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Palavras-chave: Resumo
Este trabalho apresenta uma análise e revisão de alguns dos mais con-
Design sagrados modelos de metodologia de projeto e metodologia ergonômi-
ca com o objetivo de identificar pontos de convergência e divergência
Metodologia entre eles e, a partir dessas informações, propor um novo modelo de
abordagem metodológica, mais abrangente, que consiga unir os aspec-
Projeto tos projetuais tradicionais e o Design Thinking às necessidades de se
incluir fases dedicadas aos fatores humanos e ergonômicos no núcleo
Ergonomia do processo de design e não mais como tópicos acessórios e pontuais.
Abstract Keywords
This paper presents an analysis and review of some of the most famous
models of design methodology and ergonomics methodology in order Design
to identify points of convergence and divergence between them, and
from this information, propose a new methodological approach, more Methodology
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comprehensive, who can unite the traditional project aspects and
Design Thinking needs to include phases devoted to human factors and Project
ergonomics in the core of the design process and not as punctual and
accessories topics. Ergonomics
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aplicação de métodos e técnicas de pesquisa projeto ensinados por estes cursos, a fim de se
e projetação que facilitem o desenvolvimento garantir uma abordagem mais completa, pelos
de soluções em design, integrando os proces- designers, dos parâmetros que estão envolvi-
sos e conhecimentos do design com a ergono- dos no ato de projetar. Para que isso seja pos-
mia e os estudos dos fatores humanos. sível, deve-se buscar constantemente novas
formas de enxergar o processo projetual, de 3. METODOLOGIA DE
52 maneira dinâmica e atenta às velhas e novas PROJETOS DE DESIGN
necessidades e problemáticas que pedem a
atenção e atuação dos profissionais de design, 3.1. Visão geral
notadamente os aspectos humanos e de usabi-
lidade, como preconiza FRISONI (2000): Existem diversas formas distintas de se ver,
entender e utilizar a metodologia de projeto. Na
“Logicamente, existe uma escala de im- realidade, a diversidade de abordagens sobre
portância para as disciplinas auxiliares esse campo de estudos leva a interpretações e
da atividade projetual. E, sem sombra definições que resultam em diferenças tanto na
de dúvida, pelo seu objeto de estudo e composição cronológica e hierárquica das etapas
finalidade, a Ergonomia se destaca, por metodológicas como no conteúdo a ser explora-
ter como objetivo a comunicação entre do. Entretanto, há uma certa unanimidade em
homens/ máquina/ produtos/ ambiente.” relação ao entendimento de que a metodologia
de projeto sempre terá como base um conjun-
Além da compreensão de que métodos e to organizado e pré-determinado de métodos e
técnicas favorecem o resultado final do pro- técnicas distribuídos dentro de um esquema de
jeto, é preciso entendê-los como instrumentos macro-fases que vão desde a exploração e com-
de auxílio ao designer, como explica BONFIM preensão da situação problemática até o detalha-
(1995): “No desenvolvimento de um projeto, mento das especificações de produção do produ-
há também procedimentos que podem auxiliar to final, passando por alguma etapa de geração
o projetista na execução de suas tarefas.” Por de alternativas de solução. Contextualizando o
exemplo, ao organizar o projeto em passos design dentro do processo projetual, BÜRDEK
progressivos, o designer monta a sua própria (2010) define o design como um objeto das artes
fonte de consultas sobre informações do pro- aplicadas, ou seja, útil para a construção de ou-
jeto e vai, na medida das suas necessidades, tras obras. Ainda segundo o autor,
utilizando as informações acumuladas em re-
ferências para os passos seguintes. “o design é um processo criativo, po-
rém a configuração de um produto não
2.3. Hipótese ocorre num ambiente vazio. Cada resul-
tado advém de um processo de desen-
A evolução dos processos de projeto em volvimento e seu andamento é determi-
design se dá na medida em que novas conside- nado por condições e decisões. Teoria
rações são feitas, testadas e validadas dentro e metodologia do design são reflexos
do universo de métodos e técnicas que visam objetivos de seus esforços que se des-
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A esquematização metodológica de
3 - Realização do projeto
Munari se subdivide em 11 etapas, descritas
a seguir:
3.1 - Fabricação do modelo pré-série.
