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CLIMACOM CULTURA CIENTÍFICA ‐ PESQUISA, JORNALISMO E ARTE | ANO 02


‐ VOLUME 02

Cidades estima que essa proporção


continue crescendo nas próximas
Médias e décadas. Uma das questões

vulnerabilidade emergentes nesse debate que

às
ainda é pouco explorada no Brasil
diz respeito às cidades e às

mudanças mudanças climáticas. Essa discussão

climáticas vem aumentando nos últimos anos,


em virtude da coincidência entre

no Brasil: uma série de questões relevantes

elementos para as
diretamente
mudanças climáticas
relacionadas à
para urbanização. Os padrões de

integração urbanização e o estilo de vida

do debate
urbano têm relação direta com as
emissões de gases de efeito estufa.

a partir de Por outro lado, a concentração de

estudos de pessoas nas cidades implica que


esses locais podem ser gravemente

caso* afetados pelos impactos das


mudanças climáticas,
especialmente com o aumento da
Tiago Cisalpino Pinheiro[1]
frequência e intensidade dos
Gilvan Ramalho Guedes[2] eventos extremos e desastres
naturais.
Alisson Flávio Barbieri[3]
O Brasil conta com desafios ainda
INTRODUÇÃO
maiores, porque se insere no grupo
Os principais desafios da dos países tropicais em
humanidade, a redução da pobreza, desenvolvimento, países que ainda
o desenvolvimento e o precisam percorrer um longo
enfrentamento das mudanças caminho para chegar ao mesmo
climáticas são cada vez mais nível de renda, educação e
questões urbanas, levando‐se em qualidade de vida dos países ricos.
conta que metade da população Ao mesmo tempo, por estarem
mundial já reside em cidades e se localizados na zona tropical, estes

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países serão os mais afetados pelas criação de grupos de pesquisa sobre


mudanças climáticas. Isso ocorre o tema tanto no painel
porque eles já apresentam maior intergovernamental quanto na
temperatura média, de modo que comunidade acadêmica
os aumentos previstos os (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
colocariam em patamares CLIMATE CHANGE, 2014; UNITED
climáticos muito adversos no futuro NATIONS POPULATION FUND, 2007).
(INTERGOVERNMENTAL PANEL ON A importância resulta do contexto
CLIMATE CHANGE, 2014; MENDELSON, no qual as cidades são, ao mesmo
2006). Isso acarreta uma situação tempo, parte do problema e foco
desafiadora, porque além de das soluções. São grande parte do
enfrentar o desafio do problema na medida em que
desenvolvimento, teremos que representam apenas 2% da área do
lidar também com as graves planeta, mas respondem por quase
implicações das mudanças 80% do consumo de energia e por
climáticas. Num país onde 80% da no mínimo 40% das emissões
população reside em áreas urbanas, (UNFPA, 2007). Nesse aspecto, as
seus principais desafios nesse tema medidas de mitigação
passam necessariamente pela necessariamente passam por
discussão da questão urbana. Para mudanças profundas nas cidades. A
contribuir com essa discussão, infraestrutura, o sistema de
vamos apresentar os principais transporte, o consumo de energia
conceitos da discussão a propósito são questões que precisam de
das cidades e mudanças climáticas grandes mudanças para redução de
na literatura mundial, suas emissões e contribuir para
contextualizando a questão das mitigação. Além disso, a
cidades médias brasileiras. Por fim, concentração da população é
vamos operacionalizar os conceitos crescente no meio urbano, fazendo
da discussão teórica na forma de com a preparação para os impactos
indicadores e análises espaciais que advindos de um grande contingente
permitam a integração entre essas de pessoas diga respeito
áreas temáticas, apontando principalmente às populações
caminhos de interface entre essas urbanas. Isso tem implicações
áreas de estudo. diretas na criação de soluções para
lidar com os impactos que são as
  ações de adaptação às mudanças
climáticas.
CIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS
As cidades concentram atualmente
A questão das cidades e mudanças
climáticas tem grande importância metade da população. Até 2050,
nas principais discussões que estima‐se que esse percentual
atinja 70%, com cerca de 2 bilhões
tangenciam essa temática nos
de novos habitantes urbanos a mais
últimos anos. Esse debate recebeu
ênfase nos últimos relatórios do O morando em cidades (UNFPA, 2007).
Painel Intergovernamental sobre As áreas urbanas concentram risco
de desastres por conta da
Mudanças Climáticas (IPCC) e com a

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aglomeração de pessoas, precipitação também serão


