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Kato, M.; S. Duarte, M.E.; Cyrino, S. & Berlinck, R. “Português brasileiro no fim do
século XIX e na virada do milênio” In Suzana Cardoso, Jacyra Mota e Rosa Virgínia
Matto e Silva (orgs.) Quinhentos anos de história lingüística no Brasil. Salvador,
Empresa Gráfica da Bahia/Funcultura/Governo da Bahia. Pp. 413-438. (2006). ISBN:
85-232-0260-9.

PORTUGUÊS BRASILEIRO NO FIM DO SÉCULO XIX


E NA VIRADA DO MILÊNIO

Mary A. KATO (UNICAMP)


Maria Eugenia L. DUARTE (UFRJ)
Sonia CYRINO (UEL, Londrina)
Rosane de ANDRADE BERLINCK (UNESP, Araraquara)

1. Introdução

Segundo Tarallo (1993)1, mudanças sintáticas dramáticas no português brasileiro do final


do século XIX estabeleceram uma nova gramática distinta da de Portugal. O autor admite,
contudo, que essas mudanças vinham se processando há mais tempo, mas que “as
circunstâncias sociais podem não ter sido suficientemente satisfatórias para que a pena
brasileira começasse a escorrer sua própria tinta” (op. cit: 99). No presente trabalho,
mostraremos, a partir de resultados posteriores ao do autor, o quanto seu diagnóstico foi
acertado. Os fenômenos examinados são os mesmos, exceto o da relativização, tópico não
incluído neste trabalho, mas apresentaremos dados diacrônicos e sincrônicos adicionais e
uma parte interpretativa que responde a questões não levantadas pelo autor naquela
ocasião.

Os fenômenos estudados são os seguintes: a) perda seletiva do sujeito nulo, b)


aparecimento do objeto nulo referencial, c) perda da inversão verbo-sujeito em

1
Tradução em português do original em inglês apresentado no colóquio “La Citoyenneté au XIXe Siècle au
Brésil et en France”, Paris, 1991.
interrogativas-Q e d) perda da inversão não-acusativa .

O exame da representação do sujeito pronominal e da ordem VS em interrogativas-Q se


baseia num corpus diacrônico constituído de peças de teatro popular, escritas ao longo dos
séculos XIX e XX no Rio de Janeiro. Para a análise sobre o objeto nulo, o corpus também
foi constituído por peças, tendo sido utilizadas para o século XIX as comédias de Martins
Pena, Arthur Azevedo e José de Alencar, e para o século XX comédias dramáticas, que
retratam o cotidiano, de Miguel Falabella, Marques Rebelo, Gianfrancesco Guarnieri e
Dias Gomes. O estudo da ordem VS em declarativas examina, além de peças, um corpus
de cartas pessoais escritas no mesmo período. A seleção e o processamento dos dados
utiliza o pacote de programas VARBRUL (Mollica 1992).

Na segunda seção, mostraremos comparativamente os tipos de sujeito nulo, de objeto nulo,


de inversão em declarativas e de inversão em interrogativas-Q que ocorriam no século XIX
e os tipos de padrão que ocorrem no final do século XX.

Nas seções seguintes faremos um estudo das correlações encontradas na literatura, a saber:
a) a correlação entre o decréscimo do sujeito nulo e o aumento do objeto nulo (seção 3);
b) a correlação entre perda de inversão em interrogativas-Q e sujeito nulo (seção 4);
c) a correlação entre sujeito nulo e inversão românica (seção 5);
d) a correlação entre perda de clítico e a restrição de monoargumentalidade na inversão VS
(seção 6).

Na conclusão, teceremos algumas considerações sobre mudança em vista do que foi


apresentado neste artigo sobre o PB.

