Sie sind auf Seite 1von 34

COMISSÃO

EUROPEIA

Bruxelas, 10.12.2015
COM(2015) 630 final

LIVRO VERDE

sobre serviços financeiros de retalho

Mais qualidade nos produtos, mais escolha e mais oportunidades para consumidores e
empresas

PT PT
Livro Verde sobre serviços financeiros de retalho
Mais qualidade nos produtos, mais escolha e mais oportunidades para consumidores e
empresas

Secção 1 Criar um verdadeiro mercado europeu para os serviços financeiros de


retalho
O Mercado Único da União Europeia e as suas quatro liberdades1 oferecem grandes
oportunidades aos cidadãos da UE. Nos domínios em que o Mercado Único está bem
desenvolvido, como é o caso dos transportes aéreos, 500 milhões de consumidores beneficiam
da dimensão da concorrência, que proporciona a todos maiores possibilidades de escolha,
melhores serviços e preços mais baixos. Uma das prioridades da Comissão presidida por Jean-
Claude Juncker é a consecução de um Mercado Único mais aprofundado e mais justo.
O mercado financeiro de retalho fornece um conjunto de serviços que são fundamentais para
os cidadãos: onde guardar o nosso dinheiro, como poupar para a nossa velhice, como pagar a
casa e outras compras, como proteger os nossos bens ou a nós próprios contra problemas de
saúde ou acidentes. O desenvolvimento de mercados europeus eficazes para estes serviços
aumentará as possibilidades de escolha dos consumidores, permitirá aos prestadores com bom
desempenho oferecer os seus serviços em toda a UE, e apoiará os novos operadores e a
inovação. A verdade, porém, é que neste momento não existem à escala europeia mercados de
serviços financeiros de retalho. As compras transfronteiras de serviços financeiros de retalho
representam apenas uma pequena minoria. São numerosos os produtos excelentes existentes
nos mercados nacionais, contudo, os consumidores de um Estado-Membro da UE têm
dificuldade em comprar produtos fornecidos noutro Estado-Membro. Esta circunstância não
limita apenas a escolha. Os dados disponíveis mostram que os preços variam
significativamente em toda a UE: por exemplo, um seguro automóvel para o mesmo cliente
pode custar duas vezes mais nalguns Estados-Membros do que noutros.
A digitalização – cuja tecnologia permite o desenvolvimento de novos modelos de negócio e
de novos serviços – torna a informação facilmente disponível a potenciais consumidores.
Consequentemente, a localização física das partes numa transação tornou-se menos
importante. A digitalização pode ajudar a baixar os preços e melhorar a comparabilidade dos
produtos, capacitando os consumidores para fazer as suas escolhas financeiras. A longo prazo,
a digitalização deverá permitir que as empresas disponibilizem os seus produtos em qualquer
lugar da União, tornando mais próxima a realidade de um mercado único europeu.
A criação de um clima de confiança será fundamental para a expansão do Mercado Único
neste domínio: confiança das empresas na possibilidade de fazer negócios além-fronteiras e
confiança dos consumidores de que os seus interesses estarão protegidos caso utilizem um
serviço transfronteiras. Para concretizar estes objetivos, os serviços e produtos devem ser
compreensíveis: por outras palavras, a informação sobre a sua função, o seu preço e a

1
O Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) garante a livre circulação de bens, capitais,
serviços e pessoas dentro da UE.

2
comparação com outros produtos deverá ser disponibilizada de modo a que os consumidores
consigam compreendê-la.
Com base em anteriores medidas da UE neste domínio, o Livro Verde analisa o que é possível
fazer para ajudar o Mercado Único na área dos serviços financeiros a produzir melhorias
tangíveis nas vidas dos cidadãos na UE. Uma melhoria do mercado dos serviços financeiros
de retalho geraria também novas oportunidades de mercado para os fornecedores, apoiando o
crescimento da economia europeia e criando emprego.

1.1 Objetivo
O presente Livro Verde representa uma oportunidade para refletir sobre a possibilidade de
uma maior abertura do mercado europeu dos serviços financeiros de retalho – nomeadamente
seguros, empréstimos, contas de pagamento, contas correntes e contas-poupança e outros
investimentos a retalho – produzindo melhores resultados para consumidores e empresas, ao
mesmo que conserva um nível adequado de proteção tanto para o consumidor como para o
investidor. Procura identificar os obstáculos específicos com que consumidores e empresas se
deparam para utilizar plenamente o Mercado Único e as eventuais formas de superar esses
obstáculos, inclusivamente tirando melhor partido das novas tecnologias, desde que sejam
aplicadas as salvaguardas adequadas. O objetivo é permitir que:
 As empresas sedeadas num Estado-Membro da UE tenham mais facilidade em
oferecer serviços financeiros de retalho noutros Estados-Membros da UE;
 Os consumidores possam comprar serviços financeiros de retalho oferecidos noutros
Estados-Membros da UE; e
 Os cidadãos possam continuar a usufruir dos seus produtos de serviços financeiros
caso se mudem de um Estado-Membro para outro, seja para efeitos de estudo,
trabalho ou aposentação – a chamada «portabilidade».
O Livro Verde pretende estimular o debate a nível nacional e da UE. Trata-se de um convite
ao Parlamento Europeu e ao Conselho, às outras instituições da UE, aos parlamentos
nacionais e a todos os interessados para que apresentem as suas sugestões sobre as eventuais
medidas estratégicas de curto e longo prazos que poderão ser necessárias para a consecução
de um mercado europeu funcional e competitivo neste domínio. Nesse sentido, analisa:
(1) o estado atual do Mercado Único dos serviços financeiros de retalho e a recente
tendência da digitalização (Secção 2); e
(2) a necessidade de medidas a nível da UE ou a nível nacional para superar os obstáculos
que atualmente impedem consumidores e empresas de atravessar as fronteiras (Secção
3)

1.2 Medidas anteriores da UE no domínio dos serviços financeiros de retalho


A confiança dos consumidores no setor financeiro e nos serviços financeiros de retalho
diminuiu por causa da crise financeira e do descrédito que afetaram a indústria financeira.
Para recuperar a confiança dos consumidores e ajudar a expandir o Mercado Único, a UE
tomou recentemente uma série de medidas legislativas no domínio dos serviços financeiros de

3
retalho. Algumas dessas iniciativas estão ainda a ser implementadas a nível nacional e são
discutidas mais adiante no presente Livro Verde e incluem:
 Capacitar os consumidores para fazer escolhas informadas através de condições mais
rigorosas de transparência e de melhor aconselhamento em alguns domínios, antes da
venda de determinados produtos financeiros como as contas de pagamento, o crédito
ao consumo e o crédito hipotecário, os produtos de investimento e os seguros;
 Incentivar o desenvolvimento de mercados competitivos em contas de pagamento,
providenciando um direito de acesso em toda a UE a contas de pagamento de base,
proibindo a discriminação em razão da residência relativamente às contas de
pagamento e garantindo o acesso a serviços de mudança de conta de pagamento a
nível nacional;
 Melhorar as regras de proteção do consumidor aplicáveis a investimentos, crédito
hipotecário e seguros, de modo a incutir confiança nos consumidores quando adquirem
bens e serviços nos mercados nacionais e transfronteiras;
 Facilitar a distribuição transfronteiras de seguros e crédito hipotecário, a fim de
melhorar a concorrência.
Os serviços financeiros de retalho estão também sujeitos a uma ampla variedade de requisitos
e regulamentos a nível da UE e a nível nacional, que visam proteger os consumidores e
fomentar um mercado interno da UE desses serviços. Trata-se, nomeadamente, de requisitos
transetoriais, como os que se referem a cláusulas abusivas em contratos de consumo e a
práticas comerciais desleais das empresas face aos consumidores2, e de legislação setorial
relativa a numerosos produtos financeiros e serviços de pagamentos. A Comissão está a
acompanhar de perto a implementação e aplicação da legislação existente por parte dos
Estados-Membros e continua a promover a cooperação entre autoridades nacionais
competentes a fim de assegurar a sua eficácia em toda a UE3. O trabalho das Autoridades
Europeias de Supervisão (ESA) é também relevante neste contexto4. A par deste trabalho, a
Comissão tem procedido periodicamente à revisão do quadro regulamentar do setor dos
serviços financeiros de retalho, tendo em vista a criação de mercados mais integrados,
competitivos e equitativos para os serviços financeiros5.

2
Ver, por exemplo, a Diretiva relativa às cláusulas abusivas nos contratos (UCTD), Diretiva 93/13/CEE do
Conselho de 5 de abril de 1993 relativa às cláusulas abusivas nos contratos celebrados com os consumidores (JO
L 95 de 21.4.1993, p. 29); Diretiva relativa às práticas comerciais desleais (UCPD), Diretiva 2005/29/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de maio de 2005, relativa às práticas comerciais desleais das empresas
face aos consumidores no mercado interno e que altera a Diretiva 84/450/CEE do Conselho, as Diretivas
97/7/CE, 98/27/CE e 2002/65/CE do Parlamento Europeu e do Conselho e o Regulamento (CE) n.º 2006/2004
do Parlamento Europeu e do Conselho (JO L 149 de 11.6.2005, p. 22).
3
Entre as ferramentas importantes encontra-se a Rede de Cooperação no domínio da Defesa do Consumidor
criada no âmbito do Regulamento relativo à cooperação no domínio da defesa do consumidor – Regulamento
(CE) n.º 2006/2004 do parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de outubro de 2004, relativo à cooperação
entre as autoridades nacionais responsáveis pela aplicação da legislação de defesa do consumidor (JO L 364 de
9.12.2004, p. 1).
4
As três ESA são a Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA), a Autoridade
Bancária Europeia (EBA) e a Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Reforma (EIOPA).
5
Por exemplo, o Plano de Ação para os Serviços Financeiros elaborado pela Comissão (1999); Comunicação da
Comissão: Inquérito nos termos do artigo 17.º do Regulamento n.º 1/2003 relativo ao setor da banca a retalho

4
1.3 Como se coaduna este Livro Verde com as prioridades gerais da Comissão?
A presente consulta complementa outras peças fundamentais do trabalho da Comissão:
 O Mercado Único Digital (MUD). A Estratégia para o MUD6 pretende assegurar,
entre outros, um melhor acesso dos consumidores e das empresas a bens e serviços em
linha em toda a Europa, resolvendo o problema dos «bloqueios geográficos»
injustificados (restrições impostas pelos fornecedores às compras). Aborda igualmente
a questão das «condições de concorrência equitativas» entre os vários prestadores de
serviços e prevê uma avaliação exaustiva das plataformas em linha, com especial
incidência no tratamento dos dados. Além disso, a Estratégia para o MUD visa
melhorar a interoperabilidade tecnológica pela via do apoio à normalização. Todos
estes aspetos são relevantes para a digitalização do setor financeiro, embora não sejam
exclusivos da mesma.
 A União dos Mercados de Capitais (UMC) Através da criação de um mercado único
de capitais mais sólido, a UMC7 pretende oferecer às empresas uma maior escolha
quanto às fontes de financiamento ao longo das diferentes etapas do seu
desenvolvimento e proporcionar aos aforradores e aos investidores de retalho um
maior leque de oportunidades e melhores rendimentos.
 A Estratégia para o Mercado Único (EMU) A EMU8 é constituída por ações específicas
em três domínios fundamentais: criar oportunidades para consumidores, profissionais
e empresas, incentivar a modernização e a inovação, e assegurar resultados concretos
que beneficiem os consumidores e as empresas no seu dia-a-dia. O seu objetivo
consiste em facilitar a prestação de serviços transfronteiras e eliminar as principais
restrições com que se deram os prestadores de serviços às empresas e de serviços de
construção. A Comissão analisará a evolução do mercado e, se necessário, tomará
medidas relacionadas com requisitos de seguro para os prestadores de serviços às
empresas e de serviços no domínio da construção.
O presente Livro Verde tem em consideração e complementa outras iniciativas mais
específicas da Comissão, designadamente o convite escrito à apresentação de informações
(Call for Evidence) sobre o quadro regulamentar da UE em matéria de serviços financeiros9,
os trabalhos em curso com vista à eliminação dos obstáculos existentes no setor dos seguros

(COM(2007)33 final); Livro Verde sobre os serviços financeiros de retalho no Mercado Único (COM/2007/0226
final); e Livro Verde «Para um mercado europeu integrado dos pagamentos por cartão, por Internet e por
telemóvel» (COM/2011/0941 final).
6
Comunicação da Comissão: Estratégia para o Mercado Único Digital na Europa:
(http://ec.europa.eu/priorities/digital-single-market/docs/dsm-communication_en.pdf)
7
Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao
Comité das Regiões - Plano de Ação para a Criação de uma União dos Mercados de Capitais, COM (2015) 468
final, 30.9.2015.
8
Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao
Comité das Regiões - Melhorar o Mercado Único: mais oportunidades para os cidadãos e as empresas, COM
(2015) 550 Final 28.10.2015
9
Comissão Europeia, Call for Evidence: EU Regulatory Framework for Financial Services
(http://ec.europa.eu/finance/consultations/2015/financial-regulatory-framework-review/docs/consultation-
document_en.pdf)

5
relacionados com o direito dos contratos10, a avaliação do potencial da Diretiva relativa à
comercialização à distância de serviços financeiros prestados a consumidores (DMFSD)11 e o
inquérito setorial em curso sobre comércio eletrónico (e-commerce)12.

