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"Os nomes - e todo nome é um nome próprio ou um nome divino

- são vórtices no devir histórico das línguas, turbilhões


nos quais a tensão semântica e comunicativa da linguagem se
remoinha em si mesma até se tornar igual a zero. No nome,
já não dizemos - ou ainda não dizemos - nada, tão somente
chamamos. No vórtice da nomeação, o signo linguístico,
girando e afundando em si mesmo, se intensifica e se
exaspera até o extremo, para depois se deixar sorver no
ponto de pressão infinita onde desaparece como signo para
reaparecer do outro lado como puro nome. E o poeta é aquele
que imerge nesse vórtice, onde tudo volta a ser para ele
nome. Ele deve repescar uma a uma as palavras significantes
do fluxo do discurso e lançá-las ao redemoinho, para
reencontrá-las na língua vulgar ilustre do poema como
nomes." Giorgio Agamben – O que é o contemporâneo?

"Invejava as pessoas ao meu redor, hermeticamente fechadas


em suas roupas e isoladas da tirania dos objetos. Viviam
prisioneiras em seus sobretudos e casacos, nada do lado de
fora era capaz de aterrorizá-las e vencê-las, nada
penetrava em suas prisões maravilhosas. Entre mim e o mundo
não havia separação. Tudo o que me rodeava me invadia da
cabeça aos pés, como se minha pele tivesse sido metralhada.
A atenção, aliás muito distraída, com que eu observava ao
redor não era um simples ato de vontade. Todos os
tentáculos do mundo se prolongavam, de maneira natural,
dentro de mim; eu era atravessado pelos milhares de braços
da hidra." Max Blecher – Acontecimentos na irrealidade
imediata

"Daí decorre necessariamente uma certa atitude em relação à


beleza, ficando claro que aqui ela só foi considerada para
fins passionais. Nada estática, ou seja, encerrada em seu
"sonho de pedra", perdida para o homem na sombra daquelas
Odaliscas, no fundo daquelas tragédias que não pretendem
abranger mais do que um dia, só um pouco menos dinâmica, ou
seja, submetida a este galope desenfreado, após o qual
começa, desenfreado, outro galope, ou seja, mais aturdida
que um floco na neve; ou seja, disposta, com medo de ser
mal segurada,a nunca se deixar abraçar: nem dinâmica nem
estática, vejo a beleza como te vi. Como vi o que, em dita
hora, num dito tempo, do qual espero, de toda a minha alma,
que será novamente dito, te concedia a mim. Ela é como um
trem que resfolga sem cessar na estação de Lyon, e que sei
nunca vai partir, jamais partiu. É feita de impulsos,
muitos dos quais não têm a menor importância, mas que
sabemos ser destinados a provocar um Impulso, que tem
importância. Que tem toda a importância que eu não gostaria
de dar a mim mesmo. O espírito reivindica um pouco por toda
parte direitos que não tem. A beleza, nem dinâmica nem
estática. O coração humano, belo como um sismógrafo. Reino
do silêncio ...
Um jornal matutino será suficiente para me dar notícias de
mim mesmo: X. .. , 26 de dezembro. - O operador encarregado
da estação de telégrafo
sem fio situada na Ilha da Areia captou um fragmento de
mensagem que teria sido emitida domingo à·noite, às tantas
horas pelo ... A mensagem dizia, resumidamente:
'Alguma.coisa não vai bem', mas não indicava a posição do
avião no momento, e, devido às péssimas condições
atmosféricas e a inteiferências que se produziam, o
operador não conseguiu compreender nenhuma outra frase, nem
entrar de novo em comunicação. A mensagem foi transmitida
num comprimento de onda de 625 metros; por outro lado,
consíderando a força da recepção, o operador considera que
o avião possa estar localizado num raio de oitenta
quilômetros em torno da Ilha da Areia.
A beleza será CONVULSIVA, ou não será." André Breton – O
amor louco

