca de 3,3
milhões de barris/dia, em 2005; porém, a
contribuição da refinação africana no
mundo está ainda abaixo dos 4%”

Gurcan GULEN

62
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Introdução

A procura mundial de hidrocarbonetos continua a crescer a um


ritmo saudável, incentivada sobretudo pelo rápido crescimento das
economias emergentes lideradas pela China e pela Índia. Apesar de se
verificar uma variabilidade significativa de um ano para outro, o
crescimento da oferta, entre 1997 e 2007, foi mais rápido para o gás natural
(3-4%) do que para o petróleo (1-2%).
No entanto, apesar de tecnicamente existirem condições para uma
maior oferta, existem muitos factores que a restringe. A crescente
concentração das principais reservas comprovadas de petróleo bruto no
Médio Oriente e das reservas comprovadas de gás natural na Rússia e no
Médio Oriente, continua a suscitar preocupações em muitos países
importadores que querem assegurar as futuras provisões destas fontes de
energia tanto quanto possível. Em muitos países pertencentes a estas duas
regiões, a participação privada nas actividades de prospecção e
desenvolvimento de recursos de hidrocarbonetos – Upstream – é limitada,
em resultado de mecanismos fiscais que restringem os retornos para os
investidores em níveis não aceitáveis pelos mercados internacionais de
capitais. Em outros países, particularmente no Médio Oriente, a participação
do sector privado, simplesmente, não é permitida. A recente tendência de
“nacionalização” no sector, inspirada pelo Presidente Venezuelano Hugo
Chavez, está a restringir, igualmente, as oportunidades das companhias
internacionais na América Latina.
Na América do Norte (nos Estados Unidos, em particular) e na
Europa, a indústria de hidrocarbonetos está amadurecida. Na maioria dos
casos, os campos petrolíferos de maior dimensão foram descobertos há
muito tempo. Portanto, estas regiões são menos atraentes para grandes
investimentos. Além disso, em muitos países, os regulamentos ou
preocupações ambientais restringem as áreas onde se pode desenvolver a
prospecção. Por exemplo, o Congresso dos E. U. A. tem tido moratórias
desde a década 80 que impedem as companhias petrolíferas e de gás de
realizar actividades de prospecção e desenvolvimento no offshore do
Atlântico, Pacífico e na região costeira oriental do Golfo do México. Existem
também restrições nas Montanhas Rochosas e no Alasca.
Por motivos idênticos, é difícil desenvolver projectos em muitas
áreas sensíveis do planeta, tais como, nas florestas da Amazónia na América
Latina e nas áreas costeiras onde é desenvolvida actividade pesqueira,

63
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

devido aos regulamentos nacionais ou internacionais e à oposição local ou


internacional oferecida pelas comunidades e pelas organizações não-
governamentais. A oposição baseia-se numa mistura de preocupações
relativas aos impactos ambiental, social, cultural e económico dos projectos.
Os processos mais modernos de desenvolvimento de projectos podem
minimizar o impacto ambiental, mas a gestão das relações com as
comunidades e a garantia de benefícios económicos para as populações
continuam a ser um desafio14.
Num ambiente em que aumenta a procura e diminuem as
oportunidades de investimento, África emergiu como um território atraente
para investimentos na pesquisa e produção. Os membros Africanos da
OPEP, tais como Argélia, Líbia e Nigéria, são bem conhecidos pelo seu
potencial de hidrocarbonetos, porém, têm sido constrangidos por diversos
factores. Por exemplo, os investimentos na Líbia eram limitados pelas
sanções que incidiram sobre este país durante vários anos, enquanto que a
Nigéria permaneceu muito longe dos mercados mundiais relativamente aos
investimentos em gás natural. Ultimamente, esta situação tem estado a
mudar em resultado do levantamento das sanções contra a Líbia, de uma
crescente procura mundial de GNL e do desejo da Nigéria de reduzir a
queima de gás associado. O resultado tem sido a atracção de elevados e
importantes investimentos na pesquisa e produção, e na capacidade de
liquefacção de gás.
Talvez, de uma maneira mais marcante, desde os meados de 90,
outros países africanos atraíram também investimentos consideráveis. Entre
os produtores mais novos figuram a Guiné Equatorial, Chade, São Tomé e
Príncipe e Sudão. A seguir à Nigéria, a Guiné Equatorial, em 2007, e Angola,
em 2012, vão tornar-se exportadores de gás natural liquefacto (GNL).
Actualmente, África representa 15 porcento das exportações de
petróleo e mais de 35 porcento das exportações de gás natural (sobretudo
GNL) no mundo. Não obstante estes desenvolvimentos recentes, o petróleo e
gás de África continua, na sua maior parte, insuficientemente explorada,
mesmo quando consideramos apenas produtores reconhecidos, tais como,
Argélia, Líbia, Nigéria e Angola.

14
A oposição local aos grandes projectos de infra-estruturas não está limitada à indústria de
petróleo e gás a montante. As estradas, minas, centrais eléctricas, oleodutos, refinarias e
instalações semelhantes devem, todos, lidar com esta nova realidade.

64
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Por exemplo, apenas um punhado de poços de prospecção foi


perfurado na faixa marítima argelina. A maior parte dos campos de gás não-
associado na Nigéria estão por ser desenvolvidos15. Os recursos do Chade
continuaram inacessíveis até à conclusão do oleoduto Chade – Camarões em
2004. O Mali, o Níger e a República Centro Africana não foram
suficientemente prospectados para avaliar o seu potencial de recursos. Estes
países estão estagnados e os seus mercados internos são muito pequenos.
Todavia, companhias mais pequenas estão a assumir os riscos de pesquisar
os hidrocarbonetos nesses países. Qualquer descoberta significativa poderá
encorajar estes países e os investidores a acompanhar de muito perto as vias
de escoamento, tais como, o oleoduto Chade – Camarões e o Gasoduto
Transariano.
À medida que os países melhorarem os seus ambientes de
investimento, através de melhor governação e de melhores instituições, os
investimentos surgirão. Em
especial, os regimes fiscais a
Figure 1 - Share of Africa in Global Oil
montante têm que estar em
15%
concordância com as
expectativas de abundância 12%
de recursos e com a fase de 9%
desenvolvimento destes 6%
recursos. Por exemplo, não é
3%
razoável que países com
0%
pouca história de pesquisa e
desenvolvimento e dados Reserves Production
geológicos escassos, Consumption Exports
demandem taxas de retorno Refining capacity Refinery throughput
tão altas quanto as Source: EIA and BP

demandadas pelos países


detentores de um historial reconhecido como a Nigéria, Angola e Argélia. A
abordagem mais aceitável seria ajustar gradualmente os termos fiscais, à
medida que se demonstra o potencial de produção.
A indústria de petróleo e gás no continente continua virada para a
exportação, pois, os mercados locais são ainda pequenos e, sobretudo,
distorcidos pelos subsídios que conduzem à adulteração e à venda de
produtos petrolíferos no mercado negro. Na maioria dos países, as redes
internas de oleodutos, produtos de petróleo e gasodutos são mínimas, as
instalações de refinação e distribuição são obsoletas e funcionam
deficientemente. Por consequência, os países ricos em recursos não
conseguem gerar e captar todo o valor inerente aos seus recursos

15
As estimativas variam significativamente, mas diz-se que a Nigéria dispõe de 180 triliões de pés
cúbicos (Tcf) de reservas de gás natural.

65
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

petrolíferos, bem como o potencial enquanto fonte de crescimento


económico.
As infra-estruturas de gás natural são as mais limitadas. Não
existem, em muitos países, redes de distribuição de gás natural, o que limita
o acesso da maioria dos consumidores de gás. Por falta da necessidade de
aquecimento residencial na maioria dos países de África Subsariana, o
desenvolvimento de redes extensivas de distribuição apresenta-se
desnecessária, mas o gás pode ser utilizado para a produção de
electricidade, empreendimentos industriais e objectivos comerciais, se for
instalado um sistema devidamente dimensionado de condutas. O Gasoduto
da África do Oeste (WAGP) e os desenvolvimentos na Nigéria são bons
exemplos. Contudo, o Gana, o Benin e o Togo deverão iniciar a construção
de centrais eléctricas e redes de condutas a fim de maximizar o seu benefício
do gás da WAGP.
Por outro lado, a combinação de produtos refinados de baixa
qualidade e frotas de veículos obsoletas, conduzem a altas emissões de
poluição, tornando o ambiente urbano uma ameaça a saúde pública.
As secções seguintes contêm dados respeitantes às cadeias de valor
do petróleo e gás natural. Os dados indicam, similarmente, a crescente
importância de África como fornecedor de hidrocarbonetos e a relativa
insignificância dos mercados e indústrias internos.

O Petróleo bruto
Africa desempenha um importante papel no mercado petrolífero
global. O continente representa nove porcento das reservas, 12 porcento da
produção e 15 porcento das exportações. Em contraste, os países africanos
consomem um pouco acima de três porcento do petróleo mundial.
Comparativamente à sua produção de petróleo, o continente possui uma
capacidade de refinação relativamente pequena, representando apenas cerca
de quatro porcento da capacidade de refinação total do mundo. Os débitos
das refinarias são ainda muito inferiores, tornando a utilização das refinarias
africanas uma das mais baixas do mundo, porque elas operam um pouco
acima de 70 porcento, enquanto a média mundial está acima de 86 porcento.
As ineficiências operacionais e as incompatibilidades entre a lista de
produtos das refinarias e a procura nos mercados que servem constituem as
principais razões da baixa utilização de capacidade.
Uma das principais causas do desequilíbrio entre a capacidade de
produção do continente e sua baixa capacidade de refinação é o baixo nível
de desenvolvimento económico e de industrialização em África. A procura

66
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

de produtos petrolíferos é mais baixa do que na maioria das outras regiões


do mundo, pois o continente consome apenas cerca de 3,4% do petróleo
mundial (Figura 1). Metade do consumo ocorre apenas em três países,
nomeadamente, Argélia, Egipto e África do Sul. A falta de políticas de preço
sensíveis ao mercado, os subsídios e as ineficiências nas refinarias estatais
são outras razões de falta de investimento no sector a jusante (Downstream).
O contrabando, devido aos preços subsidiados, a adulteração e a
comercialização no mercado negro constituem problemas comuns em todo o
continente. Por consequência, até os grandes produtores como a Nigéria,
podem tornar-se dependentes das importações de produtos petrolíferos pelo
menos temporariamente.
A parte da África nas reservas petrolíferas mundiais era de cerca de
nove porcento em 1980 e mantem-se com base nas estimativas de reservas
comprovadas de Janeiro de 2007. (vide capítulo 2 sobre Tendências dos
Mercados Energéticos Mundiais). Todavia, esta comparação oculta a queda
para seis porcento no princípio dos anos 90 e a importância da recente
expansão de investimentos no continente. Entre Janeiro de 2003 e Janeiro de
2007, as estimativas das reservas comprovadas aumentaram de menos de 80
mil milhões de barris para mais de 110 mil milhões de barris (Figura 2). A
maior parte deste aumento foi realizada na Nigéria e Líbia que, em conjunto,
representam 68 porcento das reservas do continente. Angola e Argélia, os
dois maiores detentores de reservas de petróleo bruto seguintes
representam, respectivamente, 11 porcento e 7 porcento, respectivamente.
Embora as suas reservas sejam insignificantes no presente
momento, a Guiné Equatorial, o Chade e o Sudão conheceram descobertas
significativas nos últimos anos e oferecem possibilidades de descobertas
posteriores. Em particular, a estimativa de reservas do Sudão decuplicou
para cinco mil milhões de barris de Janeiro de 2006 a Janeiro de 2007. No
entanto, o Sudão continua a ser politicamente controverso. As sanções
internacionais, como reação às atrocidades de Darfur podem travar o
desenvolvimento acelerado do sector petrolífero do país. Em contrapartida,
o levantamento das sanções contra a Líbia renovou o interesse dos
investidores neste país rico em hidrocarbonetos. O fim da guerra civil em
Angola e a descoberta de grandes campos na Guiné Equatorial aumentaram
a atracção destes países para investimentos na pesquisa e produção.

67
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

120

100
Figure 2 - Oil Reserves in Africa Libya Nigeria Algeria
(billion barrels) Angola Other
80
Other includes: Sudan, Egypt,
60 Gabon, Congo (Brazzaville),
Chad, Equatorial Guinea,
40 Cam eroon, Tunisia, Congo
(Kinshasa), Cote D'Ivoire,
Mauritania, Ghana, South
20 Africa, Benin, Morocco and
Ethiopia.
0
80
82
84

86
88
90
92

94
96

98
00
02

04
06
19
19
19

19
19
19
19

19
19

19
20
20

20
20
Source: EIA based on Oil & Gas Journal

A crescente importância do petróleo africano no mundo tornou-se


mais evidente nos recentes aumentos de produção de petróleo de vários
países do continente (Figura 3). Ao longo dos anos 90, África representava
cerca de 10 porcento da produção mundial. Recentemente, esta contribuição
tem estado a aumentar e ultrapassou 12 porcento em 2005. Além da Nigéria,
da Argélia e da Líbia (os três maiores produtores), Angola, Sudão, Guiné
Equatorial e Chade aumentaram as suas contribuições. Entre 2000 e 2005,
Africa aumentou as suas exportações em cerca de dois milhões de barris/dia
(ou seja, 25 porcento), um aumento em que Angola contribuiu com cerca de
500.000 b/d. Angola representa cerca de 13 porcento da produção Africana.
Devido à instabilidade no Delta do Níger, parte da produção da
Nigéria foi interrompida em 2006 e esta situação persiste em 2007. As
estatísticas reveladas na Figura 3 dão conta de um declínio de 120.000 b/d
na produção média de 2005 a 2006. No princípio de 2007, as publicações da
indústria relataram que até uma produção de 300.000 b/d podia ser
encerrada. Em 2006, Angola e Líbia conseguiram mais do que compensar a
produção reduzida da Nigéria, aumentando a sua produção em cerca de
250.000 b/d. Juntamente com Angola e Líbia, outros países continuarão a
aumentar a sua produção e, assim, a cobrir qualquer queda de produção da
Nigéria durante os próximos anos.
Apesar dos problemas do Delta do Níger estarem a levantar
preocupações quanto à capacidade do maior exportador de aumentar a sua
capacidade de produção, a África do Oeste emergiu claramente como um
grande fornecedor de petróleo e GNL ao mundo. A quota da região passou,
de cerca de sete porcento em 2007, para nove porcento em 2006. Não
obstante as suas flutuações no passado, o recente parece ser possivelmente
sustentado por se basear em vários países e não na Nigéria sozinha. À

68
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

10.000
Figure 3 - Oil production (1,000 b/d) Nigeria Algeria Libya
9.000
8.000 Angola Egypt Other
7.000
Other includes: Sudan,
6.000 Equatorial Guinea, Congo
5.000 (Brazzaville), Gabon, Chad,
Tunisia, Cam eroon and
4.000
several other sm all
3.000
2.000
1.000
0
65

69

73

77

81

85

89

93

97

01

05
19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20
Source: BP Statitical Review of World Energy 2007

Nigéria juntou-se a Guiné Equatorial em 2007 nas exportações de GNL. As


exportações do GNL da Nigéria representam quase nove porcento do
comércio mundial de GNL.
A implementação de tecnologias avançadas e de projectos de
produção criativa em águas profundas do Golfo da Guiné e mais a sul em
Angola responde, em grande medida, pela emergência da região como um
grande fornecedor de hidrocarbonetos ao mundo. Estas descobertas de
hidrocarbonetos na faixa marítima motivam as companhias petrolíferas a
investirem mais. São Tomé e Príncipe já beneficiou deste aumento de
interesse. O antigo membro da OPEP, Gabão, iniciou um processo de revisão
dos seus sistemas fiscais para tirar partido desta onda de investimentos na
região. A recém-anunciada descoberta de petróleo na plataforma continental
do Gana provocou agitação no país. As potencialidades da plataforma
continental em redor de África são grandes cobrindo uma larga gama de
países, da Tanzânia e de Moçambique na costa oriental à Mauritânia, a
Marrocos e à Namíbia na costa ocidental. É certo que nem todas estas

69
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Tabela 1 – Capacidade de Refinação 1965-2004 (milhões de baris por dia)


1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
North America 11.9 14.8 18.1 22.0 18.6 19.2 18.6 19.9 20.7
South & Central America 3.6 4.8 6.9 7.4 5.8 6.0 6.2 6.5 6.8
Europe 8.7 15.9 22.1 22.7 17.1 16.4 16.2 16.4
25.0
FSU 4.5 6.1 8.4 11.4 12.3 12.3 10.3 9.0
Middle East 1.7 2.5 3.1 3.8 4.3 5.0 5.7 6.4 7.2
Africa 0.6 0.7 1.2 2.0 2.4 2.7 2.8 3.0 3.3
China 0.2 0.6 1.2 1.8 2.2 2.9 4.0 5.4 6.6
India 0.2 0.4 0.6 0.6 0.9 1.1 1.1 2.2 2.6
Other Asia 3.2 5.6 9.0 10.0 9.5 9.4 12.1 13.8 13.6
Total Refining Capacity 34.5 51.3 70.7 81.6 73.1 74.8 76.9 82.0 85.7
Total Oil Consumption 31.3 46.1 55.0 61.8 59.0 66.3 69.3 75.8 82.5
Source: BP Statistical Review of World Energy 2007.

situações se traduzirão em projectos bastante grandes, contudo, a


importância da região para os fornecimentos mundiais de hidrocarbonetos
foi confirmada quando os Estados Unidos criaram o Comando para Africa
(AFRICOM), a fim de coordenar o apoio do Governo dos Estados Unidos em
todo o continente, e começaram a ajudar os países da África do Oeste a
prevenir actos potenciais de contrabando, pirataria e terrorismo, que podem
influenciar as exportações da região.
A capacidade de refinação em Africa aumentou de cerca de dois
milhões de b/d em 1980 para cerca de 3,3 milhões de b/d em 2005; porém a
contribuição da refinação africana no mundo está ainda abaixo de quatro
porcento. Surgiu uma soberba oportunidade nos anos 90, quando os Estados
Unidos e a Europa reduziram o seu excesso de capacidade construída na
euforia dos anos 70 e o colapso da União Soviética retirou vários milhões de
barris/dia de capacidade do mercado. A Ásia, a China em particular, e o
Médio Oriente programaram as expansões das suas refinarias para os finais
dos anos 90 e os princípios de 2000, por isso, em 2005 estas duas regiões
tinham o dobro da capacidade de refinação que tinham nos anos 80 (Tabela
1). Na maioria dos casos, estas refinarias têm a capacidade de tratar ramas
mais pesadas e mais ácidas e, assim, desfrutam de altas margens de lucro.
Por outro lado, a África alberga 46 refinarias das cerca de 700 no
mundo sendo maioritariamente unidades de destilação (Tabela 2). Grande
parte desta capacidade está localizada nos países produtores do Norte de
África e na África do Sul. Excepto a Nigéria, nenhum outro grande produtor
no resto do continente investiu tanto na capacidade de refinação. As
refinarias africanas figuram entre as menos eficientes do mundo, porque a
utilização da capacidade existente baixou para menos de 70 porcento nos
anos recentes, numa altura em que a média mundial era de cerca de 86
porcento. As refinarias são administradas por companhias estatais
ineficientes, para além disso, são velhas e carecem de manutenção. O baixo
preço de venda dos produtos não proporciona incentivos para aumentar a

70
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

eficiência ou proceder à manutenção adequada das instalações. Em muitos


países mais pequenos, o desejo de possuírem as suas próprias refinarias
limita a envergadura da produção resultante e, em consequência disso, estes
países não chegam a obter os benefícios proporcionais às economias de
escala. Ao mesmo tempo, os países Africanos, sobretudo aqueles que
conheceram um grande afluxo de caixa nos últimos anos devido aos preços
de petróleo, continuam a importar veículos antigos, grandes e pouco
económicos no consumo de combustível que exercem uma pressão acrescida
sobre as infra-estruturas de refinação e distribuição existentes.

Tabela 2 – 2005 Capacidade de refinação de petróleo bruto em África (1.000 b/d)


Number of Crude Oil Catalytic Thermal
Refineries Distillation Cracking Cracking Reforming
Egypt 9 726 0 0 62
South Africa 4 490 109 61 94
Algeria 4 450 0 0 89
Nigeria 4 439 83 0 70
Libya 5 380 0 0 20
Morocco 2 155 5 0 24
Sudan 3 122 0 0 2
Kenya 1 86 0 0 8
Cote d'Ivoire 1 65 0 0 13
Ghana 1 45 14 0 65
Cameroon 1 42 0 0 7
Angola 1 39 0 0 2
Tunisia 1 34 0 0 3
Senegal 1 27 0 0 2
Zambia 1 24 0 0 5
Congo (Brazzaville) 1 21 0 0 2
Gabon 1 17 0 7 1
Liberia 1 15 0 0 2
Madagascar 1 15 0 6 2
Tanzania 1 15 0 3 3
Eritrea 1 15 0 0 1
Sierra Leone 1 10 0 0 0
Africa Total 46 3,230 210 77 478
World Total 691 82,795 14,706 6,147 11,449
Africa’s Share 6.7% 3.9% 1.4% 1.3% 4.2%
Source: EIA

Em geral, os exportadores africanos não têm seguido uma estratégia


de construção de refinarias orientadas para a exportação, ao contrário disso,
o petróleo tem sido exportado em bruto. Alguns países, como Singapura,
constituíram-se em centros de refinação, mesmo sem ter reservas
significativas ou produção de petróleo. Algumas empresas de grande
dimensão, na Índia, tais como “Reliance Industries” estão a seguir uma
política semelhante, construindo refinarias viradas apenas para as
exportações, além das outras destinadas a servir os mercados internos. Os
produtores da Africa do Norte parecem ter feito progresso na exportação de
uma parte considerável da sua riqueza petrolífera em forma de produtos de

71
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

valor acrescentado, em vez de petróleo bruto apenas (Tabela 3). Em 2006, os


produtores de petróleo da África do Norte exportaram 608.000 barris/dia de
produtos contra 2,5 milhões de barris/dia de petróleo bruto. Por outras
palavras, as exportações de produtos foram equivalentes a
aproximadamente 25 porcento das exportações de petróleo bruto. Em
contraste, os produtores da África do Oeste exportaram somente 167.000
b/d de produtos, o que é equivalente a apenas quatro porcento das
exportações de petróleo bruto que, com 4,2 milhões de barris/dia eram
significativamente superiores às da
África do Norte.
Table 3 – 2006 oil imports and exports (1,000 b/d)
Crude Product Crude Product Todavia, existe a
imports imports exports exportsoportunidade de os produtores da
North
Africa
179 169 2,462 Africa do Oeste seguirem o
608
West
58 186 4,191
exemplo da Africa do Norte,
167
Africa investindo estrategicamente na
East &
Southern 548 117 249 capacidade
17 de refinação.
Africa Considerando que a maior parte
Source: BP Statistical Review of World Energy 2007
das ramas oeste-africanas são
doces (baixo teor em enxofre) e
leves (grau API de 30 graus ou mais), estas ramas são muito apreciadas no
mercado mundial e nas refinarias. Muitas das novas refinarias estão dotadas
de “hydrocrackers” e “cockers”, que lhes permitem tratar ramas mais pesadas,
porque muitas destas ramas são vendidas no mercado mundial. As
refinarias africanas com acesso a ramas locais leves podem ter a capacidade
de extrair um valor mais alto dos seus recursos petrolíferos, exportando
mais produtos refinados ao invés de petróleo bruto. Porém, isto passaria
pela racionalização do preço de produtos nos mercados internos,
construindo refinarias de raiz modernas, modernizando as refinarias
existentes e melhorando a sua eficiência num ambiente comercialmente
viável. Por enquanto, o continente continua a ser essencialmente um
exportador de petróleo bruto, exportando mais de sete milhões de barris/dia
em 2006.

O Gás Natural
A África tem desempenhado um papel cada vez mais importante
no mercado mundial de gás natural. O continente alberga somente cerca de
oito porcento das reservas mundiais comprovadas de gás natural e a sua
produção representa uma pequena parte (5,9 porcento). Apesar disso, as
exportações de África são significativas. As exportações por gasodutos da
Argélia, da Líbia e do Egipto representam mais de oito porcento desse sector
do comércio global. Realmente, no domínio de GNL, as exportações de

72
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

África representam quase um quarto do comércio mundial de GNL (Figura


4).
Tem-se registado ultimamente um aumento de GNL no mundo,
incentivado pelo crescimento da procura nos Estados Unidos, bem como na
Europa e na Ásia.
As companhias, dispondo de recursos de gás encalhados no Golfo
da Guine (sobretudo gás associado que anteriormente era queimado),
aproveitaram este crescimento e desenvolveram instalações de liquefacção
na Nigéria, na Guiné Equatorial e em Angola. Os regulamentos da Nigéria
destinados à redução da queima providenciaram outro ímpeto ao
desenvolvimento de projectos de GNL, bem como de usos domésticos de
gás, tal como a produção de electricidade. Nesta região, uma unidade maior
de GNL entrará em produção num futuro próximo.
Figur e 4 - Shar e of Afr ic a in Globa l Gas

25%

20%

15%
10%

5%
0%

Reserves Production
Consumption Pipeline Exports
LNG Exports
Source: BP based on Cedigaz

A Chevron e a Sonangol estão a construir um complexo de


liquefacção em Angola; tal como na Nigéria, este projecto visa igualmente
monetizar o gás associado que seria antes queimado. A instalação terá uma
capacidade inicial de produzir 5 milhões de toneladas de GNL por ano.
Quanto mais a procura de gás aumente na Nigéria e nos mercados
de exportação, tanto mais provável é que naquele país se encontrem reservas
de gás comprovadas.
Por exemplo, o Gasoduto da Africa do Oeste (WAGP) levará mais
gás da Nigéria para o Benin, o Togo e o Gana.

73
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Table 4 – 2006 natural gas trade (bcm)


Algeria Egypt Libya Nigeria
Pipe LNG Pipe LNG Pipe LNG Pipe LNG
Italy 24.46 3.00 0.10 7.69
Portugal 2.10 1.97
Slovenia 0.44
Spain 8.62 2.80 4.80 0.72 7.10
Tunisia 1.30
Jordan 1.93
Belgium 3.35 0.25 0.16
France 7.35 2.30 4.23
Greece 0.45 0.04
Turkey 4.60 1.12
UK 2.00 0.96
USA 0.49 3.60 1.62
Japan 0.24 0.80 0.22
S. Korea 0.32 1.25 0.16
Taiwan 0.16 0.38
Mexico 0.16 0.54
India 0.08 0.55 0.08
Total 36.92 24.68 1.93 14.97 7.69 0.72 17.58
Source: Cedigaz as reported by the BP Statistical Review of World Energy 2007.