Secção 2 Estado atual dos mercados de serviços financeiros de retalho

2.1 Mercados fragmentados e concorrência insuficiente


Existem grandes diferenças entre Estados-Membros no que respeita a preços e possibilidades
de escolha. Alguns mercados mostram que é reduzido o número de consumidores que troca
produtos, o que poderá diminuir os incentivos à concorrência entre empresas. Além disso, nos
mercados de alguns Estados-Membros, verifica-se uma elevada concentração de prestadores
de serviços. Os mercados de serviços financeiros de retalho da UE revelam igualmente uma
reduzida atividade transfronteiras. Tal reflete, em certa medida, preferências culturais e
nacionais e escolhas dos consumidores. Nem todos os consumidores querem comprar os seus
produtos de serviços financeiros junto de prestadores estrangeiros. No entanto, justifica-se
analisar se ainda é possível reduzir a fragmentação em maior grau.
O crescimento do comércio em linha oferece um importante potencial para permitir que as
empresas prestem serviços à distância a clientes de outros Estados-Membros. Existe também
um vasto mercado potencial entre os consumidores que se deslocam dentro da União: 13,6
milhões de cidadãos da UE vivem num Estado-Membro que não o seu e muitos mais poderão
vir a fazê-lo em algum momento das suas vidas13. Além disso, 35 % dos cidadãos europeus
vivem em regiões de fronteira com outros Estados-Membros14, e muitos fazem já parte das
suas compras nas suas zonas transfronteiras «locais»15. Esta situação deveria também ser
possível para os serviços financeiros de retalho, mas muitas vezes isso não acontece. Para que
todas as empresas possam aceder aos mercados, há que reduzir os obstáculos desnecessários e
injustificados com que os novos operadores se deparam, especialmente no caso daquelas
empresas que podem estar aptas a fornecer os seus produtos além-fronteiras dentro da EU

10
Para mais informações, consultar http://ec.europa.eu/justice/contract/insurance/index_en.htm
11
Diretiva 2002/65/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 23 de setembro de 2002 relativa à
comercialização à distância de serviços financeiros prestados a consumidores e que altera as Diretivas
90/619/CEE do Conselho, 97/7/CE e 98/27/CE (JO L 271 de 9.10.2002, p. 16)
12
Para mais informações, consultar: http://ec.europa.eu/competition/antitrust/sector_inquiries_e_commerce.html
13
Eurostat, EU citizenship - statistics on cross-border activities (Cidadania da UE - estatísticas relativas às
atividades transfronteiriças), abril de 2013, (http://ec.europa.eu/eurostat/statistics-
explained/index.php/EU_citizenship_-_statistics_on_cross-border_activities) (acedido em março de 2015)
14
Territories with specific geographical features (Territórios com características geográficas específicas),
Documento de Trabalho, Política Regional da União Europeia, n.º 02/2009, pp. 4-5.
15
Parlamento Europeu, EU contract law as a tool for facilitating cross-border transactions: a point of view from
consumers (Direito dos contratos da UE enquanto instrumento facilitador das operações transfronteiras: ponto de
vista dos consumidores), 2010 (http://www.europarl.europa.eu/webnp/cms/pid/1483), p. 9.

6
Reside na Bélgica?

Sim Não
o não for na
Se o seu local de residência
Bélgica, não é possível abrir uma conta junto
da ABC Direct.

Reduzida atividade transfronteiras


O atual nível de transações transfronteiras diretas nos serviços financeiros de retalho é
limitado, sendo que os consumidores compram grande parte desses produtos nos seus
mercados nacionais e as empresas servem maioritariamente os mercados em que se encontram
fisicamente estabelecidas16. Estudos recentes sugerem que a percentagem de consumidores
que já compraram produtos bancários de outro Estado-Membro era inferior a 3 % no caso dos
cartões de crédito, contas correntes e hipotecas17. Quanto ao crédito ao consumo, apenas 5 %
dos empréstimos tinham sido obtidos além-fronteiras18. Os empréstimos transfronteiras dentro
da área do euro representam menos de 1 % dos empréstimos totais às famílias na mesma
área19. Quanto aos seguros, a prestação de serviços transfronteiras em 2011 e 2012
representava apenas cerca de 3 % do total dos prémios brutos emitidos20.

Diferenças a nível dos preços e das possibilidades de escolha

A diferença de preços para produtos idênticos ou semelhantes disponíveis em diferentes


mercados domésticos, inclusivamente do mesmo fornecedor, comprova a fragmentação do
mercado. Por exemplo, quando estabelecem filiais noutros mercados, as empresas tendem a
ajustar os seus preços às condições locais e, de um modo geral, não exportam preços mais
competitivos para outros mercados. A fragmentação dos mercados está igualmente patente
nas reduzidas possibilidades de escolha de que os consumidores dispõem em alguns Estados-
Membros; por exemplo, em certos mercados, os consumidores só podem aceder a hipotecas
de taxas fixas, enquanto noutros só podem aceder a taxas variáveis21.
No setor bancário, informações coligidas pelo grupo de utilizadores dos serviços financeiros
(Financial Services User Group - FSUG) indicam que as diferenças entre Estados-Membros –
que ultrapassam o que pode ser explicado por diferenças objetivas em termos de poder de

16
Inquérito Eurobarómetro especial 373 «Retail Financial Services» (Serviços Financeiros de Retalho), p. 28 e
seguintes (http://ec.europa.eu/internal_market/finservices-retail/docs/policy/eb_special_373-report_en.pdf)
17
Inquérito Eurobarómetro especial 373 «Retail Financial Services» (Serviços Financeiros de Retalho), p. 32
18
Study on the functioning of the consumer credit market in Europe (Estudo sobre o funcionamento do mercado
de crédito ao consumo na Europa), julho de 2013
(http://ec.europa.eu/consumers/archive/rights/docs/consumer_credit_market_study_en.pdf), pp. x-xi
19
Fonte: EBC Statistical Data Warehouse (Base de dados estatísticos do BCE)
20
Documento Programático do DSF n.°45s «Cross-border insurance in Europe» (Seguros transfronteiriços na
Europa), Dirk Schoenmaker e Jan Sass, novembro de 2014, p.12
21
Federação Hipotecária Europeia, Hypostat 2015, p. 15

7
compra e níveis de preços nacionais - podem ser substanciais no que se refere a uma série de
produtos22. As taxas anuais cobradas por um cartão de crédito podem variar entre €9,10 na
Roménia e quase €114 na Eslováquia. As transferências bancárias sem ser em linha são
gratuitas em alguns Estados-Membros, mas podem custar uma média de €3,58 em França.
Existe também uma dispersão considerável nas taxas de juro que as famílias pagam pelos
créditos hipotecários em diferentes países (ver Gráfico 1)23. É possível observar uma
dispersão maior no crédito ao consumo do que no crédito hipotecário.
Gráfico 1: Dados da Federação Hipotecária Europeia relativos às taxas de juro aplicáveis a
novos empréstimos hipotecários à habitação por trimestre (2012-2014)

8
7
6
5 SE
4 DE*
3 ES
2
BE
1
NL
0
IE
PL

*Note-se que a média ponderada para a totalidade do mercado poderá pender mais
para os empréstimos a curto prazo. Esta situação resulta da grelha de ponderação
disponível: os volumes de empréstimos incluem prorrogações, mas estas tendem a ter…

No setor dos seguros, o mesmo tomador de seguro com um perfil de risco semelhante pode
pagar o dobro por uma apólice semelhante, consoante o seu local de residência. Informações
coligidas pelo FSUG indicam que os prémios mensais por um produto de seguro de vida com
duração de 25 anos não equiparado a investimento variavam entre os €10 mensais na
Eslováquia e os €12,40 mensais em Espanha, chegando a atingir £65 mensais no Reino
Unido. No caso do seguro automóvel, por exemplo, as cotações podem mesmo ser diferentes
para o mesmo modelo de automóvel (Gráfico 2)24.

22
Financial Services User Group (Grupo de Utilizadores dos Serviços Financeiros), «Retail Financial Market
Integration» (Integração do Mercado Financeiro de Retalho): http://ec.europa.eu/finance/finservices-
retail/fsug/papers/index_en.htm.
23
Fonte: Federação Hipotecária Europeia
24
Insurance Europe Report on European Motor Insurance Markets (Relatório da Insurance Europe sobre os
mercados europeus de seguro automóvel), página 40 (Gráfico 48), novembro de 2015
(www.insuranceeurope.eu); ver também o Retail Insurance Market Study (Estudo do Mercado de Seguros de
Retalho) realizado pela Europe Economics (26.11.2009), p. 301 & 315:
(http://ec.europa.eu/finance/insurance/docs/motor/20100302rim_en.pdf)

8
Gráfico 2: Prémios do seguro obrigatório de responsabilidade civil por país em média

As diferenças nos preços podem ser atribuídas a fatores como as variações nas condições
registadas nas economias nacionais, nos níveis de poder de compra, nas estruturas financeiras
ou institucionais (por exemplo, a tributação, a regulação ou a supervisão), nos custos de
financiamento, nas propostas de valor (por vezes, relacionadas com a venda associada
obrigatória ou em pacote de produtos) e nas estruturas de fixação de preços nos mercados
locais. No caso das seguradoras (especificamente no ramo automóvel) podem registar-se
variações substanciais nos custos e riscos de cobertura entre os Estados-Membros, o que pode
justificar algumas diferenças de preços. No entanto, não existe qualquer justificação objetiva
aparente para a dimensão da diferença de preços em produtos que se encontram menos
ligados à localização geográfica do risco ou às características de risco locais, tais como o
seguro de vida (mesmo que a esperança de vida possa não ser idêntica em todos os Estados-
Membros). Estes fatores nem sempre são suficientes para explicar o grau de fragmentação dos
preços em toda a UE.

Concorrência insuficiente e reduzida mudança de prestador por parte dos consumidores

Os mercados dos Estados-Membros nos setores da banca e dos seguros de retalho revelam, na
sua maioria, uma elevada concentração e sinais de não ser totalmente competitivos, o que
limita a escolha dos consumidores, bem como o valor e qualidade dos produtos que obtêm.
Por exemplo, no final de 2013, a quota de mercado dos cinco maiores prestadores de serviços
no setor bancário variou entre de 95 %, aproximadamente, na Grécia e mais de 30 % na
Alemanha e no Luxemburgo25. Em resposta à consulta pública sobre a revisão do
Regulamento de isenção por categoria aplicável a determinados acordos do sector dos

25
Ver Banking Structures Report (Relatório sobre as estruturas bancárias), BCE, outubro de 2014, p.15:
https://www.ecb.europa.eu/pub/pdf/other/bankingstructuresreport201410.en.pdf)

9
seguros, a maioria das seguradoras e as respetivas associações setoriais alegou que os
mercados dos seguros são competitivos.26 No entanto, é possível observar uma elevada
concentração nos seguros dos ramos vida e não vida; por exemplo, os rácios de concentração
no sector dos seguros de vida, tal como revelados pela quota de mercado das cinco principais
companhias de seguros a partir de 2013, variam entre 100 % na Estónia e em Malta e menos
de 40 % na Alemanha e na Croácia27. As diferentes dimensões destes mercados não parecem
justificar estas importantes variações.

Na UE, a mudança entre diferentes fornecedores de produtos é rara28. Segundo os dados do


Eurobarómetro, em 2012, mais de 85 % dos entrevistados com um empréstimo pessoal ou um
cartão de crédito não tinha mudado ou tentado mudar de prestador29. Além disso, a nível dos
Estados-Membros, os mercados de produtos de poupança não têm revelado um bom
funcionamento, estando os consumidores «ligados» ao mesmo prestador e ao mesmo produto,
ainda que estejam disponíveis produtos similares com retornos mais vantajosos.30 Com efeito,
de acordo com o Painel de Avaliação dos Mercados de Consumo, os serviços financeiros de
retalho contam-se entre os setores em que os consumidores revelam estar mais insatisfeitos
com os serviços obtidos.31 Esta combinação de elevados níveis de insatisfação, preços
variáveis e baixas taxas de mudança de prestador poderá ser indicativa de que a concorrência
não esta a funcionar suficientemente bem nestes mercados do ponto de vista dos
consumidores, ou do facto de as barreiras à adesão e desvinculação a produtos de serviços
terem por base a inércia dos consumidores, e impede-os de procurar ofertas mais vantajosas.

