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Faculdade de Educação
Departamento de Metodologia de Ensino e Educação Comparada
Trabalho Final
Disciplina: Didática
A educação no Brasil passou por várias mudanças no decorrer dos anos e ainda
buscamos uma forma de melhorá-la. Atualmente o professor encontra-se em uma
situação bem mais desvalorizada do que antigamente e a educação, se me permitem
utilizar este termo, está em crise. Um dos locais mais atingidos é o ensino público, onde
escutamos diariamente relatos de violência escolar, tais como agressões a professores,
bullying entre os alunos e também é possível ver a marca das insatisfações dos docentes
nas greves que são feitas para reivindicar aumento de salário e melhorias nas condições
de trabalho. Nós professores que estamos começamos nesta profissão nos esquecemos
de todos estes problemas? Creio que não. Digamos que mesmo com todos estes
desafios, queremos ser professores, seja lá qual for o fator que nos mova para exercer
esta atividade, se admiramos um professor que tivemos no decorrer da nossa vida
estudantil ou se gostamos de ensinar algo a outrem, enfim é a profissão que escolhemos
independente das dificuldades.
Para complementar está ideia assistimos ao filme “A Língua das Mariposas”, cujo
contexto histórico refere-se ao período que antecede a Guerra Civil Espanhola, período
este marcado pelo autoritarismo imposto pelos governantes, pelo conservadorismo da
Igreja Católica e a pela falta de liberdade. Uma das figuras contrárias a estes
comportamentos é a do professor Don Gregório, cuja mentalidade é marcada por um
ideal de liberdade e crítica da sociedade em que vive. O filme me levou a refletir o quão
importante é o papel do professor, pois é ele quem vai suscitar nos alunos a reflexão
sobre a vida, sobre o mundo e a sociedade em que se inserem. O professor é um dos
principais responsáveis pela formação de cidadãos críticos, capazes de fazer suas
próprias escolhas e de defender seus ideais sem se deixar alienar.
Não é só a relação professor-aluno que faz com que o ensino seja efetivo, há outros
fatores que contribuem e nós como futuros professores devemos sabê-los. Refiro-me ao
projeto político-pedagógico, que até então, antes do curso de didática eu não tinha um
definição exata do que poderia ser e da sua importância. Segundo VEIGA, o projeto
político-pedagógico busca a organização do trabalho pedagógico da escola em sua
globalidade e seus elementos principais são: as finalidades da escola, a estrutura
organizacional, o currículo, o tempo escolar, o processo de decisão, as relações de
trabalho e avaliação.
Outro sentido construído ao longo do nosso curso de didática e que contribui para
nossa formação é sobre a relação aluno, professor e mediação do conhecimento.
Segundo Charlot o homem não é, deve torna-se o que deve ser e para que isto ocorra
deve ser educado por aqueles que suprem sua fraqueza inicial e deve educar-se, “torna-
se por si mesmo”. Para ele nascer e aprender é entrar em um conjunto de relações e
processos que constituem um sistema de sentido, onde se diz quem eu sou, quem é o
mundo e quem são os outros. Esse sistema do qual eu me construo e sou construído
pelos outros, é chamado educação.
Charlot afirma que toda educação supõe o desejo, como força propulsionadora
que alimenta o processo. Charlot cita três conceitos utilizados na relação com o saber o
da mobilização, da atividade e do sentido. A criança mobiliza-se, em uma atividade,
quando investe nela, quando faz uso de si mesma como de um recurso, quando é posta
em movimento por móbeis (razões que a levam a agir) que remetem a um desejo, um
sentido, um valor. Quando estou em sala de aula com meus alunos de 3 anos de idade e
está na hora de colocarmos o tênis, não posso como professora que está ensinando
noções de como cuidar de si simplesmente colocar o tênis para eles. Tenho que incitá-
los para que desperte neles o desejo (móbil) de fazerem sozinhos, seja porque querem
imitar o adulto, ou porque o outro colega de sala já sabe fazer e esse desejo de ser como
o outro faz com que a criança se mobilize e tente colocar o tênis (atividade). Toda esta
ação tem um significado pra ela, ou seja, gera-se um sentido para criança.
Outro ponto importante para nossa formação foi a discussão sobre a avaliação
escolar. Segundo VASCONCELOS, o professor não pode se deixar levar pela “lógica do
detetive”, ou seja, se comportar qual um policial procurando o errado, o culpado ou fora
do padrão diante da avaliação dos seus alunos, mas sim como um pedagogo que
acompanha o crescimento do educando, procurando dar-lhe as condições necessárias
para seu desenvolvimento. Para ele a maneira como a nota é trabalhada na escola mostra
a presença de uma pedagogia comportamentista, baseada no esforço-recompensa, no
prêmio-castigo e ao invés de ser um elemento de referência do trabalho de construção
do conhecimento, passa a desempenhar o papel de prêmio ou de castigo, tornando a
relação pedagógica alienada e tanto o aluno como o professor passam a se preocupar
mais com a nota do que com a aprendizagem.
Este trabalho teve o intuito de apresentar até que ponto o curso de didática
contribuiu para minha formação como professora. Todas as atividades desenvolvidas no
curso foram importantes, desde a leitura dos textos até os questionamentos levantados
em sala de aula. Foi também através do estágio que pude vivenciar a atividade docente,
o comportamento dos alunos e os esforços que a instituição de ensino faz para atender
aos objetivos propostos do seu projeto político-pedagógico.
A língua das mariposas. Diretor: José Luis Cuerda. Elenco: Fernando Fernán Gómez,
Manuel Lozano, Uxía Blanco, Gonzalo Martín Uriarte, Alexis de Los Santos, Guillermo
Toledo. Produção: Fernando Bovaira, José Luis Cuerda. Roteiro: Rafael Azcona,
baseado na novela. Fotografia: Javier Salmones. Trilha Sonora : Alejandro Amenábar.
Duração: 95 min. Ano: 1999. DVD. País: Espanha. Gênero: Drama. Cor: Cor. Estúdio:
Sogetel, Las Producciones del Escorpión, Grupo Voz.
VEIGA, Ilma P.A. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva. In:
VEIGA, Ilma P. A. (org.) Projeto político pedagógico da escola: uma construção
possível. Campinas, SP: Papirus,1995, p.11-35.