"na verdade, a poesia não se serve de palavras; eu diria


antes que ela as serve. Os poetas são homens que se recusam
a utilizar a linguagem. Ora, como é na linguagem e pela
linguagem, concebida como uma espécie de instrumento, que
se opera a busca da verdade, não se deve imaginar que os
poetas pretendem discernir o verdadeiro, ou dá-lo a
conhecer. Eles tampouco aspiram a nomear o mundo, e por
isso não nomeiam nada, pois a nomeação implica um perpétuo
sacrifício do nome ao objeto nomeado, ou, para falar como
Hegel, o nome se revela inessencial diante da coisa - esta
sim, essencial. Os poetas não falam, nem se calam: trata-se
de outra coisa. Diz-se que eles pretendiam destruir o verbo
por meio de acasalamentos monstruosos, mas isso é falso;
seria preciso que já estivessem lançados no meio da
linguagem utilitária e procurassem retirar daí as palavras
em pequenos grupos singulares. [...] Na verdade, o poeta se
afastou por completo da linguagem-instrumento; escolheu de
uma vez por todas a atitude poética que considera as
palavras como coisas e não como signos, pois a ambiguidade
do signo implica que se possa, a seu bel-prazer, atravessá-
lo como a uma vidraça, e visar através dele a coisa
significada, ou voltar o olhar para a realidade do signo: e
considerá-lo como objeto. O homem que fala está além das
palavras, perto do objeto; o poeta está aquém. Para o
primeiro, as palavras são domésticas: para o segundo,
permanecem no estado selvagem. Para aquele, são convenções
úteis, instrumentos que vão se desgastando pouco a pouco e
são jogados fora quando não servem mais[...]" Jean-Paul
Sartre – O que é a literatura?

"A realidade é a matéria-prima, a linguagem é o


modo como vou buscá-la - e como não acho. Mas é do buscar e
não achar que nasce o que eu não conhecia, e que
instantaneamente reconheço. A linguagem é o meu esforço
humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto
com
as mãos vazias. Mas - volto com o indizível. O indizível só
me
poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só
quando falha a construção, é que obtenho o que ela não
conseguiu." Clarice Lispector – A paixão segundo GH

“Como representar o que acontece enquanto conversam, o que


deixam de dizer um para o outro, aquele fundo de censuras
tímidas, de minúcias, que se agitam enquanto falam? Como
iluminar as áreas que ambos decidiram deixar às escuras?”
Alexandro Zambra – Formas de voltar para casa

"Mas o amor, essa palavra… Moralista Horacio, temeroso de


paixões sem uma razão de águas fundas, desconcertado e
arisco na cidade onde o amor se chama com todos os nomes de
todas as ruas, de todas as casas, de todos os andares, de
todos os quartos, de todas as camas, de todos os sonhos, de
todos os esquecimentos ou recordações. Amor meu, não a amo
por mim nem pelos dois juntos, não a amo porque o sangue me
faça amá-la , amo-a porque você não é minha, porque você
está do outro lado, desse lado para onde você me convida a
saltar, e não posso dar o salto, porque no mais profundo da
posse você não está em mim, e não a alcanço, não consigo
passar para lá do seu corpo, do seu riso, há horas em que
me atormento por saber que você me ama ( como você gosta de
usar o verbo amar, com que pretensão vai deixando cair o
verbo amar sobre os pratos, os lençóis e os ônibus),
atormento-me com seu amor que não serve de ponte, pois uma
ponte não se apóia de um só lado,Wright ou Le Corbusier
jamais farão uma ponte apoiada de um só lado, e não me olhe
com esses olhos de pássaro, para você a operação do amor é
muito fácil, você ficará curada antes de mim, ainda que
você me ame mais do que eu a você. É claro que você se
curara, porque vive na saúde, depois de mim será outro
qualquer, isso muda como os sutiãs. É muito triste ouvir o
cínico Horacio que deseja um amor passaporte, amor
alpinista,, amor chave, amor revólver, amor que lhe dê os
mil olhos de Argos, a ubiquidade, o silêncio no qual a
música é possível,a raiz na qual se poderia começar a tecer
uma longua. E é ridículo porque tudo isso dorme um pouco em
você, seria suficiente submergi-la num copo de água como
uma flor japonesa, e estou certo de que pouco a pouco
começariam a brotar pétalas coloridas, as formas curvas
aumentariam, a beleza cresceria. Doadora de infinito eu não
sei tomar perdoe-me Você me oferece uma maça e eu deixei os
dentes sobre a mesa de cabeceira." Julio Cortázar – O Jogo
da Amarelinha