Se os consumidores mudassem mais facilmente de prestadores, tal poderia fomentar a


concorrência entre empresas e proporcionar incentivos à entrada de novos atores em mercados
maduros. Não fossem os obstáculos que impedem as transações transfronteiras, essa alteração
de comportamentos poderia também encorajar as empresas a prestar serviços a partir de
outros Estados-Membros. Dois dos mercados em que a mudança de prestador é mais difícil –
contas de pagamento e hipotecas – foram, nos últimos anos, objeto de iniciativas ao nível da
UE que ainda estão a ser transpostas para a legislação nacional, a saber, a Diretiva relativa ao

26
Summary Report of the Replies to the Public Consultation on the Review of the Insurance Block Exemption
Regulation (Relatório de síntese das resposta à Consulta Pública sobre a revisão do Regulamento de Isenção por
Categoria aplicável a determinados acordos do sector dos seguros) (IBER)
(http://ec.europa.eu/competition/consultations/2014_iber_review/summary_report_en.pdf)
27
Ver Estatísticas sobre (Re)seguros da UE/EEE (Quadro 10). (https://eiopa.europa.eu/financial-stability-crisis-
prevention/financial-stability)
28
Monitoring consumer markets in the European Union, 2013 (Acompanhamento dos resultados para os
consumidores na União Europeia), pp. 43-44.
(http://ec.europa.eu/consumers/consumer_evidence/consumer_scoreboards/market_monitoring/docs/consumer_
market_monitoring_2013_part_1.pdf.)
29
Inquérito Eurobarómetro 373 «Retail Financial Services» (Serviços Financeiros de Retalho), p. 85
30
FCA, Cash Savings Market Study Report (Relatório do Estudo de Mercado sobre os produtos de poupança)
(http://www.fca.org.uk/static/documents/market-studies/cash-savings-market-study-final-findings.pdf);
Autoriteit Consument & Market, Barriers to entry in the Dutch retail banking sector (Barreiras à entrada no setor
bancário de retalho dos Países Baixos) p. 69
31
Consultar o mais recente Painel de Avaliação dos Mercados de Consumo em:
http://ec.europa.eu/consumers/consumer_evidence/consumer_scoreboards/index_en.htm

10
Crédito Hipotecário32 (MCD), que elimina as barreiras ao reembolso antecipado de produtos e
a Diretiva relativa às contas de pagamento33 (PAD), que cria serviços nacionais de mudança
de conta. No entanto, ainda existem outras formas de encorajar a mudança de comportamento
dos consumidores a nível da UE - por exemplo, a portabilidade total dos números de conta
bancária está a ser ponderada nalguns Estados-Membros.

As vendas associadas obrigatórias e as ofertas agrupadas de produtos podem também


dificultar a escolha do consumidor. Para além das regras em matéria de concorrência, as
vendas associadas obrigatórias e as ofertas agrupadas de produtos financeiros de retalho estão
atualmente sujeitas a regras setoriais estabelecidas na diretiva MCD (que garantirão que os
mutuários poderão escolher o seu seguro junto de um outro fornecedor)34, na diretiva PAD e
na futura Diretiva relativa à distribuição de produtos de seguros (IDD)35. A revisão da
Diretiva relativa aos mercados de instrumentos financeiros (MiFID II)36 inclui igualmente
uma habilitação para a ESMA (em cooperação com a EBA e a EIOPA) para desenvolver
orientações em matéria de vendas cruzadas. Os clientes devem ser informados se podem
comprar separadamente cada um dos produtos que se inserem no pacote (por exemplo, seguro
de um outro prestador) e dispor de informações claras sobre os custos. A Comissão continuará
a controlar se tal é o caso e se são necessárias medidas adicionais nesta área.

2.2 Evolução do panorama do sector financeiro de retalho graças à digitalização


Nos últimos anos, a digitalização e a inovação alteraram rapidamente a configuração dos
serviços financeiros de retalho, e prometem continuar a fazê-lo. As instituições financeiras
oferecem cada vez mais produtos em linha ou através de aplicações, sendo que, hoje em dia, a
grande maioria dos consumidores utiliza regularmente os serviços bancários em linha para
movimentar as suas contas e realizar operações.37 Em princípio, os progressos tecnológicos
permitem flexibilizar o processamento de algumas transações transfronteiras, alargar o acesso

32
Diretiva 2014/17/UE do Parlamento Europeu e do Conselho de 4 de fevereiro, relativa aos contratos de crédito
aos consumidores para imóveis de habitação e que altera as Diretivas 2008/48/CE e 2013/36/UE e o
Regulamento (UE) n.º 1093/2010 (JO L 60, 28.2.2014, p.34). O artigo 25.º aborda questões relativas ao
reembolso antecipado.
33
Diretiva 2014/92/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de julho de 2014, relativa à
comparabilidade das comissões relacionadas com as contas de pagamento, à mudança de conta de pagamento e
ao acesso a contas de pagamento com características básicas (JO L 257, 28.8.2014, p. 214)
34
Artigo 12.º, n.º 4, da diretiva MCD «Os Estados-Membros podem autorizar os mutuantes a exigir que o
consumidor constitua uma apólice de seguro adequada relacionada com o contrato de crédito. Em tais casos, os
Estados-Membros asseguram que o mutuante aceite a apólice de seguro de um prestador que não seja o
prestador da sua preferência se essa apólice de seguro tiver um nível de garantia equivalente ao da apólice
proposta pelo mutuante.»
35
Publicação prevista no início de 2016, ver também: http://www.consilium.europa.eu/en/press/press-
releases/2015/07/22-insurance-mediation/
36
Diretiva 2014/65/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de maio de 2014, relativa aos mercados de
instrumentos financeiros e que altera a Diretiva 2002/92/CE e a Diretiva 2011/61/UE (JO L 173, 12.6.2014, p.
349)
37
Sítio Web da Statista, Online banking penetration in selected European markets in 2014 (Penetração da banca
em linha em mercados europeus selecionados em 2014) (http://www.statista.com/statistics/222286/online-
banking-penetration-in-leading-european-countries/)

11
dos consumidores a uma informação e um aconselhamento mais eficazes, melhorar a
comparabilidade dos produtos e fomentar a mudança de comportamento dos consumidores38.

Os novos atores e nova tecnologia no mercado digital

O sector dos serviços financeiros de retalho tem vindo a sofrer alterações significativas por
via da digitalização. Surgem novos modelos de negócio: as empresas que apenas prestam
serviços em linha e as empresas de tecnologia estão a entrar no mercado, oferecendo serviços
(dentro dos Estados-Membros e, por vezes, de forma transfronteiras), incluindo transferências
eletrónicas, intermediação de pagamentos em linha, agregação de dados financeiros,
financiamento entre pares (peer-to-peer funding) e comparação de preços. Estão igualmente a
entrar no mercado novos atores, que tradicionalmente não são prestadores de serviços
financeiros e cujo principal modelo de negócio nem sempre assenta nesses serviços. As
empresas dos media sociais, por exemplo, vendem hoje produtos financeiros. Estas novas
tecnologias podem ser benéficas para os consumidores, desde que sejam respeitadas normas
de segurança adequadas.
Tanto, as empresas já estabelecidas e como as novas empresas de tecnologia (Fintechs),
estudam formas de interação com os seus clientes, de integração dos seus canais de
distribuição de produtos e de prestação de serviços, que são mais rápidas, mais reativas e mais
adaptadas. Para os atores estabelecidos, as tecnologias digitais, incluindo livros comerciais
distribuídos (tais como o método blockchain, utilizado pela moeda eletrónica «Bitcoin»)
oferecem a oportunidade de reformular os processos internos, graças ao reforço da
normalização, da automatização e das economias de escala. Os atores estabelecidos realizam
igualmente parcerias com as Fintechs, ou empenham-se na sua promoção, assim como
trabalham com os principais fornecedores de tecnologias digitais, a fim de influenciar e de
controlar esta tendência. Além disso, as empresas recorrem cada vez mais a «grandes volumes
de dados», coligidos a partir de diversas fontes, como os media sociais, a fim de recolher
informações sobre potenciais clientes alvo. Estes novos instrumentos disponibilizam, assim,
maior conhecimento sobre os clientes, porém, suscitam também questões quanto à utilização
adequada desses dados.

Estas alterações terão particular impacto nos prestadores existentes, tais como os bancos já
estabelecidos, devido à sua dependência significativa — e onerosa — das sucursais e do papel
desempenhado pelas contas de pagamento como via tradicional de acesso aos consumidores, o
que será posto em causa pelo aparecimento de Fintechs e das carteiras digitais. Os novos
operadores têm igualmente vindo a centrar-se em atividades complementares lucrativas, como
o câmbio de divisas39. Os bancos e as companhias de seguros investem fortemente na
digitalização dos respetivos serviços de vendas e de clientes na esperança de obter poupanças

38
KPMG, Mobile Banking 2015: Global trends and their impact on banks (Banca Móvel: Tendências mundiais
e o seu impacto na banca), pp. 21-22. A KPMG tem defendido que o aumento da adesão a produtos financeiros,
decorrente da banca em linha, encoraja uma análise mais ativa das possíveis opções dos consumidores.
39
KPMG, Mobile Banking 2015: Global trends and their impact on banks (Banca Móvel: Tendências mundiais
e o seu impacto na banca), p. 27.

12
de custos e uma maior aproximação aos seus atuais clientes40. Os novos operadores (que ainda
não beneficiam de uma base de clientes estável) têm o potencial para gerar soluções
transfronteiras e retirar novos mercados aos operadores já estabelecidos.
O desenvolvimento de canais de distribuição em linha é de particular interesse ao nível da
UE. Ao permitir que os prestadores de serviços e os consumidores realizem e apoiem mais
facilmente, e com custos inferiores, as vendas à distância, a digitalização proporciona o
acesso a uma ampla base de consumidores no Mercado Único, os quais podem beneficiar das
melhores ofertas disponíveis. A digitalização deverá, em princípio, promover a atividade
transfronteira, sem obrigar as empresas a estabelecer-se noutros Estados-Membros.
Embora as tecnologias inovadoras proporcionem oportunidades para melhorar o serviço aos
consumidores e reduzir preços, podem igualmente suscitar desafios regulamentares, sobretudo
em matéria de cibersegurança e proteção dos dados. As ciberameaças são uma importante
preocupação para os consumidores e as empresas; sendo provável que esta questão adquira
cada vez mais importância à medida que a digitalização avançar, devendo ser encontrada uma
resposta adequada. É possível que os atuais quadros de regulamentação e de supervisão não
abranjam na mesma medida os novos intervenientes e os já estabelecidos, inclusivamente do
ponto de vista da defesa dos consumidores. A evolução tecnológica e a expansão de novos
canais de distribuição podem tornar difícil a disponibilização de informações pré-contratuais
adequadas aos clientes — por exemplo, em virtude da divulgação em dispositivos móveis
dotados de pequenos ecrãs de informações obrigatórias. Terá de ser cuidadosamente
ponderada a forma como aproveitar as oportunidades proporcionadas ao mesmo tempo que se
responde adequadamente aos desafios que as acompanham (nomeadamente em termos de
segurança e de defesa dos consumidores).

Novos produtos financeiros e de pagamento

A Comissão apoia o desenvolvimento de tecnologias inovadoras e de fácil utilização,


pretendendo assegurar a sua disponibilização a um grande número de consumidores em toda a
Europa e, sempre que possível, além-fronteiras. A digitalização dos serviços financeiros
conduziu à emergência de novos produtos, tais como empréstimos através de mensagens de
texto ou empréstimos entre pares (peer to peer lending), alguns dos quais levantam desafios
regulamentares e de defesa dos consumidores.
No domínio dos pagamentos, em especial, surgem novas oportunidades graças ao
desenvolvimento dos pagamentos móveis, pagamentos por Internet e pagamentos instantâneos
nos mercados nacionais. Os pagamentos móveis conhecem um rápido desenvolvimento na
Europa, existindo atualmente uma grande variedade de soluções para os pagamentos à
distância ou de proximidade disponibilizados pelos intervenientes no mercado, incluindo
bancos, sistemas de cartões, operadores móveis e operadores na Internet. Estes serviços
incluem os pagamentos entre pares (peer-to-peer), os porta-moedas móveis, as aplicações
bancárias e de cartões, e recorrem a diversas tecnologias (sendo as mais desenvolvidas, no

40
KPMG, Mobile Banking 2015: Global trends and their impact on banks (Banca Móvel: Tendências mundiais
e o seu impacto na banca), p. 21.