Os atrasos verificados na construção adiaram a data inicial de


entrega de gás para o primeiro trimestre de 2008, contrariamente à data
original de Dezembro de 2006. Isto pode ter sido um mal que veio por bem,
na medida em que os países beneficiários estão a caminhar lentamente para
finalização dos quadros reguladores que maximizarão o valor do gás,
utilizando-o para fins de produção de electricidade e industriais, em termos
mais flexíveis. A região está confrontada com sérias carências energéticas, e
os países individualmente estão a examinar muitas soluções temporárias,
tais como os pequenos geradores a diesel ou duplos e projectos de gestão da
procura. As grandes centrais eléctricas de ciclo combinado a gás
coordenadas regionalmente poderão transportar electricidade a qualquer
área da África do Oeste através da rede regional preconizada pela
Associação (Pool) Energético da África do Oeste (WAPP). Como os
mercados individuais são relativamente pequenos, particularmente em
países como Benin e Togo, estes tipos de abordagens regionais têm o
potencial de gerarem economias de escala dimensionadas, atrair
investimentos com facilidade e a custos baixos para todos.
Um grande projecto, o Gasoduto Transariano (TSGP) da Nigéria
para Argélia, está em estudo; a concretizar-se, este projecto poderá levar até
30 mil milhões de metros cúbicos para o mercado Europeu através das
conexões dos gasodutos existentes e de futuros para Espanha e para Itália.
Porém, o país já atraiu um grande investimento na capacidade de
liquefacção, deste modo, cerca de US$14 mil milhões terão sido investidos
em três projectos de GNL quando forem concluídos num futuro próximo.
Fazem parte destes projectos a expansão da Nigéria LNG (NLNG) para 22

74
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

milhões de toneladas/ano, 11 milhões de toneladas para a unidade de OK


LNG (com potencial para 33 milhões de toneladas) e o projecto Brass LNG.
A Nigéria prevê, igualmente, desenvolver o seu mercado interno de
gás natural através da produção de electricidade, usos industriais em
produtos petroquímicos, fertilizantes, aço e alumínio, entre outros. Durante
vários anos, a produção de gás associado na Nigéria era queimada por falta
de mercados interno e de exportação. Os projectos de GNL e dos gasodutos
oferecem um grande potencial de exportação, porém, actualmente os países
consideram o gás natural como sendo igualmente um motor de crescimento
económico interno. O clima tropical e a ausência de concentração urbana na
maior parte de África tornam o desenvolvimento de um mercado residencial
improvável, mas a produção de electricidade e os usos industriais são
promissores. Mas, hoje em dia, o continente representa apenas 2,6 porcento
do consumo mundial de gás natural, sendo dois terços deste representados
pela Argélia e pelo Egipto. A produção de electricidade na Côte de Ivoire,
algum uso industrial interno e a produção de electricidade na Nigéria
representam, em grande parte, o resto.
Apesar de o gás natural ter sido descoberto primeiro em
Moçambique em 1961, as operações comerciais só tiveram início em 2004 por
falta de mercado. Foi então construída uma conduta para abastecer o
complexo petroquímico e de carvão – para-líquidos da Sasol na África do
Sul. Estes empreendimentos estão a alimentar o fornecimento de gás para as
indústrias locais em Moçambique (por exemplo, fundição de alumínio). Em
2007, a empresa dos transportes públicos na cidade capital – Maputo –
introduziu autocarros a gás natural comprimido (GNC) não só para criar
mercados adicionais de gás natural doméstico, mas também para reduzir o
custo de produtos petrolíferos importados. Estes desenvolvimentos do
mercado encorajaram o incremento de actividades de prospecção, que
aumentarão provavelmente as reservas de gás de Moçambique, avaliadas
actualmente em 125 mil milhões de metros cúbicos (bcm).
A Tanzânia conseguiu, igualmente, monetizar as suas pequenas
reservas (50-60 bcm) com a produção de electricidade em 2004. Mais tarde,
cerca de 18 utilizadores industriais deixarão de utilizar os combustíveis
líquidos passando para o gás natural. A Companhia Petrolífera Tanzaniana
(Tanzania Petroleum Development Corporation) está a construir actualmente
uma rede de distribuição em Dar es Salaam para assegurar a distribuição de
gás natural a 15.000 famílias. O projecto será desenvolvido por fases e
juntamente com a passagem para o GNC no sector dos transportes.
Apesar da pequenez das suas reservas e dos mercados,
Moçambique e Tanzânia conseguiram, igualmente, desenvolver as suas
reservas de gás graças a um grande projecto âncora, tal como uma central
eléctrica ou uma unidade petroquímica. Uma vez que o desenvolvimento

75
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

inicial do campo e as primeiras linhas de transporte foram financiados na


base destes projectos, era mais fácil para as indústrias sair dos combustíveis
líquidos para o gás natural. Os elevados preços de petróleo ditaram
definitivamente a decisão de os grandes utilizadores realizarem esta
viragem. Hoje, tornou-se igualmente possível abranger os utilizadores
residenciais e comerciais e utilizar o GNC, pelo menos, no sector dos
transportes públicos. Tal abordagem pode ser repetida noutros países,
incluindo Angola.
A Argélia é, de longe, o maior exportador de gás natural em Africa
(Tabela 4). A sua proximidade dos mercados Europeus viabiliza as
exportações por gasoduto, mas a Argélia era também um dos líderes no
negócio mundial de GNL. Todavia, a produção argelina estagnou nos
últimos dez anos. Com o incremento da produção no Egipto e na Nigéria,
estes dois países vieram compensar em grande medida a estabilização da
produção na Argélia (Figura 6). O crescimento da produção na Nigéria e no
Egipto deve-se fundamentalmente às exportações de GNL.
Em 2007 apenas há um punhado de países com reservas
significativas de gás em Africa. (Ver Figura 5). Entre estes, a Nigéria e o
Egipto ampliaram significativamente as suas reservas nos últimos anos.
Outros países, incluindo Angola, Camarões, Congo (Brazzaville), Côte
D’Ivoire, Guiné Equatorial, Gabão, Moçambique, Tanzânia, Namíbia,
Ruanda e Sudão viram igualmente as suas reservas e a produção de gás
natural aumentar, embora a um nível muito inferior ao da Nigéria. Quanto a
muitos destes novos intervenientes, as estimativas de reservas são pouco
fiáveis. Por exemplo, Cedigaz, Oil & Gás Journal e World Oil avaliam as
reservas de gás de Angola em cerca de 270 bcm (9,5 tpc), 57 bcm (2 tpc) e 114
bcm (4 tpc),
180
respectivamente.
Figure 6 - Gas production (bcm)
160 Com uma enorme
140
quantidade de gás a
ser associada ao
120
petróleo e apenas
100 uma curta história de
80
prospecção, é de se
esperar pela
60 incerteza no
40 respeitante às
20
estimativas das
reservas.
0
1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002
Contudo, a
actividade
Algeria Egypt Nigeria Libya Other
petrolífera e a
Source: BP Statistical Review of World Energy 2007

76
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

produção de GNL implicam a presença de grandes reservatórios de gás no


Golfo da Guiné e em Angola. As recentes descobertas na região parecem
estar a aumentar o nível de interesse nos países vizinhos, tais como São
Tomé e Príncipe, Gana, Gabão, Camarões e Côte d’Ivoire. O
desenvolvimento de mercados de gás na África Austral está a atrair
investimento para actividades de prospecção em Moçambique, Namibia e
Tanzânia. Na África do Norte, espera-se que o Egipto acrescente mais
reservas na medida em que vários projectos de gasodutos e exportações de
GNL vão aproximando-se da realidade. Depois do recém levantamento de
sanções contra a Líbia, a crescente actividade de prospecção aumentará
ainda mais as reservas daquele país.

Gás para Líquidos


Como se viu nos exemplos da Nigéria, de Moçambique e da
Tanzânia, o desenvolvimento de mercados internos de gás natural gira em
torno dos volumes de base a serem estabelecidos por grandes utilizadores,
tais como centrais eléctricas ou instalações petroquímicas, ou ainda
indústrias capazes de utilizar o gás natural como matéria-prima, tais como
as fábricas de amónia e metanol. Uma outra abordagem é a de construir
instalações capazes de extrair produtos líquidos, como o diesel, do gás
natural através de processos químicos, tal como Fischer Tropsch, que leva os
nomes de dois cientistas Alemães que inventaram o processo em 1923. Os
alemães e os japoneses utilizaram o processo na Segunda Guerra Mundial
para produzir combustíveis para os transportes a partir do carvão
gaseificado e a África do Sul tem-no utilizado desde que as Nações Unidas
impuseram sanções contra o apartheid no que diz respeito às importações de
petróleo nos anos 60. Entretanto, a economia de gás-para-líquidos (GTL) não
era competitiva até que, recentemente, o preço do petróleo se manteve
continuamente alto e apareceram no mundo recursos de gás natural mais
baratos.
Consequentemente, grandes instalações estão a ser construídas no
Médio Oriente, na África Ocidental e Ásia – Pacífico. A produção de GTL
continua na África do Sul no complexo de Mossel Bay. A unidade tem
capacidade de 22.500 baris de produtos petrolíferos por dia. A Sasol explora
a unidade de Secunda desde 1982; a unidade gaseifica o carvão antes de
extrair os líquidos e tem uma capacidade de 150.000 b/d. A Shell construiu a
primeira unidade de GTL completamente comercial, com capacidade de
12.500 b/d em Bintulu, Malásia, em 1993. Hoje, existem cerca de 30 unidades
operacionais e maioritariamente comerciais um pouco por todo o mundo e
aproximadamente 15 projectos-piloto. Sasol e Chevron constituíram uma
empresa mista (joint-venture) para construir instalações de GTL no mundo.
Os projectos que se encontram em várias fases de construção incluem a

77
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

instalação, no lugar dos Escravos na Nigéria, uma outra instalação na


Austrália, ambas com capacidade de 33.000 b/d e uma outra ainda no Qatar.
Nos últimos anos, Qatar emergiu como capital do mundo em GTL.
Por exemplo, a ExxonMobil está a construir uma fábrica de
aproximadamente 160.000 b/d; o projecto Pearl da Shell terá uma
capacidade de 140.000 b/d; o projecto Oryx da Sasol tem uma capacidade de
35.000 b/d, mas será ampliada pela JV Sasol-Chevron. Se todos estes
projectos entrarem em produção até 2010, como previsto, a capacidade
mundial de GTL situar-se-á acima de um milhão de barris/dia. Todavia,
muitos projectos estão a ser cancelados ou adiados, incluindo grandes
projectos, tal como o complexo fabril de 180.000 b/d proposto pela
ConocoPhillips ao Qatar. A maioria dos projectos foi afectada pela subida
dos custos, causada por escassez geral de materiais, de equipamento, de
competência de engenharia, de design e de mão-de-obra qualificada nos
mercados mundiais. Historicamente, as instalações de GTL custam cerca de
$50.000 por barril de capacidade instalada, o que converte a maioria dos
projectos alistados acima em investimentos de vários mil milhões de dólares.
As companhias foram encorajadas pela experiência adquirida na indústria
de GTL, o que reduziu ambos, o capital e os custos operacionais das
instalações de GTL, estimando-se que os investimentos baixem para
US$20.000 por barril de capacidade. Esta expectativa está ainda por se
materializar, por esse motivo alguns projectos foram cancelados e outros
conheceram atrasos e excesso de custos.
Apesar disso, o GTL pode constituir uma opção significativa para
os países africanos com reservas de gás natural relativamente pequenas. As
instalações de GTL mais pequenas podem ajudar a monetizar estas reservas
e produzir diesel e outros produtos. O “diesel” obtido do processo GTL arde
de modo mais limpo porque contém naturalmente menos enxofre e outros
poluentes. Este diesel pode ser utilizado nos automóveis existentes com
pouca ou sem modificação. Assim, esta modalidade ajudará a reduzir a
saída de divisas para importar combustíveis líquidos e ajudará a diminuir a
poluição do ar urbano. E, para além do mais, essa possibilidade pode ser
uma opção melhor do que a de utilizar o gás natural como GNC, visto esta
passar pela conversão dos automóveis e pela construção de postos de
enchimento de GNC, o que depende da existência de uma rede de condutas
de distribuição. Mesmo Bangladesh, que apoiou a indústria de GNC durante
uma década, está a examinar a construção de instalações de GTL para extrair
mais valor dos seus recursos de gás natural.

78
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Capítulo 6

GEOSTRATÉGIA DO PETRÓLEO AFRICANO

“As tendências estão a mudar. (...) Só


entre 2005 e 2006, as exportações da
África Ocidental para a China
aumentaram 30%, e para outros países da
Àsia do Pacífico aumentaram 13%.
Perspectiva-se que este indicador
continue a aumentar com a cada vez
maior presença das companhias e
Governos asiáticos em África”

Gurcan GULEN

79
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Introdução

Os mercados do petróleo sempre estiveram influenciados pelas


flutuações geopolíticas. Ao longo do século XX, os países posicionaram-se de
forma a terem acesso aos recursos do petróleo em todo o mundo. Em
diferentes graus uma luta similar apresentou-se também para outros
recursos naturais tais como o cobre, o ouro, a prata, os diamantes ou ainda
mais recentemente para o gás natural. Mas o petróleo tem sido mais
importante para as economias do que a maior parte dos outros recursos.
Hoje o petróleo continua a ser o combustível crítico para tornar uma
economia móvel; a transportação por terra, pelo ar e por mar não seria
possível sem os combustíveis derivados do petróleo bruto. Neste momento,
há sérios esforços no sentido da redução da procura de gasolina e de diesel
para a transportação terrestre, através da reconversão dos motores, pelo
aumento da eficiência dos veículos (milhas por galão ou km por litro),
substituindo-o por combustíveis alternativos tais como o etanol ou o gás
comprimido (CNG) e até mesmo pela reintrodução dos veículos eléctricos.
Contudo, nenhuma destas tecnologias é completamente nova. Em variadas
escalas elas têm sido experimentadas e estão correntemente a ser utilizadas
em numerosos mercados, em todo o mundo. Nomeadamente, as suas quotas
de mercado permanecem limitadas, visto que o sistema de distribuição de
combustível não está implantado ou os consumidores estão relutantes em
mudar os seus hábitos ou uma combinação de factores quer hedonísticos
quer logísticos.
Muitos acreditam que as condições são diferentes nos dias de hoje. O
preço do petróleo tem estado próximo dos máximos históricos, em termos
reais, e não parece sofrer um declínio acentuado devido ao agravamento dos
problemas geopolíticos e à melhoria da coesão verificado dentro da
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Ao mesmo tempo,
os problemas concernentes às mudanças climáticas levaram a que muitas
autoridades nacionais, regionais e internacionais restringissem as emissões
de carbono, com impacto directo nos transportes alimentados com derivados
de petróleo. Ainda assim, levará algum tempo para que as tecnologias
alternativas tenham um impacto considerável no mercado do petróleo.
Enquanto estes debates continuam, a procura de combustíveis de
transportes persiste em crescer, especialmente nos mercados emergentes
liderados pelas populosas China e Índia. Nos países desenvolvidos existem
mais do que 500 veículos por 1000 habitantes (mais de 800 nos EUA); na
China e na Índia há menos de 25 veículos por 1000 habitantes, mas dados

80
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

recentes da venda de carros indicam uma rápida ascensão na propriedade


automóvel nestes países, assim como em muitas outras economias em
desenvolvimento. O aumento da demanda de combustíveis para transportes
é a mais importante razão para o crescimento da procura de petróleo.
Ao mesmo tempo, o excedente de capacidade de produção é muito
baixo. Por exemplo, a Arábia Saudita costumava ter uma capacidade
excedentária de produção de entre 1-2 milhões de barris/dia, os quais o
Reino podia usar para aliviar o mercado da pressão dos picos de preços. A
falta de investimentos no sector de pesquisa e produção e o aumento da
procura na última década reduziram a capacidade de produção que podia
estar disponível para tal alternativa. Além disso, há uma enorme tendência
de “nacionalização” no lado da oferta do sector do petróleo. Esta propensão
manifesta-se em variados modos e em diferentes graus em todo o mundo.
Na Venezuela e na Bolívia, os governos parecem seguir a mais tradicional
abordagem das companhias estatais e/ou o Estado nacionalizando os
investimentos privados; na Rússia, o Governo parece preferir reforçar os
gigantes nacionais tais como o Gazprom e o Rosneft ou impor regulamentos
e restrições legais às companhias privadas. O Médio Oriente tem sido um
lugar difícil para os investidores privados desde a onda de privatizações dos
anos 70; por exemplo, não há operadores privados na pesquisa e produção
na Arábia Saudita, que detém, grosso modo, 1/5 das reservas provadas de
petróleo, excepto para o gás natural.
Resumindo, o mercado global de petróleo é escasso e a concorrência
para aceder aos recursos é cada vez mais severa. Em tal ambiente, é talvez
não surpreendente que as companhias nacionais ou semi – nacionais (ou
previamente estatais) oriundas da China, Índia e Rússia estejam a tornar-se
globalmente activas na procura de reservas ou outras oportunidades de
investimento ao longo da valiosa corrente do petróleo. Para a Rússia, com os
seus próprios vastos recursos de petróleo e gás, a derivação para uma
expansão global torna-se estratégica.
Africa atrai muito investimento, daqueles relativamente novos
intervenientes internacionais, juntamente com as tradicionais grandes
companhias. Ainda que Africa ofereça relativamente um leque de zonas com
potencial mas pouco pesquisadas, as suas companhias nacionais ou
governos não embarcaram na tendência da nacionalização. Pelo contrário,
convidam os investidores internacionais com regimes fiscais relativamente
atractivos. Existem muitos aspectos que permanecem, tais como o risco
político e a inadequação do quadro institucional, que limitam o
desenvolvimento do mercado local e a expansão do investimento no
mercado de produtos, mas o investimento em pesquisa e produção em
muitos países é globalmente competitivo. Como tal, a indústria africana de
petróleo provavelmente continu ará a atrair investidores de todos os tipos e

81
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

dimensões de todo o mundo. A concorrência económica para os recursos do


petróleo será enriquecida com questões politicas, tais como o papel da China
em Darfur e a venda de armas russas na Argélia.

Exportações Africanas
Africa tem estado a aumentar as suas exportações de petróleo nos
últimos anos, especialmente a Africa Ocidental. No fim dos anos 80 e início
dos anos 90, as exportações de petróleo africano incidiram em 16-17 por
cento do total das exportações. Aquela percentagem caiu para 13 por cento
em 2002 mas agora está de novo próxima dos 16 por cento (Figura 1).
Historicamente o Norte de África tem sido o líder e o relativamente estável
fornecedor de petróleo bruto do continente. Desde o início dos anos 90,
contudo, as quotas de exportação da Africa do Norte no mercado
internacional de petróleo têm vindo regularmente a sofrer um declínio. As
exportações da África Ocidental alcançaram as da Africa do Norte em 1994
atingindo 2,6 milhões de barris/dia. As exportações da Africa Ocidental
saltaram de 3,2 milhões de barris/dia em 2000-2002 para 4,4 milhões de
barris/dia em 2005, atingindo a quota da região no mercado global do
petróleo cerca de 9 por cento. O desenvolvimento de perfurações em águas
profundas no Golfo da Guiné e adicionalmente no sul em Angola elevaram o
perfil da região no mercado mundial do petróleo.

O fim da guerra civil em Angola em 2002 originou o boom nos


investimentos no sector petrolífero. A produção em Angola aumentou
significativamente, de cerca de 700.000 barris/dia no fim dos anos 90 para
fechar em 1,5 milhões de barris/dia em 2006.Espera-se que a produção
angolana ultrapasse os 2 milhões de barris/dia brevemente. As maiores
descobertas na Guiné Equatorial, desde os finais dos anos 90, também
despertaram interesse nos países circundantes, incluindo os recém chegados,
tais como São Tomé e Príncipe e os produtores em declínio como o Gabão.
Houve um recente anúncio sobre uma descoberta de petróleo no Gana, onde
nunca antes alguma produção significativa de petróleo e de gás tinha
ocorrido. As oportunidades, ao largo da costa no Golfo da Guiné, parecem
permanecer atractivas ainda por algum tempo. Há ainda um crescente
interesse na exploração ao largo da costa na Mauritânia, Namíbia,
Moçambique e Tanzânia, entre outros.

82
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Figure 1 - Exports from Africa


20% 10%
15% 9%
10% 8%
Yr-Yr Change

5% 7%

Share in Trade
0% 6%
-5% 5%
-10% NA yr-yr 4%
WA yr-yr
-15% 3%
WA share
-20% 2%
NA share
-25% 1%
-30% 0%
80

82

84

86

88

90

92

94

96

98

00

02

04

06
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

20
Source: BP Statistical Review of World Energy 2006

Africa tem sido uma fonte estratégica de petróleo para os Estados


Unidos e a Europa durante algum tempo mas está a tornar-se também um
importante fornecedor para a região da Ásia Pacifico, principalmente a
China (Tabela 1). Historicamente o Norte de Africa expediu a maior parte
das suas exportações de petróleo maioritariamente para os Estados Unidos.
Embora o petróleo seja visível e os petroleiros possam transportá-lo para
qualquer parte do mundo, os custos em termos monetários e de tempo são
factores importantes que devem ser considerados. O transporte em
oleodutos para pequenas distâncias pode ser mais atractivo; as exportações
do Canadá para os Estados Unidos e as importações da Rússia e de outras
antigas repúblicas soviéticas para a Europa dão-nos bons exemplos.
Analogamente os exportadores Norte Africanos acharam o mercado
próximo europeu mais rentável. Também, as companhias europeias têm
estado mais presentes na Argélia, Líbia e Egipto do que as companhias não
europeias. Em contraste, as maiores companhias provenientes dos Estados
Unidos investiram mais fortemente na Africa Ocidental do que outras.

83
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Tabela 1 – 2005 Trocas Comerciais (mil barris/dia)

Para

Outra Resto
S. & C.
Ásia do
EUA Canada México América Europa Africa Australasia China Japão Pacifico Mundo Total

A partir de

EUA - 154 211 323 242 15 - 8 84 73 19 1129

Canada 2172 - 2 4 17 - - - 6 - - 2201

México 1647 34 - 135 211 2 - - - 32 4 2065

S. & C.
2868 109 44 - 309 21 - 107 2 68 - 3528
América

Europa 1100 444 50 48 - 270 - 12 6 125 94 2149

FSU 473 - 2 60 5811 10 - 398 47 72 202 7076

Médio Oriente 2345 143 10 157 3144 752 113 1360 4269 7466 63 19821

Norte de Africa 547 169 6 115 1959 83 4 64 2 109 12 3070

Africa
1943 40 - 169 696 88 4 574 60 765 18 4358
Ocidental

Oriental & Sul


- - - - 26 - - 135 80 25 - 266
Africa

14 - - - - - - 25 65 117 - 222

China 32 2 - 33 4 2 8 - 47 289 8 427

Japão - - - - 8 - 8 69 - 21 - 107

Outros Ásia
170 4 2 6 128 15 545 626 511 301 10 2318
Pacifico

Não
214 111 - 6 706 - 39 6 44 44 - 1169
Identificados*

Total
13525 1210 328 1056 13261 1258 722 3384 5225 9507 431 49906
Importações

Fonte: BP Statistical Review of World Energy 2006


* Inclui mudanças na quantidade de petróleo em movimento, movimentos não mostrados de outro modo, não
identificados usos militares etc.

As tendências estão a mudar. Os investimentos chineses em Africa


conduziram ao incremento das importações de petróleo da África Ocidental
(Nigéria e Angola principalmente) e da Africa Oriental (Sudão). Só entre
2005 e 2006, as exportações a partir da Africa Ocidental para a China
aumentaram em cerca de 170.000 b/dia, ou cerca de 30 por cento. As
exportações para outros países na região da Ásia Pacifico também
aumentaram significativamente, em cerca de 100.000 b/dia ou grosso modo
13 por cento. Estima-se que estas propensões continuem com o aumento do
envolvimento das companhias e do governo chineses.

84
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Investimento Chinês
U U
D
U D
Em 2000 as companhias
chinesas investiram somente no U U D
U
Sudão. Elas eram activas U U
principalmente na pesquisa e D DU
U
produção, mas tinham também um
pé na refinação. Hoje, as U UU U
companhias chinesas estão
envolvidas nas actividades de U
pesquisa e produção em cerca de 20 D
U
países em Africa, cobrindo todo o U
continente (ver Mapa). Eles têm
também interesses na refinação em 6
países; apenas no Egipto, a
conveniência na actividade de
refinação não está ligada ao investimento em pesquisa e produção. As
negociações continuam em muitos outros países incluindo o Senegal e o
Uganda.
O interesse da China em África não está limitado à indústria do
petróleo e do gás; é, em vez disso, uma abordagem integrada de acesso a
outros recursos minerais e ao estabelecimento de oportunidades económicas
de investimento noutros segmentos das economias africanas. O apoio do
governo chinês é forte e demonstrado através de visitas oficiais de alto nível
e o Fórum de Cooperação China – África (FOCAC) realizou-se em Pequim
em Novembro de 2006. O presidente chinês prometeu duplicar a ajuda, de
2006 até 2009, e adicionalmente providenciar US$3 biliões de empréstimos
preferenciais e US$2 biliões em créditos à exportação, e ainda o
estabelecimento de um fundo de US$5 biliões, com o fim de incentivar o
investimento em África pelas empresas chinesas. A China, prometeu
também treinar centenas de profissionais africanos e transferir as práticas e
as tecnologias agrícolas. O presidente Hu Jintao, mais tarde, fez uma tournée
por 8 países, incluindo Angola, em Fevereiro de 2007. Estima-se que, mais
do que 800 companhias provenientes da China estão activas em África,
tendo investido entre US$12 a US$13 biliões desde 1999, e que o comércio
entre Africa e a China representa US$55 biliões.
Contudo, há já reacções na forma como os chineses estão a investir em
África. Muitos países estão preocupados pelo uso de mão-de-obra chinesa
nos projectos de construção de infra-estruturas, em vez da criação local de
emprego. O uso de equipamento e de suprimentos chineses também foi alvo
de preocupação; algumas vezes os componentes chineses são incompatíveis
com o sistema existente (por exemplo, transformadores e outros para a

85
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

transmissão e distribuição de electricidade) ou de baixa qualidade (por


exemplo, não compatíveis com ISO standards). Nas indústrias extractivas,
tais como as de minas e as de petróleo, as companhias chinesas são acusadas
de ultrapassar restrições internacionais na corrupção e em emergentes
padrões sociais e de impacto ambiental. A maior parte das companhias
ocidentais estão neste momento sendo monitorizadas por ONGs e pelos seus
próprios governos; O Banco Mundial não aceita projectos que não obedeçam
aos seus próprios parâmetros relativos a estas questões. Há um crescendo na
pressão sobre a China, no sentido de usar a sua influência no Sudão de
forma a parar as atrocidades em Darfur.
A União Africana está neste momento a desenvolver uma estratégia
de engajamento da China e de outras economias emergentes tais como a
Índia, o Brasil e a Turquia, que têm estado cada vez mais a olhar para Africa,
para encontrar novos mercados e oportunidades de investimento. A União
Africana acredita que uma acção coordenada pelos países membros nas
relações com a China e outros investidores poderia ajudar a desenvolver as
melhores práticas pelos investidores, no que diz respeito à transferência de
tecnologia, ao emprego da mão de obra local, à expansão dos negócios
nacionais e à defesa das comunidades locais e do ambiente. A União
Africana desempenhará este papel de coordenação através dos
procedimentos FOCAC, esperando aumentar o poder negocial do continente
para tratar com tantos e ao mesmo tempo novos intervenientes, tais como a
China. Um dos mais importantes objectivos parece ser o do aperfeiçoamento
do valor acrescentado ligado às indústrias em vez da simples exportação de
recursos naturais extraídos pelas companhias chinesas ou outras (ver
capítulo intitulado Petróleo e Gás em África relativo à discussão de como a
indústria de refinação pode acrescentar valor aos recursos do petróleo do
continente).

Estratégias Futuras
No seu World Energy Outlook 2006 (WEO), a Agência Internacional
de Energia (AIE) prevê que a maior parte do incremento na procura será
atingido através do aumento da produção pelos países da OPEP,
especialmente aqueles do Médio Oriente. Baseia-se isto na assumpção do
facto de que estes países e a OPEP estarão com vontade de expandir a sua
produção, e também eles mesmos investir em novas explorações e projectos
de desenvolvimento ou convidar novas companhias. Desde que estes países
deram largamente prova das suas reservas e de alguns dos mais baixos
custos de produção, é natural que os investidores persigam estas
oportunidades em mercados competitivos sem riscos políticos. Mas, o
mercado do petróleo não é nem competitivo nem sem riscos políticos. Em
anos recentes o Médio Oriente tornou-se ainda mais arriscado com a guerra

86
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

no Iraque, com o afastamento do Irão devido ao seu projecto nuclear e o


risco terrorista na infra-estrutura petrolífera saudita.
Não obstante, é necessário examinar o cenário de referência no WEO
2006. A AIE espera que a procura de petróleo16 cresça para 99 milhões de
barris/dia em 2015 e para 116 milhões de barris/dia em 2030, de 84 milhões
de barris/dia em 2005. Mais do que 70% deste aumento virá de países em
desenvolvimento, cujo consumo se espera cresça mediamente 2,5 por cento
por ano contra um crescimento do consumo de 0,6 por cento nos países da
OCDE (Organização para a Cooperação Económica e o Desenvolvimento). O
sector dos transportes contará em cerca de 63% no aumento da procura. No
seu International Energy Outlook 2007, a Energy Information
Administration (EIA) espera quase as mesmas tendências. Por volta de 2030
a procura de petróleo é esperada ultrapassar 117 milhões de barris/dia, com
77% do crescimento a ocorrer nos países não OCDE17 e ocorrendo dois terços
do crescimento no sector dos transportes.
Do lado do abastecimento, ambos IEA e AIE esperam aumentar a
concentração de um pequeno número de fornecedores, primeiramente
dentro da OPEP. A quota de produção da OPEP no fornecimento global é
esperada aumentar de 40 por cento em 2005 para 48 por cento em 2030 (o
mesmo para ambas AIE e IEA). Os fornecimentos chegam sobretudo de
fontes de petróleo convencionais mas as não-convencionais tais como as
areias betuminosas também desempenham um papel, fornecendo cerca de
8% do petróleo mundial em 2030. O comércio inter-regional aumentará de 40
milhões de barris/dia em 2005 para 63 milhões de barris/dia em 2030, com
os exportadores do Médio Oriente responsáveis pelo maior incremento nas
exportações, de 20 milhões de barris/dia (50%) para 35 milhões barris/dia
(56%).

5
As previsões incluem líquidos tais como gás natural liquido, líquidos a partir do gás e/ou do carvão.
Os produtos petrolíferos contam numa percentagem muito grande.
17
Diferentemente da EIA, a AIE trata os países em transição (Rússia e outras antigas economias
soviéticas) e países em desenvolvimento juntos como não – OCDE. Quando somados os dados do
IEA para os países em desenvolvimento e em transição dão o mesmo resultado que os da EIA.

