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O documento resume um livro de David Harvey chamado "Espaço da Esperança", que discute questões como desigualdades geográficas, corpos e políticas no espaço global, movimentos utópicos e alternativas pluralistas. Dois textos do livro são analisados em detalhe, abordando o papel dos arquitetos na construção do destino humano e simulando cenários de ações políticas rebeldes.
O documento resume um livro de David Harvey chamado "Espaço da Esperança", que discute questões como desigualdades geográficas, corpos e políticas no espaço global, movimentos utópicos e alternativas pluralistas. Dois textos do livro são analisados em detalhe, abordando o papel dos arquitetos na construção do destino humano e simulando cenários de ações políticas rebeldes.
O documento resume um livro de David Harvey chamado "Espaço da Esperança", que discute questões como desigualdades geográficas, corpos e políticas no espaço global, movimentos utópicos e alternativas pluralistas. Dois textos do livro são analisados em detalhe, abordando o papel dos arquitetos na construção do destino humano e simulando cenários de ações políticas rebeldes.
“Espaço da Esperança” é um livro de David Harvey, que traz vários ambientes
institucionais em imagens e relatos, que fazem da leitura um verdadeiro compêndio de conhecimentos que ora aqui, surpreende-nos pela condicional qualidade intelectual. Além da Introdução, divide-se em quatro partes principais, cada uma delas perspicazmente elaborada para atrair o interesse do leitor e compostas por textos de qualidade indiscutivelmente adequados para o contexto em que estão inseridos. Essas quatro partes são apresentadas na seguinte ordem: Parte 1, DESENVOLVIMENTOS GEOGRÁFICOS DESIGUAIS; Parte 2, DOS CORPOS E DAS POLÍTICAS NO ESPAÇO GLOBAL; Parte 3, O MOVIMENTO UTÓPICO e Parte 4, CONVERSAS SOBRE A PLURALIDADE DE ALTERNATIVAS. Da parte quatro é que foram extraídos os dois textos referenciais que são o foco de apreciação nessa resenha: Sobre arquitetos, abelhas e o “ser da espécie” e O arquiteto rebelde em ação. O primeiro deles, Sobre arquitetos, abelhas e o “ser da espécie”, aborda questões relacionadas a esse nosso mundo social desprovido de uma matriz de mudança social, de movimentos sociais amplos ou alianças de classes que criem planos imediatos de mudança social. Sendo assim o texto restringe-se a conversações vagas sobre alternativas e possibilidades. A tentativa do autor mostra o interesse dele em abordar de modo direto e aberto, a dinâmica espaço temporal de forma dialética esteticamente diferenciada, também representar os múltiplos processos materiais responsáveis, segundo Harvey, pelo aprisionamento do ser humano na teia da vida socioecológica contemporânea, buscando refletir sobre a descontrolada acumulação de capital, os privilégios de classes e as inevitáveis desigualdades de poder político-econômico. O melhor é quando o autor julga que essa forma de refletir pode ser responsável pela criação de um espaço para experimentos mentais sobre possíveis mundos alternativos, ora sendo assim, ele admite buscar uma alternativa de mundo diferente com perspectivas de conseguir ajustar o materialismo histórico e geográfico. Em “Sobre arquitetos e abelhas” o autor descreve o arquiteto como o profissional inserido nos processos de construção e elaboração de espaços, utópicos ou não, esses espaços são moldados para conferir utilidade social, bem como significados humanos e estético-simbólicos ao longo de toda a história. De forma específica, a arquitetura ganha no texto o significado de atividade criadora, responsável pela transformação da forma em função de seu uso e adaptação ao uso do homem e isso num processo contínuo e desenfreado ao longo da história. Por isso o autor tem segurança em fazer analogias em relação ao arquiteto ser a personificação do homem arquitetando seu próprio destino e sorte. Tendo ele a maestria de usar a imagem do arquiteto como uma metáfora da nossa condição de agentes no curso de nossas práticas cotidianas, preservando, construindo e reconstruindo nosso mundo da vida, nesse instante relacionando o arquiteto à Marx no primeiro volume de O Capital, onde estão registrados os princípios fundamentais da dinâmica e da dialética da mudança socioecológica. Assim sendo, onde o autor faz a ligação com as abelhas? Ora, as abelhas se inserem nessa construção de ideias feitas por Marx de duas maneiras, como parte do texto de Mandeville, A fabula das Abelhas e também como forma de expressar a sofisticação das