13
que se refere a pagamentos no ponto de venda, a Near-Field Communications e os códigos
Quick-Response). Estes serviços permitem ao consumidor pagar as suas compras por telefone,
partilhar o preço de uma refeição, ou enviar fundos para amigos através de uma aplicação. No
entanto, as soluções são frequentemente apenas válidas a nível nacional e não são, em geral,
interoperáveis, uma vez que as empresas ou grupos de empresas concorrem para impor as
suas próprias normas. A sua cobertura geográfica restrita e interoperabilidade mínima limitam
a sua aceitação por parte dos comerciantes, o que reduz a sua utilização transfronteiras.
Existem atualmente pagamentos em tempo real (ou instantâneos) nalguns países, que atraíram
grande interesse por parte de outros, uma vez que a velocidade das operações possibilita
fomentar a inovação e conduzir à emergência de novas aplicações de pagamento. É essa a
próxima evolução lógica no Mercado Único, no que se refere aos pagamentos de retalho, na
sequência da transição para o Espaço Único de Pagamentos em Euros (SEPA)41: Os
prestadores de serviços de pagamento da UE deram início ao desenvolvimento de um sistema
de transferência de créditos instantâneo do SEPA. O Conselho de Pagamentos de Retalho em
Euros e o Conselho de Pagamentos Europeu42 estão trabalhar com vista a uma norma pan-
europeia para os pagamentos instantâneos e os pagamentos móveis entre pares (peer-to-peer),
que encerra o potencial de criação de sistemas interoperáveis. A Comissão apoia ambos os
organismos neste trabalho.

Secção 3 Mais qualidade nos produtos, mais escolha e mais oportunidades para
consumidores e empresas
Não foram ainda explorados todos os benefícios que poderão decorrer do mercado único
europeu dos serviços financeiros de retalho. Uma das formas mais diretas de melhorar a
concorrência e promover o bem-estar dos consumidores seria reduzir, sempre que possível, os
obstáculos ao comércio transfronteiras desses serviços. Estes obstáculos têm origem em dois
grandes grupos de causas profundas que afetam tanto os fornecedores como os consumidores
e que, em conjunto, determinam a diminuição da possibilidade de escolha e da concorrência e
mantêm o mercado europeu fragmentado:
 os consumidores desconhecem as ofertas de outros Estados-Membros, ou não
têm suficiente confiança nessas ofertas e, não sendo esse o caso, têm
dificuldade em aceder às mesmas (secção 3.1); e
 os fornecedores não oferecerem produtos a consumidores de outros Estados-
Membros, dado que, mesmo em tempos de digitalização, a fragmentação dos
mercados gera custos operacionais e de conformidade excessivos (secção 3.2).
A Comissão está particularmente interessada em saber se a utilização de tecnologias digitais
inovadoras pode ajudar na eliminação destes obstáculos. Uma aplicação incoerente da
legislação europeia em toda a UE, pode também dar origem a uma falta de confiança por parte
dos consumidores e falta de certeza jurídica para os operadores relativamente às transações
transfronteiras. A rede de cooperação em matéria de defesa dos consumidores abrange alguma

41
Para mais informação sobre o SEPA consultar: http://ec.europa.eu/finance/payments/sepa/index_en.htm
42
Para mais informações, consultar: http://www.ecb.europa.eu/paym/retpaym/governance/eu/html/index.en.html
e http://www.europeanpaymentscouncil.eu/

14
legislação essencial de defesa do consumidor na área dos serviços financeiros. Se a aplicação
da legislação europeia suscitar problemas, poder-se-ia recorrer mais a tais redes.
Perguntas de caráter geral
1. Para que produtos financeiros uma maior oferta transfronteiras poderia estimular a
concorrência nos mercados nacionais, em termos de escolha e de preços?
2. Quais são os obstáculos que impedem as empresas de prestarem diretamente aos
consumidores serviços financeiros transfronteiras e de adquirirem diretamente
produtos além-fronteiras?
3. Pode qualquer desses obstáculos ser superado, no futuro, pela digitalização e a
inovação no setor Fintech?
4. Que pode ser feito para garantir que a digitalização dos serviços financeiros não se
traduza num aumento da exclusão financeira, em particular, daqueles sem literacia
eletrónica?
5. Qual deverá ser a nossa abordagem se as oportunidades oferecidas pelo crescimento e
expansão das tecnologias digitais derem origem a novos riscos em matéria de defesa
dos consumidores?
6. Terão os consumidores acesso a produtos financeiros seguros, simples e
compreensíveis em toda a União Europeia? Em caso negativo, que poderá ser feito
para permitir esse acesso?
7. Será que a qualidade de execução da legislação em matéria de serviços financeiros de
retalho na UE constitui um problema para a confiança dos consumidores e a
integração do mercado?
8. Será que existem outros elementos ou outros desenvolvimentos a ter em consideração
em relação à concorrência transfronteiras e à escolha de serviços financeiros de
retalho?

3.1 Ajudar os consumidores a comprar produtos financeiros noutros Estados-


Membros?
Em diversos momentos, ao longo das suas vidas, os consumidores têm de tomar decisões
financeiras com implicações consideráveis a longo prazo. Na aquisição de um seguro de vida,
no recurso a uma hipoteca para comprar casa, numa mudança para o estrangeiro ou nas
poupanças para o futuro, os consumidores devem poder i) conhecer o que está disponível no
resto da UE, ii) obter produtos a preços competitivos adequados às suas necessidades, e iii)
estar confiantes de que os seus produtos são seguros e adequados e funcionarão como
previsto.

3.1.1 Conhecer o que está disponível43

Procuro a melhor solução possível no meu Estado-Membro e desconheço se existem


produtos noutros Estados-Membros que possam ser mais baratos ou melhores.

43
Os exemplos utilizados no presente documento são inspirados por uma série de casos da vida real levados ao
conhecimento da Comissão.

15
Os consumidores não têm frequentemente acesso a informações sobre as ofertas
transfronteiras de produtos financeiros; por conseguinte, é difícil adquirir bens ou serviços
fora do seu país de origem. Alguns prestadores de serviços financeiros de retalho visam
consumidores em Estados-Membros onde não se encontram fisicamente estabelecidos. Além
disso, os consumidores enfrentam uma série de obstáculos, incluindo a língua, quando
pretendem informar-se sobre produtos noutros Estados-Membros.
Melhor informação aos consumidores e ajuda na mudança de prestador
Uma das formas de reforçar a sensibilização dos consumidores e incentivar a mudança para
produtos mais apropriados seria garantir que estes disponham de acesso a canais que
possibilitem obter informação sobre produtos disponíveis noutros Estados-Membros e
compreender as suas características. Estes canais poderão, por exemplo, incluir os
intermediários financeiros, sítios Web de comparação independentes, ou serviços de
aconselhamento financeiro independentes via Internet.
Os sítios Web de comparação independentes podem ser úteis para assegurar que os
consumidores conheçam os produtos existentes, mas a sua principal vantagem resulta do
apoio que prestam aos consumidores na mudança de prestador, permitindo que estes avaliem
e escolham entre os produtos mais adequados às suas necessidades. A EIOPA constatou que
os sítios Web de comparação estimulam a concorrência entre as seguradoras e os mediadores
de seguros e contribuem para reforçar a transparência e a comparabilidade das informações
disponíveis aos consumidores44. Este conceito poderia aplicar-se igualmente a outros
segmentos de produtos, bem como aos Estados-Membros que atualmente não disponham
desses mecanismos, embora qualquer medida deva ter em conta que muitos sítios Web de
comparação descrevem, por vezes, de forma insuficiente as métricas e os aspetos comparados,
centrando-se demasiadamente, com frequência, no preço45. Os sítios Web de comparação são
muito comuns no setor dos seguros, e a Diretiva relativa às contas de pagamento (PAD)
introduziu a obrigação de criar, pelo menos, um sítio Web de comparação (com os critérios de
qualidade precisos) a nível nacional que apresentará as ofertas de serviços de contas bancárias
propostos por instituições financeiras diferentes, incluindo as comissões cobradas.
Entre os outros métodos para melhorar as taxas de mudança de prestador podem incluir-se
medidas que visem garantir que os consumidores possam desvincular-se dos seus produtos
sem estarem sujeitos a sanções onerosas, como na Diretiva relativa ao crédito hipotecário e na
Diretiva relativa a contratos de crédito ao consumo (CCD)46, ou os esforços para ultrapassar a
inércia dos consumidores, mediante a redução dos obstáculos e problemas decorrentes de uma
mudança de produtos47. O recurso à divulgação de informação específica em momentos

44
Relatório da EIOPA sobre boas práticas em matéria de sítios Web de comparação (janeiro de 2014)
45
Comissão Europeia, Sítio Web «Comparison Tools and Third-Party Verification Schemes» (Ferramentas de
comparação e sistemas de verificação por terceiros):
http://ec.europa.eu/consumers/consumer_evidence/market_studies/comparison_tools/index_en.htm
46
Diretiva 2008/48/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de abril de 2008, relativa a contratos de
crédito aos consumidores e que revoga a Diretiva 87/102/CEE do Conselho (JO L 133 de 22.05.2008, p. 66).
47
As empresas estão atualmente sujeitas à legislação da UE relativa a cláusulas contratuais abusivas e práticas
comerciais desleais (v. nota 3), que limitam alguns obstáculos contratuais e extracontratuais à mudança de
prestador por parte do consumidor.

16
cruciais, em alturas em que os consumidores possam beneficiar de uma mudança de produtos,
poderia também garantir uma postura mais ativa por parte dos consumidores face às suas
decisões financeiras, deixando de estar tão ligados aos produtos que adquiriram48.
Perguntas
9. Qual seria o canal mais adequado para sensibilizar os consumidores para os
diferentes serviços financeiros de retalho e produtos de seguros disponíveis em toda a
União?
10. Que mais pode ser feito para facilitar a distribuição transfronteiras de produtos
financeiros através de intermediários?
11. São necessárias novas medidas para encorajar a comparabilidade e/ou facilitar a
mudança de prestadores de serviços financeiros de retalho situados no mesmo ou
noutro Estado-Membro? Em caso afirmativo, quais e em que segmentos de produtos?
Combater os encargos complexos e extremamente elevados aplicados a operações no
estrangeiro
Vivo na área do euro. O meu banco cobra-me comissões elevadas sempre que
pretendo transferir somas para um Estado-Membro não pertencente à área do euro.
Ao utilizar o meu cartão de crédito no estrangeiro, fui confrontado com uma fatura
elevada pois a taxa de conversão aplicada pelo banco foi mais onerosa do que as
taxas de mercado e não havia sido devidamente informado previamente sobre a taxa
de câmbio cobrada.

No que se refere aos encargos com as operações, o Regulamento n.º 924/2009 relativo aos
pagamentos transfronteiras49 eliminou as diferenças de encargos entre pagamentos
transfronteiras e os nacionais em euros, em grande benefício dos consumidores que efetuam
pagamentos em euros. No entanto, os cidadãos que pretendam transferir somas para outros
países da UE em divisas que não o euro são frequentemente confrontados com comissões
muito elevadas em comparação com as que pagam por transferências nacionais. Estas
comissões, que englobam os encargos com as operações e as taxas de câmbio, podem
representar uma parte significativa do valor da operação. Os encargos com as operações
cobrados aos consumidores comuns pelos pagamentos transfronteiras e pelas transferências
em divisas que não o euro tendem a ser muito elevados em todos os Estados-Membros e nem
sempre são divulgados de forma clara aos consumidores. Estão cada vez mais disponíveis
sítios de câmbio na Internet entre pares (peer-to-peer), que oferecem taxas mais vantajosas
aos consumidores e estão a começar a ter um impacto real nos mercados. Embora as empresas
devam ser transparentes no que se refere às comissões e taxas cobradas pelos câmbios, essas
comissões e taxas não se encontram sujeitas a qualquer regulamentação específica europeia.