infraestrutura, ativos, intensificados, a ocorrência de
empreendimentos, expansão chuvas muito intensas em curto
urbana e planejamento inadequado período de tempo também deve ser
(DICKINSON et al., 2012). Essa um grande problema. Aumento do
discussão tem recebido grande nível do mar nas cidades litorâneas,
atenção, sendo que boa parte das aumento da frequência e
discussões científicas e intensidade de enchentes e cheias
governamentais se organiza através de rios. Extremos de secas também
da rede de pesquisa em mudanças são esperados, trazendo
climáticas – Urban Climate Change implicações para o abastecimento
Research Network. de água de grande contingente
populacional concentrado nas
Outro problema que ocupa a cidades. As implicações diretas
literatura diz respeito à relacionadas a precipitações
vulnerabilidade das cidades às
intensas envolvem a perda de
mudanças climáticas nos países em
infraestrutura e vidas humanas.
desenvolvimento. As cidades Existe grande chance de que áreas
desses países têm sofrido aumento no semiárido venham a sofrer
no risco de ocorrência de desastres
aumento na intensidade das secas.
– com potencial crescente de
Estas, por sua vez, impactam
perdas humanas e econômicas –, diretamente vários setores, como a
acentuado pela falta de produção de alimentos,
planejamento e velocidade da
abastecimento de água, geração de
expansão urbana. As mudanças
energia e saúde. Espera‐se também
climáticas trazem implicações um aumento na intensidade de
importantes com aumento no ciclones (INTERGOVERNMENTAL
número e na variedade dos
PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2007a;
impactos possíveis nas cidades, nos
ROZENSWEIG et al., 2011).
serviços ecossistêmicos e nas
populações. Nesse contexto, fica Uma das características das áreas
claro também que as populações urbanas é seu nível de intervenção
pobres nas zonas peri‐urbanas são direta sobre as áreas naturais.
as mais vulneráveis aos eventos Nesse contexto, é inevitável que o
extremos, pelo fato de que, em ambiente urbano cause grandes
geral, estão localizadas nas áreas alterações no microclima local. As
mais vulneráveis ambientalmente, áreas urbanas possuem um
como encostas, áreas inundáveis coeficiente de reflexão menor nas
entre outros (DICKINSON et al., áreas naturais por conta dos
2012; REVI et al., 2014). materiais empregados, como
cobertura asfáltica, concreto e
As discussões do IPCC (2007a) sobre telhados. Os materiais comumente
cidades e mudanças climáticas
utilizados em áreas urbanas
identificaram uma série de
apresentam grande potencial de
impactos nas cidades. Ondas de
absorção da radiação, o que
calor terão aumento na frequência
intensifica o fenômeno das ilhas de
de ocorrências, os fenômenos de
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calor. Além disso, a concentração proximidade da costa ou rio, área


de pessoas e atividade econômica urbanizada, elevação, densidade
nas cidades envolve a presença de populacional, percentual de pobres
milhares de fontes de calor em e qualidade da infraestrutura. Trata‐
pequena escala, como aparelhos de se aqui de todos os fatores físicos e
ar‐condicionado, veículos socioeconômicos que afetam
automotores, além do uso de aqueles de risco associados a uma
energia com fins comerciais e cidade (ROZENSWEIG et al., 2011;
industriais (ROSENZWEIG et al., MEHOTRA et al., 2009)
2007; REVI et al., 2014).
Cada um dos impactos das
Os estudos sobre o tema passam mudanças climáticas afetam as
então para as definições pessoas e domicílios de maneiras
conceituais que orientam a análise diferentes, havendo um conjunto
da vulnerabilidade das cidades. O de atributos que determinam uma
primeiro conceito é o de perigo ou maior ou menor vulnerabilidade.
ameaça, ou seja, nos impactos Por exemplo, a população idosa
derivados de fenômenos climáticos tem maior dificuldade de
extremos nas cidades. Essas locomoção e é especialmente
ameaças são identificadas a partir sensível a extremos climáticos
da regionalização dos modelos de como ondas de calor. As crianças,
cenários globais. Os principais por outro lado, também são mais
eventos extremos, resultado das suscetíveis às doenças em
mudanças climáticas, são as ondas situações de enchentes, por
de calor, enchentes, cheias, exemplo. Os domicílios, por sua
aumento do nível do mar. Isso vez, também apresentam grande
implica na avaliação das médias de variabilidade quanto a sua
temperatura e na mudança na vulnerabilidade: domicílios
frequência e intensidade dos construídos com materiais
eventos extremos. O fator de risco, inadequados, localizados em áreas
por sua vez, consiste no arranjo de maior declividade, sujeitas à
entre as informações de mudanças inundação e localizadas na costa
climáticas que potencialmente estão mais vulneráveis que
resultariam nos maiores danos para domicílios em boas condições em
as cidades específicas consideradas. áreas não expostas a determinados
(ROZENSWEIG et al., 2011; MEHOTRA riscos. Sendo assim, avaliações de
et al., 2009). vulnerabilidade implicam avaliar os
impactos de desastres e eventos
O segundo conceito é o de em populações. Os parâmetros de
vulnerabilidade, que consiste no
avaliação da vulnerabilidade da
conjunto de atributos das cidades e
população vão depender da
populações que determinam o grau
capacidade das pessoas de evitar o
de suscetibilidade aos perigos
perigo, antecipá‐lo e tomar
resultantes das mudanças do clima. medidas que impeçam ou limitem o
Variáveis que afetam a
impacto, em outras palavras,
vulnerabilidade são, por exemplo, a
capacidade de resolver o problema
ocorrência de enchentes,
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enfrentado e se recuperar de seus sociedade civil em se adaptar às