87
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Os fornecimentos
africanos aumentarão de 8,8 Figura 2- Investimentos por Sector
milhões de barris/dia em 2005
para 11,6 milhões de barris/dia
em 2030, sobretudo a partir da
14%
África subsariana. Mas em 16%
4% 7%
termos de quotas de África no 15% 12%
fornecimento global, estes
números traduzem-se num
65% 67%
decréscimo de 10,5 por cento
para um pouco menos do que
10%.A produção dos países
2001-05 2006-10
africanos não-OPEP aumenta
de 3,5 milhões de barris/dia E&D Outros Fonte: WEO 2006, IEA
LNG Refinação
em 2005 para 5 milhões de
barris/dia; Os membros da
OPEP (Argélia, Líbia e Nigéria) aumentaram a sua produção de 5,3 milhões
de barris/dia para 6,6 milhões de barris/dia (actualmente espera-se que a
produção da Argélia diminua). Na estimativa da IEA, Angola e o Congo são
os únicos países com uma expansão significativa da produção nos países
não-OPEP. Agora que Angola se tornou um país membro da OPEP, a maior
parte do incremento no fornecimento de petróleo em África virá dos
membros da OPEP.
Tabela 2 – Produção dos Países A Agência Internacional de Energia é
mais agressiva nos países africanos membros
Africanos da OPEP
da OPEP esperando que a sua produção
(milhões barris/dia)
atinja os 14 milhões de barris/dia até 2030
IEA AIE (Tabela 2). A diferença é especialmente
Argélia 0.7 3.1 notável para a Argélia e a Nigéria. O IEA
Líbia
não fornece uma estimativa para Angola no
2.7 1.9
WEO 2006 mas estima que o resto da África
Nigéria 3.2 5.2
Subsariana contribua com 4,3 milhões de
Angola 2.0-4.0 4.0 barris de petróleo/dia em 2030; dado que o
TOTAL 8.6-10.6 14.2 Congo, o Chade e o Sudão parecem também
aumentar a sua produção, a Agência
Internacional de Energia talvez não assuma que Angola produza 4 milhões
de barris/dia. Considerando um intervalo de produção entre 2 a 4 milhões
de barris/dia para Angola na Tabela 2, podemos verificar que a AIE espera
mais 3,6 a 5,6 milhões barris/dia de produção dos países membros da OPEP
em 2030 do que a IEA.A discrepância de expectativas entre o IEA e a AIE, no
respeitante à capacidade de produção para os países africanos,
provavelmente reflecte diferenças na avaliação das incertezas associadas à
imaturidade dos recursos de base ou das condições politicas (incluindo os

88
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

regimes fiscais) ou ambos, nestes pais.18 A líbia tem 39 biliões de barris de


reservas provadas, comparáveis com 36 biliões de barris na Nigéria e 12
biliões de barris na Argélia. Ainda, a AIE espera que a produção da Líbia
permaneça razoavelmente constante. Embora as sanções à Líbia tenham sido
levantadas, a AIE não se apresenta tão confiante quanto a IEA que o país seja
capaz de atrair o nível de investimento para incrementar a sua capacidade
de produção. As expectativas das duas Agências parecem ser contrárias em
relação à Argélia.

Desafios de Investimento

Os fornecimentos adicionais, discutidos acima, não estarão


disponíveis a não ser que montantes significativos de investimento tenham
lugar. Apesar do recente interesse em África, o futuro fluxo de
investimentos no sector petrolífero do continente não pode ser garantido. A
economia mundial e a economia do petróleo estão ambas sujeitas a choques
inesperados, que podem ser geopolíticos assim como tecnológicos. A
diminuição de reservas em muitos campos existentes é significativa; não
apenas estes campos necessitam de maior nível de recuperação secundária
mas também novos recursos têm de ser desenvolvidos. A IEA estima que
US$ 4.3 triliões (US$ 164 biliões por ano) em termos reais (US$2005) serão
necessários para a pesquisa e produção para manter a produção nos campos
existentes e explorar e desenvolver novos recursos. Esta estimativa assume
que o investimento terá lugar em áreas onde os custos de desenvolvimento
serão baixos, tais como as do Médio Oriente. De nenhuma maneira este fluxo
pode ser garantido dado que, em anos recentes, a média do sector foi de
cerca de 100 biliões por ano, ao longo de toda a cadeia de valor do petróleo.
Em anos recentes, os custos aumentaram devido à escassez de material,
equipamento e de pessoal qualificado, mas ainda que juntando a isto o custo
de inflação, será um desafio atingir US$64 biliões adicionais por ano e
sustentá-los nos anos que virão. Levará algum tempo para fazer
ajustamentos nos factores de mercado, para haver um impacto. Entretanto, o
investimento será mais caro e o preço do petróleo terá que se manter alto
para justificar estes investimentos.

18
Estas incertezas são capturadas em vários cenários desenvolvidos por ambos AIE e IEA.

89
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Baseado numa
pesquisa aos projectos de Figura 3 - Investimentos em Novos
Campos de Petróleo e de Gás 2006-
investimento de curto prazo
2010
das companhias (em curso e
planeados), o IEA calcula
US$2.1 triliões a serem

pa na co sia te ca ca ão
ro ati cifi A rien eri Afri siç
investidos entre 2006 e 2010

n
ra
comparados com os US$1,4

.T
Ec
triliões que foram investidos

O m
o A
entre 2001 e 2005 (Figura 2).

di N.
M DE
O mais alto valor futuro
C
é
O
reflecte incrementos em
Eu L a
E ca P
D ri E
custos de material,
C e D
O Am OC
0 10 20 30 40 50 60 70
equipamento e pessoal e
possivelmente atrasos
associados com a diminuição
destes factores de produção. Fonte: WEO 2006, IEA
Estes números cobrem as Aprovado Planeado

cadeias de valor quer do


petróleo quer do gás natural. Dois terços do investimento irão acontecer na
pesquisa e produção, traduzidos numa média de US$ 280 biliões por ano
entre 2006 e 2010 para o petróleo e desenvolvimento e exploração natural
(E&D). O custo da inflação entre 2000 e 2005 está estimado em 65 %.
Ajustando o valor da pesquisa e produção para esta inflação, podemos obter
uma estimativa de investimento nestas duas actividades em termos reais:
US$171Biliões. Isto é apenas US$164 biliões acima do requerido para
pesquisa e produção de petróleo. Dado que a pesquisa e produção de gás
natural está a atrair muito investimento para fornecer o mercado de gás
natural liquefeito (LNG), o investimento em pesquisa e produção de
petróleo não é tão significativo na carteira de investimento do curto prazo
das companhias quanto a solicitação de crescimento da procura necessitaria.
De acordo com a IEA, Africa estará recebendo uma porção expressiva de
investimento em pesquisa e produção em 2010. Cerca de US$25 biliões estão
já sendo investidos e outros US$10-15 biliões estão planeados. As economias
em transição à volta do Mar Cáspio e da Rússia atrairão a maior parte dos
novos investimentos para novos campos de petróleo. Ainda que o Médio
Oriente deva receber apenas cerca de US$20 biliões, o baixo custo de
desenvolvimento na região permite que uma significativa percentagem do
incremento da produção se realize nesta região. Investimentos na OCDE-
América do Norte cobrem principalmente as areias betuminosas do Canadá
e o petróleo das águas profundas do Golfo do México.

90
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

A Importância Estratégica do Petróleo Africano

Africa irá jogar um papel estratégico no mercado mundial de


petróleo, pelo menos no futuro próximo. Embora as quotas de produção de
petróleo em África não sejam muito grandes, o continente está a atrair
muitos dos actuais fluxos de investimento (Figura 3) e daí providenciando
aumentos nos barris de que o mundo necessita (Figura 1). A maior parte dos
investimentos ocorreram ao largo da costa na África Ocidental. O
investimento continuará a fluir enquanto os projectos em águas profundas
se mantiverem atractivos. Os países africanos oferecem acessos aos
hidrocarbonetos, diferentemente da Arábia Saudita ou do México, e
providenciam condições fiscais que permitem às companhias internacionais
realizar uma taxa média de retorno de 15% dos seus investimentos. O
número de companhias internacionais, com recursos financeiros, que podem
lidar com riscos tecnológicos de projectos em águas profundas é limitado. À
medida que os países hóspedes continuam a oferecer acesso e condições
fiscais competitivas, estas companhias devem continuar a investir nestes
grandes projectos.
A concorrência a partir das companhias chinesas e outras não deve ter
impacto nestes programas, uma vez que lhes falta sobretudo tecnologia e
experiência para investir em projectos em águas profundas. A China é
conduzida pelo desejo de assegurar fornecimentos de matérias-primas para
sustentar o crescimento da sua economia. As companhias chinesas são
activas através do continente em projectos de várias dimensões. Elas podem,
de facto, ajudar no desenvolvimento de pequenas reservas, que de outro
modo, não seriam atractivas para outras companhias.
Contudo, existe um risco significativo. Se o governo anfitrião falhar
no investimento dos seus rendimentos do petróleo nas suas economias, de
forma a prover serviços básicos, tais como saúde e educação e na
diversificação dos sectores económicos, a sociedade no seu todo pode não
sentir os benefícios deste recurso nacional. Os benefícios para as
comunidades locais devem ser justos e tangíveis, incluindo a protecção
ambiental. De outro modo, mais cedo ou mais tarde, os problemas do Delta
do Níger serão repetidos noutro lado. Já as tentativas de golpe de estado na
Guiné Equatorial e o uso pelo Governo do Chade dos rendimentos do
petróleo em desrespeito das restrições no quadro do oleoduto Chade –
Camarões levantou preocupações de que, mais uma vez, os benefícios da
extracção deste valioso recurso serão mal dirigidos. Há agora maiores
esforços na Nigéria para construir infra-estruturas de gás natural e de
electricidade, de forma a arrancar a actividade económica com baixo – custo
e energia fiável. Mas é difícil fixar um sistema que tem sido sequestrado pela
corrupção durante muito tempo. Os países que estão justamente

91
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

acumulando os rendimentos do petróleo podem evitar estas dificuldades


sendo transparentes na gestão dos rendimentos do petróleo.

92
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Capítulo 7

O PREÇO DO PETRÓLEO...E O PETRÓLEO!

“(...) No final de 2008 o preço do Brent


atingiu quase 150 usd/barril. Gastaram-se
rios de tinta para tentar explicar as razões
deste aumento.Falou-se na ameaça chinesa
e indiana, da queda das reservas de petróleo
no mundo, de cenários geopolíticos, ....
Ignorou-se, porém, uma simples verdade
crua e dramática: o valor de 150
dólares/barril que, em Junho, foi utilizada
para negociar a mercadoria chamada
petróleo, não nasce do mercado desta
mercadoria, não é o resultado da
combinação entre procura e oferta deste
produto mercantil. É portanto inútil tentar
explicar a sua dinâmica utilizabdo modelos
relacionados ao mercado dos consumos e
das produções energéticas ”

Salvatore CAROLLO

93
Introdução

Já há anos assistimos a uma tendência do preço do petróleo que abalou


todos os modelos de análise clássica. Frente a uma oferta constantemente
superior à procura, vimos o preço do petróleo subir com continuidade.
Analistas e economistas exercitaram-se para dar fantasiosas explicações de
um fenómeno aparentemente inexplicável. No geral foram mencionados
acidentes (tufões na América), tensões no Médio Oriente (tempero universal do
mercado petrolífero) e principalmente o aparecimento da ameaça
chinesa/indiana (o inimigo longínquo), que estaria a devorar cotas crescentes do
petróleo disponível.
Nestas análises falta totalmente a identificação das causas reais, muito
próximas a nós, que estão na base de tudo.
A primeira é a falta de uma política energética que, a partir da crise de
Chernobil, tivesse sido capaz de conjugar o crescimento da procura energética
com a nova sensibilidade ambiental. A evolução das normas ambientais das
últimas décadas criou severos (mas imprescindíveis) vínculos para a indústria
energética, e para a petrolífera em particular, mas sem incentivar os sujeitos
interessados a realizar os investimentos necessários para dispor de energias e
produtos “limpos”.
O resultado destes processos divergentes foi a diminuição de
disponibilidade de produtos acabados “comercializáveis” nos países
industrializados do Ocidente. Vieram a faltar nos mercados gasolinas e gasóleos
“limpos”. Citando os grandes números, nos Estados Unidos vieram a faltar
aproximadamente 50 milhões de toneladas/ano de gasolinas e na Europa
aproximadamente 40 milhões/ano de gasóleo.
Para cobrir estes “buracos” foram activados processos de importação de
outras áreas geográficas, “arrebatando” obviamente aqueles produtos dos
consumidores locais, ou impondo a eles aqueles preços crescentes que os
consumidores dos países “fortes” podiam pagar para açambarcar os produtos
em falta.
Basta dar uma olhada aos jornais para ver as limitações impostas aos
automobilistas dos países do Médio Oriente (Irão, Egipto etc.), ou da inteira
África Ocidental.
O défice destes produtos acabados de alta qualidade foi o suporte da alta
dos preços do petróleo, principalmente das qualidades mais leves como aqueles
do Mar do Norte. Algo de semelhante ao que ocorreria se, por alguma estranha
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

razão, fosse introduzida uma norma que só permitisse a comercialização de


peças de carne bovina de maior valor (lombo, acém, pojadouro): o preço destas
carnes subiria, mas subiria também o preço da vaca.
Obviamente a pergunta é: qual é o nível de preço que deveria ter atingido
o preço do petróleo se tivesse sido pressionado exclusivamente pelos
desequilíbrios da procura e da oferta de gasolina e gasóleo?
A resposta, teoricamente difícil, é na prática muito simples. Visto que o
fenómeno repetiu-se de forma constante nos últimos anos, o preço deveria situar-
se abaixo do limiar dos 80 $/b, com oscilações sazonais em baixa até 40/50 $/b.
De onde vêm, então, os preços do verão passado de quase 150 $/b? E
porque os gabinetes de estudo das maiores instituições financeiras mundiais
anunciavam, no final da primavera, aumentos até 250 $/b?
É preciso penetrar em profundidade na sequência das crises financeiras
dos últimos meses para encontrar modelos de interpretação capazes de nos
fornecer respostas aceitáveis.
O preço do petróleo, a nível mundial, não está mais ancorado ao valor de
um petróleo bruto físico desde Dezembro de 1988, quando a Arábia Saudita
resolveu não fixar mais autonomamente o preço do seu petróleo bruto Arabian
Light, mas de indexá-lo ao valor do chamado Brent.
Quando se fala de “preço do petróleo” a referência é a cotação do Brent. O
Brent é um petróleo bruto produzido no Mar do Norte considerado o benchmark
(referência do mercado) para os petróleos brutos de proveniência europeia e
africana: a referência, ao em vez, no continente americano é o West Texas
Intermediate (WTI) e o Dubai e/ou Tapis no Extremo Oriente.
Aquilo que chamamos Brent é associado, na linguagem comum dos
artigos de imprensa, a um tipo de petróleo bruto produzido no Mar do Norte. Ao
se falar do preço do Brent, portanto, é comum pensar que aquele seja o preço de
um barril daquele tipo de petróleo bruto.
A realidade é absolutamente outra.
O Brent é um contrato da bolsa petrolífera (I.C.E. = Intercontinental
Commodities Exchange) que pode ser adquirido ou vendido por qualquer um
através de um intermediário financeiro, como qualquer outro título na bolsa.
Este mercado financeiro específico compartilha com o mercado petrolífero,
afora o nome ambíguo do Brent, o facto histórico de ter nascido como suporte
para as actividades de trading das companhias petrolíferas. O Brent era utilizado
para efectuar as operações de cobertura do risco contra as oscilações dos preços
do petróleo.
A partir do início dos anos 2000 o mercado dos Futures do petróleo
afastou-se quase totalmente da sua natureza originária, tornando-se um mercado
com vocação puramente financeira. Todos os analistas que tentaram explicar o
movimento do preço do petróleo bruto na base da evolução da relação entre

95
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

procura e oferta física de petróleo falharam, simplesmente porque o vínculo


entre mercado financeiro e mercado petrolífero se tornou cada vez mais instável.
O Brent (de papel, financeiro) já é comprado simplesmente como uma
acção de investimento ou de especulação financeira, para proteger capitais,
abrigando-os num porto seguro por um determinado período, e deste modo
impulsiona a onda especulativa, que altera um mercado que, do contrário, seria
estável.
Para melhor compreender a dimensão do fenómeno, creio que seja
oportuno dar uma olhada aos números deste negócio, praticamente
desconhecido aos que se queixam do preço da gasolina.
Durante o ano 2008, contra uma produção mundial de petróleo de 87
milhões de barris por dia, foram comercializados cerca de 20 milhões de
barris/dia.
O resto, cerca de 67 milhões de barris/dia, não é comercializado nos
mercados internacionais, porque é consumido directamente nos países
produtores.
Se tomarmos como referência uma avaliação feita em meados de Setembro
de 2008, podemos calcular facilmente que o valor da massa monetária
movimentada pelas aquisições e vendas de petróleo físico comercializado foi por
volta dos 423 bilhões de dólares.
Se todo o petróleo produzido (87 milhões de b/d) tivesse sido
movimentado, a massa monetária em jogo teria sido, no mesmo lapso de Janeiro
a Setembro, de aproximadamente 1.691 bilhões de dólares.
O jogo da procura e da oferta de petróleo a nível mundial situa-se dentro
destes valores.
Se examinarmos o que foi negociado nos mercados das bolsas teremos um
quadro completamente diferente, com valores imensamente mais elevados.
Durante o ano 2008, sempre até meados de Setembro, no mercado dos
futures (Nymex e ICE) foram negociados cerca de 15 mil bilhões de dólares, ou
seja 35 vezes mais que as quantidades físicas efectivamente negociadas nos
mercados, e cerca de 10 vezes mais que a inteira produção mundial de petróleo.

(dados inerentes ao período Janeiro – Setembro de 2008):


Transacções de petróleo
Petróleo físico
Transacções de petróleo físico equivalente no mercado dos
produzido
futures
Volumes (bilhões de barris) 21 5 129
Valor monetário (bilhões de
1.691 423 14.963
$)

96
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Nos gráficos anexados, é possível observar um andamento de negociação


que supera os 100 bilhões de dólares/dia; ou seja, como se no mercado
petrolífero tivessem sido produzidos e negociados cerca de 900 milhões de barris
por dia de petróleo, e não os 20 milhões efectivamente comercializados ou os 87
milhões produzidos.
Estes 900 milhões de barris por dia, no papel, que nada tem a ver com o
mercado petrolífero e com a procura e a oferta de petróleo para consumos
energéticos, o que são, e que influência têm no sistema dos preços dos produtos
petrolíferos?
Teoricamente o mercado dos futures do Brent havia sido criado para dar
estabilidade aos preços do petróleo após as grandes crises petrolíferas dos anos
’70 e ’80. O valor diário do Brent deveria ter permitido maior transparência das
transacções e, portanto, uma estabilização de breve/médio período dos preços.
De facto nos primeiros anos foi assim.

Transacções diárias dos futures Nymex+ICE


Vs Vendas físicas de petróleo bruto (em BILHÕES de $)
200
Transacções diárias ICE+Nymex [eixo esquerda]
Vendas físicas de petróleo bruto [eixo esquerda]
180
200 ICE Brent, preço 1 posição em $/bbl [eixo direita]

160
BILHÕES de $

150
140

$/bbl
100 120

100
50
80

0 60
Jan/08 Feb/08 Mar/08 Apr/08 May/08 Jun/08 Jul/08 Aug/08 Sep/08
A transacção diária em $ é dada pelos preços diários dos futures multiplicados pelo
número de transacções de cada título efectuadas naquele dia.

97
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Transacções diárias dos futures (Nymex+ICE)


Vs Vendas físicas de petróleo bruto
(CUMULATIVO 2008)
18.000

16.000 Transacções diárias ICE+Nymex -


CUMULATIVO 2008
14.000
Vendas físicas de petróleo bruto -
12.000 CUMULATIVO 2008
BILHÕES de $

10.000

8.000

6.000

4.000

2.000

0
Jan/08 Feb/08 Mar/08 Apr/08 May/08 Jun/08 Jul/08 Aug/08 Sep/08
A transacção diária em $ é dada pelos preços diários dos futures multiplicados pelo
número de transacções de cada título efectuadas naquele dia

Os volumes de petróleo negociados no mercado dos futures não


ultrapassavam nunca aqueles físicos produzidos e comercializados. O que
significa que neste mercado operavam as companhias petrolíferas para
“estabilizar” o preço dos seus petróleos brutos através de operações de hedging
(protecção contra riscos de operações).
Hoje temos 900 milhões de barris de petróleo equivalente que intervindo
num mercado que, não se entende porque, continuamos a chamar “petrolífero”,
determinam a verdadeira dinâmica que move o título do Brent que continuamos
a chamar, sem razão, preço do petróleo.
Vejamos um exemplo ainda mais concreto: no final de Junho de 2008 o
preço do Brent atingiu quase 150 dólares/barril. Gastaram-se rios de tinta para
tentar explicar as razões deste aumento. Falou-se da ameaça chinesa e indiana,
da queda das reservas de petróleo no mundo, de cenários geopolíticos e muitos
outros lugares comuns. Ignorou-se, porém, uma simples verdade crua e
dramática: o valor de 150 dólares/barril, que em Junho foi utilizada para
negociar a mercadoria chamada petróleo, não nasce do mercado desta
mercadoria, não é o resultado da combinação entre procura e oferta deste
produto mercantil. É portanto inútil tentar explicar a sua dinâmica utilizando
modelos relacionados ao mercado dos consumos e das produções energética

98
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Transacções dos futures Nymex+ICE


Vs Vendas físicas de petróleo bruto (2008)
20.000 160

18.000
140
16.000
120
MILHÕES de BARRIS

14.000
100
12.000

$/bbl
10.000 80

8.000
60
6.000
40
4.000
20
2.000

0 0
Jan/08 Feb/08 Mar/08 Apr/08 May/08 Jun/08 Jul/08 Aug/08
Transacções ICE + Nymex (bbl) Produção mundial de petróleo bruto
Vendas físicas de petróleo bruto Brent ICE future (eixo direita)

Durante todo o mês de Junho no mercado petrolífero (aquele verdadeiro,


o do petróleo que suja as mãos) foram negociados cerca de 700 milhões de barris
de petróleo bruto. No mesmo período no mercado de papel do Brent foram
negociados até 20 bilhões de barris equivalentes.
É evidente até demais que esta massa de volumes de papel movida no
mercado determinou a direcção e o nível do preço. A realidade física tornou-se
uma percentagem insignificante de um todo sobre o qual não tem nenhuma
influência.
Quem move então estas massas monetárias no mercado do Brent e
porque?
São os próprios bancos e instituições financeiras envolvidas nos
escândalos dos últimos meses que, em função das evoluções da crise,
“esconderam” trilhões de dólares no “mercado do Brent”, para depois sacá-los
quando necessário para constituir a caixa ou para enfrentar a crise emergente.
Tudo isso num contexto absolutamente incrível.
Na primavera, quando arrancou a ofensiva dos bancos para o mercado do
Brent, os seus gabinetes estudos começaram a criar a expectativa da alta
irrefreável dos preços até 250 $/b, de modo a atrair liquidez para este mercado.
Economizadores do mundo inteiro tentaram colher esta oportunidade,
acelerando a corrida às compras e permitindo aos grandes bancos, no jogo das
oscilações do preço, de lucrar margens imensas.

99
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Sobre a natureza da crise financeira falou-se muito, e acredito que o


fenómeno tenha sido analisado em todos os seus aspectos. O que não se
evidencia, porém, é o facto que estes movimentos financeiros se traduzem na
manipulação artificiosa desta referência chamada Brent que é adoptada, por uma
espécie de convenção internacional, como preço do petróleo. Desta forma os
automobilistas do mundo inteiro, sem terem conhecimento, são transformados
em doadores coagidos de recursos financeiros destinados à especulação.
Quando se diz que a Europa é tutelada contra a crise induzida pelas
dificuldades dos mercados financeiros, ignora-se esta parte do processo, que é
significativo e atinge também aqueles que não investem na bolsa.
Pode parecer nostálgica lembrança, mas voltar a falar de um preço do
petróleo baseado no petróleo, de um novo acordo entre países produtores e
consumidores em que se tome como referência de mercado um cabaz de
petróleos brutos físicos de referência, é mesmo um sonho proibido?
É provável que depois de vinte anos, durante os quais o benchmark para o
petróleo foi um contrato do mercado dos futures, tenha-se perdido a memória
histórica do que significa mercado petrolífero, do papel que neles tinham os
sujeitos reais de carne e osso, países produtores e companhias petrolíferas. Hoje
continua-se a usar expressões como “países OPEP e não OPEP” apenas como
uma cortina de fumo para esconder os verdadeiros fenómenos do mercado e os
verdadeiros donos do sistema.
Me vem à mente a fábula de Esopo sobre o cavalo, o javali e o homem. O
cavalo vivia feliz numa planície, um pequeno éden. Um dia chegou um javali
que começou a deturpar aquele paraíso. O cavalo já não aguentava mais o javali
e resolveu pedir ajuda ao homem para que juntos pudessem eliminá-lo. O
homem aceitou, e o cavalo deixou-se montar. Perseguiram o javali por toda a
planície e finalmente o homem conseguiu matá-lo. Mas quando o cavalo depois
de agradecer tentou ir embora, o homem, percebendo o quanto o animal seria
útil para ele, amarrou-lhe uma corda no pescoço.
Países produtores e companhias petrolíferas (cavalo) para gerir a
turbulência dos preços do petróleo dos anos ’70 (javali), pediram ajuda ao
mercado financeiro (homem). Receberam a ajuda, mas veio junto uma corda no
pescoço.

100
A evolução do preço do petróleo

Queríamos analisar agora, mais detalhadamente, alguns aspectos dos


fundamentais que serviram de suporte à alta dos preços.
O preço do Brent permaneceu relativamente estável desde a segunda
metade dos anos ’80 até 2000, oscilando entre os 10 e os 20 dólares o barril, com
uma única excepção, a primeira crise do Golfo (1990).
Por volta do final dos anos ’90 os analistas de mercado consideravam o
preço desta commodity como estável e previsível: mesmo os forecast mais altistas
não previam, para a década sucessiva, um nível superior aos 20 dólares o barril.
A partir de 2000, o preço do petróleo bruto iniciou uma alta progressiva e
contínua, até atingir os quase 150 dólares/barril no verão de 2008.

Brent Dated [Platts]


160

140

120

100

80
$/bbl

60

40

20

0
87

88

89

90

91

92

93

94

95

96

97

98

99

00

01

02

03

04

05

06

07

08
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

20

20

O objectivo deste artigo é analisar esta alta, estudar quais foram os factores
de mercado no passado e avaliar se eles são suficientes para explicar o
andamento do preço do petróleo hoje, ou se foram originados fenómenos de
mercado inéditos que resultaram nestas evoluções.
Outro factor que será considerado atentamente, por acompanhar em
paralelo o forte incremento do preço, é o significativo aumento da sua
inconstância. Até o final dos anos ’90 o preço do Brent não variava, de um mês
para o sucessivo, mais que 3-4 dólares o barril, enquanto agora observamos
diferenças superiores a 20 dólares o barril durante o mesmo mês.
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Se olharmos a história passada, podemos ver que níveis de inconstância


tão elevados pertencem somente aos períodos de guerra, como aquela do Golfo
(1991).
Quais são, hoje, estas “guerras” ou “tensões” que abalam o mercado petrolífero?

Preço do Brent e Inconstância Intra-mês


140 18
Brent [eixo esquerda] 16
120
Inconstância [eixo direita] 14
100
12
$/bbl

80

$/bbl
10

60 8

6
40
4
20
2

0 0
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
04
05
06
07
08
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
20
20
20
20
[Fonte: Platt’s]

A procura e a oferta

Quando se deseja analisar economicamente um mercado, a primeira


abordagem leva a considerar a procura, a oferta e o consequente equilíbrio.
Este tipo de estudo define-se também de “análise dos fundamentos”. Nos
anos passados foi exactamente através da análise dos fundamentos que foi
possível explicar os andamentos do mercado petrolífero e prever as possíveis
tendências.
O sector é caracterizado, nomeadamente, por um mercado upstream para o
petróleo bruto e por diversos mercados dos produtos (downstream): da gasolina
até a nafta, do gasóleo ao óleo combustível. E é portanto necessário considerar o
equilíbrio entre a procura e a oferta, quer no upstream que no downstream: como é
natural, um excesso de procura leva a um aumento do preço, enquanto – ao
contrário – uma oferta maior que a procura produz uma diminuição do preço.

102
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

EVOLUÇÃO DO MERCADO PETROLÍFERO


DESDE O ACIDENTE DE CHERNOBIL (1986)
Para compreender a
1986 2008 (2008-1986) dinâmica dos preços das
Procura Petrolífera Mundial (MM bbl/dia) 60,0 86,8
26,8 últimas duas décadas
9,3
Dos quais América do Norte 15,7 25,0
2,7 devemos retroceder até um
EU 12,6 15,3
Ásia Pacífico 10,4 25,4
15,0 evento importante que
(Fonte: IEA 10 de Junho de 2008) marcou o ponto de partida
no crescimento mundial da
Produção de Pétroleo Bruto USA (MM bbl/dia) 8,9 5,1 -3,8 procura de petróleo bruto:
o acidente na central
(Fonte: AIE Abril de 2008)
nuclear de Chernobil
Consumo por habitante (bbl/ano) (1986).
América do Norte 25,2 27,5 2,3
EU 12,0 8,9 -3,1 Desde então, os
Ásia Pacífico 1,6 2,6 1,0 consumos aumentaram de
Média Mundial 4,3 5,0 0,7
forma exponencial na Ásia
(+140%) e na América do Norte (+63%), onde o consumo por habitante (27,5
barris por ano) permanece igual ao triplo do nível na Europa e a dez vezes
aquele do Extremo Oriente.
O forte crescimento da procura, contudo, não é suficiente para explicar o
aumento do preço do petróleo bruto. A análise dos factores fundamentais requer
inclusive a avaliação da oferta: o que emerge entre 2003 e 2008 (com excepção de
2007) é um oversupply (excesso de oferta) constante de petróleo bruto, que coincide
exactamente com a subida em flecha do preço.
Num mercado caracterizado por uma procura que excede a oferta
deveríamos ter observado um preço pelo menos constante, abaixo dos 30
$/barril. Mas ocorreu, ao contrário, um aumento até valores recorde de quase
150$/barril. Este fenómeno necessita, portanto, de uma explicação que supere o
clássico modelo da procura e da oferta, visto que a simples análise dos factores
fundamentais levaria a um paradoxo (oferta superior à procura e um preço
crescente).