48
Ver, por exemplo, o estudo de mercado da FCA sobre os produtos de poupança, que propõe a utilização de
alertas de texto sempre que esteja para breve o fim de um período de bónus:
https://www.fca.org.uk/static/documents/market-studies/cash-savings-market-study-final-findings.pdf)
49
Regulamento (CE) n.º 924/2009 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de setembro de 2009, relativo
aos pagamentos transfronteiras na Comunidade e que revoga o Regulamento (CE) n.º 2560/2001 (JO L 266 de
9.10.2009, p. 11)

17
No caso dos pagamentos com cartão, os consumidores nem sempre estão cientes da taxa de
conversão de divisas que será aplicada a uma operação executada no estrangeiro, por
exemplo, para levantamentos em numerário ou compras com cartões de pagamento nos
Estados-Membros que possuam uma moeda diferente. A conversão de divisas é geralmente
oferecida pelo banco que emite o cartão. Nos últimos anos, os operadores têm oferecido com
uma frequência cada vez maior a opção de se utilizar a taxa de câmbio do seu próprio banco
(a chamada conversão de moeda dinâmica), que, pelo menos, proporciona alguma
transparência aos consumidores e poderá proporcionar uma melhor relação custo-benefício.
No entanto, as taxas comerciais aplicadas nem sempre são melhores para os consumidores e,
muitas vezes, são difíceis de comparar de forma casuística com as taxas oferecidas pelo banco
do consumidor, uma vez que as taxas exatas oferecidas pelos bancos não estão disponíveis aos
consumidores no momento da operação. Tal significa que, até à data, os consumidores não
foram capazes de tirar partido da concorrência decorrente das oportunidades de conversão
dinâmica de divisas.
Tendo em conta a existência de diferentes moedas na UE, bem como a integração em curso
dos mercados de serviços financeiros de retalho, esta questão é suscetível de crescer em
importância à medida que aumenta o comércio eletrónico no mercado único digital, sendo
necessário continuar a analisá-la.
Perguntas
12. O que mais poderá ser feito a nível da UE para resolver o problema do excesso de
encargos cobrados pelos pagamentos transfronteiras (por exemplo, transferências de
crédito) com diferentes moedas na UE?
13. Além dos requisitos de divulgação existentes50, serão necessárias quaisquer outras
medidas para assegurar que os consumidores conheçam as taxas de conversão de
divisas que lhes são cobradas sempre que fazem operações transfronteiras?

3.1.2 Aceder a serviços financeiros a partir de qualquer local da Europa

Mudámos para França para gozar a nossa reforma e pretendemos manter a nossa
conta bancária no Reino Unido, a fim de receber a pensão mensal. Porém, o nosso
banco recusa-se a renovar o cartão de débito por não dispormos de residência
permanente no Reino Unido. O banco apenas concorda em manter uma conta, caso
façamos um depósito considerável.
Consultámos também um sítio Web de renome de comparação de preços sobre as
melhores taxas de juros para as nossas poupanças e obtivemos a seguinte
informação: «Antes de apresentar o seu pedido, por favor, certifique-se de que leu e
compreendeu os termos e condições da conta. Deve também ter mais de 18 anos e
ter residência permanente no Reino Unido.»

50
Resolução legislativa do Parlamento Europeu, de 8 de outubro de 2015, sobre a proposta de Diretiva do
Parlamento Europeu e do Conselho relativa aos serviços de pagamento no mercado interno e que altera as
Diretivas 2002/65/CE, 2013/36/UE e 2009/110/CE e revoga a Diretiva 2007/64/CE (COM(2013)0547 – C7-
0230/2013 – 2013/0264(COD)). Ver os artigos 59.º e 60.º, n.º 3.

18
Como os prestadores de serviços financeiros não disponibilizam atualmente os seus produtos
além-fronteiras, a menos que estejam estabelecidas no mercado visado, os consumidores da
UE raramente podem aceder a quaisquer serviços financeiros de outros Estados-Membros
(com exceção de alguns produtos de investimento limitados)51. Embora a Diretiva PAD venha
promover o mercado interno, proibindo a discriminação em razão da residência contra
consumidores que solicitem ou que tenham acesso a contas de pagamento, na maioria dos
casos, os consumidores continuam a deparar-se com a situação de não serem elegíveis para
serviços se não residirem no país do prestador52. No setor dos seguros, é o local de residência
dos consumidores, e não o respetivo perfil de risco individual, que define as opções
disponíveis, pois as seguradoras elaborarão as apólices com base no agrupamento de riscos,
tal como determinado pela procura local. Os fornecedores em linha podem aplicar técnicas de
bloqueio geográfico, através do bloqueio do acesso a sítios Web, ou do reencaminhamento
para outros sítios Web, ou ainda impedindo a conclusão da operação, exigindo um formato
específico dos dados limitados a determinados países (por exemplo, códigos postais ou
informação de pagamento). Estas práticas impedem os consumidores de subscrever os
produtos que escolhem.
Os consumidores não devem ser tratados de forma diferente em razão da sua nacionalidade ou
do seu local de residência quando efetuam compras na UE, a menos que tal se justifique por
critérios objetivos. Foram anunciadas medidas relativamente ao bloqueio geográfico e outras
formas de discriminação da zona geográfica na Estratégia para o mercado único digital, em
maio de 2015, e na Estratégia para o mercado único, em novembro de 201553. A Comissão
apresentará propostas legislativas até meados de 2016 com vista a pôr fim ao bloqueio
geográfico injustificado e, de um modo mais geral, a impedir a discriminação dos
consumidores em razão da residência ou da nacionalidade.

Perguntas
14. Que pode ser feito para limitar a discriminação injustificada em razão da residência
no setor dos serviços financeiros de retalho, incluindo os produtos de seguros?
Aumentar a portabilidade dos produtos
Gostaria de me mudar para outro Estado-Membro para aí aceitar um novo emprego.
Há muito que subscrevi um seguro de saúde privado no meu Estado-Membro de
origem, mas não o posso transferir para a minha nova residência, e terei de
subscrever um novo seguro de saúde. Verifiquei que os meus prémios seriam
significativamente mais elevados no meu novo Estado-Membro, dado que os
seguros têm por base a mais recente informação relativa à minha saúde e não a
minha clínica.

51
BEUC, Protecting consumer interests in the retail financial services area (Proteção dos interesses dos
consumidores no setor dos serviços financeiros de retalho), 2011, p.3 (http://www.beuc.org/publications/2011-
09879-01-e.pdf)
52
Ver, entre outros, o exemplo referido na secção 2.1.
53
A consulta sobre o bloqueio geográfico decorrerá até 28 de dezembro de 2015
(ver https://ec.europa.eu/eusurvey/runner/geoblocksurvey2015/)

19
É possível que os cidadãos que se mudam de um Estado-Membro para outro deixem de estar
em posição de beneficiar de produtos financeiros adquiridos no seu Estado-Membro de
origem, vendo-se excluídos do sector financeiro no seu novo Estado-Membro de residência.
Esta situação pode ser particularmente exigente para os consumidores que estão menos aptos
a negociar com os prestadores de serviços no novo Estado-Membro de residência, ou para os
cidadãos que dependem de um acesso frequente aos produtos financeiros que foram
acumulando ao longo da vida, tais como seguros de saúde privados.
No que se refere aos seguros de saúde privados, aparentemente, estão em vigor cláusulas e
condições contratuais que limitam o direito às prestações ao Estado-Membro em que o
tomador reside habitualmente no momento da celebração do contrato de seguros. A residência
habitual é, pela sua natureza, algo que pode mudar ao longo do tempo. Consequentemente, é
possível que os tomadores de seguros deixem de estar em posição de contar com as suas
apólices quando se mudam para outro Estado-Membro, de solicitar o reembolso das despesas
de hospitalização, ou de desfrutar das suas pensões privadas no estrangeiro. Esta situação
afeta mais particularmente os idosos, a quem são frequentemente cobrados prémios mais
elevados de seguros de saúde ou de cuidados de longa duração.
Os consumidores enfrentam problemas específicos quando tentam aceder a poupanças
efetuadas ao longo da vida com base em seguros. A par das dificuldades significativas que os
tomadores de seguros podem enfrentar na conciliação de regimes de tributação contraditórios
e duplicados, são numerosas as apólices de seguro de vida que limitam os seguros para que
apenas sejam válidos no Estado-Membro onde o tomador tem a sua residência habitual54.
Essas restrições reduzem a escolha dos consumidores e a concorrência transfronteiras e
representam também um obstáculo considerável para os consumidores que se mudam para
outro Estado-Membro. Estes obstáculos afetam mais gravemente os cidadãos da UE que
procuram instalar-se noutro Estado-Membro para gozar a respetiva reforma.
Perguntas
15. Que pode ser feito a nível da UE para facilitar a portabilidade dos produtos
financeiros de retalho — por exemplo, o seguro de vida e o seguro de saúde privado?

Facilitar o acesso e reconhecimento transfronteiras de seguros de responsabilidade


profissional
Nos setores em que o seguro de responsabilidade profissional é obrigatório55, os prestadores
de serviços têm muitas vezes dificuldades em adquirir produtos que abranjam o território de
mais do que um Estado-Membro, no âmbito da prestação de serviços. Na Estratégia para o
mercado único, a Comissão anunciou que analisará a evolução do mercado no que respeita à
disponibilidade e ao reconhecimento mútuo de Seguros de Responsabilidade Profissional

54
No que se refere às pensões privadas, a questão está a ser tratada no âmbito dos trabalhos da Comissão
relativos à União dos Mercados de Capitais.
55
O artigo 23.º, da Diretiva Serviços permite que os Estados-Membros exijam que os prestadores de serviços
subscrevam um seguro de responsabilidade profissional ou prestem qualquer outra forma de garantia financeira.
Diretiva 2006/123/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de dezembro de 2006, relativa aos serviços
no mercado interno (JO L 376 de 27.12.2006, p. 36)

20
Obrigatórios e, se necessário, tomará medidas em relação aos requisitos de seguro para os
prestadores de serviços a empresas e de serviços de construção.
Perguntas
16. Que pode ser feito a nível da UE para facilitar o acesso dos prestadores de serviços a
seguros de responsabilidade profissional obrigatórios e o seu reconhecimento
transfronteiras?

3.1.3 Ter confiança para beneficiar de oportunidades que surjam noutros locais na Europa

Encontrei uma boa oferta de crédito noutro Estado-Membro, com uma taxa muito
inferior à das minhas alternativas locais. Fiquei tentado, contudo, preocupavam-me
as consequências, caso algo corresse mal com o produto. Pelo que, ao invés, decidi
adquirir um produto mais caro no mercado local.

Os consumidores precisam de ter a certeza de que estarão devidamente protegidos, antes e


após a compra de produtos financeiros de retalho, independentemente do local em que
efetuem a aquisição na União.56.
Promover a comparabilidade e a compreensão dos consumidores através de uma melhor
divulgação de informação
Os consumidores necessitam de informação que seja facilmente compreensível. As
informações devem ser claras e centrar-se nos elementos que permitam ao consumidor
compreender inteiramente determinado produto; deverá igualmente ter em conta o
comportamento dos consumidores. A educação financeira pode ajudar, porém, é preciso que,
quando os consumidores adquirem um produto, saibam quanto lhes será cobrado, por quem e
que benefícios obterão. É preciso que sejam capazes de comparar os custos e benefícios em
causa, a fim de efetuar uma boa escolha. As organizações de consumidores, entre outros, têm
um papel importante a desempenhar na partilha e difusão de avaliações imparciais de
produtos financeiros.
Qualquer ação a desenvolver neste domínio poderá ter por base os esforços envidados ao
longo dos últimos anos para assegurar que a divulgação de informação seja eficaz,
transparente e comparável. Nos últimos anos, foi tomada uma série de medidas na UE neste
domínio, como a Diretiva relativa ao Crédito Hipotecário, a Diretiva relativa a contratos de
crédito ao consumo (CCD), a Diretiva relativa às contas de pagamento (PAD), a Diretiva
relativa aos organismos de investimento coletivo em valores mobiliários (UCITS) 57, a

56
O Inquérito 373 «Retail Financial Services» (Serviços Financeiros de Retalho), p. 42, regista as seguintes
respostas no que respeita às preocupações subjacentes às compras a partir de outro Estado-Membro: «não dispor
de informações claras» (29 %), «não conhecer os seus direitos quando surgem problemas (28 %) e «menos
defesa dos consumidores noutros Estados-Membros da UE».
57
Diretiva 2009/65/CE com a última redação que lhe foi dada mais recentemente pela Diretiva 2014/91/UE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de julho de 2014, que altera a Diretiva 2009/65/CE que coordena as
disposições legislativas, regulamentares e administrativas respeitantes a alguns organismos de investimento
coletivo em valores mobiliários (UCITS) no que diz respeito às funções dos depositários, às políticas de
remuneração e às sanções (JO L 257, 28.8.2014, p. 186)