efeitos. Os grupos vulneráveis mudanças climáticas (ROZENSWEIG
devem ser avaliados de acordo com et al., 2011; (MEHOTRA et al., 2009).
essas quatro diretrizes
Conceitualmente, um desastre é
(INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
uma combinação dos perigos e da
CLIMATE CHANGE, 2013; REVI et al.,
2014). exposição das pessoas e ativos
combinados com suas respectivas
Nesse contexto, existe grande vulnerabilidades. Nesse sentido, a
variabilidade entre as vulnerabilidade e,
vulnerabilidades de diferentes consequentemente, os riscos dos
cidades e dentro da mesma cidade. desastres podem ser minimizados
Em geral, as cidades localizadas nos através do aumento da resiliência
países pobres estão mais ou da capacidade em lidar com os
vulneráveis aos eventos extremos impactos dos elementos expostos
que as cidades em países ricos. Isso ao risco (ROZENSWEIG et al., 2011;
ocorre pela concentração de MEHOTRA et al., 2009).
pobreza, ausência de infraestrutura
O potencial de um desastre resultar
adequada e de aparato institucional
em perdas depende do grau de
para lidar com eventos extremos,
exposição da população e dos seus
de modo que o número de mortes
ativos econômicos e ambientais.
em razão de eventos extremos se
Fatores como a urbanização,
concentra em países pobres e em
migração, crescimento
desenvolvimento. Por outro lado,
como os países ricos têm populacional, todos aumentam a
concentração de pessoas e ativos
investimentos muito superiores na
em áreas de risco. O maior grau de
infraestrutura urbana e qualidade
exposição e vulnerabilidade tanto
das edificações, ao mesmo tempo
das pessoas quanto da
em que contam com economias
infraestrutura explica porque
que geram maior valor agregado, os
nessas áreas os impactos dos
custos dos eventos extremos
desastres naturais são maiores. A
nesses países assumem valores
superiores aos de países pobres combinação única de aspectos do
meio físico, social, econômico e
(INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
ambiental influenciam diretamente
CLIMATE CHANGE, 2013).
o grau de risco e vulnerabilidade da
O terceiro conceito é o de cidade e seus residentes.
capacidade adaptativa. Esse é o
As estimativas dos impactos são
atributo institucional da cidade que
resultado da observação dos
determina o grau de capacidade da
parâmetros atuais e futuros das
cidade em responder aos impactos
principais variáveis climáticas,
das mudanças climáticas. São
medidas de habilidade como como temperatura, precipitação,
nível do mar, entre outras. Os riscos
estrutura institucional, recursos
precisam ser avaliados de acordo
humanos, informação, capacidade
de análise. Diz respeito à com sua variância de curto e de
longo prazo e também em relação à
capacidade dos atores locais e da
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frequência e intensidade dos


eventos extremos. Um dos
principais objetivos desse item é
compreender a complexa interação
entre as mudanças do clima e seus
impactos específicos diretos nas
cidades (ROZENSWEIG et al., 2011;
MEHOTRA et al., 2009).

Figura 1 – Os três vetores do risco


urbano

Fonte: Mehrotra (2003) e


Rosenzweig; Hillel (2008)

No Brasil, o tema das cidades e


mudanças climáticas ainda é muito
incipiente, como destaca Sahtler et
Fonte: Mehrotra (2003) e al. (2015) ao fazer um levantamento
Rosenzweig; Hillel (2008) de todas as iniciativas institucionais
nas principais regiões
  metropolitanas brasileiras. Já o
trabalho de Bueno (2011) buscou
Quadro 1 – Os três vetores do risco
lidar com os mecanismos
urbano
institucionais existentes no país
para tratar dessa questão.
Recentemente, o livro Mudanças
Climáticas e Resiliência das Cidades
(FURTADO et al., 2015)) trouxe para
o Brasil, pela primeira vez, os
principais conceitos internacionais
do debate. A contribuição do livro é
fornecer alguns subsídios
conceituais para debater a questão
das cidades e mudanças climáticas
no Brasil.

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A urgente integração entre as cidades vêm concentrando a maior


discussões que se dão em âmbito parte do crescimento urbano e
internacional sobre a problemática econômico no continente nas
das mudanças climáticas e as últimas décadas. Apesar do maior
cidades e o debate sobre as dinamismo, destaca‐se também
questões urbanas no Brasil é uma série de grandes desafios para
necessária. Uma das questões mais os gestores, que precisam lidar com
relevantes em debate, atualmente, a provisão de infraestrutura,
no Brasil, diz respeito à ascensão desenvolvimento econômico e
das cidades médias na rede urbana qualidade de vida. Insere‐se nesse
brasileira, principalmente a rol de desafios às demandas por
concentração do crescimento mitigação e adaptação às mudanças
econômico e demográfico nessas climáticas (INTER‐AMERICAN
cidades. Discute‐se muito, DEVELOPMENT BANK, 2014)
também, como essas cidades
oferecem possibilidades para o Um dos pontos mais importantes no
planejamento urbano, na medida debate atual sobre a urbanização
em que apresentam problemas no Brasil refere‐se ao papel e à
relevância das cidades médias na
urbanos em menor escala que as
rede urbana brasileira e no
grandes metrópoles. Se esse
argumento for verdadeiro, há uma crescimento econômico e
boa oportunidade de integração demográfico do país nas últimas
entre as discussões sobre cidades e décadas. O processo de urbanização
brasileiro é marcado por uma rápida
mudanças climáticas e aquelas
aceleração e crescimento das
concernentes às cidades médias no
Brasil. Se as cidades médias têm metrópoles nacionais entre 1940 e
maior potencial para um 1970, seguido por um processo de
planejamento urbano mais bem‐ desconcentração regional, a partir
do final dos anos 1970, em direção
sucedido, podendo oferecer melhor
às cidades médias do eixo Sudeste
qualidade de vida para as
populações, ela também e Sul (DINIZ, 1996)). Esse processo
apresentaria maior potencial para foi resultado, em um primeiro
articular as discussões sobre a momento, das economias de escala
necessidade de mitigação e urbana existentes no processo de
desenvolvimento industrial. A partir
adaptação das cidades brasileiras às
de um certo limiar de
mudanças climáticas.
concentração, as deseconomias de
  aglomeração – como alto custo de
aluguéis e terrenos, elevado custo
A QUESTÃO DAS CIDADES MÉDIAS de transporte e deslocamento –
NO BRASIL manifestam‐se, forçando o

A urbanização na América Latina é deslocamento das atividades


marcada, atualmente, por um econômicas das metrópoles em
crescimento das cidades médias ou direção às cidades médias. No
momento, parte expressiva do
cidades intermediárias sobre as
crescimento econômico e
metrópoles, uma vez que tais