práticas arquitetônicas que comparadas às abelhas são de fato, a melhor expressão do trabalho humano. No destaque das “Capacidades e potencialidades humanas”, são feitas conversas com os textos de Marx, vejamos que este nunca fez oposição aos socialistas utópicos, porque eles acreditavam serem as ideias uma força material na mudança histórica, porém fadadas ao fracasso. Quanto “A concepção de ser de nossa espécie” tem o objetivo de passar a ideia de que, de alguma maneira o homem pode compreender-se como espécie, que ele pode compreender suas capacidades e suas potencialidades, até mesmo as potencialidades adormecidas como é referido por Marx. Para Harvey, isso é viável, desde que pensemos em transformar o mundo por meio do trabalho e junto caminhando a autotransformação pessoal, pensando em por em prática a imaginação para realizar projetos. Porém para a efetivação dessas mudanças, são impostas regras, ou seja, opções estratégicas para a ação humana, onde o autor apresenta seis elementos oriundos de nossa própria experiência evolutiva: “a luta pela existência – por meio de seleção natural”; “a adaptação e diversificação em nichos naturais – por meio da inovação“; ”a colaboração, a ajuda mútua – através da capacidade de comunicação”; “transformações da natureza – com os requisitos humanos”; “organizações espaciais, mobilidades e outros desse gênero – sistema material e espacialmente articulado de apoio à vida de indivíduos”; “organizações temporais – nas próprias sociedades humanas”. Com relação a formação social, diz o autor ter o caráter definido pelos elementos do repertório geral que por sua vez são elaborados pelas exigências do poder de classe. Ele destaca que todo modo de produção é uma unidade dinâmica e contraditória entre diferentes elementos advindos do repertório básico no texto referenciado, e a transição de um para outro modo de produção envolve transformações de todos os elementos do repertório, uns com relação aos outros. Considerando de forma específica o ser humano, o autor afirma que este pode afetar a evolução subsequente por meio de seu próprio comportamento e também podem fazer opções ativas, e com seu comportamento podem alterar condições físicas e sociais para a posteridade. Portanto, o texto reafirma que o homem é arquiteto da evolução em virtude das capacidades científicas, técnicas e culturais adquiridas. Na sequência, teremos o segundo texto usado como referência, “O arquiteto rebelde em ação”, onde Harvey inicia sua reflexão criando uma situação de pano de fundo em que o homem é um arquiteto e que precisa transformar o mundo. Para isso o autor inicia descrevendo as características de um arquiteto, como seres dotados de potencialidades, de capacidades, inseridos em um mundo social e físico pleno de restrições e limitações manifestas. Ainda segue o autor com sua suposição, declarando ser o arquiteto, habilidoso e inclinado à rebeldia, e com a incumbência de pensar estratégias para uma mudança total de um mundo em ele continuará habitando, ou seja, a questão é de alta responsabilidade e risco. Na verdade, o autor preparou aqui um cenário questionador propositadamente gerador de um caos consciente, onde o desejo de mudança se oprime na realidade restritiva inevitável, reprimindo o incontrolável e súbito impulso transformador que se alia, pelo que se pode perceber, a capacidade implícita de transformação do arquiteto em seu contexto, de forma criativa e dinâmica. Então a questão que permeia as entrelinhas do texto fica bem definida como buscar uma resposta para de alguma forma conseguir construir um sentido de possibilidades, sobrepujando confusões e reconhecendo o poder das restrições que cercam essas possibilidades de tal forma a neutralizá-las. Na sequência, Harvey deixa claro que nesta segunda reflexão, a escala espaço temporal de ocorrência dos processos modificam as colocações e propõe aprofundar as ideia com um jogo de simulações mentais onde joga com possibilidades políticas e considerou para isso diversas situações possíveis de pensamentos de práticas políticas rebeldes em que estas devem alterar a forma e a direção da vida social, chamadas de “teatros”. Com esse propósito, Harvey detalhou o exame em sete teatros de atividades rebeldes, considerando ainda que os seres humanos poderiam pensar e agir de formas diferentes, como arquitetos de seu destino individual e coletivo. Os sete teatros foram assim apresentados no texto: “O pessoal é político”: apresenta o arquiteto rebelde como um ser corporificado que ocupa um espaço exclusivo em dado