21
Diretiva MiFID II, O Regulamento PRIIP58 e, relativamente aos produtos de seguro não-vida,
a Diretiva IDD. No que respeita aos canais de comercialização à distância (por exemplo, em
linha) de serviços financeiros ao consumidor, existem requisitos de informação em vigor ao
abrigo da Diretiva relativa à comercialização à distância de serviços financeiros (DMFSD).
No quadro do Plano de Ação para a União dos Mercados de Capitais, a Comissão convidará
as AES a trabalhar sobre a transparência dos produtos de retalho de longo prazo e dos
produtos de pensões de reforma, incluindo o desempenho líquido real e respetivas taxas. Além
disso, a digitalização e a emergência de novos produtos e novos canais digitais constituem
uma oportunidade para analisar mais aprofundadamente de que forma a comunicação das
empresas com os respetivos clientes, incluindo a divulgação de informação exigida pela
legislação da UE e pela legislação nacional, pode servir melhor o interesse dos consumidores
e promover a compreensão e confiança nos produtos que adquirem.
Perguntas
17. São necessárias medidas a nível da UE para melhorar a transparência e a
comparabilidade dos produtos financeiros (em particular através de soluções digitais),
a fim de reforçar a confiança dos consumidores?
Melhorar as possibilidades de recurso no domínio dos serviços financeiros de retalho
Os consumidores têm muitas vezes dificuldade em encontrar um mecanismo de recurso
adequado num contexto transfronteiras, o que poderá dissuadir os interessados de comprar
produtos financeiros em outros Estados-Membros.
Com o objetivo de ajudar os consumidores nessas situações, a Comissão fundou a rede de
resolução de litígios financeiros (FIN-NET) em 2001, destinada a facilitar a resolução de
litígios transfronteiras no domínio dos serviços financeiros59. Esta rede informal e voluntária
reúne provedorias de justiça, serviços de arbitragem e outros regimes de resolução de litígios
de toda a UE. Os membros da FIN-NET fazem uso de diferentes abordagens e competências,
que vão desde a participação obrigatória e cumprimento obrigatório das decisões pelas Partes
à participação voluntária nos procedimentos de resolução de litígios. Além disso, atualmente,
esta rede não abrange nem todos os Estados-Membros, nem todos os domínios do setor
financeiro de cada país60.
Para que os consumidores encarem com maior confiança a aquisição de produtos
transfronteiras, a FIN-NET poderá ser melhorada por forma a garantir que todos os seus
membros satisfazem os requisitos de qualidade vinculativos no que respeita a «entidades de
Resolução Alternativa de Litígios», no âmbito da Diretiva sobre a resolução alternativa de
litígios de consumo (Diretiva ADR).61 Para se poder beneficiar de uma FIN-NET mais

58
Regulamento (UE) n.º 1286/2014 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de novembro de 2014, sobre
os documentos de informação fundamental para pacotes de produtos de investimento de retalho e de produtos de
investimento com base em seguros (PRIIP) (JO L 352 de 9.12.2014, p. 1).
59
Para mais informações, consultar: http://ec.europa.eu/finance/fin-net/index_en.htm
60
A FIN-NET tem atualmente 57 membros de 22 Estados-Membros e de 3 países do EEE (Noruega, Islândia e
Liechtenstein).
61
Diretiva 2013/11/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de maio de 2013, sobre a resolução
alternativa de litígios de consumo, que altera o Regulamento (CE) n.º 2006/2004 e a Diretiva 2009/22/CE (JO L
165 de 18.6.2013, p. 63)

22
robusta, será necessário que mais consumidores saibam da existência da rede. Embora a FIN-
NET tenha tratado mais de 3500 casos transfronteiras em 2014, o nível de sensibilização em
geral para a FIN-NET é reduzido. A Comissão examinará se uma maior sensibilização dos
consumidores para a FIN-NET deverá ser uma prioridade imediata. A longo prazo, e na
eventualidade de a integração transfronteiras aumentar significativamente, poderá ser
necessário considerar medidas adicionais para continuar a melhorar o sistema de resolução
extrajudicial de litígios no setor dos serviços financeiros de retalho, com base na experiência
adquirida com a aplicação da Diretiva ADR.
Em 2013, a Comissão adotou a Recomendação sobre a tutela coletiva62. Esta Recomendação
convida os Estados-Membros a criar mecanismos de tutela coletiva aplicáveis às violações de
direitos garantidos pelo direito da União, incluindo no domínio dos serviços financeiros. As
ações de tutela coletiva provaram ser um instrumento eficaz para defender os interesses dos
consumidores no âmbito dos serviços financeiros63. A Comissão deve avaliar a aplicação da
Recomendação, com base na experiência adquirida, até julho de 2017.
Perguntas
18. Devem ser tomadas medidas para melhorar os conhecimentos dos consumidores sobre
a FIN-NET e a sua eficácia no contexto da aplicação da Diretiva sobre a resolução
alternativa de litígios de consumo?
19. Os consumidores têm acesso adequado a uma compensação financeira no caso de
práticas abusivas em matéria de vendas de produtos financeiros de retalho e seguros?
Em caso negativo, o que poderia ser feito para assegurar que assim seja?

Proteger as vítimas nos casos de insolvência das companhias de seguros automóvel


Os consumidores que são vítimas de um acidente de viação num outro Estado-Membro
correm o risco de não receber uma indemnização no caso de a seguradora responsável ser
declarada insolvente. Nem todos os Estados-Membros participam atualmente no acordo
voluntário destinada a garantir a indemnização das vítimas no caso de um acidente num
Estado-Membro ser causado por um veículo coberto por uma seguradora insolvente sedeada
noutro Estado-Membro. Num caso recente de insolvência de uma seguradora do ramo
automóvel que prestava serviços transfronteiras, um fundo de garantia noutro Estado-Membro
teve de indemnizar cerca de 1750 queixosos.
Perguntas
20. São necessárias medidas para garantir que as vítimas de acidentes de viação sejam
cobertas por fundos de garantia de outros Estados-Membros no caso de a empresa
seguradora ser declarada insolvente?

62
Recomendação da Comissão, de 11 de junho de 2013, sobre os princípios comuns que devem reger os
mecanismos de tutela coletiva inibitórios e indemnizatórios dos Estados-Membros aplicáveis às violações de
direitos garantidos pelo direito da União, JO L 201 de 26.7.2013, p. 60;
63
Ver, por exemplo, as ações coletivas instauradas com respeito aos produtos de seguros de vida em França, às
ações preferenciais e aos esquemas de pirâmide financeira em Espanha.

23
Aumentar a transparência e a comparabilidade dos seguros acessórios
Quando fui buscar o automóvel que aluguei, perguntaram-me se estava interessado
num seguro acessório, por um montante ainda considerável, a acrescer ao preço de
base do aluguer e ao meu atual seguro.

Muitas vezes, os consumidores não estão cientes do custo ou do valor desses produtos de
seguros acessórios e podem ficar expostos a preços elevados por falta de concorrência e de
divulgação de informação. Tomemos como exemplo o setor do aluguer de automóveis: em
2014, 44,7 % das 1758 queixas dos consumidores relacionadas com o aluguer de automóveis
prendiam-se com taxas suplementares (por exemplo, associadas a danos e serviços extra, tais
como produtos de seguros não apresentados na fase de reserva).64 Relativamente a produtos
de seguros, incluindo os que são associados a outro produto, a Diretiva relativa à Distribuição
de Produtos de Seguros (IDD) reforçará os requisitos de informação (embora não em matéria
de fixação de preços), a fim de evitar os prejuízos causados aos consumidores. Além disso,
em 4 de julho de 2015, cinco grandes empresas de aluguer de automóveis, concordaram em
rever a relação que estabelecem com os consumidores e em fornecer melhor informação na
fase de reserva sobre derrogações opcionais e produtos de seguros.65
Perguntas
21. Que outras medidas poderão ser tomadas para reforçar a transparência sobre os
produtos de seguros acessórios e assegurar que os consumidores possam tomar
decisões fundamentadas na compra desses produtos? No que diz respeito ao setor do
aluguer de automóveis, são necessárias medidas específicas sobre produtos
acessórios?

3.2 Criar novas oportunidades de mercado para os fornecedores


Os prestadores de serviços enfrentam dificuldades quando operam a nível transfronteiras sem
se estabelecerem, isto é, sem a abertura de uma sucursal ou filial noutro Estado-Membro. Em
consequência, sucede que muitas vezes não oferecem os seus produtos noutros Estados-
Membros, nem garantem a sua portabilidade. A presente secção incide sobre a forma como a
Comissão poderia ajudar a reduzir os custos e os riscos inerentes à prestação de serviços
financeiros transfronteiras, dando essa possibilidade às empresas e aumentando a
concorrência e a escolha dos consumidores em toda a UE.

3.2.1 Enfrentar os desafios da digitalização e explorar as oportunidades que esta


proporciona

As empresas, à medida que se digitalizam, vão tendo novas oportunidades de interação com
os seus clientes. No entanto, também são muitos os desafios que têm pela frente. Pode

64
As empresas de aluguer de automóveis: Principais informações da base de dados para o tratamento de litígios
dos Centros Europeus do Consumidor (http://ec.europa.eu/consumers/enforcement/cross-
border_enforcement_cooperation/docs/car_rental_version2_en.pdf)
65
Comissão Europeia, «Better protection for consumers when renting cars» (uma melhor proteção para os
consumidores no aluguer de automóveis), sítio Web (http://ec.europa.eu/justice/newsroom/consumer-
marketing/news/150713_en.htm)

24
revelar-se difícil prestar à distância ou a nível transfronteiras – através da digitalização –
serviços que anteriormente eram prestados pessoalmente. A presente secção analisa estas
dificuldades, bem como a necessidade de medidas da UE com vista à sua redução, a par do
trabalho que resulta da iniciativa «Mercado Único Digital» da Comissão. Esta também tem
sido uma área de especial interesse para os intervenientes no setor66.

Ajudar as empresas a beneficiar mais da digitalização


A velocidade da digitalização pressupõe que alguns desenvolvimentos competitivos e amigos
do utilizador podem não ser possíveis ou podem ser dificultados por disposições legislativas
ou outros preceitos, cuja redação não os teve em conta. A Comissão está interessada em
encontrar formas de encorajar serviços inovadores e amigos do consumidor a nível europeu e
em evitar a fragmentação entre os mercados nacionais.

Perguntas
22. O que pode ser realizado a nível da UE para apoiar as empresas na criação e
prestação de serviços financeiros digitais inovadores em toda a Europa, dotados dos
níveis adequados de segurança e de defesa dos consumidores?

Viabilizar a assinatura eletrónica e verificação da identidade


Um banco oferece, comparativamente, taxas de juro elevadas e foi abordado por
consumidores de outros Estados-Membros que pretendem depositar o seu dinheiro.
Contudo, o banco tem de identificar os seus clientes ao abrigo dos requisitos
legislativos em matéria de combate ao branqueamento de capitais – o que à distância
é difícil de levar a cabo, pelo que tem de verificar as respetivas identidades numa
sucursal. Os consumidores não estão dispostos a viajar até às sucursais por razões de
custo e de tempo e, consequentemente, optam por não depositar os seus fundos na
instituição bancária em causa.

As observações das empresas nesta matéria revelaram que o requisito «Conheça o Seu
Cliente» da legislação em matéria de combate ao branqueamento de capitais limita a sua
capacidade de iniciar e manter relações comerciais com os clientes à distância. Esta situação
constitui um obstáculo igualmente confirmado no estudo da Comissão sobre a DMFSD67, o
que pode afetar muitos serviços financeiros, mas tem um impacto especial sobre os produtos
de poupança e investimento68.

66
Ver, por exemplo, o relatório da Federação Bancária Europeia, «Driving the Digital Transformation» (Operar
a transformação Digital) (http://www.ebfdigitalbanking.eu/)
67
Análise do impacto económico da Diretiva 2002/65/CE relativa à comercialização à distância de serviços
financeiros prestados a consumidores na celebração de contratos transfronteiras de serviços financeiros entre
fornecedores e consumidores no mercado interno, Relatório Final
http://ec.europa.eu/consumers/archive/rights/docs/final_rep_financial_services_2009.pdf)
68
É de notar que, no início deste ano, foi adotada uma quarta Diretiva relativa ao branqueamento de capitais.
Prevê uma abordagem mais flexível e baseada no risco, dando assim lugar a uma maior flexibilidade por forma a
ter em conta as especificidades nacionais e as circunstâncias das várias operações ou relações comerciais. Ver
Diretiva (UE) 2015/849 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de maio de 2015, relativa à prevenção da
utilização do sistema financeiro para efeitos de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo,

25
Os requisitos «Conheça o Seu Cliente» incluem, regra geral, a apresentação de documentos
provenientes de múltiplas fontes, que verificam a identidade do cliente, bem como a
confirmação presencial. Estes mesmos requisitos variam de Estado-Membro para Estado-
Membro, sendo que alguns permitem a verificação de informações à distância (sob certas
condições), recorrendo por exemplo a webcams e à digitalização de documentos, ou à
verificação de documentos originais por terceiros através de instituições como as estações de
correio. Nem todos os Estados-Membros dispõem de opções desta natureza, pelo que as
empresas que fornecem produtos transfronteiras poderão não ter acesso a acordos deste tipo
com terceiros.

