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SUMÁRIO
138 RESUMO
138 ABSTRACT
141
5.2 – METODOLOGIA
143
5.2.2 – Análises Laboratoriais
Petrobras/UFS
SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DA PLATAFORMA CONTINENTAL DE SERGIPE-ALAGOAS 138
RESUMO ABSTRACT
O fundo marinho profundo adjacente aos Estados de Sergipe e The deep marine seafloor adjacent to the States of Sergipe
Alagoas apresenta uma particularidade que o diferencia do con- and Alagoas presents a particular feature that sets it
texto existente no nordeste do Brasil, isto é, a existência de um apart from the rest of NE Brazil, namely the existence of a
amplo leque submarino associado do rio São Francisco. Em um submarine fan associated with the São Francisco River. In
espaço geográfico tão pequeno, é possível encontrar uma varie- such a small geographic space it is possible to encounter
dade de contextos geológicos, que incluem também a região a variety of geological contexts which also include the
costeira e marinha rasa. O controle morfo-estrutural condicio- coastal and shallow marine regions. The morpho-structural
nou fortemente a paleogeografia regional, inclusive induzindo control strongly influenced the regional paleogeography,
a formação de sistemas rio-mar, em especial, no Quaternário, leading to the formation, during the Quaternary, of river-
com a deposição marinha profunda, em canais e leques sub- fed submarine systems, notably channels and fans. In the
marinos. Na morfologia do fundo submarino, os canais não for- seafloor morphology, with the exception of the São Francisco
mam leques submarinos (com exceção do rio São Francisco) nas River, the channels do not form submarine fans at their
suas terminações e se unem em grande profundidade (3.500 downstream end and unite at great depths (3.500 to 4.000m),
a 4.000m), onde podem formar lobos submarinos, ainda não where they may form submarine lobes, not as yet identified.
identificados. No contexto do rio São Francisco, na terminação In the context of the São Francisco River, a series of volcanic
dos canais submarinos, existe um conjunto de montes vulcâ- seamounts block the submarine channels, diverting its course
nicos, que é contornado pelo canal e podem dar origem a um and ending perhaps as a submarine lobe. Study of the surface
outro lobo submarino em aguas ultra-profundas. Os estudos da sediment facies was based on samples collected by box-cores
faciologia dos sedimentos superficiais marinhos foram basea- during two oceanographic expeditions and analyzed in the
dos nas amostras coletadas por box- cores durante as duas cam- laboratory, with macroscopic and compositional descriptions,
panhas oceanográficas e analisadas em laboratório, com descri- laser measured grain size, carbonate content, bioclastic
ções macroscópicas, composicionais, granulometria à laser, teor composition, density, humidity, organic matter content and
de carbonato, descrição dos biodetritos, densidade, umidade, 14C dating. The spatial distribution of the surface sediments
teor de matéria orgânica e datações 14C. A distribuição espa- shows that the São Francisco and Japaratuba canyons are
cial dos sedimentos superficiais mostrou que, nos cânions São richer in siliciclastic material and poorer in carbonate content,
Francisco e Japaratuba, são mais ricos em material de origem which indicates a larger input of terrigenous sediments of
siliciclástica e pobres no teor de carbonatos, o que indica uma fluvial origin. The São Francisco River was responsible during
maior contribuição de sedimentos terrígenos, de origem fluvial. the Quaternary for the large sediment supply to the deep-sea.
O rio São Francisco foi responsável no Quaternário por um ele-
Keywords: Submarine Canyons; River-sea interaction;
vado aporte de sedimentos que influenciaram diretamente a
Sedimentology; Quaternary.
sedimentação em águas profundas.
Petrobras/UFS
SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DA PLATAFORMA CONTINENTAL DE SERGIPE-ALAGOAS 139
Figura 5.2 – Coleta de sedimentos do fundo marinho com o uso Sedimentos superficiais Testemunhos rasos
do amostrador Box Corer.