103
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Fonte: IEA

Um novo modelo de interpretação

Em muitos relatórios e estudos especializados indica-se o crescente nível de


consumo na Ásia, e em particular na China e na Índia, como um dos driver
(factores) principais do aumento do preço do petróleo.
O crescimento foi certamente significativo, pois a importação dos
petróleos brutos e produtos duplicou desde 2000 na China (dos cerca 1,5 até os 3
milhões de barris por dia) e na Índia (de cerca 1 até 2 milhões de barris por dia).
Estes volumes, contudo, se considerados em relação à procura de petróleo
mundial (cerca de 87 milhões de barris por dia), nos revelam que a sua dimensão
não é particularmente significativa: as importações de petróleo bruto na China
equivalem a 2,9% da procura mundial, enquanto na Índia o nível desce a 2,3%.
E ainda, a qualidade dos petróleos brutos comprados pela China, Índia e
outros países da área do Pacífico, é mediamente baixa (crus pesados e sour).
Como explicaremos a seguir, o que mais influencia a procura marginal de
petróleo, ou seja a procura responsável pelo incremento do preço, é a procura de
petróleos brutos leves com pouco súlfur. Consequentemente, um incremento da
procura de petróleo bruto heavy-sour - ramas pesadas origina um impacto no preço
muito menor em relação a um aumento da procura marginal.

104
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Concluindo, os consumos dos países emergentes não são de se considerar


um driver(factores) principal do preço do petróleo.

105
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Para identificar um novo modelo que explique as últimas evoluções do


mercado, é essencial analisar mais a fundo o modelo tradicional (procura e
oferta), identificando os motivos pelos quais este modelo não é mais aplicável à
situação actual.

De facto, o modelo funda-se numa relação entre procura, oferta e preço, na


qual os primeiros dois elementos representam dados actual, conhecidos,
enquanto o terceiro, o preço, é o objecto da previsão.
Este modelo era aplicado correctamente e fornecia resultados plausíveis
no passado, quando para cobrir a procura de produtos acabados dispunha-se de
uma oferta adequada de todas as qualidades de petróleo bruto requeridas (desde

106
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

os leves sweet até os pesados sour), e havia sempre à disposição uma production
spare capacity – capacidade de produção disponível), para enfrentar os eventuais
piques sazonais da procura.
Ao mesmo tempo, o sistema das refinarias também permitia cobrir todos
os níveis da procura de produtos durante o ano, com uma boa flexibilidade e
com uma capacidade inutilizada substancial, que permitia de enfrentar as
situações de emergência (nos Estado Unidos, por exemplo, nos anos ’80
utilizava-se apenas 70% da capacidade de refinaria).
Actualmente a situação é bem diferente. Em particular, a spare capacity das
refinarias reduziu-se progressivamente, a ponto que hoje os refinery runs
(percentagens de utilização da capacidade de refinação) se estabilizaram por
volta de 90%, com pouquíssima flexibilidade. É hoje, portanto, bastante
problemático enfrentar um inesperado pico de procura ou uma redução da oferta
(shut down), e a utilização extrema das instalações explica o número crescente de
acidentes que estão a ocorrer nas refinarias de meio mundo.

Actualmente o sistema das refinarias é, portanto, apenas suficiente para


cobrir a procura de produtos, e aumentos – se calhar inesperados – nos pedidos
do mercado (mesmo de um só produto) podem criar consequências tangíveis, em
particular no preço dos produtos e – com um efeito a cascata – no preço do
petróleo bruto e na sua instabilidade (inconstância).
Usaremos uma metáfora: se a procura de lombo de vaca (gasolina) subir
em flecha, haverá em todo caso aumento do preço das vacas (petróleo bruto),
pois para obter um lombo é necessário matar uma vaca inteira.
Consequentemente, sendo produzido também mais acém, pojadouro, alcatra
(outros combustíveis) em relação à procura, o preço destas partes diminuiria
sensivelmente.

107
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

No que se refere à oferta de petróleo bruto, ela pode ser reputada ainda
superior à procura só em termos absolutos. De facto, se considerarmos algumas
qualidades de petróleo bruto singularmente, perceberemos que a spare capacity
residual está vinculada quase exclusivamente a petróleos brutos de baixa
qualidade, enquanto a oferta de ramas leves e sweet – óptimos na produção de
gasolinas, o produto mais procurado no mercado actual – não é suficiente.
Consoante o modelo tradicional da procura e oferta, um excesso de oferta
de petróleo bruto deveria ter levado a uma diminuição do seu preço, enquanto –
ao contrário – uma procura maior que a oferta deveria ter levado a um
incremento do preço.
Esta relação foi geralmente confirmada até 1999, mas desde então – desde
que o preço do Brent iniciou sua subida – preço e procura/oferta resultam
desvinculados.
Torna-se portanto necessário elaborar outro modelo de análise do
mercado petrolífero que, considerando não apenas os volumes totais de procura
e oferta, mas também a evolução da qualidade da oferta, diferencie, por exemplo,
os petróleos brutos leves e os pesados, os com pouco ou muito súlfur e a
qualidade da procura, levando em conta os novos standard (padrões) qualitativos
dos produtos nos diferentes Países.

O modelo quantitativo

O novo modelo de análise do mercado petrolífero, necessário para explicar o


preço do petróleo bruto desde 2000, deve considerar os novos vínculos do sector,
nomeadamente:

1. As novas especificações dos produtos;


2. A qualidade da oferta de petróleo bruto;
3. O “gargalo de garrafa” do sector da refinação.

A partir de 2000 entraram em vigor nos Estados Unidos e na Europa uma


série de regulamentações sobre a qualidade dos produtos, da gasolina e do
gasóleo em particular.
O Clean Air Act, promulgado nos Estados Unidos em 1990 com o objectivo de
reduzir os componentes de poluição emitidos na atmosfera, originou a elevação
progressiva dos standards (padrões) qualitativos dos produtos, principalmente a
partir de 2000. Em Janeiro daquele ano, por exemplo, foi imposto o limite de 150
ppm de súlfur para as gasolinas nas chamadas “smog areas”; em Dezembro de
2002 foi eliminado o MTBE (um blending component das gasolinas utilizado para
incrementar o número de octanos) da gasolina, antes na Califórnia e depois
(2006) em todo o território dos Estados Unidos; em 2006 o conteúdo de súlfur foi

108
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

posteriormente reduzido, a 30 ppm, e foi introduzido o ultra low sulphur diesel


(com um máximo de 15 ppm de súlfur) em pelo menos 80% das vendas.
Paralelamente na Europa foram adoptadas medidas semelhantes, com os
standards qualitativos denominados Euro I, Euro II, até o actual Euro IV. E ainda,
em Janeiro de 2008, o conteúdo máximo de súlfur permitido no gasóleo na
Europa foi cortado ao meio, de 0,2% a 0,1%.
Na seguinte tabela temos sintetizados os resultados destas normas e o
standard previsto para 2009.

Carburantes: conteúdo de súlfur Na mesma época, no resto do mundo também


GASOLINA (ppm) tentou-se reduzir o impacto ambiental das
2000 2007 2009
emissões melhorando a qualidade dos produtos.
USA 150 30 30
EU 150 50(*) 0 Além do Japão (desde 2003 limite de 50 ppm de
(*) 10 ppm devem ser súlfur; em 2007 foi introduzido o ultra low sulphur
disponibilizados desde 2005 e diesel, com 10 ppm), o mesmo ocorreu em muitos
obrigatórios desde 2009 países emergentes: no ano 2000 a China eliminou o
chumbo da gasolina, em 2005 adoptou o standard
GASÓLEO (ppm) Euro II, em 2007 o Euro III, e o Euro IV está
2000 2007 2009 previsto para 2010; em Singapura a gasolina sem
USA 500 15(**) 15 chumbo tornou-se obrigatória em 1998; nas
EU 350 50 0 Filipinas em 2001; na Coreia do Sul desde 2007 é
(**) Limite para 80% das vendas possível se abastecer com ultra low sulphur diesel;
Fonte: DOE
em Taiwan o limite de súlfur no diesel actualmente
é de 50 ppm e irá descer a 10 ppm em 2009; no
Vietname, onde hoje o limite é de 5000 ppm, será baixado a 500 ppm no final de
2007 e a 50 ppm em 2009.
Uma melhoria das características dos produtos a nível global requer
contudo um processo de refinação muito mais complexo: daí a dificuldade das as
refinarias em satisfazer a procura actual, que está a crescer não apenas na
quantidade, mas sobretudo na qualidade.
É possível, portanto, supor que o preço crescente do petróleo bruto possa
encontrar uma primeira e importante explicação na carência dos actuais sistemas
de refinação, antes que na simples disponibilidade de petróleo bruto.
E ainda, a origem do problema é de se imputar mais à oferta de produtos de
alta qualidade do que à oferta de petróleo bruto.
O que se observou nos últimos anos no sector da refinação foi sobretudo
uma diminuição progressiva da spare capacity na utilização das instalações. A
análise do que ocorreu nas refinarias dos Estados Unidos é particularmente
significativa, pois o mercado americano é certamente o mais importante e
representativo.

109
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Enquanto no início dos anos ’80 os refinery runs correspondiam a cerca de


70%, hoje temos uma utilização superior a 90%.
Este fenómeno iniciou exactamente em 1981, quando o sector foi
desregulamentado (abandono dos preços controlados e das alocações): a
introdução da concorrência de mercado levou, portanto, ao encerramento
progressivo de todas as refinarias que não produziam valor económico.

[Fonte: DOE]
Gasoline
PROCURA DEDemand
GASOLINA
Das 324 refinarias activas em 1981
restavam 204 em 1989, com uma perda
USA, de capacidade de 3 milhões de barris
42.4%
por dia (dos 18,6 aos 15,7) e o
Resto
Rest do
of the
Mundo
World,
afastamento parcial do sector das major,
57.6%
57.6% que conservaram apenas as refinarias
mais proveitosas, vendendo as outras e,
em todo caso, reduzindo fortemente os
investimentos.
E ainda, nos últimos anos, uma série de investimentos adjuntos em
instalações “limpas”, necessários para reduzir o impacto ambiental, obrigaram
outras refinarias a fecharem, prevendo a impossibilidade de permanecerem
concorrenciais a longo prazo.
Em 2007 contavam-se apenas 145 refinarias activas, mas o dado mais
significativo é que desde 1976 não foi construída nenhuma nova refinaria nos
Estados Unidos.

Number of Refineries Vs Average Refining Capacity


140 350
Average Capacity for a U.S. Refinery
Number of operable refineries
120 300

100 250
Number of refineries
1000 bbl/day

80 200

60 150

40 100

20 50

0 0
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
04
05
06
07
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
20
20
20

110
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Observou-se, em todo caso, que para satisfazer a procura crescente de


produtos e contrastar a forte diminuição do número de refinarias, foi
incrementada a dimensão média das refinarias americanas e aumentada a
capacidade total de refinação (dos 15,0 milhões de barris por dia em 1994, aos
17,4 em 2007). Isso, no entanto, não foi suficiente a cobrir toda a procura, sendo
necessário recorrer a um forte aumento das importações de produtos refinados.
A construção de uma nova refinaria nos Estados Unidos ou na Europa é
hoje praticamente impossível, quer por motivos ambientais quer pelo “nimby”
(not in my back yard): mesmo se fosse reconhecida a necessidade de uma nova
refinaria, ninguém estaria disposto a aceitar a sua construção num terreno
próximo à própria habitação. Por este motivo torna-se cada vez mais
problemático garantir a cobertura da procura de produtos petrolíferos.
O produto petrolífero que origina as maiores tensões entre procura e oferta,
e que portanto mais influi no preço do petróleo bruto e na sua inconstância, é
certamente a gasolina, seguida pelo gasóleo.
E os Estados Unidos são os maiores consumidores de gasolina: a procura
deles é, de facto, superior ao 40% da procura mundial.
Para enfrentar a carência de capacidade de refinação e cobrir a forte e
sempre crescente procura de gasolina, os Estados Unidos aumentaram
progressivamente a importação.
As dificuldades para satisfazer toda a procura de gasolina nos Estados
Unidos, contudo, não são alimentadas apenas pela insuficiência das instalações
de refinação, mas também por problemas ligados ao import deste produto.
A Europa exportava nos anos ’90 cerca de 17-20 milhões de toneladas por
ano de gasolina para os Estados Unidos, mas não adequada aos novos e mais
rígidos parâmetros qualitativos, que reduziram a capacidade de refinação não só
no território americano, mas também na Europa, principal fornecedor de
gasolina dos Estados Unidos. Na Europa, de facto, uma cota da capacidade de
refinação não correspondia mais à nova qualidade da procura (americana, mas
também europeia), necessitando de ulteriores investimentos para se adequar aos
standards (padrões) impostos pelo mercado.
O actual balanço de produção e consumo de gasolinas nas diversas macro
áreas (ver as imagens abaixo) mostra, em todo caso, um forte excedente de
gasolinas na Europa, com as suas refinarias a cobrir uma parte importante da
procura americana. Garantir as exportações rumo aos Estados Unidos resulta
contudo mais difícil hoje, exactamente por causa dos mais severos standards
qualitativos; e as estimativas para 2015 não são certamente optimistas, com um
excedente na Europa que diminui quase na metade e um défice a nível global
que irá duplicar em menos de dez anos.

111
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

GASOLINE SURPLUS(+)/DEFICIT(-)
2008
+7

+2 +40

-52
+3
(Million Tons) -7
Balance
+65 -5
-69 +13 -5
-4

Os Estados Unidos, não podendo mais cobrir toda a procura de gasolina


no mercado internacional (na Europa principalmente), visto o défice global deste
produto, foram obrigados a começar a importar os blending components
separadamente, completando a parte final do processo de refinação nos Estados
Unidos. Isso multiplicou os custos e exportou a crise da gasolina para a Europa.

Fonte: DOE

Um problema análogo ao acima descrito sobre a gasolina nos Estados


Unidos, apresentou-se com o gasóleo na Europa: nos últimos anos observou-se,
de facto, uma progressiva reconversão da frota de automóveis na Europa, com
um shift (conversão) dos motores a gasolina para os diesel, que agora superam
50% do total. Consequentemente, a procura de destilados médios cresceu na
Europa, desde 2000, em mais de 15% (correspondente a um milhão de barris por
dia), enquanto o consumo de boa parte dos outros produtos diminuiu.

112
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Actualmente há, portanto, um forte défice de gasóleo na Europa,


compensado a nível global pelas produções asiáticas e da FSU. Nos próximos
anos, porém, a procura global levará a um défice total consistente, enquanto
actualmente o balanço mundial para este produto é igual a zero. E ainda, o facto
que as refinarias na Europa tentaram maximizar a produção de gasóleo, reduziu,
paralelamente o rendimento de gasolinas, diminuindo assim o excedente
necessário para alimentar as exportações para os Estados Unidos.

Mid DISTILLATE DEFICIT/SURPLUS


2008
36

-45
2

-38 12

(Million Tons) 40
Balance -7
+98 -8
-98 8
0

Pode-se supor, portanto, que um dos principais drivers (factores) do


crescente preço do petróleo seja a carência global de gasolinas e gasóleo.

Evolução do fluxo do petróleo

Nos anos ’60 e ’70 podia-se observar um fluxo do petróleo bruto muito
claro, com as produções do Golfo que chegavam na Europa, onde era feita a
refinação, e de lá as gasolinas seguiam rumo aos Estados Unidos, enquanto o
gasóleo e o fuel oil permaneciam na Europa. Este ciclo permitia uma optimização
global e uma forte eficiência, com um abatimento dos custos de transporte, que
na época representavam cerca de 50% do custo final do petróleo bruto.
Nos anos ’90, ao contrário, a disponibilidade das petroleiras tornou-se
crítica, quer devido a um forte aumento da procura do Far East (e as maiores
distâncias a percorrer ocupando os navios por mais tempo), quer pelas novas

113
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

regulamentações sobre os standard (padrões) dos navios para reduzir a


possibilidade de acidentes e danos ao ambiente.
O fluxo global do petróleo bruto mudou, com uma competição crescente
entre as refinarias americanas e aquelas do Extremo Oriente.
Desde 2000 as tensões surgidas nos anos ’90 aumentaram ulteriormente,
com importantes consequências. As refinarias asiáticas iniciaram a se concentrar
também sobre o trabalho dos petróleos brutos light sweet, aqueles de maior valor
e os melhores para a produção das gasolinas, da virgin naphtha e de outros
produtos centrais para o mercado, incrementando assim a competição com as
refinarias USA.

2000-2010: MAIN OIL FLOW


(the control of the new Caspian supply)

1
7

4 1
1.from Gulf to West
3
2.from N Sea to USA 6
3.from gulf to F.East
4.from W.Africa to USA
5.from W,Africa to F.East
5
6.from Caspian to F. East
7.from Caspian to USA

Está a assumir, portanto, fundamental importância o controlo dos fluxos


do Mar Cáspio, que constituem uma das últimas novas grandes produções de
petróleos brutos leves e sweet.

114
Perspectivas futuras

Para os próximos anos as expectativas para o mercado petrolífero não


são certamente optimistas, pois com o actual sistema de refinarias não
haverá como produzir toda a gasolina requerida pelo mercado americano,
enquanto o tema da qualidade dos produtos – principalmente por motivos
ambientais – continua a ser um problema global.
Como já mencionado, a situação de mercado tornou-se ainda mais
grave nos últimos três anos com a entrada na Europa do standard Euro IV
para os carburantes, do gasóleo com 0,1% de súlfur e - nos Estados Unidos –
do ultra low sulphur diesel. Isso reduziu ulteriormente a produção líquida de
gasolinas de alta qualidade e introduziu o problema do gasóleo.
A atenção deve, portanto, permanecer concentrada nas refinarias;
devemos nos perguntar se elas serão capazes de produzir blending
components – (componentes de mistura) suficientes para os novos standards
de carburantes.
Pelo que se pode intuir hoje, pelos relatórios e pelas previsões de
mercado, a relação entre capacidade de refinação e procura de gasolinas está
em constante diminuição, quer no que se refere à capacidade de reforming -
transformação, quer à de cracking (destilação de petróleo).
E ainda, a nova situação que está a se delinear nestes últimos anos,
está levando a uma evolução diferente para os petróleos brutos light sweet
(ramas leves) e para aqueles qualitativamente inferiores (middle/heavy sour),
como se eles pertencessem a dois mercados distintos.
Assim, enquanto o mercado dos light sweet( ramas leves) – vinculado à
gasolina americana – é controlado essencialmente pelas instituições
financeiras (Nymex, ICE), o mercado dos heavy sour (Ramas pesadas) depende
das cotas produtivas OPEP.
A OPEP (Organização Países Exportadores de Petróleo) constitui um
cartel internacional com o objectivo de garantir a estabilidade do preço do
petróleo bruto através do controlo da oferta. Considerando que os Países
que fazem parte do mesmo produzem conjuntamente cerca de 34% do
petróleo produzido globalmente (e esta cota era muito maior no passado),
pode-se compreender como uma diminuição da sua produção possa
influenciar os preços.
Cabe lembrar, contudo, que boa parte do petróleo bruto OPEP não é
light sweet (ramas leves); na realidade, portanto, quando a OPEP anuncia um
corte na produção só irá influenciar o mercado heavy sour (ramas pesadas), isto
é os diferenciais dos petróleos brutos pesados, mas não aquele dos light sweet
(Ramas leves) – que são, de facto, os que determinam o preço oficial do
petróleo bruto (Brent, WTI).
Considerando que o preçário dos petróleos brutos é formado por
duas componentes, uma base comum (determinada por um marker de
mercado, habitualmente o Brent, o WTI ou o Dubai) e um diferencial
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

específico para cada petróleo bruto, nos últimos anos observou-se um


afastamento e uma dinâmica diferente para os petróleos brutos heavy sour
(Ramas Pesada) em relação aos light sweet (Ramas leves).
Por exemplo, como pode-se ver no gráfico abaixo que descreve o
andamento do diferencial de um petróleo bruto heavy sour (Ramas Pesada) em
relação ao Brent (que é um light sweet), nos últimos anos, os preços dos
petróleos brutos leves desvincularam-se daqueles dos pesados, quer porque
o diferencial aumentou, quer porque hoje a inconstância do diferencial é
maior.

Arabian Heavy (differential on Brent)


0

-2

-4

-6
$/bbl

-8

-10

-12
ARABIAN HEAVY Vs Brent DTD
-14

-16
Jul-97

Jul-98

Jul-99

Jul-00

Jul-01

Jul-02

Jul-03

Jul-04

Jul-05

Jul-06
Jan-97

Jan-98

Jan-99

Jan-00

Jan-01

Jan-02

Jan-03

Jan-04

Jan-05

Jan-06

Jan-07

Diante dos problemas acima mencionados, a insuficiência da


capacidade de refinação em primeiro lugar, parece não haver soluções a
breve prazo que possam restabelecer um equilíbrio de mercado.
Só importantes investimentos no down-stream e principalmente no
mid-stream do sector petrolífero poderiam mudar a rota actual, garantindo
maior estabilidade à oferta e, consequentemente, ao preço de petróleo bruto
e dos produtos.
Actualmente, porém, parece não haver investimentos significativos
no sector da refinação: na China, por exemplo, os preços dos produtos
petrolíferos são controlados pelo Estado, e as refinarias estão a produzir com
perdas, devido aos altos preços do petróleo bruto (mesmo se depois a perda
lhes é reembolsada), motivo pelo qual possíveis investimentos resultam não
convenientes; o grupo americano Tesoro (que refina mais de meio milhão de
barris por dia) anulou o projecto de construção de uma nova refinaria em
2006, vistos os custos crescentes; a Kuwait National Petroleum Company adiou
outro projecto; em 2006, as previsões do governo dos Estados Unidos
falavam de um incremento da capacidade interna de refinação de 1,6

116
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

milhões de barris por dia até 2011; agora a previsão desceu a um milhão e
nenhum projecto concreto foi realmente activado.
Considerando que nos próximos três/cinco anos a capacidade de
refinação não crescerá de forma substancial, pode-se prever que os preços do
petróleo bruto não irão descer abaixo dos valores actuais.

Conclusões

Perante o cenário descrito permanecem, em todo caso, muitas


dúvidas e perguntas: existe uma maneira para dar estabilidade ao mercado
do petróleo sem investir no sector das refinarias? O que faz, ou o que
poderia fazer a OPEP para tentar controlar os preços? Quem pode garantir
hoje um controlo sobre as flutuações do preço do petróleo bruto? Não
havendo respostas a estas perguntas a única coisa a fazer é tentar minimizar
o risco, incrementando os proveitos através do merging (fusão) com outras
companhias e a racionalização dos custos, continuando porém a ver o preço
do petróleo como uma variável desconhecida.
A este respeito é muito útil, para prever a evolução do sector,
considerar os objectivos de cada actor de mercado: os Países produtores
querem preços altos e estáveis, target (objectivo) que coincide exactamente
com aquele das multinacionais do petróleo; os refinadores desejam margens
altas (ou seja uma grande diferença entre o preço dos produtos e o preço do
petróleo bruto) e os traders (negociantes) (quer no físico, quer no papel)
buscam altos diferenciais e, principalmente, uma forte inconstância sobre a
qual especular. Considerando que nenhum dos actores acima mencionados
busca uma baixa dos preços, aos níveis dos anos ’90, parece difícil supor que
o preço irá mover-se naquela direcção, pelo menos a breve e médio prazo.

117
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

PARTE 3

ELECTRICIDADE E REGULAÇÃO

118
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Capítulo 8

O SECTOR ELÉCTRICO ANGOLANO

“O acesso à energia é indispensável para o


desenvolvimento nacional, para a redução
da pobreza e para se alcançarem as metas
de desenvolvimento do Millenium”

Euclídes de BRITO

119
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Introdução

A República de Angola passou por momentos difíceis devido a uma


guerra prolongada que teve início aquando da sua independência em 1975 e
que só terminou em 2002. A instabilidade político-militar então vivida
arruinou a sua economia. Parte das infra-estruturas, incluindo as do sector
eléctrico, foi destruída. Em alguns casos, a acentuada degradação deveu-se a
falta de recursos, quer financeiros, quer humanos.
Actualmente, apesar dos esforços empreendidos para melhorar a
prestação dos seus serviços, a Indústria de Fornecimento de Energia
Eléctrica (IFE) continua a enfrentar sérios problemas e constrangimentos. O
fornecimento de energia eléctrica não é efectuado com a qualidade e
fiabilidade requeridas, as tarifas praticadas não reflectem os custos
incorridos, as empresas do sector não operam de acordo com os princípios
comerciais, existindo ainda elevadas perdas técnicas e comerciais.
O crescimento da economia teve grande reflexo na procura de
electricidade levando à reabilitação e expansão das infra-estruturas de
produção, transporte e distribuição e ao consequente aumento da taxa de
electrificação. No período compreendido entre 2001 e 2005, a procura de
energia eléctrica cresceu em 36%19.
Com o objectivo de criar um ambiente propicio para a participação do
sector privado, o Governo de Angola tem estado a levar a cabo um conjunto
de reformas que inclui, entre outras, as componentes politica, legal, fiscal e
de regulação.
No Sector Eléctrico, as reformas tiveram início em 1996 com a
aprovação da Lei Geral de Electricidade (LGE). Em 2002, o Governo aprovou
a “Estratégia de Desenvolvimento do Sector Eléctrico Angolano” que
contém uma série de iniciativas estratégicas e inclui, igualmente, planos com
metas e prioridades definidas para os Programas de Reabilitação e
Estabilização de Curto Prazo, assim como, um Plano Estratégico de longo
prazo. Devido a alguns constrangimentos, este documento nunca foi
implementado na íntegra.

19
É importante referir que, este crescimento é ainda reprimido e caso haja disponibilidade de
potência, a procura aumentará substancialmente. Por exemplo, devido à reduzida fiabilidade no fornecimento
de energia eléctrica, em 2007 estimava-se que, quase 90% das empresas que operam no país, têm geradores
próprios que utilizam em caso de perturbações no sistema.

120
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

A Estratégia de Desenvolvimento do Sector Eléctrico de 2002 define


os seguintes objectivos para o sector:
 Garantir o abastecimento seguro e permanente de electricidade, de forma
a satisfazer o crescimento da procura;
 Garantir o acesso ao serviço de abastecimento de electricidade a um
número crescente de cidadãos e comunidades;
 Reduzir as assimetrias regionais existentes;
 Garantir que o sector eléctrico seja economicamente eficiente e que
contribua para o desenvolvimento económico;
 Criar condições para promover a participação do investimento privado
no sector; e
 Garantir a conservação e protecção do ambiente.

Entretanto, várias iniciativas contidas no documento têm sido


implementadas, tais como, a criação do Instituto Regulador de Electricidade
(IRSE), a revisão e aumento faseado da tarifa praticada na venda de
electricidade ou a reabilitação e expansão das infra-estruturas. Depois de um
Workshop sobre o Desenvolvimento do Sector Eléctrico, realizado em
Outubro de 2004, que apontou a necessidade de se proceder à revisão da
estratégia do sector e avaliar qual o melhor modelo da reforma a
implementar, foi desenvolvido o Plano Director da Reforma do Sector,
elemento reitor das actividades no âmbito da reforma do sector.

Quadro Legal e Institucional

Legislação

A Legislação principal do Sector é a seguinte:

 A Lei nº 14A/96, de 31 de Maio (Lei Geral de Electricidade), estabelece


um conjunto de princípios gerais que visam a promoção da concorrência
nos mercados de produção e distribuição de energia eléctrica, o fomento
da iniciativa privada e o incentivo ao abastecimento e uso eficiente de
energia eléctrica.
 A produção e distribuição de energia eléctrica, ao abrigo da Lei nº 4/02,
de 16 de Abril (Sectores Económicos de Reservas Relativas do Estado),
podem ser exercidas por empresas ou entidades não integradas no Sector

121
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Público mediante um tipo específico de contratos de concessão (BOT,


BOOT, etc.);
 É admissível, no Sector, a iniciativa privada através de Parcerias Público
Privadas, ao abrigo da Lei nº 11/03, de 13 de Maio (Lei de Bases de
Investimento Privado).

Governação e Estrutura do Sector

A instituição do Governo responsável pelo sector da electricidade é o


Ministério de Energia e Águas (MINEA). O MINEA opera ao abrigo do
Decreto - Lei nº 3/00, de 17 de Agosto, que aprova o seu estatuto orgânico e
confere-o a responsabilidade pelo desenvolvimento de politicas,
planeamento, coordenação, supervisão e fiscalização das actividades
relacionadas com o sector.
O Instituto Regulador do Sector Eléctrico (IRSE), criado através do
Decreto nº 4/02, tem como funções principais monitorar a implementação
da Lei Geral de Electricidade, promover o desenvolvimento do Sistema de
Electricidade Público, proteger os interesses dos clientes, bem como os
interesses de outros parceiros chave no sector.
A principal entidade responsável pela produção, transporte e
distribuição de energia eléctrica em Angola é a Empresa Nacional de
Electricidade, ENE – E.P.. Esta empresa pública está presente em 15 das 18
províncias do país. A outra entidade importante no segmento da
distribuição é a Empresa de Distribuição de Electricidade, EDEL-E.P.,
responsável pela distribuição e fornecimento de energia eléctrica na cidade
de Luanda. A EDEL-E.P. é a maior cliente da ENE-E.P..
No segmento da produção encontramos ainda o Gabinete de
Aproveitamento do Médio Kwanza (GAMEK), criado em 1980, com a
responsabilidade de coordenar o desenvolvimento de centrais
hidroeléctricas no Médio Kwanza. Este Gabinete é a responsável pela maior
unidade de produção de electricidade existente actualmente no país, o
Capanda, com 520 MW de capacidade instalada.
Relativamente a centrais a operar em regime de aluguer, destacasse a
de Luanda, com 30 MW de capacidade instalada, e a de Cabinda, com 45
MW, ambas pertencentes a Aggreko. Na província da Lunda Norte, a
empresa diamantífera, Endiama, é a responsável por várias unidades de
produção de electricidade que somam uma capacidade instalada de 15 MW.