2. Mudanças atestadas

2.1. Perda seletiva do sujeito nulo

Durante todo o século XIX, os sujeitos referenciais de primeira, segunda e terceira pessoas
são preferencialmente nulos (cf. Duarte 1993), como ilustram os exemplos em [1], estando
seu preenchimento condicionado por ênfase ou contraste e pela existência de um referente

2
não acessível sintaticamente, um procedimento comum nas línguas de sujeito nulo por
razões funcionais (cf. Calabrese 1986), como se vê em [2]:

[1] a. Quando (cv)i te vi pela primeira vez, (cv)i não sabia que (cv)j eras viúva e rica.
(1845)

b. Tua filhai lamentar-se-á, (cv)i chorará desesperada, não importa (...) Depois que
(cv)i estiver no convento e acalmar-se esse primeiro fogo, (cv)i abençoará o teu
nome e, junto ao altar, no êxtase de sua tranqüilidade e verdadeira felicidade, (cv)i
rogará a Deus por ti. (1845)

[2] Falei ontem com seu tenente-coronéi e elei disse-me que (cv)i havia de vir com
sinhá Dona Perpétua e com sinhá moça Rosinha. (1882)

Mesmo que o referente não esteja sintaticamente acessível, o sujeito nulo será preferido se
não houver ambigüidade na sua interpretação, como ilustra [3]:

[3] Se oi encontrarem, dêem-lhei uma boa arrochada e levem-noi preso. (cv)i Há de me


pagar. (1845)

O mesmo procedimento se observa em relação aos sujeitos de referência arbitrária,


preferencialmente nulos:

[4] No fundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. (cv) Pintam-na cega... Que
simplicidade! (1845)

[5] Como (cv) se está bem aqui! (1882)

Vê-se, portanto, que o PB do século XIX e princípios do século XX apresenta um


comportamento compatível com o das línguas românicas de sujeito nulo, como o italiano,
o espanhol e o português europeu, às quais subjaz um princípio a que Chomsky (1981) se
refere como “Evite Pronome”. Tal situação, entretanto, muda radicalmente na segunda
metade do século XX, quando passam a predominar os sujeitos referenciais (definidos e

3
indeterminados) foneticamente representados, como ilustram os exemplos da peça de 1992
a seguir:

[6] a. Se eu ficasse aqui eu ia querer ser a madrinha.


b. Você não entende meu coração porque você ‘tá sempre olhando pro céu e
procurando chuva.
c. Agora ele não vai mais poder dizer as coisas que ele queria dizer.

[7] a. A gente tem que aprender a esperar pelo futuro.


b. E esse chá, se você toma bem quente, é batata!
c. Eles deveriam ensinar amor às crianças.
d. Mas nós temos que nos virar.

Trata-se, como mostram os exemplos em [6], de contextos que exibem um referente


sintaticamente e discursivamente acessível e que levam obrigatoriamente ao sujeito nulo
numa autêntica língua pro-drop, excetuando-se, naturalmente, os casos marcados. O
predomínio de casos de preenchimento sobre os de sujeito vazio nesses contextos de
referência definida e nos de referência arbitrária exibidos em [7] permitiu a Duarte (1995 e
2000) postular a perda do princípio “Evite Pronome” e considerar o uso do pronome pleno
em contexto não-marcado no PB como uma etapa no processo de mudança em direção a
uma língua que não aceita o sujeito foneticamente nulo.

2.2. A expansão do objeto nulo

Na história do PB, podemos observar que o objeto nulo sempre foi possível. (cf. Cyrino
1993, 1997). Porém, no decorrer dos séculos temos um aumento significativo em sua
ocorrência. Essa mudança atinge primeiramente a posição nula cujo antecedente é
proposicional, como no exemplo [8], seguindo-se a posição nula com antecedente
predicativo, como no exemplo [9] e, finalmente, o objeto nulo com um NP [-específico]
como antecedente, exemplo [10]:

[8] Também satirizaras, se souberas (cv) (1655-1690) (cf. se o souberas)

4
[9] Eu inda agora não creio
Que he verdade este amor
Mas praza a Deos, se assim for (cv) (157?) (cf. se assim o for)