Em alguns Estados-Membros também vigoram requisitos que limitam a utilização da


assinatura de contratos à distância, inibindo ainda mais a capacidade de os prestadores
transfronteiras iniciarem relações comerciais com novos clientes. Esta situação restringe
consideravelmente as vendas de produtos a clientes à distância e poderá ter um efeito
desproporcionado na atividade comercial transfronteiras. O Regulamento eIDAS69 é
promissor nesta área; Proporcionará uma solução para a utilização transfronteiras da
identificação eletrónica e dos serviços de confiança para as transações eletrónicas –
assinaturas eletrónicas, selos eletrónicos, selos temporais, serviços de envio registado
eletrónico e serviços de certificados para autenticação de sítios web. Deverá permitir que as
empresas identifiquem mais facilmente os clientes à distância, ou autentiquem em condições
seguras as partes em operações de pagamento no âmbito da Diretiva Serviços de Pagamento
revista. Neste contexto, o setor financeiro foi identificado como uma das áreas que mais pode
beneficiar de soluções de identificação eletrónica.

Trata-se de uma área cujo potencial de melhoria pode ser considerável. A extensão das
medidas de verificação à distância atualmente disponíveis em alguns Estados-Membros e a
boa aceitação do Regulamento eIDAS podem contribuir para eliminar um grande obstáculo à
prestação de serviços transfronteiras. Existem outras soluções que podem passar pela
eliminação de restrições administrativas aplicáveis a contratos à distância, pelo
desenvolvimento de novos sistemas de identidade eletrónica ou pela expansão de medidas
relativas a terceiros para verificar a identidade ou permitir aos consumidores realizar a
verificação entre prestadores. Soluções desta natureza não podem, evidentemente, enfraquecer
a eficácia das medidas europeias postas em prática para combater o branqueamento de
capitais ou o financiamento de atividades ilegais.

Perguntas
23. São necessárias medidas adicionais para melhorar a aplicação da legislação em
matéria de combate ao branqueamento de capitais a nível da UE, nomeadamente para

que altera o Regulamento (UE) n.º 648/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, e que revoga a Diretiva
2005/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho e a Diretiva 2006/70/CE da Comissão (JO L 141 de
5.6.2015, p. 73).
69
Regulamento (UE) n.º 910/2014 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de julho de 2014, relativo à
identificação eletrónica e aos serviços de confiança para as transações eletrónicas no mercado interno e que
revoga a Diretiva 1999/93/CE (JO L 257, 28.8.2014, p. 73)

26
garantir que os prestadores de serviços conseguem identificar os clientes à distância,
mantendo simultaneamente os padrões do atual enquadramento?
24. São necessárias medidas adicionais, inclusivamente no que se refere às normas de
segurança, para promover a adoção e utilização da identificação e assinatura
eletrónicas nos serviços financeiros de retalho?

Melhorar o acesso e a facilidade de utilização dos dados financeiros


Um mutuante é contactado por consumidores de outros Estados-Membros que
pretendem obter um empréstimo. No entanto, quando tenta avaliar a sua
solvabilidade, verifica que existe pouca informação disponível sobre os mesmos por
serem provenientes de outros Estados-Membros. O mutuante não pode fundamentar
as informações que lhe são facultadas, pelo que decidiu não conceder o crédito.
Sem acesso aos dados dos consumidores, é difícil para as empresas fornecer produtos
financeiros (em especial de crédito ou seguros) noutros mercados, dada a impossibilidade de
avaliar os riscos a que estariam expostos. Da mesma maneira, também não podem avaliar os
riscos dos consumidores móveis, cujos dados foram compilados noutro Estado-Membro. Com
o crescimento da digitalização, a apetência das empresas para dispor de dados tem vindo a
aumentar, na medida em que utilizam processos mais sofisticados para fixar o preço dos seus
produtos. Paralelamente, em alguns casos, os dados dos clientes tornaram-se o preço a pagar
por ofertas aparentemente gratuitas de prestadores de serviços digitais, dado que estas
empresas processam e utilizam os dados dos clientes para fins de marketing ou vendem-nos a
outras empresas.
Nos termos da CCD e da MCD, os mutuantes têm o direito de consultar as bases de dados
sobre o crédito noutros Estados-Membros em condições não discriminatórias para avaliar a
solvabilidade de potenciais clientes. No entanto, as empresas ainda se deparam com
problemas ao tentar utilizar estes dados, uma vez que as técnicas para a sua recolha,
distribuição e utilização são ainda muito díspares em toda a UE, além de que as opiniões
variam sobre os dados relevantes para a avaliação da solvabilidade. Por exemplo,
determinados registos de crédito só são ativados em caso de comunicação de dados
«negativos»70, ao passo que outras bases de dados contêm também dados «positivos».71 Quer
isto dizer que o acesso e a utilização dos dados podem constituir um desafio e que muitas
empresas podem ter dificuldade em prestar, com eficiência do ponto de vista económico, os
seus serviços transfronteiras. A Associação dos Fornecedores de Informação em matéria de
Crédito aos Consumidores (ACCIS) deu início a mecanismos privados de partilha de dados, a
nível transfronteiras, no domínio do crédito72, ainda que atualmente faça a ligação entre os
registos de crédito de um número limitado de Estados-Membros. Ao mesmo tempo, os
registos de crédito privados recolhem, frequentemente, mais dados do que o estritamente

70
Os créditos só poderão ser comunicados em caso de incumprimento por parte do consumidor das suas
obrigações de pagamento.
71
Todos os créditos são registados. Dados sobre outros tipos de compromissos poderão igualmente ser
comunicados.
72
Para mais informações sobre a ACCIS, consultar http://www.accis.eu/

27
necessário para efeitos de uma avaliação da solvabilidade ou dados cuja pertinência pode ser
questionável para a avaliação da solvabilidade.
Tendo em conta que o setor dos serviços financeiros adota a digitalização, as companhias de
seguros e outras empresas de serviços financeiros recorrem a tecnologias de informação
modernas e à análise de grandes volumes de dados por forma a oferecerem, cada vez mais,
produtos de seguros «à medida», com uma tarifação do risco personalizada que implica
métodos de monitorização apertada com uma utilização intensiva dos dados, como os
sistemas telemáticos. O aumento da utilização de dados oferece grandes oportunidades de
redução dos preços a muitos consumidores, mas estas práticas também suscitam preocupações
relativamente à privacidade e à proteção de dados que têm de ser tomadas em consideração.
Os consumidores também gostariam de beneficiar de maior disponibilidade de dados quando
invocam um historial positivo em matéria de créditos ou um coeficiente bonus/malus. A
Diretiva relativa ao seguro dos veículos automóveis73 consagra atualmente o direito ao
tomador de seguro de solicitar uma declaração relativa aos sinistros ocorridos ou não, durante,
pelo menos, os últimos cinco anos da relação contratual com a seguradora, embora, na prática,
isto não se traduza numa redução do prémio aquando da celebração de um novo contrato de
seguro. Entre as razões a apontar para esta situação estão os diversos métodos de cálculo dos
descontos, incluindo diferentes durações dos períodos a abranger por estas declarações, a falta
de confiança nas declarações não harmonizadas apresentadas pelas seguradoras e os diferentes
fatores de risco que têm em conta para determinar os prémios.
Perguntas
25. Na sua opinião, que tipo de dados são necessários para as avaliações de
solvabilidade?
26. O aumento da utilização de dados pessoais financeiros e não financeiros por parte das
empresas (incluindo as instituições tradicionalmente não financeiras) requer mais
medidas para facilitar a prestação de serviços ou assegurar a defesa dos
consumidores?
27. Devem os requisitos sobre a forma, o conteúdo ou a acessibilidade ao historial dos
créditos de seguro ser reforçados (por exemplo, em relação ao período coberto ou ao
conteúdo) a fim de assegurar que as empresas têm capacidade para prestar serviços
transfronteiras?
Facilitar a prestação de serviços pós-venda
Uma seguradora pretende oferecer seguros do recheio da casa em linha noutro
Estado-Membro, mas fazê-lo exigirá um investimento num centro de atendimento a
clientes na língua local. Não considera que consiga um volume de negócios que
justifique as despesas envolvidas
Após a venda, as empresas têm obrigações para com os seus clientes que podem ser difíceis
de cumprir à distância. Responder a pedidos de informação, avaliação e cumprimento das

73
Diretiva 2009/103/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de setembro de 2009, relativa ao seguro
de responsabilidade civil que resulta da circulação de veículos automóveis e à fiscalização do cumprimento da
obrigação de segurar esta responsabilidade (JO L 263 de 7.10.2009, p. 11).

28
obrigações relativas aos créditos de seguros, discutir as preocupações dos consumidores e
atender a queixas exige geralmente uma intervenção manual por parte dos funcionários de
uma empresa ou dos gestores de sinistros em empresas de seguros. Muito embora este
trabalho possa ser desenvolvido à distância, requer ainda investimentos substanciais da
empresa, em especial nos casos em que a prestação do serviço obriga ao uso de outras línguas.
Esta questão afeta particularmente as seguradoras tendo em conta as suas obrigações de
gestão de sinistros, para as quais a presença de um representante da empresa (como uma
sucursal ou filial) no mesmo Estado-Membro do seu cliente se afigura crucial. Embora
existam meios de superar este problema, mediante a contratação de terceiros ou
externalização, estas opções nem sempre estão disponíveis ou são atrativas, nomeadamente
tendo em conta a necessidade de controlar eventuais contratantes que atuem em nome da
empresa.

Perguntas
28. São necessárias medidas adicionais para apoiar as empresas a prestarem serviços
pós-contratuais noutro Estado-Membro onde não possuem nem filial nem sucursal?
Garantir a convergência de processos de insolvência pessoal, de avaliação de propriedades e
execução de garantias
Um mutuante foi abordado por consumidores de outros Estados-Membros,
interessados nas baixas taxas de juro fixas estipuladas para créditos hipotecários.
Contudo, visto estar cético quanto ao método de avaliação do valor de propriedades
noutros Estados-Membros e à possibilidade de executar a garantia, caso necessário,
opta por não conceder empréstimos a esses consumidores.
Os mutuantes poderão hesitar em oferecer mais créditos transfronteiras, tendo em conta que
não conhecem bem os regimes de insolvência pessoal aplicáveis noutros Estados-Membros
(inclusive se esses regimes existem). Embora o plano de ação para a criação da UMC dê
alguns passos no sentido de uma maior convergência em determinados domínios dos regimes
de insolvência das empresas nos 28 Estados-Membros, como por exemplo a reestruturação
precoce e uma maior eficácia da administração de processos de insolvência das empresas a
nível transfronteiras, existem ainda divergências significativas em relação aos regimes de
insolvência pessoal em toda a UE. Esta situação cria riscos adicionais para as empresas que
pretendam iniciar uma relação comercial transfronteiras com os clientes, em particular no que
se refere à concessão de crédito; os mutuantes, no caso de não estarem em posição de avaliar
e quantificar os resultados dos processos de insolvência e da legislação relativa à recuperação
de bens, não se sentem confiantes para conceder empréstimos a particulares. A legislação e as
práticas dos Estados-Membros em matéria de falência e insolvência das empresas e de sobre-
endividamento pessoal são atualmente objeto de dois estudos, cuja conclusão está prevista
para 2016.
Do mesmo modo, um conhecimento exato do valor do imóvel é essencial para os mutuantes
terem a certeza quanto ao valor da garantia em caso de incumprimento. Embora a MCD exija
que existam normas fidedignas para a avaliação de imóveis em todos os Estados-Membros,
não está plenamente assegurada a convergência das normas a nível da UE. Na ausência de

29
uma convergência total, alguns mutuantes poderão ainda ter dúvidas sobre o valor das
garantias noutros Estados-Membros.

Perguntas
29. São necessárias medidas adicionais para incentivar os mutuantes a conceder crédito
hipotecário ou outro tipo de crédito a nível transfronteiras?