122
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Na província da Lunda Sul está instalada uma unidade hidroeléctrica


com 16 MW de capacidade instalados (Hidrochicapa) resultante de uma
parceria entre uma empresa diamantífera russa Alrosa Vneshtroy (60%), e a
ENE (40%). Este unidade fornece energia para a cidade do Saurimo e para o
exploração diamantífera do Catoca. Nas restantes províncias onde a ENE-
E.P. não está presente, os governos locais são responsáveis pela produção e
distribuição.

O Sistema Eléctrico Angolano está isolado da rede regional da Pool de


Electricidade da África Austral (SAPP). Entretanto, existem ligações em
média tensão entre os sistemas da NamPower, da Namíbia, e da ENE-E.P. na
província angolana do Cunene que atendem as localidades de Ondjiva,
Namacunde, Santa Clara e Oyole, bem como algumas localidades do
Kuando Kubango.
Existe uma outra Estrutura da IFE Angolana
ligação entre a SNEL,
ENE ENE
da RDC, e o sistema NamPower
Sistemas Sistema Sistema Sistema
eléctrico Angolano na Isolados Norte Centro Sul
(Namibia)

localidade de Noqui, a
Norte do país. A Autoridades Endiama

ilustração da estrutura EDEL Locais (Lunda


(4 provincias) Norte)
da IFE Angolana é
apresentada na figura
Consumidores
ao lado.

Caracterização do Sector

Presentemente, a energia eléctrica fornecida é de reduzida qualidade


e fiabilidade. Existem várias restrições ao fornecimento de energia eléctrica
que inibem o desenvolvimento. Entre as principais estão:
 o deficit de produção;
 a limitação na capacidade das linhas de transporte;
 a existência de elevadas perdas técnicas e não técnicas nos
sistemas eléctricos;

123
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

 a não reflexão nas tarifas os custos efectivos nem sequer os


custos operacionais; e
 a não interligação dos sistemas eléctricos, o que constitui
perdas de oportunidade em termos de economias de escala e
do aumento da fiabilidade;

Os encargos com a componente térmica são bastante elevados, o que


encarece os custos de produção. Existe escassez de recursos financeiros e
reduzido número de pessoal qualificado no sector. O número de
trabalhadores também é elevado.
Devido ao carácter de infra-estrutura de capital intensivo, um elevado
valor de investimento é necessário para a reabilitação e expansão das infra-
estruturas eléctricas. Entretanto, ainda existe uma dependência do Programa
de Investimentos
Públicos e linhas de Ciclo vicioso
crédito para a
realização de Baixas
Baixas
Receitas
Fundos
Fundos
Insuficientes
Receitas Insuficientes
investimentos.
Na figura ao lado
temos representado o Baixos
Baixos
pagamentos
Baixos
Baixos
Investimentos
Investimentos
pagamentos
ciclo vicioso que
caracteriza a IFE de
Angola. Mau
Clientes
Clientes Mau Necessidade
insatisfeitos
insatisfeitos Serviço
Serviço de se reverter este quadro
para o ciclo virtuoso

10

A produção

A produção total anual de energia eléctrica no país, em 2007, cifrou-se em


3.293,2 GWh, mais 10,4% do que no ano anterior. Adicionando à energia eléctrica
produzida internamente, 21,4 GWh foram adquiridos da NamPower. Neste ano, do
total da energia eléctrica produzida no país, 51,4% foi produzida pela ENE-E.P.,
enquanto que o restante foi adquirido da Hidroeléctrica de Capanda e da Aggreko
(produtor independente).
Em 2007, na Central Hidroeléctrica de Capanda foram comissionadas
mais duas unidades geradoras de 130 MW cada, perfazendo o número de 4,
ou seja, 520 MW de potência. O Grupo 3 entrou em serviço em 22 de Abril,
enquanto que o Grupo 4 entrou em serviço em 11 de Agosto.

124
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Fonte: Ministério da Energia, 2009

Angola – Taxas de incremento da Energia Eléctrica Produzida e da Ponta do Sistema

Taxa de Ponta do Sistema Taxa de crescimento


Ano Energia (GWh)
crescimento (%) (MW) (%)
1999 1.295 226,0
2000 1.425 10 250,0 11
2001 1.634 15 270,0 8
2002 1.781 9 294,6 9
2003 1.995 12 303,3 3
2004 2.239 12 364,9 20
2005 2.649 18 397,2 9
2006 2.982 13 441,0 11
2007 3.293 10 534,9 21

Fonte: Relatório Anual da ENE-E.P, 2007

125
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Fonte: ENE, 2009

Segundo dados da Direcção nacional da Energia do Ministério da


Energia a capacidade instalada de produção de electricidade era, em 2008,
de 1.289 MW, sendo que, 61% desta é hidroeléctrica.
Verifica-se também um elevado grau de desequilíbrio na distribuição
regional desta capacidades, agravada pelo fácto dos principais sistemas
eléctricos do país não estarem interligados.
O Sistema Norte (SN), que inclúi as províncias do Bengo, Kwanza-
Norte, Kwanza-Sul, Luanda e Malange, concentra 72% da capacidade
instalada total do país. Os Sistemas Centro (Benguela, Huambo e Bié) e Sul
(Huíla, Namibe e Cunene) representam apenas, respectivamente, 9,9% e
7,7% da capacidade instalada total do país. Nas restantes províncias estão
instalados sistemas isolados, geridos por empresas privadas ou pelos
governos locais20, que somam 9,7% da capacidade instalada no país.

Fonte: ENE, 2009

20
Em 2008, o ENE era proprietária de cerca de 25 MW das centrais a diesel de pequena dimensão dispersa pelos
sistemas isolados.

126
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Estes desiquilíbrios são agrados pelo facto de, entre os sistemas


isolados, a Lunda-Sul concentrar 64% da capcidade hidroeléctrica instalada,
e Cabinda oncentrar 59% da capacidade termoeléctrica instalada.
Desta capacidade instalada, em média, somente 65% está disponível.
Esta baixa taxa de disponibilidade é, principalmente, resultado da
degradação da Barragem da Matala e das unidades de produção
termoeléctrica da província de Luanda.
Notemos por fiim que, a somar à baixa taxa de disponibilidade, verifica-se
uma baixa taxa de utilização na maior parte das unidade de produção do país. Por
exemplo, a Barragem de Capanda, não obstante ter uma capacidade disponível de
520 MW, em média, somente 480 MW são utilizados dadas as flutuações nas
solicitações.

O transporte
Existem três sistemas principais de transpote em Angola. O Norte,
que se prolonga do Porto de Luanda em direcção ao Leste, o Centro, que se
prolonga do Porto do Lobito em direcção ao Leste e o Sul, que se prolonga
do Porto do Namibe na mesma direcção.
A ENE e o GAMEK são os gestores da maior parte das linhas de
transporte. Nas províncias não cobertas por estes sistemas o transporte é
gerido por empresas ou pelos governos locais, no entanto, estes não
funcionam como operadoras do sistema de transporte.
O grau de comunicação entre os diversos centros produtores e
consumidores, através destas linhas de transporte é que define e delimita os
sistemas energéticos do país. A interligação destes sistemas é um dos
maiores (senão o maior) desafios da Indústria de Fornecimento de
Electricidade de Angola, visto que permitiria aumentar significativamente a
eficiência de funcionamento do sistema, ao permitir
compensações.

127
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Angola – Linhas de Transporte da ENE-E.P.

Tensão Comprimento Disponibilidade

Sistema (KV) (KM) (Km) (%)

Norte 220 964,7 964,7 100

Centro 150 581,3 197 33,9

Sul 150 136 136 100

Isolados 60 880,5 372,5 42,3

Total 2.562,5 1.670,2 65,2


Fonte: URI-MINEA, 2009

Nos últimos anos o segmento de transporte está a ser objecto de


reforço e expansão. Os principais aspectos deste programa são:
 O comissionamento do primeiro sistema de 400 kV instalado em
Angola que liga Capanda a Luanda;
 A interligação dos sistemas Norte e Centro a 220 kV;
 A expansão do sistema norte com a integração da rede do Uíge;
 A expansão do sistema centro com a integração de zonas de
consumo anteriormente não servidas; e
 A ligação de uma nova central hidroeléctrica em N’gove.

Em 2007 foram concluídos os trabalhos de construção da terceira


Linha de 220 KV entre Cambambe e Luanda, assim como do projecto de
reabilitação da Linha de 220 KV entre Cambambe e a Gabela pertencentes ao
Sistema Norte. A nova linha de transporte de 220 KV entre Cambambe -
Viana– Cazenga foi energizada a 5 de Dezembro de 2007, enquanto que a
linha Cambambe – Gabela entrou em serviço a 25 de Novembro 2007 após
trabalhos de reabilitação. A linha de transporte entre N´dalatando –
Cambambe foi energizada a 16 de Dezembro 2007.
Em 2007 procedeu-se também a conclusão da construção da nova
Subestação do Camama em Luanda Sul, dos trabalhos de expansão das
subestações de Viana, Cazenga e Cambambe, a construção da nova
subestação de Ondjiva, província do Cunene e a subestação da Gabela.
No Sistema Norte, a subestação do Cazenga foi alvo de uma
reabilitação parcial e ampliação da sua capacidade de transformação em 60
MVA. A subestação da Gabela fruto dos trabalhos de reabilitação da linha
foi energizada em 25 de Novembro de 2007.

128
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Está em curso a reabilitação e modernização das subestações da


Catumbela e Kileva e as Subestações da Hidroeléctrica do Biópio e da
Térmica de Biópio.
A Subestação do Namibe funciona com grandes limitações devido ao
elevado grau de degradação por corrosão face a agressividade do mar.
A linha de transporte de energia eléctrica entre a Gabela e a Kileva em
220 kV iria permitir interligar o Sistema Norte ao Sul. É uma linha com
extensão de 242 km e tem prazo de conclusão previsto para o ano 2010. Um
outro projecto que está em curso, prevê a instalação de três unidades de 20
MW cada no Gove e a construção da linha de transporte entre o Gove e o
Huambo em 220 kV. O processo de concurso está concluído. A Linha de
transporte terá uma extensão de 80 km e tem prazo de conclusão previsto
para 2010.
Uma nova linha de 220 KV, com 176 km de comprimento, entre
Cambambe, Viana e Luanda, esta a ser construída e quase em fase de
conclusão. Uma outra linha de 220 KV, com 60 km de comprimento, entre
Viana, Luanda Sul e Luanda também esta em fase de construção. Está
também em fase de construção a linha de 220 KV entre Capanda e
Ndalatando. Para além destes investimentos no transporte, existem outros
projectos em consideração que incluem a construção de um quarta linha de
400 KV de Capanda a Luanda.

A distribuição e comercialização
O segmento da distribuição é gerido pela EDEL e pela ENE. A EDEL
E.P., é a principal responsável pela distribuição de electricidade de Luanda,
uma província com uma extensão que representa 0,18% do território
nacional, mas que concentra 65% do consumo de electricidade.
A ENE é a responsável pela distribuição no resto das províncias
cobertas pelos principais sistemas. Em Luanda, regra geral, a distribuição
está segmentada da seguinte forma: a ENE abastece os grandes
consumidores (alta e média tensão), enquanto a EDEL abastece os pequenos
consumidores (baixa tensão).
Esta empresa pública opera 57 kms de linhas de alta tensão (60 kv),
365 kms de linhas de baixa tensão (15 kv), 1.850 km de linhas de baixa tensão
(0,4 kv), 11 substações, 814 PT’s (públicos) e 1.488 armários de distribuição.
Segundo dados da EDEL divulgados em Agosto de 2010, a sua
carteira de clientes cresceu em mais de 82%, entre 2006 e 2009. Se
considerarmos que, entre 2004 e 2007, a carteira de clientes da ENE
(constituída em 99% por clientes de baixa tensão) cresceu apenas em 48%,
podemos concluir que, em termos gerais, o consumo de electricidade tem

129
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

crescido significativamente nos últimos anos, e que este crescimento tem


sido determinado pelo consumo residencial.

Fonte: EDEL, 2010

Angola – Evolução do Número de Clientes da ENE-E.P.

Número Clientes 2004 2005 2006 2007


Alta Tensão 6 6 13 14
Média Tensão 1.127 1.233 1.367 1.538
Baixa Tensão 109.665 142.698 153.734 162.502
Total 110.798 143.937 155.114 164.054

Fonte:Relatório Anual da ENE-E.P., 2007

Paralelamente ao crescimento da carteira de clientes, os índices de


cobrança têm vindo a aumentar consideravelmente durante os últimos anos.
Excluindo a EDEL-E.P. que é o maior cliente da ENE-E.P., o índice de
cobrança que em 2004 era de 65%, cresceu para 67% em 2005, 73% em 2006 e
77% em 2007. Para 2009, a EDEL reporta uma taxa de cobrança de 67,2%.
Embora mantendo uma tendência de crescimento, o desempenho foi
negativo quando temos em conta que as metas traçadas pretendiam atingir
índices não inferiores a 75% no final de 2006, 81% no final de 2007 e 88% no
final de 2008.
A contribuir para o “medíocre” desempenho das cobranças está o
facto de cerca de 70% dos clientes corresponderem a contractos de avenças,
isto é, não terem o consumo monitorado por contadores.
Na vertente comercial, as empresas do sector têm envidado esforços
no sentido de aumentar e melhorar os sistemas de contagem, reduzir as

130
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

perdas comerciais, reduzir o número de horas de indisponibilidade dos


sistemas informáticos de apoio a actividade comercial e melhorar o serviço
ao cliente.
As tarifas de energia eléctrica praticadas não obedecem ao princípio
de tarifas calculadas com base nos custos marginais de longo prazo, nem
sequer cobrem os custos efectivos. Existe um subsídio que o Estado atribui
às empresas, mas é insuficiente para cobrir os custos envolvidos, o que
dificulta e limita as empresas na realização de investimentos com recursos
próprios.
O último incremento tarifário registou-se em Agosto de 2006 através
do Decreto Executivo nº 118/06 do Ministério das Finanças, que passou o
preço de venda do kWh em baixa tensão para o consumo doméstico para Kz
3,35, o consumo doméstico social para kz 1,16, o consumo doméstico tarifa
especial para Kz 4,40, o consumo para indústria para kz 4,40 e o consumo
comércio e serviços para kz 4,40. A tarifa social é aplicada aos primeiros 50
kWh/mês de consumo doméstico e somente para os clientes cujo consumo
mensal do período a facturar não seja superior a 200 kWh, enquanto que a
tarifa especial, é aplicada para consumo doméstico com potência contratada
igual ou superior a 9,9 kVA. Houve igualmente revisão nas tarifas de média
e alta tensão. A iluminação pública não sofreu alterações.
A subvenção em geral promove o esbanjamento, ineficiência e de uma
forma geral, são os que têm posses e/ou negócios que beneficiam das tarifas
baixas.
Existem grandes perdas técnicas e não técnicas ou comerciais.
Primeiro porque a infra-estrutura em muitos casos carece de investimento.
Segundo porque ainda existem vários constrangimentos na medição,
contagem, processamento, facturação e cobrança. Existem também fraudes e
ligações anárquicas.
Apesar dos esforços das empresas em melhorar os seus indicadores
de gestão e da atribuição de subsídios a preços por parte do Estado, as
empresas enfrentam sérios problemas de liquidez. Os investimentos
realizados são financiados através do Programa de Investimentos Públicos.
As empresas têm elevados encargos com pessoal, tarifas que não reflectem
os custos e grandes ineficiências. As empresas estão empenhadas em
melhorar a sua gestão interna, procedendo a melhorias nos sistemas de
gestão comercial, na redução do tempo do ciclo “leitura, facturação e
cobrança” (metas para a ENE - período máximo de 60 dias até ao final de
2006, 45 dias até ao final de 2007 e de 30 dias até ao final de 2008).
A ENE está a desenvolver acções no âmbito do programa de redução
de perdas comerciais e a proceder a investimentos nas infra-estruturas para
reduzir as perdas técnicas. A ENE pretende aumentar o número de clientes

131
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

numa média de 12.500 clientes por ano e instalar mais de 33.000 sistemas de
contagem por ano.
A empresa pretende também desenvolver uma estratégia de
aproximação ao cliente e por isso, está a implementar uma cultura de
atendimento personalizado ao cliente, maior foco no cliente, de modo a
melhorar a prestação do serviço.

Angola – Indiciadores de Gestão do Sector da Electricidade


INDICADORES 2006 2007 Var.(%)
Energia produzida - ENE (GWh) 1.378,2 1.693,1 22,8

Energia adquirida Capanda (GWh) 1.584,2 1.600,1 1,0

Energia adquirida HidroChicapa (GWh) 0,0 0,8 #DIV/0!


Energia total produzida no país (GWh) 2.982,1 3.293,2 10,4
Importação da Nampower (GWh) 19,6 21,4 9,2

Energia total facturada (GWh) 2.006,4 2.362,0 17,7


Predas Técnicas e não técnicas (%) 32,7 30,3 -7,3
Potencia hidrica Instalada (MW) 497,7 773,8 55,5
Potancia termica instalada (MW) 332,5 399,8 20,2
Potencia total instalada (MW) 830,2 1.173,6 41,4
Potencia total disponivel (MW) 617,7 872,9 41,3
Disponibilidade (%) 74,4 74,4
Ponta do Sistema (MW) 441,2 535,0 21,3
Extensão total Linhas de Transporte (Km) 2.231,0 2.562,5 14,9
Extensão disponivel (Km) 1.278,0 1.670,2 30,7
Disponibilidade (%) 57,3 65,2
Subestações capacidade transf. instalada (MVA) 1316 1344 2,1
Subestações capacidade transf. dispon.(MVA) 1188,5 1316 10,7
Disponibilidade (%) 90,3 97,9
Indice de cobrança (%) 77,6 70,8
Total numero de clientes 155.114,0 164.054,0 5,8
Baixa tensão 153.734,0 162.502,0 5,7
Media tensão 1.376,0 1.538,0 12,5
Alta tensão 13,0 14,0 7,7
Total empregados 4.347,0 4.523,0 4,0
Empregados no activo 3.395,0 3.539,0 4,2
Energia produzida por empregado 0,88 0,93 5,9
Vendas por empregado 0,59 0,67 12,9
Ponta do Sistema por empregado 0,13 0,15 16,3
Clientes por empregado 46 46 1

Fonte: Relatório Anual da ENE-E.P., 2007

132
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Conclusões

Nesta fase de grandes desafios na economia Angolana é necessário que


se tomem medidas, algumas das quais indicamos em seguida:

 Melhorar a qualidade e fiabilidade no fornecimento de energia


eléctrica, com investimentos de capital intensivo quer na reabilitação,
quer na expansão das infra-estruturas;
 Criar condições para que as empresas operadoras do sector
funcionem segundo os princípios comerciais;
 Efectivar a interligação dos sistemas eléctricos, Norte Centro e Sul,
assim como o Sistema Nacional ao da SADC é de capital importância
porque permitirá o desenvolvimento do potencial hidroeléctrico
existente, o aumento da fiabilidade no fornecimento, ganhos em
termos de economia de escala, redução de custos de produção e
exploração, redução da poluição ambiental, a promoção de projectos
de capital intensivo, o desenvolvimento económico e social, a criação
de empregos, a redução do consumo de biomassa;
 Priorizar o processo de reformas e através da obtenção de meios
financeiros e humanos;
 Criar o ambiente propício para o envolvimento do sector privado no
desenvolvimento das infra-estruturas eléctricas, através de parcerias
público/ privadas;
 O Regulador deverá jogar um papel importante no desenvolvimento
do Sector, por isso é necessário que este seja forte, independente,
credível e dinâmico;
 Remover as barreiras que inibem o crescimento e desenvolvimento do
sector eléctrico estreitando o diálogo entre os vários parceiros chave
no sector.
 Desenvolver o processo de Separação de Contas na ENE de modo a
criar um ambiente de transparência, responsabilização e prestação de
contas;
 Reformar as tarifas de forma a garantir o retorno do investimento;
 Revisão das politicas dos subsídios, porque ela promove ineficiência e
beneficia os que mais têm;
 Criar o Fundo de Electrificação Rural é de extrema importância para
constituir uma fonte de financiamento; e

133
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

 O licenciamento e a política de concessões devem ser revistas e o


órgão regulador deve participar das discussões para o efeito.

O acesso à energia é indispensável para o desenvolvimento nacional,


para a redução da pobreza e para se alcançarem as metas de
desenvolvimento do Millenium. Com a paz deu-se inicio em quase todos os
sectores de actividade a projectos de reabilitação e/ou expansão das infra-
estruturas. Contudo o país ainda enfrenta enormes desafios e no sector
eléctrico um particular ênfase deve continuar a ser dado ao aumento da taxa
de electrificação e ao fornecimento contínuo de energia eléctrica.

134
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Capítulo 9

REFORMA DO SECTOR ELÉCTRICO EM


ANGOLA

“Numa perspectiva regulamentadora, o


Governo tem tomado posições firmes no
sentido de criar o ambiente propício para o
desenvolvimento do sector e não só. Isso
inclui a promulgação da Lei do Investimento
Privado, da Lei da Privatização e da Lei
Geral da Electricidade. Muito embora a
implementação dessas leis seja de difícil
cumprimento por razões conjunturais, a UIR e
os seus parceiros estão comprometidos em
ultrapassar todo e qualquer obstáculo.”

Félix VIEIRA LOPES

135
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Introdução

Os passos principais que deram origem ao estágio corrente de


desenvolvimento da reforma do sector eléctrico são os seguintes:
1996 Aprovação da Lei Geral de Electricidade;
2002 Aprovação da Estratégia para o Desenvolvimento do Sector Eléctrico
de Angola;
2004 Fórum para o desenvolvimento do Sector de Electricidade de Angola
que recomendou a elaboração de um Programa de Reforma do
Sector;
2005 Seminário para a discussão do Plano Director da Reforma do Sector
Eléctrico (PDR);
2006 Estabelecimento da estrutura reguladora, IRSE 21;
2006 Instauração da Unidade de Reforma do Sector Eléctrico, UIR 22.

A Reforma consiste em:


 Mudanças na estrutura da Indústria de Fornecimento de Energia
Eléctrica (IFE);
 Mudanças nos mecanismos institucionais e de governação da IFE;
 Desenvolvimento do quadro Regulador;
 Reforma tarifária;
 Mobilização de recursos e criação de condições para garantir a
fiabilidade financeira das empresas operadoras do Sector;
 Electrificação do país;
 Desenvolvimento dos recursos humanos.

O Plano Director da Reforma do Sector Eléctrico foi desenvolvido com o


contributo dos parceiros chave do Sector Eléctrico.

21
IRSE - Instituto Regulador do Sector Eléctrico
22
UIR - Unidade de Implementação da Reforma

136
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Esse utensílio define as iniciativas prioritárias da reforma e as suas


acções. Ele serve também como orla de referência para atingir os objectivos
traçados.
Com base no PDR e nas recomendações do Relatório sobre a
Reorganização da ENE-E.P., o Conselho de Administração desta Empresa
decidiu criar a Unidade de Implementação do Processo de Reestruturação
Interna (UPRI) para a dinamização e materialização das recomendações
sobre o processo de reestruturação e reforma, iniciando pelo projecto de
separação das suas actividades estratégicas e contas. A intenção do projecto
é:
 Criar um ambiente mais comercial;
 Criar um ambiente de maior transparência, responsabilização e
prestação de contas;
 Corresponder melhor aos desafios de uma economia em
crescimento;
 Melhorar a performance da empresa;
 Responder às necessidades da regulação do Sector;
 Introduzir ajustamentos organizacionais e modernizar a estrutura
operativa;
 Criar condições para a separação das actividades de monopólio
natural das de concorrência.
A reestruturação da empresa tem como objectivo reorganizar e adequar a
Empresa aos novos desafios, reabilitar e expandir as infra-estruturas,
melhorar os serviços de comercialização e marketing, criar uma nova cultura
empresarial virada ao aumento da eficiência, produtividade, redução de
custos, espírito de equipa, motivação, satisfação e dedicação, reorganizar a
função Recursos Humanos e garantir a sustentabilidade económico-
financeira da Empresa.
A UIR é uma entidade “ad-hoc” responsável pela implementação da
reforma com um mandato de 3 a 5 anos, que reporta directamente ao
Ministro da Energia e Águas.
Entre os seus directos parceiros conta por um lado com os Ministérios
do Planeamento e das Finanças e por outro com as empresas públicas
dedicadas à produção, transporte e distribuição de electricidade.
Foi criado o Instituto Regulador do Sector Eléctrico Angolano (IRSE).
As suas responsabilidades estão definidas no Decreto 4/02. Este órgão vai
monitorar a implementação da Lei Geral de Electricidade (Lei 14, A/96). O
Regulador vai também promover a criação e desenvolvimento de Sistema

137
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Eléctrico Publico (SEP), assim como proteger os interesses dos consumidores


em termos de preços e qualidade no fornecimento.

O Regulador tem as seguintes principais obrigações:

1 Preparar propostas do Regulamento Tarifário, bem como as


respectivas actualizações;
2 Preparar propostas para fixação de tarifas e preços e submetê-las ao
Conselho Tarifário para parecer;
3 Preparar a proposta do Regulamento da Qualidade de Serviço, bem
como as suas alterações;
4 Verificar a integral aplicação do Regulamento de Qualidade de
Serviço;
5 Preparar a proposta de Regulamento das Relações Comerciais;
6 Preparar a proposta de Regulamento do Despacho;
7 Fiscalizar o cumprimento do Regulamento do Despacho;
8 Preparar a proposta do Regulamento do Acesso às Redes e às
interligações; bem como as suas actualizações, ouvida a entidade
concessionaria da Rede Nacional de Transporte (RNT).

Enquanto a motivação para a reestruturação e reforma da indústria de


fornecimento de electricidade (IFE) é forte, várias opções existem em termos
de formulação e implementação de um programa ambicioso de reforma.
Esse programa foi enquadrado no contexto das recomendações do Fórum de
2004, o qual inclui:

 O processo de reforma do sector iniciado pela Lei Geral da


Electricidade em 1996, com particular ênfase na comercialização das
operações do sector, viabilidade dos operadores do sector,
implementação de um programa de prioridade de investimentos com
enfoque na electrificação e envolvimento mais activo do sector
privado;
 A análise do corrente modelo monopolista que caracteriza a IFE de
Angola, de modo a identificar uma estrutura de indústria mais
adequada e mais bem posicionada para responder aos objectivos do
governo para o sector;

138
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

 A importância na reorganização do sector de distribuição de


electricidade e a normalização das operações comerciais das
companhias de distribuição, desse modo contribuindo para o
processo de restabelecimento da viabilidade financeira das entidades
do sector eléctrico;
 A implementação de uma nova estrutura tarifária que garanta a
mudança gradual para tarifas que reflictam os custos, durante um
período pré definido;
 A criação de compromissos para a promoção e aceleração de
electrificação através do uso de um novo planeamento e instituições
de financiamento como meios chave para atingir objectivos pré
definidos;
 O comportamento adequado da entidade reguladora para melhorar a
gestão das entidades existentes no sector assim como o
estabelecimento de um quadro regulador credível para o
envolvimento do sector privado na IFE;
 A criação de condições e iniciativas para promover o envolvimento
activo do sector privado angolano como parte da formação técnica e
científica adequada que assegure longevidade sustentável para a IFE;
 O reconhecimento das debilidades humanas em termos de formação
através do estabelecimento de uma bem estruturada estratégia de
desenvolvimento de recursos humanos;
 A formulação de uma série de iniciativas e actividades num Plano
Director suportado pelo governo, com prazos e responsabilidades
bem definidos; e
 A garantia dos recursos necessários para implementar o processo de
reforma, com os sistemas e processos assegurados de modo a
monitorar regularmente o progresso da implementação da reforma.

Pressupostos da Reforma
Para desenvolver e implementar o actual programa de reforma do
sector eléctrico há elementos importantes a ter em conta, entre os quais se
destacam os seguintes:
 Compromisso do governo e liderança;
 Licenças e concessões;
 Desintegração vertical ou desverticalização;
 Disputa e duplicação de funções; e
 Constrangimentos em termos de recursos humanos

139
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Contudo, outras questões de primordial importância são parte do


processo, entre as quais o engajamento do governo e a sua liderança, o
surgimento gradativo de um moderno quadro tarifário e o acesso da
população à electricidade, que serão cobertos nesse capítulo, cujas fontes de
inspiração são os correntes estudos formais sobre o processo de reforma do
sector eléctrico de Angola.
Para a discussão do Plano Director, foram definidos três cenários: i)
Manutenção do quadro actual; ii) Expansão liderada pelo sector eléctrico; e
iii) Reforma acelerada. Esses cenários são expostos em algumas das situações
apresentadas ao longo do texto.