[10] Um retratoi pedi da vossa cara


Porém é para mim coisa mui rara
Que logo ao prometer (cv) i me propusestes
Condições que observei como quisestes (1655-1690)

No século XIX, podemos observar o objeto nulo já com as características que apresenta no
século XX. Em outras palavras, entre os diferentes tipos de objeto nulo segundo as
diferentes possibilidades de antecedente, temos uma maior ocorrência daquele que se
apresenta como o objeto nulo característico do PB2. A mudança se apresenta, nos dados, na
passagem do século XVIII para o século XIX; isto é, a partir do século XIX o objeto nulo
com antecedente [+específico, -humano], como podemos ver nos exemplos em [11], é o
tipo que mais ocorre nos dados:

[11] a. Uma agência me indicou um sobradoi na Praia Fermosa, por cima de um


açougue, mas o dono não quis alugá (cv)i ( 1891)
b. - Ela já está lá dentro preparando a jacuba i.
- Diga a ela que traga (cv)i, pois estou com muito calor. (1837)

O século XX apresenta uma alta incidência de objetos nulos, sendo a maior ocorrência de
objetos nulos com antecedente [-humano], como nos exemplos abaixo:

[12] a. Já viu que o nosso cinema virou clube i... E o burro... que limpe (cv)i depois!
(1992)
b. ... quando eu fui no curral, peguei um bocado de bostai de vaca e taquei (cv)i em
cima do ferimento... (1960)

Quando o antecedente é [+humano], temos a ocorrência do pronome tônico "ele" (cf.

2
O primeiro trabalho que mostra o objeto nulo peculiar do PB é o de Galves (1984).

5
também Duarte, 1986), que substitui o clítico em desuso:

[13] E tu aceitou ele de volta? (1992)

O gráfico a seguir, mostra a mudança do objeto nulo quanto a antecedentes no século XIX
e XX:

Gráfico 1. Objetos nulos quanto aos antecedentes


100%
93%
90%
87%
80%

70%

60%
57%
49%
50%

40%

30%

20%
2% 8%
10%

0% 0% 0%
XIX XX

[+esp.+hum] [-esp.-hum] [-esp.+hum] [+esp.-hum]

Conforme veremos na seção 3, a mudança se inicia com a perda do clítico cuja referência
se encontra no nível mais baixo de uma hierarquia referencial, ou seja, o clítico cujo
antecedente é [-humano].

2.3. A perda do sujeito posposto em interrogativas-Q.

Nas interrogativas-Q, os dados diacrônicos analisados em Duarte (1992) revelam a ordem

6
VS quase categórica no século XIX e inícios do século XX, quer o sujeito esteja
representado por um nome quer por um pronome, seguido ou não de algum constituinte,
como mostram os exemplos em [14]

[14] a. O que pensa tua filha do nosso projeto? (1845)


c. E por que tanto chora a menina? (1845)
b. Por que desapareceu ele lá de casa? (1882)
c. Mas o que tens tu ? (1882)

Chegamos ao final do século XX com a ordem VS restrita a verbos monoargumentais com


sujeitos nominais, como em [15], tornando-se a ordem SV o padrão, não só com o
elemento Q movido como também in situ, como mostram os exemplos em [16]:

[15] a.Onde andará a Neiva?


b.Como era mesmo a história?

[16] a.E desde quando país tem perna?


b.Do que tu tá falando?
c.Desde quando a gente precisa saber escrever pra vender bala?
d.O que é que a senhora está dizendo?
e. E a senhora acha que eu devo fazer o quê?
f. E a gente diz o quê?