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demográfico e dos fluxos cidades médias e o contexto em


migratórios se destina a estas relação aos principais temas caros à
cidades. literatura internacional sobre as
cidades e mudanças climáticas.
Grande parte dessa discussão
envolveu o debate sobre o papel O primeiro desafio ao estudar as
das cidades médias em oferecer cidades médias é conceitual, pois
mão de obra qualificada e boa não existe uma definição única que
infraestrutura urbana para as pudesse ser aplicada às diversas
atividades industriais que áreas do conhecimento que
abandonavam as regiões estudam o tema. O geógrafo
metropolitanas. Além disso, os Oswaldo Bueno Amorim,
graves problemas urbanos causados especialista no tema, destaca, por
pela acelerada expansão sua vez, que, apesar da ausência de
metropolitana também definições únicas, o conceito é
contribuíram para a construção de bastante real. As cidades médias
uma visão na qual as cidades podem ser consideradas como os
médias poderiam representar um centros que possuem população em
papel importante para a melhoria geral entre 100 mil e 1 milhão de
da gestão urbana. Assim, as cidades habitantes que desempenham
médias eram vistas como parte da funções intermediárias na
solução para os problemas urbanos hierarquia urbana. Esses números
do país, dado que a escala dos variam conforme o autor, sendo que
problemas urbanos das metrópoles alguns consideram que cidades
em relação às cidades médias de acima de 50 mil habitantes podem
fato favorece que se chegue a essa assumir esse papel. O mais
conclusão. importante, sem dúvida, são as
funções desempenhadas por essas
A literatura sobre as cidades médias
cidades na rede urbana e sua
destaca a visão de que essas posição relativa aos demais
cidades possuem um tamanho centros. Essas cidades estão abaixo
ótimo, conseguem prover a dos centros metropolitanos
diversidade de bens e serviços que nacionais e regionais e
caracteriza o ambiente urbano, ao
desempenham uma influência
mesmo tempo em que oferecem
regional importante de
um ambiente urbano com melhor intermediação entre os centros da
qualidade de vida, mobilidade e hierarquia superior e as zonas rurais
melhor qualidade ambiental. Nesse e semirrurais.
contexto, vale fazer a associação
entre as possibilidades das cidades A partir daí, surge um grande
médias para a questão da adaptação número de estudos buscando
às mudanças climáticas, como se a avaliar alguns parâmetros
menor escala do problema urbano importantes nas cidades médias
facilitasse a adoção de mecanismos brasileiras, como fatores de
de adaptação. Para avaliar esse qualidade ambiental, mecanismos
contexto, precisamos retomar de gestão urbana e planejamento,
analiticamente a definição das expansão urbana desordenada,
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presença de aglomerados desigualdade social observada no


subnormais e favelas, bem como os país.
indicadores de violência.
Nesse contexto, as cidades terão
Um dos parâmetros avaliados é a um papel fundamental porque são o
situação de violência nas cidades epicentro do processo de
médias. Os trabalhos com as desenvolvimento brasileiro e
cidades médias de Minas Gerais porque concentram, a cada dia,
mostram que, nos últimos anos, uma parcela maior da população.
essas cidades vêm apresentando Desse modo, os desafios que as
indicadores de violência acima da cidades enfrentarão em relação às
média estadual, e bem acima das mudanças climáticas serão, em
cidades pequenas, demonstrando grande medida, os principais
que, de fato, a urbanização e o desafios que o país irá enfrentar
aumento da escala da hierarquia para lidar com essa questão. O
urbana os indicadores de violência IPCC, em seu quinto relatório,
respondem diretamente (BATELLA; destaca a relevância dos estudos
DINIZ, 2005). sobre as cidades no âmbito da
avaliação das potencialidades e
Um dos principais pontos da análise
ameaças que a crescente
sobre as cidades médias brasileiras
concentração das populações nas
é a evolução da capacidade cidades pode implicar quando
institucional para lidar com os consideradas as mudanças
problemas urbanos. Um dos estudos climáticas (INTERGOVERNMENTAL
voltados para uma região
PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2013).
economicamente dinâmica
(Campinas, SP) mostra que os  
indicadores de qualidade de gestão
urbana não acompanham o CIDADES MÉDIAS BRASILEIRAS E
crescimento econômico e da MUDANÇAS CLIMÁTICAS:
população, estando ausentes, em ELEMENTOS DE INTERFACE DO
uma série de cidades importantes, DEBATE

os mecanismos de gestão A questão das cidades médias e


tradicional. Outros dois aspectos mudanças climáticas no Brasil ganha
importantes para a questão das relevância no debate nacional
mudanças climáticas é a pobreza e
porque essas são as cidades que
vulnerabilidade social. Os estudos
experimentarão maior crescimento
mostram que as cidades médias, econômico e populacional do país.
como esperado, apresentam um Por conseguinte, além de terem
percentual de domicílios em que lidar com o desafio do
aglomerados subnormais em níveis
desenvolvimento, essas cidades
bem inferiores às metrópoles, o
precisarão enfrentar a questão das
que resulta também numa mudanças climáticas. Dentre as
qualidade de vida superior ao das cidades médias brasileiras, há um
populações metropolitanas. Por grande número delas que são
outro lado, essas cidades são
especialmente vulneráveis às
igualmente marcadas pela elevada
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mudanças climáticas. A ideia é Vamos trabalhar a metodologia de