Os sedimentos superficiais foram estudados a partir das descri- Os testemunhos do fundo marinho foram coletados em transec-
ções sedimentológicas e da interpretação dos resultados das tos perpendiculares ao limite plataforma-talude, espaçados até
análises granulométricas. As amostras superficiais de sedimen- uma profundidade de 3.000m, coletando nos canais submarinos
to de fundo foram submetidas as análises composicionais e do e nas áreas entre eles, de forma a obter informações das variações
teor de carbonato no Laboratório Georioemar – UFS e as análi- deposicionais no sentido longitudinal à linha de costa. Sempre
ses granulométricas a laser foram realizadas em laboratório da que possível, os transectos foram planejados para obter amos-
UNESP – Rio Claro – SP. A granulometria a laser foi efetuada num tras dos sedimentos de fundo nos canais submarinos. Os sedi-
equipamento Malvern Mastersizer 3000. A difração laser mede mentos superficiais de fundo foram estudados com o objetivo de
as distribuições de tamanho das partículas por medição da va- reconstituir as mudanças na sedimentação e nas características
riação angular na intensidade da luz difundida à medida que um geoquímicas, nos últimos milênios. Os testemunhos rasos foram
feixe de laser interage com as partículas dispersas da amostra. coletados durante a campanha oceanográfica SED3, obtidos com
Os dados sobre a intensidade da dispersão angular são então a colocação de um cano plástico com 50 cm de comprimento, in-
analisados para calcular o tamanho das partículas responsáveis serido no amostrador Box Corer.
por criar o padrão de dispersão. A determinação da composição
Em laboratório, os testemunhos foram inicialmente descritos,
do sedimento foi realizada através de lupa binocular e a análise
observando-se as mudanças macroscópicas na granulometria,
para a determinação do teor de carbonato total seguiu o mé-
cor, identificação dos estratos e estruturas sedimentares, pre-
todo gravimétrico de eliminação do carbonato através do tra-
sença de restos de organismos macroscópicos, determinação
tamento com ácido clorídrico. As classes granulométricas foram
do teor em matéria orgânica, grau de umidade e densidade
obtidas através da utilização da escala de classificação de sedi-
do sedimento. O processo de subamostragem para retirada de
mentos de Wentworth (1922).
sedimentos obedeceu ao intervalo de 1 cm. Foram realizados
As análises sedimentológicas e geoquímicas foram realizadas registros fotográficos, antes do descongelamento do testemu-
para todas as réplicas das amostras das campanhas SED 3 e nho. As analises granulométricas foram realizadas através de
SED 4, com objetivo de permitir comparações entre os resul- granulômetro a laser, na UNESP-Rio Claro-SP. As classes gra-
tados e verificação de possíveis variações nas características nulométricas foram obtidas através da utilização da escala de
dessas, entre os períodos úmido e seco. Nas amostras da cam- classificação de sedimentos de Wentworth (1922).
panha SED 3, foram realizadas 113 análises granulométricas e
Amostras de foraminíferos, moluscos e restos vegetais encon-
determinações do teor de Cabonato (CaCO3), corresponden-
trados nos testemunhos, foram datadas na Beta Analitc em nos
tes as tréplicas nas 38 estações de coleta, com exceção de uma
EUA, através do método do Carbono 14 (14C) com contagem
replica (EN9R2) que foi abortada. Nas amostras da campanha
através de Espectrometria do Acelerador de Massa (Accelerator
SED 4, foram realizadas 114 análises granulométricas e deter-
Mass Spectrometry – AMS). As correções seguiram Stuiver et al.
minações do teor de CaCO3, correspondentes as tréplicas co-
(2005) e as idades mencionadas, expressas em idade radiocar-
5.3 – Coleta de sedimentos do fundo marinho com o uso de Box letas nas 38 estações.
Corer e com amostragem de testemunho raso em tubos plásticos. bono convencional, estão de acordo com a convenção de Stui-
ver e Polach (1977).
SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DA PLATAFORMA CONTINENTAL DE SERGIPE-ALAGOAS 143
Figura 5.7 - Percentual de ocorrência das frações granulométricas Figura 5.8 - Faciologia textural composicional do fundo marinho,
das amostras da campanha SED4 (período chuvoso – réplica 1), das amostras coletadas na campanha SED3 (período seco – répli-
no talude de Sergipe e sul de Alagaos. ca 1), no talude de Sergipe e sul de Alagoas.
SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DA PLATAFORMA CONTINENTAL DE SERGIPE-ALAGOAS 148
Testemunho Cn4
Esse testemunho foi obtido no talude superior, na isóbata Testemunho CN3 T1 R1
Carbonatos (%)
Profundidade (cm)
15
16
17
18
20 19
Profundidade (cm)
21
22
23
25 24
em todo o testemunho. 0 1
2
3
4
5 5
6
Os resultados do teor de carbonato desse testemunho, indi- 7
8
9
10 10
cam uma média de 17%, com exceção do intervalo localiza-
Profundidade (cm)
11
12
Profundidade (cm)
13
O teor de carbonato desse testemunho mostra que a sedi- Testemunho CN5 T1 R1 Carbonatos (%)
5 10 15 20 25 30
10 10
Profundidade (cm)
14
o topo, iniciando com 10% e atingindo nos sedimentos su-
15
16
18
perficiais 15%. 20
20
22
25
24
A datação com 14C no testemunho raso coletado a 700 m de 26
30
lâmina d´água apresentou idade do sedimento coletado a 29 28
30
34
% argila % silte % areia
Testemunho Cn7
Testemunho CN6 T1 R1
O testemunho Cn7 está localizado a aproximadamente
Carbonatos (%)
0 20 40 60 80 100 0
1
5 10 15 20 25 30
1.300m de profundidade, no canal confinado, com padrão
0 2
3
5
4
5
6
meandrante, sendo constituído por lamas, porém com
7
14
15 15
16
Profundidade (cm)
17
20
18
19
20
lama cinza e plástica e na base que é compacta e de cor
21
22
25 23
24
25
cinza escura (Figura 5.13). Vale ressaltar que um bloco,
26
27
30 28
29
30
com 14cm de diâmetro, composto por areia quartzosa fina
31
32
35
33
34
35
e esbranquiçada foi identificado aos 35cm da superfície.
36
40
Na análise por Granulometria a laser, não foi detectado
37
38
39
40
% argila % silte % areia
este bloco de areia fina.
0
0 20 40 60 80 100
0
1
2
e bivalves apresentaram idades próximas de 5,700 anos A.P.
3
4
5
5 6
7
8
9
O teor de carbonato no topo encontra-se entre 13% e 18%,
10 10
11
12
13
14
mas na zona intermediária a variação é maior, situando-
Profundidade (cm)
15
15
16
17
-se entre 14% a 26%. Na base do testemunho, a média do
Profundidade (cm)
20 18
19
20
25
21
22
23
24
carbonato está entre 19% e 22%.
25
30 26
27
28
35
29
30
31
A datação com 14C deste testemunho raso coletado a 1300
32
33
40 34
35
36
m de lâmina d´água, em amostra de bivalve, apresentou
37
38
45 39
40
41
da idade de 5.700 anos AP e taxa de sedimentação de 6,7
% argila % silte % areia 42
cm/1000 anos.
Profundidade (cm)
14
15 15
16
Profundidade (cm)
17
de lâmina d´água apresentou idade do sedimento, entre 15 20
18
19
20
21
4
-mar Japaratuba, juntamente com as datações de carbono 5
6
14 (14C).
Profundidade (cm)
8
10
Profundidade (cm)
10
12
Testemunho En3 15 14
16
20 18
O testemunho En3, coletado na cabeceira do cânion sub- 20
2
compactação dos sedimentos, resultando em lançamentos 4
8
ratório comprovou que as lamas do contexto Japaratuba 10
Profundidade (cm)
apresentam compacidade bem superior que aquelas cole- 12
14
20
24
testemunho, com valores entre 17% e 21%. Nos intervalos 26
Testemunho En4 Testemunho En6 Figura 5.18 – Perfil e resultados analíticos do testemunho raso
En5 (isobata de 700 m), no cânion Japaratuba.