Compromisso do Governo e Liderança

Antes de mais, o Governo tem articulado claramente as suas


responsabilidades na matéria. Contudo, com um número elevado de
instituições envolvidas na governação do sector, a clarificação de
responsabilidades para o processo de reforma tem sido decisivo para os
resultados frutíferos desejados.
O Governo está a desempenhar um papel decisivo na liderança do
desenvolvimento e reforma da IFE a curto e médio prazos, com esforços
consideráveis que estão a ser despendidos para demonstrar claramente à
população, num relativo curto espaço de tempo, que o país pode ter um
desenvolvimento económico e social regular, restaurar o sector de
electricidade e aumentar substancialmente a fiabilidade do fornecimento de
electricidade.
A instituição líder do sector eléctrico em Angola é o Ministério da
Energia e Águas (MINEA) criado em 2000. A sua gestão tem-se alterado ao
longo desses poucos anos, com ênfase no revigoramento das suas estruturas
operacionais e recrutamento de quadros qualificados.
Numa perspectiva regulamentadora, o Governo tem tomado posições
firmes no sentido de criar o ambiente propício para o desenvolvimento do
sector e não só. Isso inclui a promulgação da Lei do Investimento Privado,
da Lei da Privatização e da Lei Geral da Electricidade. Muito embora a
implementação dessas leis seja de difícil cumprimento, por razões
conjunturais, a UIR e os seus parceiros estão comprometidos em ultrapassar
todo e qualquer obstáculo.
Para que a antevisão do Governo para o sector de electricidade seja
materializada, legislação para orientar o processo de reforma encontra-se já
organizada, estando no entanto ainda alguma em processo de estruturação.
Entre uns e outros destacam-se os seguintes, apresentados na seguinte:

140
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

ANGOLA – DOCUMENTOS LEGAIS REPRESENTATIVOS

DOCUMENTO POSICIONAMENTO FUNDAMENTO EXIGÊNCIAS CHAVE

LEGAL LEGISLATIVO

1. Lei Geral da Electricidade Lei 14-A/96 da Assembleia Lei fundamental para a Introdução do processo de reforma; Identificação de alguns poderes do
Nacional, de 31 de Maio - governação do sector de GOVERNO; Regime de concessões; Tarifas reguladas.
(actualmente em processo de electricidade.
revisão).

2. Lei Geral do Ambiente Decreto-lei 5/98. Quadro geral para a Gestão ambiental; Fundamento para legislação ambiental específica;
protecção do ambiente. Ausência de regulação para o sector de electricidade.

3. Empresas Públicas de Electricidade Decretos do Conselho de Instituição da ENE e da ENE –EP como empresa nacional de electricidade para geração,
Ministros de 1998 e 1999. EDEL como empresas transmissão e distribuição e EDEL –EP para distribuição.
públicas

4. MINEA Decreto-Lei 3/00 do Conselho Estabelece o Ministério da Expõe autoridade, funções e estrutura orgânica do MINEA.
de Ministros de 17 de Março. Energia e Águas

5. Regulamentos suplementares do Decretos do Conselho de Regulamentos para a Regula parâmetros técnicos, concessões e licenças para a distribuição;
Sector Ministros 45/01 de 13 de Julho, distribuição e produção de regula a produção no sistema nacional de electricidade; Outorga ao
e Decreto 47/01 de 20 de Julho electricidade Conselho de Ministros poderes para emitir concessões aos produtores
respectivamente. respectivamente. públicos e privados.

6. DNE e GEPE Decretos Executivos do Cria regulamentos internos Cria a DNE dentro do MINEA; Define as áreas funcionais de
MINEA, 72/01 de 11 de de funções e responsabilidade de planeamento dentro do MINEA.
Dezembro e 10/02 de 1 de responsabilidades.
Março.

7. Órgão regulador do Sector Eléctrico Decreto 4/02 do Conselho de Cria o órgão autónomo de Supervisão do Sector de Electricidade através da aplicação da Lei Geral de
Ministros de 12 de Março. regulação “Instituto Electricidade, funções e estrutura orgânica do IRSE.
Regulador do Sector Eléctrico”
(IRSE).

8. Estratégia de Desenvolvimento do Esboço publicado no Diário da Apresenta as posições Assuntos estratégicos chave e pontos de vista.
Sector de Energia de Angola República, Série #78, em 1 de estratégicas para o Sector.
Outubro de 2002.

9. Estabelecimento do IRSE Despacho Ministerial no. Aprova a Comissão Define as responsabilidades para o processo do estabelecimento do IRSE,
8/GAB.MINEA/04); Termos de Instaladora do IRSE. funções em detalhe, as tarefas, organização e provisões orçamentais.
Referência para o IRSE.

141
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Situação das Tarifas de Electricidade

Angola está colocada na terceira posição das tarifas mais baixas na


África Austral e Oriental. Essa observação pode ser ilustrada na figura
seguir.

Tarifas de Angola num contexto regional

20
18
16
14
US Cent per kWh

75 kWh/m
12
10 900 kWh/m

8 900 kWh/m
6
2500 kWh-
4 80%
2
0
M LA

A a

bi ia
M Na da
nz i
So K ia
N a

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U na

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Le ca
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O

a
i

ra
m

fr

ga

oz m
al
G

ve
ba

ot
h

A
m
Zi

Contudo, algumas das empresas de electricidade da SADC e da


África Oriental têm realizado profundas acções de reforma nas suas tarifas
de electricidade, particularmente em Moçambique, na Namíbia e no
Uganda. O móbil dessas transformações é o de criar condições para que o
sector eléctrico funcione devidamente com tarifas capazes de cobrir os custos
de operação e manutenção e ainda, manter o sistema e estimular o
investimento para atender à crescente procura.
O preço da tarifa em Angola é aproximadamente 45% abaixo do nível
médio das tarifas dos países que realizaram reformas tarifárias imparciais. A
regra na região é que o preço médio da tarifa deve ser entre os 8 e os 10
cêntimos do dólar americano por kWhpara que seja possível atrair
investimento privado significativo para o sector.
A Tabela a seguir, apresenta os preços das tarifas para grupos de
consumidores seleccionados em alguns países da SADC e da África Oriental,
em 30 de Abril de 2005, em cêntimos do dólar americano por quilowatt –
hora.

142
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

TARIFAS DE ELECTRICIDADE POR GRUPO DE CONSUMO NA ÁFRICA AUSTRAL E


ORIENTAL (cêntimos de USD/kWh), 2005

PAÍS CONSUMIDOR COMERCIAL

75 kWh/m 900 kWh/m 900 kWh/m 2500 kVA-80% *


Zimbabwe 2,3 10,0 5,7 6,0
Zâmbia 2,9 2,1 3,8 2,1
ANGOLA 3,6 5,9 6,0 3,0
Malawi 4,1 3,4 6,3 3,9
Tanzânia 5,6 8,5 8,5 6,1
Quénia 5,7 10,4 10,7 6,8
África do Sul 6,6 6,3 8,2 2,5
Lesoto 7,1 7,1 11,2 5,0
Suazilândia 8 6,6 8,7 5,1
Ilhas Maurícias 8,6 16,5 19,0 6,8
Botswana 9,4 7,0 7,2 4,7
Uganda 11,6 11,9 11,6 3,5
Namíbia 13,1 9,0 10,4 6,9
Moçambique 13,3 12,3 14,8 5,3

Média regional 7,3 8,4 9,4 4,8

Angola (média) 49,5 % 70,6 % 63,6 % 62,0 %


Angola/Moçambique 27,1 % 48,0 % 40,5 % 56,6 %
* Pico da Procura em kVA/Factor de potência

A tarifa média tem crescido lentamente em termos nominais durante


os últimos anos, mas não tem sido capaz de acompanhar o rápido aumento
dos custos. A tabela baixo ilustra o desenvolvimento nominal e o
desenvolvimento real das tarifas no período 2003-2005, ao mesmo tempo
que dá a conhecer o nível inflacionário vivido na altura. As barras azuis
mostram os ajustamentos tarifários que deveriam ter lugar para preservar a
tarifa real face ao rápido crescimento dos custos. A barra vermelha apresenta
o nível corrente da tarifa, e a barra verde o desenvolvimento da tarifa média
em Angola ajustado à inflação.

143
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

ANGOLA– Inflação versus crescimento da tarifa


8,00

7,00

6,00

Tariffs kwz/kWh EDEL


5,00

4,00

3,00

2,00

1,00

0,00
2003 2004 2005

Required tariff rate to preserve real value Tariff rate nominal Tariff rate real

A tarifa real é aproximadamente 43% do nível de 2003 e muito


embora os preços tenham subido bem em termos de dólares americanos
devido ao valor das fortes políticas do GOVERNO relativamente ao
Kwanza, a erosão significante do valor real das receitas tarifárias tem
contribuído para a presente situação constrangedora das finanças do sector.
É de facto o estágio em que se encontram as tarifas que poderá ter um
grande impacto tanto na questão dos subsídios e na habilidade de Angola
para atrair capitais privados para o sector.
Contudo, o desenvolvimento da tarifa nominal e da tarifa real em
diferentes cenários, se fossem efectivados a partir de 2006, pode ser visto na
Figura abaixo. Vale a pena sublinhar que, muito embora a moeda nacional,
Kwanza, irolavzou-se em relação ao dólar americano, para se chegar a um
custo reflectivo total há a necessidade de incrementar a tarifa em cerca de
400%, com o compromisso de ajustamentos anuais para manter o real valor
da tarifa devido ao rápido aumento dos custos.

144
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

ANGOLA– Desenvolvimento médio da tarifa no período 2003-2010


20,00

18,00

16,00

Tariff rates retail Kwz/kWh


14,00

12,00

10,00

8,00

6,00

4,00

2,00

0,00
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Tariff rates nominal reform Tariff rates nominal steady/expander


Tariff rate real reform Tariff rate real steady/expander

Muito embora um aumento tão elevado da tarifa seja um acto


bastante violento para os consumidores, é importante ter essa meta em
perspectiva. Um agregado familiar médio com uma receita mensal de Kz
30.000.00 a 50.000.00 23 e um consumo mensal de 75 kWh teria um aumento
de cerca de Kz 820.00 na sua factura, o que significaria uma redução do seu
rendimento disponível entre 1 a 4%. A Tabela abaixo, apresenta o impacto
da subida das tarifas.

IMPACTO DOS AUMENTOS DAS TARIFAS

TARIFA 75 kWh/MÊS 500 kWh/MÊS 2500 kWh/MÊS

3,59 269 1 795 8 975

14,52 1 089 7 260 35 300

Diferença 820 5 465 26 325

Alguns países, incluindo Angola, têm tarifas baixas para os


consumidores de pouca energia eléctrica, para acomodar os mais
necessitados do custo total da geração, transporte e distribuição de
electricidade. As pessoas de baixa renda que consomem cerca de 75 kWh
mensalmente pagam aproximadamente 61% por kWh dos que consomem
500 kWh. A média de consumo mensal em 2005, por residência, foi calculada
em aproximadamente 250 kWh.
23
A taxa de câmbio Kwanza/Dólar situou-se entre 70.00 e 75.00 no mês de Junho de 2007.

145
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Caso se assuma que metade da electricidade disponível é consumida


por clientes que mensalmente não ultrapassem os 75 kWh e que os restantes
50% tenham um consumo superior, as tarifas em Angola podem ser
apresentadas da seguinte forma:

TARIFAS SOCIAIS DE ANGOLA

TARIFA 75 250 500


kWh/MÊS kWh/MÊS kWh/MÊS

03,59 269 898 1795

11,00 825

14,52 1089 3630 7260

18,00 4500 9000

Com uma tarifa fixada a 61% da tarifa para consumidores acima dos
75 kWh por mês, o ónus dos clientes de baixo consumo é reduzido em cerca
de Kz 264.00 mensais, enquanto para as residências de consumo superior a
500 kWh mensais terão uma factura de mais Kz 1 740.00 considerando que
cada uma dessas residências tenha de pagar a tarifa total a partir do
primeiro kWh consumido.
O Governo faz efectivamente face a três grandes opções para o
desenvolvimento desse sector que é basicamente financiado pelos proventos
da extracção do petróleo e parcialmente pelos consumidores.
O impacto dos subsídios com base nos cenários que são apresentados
é ilustrado na figura abaixo.

146
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

ANGOLA- Desenvolvimento do subsídio real nos cenários entre 2003 e 2010

Se as tarifas entre 2005 e 2006 fossem aumentadas reduziriam os


subsídios do Estado em valores que poderiam variar entre os 4 e 5 biliões de
Kwanzas. A continuação da redução dos subsídios entre 2006 e 2010 iria
compensar as perdas na transmissão e na distribuição e dariam lugar a
melhorias substanciais na qualidade de serviço.
De qualquer modo, é importante referir que para que a inflação seja
ajustada, tendo 2003 como ano de referência, o GOVERNO despenderá cerca
de 100 biliões de Kwanzas no sector, caso não haja reforma, mas esse valor
poderá ser reduzido a 40 biliões se as tarifas forem aumentadas de modo a
reflectirem os custos reais, com a devida margem para a manutenção salutar
da indústria. Sem a reforma pretendida no sector, a factura governamental
para além de 2010, poderá ser a observada na figura a seguir.

147
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

ANGOLA – Nível agregado dos subsídios nos cenários entre 2003 a 2010
120
Aggregate subsidies inflation adjusted bn Kwz

100

80

60

40

20

0
Subsidies reform real Subsidies steady real Subsidies expander real

2003-5 2005-10

Nesse momento, o sector de energia consome uma fatia considerável


do Orçamento Geral do Estado (OGE). Depois de ajustar as contas para os
custos reais, o GOVERNO terá suportado mais de 5% das despesas públicas
em subsídios, em 2006, tendo sido dispendido uma percentagem similar em
2005.

ANGOLA – Subsídios percentuais do sector de energia entre 2003 e 2010


6,0 % Subsidies to electricity sector in % of public expenditure

5,0 %

4,0 %

3,0 %

2,0 %

1,0 %

0,0 %
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Subsides % of public expenditure reformer Subsidies % of pubic expenditure steady


Subsidies % of public expenditure expander

Expansão do Acesso à Electricidade


Estima-se que cerca de 70% da população de Angola não tenha acesso
à electricidade e que a situação mais preocupante resida nas zonas rurais.
Uma mudança radical dessa condição contribuirá substancialmente para o
alívio da pobreza, uma vez que o tempo despendido em determinadas

148
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

tarefas será reduzido com a utilização da electricidade e aproveitado para


outras tarefas úteis.
Como parte do processo da reforma será de importância vital o
desenvolvimento e expansão urgentíssima de uma política de energias
renováveis e uma estratégia de electrificação rural. Nesse momento a
Unidade de Implementação da Reforma do Sector Eléctrico, UIR, está já a
estudar como pôr em prática a criação de “aldeias solares” em áreas remotas
onde a energia eléctrica da rede não poderá chegar num curto espaço de
tempo.
O investimento inicial necessário para pôr em prática alguns dos
projectos do sector já existentes é estimado em US$543 milhões, ou seja, mais
de 40 biliões de Kwanzas. Além disso, como a população cresce a um ritmo
entre 1 a 3% ao ano e as expectativas de crescimento económico positivo
para os próximos anos, grandes investimentos serão necessários para manter
e ultrapassar os correntes níveis de electrificação. Entre os novos
empreendimentos em perspectiva merecem destaque novas centrais
hidroeléctricas ao longo da bacia do rio Kwanza, a criação do sistema leste,
assim como a interligação dos sistemas norte, centro e sul.
A Figura seguinte dá a conhecer a procura estimada, e, 2006, que era
necessária para manter os níveis de crescimento de 30% na electrificação e o
crescimento da população para além de 2010.

ANGOLA – Procura de electricidade com 30% de crescimento até 2010


4500

4000

3500

3000
GWH Demanded

2500

2000

1500

1000

500

0
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Base Consumption (2005) Population Growth Economic Growth Increase in Electrification

Como pode ser depreendido da Figura, o crescimento da procura de


electricidade em Angola terá sido influenciado por três factores principais:

149
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

i) O crescimento da população a um ritmo anual de 1.9%;


ii) O crescimento da economia, estimado em 10% anuais nos sectores
não petrolíferos; e
iii) A expansão do serviço a um maior segmento da população.

Desse modo, para se poder manter os correntes níveis de electrificação,


ao mesmo tempo que se assegura uma qualidade de serviço aceitável, a
energia neste momento disponível tem de ser duplicada. Isso implica que
um investimento significativo no sector será necessário nos próximos anos.
Mesmo mantendo apenas 25% de crescimento, mais de US$1,8 biliões seriam
necessários como novo capital de investimento até 2010.
Para aumentar o nível de electrificação para além dos 30% em 2010, mais
US$1.2 biliões seriam necessários totalizando o montante em US$3 biliões. Se
esse valor tivesse que ser suportado pelo OGE, representaria mais de 5% dos
recursos financeiros anuais disponíveis para o país como um todo, e um
impacto significativo para além dos custos de operação.
Os planos correntes de investimentos do GOVERNO para o sector são de
US$187 milhões anualmente até 2016. Será fácil de deduzir que o
investimento público não será suficiente para dar resposta ao crescimento da
procura dos consumidores actuais e ao mesmo tempo dar resposta aos
planos de electrificação aprovados pelo GOVERNO.
Desse modo, a figura abaixo, apresenta o investimento necessário
(utilizando os cenários de manutenção do quadro actual e o de expansão
liderada pelo sector público), tendo como referência o investimento da Fase
II do Aproveitamento hidroeléctrico de Capanda em 2006.

150
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

ANGOLA – Necessidades de investimento estimado, utilizando dois


cenários
800 35,0 %

700
30,0 %

600
25,0 %

Percent of Households
500
USD Millions

20,0 %

400

15,0 %
300

10,0 %
200

5,0 %
100

0 0,0 %
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Steady Scenario Expander Scenario Population Electrified (Steady) Population Electrified (Expander)

Assim, os futuros investimentos do sector poderão provir tanto do


GOVERNO como do sector privado, ou ainda com base num arranjo misto
dos dois sectores. De qualquer modo, esses investimentos deverão ter como
base ou o aumento dos subsídios governamentais ou o pagamento justo das
despesas feitas pelos consumidores. Assim, existem três amplas opções para
a mobilização de recursos financeiros para que seja possível dar resposta à
actual e futura procura de electricidade.
o Manutenção do quadro actual - Como o sector tem estado
profundamente dependente dos subsídios governamentais, qualquer
expansão futura terá de ser baseada num aumento desses subsídios;
o Reforma do sector público da electricidade - A solução para os
problemas causados pela situação actual será a reforma do sector
eléctrico através do aumento das tarifas, o melhoramento da
eficiência e das decisões de investimentos em termos comerciais. A
reforma dos operadores actuais do sector tem à sua frente um longo
caminho a percorrer para permitir incentivos comerciais, reduzir o
ónus da contribuição financeira do governo e obter os recursos
adicionais disponíveis para investimentos.
o Participação do sector privado – Outra opção é a de encorajar o sector
privado a investir no sector de electricidade, uma vez que essa opção
normalmente contribui para um sector economicamente viável e
fiável, principalmente devido a melhorias em termos de eficiência.
Como grande parte da infra-estrutura em Angola foi danificada ou
mesmo completamente destruída durante o conflito armado, há dois tipos
de investimento necessários de imediato no sector, que são os seguintes:

151
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

i) A reabilitação das redes existentes e das fontes de geração;

ii) A redução das perdas devido às ligações ilegais e faltas de


pagamento.

A reabilitação das linhas existentes, combinadas com o aumento das


tarifas poderá ser um óptimo meio para melhorar as receitas do estado a
curto prazo. Em muitos casos a reabilitação é menos onerosa do que a
construção de novas redes. De qualquer modo é importante que a
arrecadação total de receitas potenciais seja estudada e posta em prática.
Para que seja atingido um impacto total nas reformas sugeridas e nos
respectivos investimentos, um grande esforço terá de ser feito para
transformar os actuais depreciadores da economia nacional em clientes
normais que paguem pelos serviços prestados.
Como resultado existirá um mercado mais amplo, o que fará com que o
sector possa beneficiar de economias de escala e desse modo reduzir o
impacto negativo das tarifas que não reflectem os custos. Como observado
acima, essa nova situação irá também consolidar o aumento das receitas
resultantes não só do aumento das tarifas mas também da reabilitação das
redes.
Finalmente, uma das opções para o aumento de meios financeiros para a
melhoria do sector deverá ser através da participação financeira mais activa
do sector privado. A Figura 9, abaixo, apresenta alguns dos riscos mais
importantes para potenciais investidores no sector de electricidade de
Angola.

Factores críticos para investir com sucesso (de acordo com investidores)

152
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

A figura seguinte identifica o modelo do Banco Mundial para países


em desenvolvimento, sem ter em conta o contexto específico do país a ser
considerado. Esse comportamento pode efectivamente dar lugar a erros
inaceitáveis.

Barreiras ao investimento no sector de electricidade


nos países em desenvolvimento

A análise que se apresenta abaixo, também de autoria do Banco Mundial,


sustenta que atrair investimento privado em larga escala ao sector eléctrico a
curto e médio prazo não parece representar qualquer desafio. Muito embora
alguns investimentos privados, principalmente na indústria extractiva em
Angola, tenham sido coroados de êxito, atrair investidores para o sector
eléctrico é geralmente mais difícil. Isso é devido a alguns factores a ter em
conta, que são os seguintes:
i) Investimentos cujos retornos só são efectivos após um longo
período de tempo;
ii) Tarifas com base política e social põem esses investimentos em
situação de alto risco;
iii) Aspectos legislativos e políticos fazem com que certos
investimentos possam ser nacionalizados, ou terem os impostos
alterados, em prejuízo do investidor.

De qualquer modo, em Angola, as cláusulas de qualquer investimento


privado aprovado pelo GOVERNO é respeitado à letra. Para obter
investimento privado, o qual contribui para os objectivos do governo, mais
reformas serão implementadas. A Tabela a seguir, sumariza a actual situação
do país.

153
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

PRIORIDADES DE ACESSO AO INVESTIMENTO PRIVADO

ÁREA ANGOLA OFERECE (24) NA PERSPECTIVA DO


INVESTIDOR

A tarifa é considerada como o factor mais Atrair qualquer investidor com


importante para o sucesso do investimento as tarifas existentes seria
1. Situação Tarifária no sector de electricidade. Angola tem de extremamente difícil, se não
momento, uma das tarifas mais baixas da impossível.
região.

Angola beneficia da sua prática de ter um De momento investimento


sistema legal que protege os investidores, privado fora do sector petrolífero
particularmente no sector petrolífero. Num é limitado e pela sensibilidade
universo de 155 países o Banco Mundial dos bens energéticos e contínua
2. Protecção legal ao coloca Angola como número 48. Contudo, política incerta, os investidores
investidor Angola situa-se abaixo de países verão nisso um alto risco.
subsaarianos, incluindo a Namíbia e a
Zâmbia. Ademais, o Banco Mundial
considera Angola um país difícil para
negociar contratos.

Angola é membro do MIGA, organização que Correntemente apenas um


capacita os investidores a terem seguro número muito limitado de
contra riscos políticos e não políticos. O garantias multilaterais estão
3. Governo/ MIGA está neste momento envolvido em disponíveis, o que não permite
dois projectos em Angola cujo montante protecção significante para os
Garantias multilaterais atinge os US$6.4 milhões. Angola está na investidores.
categoria 7, o que significa que há poucos
fundos disponíveis para garantias dos países
membros da OCDE.

A disciplina dos consumidores em termos de Fontes significantes de risco,


pagamentos em Angola é fraca, com ligações como em outros países têm
ilegais e faltas de pagamentos. De acordo experimentado muita resistência
4. Disciplina dos
com um inquérito realizado por operadores ao sector privado.
consumidores em termos
do sector, cerca de 40% dos clientes
de pagamentos
considerados como maus pagadores foram
vistos como um problema em termos de
potencial investimento.

Em sectores sensíveis tais como o social e o Isso pode ser visto como um
político, como no caso do sector da energia, sério risco, especialmente se um
os investidores devem estar confiantes em contrato tem de ser assinado pelo
assegurar obrigações contratuais. Em Angola governo (exemplo: contrato de
5. Obrigações contratuais são necessários 47 procedimentos e mil dias concessão)
para o fazer. Investidores internacionais
serão provavelmente forçados em acreditar
em acordos internacionais, usualmente não
testados.

Angola está listada como um dos mais Há sérios problemas


difíceis países em termos de falência. administrativos em termos de
6. Decisão clara das regras
negócios, mas não apresentam
graves riscos ao investidor.

Angola é cotada como um dos países mais Isso representa um sério risco
corruptos do mundo pela Transparência para potenciais investidores que
7. Índice de Corrupção
Internacional. poderiam ser sérios parceiros no
desenvolvimento do país.

Na coluna onde se apresenta como título “ANGOLA OFERECE”, na


tabela acima, deve ter-se em conta que se trata da opinião do Banco Mundial

24
Análise baseada no documento do Banco Mundial intitulado “World Bank’s Doing Business 2006”.

154
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

(sem comentários) no momento em que o seu estudo foi realizado. Um


exemplo claro dos erros dessa instituição é o caso do Aproveitamento
Hidroeléctrico de Capanda que na sua concepção foi reprovado por aquela
instituição. O que seria o sector de energia de Angola hoje se a central
hidroeléctrica de Capanda não tivesse sido construída?
Apesar de algumas dificuldades ainda existentes, Angola é um dos
países que mais cresce no mundo em termos económicos. Tendo em conta a
seriedade com que o Governo se empenha, há condições promissoras para
que os investidores privados tenham o seu lugar garantido no sector
eléctrico do país.

A participação do sector privado


Considerando o rápido crescimento da procura de electricidade no
país nos últimos anos fruto do crescimento da economia e os recursos
energéticos existentes, é importante que o Governo continue a empreender
reformas na economia e em particular no sector eléctrico, visando a criação
de um ambiente propício ao envolvimento do sector privado nas infra-
estruturas.
É importante que se proceda quanto mais cedo possível à reforma do
sistema tarifário de electricidade e à introdução de tarifas que reflictam os
custos efectivos. Com estes elementos equacionados adequadamente, vários
serão os operadores que estarão interessados em tomar parte no
desenvolvimento do sector eléctrico quer como produtores independentes
através de contratos de concessão BOO – constrói – possui – opera, BOT –
constrói – opera – transfere e ROT – reabilita – opera – transfere, quer na
distribuição.
Segundo a legislação vigente, é admissível, no Sector, a iniciativa
privada através de Parcerias Público Privadas, ao abrigo da Lei 11/03, de 13
de Maio – Lei de Bases de Investimento. A Lei 14A/96 Lei Geral de
Electricidade, estabelece um conjunto de princípios gerais que visam a
promoção da concorrência nos mercados de produção e distribuição de
energia eléctrica e o fomento da iniciativa privada.
A produção e distribuição de energia eléctrica, ao abrigo da Lei 4/02,
de 16 de Abril, Sectores Económicos de Reservas Relativas do Estado,
podem ser exercidas por empresas ou entidades não integradas no Sector
Público mediante contratos de concessão (BOT, BOOT, etc.);
Angola possui um potencial hidroeléctrico considerável que se estima
superior a 18 000 MW. Dentre as 48 bacias que o país possui, estão estudadas
apenas 6. Dos 18.000 MW, quase 800 foram explorados.

155
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Potencial Hidroelectrico e Capacidade Instalada

Bacia Nº Centrais Capacidade Energia garantida Centrais Capacidade Numero


Hidroelectrica Previstas estimada (MW) (GWh) Existentes instalada (MW) Unidades
Lucala 7 980 3785
Kwanza 10 6780 26200 Cambambe 180 4*45
Capanda 520 4*130
Longa 7 1190 4796
Queve 8 3020 11786
Catumbela 15 1679 8783 Lomaum 35 2*10+3*15
Biopio 14,4 4*3,6
Cunene 14 2045 8976 Matala 40,8 13,6*3
Dande Mabubas 17,8 2*3+2*5,9
Outros Luquixe 1,1 2*0,36+1*0,4
Cunje 1,6 3*0,54
Total 61 15.694,0 64.326,0 810,7

As principais bacias de Angola são:

Bacia do Kwanza
 Regulação do caudal no Médio Kwanza ate 500 m3/s, viabiliza a
construção de mais 7 aproveitamentos hidroeléctricos a jusante,
incluindo o aumento da capacidade em Cambambe de 180 para 780
MW. Neste momento foram explorados 700 MW, sendo 520 MW em

 Capanda e 180 MW em Cambambe. Esta bacia tem condições


excelentes para promover a interligação dos sistemas eléctricos de
Angola e a sua ligação à rede Regional. Também tem grandes
potencialidades para a irrigação.

Bacia do Cunene

 A barragem do Gove sofreu danos durante a guerra e está agora em


reabilitação. A sua função principal é regular o caudal do rio Cunene
para melhorar o funcionamento dos Aproveitamentos a jusante
designadamente Matala e Calueque no Sul de Angola e do Ruacaná
na Namíbia;
 Esta regulação permitirá também o desenvolvimento de outros
empreendimentos a jusante como é o caso do Baynes na fronteira
entre os dois países;
 A Barragem do Gove será equipada com 3 unidades de 20 MW cada
para reforçar a capacidade de geração do
Sistema Centro

156
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

157
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Capítulo 10

ASSOCIAÇÃO DAS EMPRESAS DE


ELECTRICIDADE DA ÁFRICA AUSTRAL

“A Visão da SAPP é facilitar o


desenvolvimento de mercados competitivos de
electricidade em que o consumidor final,
dentro da região da SADC, tenha em última
instância a a possibilidade de opção sobre o
fornecedor preferido de energia eléctrica. (...)
O desafio da SAPP será o de gerir todas as
dificuldades e incertezas previstas que devem
emergir durante o período de transição da
administração de um mercado cooperativo
para a mais competitiva associação
geográfica do mundo”

Lawrence MUSABA

158
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Introdução

A Associação das Empresas de Electricidade da África Austral (SAPP)


foi criada em Abril de 1995 no âmbito do tratado da SADC com vista por um
lado a optimizar a utilização de recursos energéticos disponíveis entre os
países da região e por outro a apoiarem-se mutuamente em períodos de
emergência. No momento da criação, os governos da SADC concordaram
permitir que fossem as suas empresas electricidade a fazer os acordos
necessários que regulam a criação e funcionamento da SAPP. Nesse sentido,
a adesão de membro da SAPP ficou restrita às empresas nacionais de
electricidade conforme disposição constante do Memorando de
Entendimento Inter-Governamental (IGMOU). Entretanto, no Memorando
revisto de Fevereiro de 2006, a adesão de membro à associação foi alargada a
outras Empresas de Fornecimento de Electricidade.