aplicar o instrumental e os avaliação da vulnerabilidade das
conceitos que vêm sendo cidades às mudanças climáticas
desenvolvidos pela literatura a um para sete cidades médias
conjunto de cidades médias brasileiras: Altamira, Marabá,
brasileiras, integrando essa Santarém, no estado do Pará,
discussão ao debate sobre a Blumenau, em Santa Catarina,
vulnerabilidade das cidades às Governador Valadares, em Minas
mudanças climáticas. Vamos Gerais, Uruguaiana, no Rio Grande
explorar especialmente duas do Sul, e Corumbá, no Mato Grosso
questões, visando à integração do Sul. As cidades foram escolhidas
entre os debates. O primeiro ponto porque regionalmente relevantes e
consiste na questão da expansão por estarem localizadas na margem
urbana, isto é, em como as cidades de grandes rios, portanto sujeitas à
médias vêm concentrando o ocorrência de cheias e inundações.
crescimento populacional do país, o Os rios que margeiam essas cidades
que reflete diretamente na são respectivamente o Rio Xingu,
dinâmica interna de expansão Rio Tocantins, Rio Tapajós, Rio
urbana. Dado que a expansão Itajaí, Rio Doce, Rio Uruguai e Rio
urbana desordenada é um elemento Paraguai. Em seguida, vamos
chave da vulnerabilidade das operacionalizar os principais
cidades às mudanças climáticas, as conceitos da literatura relativa à
cidades médias como elementos de vulnerabilidade das cidades às
concentração do risco urbano mudanças climáticas para essas
podem apresentar vetores de cidades médias brasileiras. O
ampliação da vulnerabilidade das objetivo dessa análise é sugerir
populações urbanas às mudanças bases de dados que possibilitem
climáticas no Brasil. O segundo outras análises semelhantes, além
ponto a ser observado é uma de apresentar aspectos conceituais
associação entre a literatura novos aplicados à realidade urbana
voltada para a vulnerabilidade às das cidades médias brasileiras.
mudanças climáticas e o papel das
cidades médias como centro Tabela 1 – Indicadores
hierárquico com funções superiores socioeconômicos básicos das
na hierarquia urbana. Ou seja, a cidades Médias selecionadas

morfologia das cidades médias faz


com que os serviços de hierarquia
superior, que aqueles mais
especializados, em geral se
concentram no centro dessas
cidades. Se a área central da cidade
estiver localizada em áreas
vulneráveis, o papel da cidade
média como polo de oferta de
serviços pode ser comprometido.

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Entendemos também que, além de


operacionalizar os conceitos com
bases de dados da realidade local, é
necessário avançar na discussão e
propor questões que integrem a
análise da vulnerabilidade das
cidades às mudanças climáticas
com aquela sobre as cidades médias
no Brasil.

O principal ponto de
vulnerabilidade das cidades às
mudanças climáticas é o aumento
da frequência e intensidade dos
desastres naturais
(INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
CLIMATE CHANGE, 2013) A
conceituação dos impactos consiste
Fonte: PNUD, FJP, IPEA (2013).
no levantamento do histórico de
  ocorrências, que no Brasil vem
sendo sistematizas com o Atlas
A velocidade da expansão urbana, Brasileiro de Desastres Naturais
por sua vez, tem relação direta com desenvolvido pela Universidade
a precariedade de fornecimento da Federal de Santa Catarina (UFSC,
infraestrutura e a questão da 2013). Os impactos existentes nas
pobreza. Desse modo, vamos cidades escolhidas se referem
explorar, no contexto das cidades principalmente a ocorrência de
médias brasileiras, as relações inundações. A tabela a seguir
entre a expansão urbana e a mostra a ocorrência de desastres
precariedade da infraestrutura e a naturais nas cidades escolhidas no
questão da vulnerabilidade urbana período entre 1991 e 2012.
às mudanças climáticas. A pobreza,
a falta de qualidade da  
infraestrutura e a precariedade das
Tabela 2 – Tipo e número de
condições habitacionais são fatores
ocorrências de desastres naturais
de aumento da vulnerabilidade das
nas cidades escolhidas entre 1991 e
populações urbanas.
2002
Interessa‐nos não apenas fazer uma
análise de indicadores
representativos dos conceitos
trabalhados na literatura, mas
também mostrar como os conceitos
presentes na discussão sobre
mudanças climáticas e cidades
interagem com o problema das
cidades médias no Brasil.

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Fonte: Elaboração do autor com


Fonte: Elaboração do autor com
dados do Atlas Brasileiro dos
dados do Atlas Brasileiro dos
Desastres Naturais 1991‐2012 (UFSC,
Desastres Naturais 1991‐2012 (UFSC,
2013)
2013)
 
 
Tabela 3 – Ano de frequência dos
Tabela 4 – Número de eventos, ano
eventos de inundação nas cidades
de ocorrência, edificações
escolhidas entre 1991 e 2002
atingidas, número de desabrigados
e alojados de eventos de
enchentes ou inundações graduais
ocorridas nos últimos 5 anos nas
áreas urbanas.

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populações às mudanças climáticas


são análises socioeconômicas que
visam identificar os aspectos da
vulnerabilidade e resiliência da
população. As principais bases de
dados para avaliação dos
indicadores socioeconômicos na
escala urbana de todo o Brasil são
os resultados do Universo do Censo
Demográfico Brasileiro por Setores
Censitários. Os resultados
permitem a operacionalização de
alguns conceitos da análise de
vulnerabilidade das cidades às
Fonte: Elaboração do autor com mudanças climáticas. Alguns
dados da Pesquisa Municipal do IBGE aspectos importantes, como as
características dos domicílios,
 