2.4. A perda das inversões não-acusativas

No que diz respeito à inversão verbo sujeito em declarativas, a análise de Andrade


Berlinck (1995 e 2000) identifica três padrões principais que caracterizam o PB do século
XIX. O mais freqüente deles ocorre tipicamente com verbos inacusativos - aqueles cujo
único argumento é suposto como gerado internamente ao sintagma verbal. Nessa estrutura,
o argumento segue imediatamente o verbo, como ilustra [17]:

[17] Nesses planos estávamos, quando apareceu este homem, não sei donde, (...)(1845)

7
O segundo padrão se aproxima da chamada inversão germânica: o sujeito aparece
imediatamente posposto ao verbo e é comum a presença de um outro elemento em posição
inicial, embora essa não seja uma condição essencial no PB, como se observa em [18a-b]:

[18] a. Emília, aos cinco anos estava eu órfão, e tua mãe, minha tia, foi nomeada por
meu pai sua testamenteira e minha tutora. (1845)
b. Tem ele nove anos e será prudente criarmo-lo desde já para frade. (1845)

Ao contrário dos dois padrões anteriores, encontram-se também casos em que o sujeito não
vem contíguo ao verbo3. Essa construção, ilustrada em [19], constitui o que a literatura
designa por inversão românica. Aqui, o sujeito ocupa a posição final da sentença, em
adjunção ao sintagma verbal, e apresenta um nítido valor focal.

[19] a. Tocou à minha cunhada, como principal bem de fortuna e fonte de renda, a
conhecida fábrica de meias da rua de Santa Engrácia. (1896)
b. Ora, daí em diante, começaram a chegar à minha mulher as negras notícias a
meu respeito. (1896)

Além de se diferenciarem segundo a posição que o sujeito pós-verbal ocupa na estrutura e


seu valor discursivo, esses três padrões não estão igualmente presentes no PB do século
XIX. À parte a construção VS (cf. [17]), a inversão (seja ela de tipo germânico ou
românico) é uma alternativa estrutural pouco comum nos dados.

Ao compararmos o quadro identificado para o século XIX com dados do fim do século
XX, observamos um decréscimo de ocorrência das construções de inversão verbo-sujeito e
predicado-sujeito, o que acentua seu caráter marginal. Os exemplos a seguir ilustram os

3
Além da inversão românica, também nos casos de ‘falsa inversão’ ou ‘antitópico’ o sujeito pós-verbal
aparece linearmente distante do verbo, conforme mostram [a-b], abaixo. No entanto, aqui ele ocupa uma
posição deslocada à direita, em adjunção ao sintagma flexional. A posição de sujeito de Flexão, por sua vez,
contém um pronome nulo referencial com o qual o SN deslocado está co-indexado. Não se trata de uma
verdadeira inversão, o que fica provado pela naturalidade da construção correspondente com o pronome
expresso, sempre possível (cf. [c-d]) (Kato & Tarallo 1989; Kato 1992 e 1993).

a. É bem bonita a Quinota! (1891)


b. E tem um nariz eloqüente, este rapaz! (1896)
c. Elak é bem bonita, a Quinotak!
d. E elek tem um nariz eloqüente, este rapazk!

8
casos de VSX encontrados nos dados da segunda metade do século XX. Com exceção de
[20c], as sentenças soam pouco usuais para o falante do PB moderno, revelando no
contexto uma opção marcada com nítidos objetivos discursivos.

[20] a. Então irei eu para um campo florido, sorridente e em paz...


b. Olha só! Já começa ele a chorar de barriga cheia.
c. Calma, está todo mundo olhando. (1973)

A construção com sujeito final (VXS) é igualmente pouco comum nesse fim de século.
Vamos encontrá-la restrita quase que apenas a sentenças com verbos monoargumentais, em
especial verbos copulativos, como nos exemplos abaixo:

[21] a. O resfriado tem só uma grama rasteira, é nítida a mudança de aspecto da


chapada para o resfriado e do resfriado para a vereda.(1967)
b. Não é mais dramático um salto daqui de cima... (1973)

Assim sendo, conclui-se que a ‘inversão’ se limita, no momento atual, essencialmente, às


construções inacusativas e copulativas.