O testemunho En4, coletado na isóbata de 400m, é com- A coleta do testemunho En6 foi dificultada pela alta com-
posto por lamas cinza escura, de baixa plasticidade e que pacidade dos sedimentos do fundo marinho, a exemplo de
se tornam mais escuras e compactas à medida que se apro- outros testemunhos coletados no cânion submarino do Ja-
Carbonatos (%)
xima da base (Figura 5.17). Verifica-se a presença de um bi- paratuba. Este testemunho é constituído por lama marrom, 0
5 10 15 20 25 30 35
valve no topo do testemunho e em ao longo de todo o tes- de baixa plasticidade, desde a superfície até a faixa média, 4
temunho, a presença de poliquetas e de nódulos de lamas quando passa a ser constituído por lama cinza de tonalida- 10
8
de cor preta. Esses nódulos provavelmente são seixos e ca- de escura, muito compacta e homogênea (Figura 5.19). Na 12
Profundidade (cm)
14
racterizam processos de retrabalhamento dos sedimentos zona superior do testemunho foram encontrados biodetri- 16
18
20
já existentes. O teor de carbonato nos sedimentos do topo tos. Identificou-se tubos de poliqueta e inúmeros biodetri- 22
24
e da zona intermediária apresentam um resultado unifor- tos na parte superior do e na base do testemunho. 26
28
Testemunho En5
O testemunho En5 é constituído no topo por lama marrom,
plástica e homogênea; na zona intermediária, por lama
Carbonatos (%) Carbonatos (%)
6
8
10
14
12
dos. Nódulos de lama de cor cinza clara foram encontrados 16
18 14
Profundidade (cm)
Profundidade (cm)
20 16
20
26
24
32 26
38 30
34
44
Profundidade (cm)
AP e uma taxa de sedimentação de 6,7 cm/1000anos. Já na 10 10
Profundidade (cm)
12
18
20
22
cm/1000 anos. Ao considerar apenas o intervalo entre as 25
24
duas amostras, este apresenta uma taxa muito alta de 69,2 % argila % silte % areia
26
28
cm/1000 anos.
Profundidade (cm)
10
8
e variam com 2 a 3cm de diâmetro.
10
0
0 20 40 60 80 100 0
e 30% e na base do testemunho, entre 30% e 33%.
2
5
essa idade (fora dos limites da datação 14C). Se a cobertura hemi-
Profundidade (cm)
5.3 – RESULTADOS ANALÍTICOS DOS SEDIMENTOS As amostras superficiais e os testemunhos rasos fornece- fologia atual do fundo marinho se destacam o cânion e o
SUPERFICIAIS ram informações importantes sobre os sedimentos do fun- leque submarino do rio São Francisco. Esta proeminência
5.4 – FACIOLOGIA SUPERFICIAL DOS SEDIMENTOS DE do marinho. Associando essas informações com as forne- ofusca as demais feições marinhas profundas, mas é decor-
FUNDO cidas pela análise geomorfológica, foi possível delinear os rente do fato de ter sido gerada na etapa mais atual da di-
sistemas sedimentares rio-mar, com aportes de sedimentos nâmica sedimentar, influenciada tanto pelo grande aporte
5.5 – FACIOLOGIA DOS TESTEMUNHOS RASOS
continentais fornecidos pelos sistemas fluviais existentes fluvial do São Francisco, como pela regressão marinha.
5.5.1 – Testemunhos Rasos do Sistema São Francisco na região: São Francisco, Japaratuba-Sergipe, Vaza Barris e
5.5.2 – Testemunhos Rasos Obtidos no Sistema No contexto do cânion São Francisco, as idades obtidas
Piauí-Real (Figura 5.23), na evolução recente (Quaternário)
Japaratuba por datação C evidenciam uma taxa de sedimentação
14
da Bacia sedimentar de Sergipe-Alagoas.
5.6 – SISTEMAS SEDIMENTARES RIO-MAR RECENTES NA maior nas porções proximais do cânion, da ordem de 37-39
BACIA DE SERGIPE-ALAGOAS O teor de carbonatos nos sedimentos superficiais ao lon- cm/1000 anos com expressiva redução nas profundidades
go dos cânions e canais submarinos é menor que o teor superiores a 1300 m (10,8-1,6 cm/1000 anos).