"A reprodução coloca em jogo seres descontínuos. Os seres


que se reproduzem são distintos uns dos outros, e os seres
reproduzidos são distindos entre si como são distintos
daqueles que os geraram. Cada ser é distinto de todos os
outros. Seu nascimento, sua morte e os acontecimentos da
sua vida podem ter para os outros certo interesse, mas ele
é o único diretamente interessado. Só ele nasce. Só ele
morre. Entre um ser e outro há um abismo, uma
descontinuidade. Esse abismo situa-se, por exemplo, entre
vocês que me escutam e eu que lhes falo. Tentamos nos
comunicar, mas nenhuma comunicação entre nós poderá
suprimir uma primeira diferença." Georges Bataille – O
Erotismo

Que seríamos nós sem a linguagem? Ela nos fez o que nós
somos. Só ela nos revela, em última instância, o espaço
soberano em que ela não mais existe. Mas, no final, aquele
que fala confessa sua impotência. Geroges Bataille – O
Erotismo

"Como falar? Lord Chandos, a personagem da célebre 'Carta'


de Hugo von Hofmannsthal, teve a experiência de não poder
falar por causa do excesso das coisas mudas, na medida em
que cada objeto é capaz, a qualquer momento, de assumir um
caráter tão sublime e comovente que as palavras parecem
pobres demais para exprimir o que quer que seja; e isso
porque até mesmo a imagem precisa de um objeto ausente,
imagem que pode ser preenchida até o limite, até o
impossível, em função desse jato silencioso de 'pathos' de
outro mundo que repentinamente nela irrompe". Raul Antelo –
A ruinologia

"o canto do abismo que, uma vez ouvido, abria em cada fala
uma voragem e convidava fortemente a nela desaparecer."
Maurice Blanchot – O livro por vir

"Obrigado ou traído por mim mesmo a dizer como faço meus


contos, recorrerei a explicações exteriores a eles. Não são
completamente naturais, no sentido de não intervir neles a
consciência. Para mim isso seria antipático. Não são
dominados por uma teoria da consciência. Para mim isso
seria extremamente antipático. Preferiria dizer que essa
intervenção é misteriosa. Meus contos não têm estruturas
lógicas. Apesar de uma vigilância constante e rigorosa da
consciência, esta também me é desconhecida. Num dado
momento, penso que num canto de mim nascerá uma planta.
Começo a rondá-la achando que nesse canto se produziu
alguma coisa rara, mas que poderia ter futuro artístico. Eu
estaria feliz se essa ideia não fracassasse de todo.
Contudo, devo esperar por algum tempo ignorado: não sei
como fazer a planta germinar, nem como favorecer seu
crescimento, nem como cuidar dela; só pressinto o desejo
que tenha folhas de poesia; ou algo que se transforme em
poesia se certos olhos olharem para ela. Devo tomar cuidado
para que não ocupe espaço demais, para que não pretenda ser
bela ou intensa, mas que seja a planta que ela mesmo está
destinada a ser, e que eu possa ajudá-la a sê-lo. Ao mesmo
tempo, ela crescerá de acordo com um observador que não se
importará muito em querer lhe sugerir intenções ou
grandezas demais. Se for uma planta dona de si mesma, terá
uma poesia natural, desconhecida para si própria. Ela deve
ser como uma pessoa que não sabe quanto vai viver, mas que
tem necessidades próprias, com um orgulho discreto, um
pouco desajeitada, e que parece improvisada. Ela não
conhecerá suas próprias leis, embora as tenha no mais fundo
e a consciência não as possa alcançar. Não saberá o grau e
a maneira como a consciência intervirá, mas em última
instância imporá sua vontade. E ensinará a consciência a
ser desinteressada. O mais certo de tudo é que realmente
não sei como faço meus contos, porque cada um deles tem
vida própria e distinta. Mas também sei que eles vivem
brigando com a consciência para evitar estranhos que ela
lhes recomenda." Felisberto Hernández – O cavalo perdido e
outras histórias

“abraçamos o que foge de nós, invertemos o seu próprio


desgosto e recusa, julgamos como perfeita a natureza
envergonhada e defeituosa, aderimos, enfim, perdidamente e
para sempre ao que parece belo, porque nos conformamos ao
amar. “ Nuno Ramos – O pão do corvo

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