3.2 - Preparação de estudos de custos.
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3.3 - Adaptação do design às condições espe- 1 - Definição do Problema [briefing].
cíficas do produtor. 2 - Componentes do Problema [decomposição
3.4 – Produção em série. do problema em partes].
3.5 - Avaliação do produto depois de um tem- 3 - Coleta de dados [pesquisa de similares].
po determinado de utilização. 4 - Análise dos dados [análise das partes e
3.6 – Introdução dos ajustes possíveis com qualidades funcionais dos similares | com-
base na avaliação. preensão do que não se deve fazer no projeto].
5 - Criatividade [tradução dos dados analisa-
dos em idéias e alternativas de solução].
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Horst Rittel Bruce Archer Gui Bonsiepe Bruno Munari Ambrose & Harris
Fase de problemati- Fase de problema-
Situação problemática Fase de estruturação
Fase analítica zação tização
do problema
Fase de pesquisa Fase de análise Fase de pesquisa
Fase de elaboração Fase criativa Projetação Fase criativa Fase criativa
Detalhamento e
Fase de especificação Detalhamento técnico
implementação
Fase de comunicação Realização
Fase de implemen- Modelagem, avalia-
Feedback
tação ção e implementação
As cores indicam as semelhanças entre as lização. Ambrose & Harris incluem uma última
macro-fases de cada abordagem metodológi- fase de feedback entre designers e clientes.
ca. Pode-se perceber, então, que as metodolo- Com base na análise das macro-fases
gias de Rittel, Bonsiepe, Munari e Ambrose identificadas nas metodologias dos autores,
& Harris dedicam fases específicas para pode-se sugerir uma reorganização do proces-
as definições das situações problemáticas. so estabelecendo-se, assim, um esquema me-
Entretanto, o modelo de Bonsiepe não prevê todológico convergente.
claramente uma fase dedicada à pesquisa e
análise de dados, presente nas demais abor- Convergência das macro-fases
dagens. Bruce Archer não menciona o termo Identificação e análise do problema
problema na sua proposta, dando lugar a um Fase de pesquisa
levantamento e análise de dados. Fase criativa ou de elaboração
Todos os autores dedicam uma fase ex- Fase de especificação técnica
clusiva à criatividade e elaboração de idéias. Fase de modelagem e avaliação
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Bonsiepe, no entanto, inclui aspectos de deta- Fase de implementação
lhamento e especificação nesta fase, diferente- Fase de feedback
mente dos demais autores, que determinam que
estes aspectos devem ser posteriores à fase cria- Estabelecida a convergência entre as
tiva. Ambrose & Harris propõem a fusão en- macro-fases dos modelos metodológicos ana-
tre as fases de detalhamento e implementação. lisados, pode-se determinar a distribuição das
Bruce Archer finaliza o seu processo com o de- sub-etapas metodológicas propostas por cada
talhamento técnico, denominado por ele como autor para que, em seguida, seja feita a identi-
“comunicação”. Rittel, Bonsiepe e Munari ficação dos aspectos convergentes existentes,
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dedicam fases exclusivas à modelagem e rea- bem como dos aspectos divergentes.