5.7 – CONCLUSÕES
na superfície entre os canais. Assim, evidencia o aporte de
5.8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS sedimentos de origem continental nos cânions/canais e o Integrando os dados obtidos na análise da planície cos-
domínio da sedimentação marinha nas áreas entre canais. teira do São Francisco e dados de sub-superfície, há in-
dicações que, no momento inicial, o rio se dirigia para
No Quaternário tardio, o rio São Francisco foi responsável sul, acompanhando o alto morfo-estrutural de Ponta dos
por elevado aporte de sedimentos que influenciaram di- Mangues, e atingia a região da plataforma e o talude con-
retamente a sedimentação da plataforma continental ad- tinental. Nesta fase, ocorreu a incisão do talude, com o de-
jacente, estabelecendo uma clara diferenciação entre os senvolvimento do cânion Sapucaia (Figura 5.23). Em uma
setores a norte e a sul da foz, em função da distribuição dos etapa posterior, o rio São Francisco avançou no centro pla-
sedimentos siliciclásticos de origem continental. Associado nície costeira, criada pela ação da neotectônica e escavou
ao rio São Francisco, em águas profundas, existe um cânion o cânion na porção central que se destaca na morfologia
e um leque submarino bem delineado. Evidências morfo- submarina, atingindo uma profundidade de 750 metros.
lógicas indicam que o canal migrou consideravelmente em Este cânion coincide com o traço de uma das falhas sub-
águas profundas, o que fica evidenciado por antigos canais
marinas que ocorrem na região.
(Oliveira Jr. et al., neste volume). Os estudos indicam que
em águas ultra-profundas, no encontro com os montes vul- Os canais submarinos, desenvolvidos na base do talude, até pro-
cânicos submarinos, o sistema tenha desviado para norte, fundidades de 3.500 m podem ser agrupados em: canais restri-
gerando possivelmente outro leque submarino. Na mor- tos à base do talude e canais do leque submarino (Figura 5.23).
SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DA PLATAFORMA CONTINENTAL DE SERGIPE-ALAGOAS 159
O cânion submarino, associado ao rio Japaratuba, está var esta interpretação. No topo do testemunho dominam O sistema rio-mar Vaza-Barris desenvolve-se ao longo de
associado às falhas que afetam sedimentos da bacia sedi- lamas, na porção intermediária ocorre um bloco contendo uma zona de falha, do continente ao oceano e este contro-
mentar Sergipe-Alagoas e que foram reativadas no perío- material grosseiro (cascalhos) e na base, é formado por la- le morfo-estrutural condiciona todo o desenvolvimento do
do Terciário-Quaternário. O cânion e o canal submarino do mas. A datação por 14C em bivalves, na porção de detritos sistema. O rio Vaza-Barris tem uma única foz, mas na bor-
Japaratuba acompanham o conjunto da zona de falha de da porção intermediária, forneceu uma idade superior à da da plataforma continental apresenta diversos pequenos
Ponta dos Mangues e inflete para sul em águas profundas. 43.000 anos AP e a datação da porção do topo forneceu cânions submarinos. Estes cânions funcionam como tribu-
Assim, o traçado do cânion e canal submarino é oblíquo idade de 940 anos AP. A idade maior, pode estar relacio- tários para a formação de um canal submarino Vaza-Barris,
em relação à borda da plataforma continental, devido ao nada a um bloco já existente (erodido da borda da plata- constituindo-se assim, em um modelo diferente dos outros
controle estrutural. forma e transportado para águas profundas ao longo do sistemas rio-mar em Sergipe. Em águas profundas, após a
canal submarino). Nessa hipótese, teria ocorrido uma mo- junção com tributários sub-aquosos, esse canal submarino
O cânion Japaratuba é uma feição de destaque na margem
vimentação de sedimentos no canal submarino, em torno aproxima-se do canal do Japaratuba.