características do entorno e
Identificamos duas áreas de aspectos da resiliência dos
interface e diálogo potencial entre moradores, podem ser adaptados a
o debate sobre o papel e as partir dos resultados do universo.
características das cidades médias
As variáveis disponíveis nos
brasileiras e o problema da
resultados do Universo do Censo
vulnerabilidade das cidades às
Demográfico 2010 foram avaliadas
mudanças climáticas. A primeira
para identificação daquelas que
consiste na sobreposição entre a
poderiam representar os aspectos
vulnerabilidade das populações às
da vulnerabilidade das populações
mudanças climáticas nas cidades
urbanas das cidades médias
médias e a dinâmica da expansão
escolhidas às mudanças climáticas.
urbana nessas cidades. A segunda
Estas variáveis estão de acordo com
consiste na avaliação espacial da
os apontamentos da literatura
vulnerabilidade da área central das
sobre o tema e buscam retratar os
cidades aos eventos extremos.
pontos mais sensíveis da
Como foi dito anteriormente, se as
vulnerabilidade das populações
áreas centrais das cidades
urbanas organizadas por três
estiverem localizadas em regiões
tópicos principais: as características
vulneráveis nas épocas de seca, isso
dos domicílios, as condições da
implica um impacto direto no papel
vizinhança dos domicílios e
desempenhado pelas cidades
aspectos relacionados à resiliência
médias. Ambas as análises serão
dos moradores. A resiliência dos
detalhadas a seguir.
moradores compreende aspectos
Vulnerabilidade e expansão urbana como a concentração de crianças e
desordenada idosos nos domicílios dos setores
censitários e a renda domiciliar,
Um componente básico da uma vez que esses grupos
avaliação da vulnerabilidade de
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populacionais são mais vulneráveis


aos eventos extremos (REVI, 2014).
Mesmo nos países desenvolvidos,
onde os impactos dos eventos
extremos resultam em pequeno
número de mortes, essas, quando
acontecem, concentram‐se
geralmente entre crianças e idosos
– caso do furacão Sandy, por
exemplo. As características da
vizinhança se constituem num
elemento diretamente relacionado
à vulnerabilidade das populações,
sempre destacado na maior parte
da literatura desenvolvida sobre o
tema (ROZENWIEG, 2013). A
precariedade da infraestrutura
urbana é um fator de aumento do
risco das populações aos eventos
extremos. Por outro lado, vale
observar, também, as
características dos domicílios que
refletem o seu acesso aos serviços
públicos, elemento importante de
avaliação da vulnerabilidade. O
Quadro 4 apresenta as variáveis
utilizadas para a composição do
indicador de vulnerabilidade
socioeconômica dos setores
censitários urbanos. Foram
utilizados apenas os setores
censitários urbanos do distrito
sede, ou seja, da área urbanizada
contígua às sedes municipais.

Quadro 4 – variáveis utilizadas para


composição do indicador
socioeconômico As variáveis sugeridas pela
literatura apresentam alta
correlação, aspectos negativos
como a falta de acesso aos serviços
públicos, baixa renda, e piores
características do entorno dos
domicílios. Para sintetizar esses
elementos, utilizamos técnicas da
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estatística multivariada para diferenças entre a vulnerabilidade


geração de um único indicador de da população urbana das cidades. O
vulnerabilidade dos setores principal objetivo é, portanto,
censitários. As variáveis foram mostrar como o debate a propósito
sistematizadas através de uma da vulnerabilidade às mudanças
matriz com todos os setores climáticas interage diretamente
censitários das sete cidades médias com aspectos importantes da
com a técnica de Análise de discussão sobre cidades médias no
Componentes Principais. Essa Brasil.
técnica participa do conjunto de
técnicas de análise fatorial que visa O primeiro ponto de tangência
identificado entre esses temas
definir a estrutura subjacente de
consiste na interação entre a
uma matriz de dados. Essa técnica
expansão urbana desordenada nas
permite que variáveis possam ser
cidades médias brasileiras e a
inter‐relacionadas de modo a que
vulnerabilidade das populações
sejam representativas de um
residentes nas áreas precárias. Para
conceito mais geral (HAIR et al.,
avaliação da integração entre a
2006). No caso em foco, utilizou‐se
a técnica para resumir todas as expansão urbana e a precariedade
variáveis representativas dos da infraestrutura urbana, serão
aspectos da vulnerabilidade das avaliados os indicadores de
populações às mudanças climáticas vulnerabilidade das populações por
setores censitários em relação com
num único componente que seja
as áreas de expansão urbana dos
representativo de todo conceito de
municípios. Para isso, escolhemos
vulnerabilidade. A escolha dessa
imagens do satélite Landsat,
técnica estatística visa
disponibilizadas gratuitamente pelo
exclusivamente tornar a análise
United States Geological Survey,
mais simples, pois, ao invés de
que permitem a avaliação de longo
analisar diversas variáveis,
concentra‐se na análise daquela prazo da evolução da mancha
que representa bem todo o urbana das cidades médias
universo dos dados. Nesse sentido, escolhidas. Foi realizado o
tratamento das imagens através de
a técnica atende a finalidade
técnicas de sensoriamento remoto
apresentada. O tratamento dos
para definição da área urbanizada
dados, utilizando todos os setores
das cidades ao longo do tempo,
de todas as cidades, também
tendo sido escolhido um horizonte
permitirá comparar o grau de
temporal de 30 anos: imagens
vulnerabilidade entre os setores da
atuais das cidades, nos anos de
mesma cidade e entre as diferentes
2015 e 2016, contra imagens das
cidades. Isso ilustra bem as
diferenças entre as condições intra mesmas cidades nos anos de 1985 e
e intermunicipais. Como será feita 1986. As áreas urbanizadas podem
a integração desses dados com ser identificadas através do
processamento digital de imagens.
outras análises, é mais eficiente
Os limites das áreas urbanizadas no
utilizar um único indicador ao invés
passado e no presente podem ser
de vários para ilustração das

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vistos na Figura 2. Os resultados da


delimitação em 2016 foram
sobrepostos às plantas de ruas das
cidades disponíveis nos softwares
de geoprocessamento para
validação dos contornos. Os
resultados foram bastante próximos
das áreas de plantas, o que
demonstra que a técnica se mostra
adequada.