Existem quatro documentos jurídicos cobrindo direitos e obrigações


dos participantes da SAPP:

(i.) Memorando de Entendimento Inter-governamental (IGMOU) que


autoriza as empresas de electricidade a participar na SAPP e fazer
contractos, e garante o desempenho financeiro e técnico das empresas de
electricidade;

(ii.) Memorando de Entendimento Inter-Empresas (IUMOU) entre as


participantes, definindo a propriedade dos activos e outros direitos, como a
disposição que permite a alteração da condição de membro participante para
membro operador;

Acordo entre membros operadores (ABOM), que determina a


(iii.)
interacção entre as empresas de utilidade pública em relação às
responsabilidades de operação em condições normais e de emergência;

(iv.) Directrizes de Operação (OG), que definem a partilha de custos e


responsabilidades funcionais para a operação e manutenção de centrais
eléctricas, incluindo as regras de segurança.

A base da SAPP conforme definida no IGMOU é a necessidade de


todos os participantes de:

159
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

(a) Coordenar e cooperar no planeamento e operação dos seus


sistemas de modo a minimizar os custos, ao mesmo tempo em que mantêm
a fiabilidade, autonomia e auto-suficiência no nível que desejam;

(b) Recuperação total dos seus custos e partilha equitativa dos


benefícios resultantes, incluindo reduções na capacidade de produção,
redução de custos com combustíveis e utilização melhorada da energia
hidroeléctrica;

(c) Coordenar e cooperar em acções de planeamento,


desenvolvimento e funcionamento de um mercado regional de electricidade
com base em exigências dos Estados Membros da SADC.

O Acordo com o País Anfitrião (HCA) foi assinado a 13 de Março de


2006 entre o Governo do Zimbabué e a SAPP, atribuindo ao Centro de
Coordenação o Estatuto Diplomático. Igualmente um Memorando de
Entendimento entre a SAPP e a Associação Regional de Reguladores de
Electricidade (RERA) sobre a ligação e interacção entre as duas partes foi
rubricado em Abril de 2007.

Estrutura da SAPP
SADC

Comité Executivo

Comité de Gestão

Sub – Sub – Gestão Sub- Sub -


Comité Comité do Comite Comité
de de Centro Ambienta de
Planeam Operaçõ de l Mercado
ento es Coorde s
nação
Centro de Coordenação

Os Ministros e Entidades da SADC são responsáveis por questões de


politicas que normalmente recaem sobre o seu controlo dentro do
mecanismo administrativo e legislativo nacional, regulando a relação entre o
Governo e as empresas nacionais de electricidade.
Os directores gerais das empresas participantes e um representante
do Secretariado da SADC formam o Comité Executivo. O Comité Executivo
encaminhará questões como por exemplo, solicitação de adesão como
membro de países não membros da SADC e principais questões de politicas

160
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

que podem ser levantadas, aos Ministros de Energia da SADC. Um país que
possua mais de uma empresa de electricidade terá de designar qual a
empresa que representará esse país no Comité Executivo.
O Comité de Gestão fiscaliza e delibera sobre as recomendações dos
Sub-comités e do Conselho de Administração do Centro de Coordenação.
O Sub-comité de Operações é constituído por representantes de
empresas de electricidade já interligadas e que efectuam a venda de energia
em grande escala. São os chamados Membros operativos, representando
presentemente 9 países – Botswana, África do Sul, Zâmbia, Zimbabué,
República Democrática do Congo, Lesoto, Moçambique, Namíbia e
Suazilândia. As funções dos Comités incluem, a criação e actualização de
métodos e padrões que visam avaliar o desempenho técnico, procedimentos
de funcionamento, incluindo o funcionamento das obrigações de reserva.
O Sub-Comité de Planeamento estabelece e actualiza os padrões
planeamento e fiabilidade, revê planos de geração e transmissão, avalia os
softwares e outros instrumentos de planeamento, determina a capacidade de
transferência entre os sistemas, etc.
O Sub-Comité Ambiental é constituído de representantes nomeados por
cada Membro operador. O Comité desenvolve Directrizes Ambientais a
favor da SAPP, estabelece a ligação com os Governos para mantê-los
informados sobre questões mundiais e regionais relacionadas com a
qualidade de ar, água, utilização de terras e matérias ambientais. Nos casos
em que os Governos já tenham Organizações Ambientais, o Comité tem de
estabelecer contactos com tais organizações de modo a auxilia-los em
questões específicas.
O Comité de Mercados é responsável pela concepção e desenvolvimento
contínuo do Mercado de electricidade dentro da região e determina os
critérios para autorizar este comércio.
Os Sub-Comités são constituídos de dois representantes, no máximo
por cada Membro, com posições sénior a fim de terem capacidade para a
tomada de decisões pertinentes.
O Centro de Coordenação reporta ao Conselho de Administração do
Centro de Coordenação que é constituído de um máximo de dois
representantes de cada Empresa Nacional de Electricidade, signatárias do
IUMOU.

Visão, Objectivos, Estratégia e Valores da SAPP

A visão da SAPP é facilitar o desenvolvimento de mercados


competitivos de electricidade em que o consumidor final dentro da região da
SADC tenha em ultima instância a possibilidade de opção sobre o
fornecedor preferido de energia eléctrica. Para promover a visão e
transformá-la em realidade, a SAPP deve mudar de uma associação

161
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

cooperativa para uma entidade competitiva no mercado de comércio de


electricidade, quer em termos de contractos físicos como financeiros. O
desafio da SAPP será o de gerir todas as dificuldades e incertezas previstas
que devem emergir durante o período de transição da administração dum
mercado cooperativo para a mais competitiva associação geográfica no
mundo.

Os objectivos da SAPP são:


 Servir de fórum para o desenvolvimento de um sistema eléctrico
interligado de classe mundial, robusto, seguro, eficiente, fiável e estável na
região.
 Harmonizar as relações inter empresas de electricidade.
 Coordenar o desenvolvimento do padrão regional comum sobre a
Qualidade do fornecimento; medição e monitoria dos sistemas de
desempenho; aplicação efectiva dos standards, e facilitar o desenvolvimento
de competência regional através de programas de formação e investigação.

Missão

A missão da SAPP é fornecer energia eléctrica a baixo custo, que seja


ambientalmente segura e acessível e aumentar o nível de acessibilidade às
comunidades rurais.

Estratégia

No quadro do seu funcionamento, a SAPP pretende firmar-se como a


região mais preferida para investimentos de mais valia pelos consumidores
intensivos de energia.

Valores

 Respeito de outrem e desenvolver confiança mutua


 Honestidade, total equidade e integridade no tratamento de
questões
 Altruísta no desempenho dos deveres
 Plena prestação de contas à organização e seus intervenientes
 Encorajar abertura e objectividade

162
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Centro de Coordenação da SAPP

O Centro de Coordenação da SAPP foi estabelecido em Harare,


Zimbabué, no começo do ano de 2000. O centro representa o ponto focal da
SAPP e tem um quadro de pessoal que trabalha no sentido de avançar a sua
visão e os desafios técnicos. Além do Administrador, outros 7 técnicos de
apoio distribuídos nas áreas de Finanças, Tecnologias de Informação,
Ambiente e Secretariado estão presentemente empregados no Centro.

As funções do Centro de Coordenação da SAPP são:

 Implementar os objectivos da SAPP;


 Servir de ponto focal das actividades da SAPP;
 Facilitar a implementação de um Mercado competitivo na região;
 Monitorar as operações de transacções da SAPP entre os membros;
 Levar a cabo estudos técnicos sobre o sector energético que
permitam avaliar o impacto de projectos futuros no funcionamento da
associação;
 Coordenar a formação do pessoal dos membros de maneira a
melhorar o conhecimento da região relativamente às operações da
associação de electricidade;
 Fornecer as estatísticas de energia da associação e manter a base de
dados da associação para propósitos de planeamento e
desenvolvimento.

Um sítio de Internet foi criado como meio de comunicação da SAPP


para o mundo e para informar as pessoas interessadas sobre as actividades
da SAPP. O Centro de Coordenação também actua como Secretariado dos
vários comités da SAPP e seus sub-comités.
Os doze membros da SAPP financiam as actividades do Centro de
Coordenação mediante um fundo de subscrição anual. O Centro de
Coordenação elabora um orçamento e este é submetido ao Conselho de
Administração do Centro de Coordenação para aprovação. O Conselho de
Administração do Centro de Coordenação é constituído de administradores
seniores representantes de empresas e uma das funções é fiscalizar as
actividades do Centro de Coordenação incluindo a aprovação do orçamento.
Este orçamento é utilizado para efeito de pagamento de salários do pessoal e
outros custos operacionais da SAPP.
Auditores conceituados internacionalmente foram nomeados para
auditar periodicamente as finanças do Centro de Coordenação da SAPP. O
relatório financeiro auditado é posteriormente distribuído aos membros e é
igualmente publicado como parte do Relatório Anual da SAPP.

163
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Membros da SAPP

Nome Completo da Empresa Estatuto Abreviatura País


Botswana Power Corporation OP BPC Botswana
Electricidade de Moçambique OP EDM Moçambique
Electricity Supply Commission of Malawi NP ESCOM Malawi
Empresa Nacional de Electricidade NP ENE Angola
Eskom OP Eskom RSA
Lesotho Electricity Corporation OP LEC Lesotho
NAMPOWER OP NamPower Namibia
Societe Nationale d’Electricite OP SNEL DRC
Swaziland Electricity Board OP SEB Swaziland
Tanzania Electricity Supply Company Ltd NP TANESCO Tanzania
ZESCO Limited OP ZESCO Zambia
Zimbabwe Electricity Supply Authority OP ZESA Zimbabwe

OP = Membro operativo
NP = Membro não operativo

Qualidade de Membro da SAPP

A regulamentação e qualidade de membros da SAPP derivaram do


desejo de cooperação económica e integração, partilha equitativa de recursos
e apoio mútuo em tempos de crise, no quadro do protocolo da SADC. O
ambiente em que a associação de electricidade opera actualmente, e o
desenvolvimento em curso de um mercado competitivo, alterarão
significativamente a base de funcionamento da SAPP. Neste sentido, muito
recentemente a associação passou em revista a sua regulamentação e
qualidade de membros com vista a alcançar um mercado competitivo
incluindo a cedência de acesso a um número maior de participantes.
Assim, com a mais recente revisão de acordo IUMOU, a qualidade de
membro da SAPP está aberta às empresas nacionais de electricidade e outras
Empresas de Fornecimento de Energia (Serviços de Electricidade,
Produtores Independentes de Electricidade, Empresas Independentes de
Transporte e/ou Prestadores de Serviços do mercado de electricidade), dos
países membros da SADC. Segundo o indicado na Tabela 1 a seguir, existem
actualmente nove membros operativos e três membros ainda não operativos.

164
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Realizações da SAPP

Desde a altura da criação da SAPP em 1995, as seguintes realizações


foram alcançadas:

i. A abertura oficial do Centro de Coordenação da SAPP em


Harare a 18 de Novembro de 2002 foi caracterizada como um grande
sucesso. O Convidado de honra foi o Ministro dos Petróleos de Angola: Sua
Excelência José Maria Botelho de Vasconcelos.
ii. A assinatura do Memorando de Entendimento Inter-
Governamental revisto (IGMU) pelos Ministros da SADC responsáveis pelo
sector de energia em Gaberone, Botswana, a 23 de Fevereiro de 2006, foi o
começo da reestruturação da SAPP. OS Directores Gerais das Empresas
Membros assinaram à posteriori o Memorando de Entendimento Inter-
Empresa (IUMOU) a 25 de Abril de 2007 em Harare, Zimbabué. Por
conseguinte, outras Empresas de Fornecimento e/ou Transporte de Energia
e Prestadores de Serviços para a electricidade, dos Países Membros da
SADC, podem agora fazer parte da SAPP.
iii. A resolução sobre as relações SAPP-RERA e o Memorando de
entendimento foi assinado em 25 de Abril de 2007 em Harare, Zimbabué.
Trata-se dum acordo de cooperação que vai permitir às duas instituições
trabalhar conjuntamente e cooperar para o bem-estar comum dentro da
região da SADC.
iv. A SAPP adoptou o método científico para a determinação dos
encargos de transmissão. Assim sendo, a nova determinação dos encargos
de transportação de energia eléctrica foi implementada num período de mais
de três anos que arrancou a 1 de Janeiro de 2003. No mesmo ano, a SAPP
também, aprovou a aplicação do Artigo 11.3.3 do Acordo Entre os Membros
que Operam mas com percas no sistema de transporte.

v. Desenvolvimento dum mercado competitivo de electricidade

 Em Abril de 2001, a SAPP inaugurou o mercado de electricidade


de curto-prazo (STEM) como precursor de um mercado totalmente
competitivo. No momento da publicação deste relatório, existem oito
participantes do STEM de um número inicial de dois no arranque do
mercado em Abril de 2001
 O desenvolvimento do mercado de electricidade competitivo
arrancou em Janeiro de 2004 quando o Acordo entre o Governo da Noruega
e a SAPP fez uma doação de 35 milhões de Coroas Norueguesas (NOK) à

165
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

associação para este propósito. A SAPP está actualmente a realizar o teste da


plataforma de negócio do dia seguinte – day-ahead market-trading
platform - desenvolvida pela associação dos países nórdicos. O Comité
Executivo da SAPP determinará a data da abertura do mercado. As
recomendações do Comité Executivo deverão aguardar até que sejam
solucionadas as questões inerentes à regulamentação dentro da SAPP, mas
espera-se que a abertura do mercado aconteça no final do ano de 2007.
 A fim de assegurar o desenvolvimento adequado e a operação
do mercado competitivo de electricidade, a SAPP desenvolveu uma política
de determinação de preço de transporte de energia a longo-prazo e
procedimentos de implementação e serviço de apoio ao mercado. A SAPP e
a Sida assinaram um acordo em Julho de 2004, que inclui assistência
financeira para a obtenção de serviços de consultoria tendo para este
objectivo, sido contratada uma Empresa Inglesa, denominada Power
Planning Associates (PPA).

vi. Projectos de transmissão concluídos

 A linha de 400kV Matimba (África do Sul) – Insukamini


(Zimbabué) estabelecendo a interligação entre a Eskom da África do Sul e a
ZESA do Zimbabué em 1995.
 Fez-se uma derivação para a sub-estação BPC Phokoje a partir
da linha de Matimba para permitir que o Botswana se ligasse à rede da
SAPP a 400kV em 1998.
 A interligação a 330kV Mozambique/Zimbabwe foi
comissionada em 1997.
 A reabilitação das linhas DC a 533kV entre Cahora Bassa,
Moçambique e a sub-estação de Apollo, África do Sul foi concluída em 1998.
 A linha a 400kV entre Aggeneis, África do Sul e Kookerboom,
Namíbia em 2001.
 A linha a 400kV entre Arnot, África do Sul e Maputo,
Moçambique em 2001.
 A linha a 400kV entre Camden na África do Sul via Edwaleni
na Suazilândia para Maputo, Moçambique em 2000.
 O interligação a 220kV entre Livingstone,Zambia e Katima
Mulilo (Namibia) foi comissionado em 2006.

vii. Criação do Westcor

A criação e lançamento do Corredor Ocidental de Energia


(WESTCOR) em Abril de 2002 visando o desenvolvimento de recursos de
produção hidroeléctrica na RDC, Angola e Namíbia e as ligações de
transporte de energia desde a RDC via Angola, Namíbia, Botswana à África

166
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

do Sul, incluindo uma rede de telecomunicações, foram decisões altamente


saudadas na região. Para este propósito um Escritório do Projecto foi aberto
em Maio de 2006 em Gaberone, Botswana.

viii. Directrizes Ambientais finalizadas e aprovadas pela SAPP

 Directriz sobre avaliação do impacto ambiental (EIA) das


linhas de transporte
 Directriz sobre avaliação do impacto ambiental (EIA) de
Centrais Eléctricas Térmicas
 Directrizes sobre Gestão de Derrames de Petróleo
 Directrizes para Controlo, Processamento, Armazenagem,
Remoção e Manuseamento em Segurança de Material Contendo Amianto.
 Directrizes de Gestão e Controlo de Infra-estrutura de
Electricidade com respeito à Interacção Animal.

ix. Outros projectos concluídos

Os outros projectos concluídos incluem os seguintes:

 Conclusão do Plano da SAPP em 2001. Em 2006, a SAPP


recebeu do Banco Mundial uma doação que visava avaliar o Plano da
Associação e aguarda-se que o Plano Revisto da Associação seja concluído
em Novembro de 2007.
 Em 2001, a SAPP recebeu do Banco Mundial uma doação que
visava realizar um estudo sobre como melhor interligar as três áreas de
controlo. As recomendações do estudo apontam para a utilização da solução
VSAT a curto-prazo e a fibra a longo-prazo. Nesse momento a SAPP já
concluiu a implementação da solução VSAT e o projecto já foi comissionado.

 Projecto de redução da frequência foi concluído em 2003. A


SAPP reduziu a frequência de operação de 50 +/-0.05 Hz para 50 +/-0.15
Hz. As novas bandas de frequências foram implementadas em Janeiro de
2003.

Comércio de Electricidade

Com base no actual Memorando de Entendimento Inter-


governamental, no plano geral o comércio de electricidade na SAPP visa
engajar as empresas nacionais de electricidade em contractos bilaterais de
longo e curto-prazo de fornecimento e consumo de energia eléctrica. Nesse
quadro, os acordos inter-governamentais e os acordos bilaterais entre as

167
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

empresas de electricidade formam a base e apoio de comércio


transfronteiriço de electricidade na região da SADC. As actividades de
rotina subsequentes incluem planeamento, resolução de disputas,
monitoramento da qualidade de fornecimento e realização de investigações
pormenorizadas sobre flutuação, perturbação brusca de energia e grandes
avarias nos sistemas energéticos.
Quanto aos preços de contratos bilaterais de energia são negociados
entre o comprador e o vendedor. A estrutura de fixação de preço dos
contractos bilaterais é diversa, com alguns contractos tendo capacidade e
taxas de energia que tem em conta a hora de consumo, em períodos de pico
ou não. Outros contractos possuem taxas uniformes.
Os acordos bilaterais contém disposições sobre garantia de
fornecimento, mas não são flexíveis ao ponto de acomodar perfis de procura
e preços variáveis. De modo a explorar mais os benefícios, o fornecimento e
planeamento de energia eléctrica próximo do tempo de despacho, a SAPP
desenvolveu um mercado de energia de curto-prazo (STEM) como opção de
fonte e garantia de fornecimentos próximo do tempo real de despacho. O
STEM foi concebido para especificamente simular o despacho em tempo
real. (Ver Figura abaixo).

Acordos Bilaterais na SAPP (2005)

Capacity [MW] Energy [GWh]


ZESCO-Eskom 80280
SNEL-ZESA 110 770
SNEL-Eskom 100 700
HCB-ZESA 250 1800
HCB-Eskom 1370 2500
Eskom-ZESA 150 793
Eskom-SEB 96 868
Eskom-NamPower 200 1045
Eskom-LEC 100
230
Eskom-EDM 950 5875
Eskom-BPC 210 1606

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

HCB: 1,770MW (Hydro). Eskom: 1,706MW (Térmico)

168
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Mercado de energia de curto - prazo

O objectivo de um mercado padrão é estabelecer um mercado


eficiente e fortemente competitivo de venda a grosso de electricidade para
benefício dos consumidores. Isto poderia ser feito através do
desenvolvimento de mecanismos consistentes de mercado e sinais eficientes
de preços para a aquisição e transporte fiável de electricidade, combinado
com a certeza de acesso equitativo e aberto ao sistema de transporte. Com
vista à concepção do STEM, foram considerados os seguintes critérios:

Direitos de transporte – Os contractos bilaterais de longo e curto-prazo


entre participantes têm precedência no transporte nas interligações da SAPP
sobre os contractos STEM. Todos os contractos STEM estão sujeitos aos
constrangimentos de transferência tal como verificados pelo Centro de
Coordenação da SAPP.

Exigências de garantias – Aos participantes são exigidas suficientes


garantias junto do Centro de Coordenação antes do arranque das
transacções e é necessário uma garantia separada para cada contracto de
energia.

Pagamento – Os participantes têm a total obrigação de efectuar o


pagamento da energia comercializada e os custos associados da energia. Os
montantes destes pagamentos são baseados em facturas e são pagos através
da conta de compensação do Centro de Coordenação. É responsabilidade
dos participantes (compradores) garantir que fundos suficientes sejam pagos
na conta de compensação para que o Centro de Coordenação efectue o
pagamento aos participantes respectivos (vendedores).

Moedas de comercialização – As opções de moeda são o Dólar dos


Estados Unidos da América ou o Rand da África do Sul, dependente do
acordo entre o comprador e o vendedor.

Método de atribuição – A atribuição das quantidades disponíveis com


base na capacidade disponível de transporte será feito através de um
concurso competitivo e equitativo com partilha igual das quantidades
disponíveis aos compradores.

Contractos firmes – Uma vez contratados, as quantidades e preços são


fixos e definitivos. Actualmente, existem três tipos de contractos de energia
que foram promovidos no quadro do STEM como se seguem: contractos
mensais, semanais e diários.

169
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

A tabela seguinte resume a rotina de comercialização diária no STEM.


É importante notar que o período de submissão de propostas e ofertas ao
concurso encerram em simultâneo.

Rotina de Comercialização Diária no STEM

Às 08H30, um dia antes da comercialização – O Centro de Coordenação


publica a taxa de câmbio entre o Dólar dos Estados Unidos da América e o Rand
da África da Sul.

Qualquer momento antes das 09H00, um dia antes da comercialização – Os


participantes submetem suas propostas e ofertas ao Centro de Coordenação
para contractos futuros diários.

Às 10H00, um dia antes da comercialização – O mercado é encerrado e o


Centro de Coordenação efectua a comparação das propostas e ofertas de
qualquer dia de comercialização;

Às 14H00, um dia antes da comercialização – O Centro de Coordenação faz


a publicação dos resultados a todos os Participantes.

Em relação ao período de 1 Abril de 2005 a 31 Março de 2006,


correspondendo ao período fiscal do Centro de Coordenação da SAPP, o
fornecimento de energia eléctrica de curto-prazo (STEM) foi de 423-GWh e a
Procura correspondente foi de 3,700-GWh. A energia comercializada foi de
178-GWh a um custo médio de 96 cêntimos do dólar//kWh. Para o mesmo
período de 1 de Abril de 2006 a 31 de Março de 2007, os números de oferta e
procura foram de 377-GWh e 1,118-GWh, respectivamente. A energia
comercializada registou um aumento no seu custo, mas com uma Procura
muito inferior [ver figura abaixo].

Resumo da Comercialização de Energia


(1 de Abril a 31 de Março do ano seguinte)

A venda total de energia


Energy Traded [GWh]
Monetary Value [US$x1000]
para o período de 1 Abril de 2005 a
31 Março de 2006 foi de US$2.2
3 500
milhões e as vendas
2 800 correspondentes para o período de 1
2 100 de Abril de 2006 a 31 de Março de
1 400 2007 foram de US$3.1 milhões.
(Ver figura da página seguinte)
700
Embora seja a mesma quantidade
- comercializada durante ambos os
2005 2006 períodos, nota-se que o custo de
energia no período de 2006 foi

170
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

incrementado devido à redução de oferta de energia no mercado.

Comercialização de energia versus valor monetário


(1 de Abril a 31 de Março do ano seguinte)

O desenvolvimento do mercado
Supply Demand
Energy Traded competitivo de electricidade arrancou
4 000 em Janeiro de 2004 quando um Acordo
entre o Governo da Noruega e a SAPP,
3 000 deu origem a uma doação à associação
2 000 num total de 35 milhões de Coroas
1 000 Oferta
Norueguesas para esse fim. O mercado
competitivo vai substituir o STEM. O
-
GWh

STEM foi desenvolvido como precursor


2005 2006 de um mercado totalmente
competitivo. A experiência derivada
das operações do STEM forma a base
para o desenvolvimento e implementação de um mercado de electricidade
competitivo para a região da SADC.

Principais Desafios

Apesar das realizações enumeradas, a SAPP ainda enfrenta desafios


importantes para o seu futuro de que falamos em seguida.

Reestruturação e reformas do sector de electricidade – Os Membros da


SAPP deverão submeter-se a processos de reforma e reestruturação do
sector de electricidade que está a ganhar varias formas. A reestruturação nos
países da região significa que os membros da SAPP poderão eventualmente
alterar-se na medida em que mais empresas estão a surgir com a separação
de algumas actividades das antigas empresas nacionais. Existe a
probabilidade de aumento de actores intervenientes na SAPP como
resultado dos processos indicados anteriormente e isto terá um impacto
maior sobre os membros e operações da SAPP. Enquanto que os membros
da SAPP estão sendo reestruturados, a SAPP está também a fazer a transição
de associação cooperativa para associação competitiva.

Electrificação – A electrificação, e em particular a electrificação rural é


a pedra angular para a integração e desenvolvimento económico. O nível de
electrificação para a maioria dos países membros da SAPP é inferior a 30%
significando que grande parte da população ainda não tem acesso à energia

171
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

limpa. O desafio é aumentar o acesso aos serviços modernos de energia e


distribuição.

Capacidade dos recursos humanos incluindo o impacto do VIH/SIDA sobre


as Empresas – Este é um problema regional e afecta as operações das
empresas membros. Cada vez mais quadros educados e formados estão a
falecer como resultado disto e a sua substituição representa custos
elevadíssimos aos membros e à região como um todo.

Redução da capacidade de produção excedentária - O maior desafio que a


região da SADC enfrenta prende-se com a redução da capacidade de
produção excedentária. Nos últimos dez a quinze anos, a Procura de energia
na região da SADC tem estado a aumentar num ritmo de cerca de 3% por
ano. Infelizmente, não tem havido investimentos correspondentes nas infra-
estruturas de produção e transporte para ir de encontro à Procura, e como
consequência, a capacidade de reserva de produção excedentária tem estado
a reduzir firmemente durante os últimos anos. A redução da capacidade de
produção excedentária na região da SADC tem um impacto negativo sobre
as economias da região e isso ameaça os potenciais investidores.

O incremento da procura de energia na região tem sido causado pelos


seguintes factores já identificados:

o Expansão económica nos estados membros, o que exige mais


energia para fornecer às novas industrias.
o Aumento demográfico da maior parte dos estados membros
da SADC combinado com o aumento de programas de electrificação.
o Tarifas não – económicas na maior parte dos estados
membros que não apoiam os reinvestimentos na produção de energia, mas
permitem que grandes utilizadores intensivos de energia se desloquem na
região da SADC e instalem suas operações.
o Nenhuma significativa injecção de capital em projectos de
produção e transporte nem do sector privado nem público.

172
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Capacidade Instalada e Disponível na SAPP

Capacidade
Capacidade Disponível
No. País Empresa
Instalada [MW]
[MW]
1 Angola ENE 742 590
2 Botswana BPC 132 120
3 DRC SNEL 2,442 1,170
4 Lesotho LEC 72 70
5 Malawi ESCOM 305 253
6 Mozambique EDM 233 137
HCB 2,250 2,075
7 Namibia NamPower 393 390
8 South Africa Eskom 42,011 36,398*
9 Swaziland SEB 51 50
10 Tanzania TANESCO 591 480
11 Zambia ZESCO 1,632 1,630
12 Zimbabwe ZESA 1,990 1,825
SAPP Interligada 51,206 43,865

SAPP Total 52,844 44,998

A capacidade total instalada em países membros da SAPP é de cerca


de 53,000MW [ver Tabela 3], mas a capacidade disponível é somente de
45,000 MW devido a limitações técnicas. A capacidade fiável é ainda
reduzida para cerca de 41.000 MW na medida em a capacidade
hidroeléctrica vária dependendo da estação e outros constrangimentos. O
pico da Procura em 2006 foi de 42.000 MW com perdas registadas em
grandes extensões da região. Tendo em conta que existe a necessidade de
reservas contínuas acima de 4.000 MW não incluídas nestes números, fica
claro que a situação de défice regional se está a tornar num grave desafio
para as empresas de electricidade. Com base em experiências globais, tais
desafios serão melhor resolvidos mediante uma cooperação regional
rigorosamente formalizada no sector de energia, através de associações tais
como a SAPP.
No de periodo de 2004-2006 um total de 1140 MW da capacidade
instalada foi comissionada, consistindo de construções de novas centrais
eléctricas e actualização das existentes. Em 2007 uma capacidade adicional
de 1450 MW será instalada, principalmente na África do Sul. Os planos
existentes para o período 2007-2010 indicam projectos de reabilitação e
produção a curto – prazo de aproximadamente 13,500 MW, caso sejam
disponibilizados recursos financeiros suficientes.