continental da bacia Sergipe–Alagoas, devido as suas di-
de 1.000 anos antes do presente. Apesar de indicar uma
mensões que não podem ser explicadas pelo atual rio Japa- No contexto dos rios Sergipe, Vaza-Barris e Piauí-Real, é pos-
ratuba. Além do cânion, um canal submarino confinado por atividade de transporte e sedimentação no canal subma- sível que, no seu prolongamento em águas ultraprofundas,
diques bem expressivos, sulca a morfologia do fundo mari- rino, esse é um aspecto importante, uma vez que já estava se desenvolva um sistema de leque submarino, devido a
nho até mais de 4.000 m de profundidade. As discrepâncias em curso um processo de regressão marinha e o canal flu- associação dos canais submarinos do Vaza-Barris e do Piauí-
entre as dimensões do sistema fluvial atual do Japaratuba e vial já não aportava sedimentos com energia para atingir -Real. No prolongamento dos canais em águas profundas, a
as feições geradas na área marinha nunca foram suficiente- o talude continental. mais de 2.000m de profundidade, observa-se que os siste-
mente explicadas. A hipótese é a existência de um paleo-rio mas rio-mar se unem e existe uma forte probabilidade de
Em contraste com o cânion São Francisco, o cânion Japa-
Japaratuba, já desativado, responsável por estas relações que tenham depositado, em profundidades ainda maiores,
ratuba apresenta taxas de sedimentação bem menores
genéticas rio-mar e pela magnitude e influência na morfo- alguma zona de espraiamento frontal.
(6,7-12,8 cm/1000 anos) e apresenta um aumento na taxa
logia e nos depósitos sedimentares no sopé do talude e em
de sedimentação em direção offshore. Não obstante esta Nas regiões externas aos cânions no sul da Bacia, entre
aguas ultraprofundas.
baixa taxa de sedimentação, no testemunho En9 em lâmina os rios Sergipe e Vaza-Barris e Vaza-Barris e Piauí-Real, as
O material carbonatado da plataforma externa pode ter d’água de 3000 m, foi amostrada uma areia turbidítica cas- taxas de sedimentação foram também baixas, respecti-
sido fornecido para o Japaratuba, enquanto que, ao longo calhosa com idade de deposição de cerca de 1000 anos AP, vamente, com valores entre 7-9 cm/1000 anos na isóbata
do canal principal, preferencialmente estaria sendo forne- contendo bioclastos bem mais antigos (>43.500 anos). Isto de 1000 m e 3,7-2,6 cm/1000 anos na isóbata de 3000
cido material terrígeno das porções internas da platafor- pode demostrar que o cânion ainda transporta, eventual- m. Estas taxas baixas e o decréscimo delas em direção à
ma e do continente. Existe um testemunho raso (En09), mente, sedimentos grossos oriundos da plataforma conti- aguas profundas é o esperado em se tratando de sedi-
coletado a 3.000 m de profundidade, que parece compro- nental até o sopé. mentos hemipelágicos.
SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DA PLATAFORMA CONTINENTAL DE SERGIPE-ALAGOAS 161
5.4 – FACIOLOGIA SUPERFICIAL DOS SEDIMENTOS DE DOMINGUEZ, J. M. L. The coastal zone of Brazil: an overview.
FUNDO Journal of Coastal Research, Fort Lauderdale, n. 39, p. 16-20, 2004.
5.5 – FACIOLOGIA DOS TESTEMUNHOS RASOS FEIJÓ, F.J. Bacias de Sergipe e Alagoas. Boletim de Geociências
da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 149-161, 1994
5.5.1 – Testemunhos Rasos do Sistema São Francisco
5.5.2 – Testemunhos Rasos Obtidos no Sistema FRANÇA, A. M. C.; COUTINHO, P. N.; SUMMERHAYES, C. P.
Japaratuba Sedimentos Superficiais da Margem Continental Nordeste
Brasileira. Revista Brasileira de Geociências, Rio de Janeiro, v.
5.6 – SISTEMAS SEDIMENTARES RIO-MAR RECENTES NA
6, n. 2, p.147-164, 1976.
BACIA DE SERGIPE-ALAGOAS