Figura 2 – Áreas Urbanizadas nas


Cidades Médias em 1986 e 2016

Governador Valadares, MG

Blumenau, SC

Santarém, PA

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Altamira, PA
Uruguaiana, RS

Figura 3 – Indicador Socioeconômico


de Vulnerabilidade às Mudanças
Climáticas

Corumbá, MS

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O resultado espacial dos


indicadores socioeconômicos
sobrepostos aos limites das áreas
urbanizadas em 1986 pode ser visto
na Figura 3. Vale destacar, como
pode ser claramente observado no
mapa, que a vulnerabilidade
socioeconômica está diretamente
relacionada espacialmente com as
áreas de expansão urbana das
cidades médias estudadas. Os
setores censitários com os piores
indicadores socioeconômicos em
geral estão localizados fora do
perímetro central das cidades.

A tabela abaixo sistematiza a Figura


3, e mostra como, de fato, os
indicadores de vulnerabilidade
socioeconômica às mudanças
climáticas das áreas recém‐
urbanizadas das cidades
apresentam, em praticamente
todos os casos, são piores que nas
áreas centrais. Isso aponta uma
forte relação entre a expansão
urbana e a vulnerabilidade urbana
às mudanças climáticas nas cidades
médias brasileiras.

Tabela 5 – Indicadores de
Vulnerabilidade Socioeconômica às
mudanças climáticas nas cidades
brasileiras

Fonte: Elaboração própria a partir


de dados do IBGE e Google Earth

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a região central dessas cidades que


concentra a maior parte dos
serviços e comércio de hierarquia
superior que fazem da cidade
média um polo de oferta de
serviços. Vale avaliar, nesse
contexto, o grau de vulnerabilidade
da área central dessas cidades
quanto à ocorrência de inundações.
Para isso, delimitamos o centro da
cidade através de técnicas de
análise espacial que permitem a
demarcação de um polígono através
da distribuição de pontos. Os
pontos são a localização de serviços
de hierarquia superior nas cidades.
Escolhemos a localização de três
Fonte: Elaboração dos autores à
atividades que, de acordo com os
partir das bases de dados do IBGE
modelos morfológicos, são
  representativos das áreas centrais e
servem para indicar a sua
Centralidade e Vulnerabilidade localização nessas cidades. São
eles: Bancos, consultórios médicos
Outro elemento de integração das
e serviços advocatícios. A base de
análises da vulnerabilidade das
dados utilizada foi o Google Earth.
cidades às mudanças climáticas
A Figura 3 mostra a delimitação
consiste no potencial dos eventos
dessas regiões que, como pode ser
extremos afetarem o papel
observado na figura, também
principal das cidades médias, que é
apresentam menor vulnerabilidade
ofertar serviços de hierarquia
às mudanças climáticas. Isso ocorre
superior para uma região de
porque naturalmente essas regiões
influência. As cidades médias têm
concentram a geração de riqueza
como aspecto conceitual definidor
dessas cidades, possuindo melhor
a capacidade de funcionarem como
infraestrutura e populações
polos regionais de suas regiões,
residentes mais ricas. Essas regiões
ofertando serviços de hierarquia
concentram as principais atividades
superior e intermediando as trocas
econômicas e oferta de serviços das
entre a zona rural e as pequenas
cidades médias. Para avaliação da
cidades de sua região de influência
vulnerabilidade da região central à
e as regiões metropolitanas. O
ocorrência de desastres naturais,
principal modelo de morfologia
utilizamos técnicas de análise
urbana das cidades médias mostra
espacial que permitem avaliar qual
que os serviços mais especializados
a cota de altitude da área central
dessas cidades estão concentrados
das cidades em relação à cota dos
em regiões específicas,
rios que as margeiam. O resultado é
especialmente nas áreas centrais
apresentado na Tabela 6, abaixo, e
(AMORIM FILHO, 2005). É, portanto,
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serve como indicador do grau de


vulnerabilidade das áreas mais
dinâmicas dessas cidades aos
desastres. Em média, a altitude do
centro está bem acima da cota do
rio, o que, de certa forma, é
natural, tendo em vista a relevância
dessa área para as cidades. Por
outro lado, em alguns casos, a cota
mínima da área central está a
poucos metros da cota mínima do
rio. Santarém ilustra esse ponto,
tendo em vista que, na última
grande enchente, a área central,
onde se concentra a maior parte do
comércio e dos serviços da cidade,
foi afetada pela cheia do Rio
Tapajós, como noticiado algumas
reportagens (G1, 2014).

Tabela 6 – Altitude média e mínima


das áreas centrais das cidades
médias e dos rios que as margeiam

Fonte: Elaboração do autor

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho apresentou os principais


conceitos da discussão acadêmica
sobre a vulnerabilidade das cidades
às mudanças climáticas,
contextualizando essa discussão a
partir dos debates sobre a questão
das cidades médias no Brasil. A
análise apresentada mostra que
existe a necessidade e grande
potencial para a interação entre
essas discussões em benefício da
adaptação das cidades brasileiras às
mudanças climáticas. Trata‐se de
uma abordagem inicial, que visou
identificar algumas interfaces entre
a discussão acadêmica internacional
sobre a vulnerabilidade das cidades
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às mudanças climáticas e o BATELLA, W. B.; DINIZ, A. M. A. O


contexto do debate acadêmico uso de técnicas elementares de
sobre a urbanização brasileira, que estatística espacial no estudo da
tem concentrado seu foco na reestruturação espacial da
questão das cidades médias. O criminalidade violenta no Estado de
objetivo nesse artigo é dar início ao Minas Gerais: 1996‐2003. Caderno
debate urgente no país a respeito de Geografia, Belo Horizonte, v. 16,
do aumento da resiliência da n. 26, p. 153‐167, 2006.
população brasileiras aos graves
BUENO, L. M. M. Cidades e
impactos das mudanças climáticas.
Mudanças Climáticas no Brasil:
Observamos, também, que esses
Planejamento de Medidas ou Estado
temas possuem grande potencial
para um debate integrado, pois de Risco?*. Sustentabilidade em
algumas características importantes Debate, Brasília, v. 2, n. 1, p. 81‐98,
das cidades médias, como o padrão jan./jun. 2011.