O estudo de convergência das etapas dos Outro aspecto curioso em relação ao mode-
modelos metodológicos identifica, através do lo de Bonsiepe é o fato de haver uma complexa 59
uso de cores, as semelhanças entre as aborda- etapa de prototipação entre o fim da fase criativa
gens de cada autor. As células marcadas com o X e a etapa de elaboração de desenhos técnicos,
identificam as divergências. Nota-se que o único enquanto os modelos de Munari e Ambrose &
modelo que teve todas as macro-fases preen- Harris prevêem a confecção de protótipos ape-
chidas por suas etapas foi o de Gui Bonsiepe. nas na fase de modelagem. Nesta fase, Bonsiepe
Entretanto, ainda é possível determinar a tabela determina a confecção de modelo pré-série, en-
de convergências, uma vez que algumas etapas quanto Rittel e Archer não prevêem qualquer
de alguns modelos apresentam conteúdos com- tipo de modelagem. Traduzindo a análise das
plementares em relação aos demais. convergências numa única tabela, temos:
Verificação
Preparação de estudo de custos
Adaptação do design às condições específicas do produtor
Desenho de construção
Fase de implementação
Apresentação ao cliente
Produtos em série
Avaliação do produto depois de um tempo determinado de produção
Fase de feedback
Introdução dos ajustes com base na avaliação
Uma vez estabelecida a convergência “os métodos da engenharia merecem
60 entre as macro-fases e as etapas das metodo- uma atenção especial, porque os es-
logias de projeto em design, é hora de iniciar pecialistas envolvidos no desenvolvi-
o estudo das metodologias ergonômicas e seu mento do sistema não podem contar so-
papel como ferramenta projetual. Espera-se, mente com recomendações, guidelines,
assim, identificar o ponto convergente entre checklists ou padrões para fazerem o
as metodologias de projeto e a metodologia seu trabalho. As guidelines não anali-
ergonômica. sam sistemas, nem os projetam, testam
ou avaliam. Pelo contrário, o especia-
lista em ergonomia tem que depender
4. METODOLOGIA dos métodos que auxiliam as três ativi-
ERGONÔMICA dades básicas do desenvolvimento de
projetos - análise, design e teste.”
A ergonomia, segundo MONTMOLLIN
(1971), é definida como a tecnologia das comu- Revelam-se, então, as metodologias de in-
nicações nos sistemas humano-máquina. Tais tervenção de ergonomia como metodologias vá-
comunicações, definem, por sua vez, o trabalho. lidas de projetação, tendo, assim, a sua aplicação
Primordialmente, todo projeto basea- viabilizada para o desenvolvimento de projetos.
do na abordagem ergonômica leva em conta
a trinca formada pelo ser humano, a máqui- 4.1. Modelo de projeto ergonômico por
na ou ferramenta e o trabalho propriamente intervenção ergonomizadora
dito. Desta forma, aspectos incomuns àqueles
verificados nas metodologias de projeto ante- A intervenção ergonomizadora é um mo-
riormente analisadas têm destaque no uso de delo de desenvolvimento de projetos proposto
métodos ergonômicos de projetação. Aqui são pela ergonomista Anamaria de Moraes que
estudados aspectos como capacidades física e tem por linha de ação a observação dos aspec-
cognitiva do usuário, conforto, facilidade de tos ergonômicos na solução de problemas que
visualização, percepção e processamento de mereçam a realização de um projeto. Este tipo
mensagens, campos visuais, entre outros. de intervenção, assim como outros métodos
MORAES & MONT`ALVÃO (2009) de projetação, tem aplicação ampla dentro do
definem a ergonomia como: espectro de trabalho dos profissionais de áreas
projetivas, como o design e as engenharias.
“Teoria tecnológica operativa, que A intervenção ergonomizadora contempla
objetiva, através da ação, resolver os segmentos de design da informação, - onde
problemas da relação entre homem, trabalha sob a nomenclatura de ergonomia in-
formacional – ambientes virtuais, projetos de
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pesquisas e intervenções, lança mão dos méto- projetos de sinalização de ambientes. Assim,
dos em uso pelas ciências sociais e das técnicas não há claramente uma convergência real entre
propostas pela engenharia de métodos.” os métodos projetuais tradicionais e o método
CHAPANIS (1996) apud MORAES & de intervenção ergonomizadora.