período de tempo, dotado de habilidades prontas para mudar o mundo; “A pessoa política é uma construção social”: o arquiteto com caráter político em um momento espaço- temporal, como uma construção social fluida; “A política das coletividades”: o autor considera que políticas coletivas estão em toda parte e que fluem por canais restritos e previsíveis, e ao que parece o arquiteto rebelde precisa encontrar meios para que possa percorrer livremente o tempo e o espaço para conseguir moldar um processo integrado de mudança histórico-geográfica; “Particularismo militante e ação política”: perspectiva de uma revolução permanente e também uma revolução longa, isso segundo autor, na medida em que são buscados princípios de um utopismo dialético e epaço-temporal; “Instituições mediadoras e ambientes construídos”: objetivando mediar a dialética entre particularidade e universalidade, tornando-se tipicamente centros de formação de discursos dominantes e centros de poder; “Traduções e aspirações”: aqui o autor afirma que o arquiteto rebelde, ansioso por ações transformadoras, precisa dispor de condições para traduzir aspirações políticas diante da heterogeneidade das condições socioecológicas e político-econômicas, devendo enfrentar as condições e perspectivas dos desenvolvimentos geográficos desiguais; “O momento da universalidade, sobre compromissos pessoais e projetos político”: para Harvey é o momento de decisão existencial, em que certos princípios se materializam mediante a ação no mundo, ou seja, tomada de decisão para posterior ação de acordo com esta escolha. Assim encerra o autor a apresentação dos sete teatros, e o autor apresenta então sua lista de direitos universais, que acredita ele, seja digna de atenção: O direito a oportunidades de vida, O direito à associação de vida e a um “bom” governo, Os direitos dos trabalhadores envolvidos diretamente no processo produtivo, O direito a inviolabilidade e à integridade do corpo humano, direitos de imunidade/desestabilização, Direito a um ambiente de vida decente e saudável, O direito ao controle coletivo de recursos de propriedade comum a todas as pessoas, os direitos dos que ainda vão nascer, O direito à produção do espaço, O direito à diferença, incluindo o direito ao desenvolvimento geográfico desigual e Nossos direitos como seres da espécie. Esses direitos apresentados pelo autor são dignos de reflexão por parte do leitor, pois trazem em si uma descrição e uma justificativa de porque considerá-los inseridos no contexto em questão. Ainda temos no texto uma última abordagem, “Moldar ordens socioecológicas”, fala do utopismo dialético aspirado por Harvey e que demandaria uma revolução histórico-geográfica permanente, para isso é preciso saber distinguir atividade e pensamento inseridos em diferentes teatros de ação social. Também argumenta o autor, que muito do que se apresenta por prática política e arquitetônica imaginativa fica imobilizado em um ou dois dos teatros apresentados, pois o autor julga que as divisões mentais e práticas do trabalho e de perspectiva, atualmente se encontram arraigado em todas as ações humanas tornando-se impossível a atuação em mais de um teatro de pensamento de forma simultânea. A ideia que o autor passa ao referir-se a essas impossibilidades é a de que o arquiteto rebelde devesse mudar o paradigma de comportamento, buscando conhecer plenamente a coragem que cada um tem encarcerada dentro de si e também buscar a desestruturação explícita em buscar o desconhecido, de forma consciente e destemida, assim, pensa Harvey, o arquiteto deixaria de ser puro objeto da geografia histórica como uma abelha operária e assumiria seu papel de sujeitos ativos que busquem conhecer e intervir nas possibilidades humanas de vida, mesmo que muitas atitudes possam ser consideradas como abusivas por nichos conservadores de pensar, que possuam a mente criativa como uma adversária a comodidade e estabilidade humana. Esta leitura tem uma riqueza incomum, já que reflete o fazer social do arquiteto e coloca-o frente ao desafio de mudar paradigmas de comportamento profissional, onde essas mudanças já são de domínio e conhecimento comum, porém, trazem consigo historicamente o medo da mudança radical de comportamento. Para os interessados, fica a indicação para uma leitura e reflexão completa nos textos, pois Harvey teve a preocupação de fazer uma descrição minuciosa de cenários e pensares, onde a reflexão filosófica misturada com sua capacidade criativa de escrever/envolvendo torna essa leitura obrigatória no meio científico.