de urbanização e aspectos da DINIZ, C. C.; CROCCO, M. A.


morfologia urbana dessas cidades, Reestruturação econômica e
apresentam relação direta com impacto regional: o novo mapa da
elementos importantes da indústria brasileira. Nova Economia,
avaliação da vulnerabilidade das
Belo Horizonte, v. 6, n. 1, jul. 1996.
cidades às mudanças climáticas.
FURTADO F. et al. Mudanças
 
Climáticas e Resiliência das
Cidades. Recife: Pickimagem, 2015.
AGRADECIMENTOS

Esta pesquisa contou com o apoio INTER‐AMERICAN DEVELOPMENT


BANK – IDB. Methodological Guide
financeiro da FAPEMIG (Processo CSA
Emerging and Sustainable Cities
– APQ‐00244‐12; Processo CSA – PPM
Initiative. Emerging and Sustainable
00305‐14 e Processo PPM‐00125‐14),
Cities Initiative (ESCI), 2014.
do CNPq (Processo 483714/2012‐7 e
Processo 472252/2014‐3) e da Rede
INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
Clima.
CLIMATE CHANGE – IPCC. Climate
  change 2007: The physical science
basis. Contribution of working
group I to the fourth assessment
REFERÊNCIAS report of the Intergovernmental
Panel on Climate Change. Ed.
 
Solomon, S., Qin et al. Cambridge,
AMORIM FILHO, O. B. Um modelo de UK and New York, New York:
Zoneamento Morfológico funcional Cambridge University Press, 2007a.
do Espaço Intra‐Urbano das Cidades
______. Climate change 2007:
Médias de Minas Gerais. In: AMORIM
Impacts, adaptation and
FILHO, O. B.; SENA FILHO, N. A
vulnerability. Contribution of
morfologia das cidades médias.
working group II to the fourth
Goiânia: Vieira, 2005. p. 17‐68.
assessment report of the

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Intergovernmental Panel on Climate American Meteorological Society, v.


Change. Ed. Parry, M. L. et al. 90, n. 9, p. 1297‐1312, 2009.
Cambridge, UK: Cambridge
UNITED NATIONS POPULATION FUND.
University Press, 2007b.
State of the World Population
REVI, A. et al. Urban areas. In: 2007. New York, NY, 2007.
Climate Change 2014. Impacts, Disponível em:
Adaptation, and Vulnerability. Part <https://www.unfpa.org/sites/default/files/pub‐
A: Global and Sectoral Aspects. pdf/695_filename_sowp2007_eng.pdf>.
Contribution of Working Group II to Acesso em: 10 mar. 2016.
the Fifth Assessment Report of the
Intergovernmental Panel on Climate  
Change Cambridge University Press,
Recebido em: 1/03/2016
Cambridge, United Kingdom and
New York, NY, USA, 2014. p. 535‐612. Aceito em: 10/03/2016

ROSENZWEIG, C.; HILLEL, D. Climate  


Variability and the Global Harvest:
Impacts of El Niño and Other
* Este artigo contou com o
Oscillations on Agro‐Ecosystems.
financiamento da FAPEMIG
Oxford University Press, 2008.
(Processo CSA – APQ‐00244‐12;
ROSENZWEIG, C.;  SOLECKI, W. Processo CSA – PPM 00305‐14;
Climate Change Adaptation in New Processo CSA – PPM‐00125‐14), CNPq
York City: Building a Risk (Processo 483714/2012‐7 e Processo
Management Response. New York 472252/2014‐3) e Rede Clima.
City Panel on Climate Change 2010
[1] Tiago Cisalpino Pinheiro é
Report. Annals of the New York
economista (UFMG), doutor em
Academy of Sciences, 1196, p. 1‐
Geografia Tratamento da
354.
Informação (PUC‐Minas), e realiza
ROSENZWEIG, C. et al. Cities lead seus estudos de pós‐doutorado em
the way in climate‐change action. Demografia no Centro de
Nature, v. 467, n. 7318, p. 909‐911, Desenvolvimento e Planejamento
2010. Regional da Universidade Federal de
Minas Gerais (CEDEPLAR/UFMG)
ROSENZWEIG, C. e al. Climate
Change and Cities: First Assessment [2] Gilvan Ramalho Guedes é doutor
Report of the Urban Climate Change em Demografia (CEDEPLAR/UFMG).
Research Network. Cambridge Professor Adjunto II do
University Press, Cambridge, UK, Departamento de Demografia da
286 pp. UFMG. Sub‐coordenador da Sub‐
Rede Cidades & Urbanização (Rede
ROSENZWEIG, C. et al. Mitigating Clima).
New York City’s heat island:
integrating stakeholder [3] Alisson Flávio Barbieri é Ph.D.
perspectives and scientific em Urban Planning (University of
evaluation. Bulletin of the North Carolina). Professor Associado

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do Departamento de Demografia da Cidades & Urbanização (Rede


UFMG. Coordenador da Sub‐Rede Clima).

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