3. A correlação entre a expansão do objeto nulo e a perda seletiva do sujeito nulo

Em vários de seus estudos, Tarallo4 enfatiza a relação entre a diminuição de categoria


vazia na posição de sujeito e seu aumento na posição do objeto. Como sujeito nulo e objeto
nulo não fazem parte do mesmo parâmetro de variação, esse fato intrigou os lingüistas
brasileiros . Um trabalho de três das autoras do presente artigo (Cyrino, Duarte e Kato
2000) procurou resolver o enigma e sua proposta de solução é apresentada resumidamente
nesta seção.

Estudando o uso do pronome pessoal em várias línguas, Cyrino, Duarte e Kato (2000)
concluem que a referencialidade tem uma relevância altamente translingüística na
pronominalização. Para uma língua que tem uma opção interna para variantes nulas ou

4
Cf, por exemplo, Tarallo 1985.

9
não-nulas, um fator forte para a seleção de uma forma ou outra é o estatuto referencial do
antecedente.

Na hipótese das autoras, argumentos [+N, +humano] estão no extremo mais alto na
hierarquia referencial, enquanto não-argumentos estão na posição mais baixa. Com relação
aos pronomes, o falante (eu) e o interlocutor (você), sendo inerentemente humanos,
primeira e segunda pessoas pronominais, estão no ponto mais alto na hierarquia, e o
pronome de terceira pessoa que se refere a uma proposição está na posição mais baixa,
com a entidade [-humano] entre os dois. O traço [± específico] interage com todos esses
traços:

I. Hierarquia Referencial
não-argumento proposição [-humano] [+humano]
3 p. 3 p. 2 p. 1 p.
-espec. +espec.
[-ref] < ---------------------------------------------------------------------- > [+ref.]

O estudo propõe, a partir dessa generalização, a seguinte hipótese:

II. Hipótese do Mapeamento Implicacional


a. quanto mais referencial, maior a possibilidade de um pronome não-nulo.
b. uma variante nula em um ponto específico da escala implica uma variante nula à sua
esquerda, na hierarquia referencial.

O papel da hierarquia referencial proposta no curso da mudança de sujeitos nulos a


pronominais plenos é mostrada no Gráfico 2 abaixo, para os dois séculos passados; o
alastramento da mudança, como se pode ver, confirma nossa hipótese: os itens mais
referenciais, sujeitos com o traço [+humano], determinado ou arbitrário, foram os
primeiros a se tornarem foneticamente substantivos. Finalmente, os sujeitos que se referem
a uma entidade não-humana ou a uma proposição são mais resistentes à mudança5.

5
Excetuando-se referentes proposicionais, podemos dizer que esta hierarquia é mantida na fala. A análise
sincrônica de Duarte (1995) revela as seguintes taxas de sujeitos pronominais plenos, de acordo com o traço

10
Gráfico 2. Sujeitos plenos e a hierarquia referencial

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
XIX/1 XIX/2 XX/1 XX/2

[+hum] [+arb] [-hum] [prop]

O pronome expletivo que está numa posição baixa na hierarquia referencial (tanto o tipo
"there" como o tipo "it") ainda são categoricamente nulos no texto escrito examinado6.

Com a perda do clítico de terceira pessoa, o PB adquiriu o objeto nulo referencial e, com o
empobrecimento da morfologia de concordância, está perdendo o sujeito nulo referencial .
Ainda que cada processo tenha ocorrido independentemente, eles parecem ter sido guiados
pela hierarquia referencial em I e o mapeamento implicacional em II. A variação interna e a
mudança seriam assim apenas reflexos daquilo que governa a variação entre as línguas (cf
Tarallo & Kato 1989).