173
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Mesmo com uma taxa de implementação optimista para projectos de


produção, a taxa de crescimento de consumo de energia eléctrica de 3,6 %
por ano ou seja entre 1000 – 1500 MW por ano, implicará riscos claros de
perdas adicionais de cargas em partes da região. Para esse efeito, iniciativas
de Gestão extensiva da Procura são necessárias e algumas já estão sendo
iniciadas, em especial na África do Sul, com resultados positivos.
Um inquérito realizado em 2006 pelo Centro de Coordenação da
SAPP revelou que todas as Empresas Membros da SAPP registaram um
crescimento positivo na Procura de energia durante o período de 2001 a
2005, principalmente devido ao aumento das actividades económicas nos
seus países. O pico da Procura das empresas ocorreu quase ao mesmo tempo
e basicamente não houve qualquer diversidade de carga no sistema
interligado da SAPP e nem benefícios de diferenças horárias na região.

Histórico e crescimento da projecção do pico da Procura (1998 – 2012)

Available Capacity SAPP Demand

60.000

50.000

40.000
[MW]

30.000

20.000

10.000

1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Year

No diagrama acima, observa-se que o pico da Procura não


coincidente na SAPP durante o inverno de 2006 foi de cerca de 42,000MW
contra uma capacidade disponível de 45,000MW. Os acordos da SAPP
exigem aos seus membros que mantenham uma capacidade de reserva de
geração de energia de cerca de 10,2%. Isto quer dizer que o pico máximo que
a SAPP deveria atingir é de 40,400MW (45,000MW capacidade disponível
menos 10.2%). Por conseguinte, o pico registado em 2006 deve ser
considerado como sendo o pico máximo que a SAPP pode atingir com a
capacidade disponível. Infelizmente, a Procura continua crescente de um
lado e por outro lado a produção mantém-se estática, indicando que o pico
máximo nos anos vindouros incrementará além do limite estipulado. Isto é a
demonstração da redução da capacidade de produção excedentária que a

174
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

região enfrenta actualmente e esse quadro deve ser invertido. O diagrama


também mostra que, em 2007, o pico da Procura da SAPP será igual à
capacidade de produção disponível e a região não terá muita capacidade de
reserva à qual recorrer. O diagrama-6 também confirma o sublinhado no
diagrama-5 que em 2007 a região esgota a sua capacidade de produção
excedentária. O diagrama 2 indica a posição da capacidade de reserva na
SAPP se nenhuma capacidade de produção for construída nos próximos
anos. Em 1998, a SAPP tinha uma capacidade de produção de reserva
superior a 11,000MW i.e., cerca de 24%. Com o passar dos anos, a produção
de reserva tem estado a decrescer firmemente devido às razões indicadas
acima e espera-se que essa capacidade continue a decrescer a menos que
novos investimentos em infra-estrutura de produção sejam feitos.

Perfil da Capacidade de Reserva da SAPP (1998 a 2012)

Reserve Capacity

15.000

10.000

5.000
[MW]

-
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
(5.000)

(10.000)
Year

A fim de inverter a capacidade decrescente de produção excedentária


e evitar a iminente crise de energia na região da SADC, a SAPP tomou as
seguintes medidas:

Implementação de projectos prioritários: A SAPP formulou uma


Lista de Projectos Prioritários, que se espera sirva de guia orientadora para
projectos de investimento para os investidores, Sector Público e Privado. Os
projectos prioritários da SAPP são os seguintes:
Projectos de reabilitação e infra-estruturas associadas: Estes estão
actualmente em curso e a maior parte deles está em construção e serão
finalizados antes de 2007. Uma vez finalizados, eles vão acrescentar
3,200MW de energia ao sistema da SADC. O custo estimado é de cerca de
US$1,4 biliões.

175
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

Projectos de produção a curto-prazo: A conclusão destes projectos


está prevista para 2010. Estudos de viabilidade e avaliação de impacto
ambiental dos projectos foram concluídos. Alguns dos projectos já tem
garantia de financiamento e para aqueles sem financiamento disponível, a
SAPP está à busca de fontes de financiamento via diferentes iniciativas. Uma
vez concluídos, os projectos de produção a curto-prazo vão acrescentar cerca
de 4,200 MW ao sistema, com custos estimados em aproximadamente
US$3.8 biliões.
Projectos de transportação: Estes visam interligar os três membros
ainda não em operação da SAPP (Angola, Malawi e Tanzânia) ao sistema da
SAPP. Os outros projectos e especialmente os de transporte interno, visam
aliviar a congestão do sistema da SAPP e a evacuação de electricidade das
centrais de produção para os centros de carga. O programa de congestão
norte-sul que arrancou tem como objectivo aliviar a congestão no sistema de
transporte da SAPP entre o norte e o sul, e também promover e facilitar o
comércio entre os países membros da SAPP.
Projectos de produção de médio e longo-prazo: Estes têm por
objectivo fornecer energia à região da SADC a médio e longo-prazo. Entre
estes destacam-se o Projecto Energético do Corredor Ocidental, Westcor, que
se espera que transporte cerca de 3,500-4,000MW de energia desde o Inga-3
na RDC para a África Austral e transporte ainda até 6,500MW de produção
do Rio Kwanza em Angola.

Publicitação de projectos prioritários: A SAPP e a NEPAD estão a


trabalhar com os Ministros responsáveis de energia da região da SADC a
fazer a publicitação destes projectos prioritários e dessa forma captar
financiamento para projectos de produção e transporte de médio e longo-
prazo. A Conferencia Regional sobre Investimentos em Electricidade da
SADC foi realizada na Namíbia, em Setembro de 2005 e tinha como objectivo
atrair investidores para o sector energético da SADC. Uma outra conferência
está planeada para o próximo ano.

Regulação e Tarifário de Energia: Os Ministros responsáveis pela


energia da SADC garantiram oficialmente abordar as questões inerentes à
regulação, e implementar tarifas que reflictam os custos e adoptar princípios
reguladores que melhorariam estas tarifas. O apoio político dos Governos da
SADC é essencial para a implementação de tarifas que reflictam os custos.
Foi iniciado um estudo sobre tarifas pela SAPP. O objectivo do estudo é
avaliar o princípio de fixação de tarifa usado pelos governos da SADC e suas
empresas nacionais de electricidade e compará-los com as melhores praticas
de outras parte do mundo. O estudo vai igualmente avaliar as questões
subjacentes à fixação da tarifa e o preço de electricidade, incluindo a função

176
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

de regulador nesses países e a importância de se ter o regulador em alguns


casos.
Para que a SAPP conclua os projectos em curso e aqueles em
reabilitação e implementar os projectos de curto e longo-prazo, um total
estimado de US$43 biliões seria necessário, como indicado na tabela
seguinte.

Custo e Datas de Implementação dos Projectos da SAPP

Projectos de Produção da SAPP Capaci Custo Periodo de


dade[ Estimado Implementação
MW] [US$
Milhões]
1 Em curso & Em desenvolvimento 3,211 1,410 2005 - 2007
2 Reabilitação 1,048 523 2007 - 2010
3 Curto – prazo (Nova Construção) 4,217 3,830 2005 - 2010
4 Longo – prazo (Nova Construção) 43,542 37,585 2011 - 2020
Capacidade Total Planeada 52,018 43,348

Por exemplo, para satisfazer a capacidade necessária na África do Sul,


a Eskom planeia despender mais de 97 biliões de Rands (cerca de US$14
biliões), num período superior a 5 anos, na expansão da capacidade,
incluindo a reabilitação. O regresso à operação de três centrais eléctricas
desactivadas nomeadamente Camden, Grootvlei e Komati está em curso e
seriam concluídas antes de final de Julho de 2007. A expansão de maior
capacidade na África do Sul incluirá novas centrais alimentadas por carvão,
nova tecnologia de armazenagem bombeada, turbina a gás de ciclo aberto
(na baia de Atlantis e Mossel) e as linhas de transporte associadas. As
turbinas a gás de ciclo aberto na baia de Atlantis e Mossel serão concluídas
antes de final de Abril de 2007.

Conclusão

A SAPP está actualmente confrontada com a redução da capacidade


de produção excedentária. A redução contínua da capacidade de produção
excedentária terá um impacto negativo sobre as economias da região da
SADC, caso não seja invertida a actual tendência. Afim de inverter a redução
da capacidade de produção excedentária, a SAPP desenvolveu um
programa que consiste na implementação de projectos prioritários na
produção e transporte, de maneira a evitar-se a crise energética. O sucesso
quanto à implementação deste programa é crucial para o desenvolvimento
da região, notando que a energia é pedra angular do desenvolvimento.

177
Capítulo 11

REFORMA E
REGULAÇÃO “Vertically integrated, state-owned
utilities are characterized by poor
NA INDÚSTRIA performance due to several weaknesses,
DE among them: low revenues, high
management costs, low availability of
ELECTRICIDAD plant and equipment, high network losses
E and adverse effects of exchange losses in
the purchases of fuel and equipment.
Government may wish to increase
economic efficiency by opening the sector
to private participation”

Jorry MWENECHANYA
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Introdução

A energia usa padrões e tendências muito relacionadas com o


desenvolvimento económico e social. À medida que as nações progridem e
se modernizam, elas dependem cada vez mais das formas de energia
comercial, as quais contribuem para um maior desenvolvimento. Onde o
crescimento económico e o desenvolvimento social têm sido preservados, tal
como acontece nos países desenvolvidos da Europa e da América, isso tem
acontecido graças a um ciclo virtuoso no qual a energia alimenta o
crescimento, o qual intensifica a procura de energia. Em contraste, os países
Africanos a sul do Saara continuam fortemente dependentes das formas
tradicionais de energia dominadas pelo carvão vegetal e dejectos de animais.
Não é pois de estranhar que essa região possua os mais pobres indicadores
de desenvolvimento humano.

Índices de Mortalidade Infantil e Juvenil

A mortalidade infantil é medida pelo número de crianças falecidas


antes de completarem um ano de idade em cada mil habitantes. As cores
mais escuras da figura abaixo são as dos países com maiores índices de
mortalidade infantil. Isso prova que na maioria dos países africanos a sul do
Saara a mortalidade infantil é maior que 60 em cada mil habitantes, e em
alguns países superior a 130. Antagonicamente na África setentrional, na

179
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

maioria dos países da América Latina e da Ásia os índices são inferiores a 30;
Na maioria dos países da OCDE o índice é inferior a 10.

Fonte: United Nations World Population Prospects Report (2005 – 2010)

Uma outra forma de avaliar a situação nacional de saúde é pelo rácio


de crianças falecidas por ano, até aos cinco anos de idade. A figura seguinte
compara estatísticas de 1990 e 2006 para diferentes regiões do globo.

É importante ter em conta o seguinte:

 Em 1990, a mortalidade infantil na África Subsaariana foi de 4,1


milhões, o que representa 32.2% da de todo o universo; isso significa
que na África Subsaariana, em 1990, faleceram quase um terço de
todas as crianças de todo o universo.

180
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

 Por volta de 2006, a África Subsaariana aumentou a sua participação


percentual a nível do globo passando dos 32.2% anteriores para quase
50%.
 Mesmo tendo diminuído numa ordem de 24% os índices de
mortalidade infantil a nível mundial entre 1990 e 2006 a África
Subsaariana aumentou a sua taxa em mais 17%.

As estatísticas para outros indicadores de desenvolvimento mostram


uma disparidade similar entre as tendências de progresso no resto do
mundo e os de estagnação e retrocesso na África Subsaariana.

Rendimentos

As receitas na África Subsaariana são as mais baixas do mundo,


comparadas apenas à algumas partes da Ásia. A figura seguinte apresenta a
distribuição das receitas “per capita” mundial a partir da qual se pode divisar
que a África Subsaariana tem uma concentração de países com os mais
baixos níveis de proventos por pessoa.

GDP (PPP¹) per Capita US$, 2006

Fonte: IMF

A África do Sul e o Botswana são excepções notáveis, cujo “per capita”


é de 10 a 20 dólares americanos, enquanto quase todos os outros países da
região têm menos do que cinco dólares por pessoa.
Como seria de esperar as estatísticas económicas e sociais são de facto bem
consistentes.

Uso de Energia

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

O uso de Energia na África Subsaariana reflecte o estado de indigente


desenvolvimento da região.

OECD shares of 5.33 Gto (Primary Energy Use 2001)

As figuras acima exibem a energia primária por proveniência em 2001. Na


África Subsaariana o combustível renovável e desperdícios totalizaram 61.5% em
termos globais; a proporção em muitos dos países individualizados como
Moçambique, Malawi e Angola ultrapassa os 80%. Os países da OCDE usaram
apenas 3.3%. Daí tem-se a percepção do reverso da medalha: Nos países da OCDE a
energia comercial, principalmente o petróleo bruto e o gás, foi de 62%, quase a
mesma percentagem do uso do combustível renovável e desperdício na África
Subsaariana. Em 2000 cada pessoa consumiu em média 280 Gigajoules nos países
da OCDE comparados aos 25 Gigajoules por pessoa na África Subsaariana. Para um
habitante na África Subsaariana mais de 60% da energia consumida foi de
combustível renovável e desperdícios.
Esses contrastes reforçam a correlação do uso de energia com o estágio de
desenvolvimento económico e social das nações. A África Subsaariana precisa de
melhorar o acesso aos serviços de energia moderna e isso é essencial para a melhoria
da educação e da saúde e para possibilitar as comunidades de escaparem à pobreza
extrema.

As Reformas do Sector Eléctico

Em toda a África há tentativas para constituir reformas no sector


eléctrico. A seguir são apresentadas algumas considerações-chave:

1. As empresas estatais verticalmente integradas são caracterizadas por


fraco desempenho devido a várias insuficiências, entre as quais:
baixos salários, altos custos de gestão, pouca disponibilidade de
espaço físico e de equipamento, elevadas perdas de redes e efeitos
adversos das perdas em trocas cambiais na compra de combustível e
equipamento. Os Governos devem ambicionar o aumento da

182
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

eficiência económica abrindo as portas do sector à participação


privada.
2. Tem havido uma aptidão cada vez mais decadente dos governos a
nível mundial, especialmente em África, para o uso de fundos
públicos para a expansão de infra-estruturas. Há pressões para
serem libertos recursos para a saúde, educação e outros serviços
sociais. Mais, devido ao seu fraco desempenho, as empresas de
electricidade têm sido incapazes de gerar receitas para o
reinvestimento da expansão e reforço dos sistemas de electricidade.
Desse modo as reformas frequentemente procuram a participação do
sector privado como fonte de investimento.
3. A electricidade precisa de chegar a mais pessoas do que à corrente
minoria, maioritariamente concentrada à volta das zonas urbanas,
especialmente nas cidades capitais. A Zâmbia é um exemplo típico.
O número de habitantes com acesso à energia eléctrica é de cerca de
20%; o índice de acesso nas zonas urbanas é de 35% contrariamente
aos 3% das zonas rurais; na cidade capital de Lusaka, o acesso à
energia eléctrica é de 55%. Assim, além do fraco acesso geral, o
processo de reforma deve também considerar as questões de
equidade.

A urgência das reformas tem crescido a partir do meio da década dos


90 seguindo uma tendência iniciada na Europa, América Latina e América
do Norte. Houve diferenças na definição para as reformas do sector
eléctrico. Nas três regiões mencionadas, particularmente na Europa e na
América do Norte a razão nuclear para a reforma foi a competição. Isso iria
possibilitar ao consumidor usufruir uma melhor qualidade de serviço a
preços competitivos. No reino Unido, por exemplo, isso implicou uma
diversificação de fontes de combustíveis, com muita resistência por parte
dos então poderosos sindicatos mineiros de carvão. Por outro lado o
governo britânico estava determinado em aproveitar a vantagem de utilizar
o gás natural como fonte competitiva para a geração de electricidade.

Participação do Sector Privado

Após 10 a 15 anos de reforma, a participação do sector privado no


sector de electricidade dos países Africanos mantém-se diminuta e marginal.
Em 2003 estimativas do Banco Mundial indicavam que entre 2005 e 2010 a
electricidade na África Subsaariana iria necessitar de um investimento de 3.2
biliões de dólares americanos por ano em novas centrais e 2.9 biliões de

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

dólares americanos para manutenção de modo a fazer face à procura de


electricidade na região. Considerem-se então os níveis de participação do
sector privado entre 1994 e 2005 espelhados na figura abaixo. Esse é o
período das tentativas das reformas do sector eléctrico.

Se alguma tendência
pudesse ser visualizada, seria a
de um grande declínio. Há
seguramente uma grande
discrepância entre as
necessidades de investimento
estimadas e o interesse mostrado
pelo sector privado. É difícil
visualizar como os países
Africanos somente a partir dos
impostos poderão fazer face à
essa situação se tivermos ainda
em conta que na maioria dos países os empréstimos do sector público ou não
são viáveis ou não são aceitáveis.
Como contraste, tem havido menos investimento na África
Subsaariana do que na Ásia Austral, uma região com índices comparáveis
de desenvolvimento. Isso pode ser evidenciado na figura abaixo.
Durante o período de 10 anos que antecedem 2005, o sector privado investiu
300 biliões de dólares americanos em todo o mundo; desse montante, apenas
7 biliões foram utilizados na África Subsariana.

O Déficit de Electricidade na SADC

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

Correntemente existe um défice significante de electricidade na


Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e isso é uma ameaça à
continuidade de crescimento económico e desenvolvimento social. A figura
seguinte dá a conhecer a ponta máxima da previsão da procura de
electricidade para a Southern African Power Pool – SAPP (Bolsa de
Electricidade da África Austral).

Em 2007/2008 a procura ultrapassou a oferta e a tendência existente é


a da continuidade da não criação de mais capacidade significativa de
geração. Em 2007/2008 vários sistemas de redes nacionais tiveram falhas
completas e foram obrigados a tomar medidas bastante difíceis para
restabelecer o fornecimento de energia eléctrica. Entre esses países estão a
Zâmbia, o Zimbabwe e a Namíbia. A razão principal das falhas residiu na
diminuição das margens de reserva em virtude da insuficiente capacidade
de produção. Em Janeiro de 2008, como resultado das falhas dos sistemas
nacionais na rede da SAPP, a mesma acabou por ficar separada em três ilhas,
nomeadamente: Zâmbia-RDC ( ZESCO e SNEL), Zimbabwe-Moçambique
(ZESA, Norte da BPC e EDM/HCB), e África do Sul (Eskom, BPC, EDM,
LEC, SEB, NamPower). No fim de Junho de 2008 a Zâmbia e a RDC ainda se
encontravam separadas da SAPP.

Os Estágios de Reforma

No movimento iniciado nos inícios da década de 90 tinha-se a


percepção que os governos iriam embarcar em estágios de reforma tais para
finalmente culminarem numa retirada maioritária ou total dos interesses do
estado nas empresas de electricidade. O primeiro desses passos seria a
“corporatização”, que significava transformar as empresas de serviço
estatutário em companhias geridas com base em leis comerciais. Isso seria
relativamente fácil e, em alguns casos, não iriam envolver qualquer acção
uma vez que as empresas já eram, pelo menos teoricamente, entidades

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

corporativas em vez de agências de serviços estatutários. O segundo passo


seria o de comercializar as operações, adoptando um estilo marcadamente
lucrativo na gestão das empresas de electricidade. Isso seria também
tecnicamente fácil, pelo menos superficialmente, desde que os governos
estivessem prontos para justificar a adopção das políticas necessárias. O
terceiro passo seria a escolha de opções disponíveis para parcerias com o
sector privado e implementa-las permitido às empresas ter operações
comerciais, e desse modo prepara-las para o estágio final da parceria
público-privada.
Parece que a maior parte das reformas parou no estágio da
comercialização. Mesmo aqui está provada a dificuldade de se seguir em
frente. Para que haja comercialização é necessário que as empresas de
electricidade analisem politicamente áreas muito sensíveis de gestão, tais
como custos laborais, arrecadação de receitas e a execução de projectos de
expansão. Contudo, de longe, o mais sério desafio foi como aumentar os
preços a níveis viáveis. Muito embora admitindo que os preços fossem
baixos, os governos tinham receio dos seus impactos social e político.
Particularmente no caso da energia eles tiveram também de fazer face a
ramificações económicas de larga escala.

A Desverticalização

A desverticalização da indústria de electricidade significava a


separação da geração, transporte e distribuição de electricidade. Um
objectivo importante da desverticalização era a implementação de uma
gestão transparente da rede de transmissão, algo que iria assegurar geração
independente (privada) de acesso aos consumidores. Os governos seguiram
esse caminho com hesitação e trepidação. Na Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral, apenas a Namíbia, a África do Sul e o
Zimbabwe implementaram reformas, e mesmo essas tenderam para a
parcialidade. No caso do Zimbabwe sentiu-se que o governo estaria disposto
a inverter essas mudanças em 2007. Muitas razões podem ser encontradas
para descrever a aparente falta de entusiasmo para a reestruturação das
empresas. Entre essas razões, e essa não é a menor, é a ligação dessas
reformas com preços mais elevados que, com provas evidentes, parece ter
feito muito pouco para aumentar os fluxos de investimento. Tem sido fácil
encontrar exemplos desses impactos, ainda que a maior parte das
comparações seja selectiva, superficial e convenientes.

A Regulação Independente

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

A maioria dos membros da SADC estabeleceu reguladores de


electricidade que operam fora da burocracia formal dos governos. Contudo,
muitos deles não têm as características e atributos essenciais para tomadas
de decisão independentes. Logo à primeira oportunidade, os operadores do
sector rapidamente discernem que o poder da regulação tem liderança
política. Isso destrói a autoridade e a credibilidade do regulador. A partir de
experiências tiradas dessas lições, algumas generalizações podem ser
deduzidas sobre os principais constrangimentos.

Nomeação dos gestores conceptuais

Os procedimentos de nomeação de gestores de topo são críticos para


assegurar a independência do regulador. Algumas práticas são ditadas por
tradições, outras por decisão deliberada do executivo. Seja qual for a razão, o
efeito é o mesmo. Os pontos de partida dos defeitos são os seguintes:

 As nomeações (normalmente feitas pelo Presidente da República ou


pelo Ministro de Tutela) não são sujeitas à escolha independente;
 A autoridade que nomeia, designa o Responsável do regulador;
 Os funcionários superiores do regulador são nomeados pelo Gestor
Responsável, mantendo-se na posição de funcionários do quadro do
governo;
 O Ministro tem poder para demitir o dirigente máximo do regulador.

Essas práticas embaraçam a habilidade do Responsável para agir ou


pelo menos parecer que aja de forma independente da orientação do
governo. Concebida como uma voz separada e criada a custo considerável
tal regulador é enfraquecido logo à nascença.

Orçamento e Finanças

A forma como um operador é constituído pode limitar a sua


independência e dar margem à sua manipulação. A maior parte dos
reguladores auferem os seus rendimentos com base nas receitas de licenças e
dos rendimentos das empresas. Contudo, dependendo da forma como os
fundos são utilizados, o regulador poderá ser mal financiado porque os
valores recebidos podem ser não utilizados convenientemente; essa situação
pode também dar lugar a que a influência do governo seja muito forte na
decisão do regulador. Algumas das práticas mais usadas são as seguintes:

 O tesouro recebe os fundos e depois envia-os para o regulador;


 O orçamento do regulador é aprovado pelo Ministro da tutela ou
outro órgão executivo do governo;

187
RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

 As condições de trabalho dos quadros do regulador são aprovadas


pelo Ministro da tutela.

Mandato do Regulador

O mandato do regulador é frequentemente fraco em termos de


autoridade integral em questões chave do regulador. Por exemplo, algumas
agências reguladoras têm um papel de aconselhamento na regulação do
preço. Cabe ao Ministro a decisão final, a qual pode ser contrária ao parecer
da agência reguladora. Mesmo que o regulador seja considerado como um
órgão capaz de fornecer um parecer independente e profissional, o resultado
final é sempre sujeito ao sancionamento do executivo. O facto de o regulador
ter no processo de revisão uma análise rigorosa e a melhor prática de
regulação de preços, tem pouco peso se as decisões são da responsabilidade
do Ministro ou do Presidente.
Em outras situações o regulador tem plena autoridade para decidir
sobre ajustamento de preços. Mas as condições de trabalho são tais que o
regulador conquista a total confiança do executivo antes da publicação da
decisão. Como mencionado anteriormente, durante um processo de
comercialização, os preços sobem inevitavelmente, por vezes
substancialmente. Isso faz de facto sentido para acautelar uma negativa
reacção do público. As consultas do regulador com a liderança política
ajudam a gerir tais reacções de forma coerente. Infelizmente, o Ministro ou o
Presidente delinearão tais consultas diferentemente e podem usar tais
oportunidades para expressar pontos de vista que podem resultar numa
ordem ara rescindir ou rever a decisão. Quando combinada com outras
fraquezas estruturais, tais como fortes poderes ministeriais de admissão ou
exoneração, o regulador irá resignar-se. O carácter do regulador pode
regressar ao primeiro caso em que passa a ser um órgão de consulta, excepto
nesse caso, em que o regulador mantém uma fachada de independência.

Inexperiência

Alguém poderia esperar que a inexperiência de um regulador recente


poderia ser ultrapassada com o tempo. Para muitos reguladores o problema
não está na sua juvenilidade; na realidade há reguladores em África que já
trabalham há cerca dez anos. Eles estão a ficar familiarizados com as teorias
económicas e técnicas da regulação. Também adquiriram as ferramentas
tecnológicas e de computação necessárias para exercerem as suas funções de
forma efectiva. Contudo, a acumulação de experiência real é obstruída pelas
limitadas oportunidades para praticar. Como visto anteriormente, a reforma
estrutural das empresas tem sido limitada e a participação do sector privado
mantém-se marginal. Nessas circunstâncias, o escopo para uma regulação
significativa é limitada. A inexperiência mina a capacidade para agir de

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA/2010 CEIC/UCAN

forma independente: a experiência garantirá aos reguladores mais confiança


nas suas relações com os líderes políticos e engendra credibilidade aos olhos
dos participantes da indústria.

Politicas e Gestores

Em quase todas as agências reguladoras os gestores conceptuais ou


membros do Conselho de Administração são responsáveis pelas decisões de
regulação, com base no aconselhamento do seu pessoal administrativo.
Como essas decisões nunca tiveram qualquer impacto na economia em
geral, nem em entidades particulares, há sobre os ombros desses gestores
uma responsabilidade pesada. A questão da inexperiência tal como
discutida na secção anterior aplica-se igualmente aos responsáveis e aos
trabalhadores administrativos. Uma das consequências da inexperiência é
que os gestores não têm confiança para impor o poder do seu mandato. Se a
situação clama por uma punição exemplar à empresa pública, o regulador
não se sente em condições para agir e evita controvérsias fechando os olhos
perante sérias irregularidades desse órgão.
Outras fraquezas comportamentais são atribuídas aos métodos de
nomeação, segurança de permanência no escritório e comportamentos
pessoais dos seus proprietários. Os responsáveis normalmente não estão
interessados em desavenças com a liderança política. Mesmo quando se trate
simplesmente de promover um ambiente de trabalho mais aconchegante,
poderia ainda significar a capitulação de independência. Ser independente
significa que as decisões regulatórias nem sempre estão de acordo com os
interesses dos líderes políticos. Mas esse desejo de evitar diferenças tem
outra face: os responsáveis podem ter uma lealdade permanente para com a
autoridade que o nomeia; eles podem até ter ambições políticas que os levem
a aproximar-se mais do poder estabelecido.

Quando a independência reguladora capitula

Quando um regulador não é capaz de actuar de forma independente,


o propósito da sua existência é diluído e pode certamente ser questionado. O
governo impõe a sua autoridade deliberadamente ao regulador para o
benefício social e económico do país. Se a prioridade é o crescimento do
sector através de novo investimento ou se é para melhorar e manter uma alta
qualidade de serviços, a premissa é que regulação independente dá lugar a
resultados benéficos. A perda de independência tem impacto na regulação
para o governo dando origem ao seguinte:

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RELATÓRIO ENERGIA EM ANGOLA 2010 CEIC/UCAN

 Perda de confiança no ambiente regulador pelos participantes


privados, o que dá lugar a sinais negativos aos potenciais
investidores;
 O fraco desempenho financeiro das empresas não é verificado
resultando em deterioração e contracção de serviços;
 Há escassos prospectos de crescimento do sector e melhoria do acesso
à electricidade.

Conclusão

Uma oportunidade acaba de chegar à arena económica internacional


para que a África use os seus recursos naturais para garantir o seu
crescimento económico e desenvolvimento social. Nos últimos cinco anos,
muitos países na África Subsaariana têm registado significantes índices de
crescimento económico, alguns acima dos 10%. Falhas na infra-estrutura
energética, particularmente em electricidade, ameaçam essas tendências de
crescimento. Uma gestão eficiente do sector de electricidade e o
envolvimento do sector privado necessita de uma atenção política urgente.
Mais, os governos devem ser resolutos na implementação de normas de
procedimento nessa direcção.
A reforma do sector de electricidade tem caminhado de forma
hesitante e a regulação independente enferma de muitos pontos fracos. Os
dois estão relacionados de forma muito estreita. Enquanto há muitas
justificações para a aparente falta de interesse no investimento para o sector
eléctrico por parte dos privados, de certeza que isso não implica que a
indústria se mantenha com a mesma estrutura e gestão. Os governos
precisam de resolver os conflitos inerentes dos papéis entre políticas
dirigidas e gestão quando se trate das empresas de electricidade. Isso poderá
ajudar a estimular um maior fluxo de capitais privados e ajudar a
redireccionar os recursos públicos para outros sectores do desenvolvimento
social.

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