3.2.2 Cumprir requisitos regulamentares diferentes nos Estados-Membros de acolhimento

As diferenças entre os regimes regulamentares têm um impacto significativo sobre o custo e o


risco da prestação de serviços financeiros de retalho transfronteiras. Apesar de existir alguma
harmonização jurídica em toda a UE em resultado de legislação ao nível da União, existem
diferenças jurídicas em domínios como o direito contratual, sendo que as empresas têm de
cumprir um conjunto substancial de requisitos regulamentares em cada Estado-Membro.
Os requisitos podem variar em função de aspetos específicos dos setores financeiros ou
tradições jurídicas dos Estados-Membros. Os quadros regulamentares nacionais diferem
substancialmente em questões como contratos, proteção de dados, defesa do consumidor,
divulgação de informações, combate ao branqueamento de capitais ou tributação. No que
respeita à legislação aplicável a aspetos civis dos contratos, há que fazer uma distinção entre
contratos de seguro e outros contratos. No que se refere aos seguros, a legislação aplicável é,
em princípio, a do país em que se situa o risco coberto, frequentemente onde o tomador do
seguro tem a sua residência habitual.74 A capacidade das partes para escolher outra legislação
está fortemente limitada. Relativamente a outros contratos celebrados com os consumidores,
as partes podem optar por aplicar o direito contratual do Estado-Membro do vendedor às
operações transfronteiras, o que, nalguns casos, pode significar para as empresas uma redução
dos custos de conformidade jurídica; No entanto, quando o vendedor desenvolve atividades
no Estado-Membro em que o consumidor tem a sua residência habitual, ou direcione as suas
atividades para esse Estado, essa escolha é efetuada sem prejuízo da proteção concedida ao
consumidor por essa legislação.75
Estas diferenças podem criar riscos e custos significativos para as empresas que pretendam
estabelecer uma relação comercial com consumidores localizados noutro Estado-Membro. A
média, para as empresas não financeiras, dos custos relacionados com a legislação aplicável
aos contratos é estimada em cerca de 10 000 euros por Estado-Membro76. As empresas
financeiras suportam custos suplementares significativos para além deste valor em cada

74
Regulamento (CE) n.º593/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de junho de 2008, sobre a lei
aplicável às obrigações contratuais (Roma I) (JO L 177 de 4.7.2008, p. 6).
75
Ver os artigos 3.º, 4.º, alínea b), e 6.º do «Roma I»; Comunicação da Comissão: Uma estratégia para o
mercado único digital da Europa, p. 11 (http://ec.europa.eu/priorities/digital-single-market/docs/dsm-
communication_en.pdf)
76
Comunicado de Imprensa da Comissão Europeia: Um direito europeu comum da compra e venda, p. 2
(http://ec.europa.eu/justice/contract/files/common_sales_law/i11_1175_en.pdf)

30
Estado-Membro em virtude das disposições legais e regulamentares aplicáveis ao setor77. Os
requisitos e custos podem também variar consoante uma empresa opere, ou não, com base na
liberdade de estabelecimento (com presença física) ou na livre prestação de serviços
(incluindo em linha). Regra geral, uma empresa prestadora de serviços tem de respeitar
apenas uma parte das regras do Estado-Membro de acolhimento, por exemplo em matéria de
conduta ou de defesa dos consumidores.
Atualmente, um determinado número de atividades78 pode beneficiar de «passaportes»
europeus que permitem às empresas autorizadas num Estado-Membro prestarem os seus
serviços noutro Estado-Membro com encargos administrativos reduzidos e o mínimo possível
de burocracia. No entanto, este mecanismo de passaporte não elimina os custos de
conformidade jurídica e não se aplica a todos os produtos. Outros potenciais métodos para
reduzir progressivamente os custos e os riscos associados às diferentes exigências legais são
descritos a seguir.
Facilitar às empresas o cumprimento dos requisitos legais aplicáveis noutros Estados-
Membros
Uma plataforma financeira em linha deparou-se com problemas quando tentou
oferecer produtos de poupança em vários Estados-Membros. As informações não
estavam facilmente acessíveis, e a plataforma recebeu pouco apoio construtivo por
parte das autoridades dos Estados-Membros, apesar das vantagens que os seus
produtos podiam trazer para os consumidores. Os custos legais e de conformidade
são elevados, o que tornou a sua oferta menos atrativa.

Os Estados-Membros podem fazer mais para apoiar as empresas que trabalham no âmbito do
atual quadro jurídico e facilitar a conformidade com os requisitos aplicáveis quando prestam
serviços noutros Estados-Membros. Atualmente, a rede SOLVIT à escala da UE79 ajuda as
empresas quando enfrentam problemas com as autoridades públicas que não aplicam
corretamente a legislação da UE, sendo que os «Balcões Únicos» prestam assistência às
empresas no que respeita às obrigações inerentes à prestação de serviços transfronteiras80.
Iniciativas como estas poderiam ainda ser alargadas ao domínio dos serviços financeiros e de
seguros, a fim de reduzir os custos e os riscos para as empresas que pretendam operar nos
mercados de outros Estados-Membros.
Os governos dos Estados-Membros ou as autoridades nacionais competentes podem continuar
a disponibilizar assistência prática (por exemplo, através de «balcões únicos») para os
procedimentos de conformidade transfronteiras. Esta assistência poderá contribuir para apoiar

77
O Grupo de peritos da Comissão sobre o Direito Europeu dos Contratos de Seguro observou recentemente que
alguns requisitos nacionais relacionados com a forma dos contratos de seguros implicam claramente custos para
as empresas. Ver Relatório Final do Grupo de Peritos da Comissão sobre o direito europeu dos contratos de
seguros: (http://ec.europa.eu/justice/contract/files/expert_groups/insurance/final_report_en.pdf), p. 90
78
As empresas abrangidas incluem, por exemplo, as instituições de crédito, as empresas de seguros, os
mediadores de seguros e os intermediários de crédito hipotecário.
79
Para mais informações sobre a rede SOLVIT, consultar o sítio Web (http://ec.europa.eu/solvit/)
80
Para mais informações sobre os balcões únicos, consultar o sítio Web (http://ec.europa.eu/internal_market/eu-
go/index_pt.htm). Estas entidades foram criadas em conformidade com a Diretiva «Serviços».

31
as empresas que se deparam com dificuldades em operar a nível transfronteiras, encorajando
progressos futuros na integração dos mercados da UE e facilitando o desenvolvimento e
difusão de novas tecnologias, bem como soluções inovadoras e induzidas pelo mercado para
os problemas de concorrência.
Perguntas
30. São necessárias medidas a nível da UE para obter assistência prática dos governos
dos Estados-Membros ou das autoridades nacionais competentes (por exemplo,
através de «balcões únicos»), a fim de facilitar as vendas transfronteiras de serviços
financeiros, especialmente no caso de empresas ou produtos inovadores?
31. Que medidas seriam mais úteis para que as empresas beneficiassem com maior
facilidade da liberdade de estabelecimento ou da liberdade de prestação de serviços
no caso de produtos inovadores (como por exemplo, uma cooperação agilizada entre
supervisores dos países de origem e de acolhimento)?
Criar regimes autónomos ou mais harmonizados à escala da UE
Uma seguradora fornece uma simples apólice de seguro de vida a um preço
competitivo no seu mercado nacional e cumpre todos os requisitos legais e
regulamentares. Registou que os prémios são muito mais elevados nos outros
Estados-Membros, e entende estar perante uma oportunidade de negócio. Contudo,
não pode vender o produto noutros mercados, uma vez que o produto é concebido
de modo a satisfazer os requisitos legais e regulamentares do seu Estado-Membro de
origem.

Em alguns casos, um quadro jurídico separado poderá ser a melhor forma de aumentar a
escolha de produtos, diminuindo simultaneamente os custos para as empresas e assegurando a
adequada defesa dos consumidores. Um regime de «opt-in» poderia constituir um
enquadramento para as características idênticas dos produtos, a utilizar numa base voluntária.
A vantagem residiria na harmonização de normas entre os Estados-Membros e na superação
de muitas diferenças regulamentares nacionais em alguns domínios. Além disso, poderia ser
um meio útil para oferecer produtos financeiros comparáveis e de fácil compreensão,
aumentando, assim, a confiança dos consumidores e a confiança nas compras transfronteiras.
O Plano de Ação da UMC anuncia a intenção da Comissão de avaliar a necessidade de um
enquadramento político com vista a criar um mercado europeu para pensões individuais
simples, eficientes e competitivas.
Em 2015, a EIOPA procedeu a uma consulta sobre a criação de um produto pan-europeu
normalizado de pensões individuais (PEPP). Tendo em conta as suas características
semelhantes, o trabalho realizado pela EIOPA poderia servir de base para o desenvolvimento
de um regime de «opt-in» aplicável a produtos de seguros de vida pan-europeus, o que
poderia também vir a revelar-se útil para outros produtos.
O mesmo objetivo poderia ser alcançado por via de uma aproximação dos regimes e direitos
nacionais a fim de fomentar a convergência através de orientações, de uma comparabilidade
acrescida ou de práticas normalizadas, eventualmente mediante o desenvolvimento dos atuais
ou novos regimes de passaporte e a convergência de normas de supervisão (conduzida pelas
AES) a fim de limitar as questões relacionadas com Autoridades Reguladoras do Estado de

32
origem. O conceito de regras de «interesse geral»81 em matéria de seguros, que constituem
uma exceção aos princípios fundamentais do Tratado em matéria de livre circulação,
beneficiaria de uma maior clareza. O regulamento UCITS, como exemplo atual de êxito de
um regime à escala da UE, poderia servir de inspiração.
Perguntas
32. Que produtos de serviços financeiros de retalho poderão beneficiar mais da
normalização ou dos regimes de «opt-in» como forma de eliminar as diferenças entre
as legislações dos Estados-Membros?
33. São ainda necessárias medidas a nível da UE no que respeita ao princípio da
«localização do risco» na legislação sobre seguros e à clarificação das regras em
matéria de «interesse geral» no setor dos seguros?

Secção 4 Próximas etapas


As partes interessadas são convidadas a enviar as suas respostas às perguntas do presente
Livro Verde até 18 de março de 2015 através do questionário em linha: [Ligação]

Esta consulta cumpre as regras normais da Comissão Europeia em matéria de consultas


públicas. As respostas serão publicadas, salvo indicação em contrário em linha por parte dos
inquiridos. A fim de garantir um processo de consulta justo e transparente apenas as respostas
recebidas através do nosso questionário em linha serão tidas em conta e incluídas no relatório
de síntese das mesmas. Se tiver problemas quando responder ao questionário ou se necessitar
de ajuda, contacte: [Endereço eletrónico]

As regras gerais em matéria de proteção de dados pessoais podem ser consultadas no sítio
Web EUROPA: http://ec.europa.eu/geninfo/legal_notices_pt.htm#personaldata. A declaração
específica em matéria de política de proteção da vida privada para o presente processo de
consulta pode ser consultada no seguinte endereço: [Ligação]

Queira igualmente refletir sobre a existência de quaisquer obstáculos não abordados no


presente documento e a possibilidade de qualquer dos obstáculos mencionados afetarem
especialmente as pequenas e médias empresas.

Durante o processo de consulta, a Comissão Europeia:


 colabora com o Parlamento Europeu a fim de obter diretamente as observações dos
seus deputados;
 convida os Estados-Membros a organizar consultas e eventos junto do público e dos
deputados nacionais com vista à promoção do debate sobre estas questões a nível
nacional; e

81
Um Estado-Membro pode recorrer à noção de interesse geral para impor o respeito da sua própria legislação
por uma seguradora que pretenda exercer a sua atividade no seu território, quer ao abrigo do direito de
estabelecimento quer ao abrigo da liberdade de prestação de serviços. No entanto, as diretivas relativas a
produtos de seguros não estabelecem a noção de interesse geral, mas este está descrito na Comunicação
interpretativa da Comissão - A liberdade de prestação de serviços e o interesse geral no setor dos seguros (JO
C 43, 16.02.2000) com base nos requisitos estabelecidos pelo Tribunal de Justiça.

33
 organiza de forma transparente e equilibrada seminários para consultar as partes com
conhecimentos técnicos específicos (tais como académicos e agentes do mercado) a
fim de obter um parecer esclarecido sobre determinadas questões.
O objetivo da Comissão consiste em maximizar os benefícios práticos de um Mercado Único
de serviços financeiros de retalho para o maior número possível de consumidores europeus
através da abertura do mercado e da melhoria do seu funcionamento, tendo em vista uma
maior e melhor escolha de produtos financeiros. A nossa ação tem também como objetivo
eliminar algumas dos obstáculos concretos que impedem as empresas de oferecer os seus
serviços além-fronteiras. A Comissão continua igualmente a centrar-se nos seus objetivos
mais alargados de pôr fim ao injustificado bloqueio geográfico e outras formas de
discriminação em razão da nacionalidade ou do local de residência, de reforçar a confiança
dos consumidores na disponibilização de meios de reparação adequados e de melhorar o
acesso a informações compreensíveis, comparáveis e proporcionadas sobre produtos de
serviços financeiros de retalho.
A Comissão organizará uma conferência no início de 2016 para analisar os resultados da
consulta e discutir áreas prioritárias referidas no presente Livro Verde. A Comissão prevê a
publicação de um Plano de Ação sobre os Serviços Financeiros de Retalho na sequência do
processo de consulta, no verão de 2016.

34

Das könnte Ihnen auch gefallen