Como o clítico de 3ª pessoa não está mais no paradigma, objetos anafóricos com
antecedentes [+humano] são freqüentemente expressos por pronomes fortes "ele" e "ela", o
que mostra que a hierarquia de lexicalização proposta atua de novo, evitando que
pronomes altamente referenciais tenham uma expressão nula, como mostrado no Gráfico 3
abaixo, para os últimos três séculos:

referencial do antecedente: 68% [+humano], 65% [+arbitrário], 56% [-humano] e 44% [+hum/-espec].
6
Note-se, entretanto, que na fala já se observam estratégias de preenchimento do expletivo (cf. Duarte 1999),
entre as quais se destaca o uso do demonstrativo, como ilustra (i) a seguir:
(i) a. Isso era em torno de vinte pessoas.
b. Isso já faz muito tempo.

11
Gráfico 3. Objetos nulos e a hierarquia referencial

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
XIX/1 XIX/2 XX/1 XX/2

[+hum] [-hum] [prop]

Objetos cujo antecedente é [-humano] ou uma proposição são hoje quase que
categoricamente nulos. Por outro lado, vimos que os sujeitos que têm o traço [-humano]
são resistentes à mudança para pronome pleno (cf. Gráfico 2).

Até agora, vimos como a distribuição complementar de pronomes nulos e plenos ocorreu
ao longo da hierarquia referencial. A hierarquia de lexicalização não exclui a possibilidade
de sujeitos referenciais nulos. O que é excluído é a existência de uma língua com pronomes
nulos referenciais e pronomes plenos não-referenciais.

Quanto ao objeto, se o input exibe um pronome ou um clítico em posições mais baixas da


hierarquia referencial, a criança vai considerá-lo um pronome fraco posicionado ou em um
núcleo ou em uma posição argumental, e assumirá que todas as posições mais altas vão
igualmente exibir um pronome lexical ou clítico (inglês e PE). Se a língua exibe um objeto
nulo para uma entidade referencial, a criança assumirá que todas as posições mais baixas
podem ser nulas (PB). Além disso, se um pronome forte está presente, a ele será atribuída
uma posição deslocada.

4. A correlação entre a perda de sujeito nulo e sujeito posposto em interrogativas-Q.


Em um estudo clássico sobre as mudanças no francês antigo, Adams (1987) propõe que
seu sujeito nulo foi perdido quando a língua deixou de ser uma língua V2. Por outro lado,

12
as propostas sobre o parâmetro do sujeito nulo correlacionam essa propriedade à inversão
livre VOS e não a XVSY das línguas V2, tipicamente germânicas. Kato e Duarte (1998)
procuram verificar se há efetivamente uma correlação entre a perda do sujeito nulo e o
desaparecimento do movimento do verbo para a segunda posição nas interrogativas-Q. Os
resultados daquele estudo encontram-se resumidos na presente seção.

Como atestam os exemplos em [14], na seção 2.3, as interrogativas-Q do século XIX e


inícios deste século exibem obrigatoriamente o padrão VS. Com o propósito de investigar
como essa ordem foi reanalisada como SV, Kato e Duarte (1998) empreendem um
reexame dos dados de Duarte (1992) relativos aos dois últimos séculos. A distribuição dos
padrões VS encontrados revela que as ocorrências típicas de V2 se limitam a 23% dos
dados e se referem (a) a casos de AUX S V, todos com um sujeito pronominal, como em
[22]:

[22] a. Sim senhor, mas que tenho eu a temer? (1845)


b. Aonde teria ela ido? (1918)

e (b) a casos em que o sujeito, nominal ou pronominal, é seguido por algum constituinte
(VSX), como em [23]:

[23] a. O que quer essa mulher comigo? (1845)


b. Que te importas tu com o canudo? (1882)

A maior parte dos dados porém, apresenta o sujeito em posição final (VS ou VXS). Se o
sujeito é um pronome, ainda temos o padrão V2, mas, se é um SN, o que significa mais de
metade dos dados, pode-se dizer que se trata de uma estrutura ambígua entre V2 e inversão
estilística. Um exame da distribuição dos dados pelos dois últimos séculos revela que as
sentenças que exibem um inequívoco padrão V2, já raras a partir dos anos 30, deixam de
aparecer na segunda metade deste século. O que chama a atenção é o fato de que no século
XIX e inícios do século XX as interrogativas com o sujeito não expresso ilustradas em [24]
são muito mais freqüentes do que as com o sujeito expresso, o que é compatível com uma
língua positivamente marcada em relação ao parâmetro do sujeito nulo, que era o caso do
português brasileiro nesse período:

13
[24] a. Com quem tenho o prazer de falar? (1845)
b. Mas como soube que eu estava aqui? (1845)
c. Para que estudaste tanto, rapaz? (1882)
d. Onde se esconderia ? (1845)

Observe-se que, se o sujeito é nulo, sua posição é invisível e o pronome nulo pode ser
imaginado pela criança que adquire a língua como estando antes ou depois do verbo, como
mostra [24]d’:

[24] d’. Onde ___ se esconderia ___?

À medida que cresce o preenchimento do sujeito pronominal nas declarativas, em


conseqüência da redução de nossos paradigmas flexionais verbais (cf. Duarte 1993), cresce
também a preferência pela ordem SV nas interrogativas-Q. Assim, enquanto na gramática do
adulto a posição do sujeito ainda é abaixo do verbo, ou, em termos lineares, à sua direita, na
da criança, que está refixando o parâmetro, ela está à esquerda. Em outras palavras, enquanto
uma geração atribui a [24]d a representação [25]’, a geração seguinte pode estar atribuindo a
representação [25]’’:

[25]’ [CP Onde [ se esconderia [ (ela) tv ]]]

[25]’’ [CP Onde [ [ (ela) se esconderia ]]]

Quanto aos contextos em que o sujeito é um SN, o que se observa é que a ordem VS, antes
irrestrita, se não desaparece no final do século XX, limita-se a verbos monoargumentais
como em [15]a aqui repetido como [26] :

[26] Onde andará a Neiva?

Como já foi dito, tais estruturas são ambíguas, podendo ser interpretadas com autênticas V2
(V para COMP) ou como um tipo de deslocamento à direita (inversão estilística). Assim,
Kato e Duarte (1998) sugerem, seguindo Kato (1993), ser este um contexto que torna a

14
reanálise possível. Enquanto a geração mais velha pode estar atribuindo a [26] acima a
estrutura [27]’, a criança, já num contexto de mudança, pode estar interpretando-a como
[27]’’, um caso de deslocamento à direita:

[27]’ [CP Ondequ [C’ andaráv [IP a Neiva tv tqu ]]]

[27]’’ [CP Ondequ [C’ [IP (elai) andará tqu] a Neivai ]]

Se a estrutura é [27]’, o sujeito pós-verbal pode ser um pronome e a mesma gramática que
o produz contém sentenças como [22-23]; se a estrutura é [27]’’, o pronome pós-verbal é
impossível, como revelam os dados do português brasileiro contemporâneo.

Em resumo, as estruturas com um sujeito nominal do século XIX são ou casos de V2 ou


casos de deslocamento com o pronome resumptivo sempre nulo, consoante o princípio
“Evite Pronome”.
Quando se comparam os resultados obtidos para o aumento de sujeitos pronominais
preenchidos e de ocorrência de VS em interrogativas-Q, com base no mesmo corpus, pode-
se dizer que os dois fenômenos são paralelos. Observe-se o gráfico 4:

Gráfico 4: Sujeitos Plenos vs Sujeitos Nulos


Ordem SV vs Ordem VS em Interrogativas-Q
100%
95%
90%
77% 87%
80%
70%
73%
60% 57%
67%
50%
50%
40% 46%
25%
30% 23%
20%
20%
14%
10% 16%
3%
0%
1845 1882 1918 1937 1955 1975 1992

Sujeitos Plenos Ordem SV

O período de tempo foi o primeiro grupo de fatores selecionado pelo programa de regra

