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Delírios deleuzeanos

Roberto Blatt

Deleuze inicia seu texto apontando para uma certa compartimentalização das ideias, que são coisas raras e festejadas
quando ocorrem, mas que parecem ter sempre um destino previamente determinado, ou seja, quando temos um ideia
ela é sempre “para algo”, que pode ser uma área do conhecimento, um assunto, um espaço artístico ou material. Isso
significa que temos ideias sempre em certos domínios , podendo ser uma ideia em pintura, em cinema ou em filosofia.

Na sequência do texto para tentar responder à pergunta sobre o que é ter uma ideia em alguma coisa, em algum
compartimento, o autor afirma que a filosofia não pode ser definida como a capacidade de reflexão em qualquer área,
pois para ele, os especialistas ou pelo menos os que conhecem bem as diferentes áreas de atuação, não precisam de
filosofia para refletir sobre seus conteúdos, de modo que os que podem refletir sobre cinema ou sobre matemática são
os cineastas.

Poderíamos aqui questionar o autor: os cineastas ou os cientistas ou os pintores não precisam de filosofia para refletir
sobre seus assuntos ? A reflexão pode ser um exercício especializado a partir de “dados” exclusivos da matéria. Mas
será que essa reflexão interna da matéria não seria filosofia da matéria?

A filosofia não é uma atividade que sirva para refletir sobre algo, portanto, ela não é, ao menos nesse momento do
texto, adequada ao esquema de uma “ideia para algo...”, tanto que as disciplinas podem abrir mão da filosofia, nesse
sentido, e contentar-se com seus dados e problemas específicos. A afirmação de Deleuze é peremptória: “Se a filosofia
deve servir para refletir sobre algo, ela não teria nenhuma razão para existir. Se a filosofia existe, é porque ela tem seu
próprio conteúdo” (Tradução p. 3)

Vejamos então qual seria esse conteúdo.

A filosofia só pode constituir-se como disciplina quando comparada a arte, ou ao fazer criativo. As coisas que a filosofia
faz ou cria são os conceitos. Estes não estão prontos, numa espécie de Éden do mundo das ideias, um pomar de
conceitos à espera da colheita. Não se diz “ei, vou criar um conceito” assim como não se diz “ei, vou fazer um filme”.
Nesse sentido talvez a criação de conceitos siga a mesma tendência ou esquema da criação de ideias (do qual
diferenciava-se, como visto acima) ou seja, cria-se conceitos “para algo”, e essa criação é feita a partir de uma
necessidade. Necessidade é o impulso do criador em qualquer área. Não se trata de um trabalho por prazer, mas a
partir de uma necessidade. Caberia questionar o autor: qual necessidade mobiliza o filósofo? Por que o filósofo tem
necessidade de inventar conceitos? Se existe resposta à este questionamento ela aparece imediatamente.

Tudo tem história, diz Deleuze, em sentido geral, mas, aparentemente as áreas possuem diferentes características para
essas histórias: na filosofia, são produzidas histórias com conceitos, no cinema produzem-se “ blocos
movimento/duração”. Em qualquer caso, se produzimos blocos de espaço-tempo, se é que podemos transliterar assim a
expressão de Deleuze, estaremos, diz ele, fazendo cinema. Se inventamos blocos de cores estamos fazendo pintura; a
música seriam blocos sonoros; a própria ciência e a filosofia seriam criadoras de blocos específicos.

O autor realça que não vê tantas oposições entre as ciências e as artes. Talvez a oposição suposta seja a de que a
ciência constata a realidade enquanto a arte produz fantasias. No limite poderia ser a oposição entre real e irreal. Mas
sem dúvida que ambas são “fazeres” , ou seja, são atividades que fazem coisas.

Não temos certeza se é nesse sentido que Deleuze propõe seu pensamento, no sentido de enfraquecer a oposição
entre o real e o irreal, da ciência e da arte, mas logo em seguida, e abruptamente, ele afirma coisas sobre os eruditos e
propõe outras generalizações sobre ciência. Mesmo um erudito, diz ele, inventa coisas. E que tipo de coisas? O erudito
inventa funções e essas nada tem a ver com conceitos, as invenções específicas dos filósofos. Sem que o autor
apresente nesse momento do texto nenhuma evidência acerca dessas afirmações ele ainda acrescenta outras: diz que
a noção de conjunto é a base da ciência e que também ela nada tem a ver com conceitos. Os eruditos inventam
funções que realizam “correspondência uniforme de pelo menos dois conjuntos”.

Recapitulando temos que:

1- cientistas e eruditos não são tão diferentes de artistas, isso porque, ao menos, os eruditos inventam funções.
Mas isso seria argumento ou condição suficiente para dizer que as diferenças são pequenas? Alguém menos generoso
poderia afirmar que essas pequenas diferenças ainda assim são diferenças e que mudam radicalmente as naturezas de
cada atividade;

2- funções são correspondências entre conjuntos; abordado um universo físico, por exemplo, um corpo humano,
essa noção explicaria ações entre diversos órgãos? Ou tomadas as reações químicas? Aparentemente sim, essas
relações são “funcionais”;

3- conjuntos são a noção base de ciência e nada tem a ver com conceitos; aqui a afirmação parece problemática,
visto que um conceito, tomado como ideia, é uma rubrica ou um ícone de um conjunto. Pensando, por exemplo, com o
Sócrates do Fédon, a ideia de “igual” abarcaria o conjunto das coisas iguais, embora, não seja, ela mesma, um
exemplar físico do conjunto em que se derrama. A diferenciação dessas duas coisas, ideia e conceito feita
anteriormente pelo autor parece pouco suficiente ou pouco clara. Toda ideia é “para algo...” e é tomada como sinônimo
de um insight criativo, mas que sempre é resultado criativo ou motor criativo oriundo de uma necessidade. Tem-se a
ideia de uma cadeira a partir de uma necessidade. O filósofo que é também um artesão sentiria necessidade de
conceitos e por isso põe-se a inventá-los, numa dimensão metafísica. Mesmo assim esses conceitos seria para suprir
certas necessidades e não mera invenção prazerosa;

4- conceito são exclusividade dos filósofos e portanto caracterizam sua atividade inventiva, mas o autor não
esclarece a necessidade de metafísica claramente, e estou tomando aqui o conceito como atividade/ferramenta que se
efetiva numa dimensão metafísica (ver Ortega y Gasset, “Sobre o estudar e o estudante”)

5- ciência é a atividade de correlacionar uniformemente conjuntos e, portanto, a obtenção de novos conjuntos,


pode-se compreender esse ponto a partir de exemplos concretos em qualquer área da ciência, desde farmácia
(conjunto de compostos) até física teórica (conjuntos de referências para fenômenos físicos)

Os pontos 3 e 4 são os mais carentes de justificativa por parte do autor, embora os dois primeiros também precisem de
algum aprofundamento.

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