MONT`ALVÃO (2009) afirma que: MORAES & MONT`ALVÃO (2009)
descrevem a intervenção ergonomizadora
dentro das seguintes etapas:
1. Apreciação ergonômica: de ambiente, arranjo e conformação de
“é uma fase exploratória que compre- postos de trabalho, programação da tarefa 61
ende o mapeamento dos problemas er- - enriquecimento, pausas, etc.”
gonômicos - posturais, informacionais,
acionais, cognitivos, comunicacionais, 3. Projetação ergonômica:
interacionais, deslocacionais, movi- “Trata de adaptar as estações de traba-
mentacionais, operacionais, espaciais, lho, equipamentos e ferramentas às ca-
físico-ambientais, gerenciais, naturais, racterísticas físicas, psíquicas e cogni-
interfaciais, biológicos. São feitas obser- tivas do trabalhador/ operador/ usuário/
vações no local de trabalho e entrevistas consumidor. Compreende o detalhamen-
com supervisores e trabalhadores, verifi- to do arranjo e da conformação das in-
cando o sistema humano-tarefa-máquina terfaces, dos subsistemas e componentes
(SHTM). Realizam-se registros fotográ- instrumentais, informacionais, acionais,
ficos e em vídeo. Esta etapa termina com comunicacionais, interacionais, instru-
o parecer ergonômico, que compreende cionais, movimentacionais, espaciais e
a apresentação ilustrada dos problemas, físico ambientais. Termina com o pro-
a modelagem e as disfunções do sistema jeto ergonômico: conceito do projeto,
humano-tarefa-máquina. Conclui-se com sua configuração, conformação, perfil e
a hierarquização dos problemas, a partir dimensionamento, considerando espa-
dos custos humanos do trabalho, segundo ços, estações de trabalho, subsistemas
a gravidade, a urgência e a tendência; a de transporte e de manipulação, telas e
priorização dos pontos a serem diagnos- ambientes. A organização do trabalho e a
ticados e modificados; sugestões prelimi- operacionalização da tarefa também são
nares de melhoria e predições que se re- objetos de propostas de mudanças.”
lacionam à provável causa do problema.”
4. Avaliação, validação e testes ergonômicos:
2. Diagnose Ergonômica: “Tratam de retornar aos usuário/operado-
“Permite aprofundar os problemas priori- res os argumentos, as propostas e alterna-
zados e testar predições. De acordo com o tivas projetuais. Compreende simulações
recorte da pesquisa ou conforme a expli- e avaliações através de modelos de testes.
citação da demanda pelo decisor, fazem- As técnicas de conclave objetivam con-
-se a análise macro ergonômica e/ou a seguir a participação dos usuários/opera-
análise da tarefa dos sistemas homem-ta- dores nas decisões relativas às soluções
refa-máquina. É o momento das observa- a serem implementadas, detalhadas e
ções sistemáticas das atividades da tarefa, implantadas. Para fundamentar escolhas,
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dos registros de comportamento, em situ- realizam-se, também, testes e experimen-
ação real de trabalho. Realizam-se grava- tos com variáveis controladas.”
ções em vídeo, entrevistas estruturadas,
verbalizações e aplicam-se questionários 5. Detalhamento e otimização ergonômica:
e escalas de avaliação. Registram-se “Compreendem a revisão do projeto, após
freqüências, seqüências e/ou duração de sua avaliação pelo contratante e validação
posturas assumidas, tomada de informa- pelos operadores, conforme as opções do
ções, comunicações e/ou deslocamentos. decisor, segundo as restrições de custo,
Os níveis, amplitude e profundidade dos as prioridades tecnológicas da empresa
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Antes de definir o fluxograma final que indicará a integração entre as naturezas metodológicas
estudadas neste trabalho, convêm estabelecer a identidade entre as macro-fases da metodologia de
projetos e a metodologia ergonômica de Anamaria de Moraes. Assim, temos:
Sistematização do sistema-alvo
Problematização
Referencial teórico
Fase de pesquisa
Parecer ergonômico
Análise da tarefa
Dignóstico ergonômico
Validação final
Detalhamento e otimização
Fase de implementação
Produção
Avaliação do protótipo
Validação final
Adaptação do design às condições específicas do produtor
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