15
variável VARBRUL para ambos os fenômenos analisados e o exame dos pesos relativos
obtidos para cada período mostra que a pressão sobre o preenchimento do sujeito precede a
pressão sobre a ordem SV. Observem-se os pesos relativos na tabela a seguir:

Período 1845 1882 1918 1937 1955 1975 1992


Sujeito Pleno .23 .20 .24 .54 .57 .78 .82
Ordem SV .07 .03 .11 .13 .79 .98 .93
Tabela 1. Sujeitos pronominais plenos e ordem SV em interrogativas-Q

5. A correlação entre sujeito nulo e inversão livre, ou românica

Na seção anterior, ficou clara a relação entre sujeito nulo e XVOS, mais do que com
XVSO. O que nunca ficou muito claro na teoria é por que a propriedade de sujeito nulo
vem associada com a de inversão livre, ou românica. Nesta seção iremos apresentar a
teoria sobre sujeito nulo e inversão proposta em Kato (1999 e 2000a), que mostra como
essas propriedades podem ser derivadas de uma mesma propriedade.

Para Kato (1999) o que ocorreu no PB em comparação ao português clássico e ao PE se deve


ao fato de nossa língua ter perdido o caráter pronominal de seu afixo de concordância e,
como conseqüência, este aparecer afixado ao verbo desde o léxico, não podendo ser inserido
como um elemento independente, pronominal, na posição de argumento, conforme a análise
minimalista em Chomsky (1995). O argumento pronominal de um verbo pode ser um
pronome livre como “I” no inglês, um clítico como “je” do francês e um afixo de
concordância como “-o” do espanhol. Somente o pronome livre exige que o Spec de TP seja
projetado para a checagem dos traços-D de T. O clítico e o afixo se adjungem ao T e checam
igualmente os traços de T nessa posição, não exigindo a projeção do Spec de T. Quando
aparece um pronome, este é o pronome forte, que corresponde aos pronomes fortes como o
“me” no inglês e o “moi” do francês, ocupando, como estes, a posição deslocada. O caso dos
pronomes fortes e dos elementos deslocados é o caso “default”: acusativo no inglês, o oblíquo
no francês e nominativo no espanhol e em outras línguas românicas, incluindo o português
(PB e PE)7.

7
Kato mostra que o caso “default”é aquele que se manifesta no contexto de predicativo enquanto Caso

16
[28] a. Me [TP I like beer]
b. Moi[TP j’aime la bière].
c. Yo [TP am-o la cerveza ].

A análise de Kato elimina pro como categoria descritiva. O sujeito é a própria concordância,
que pode desempenhar a função de resumptivo quando o pronome forte está presente. Note-
se que a posição do pronome forte é a dos DPs deslocados como em:

[29] a. John, [TP he likes beer].


b. Jean [TP il aime la bière].
c. Juan [TP ama-∅ la cerveza].

Lembrando que movimentos só são possíveis com núcleos e projeções máximas, fica claro
que somente com o espanhol podemos obter a ordem VOS, movimentando-se o TP por cima
do DP "Juan"8 . Com o inglês e o francês obtemos uma construção de deslocamento à direita:

[30] a. [TP he likes beer] John.


b. [TP il aime la bière] Jean .
c. [TP ama-∅ la cerveza ] Juan.

O movimento do V+O no inglês e no francês é agramatical porque teríamos que mover T’,
uma projeção não-máxima.

Kato propõe ainda que o paradigma de concordância do PB foi substituído pelo paradigma de
pronomes fracos livres quase homófonos com os pronomes fortes, e os afixos deixam de ter
autonomia, aparecendo já afixados ao verbo desde o léxico. Requer-se, então, que pronomes
livres ou sintagmas apareçam na derivação para checar o nominativo e os traços de T. O
padrão VOS deixa de ser possível uma vez que o Spec de T aparece preenchido como no
inglês. Movendo TP, o que se obtém é uma estrutura de deslocamento à direita.

estrutural é requerido por argumentos.


(i) It is me. (ii) C’est moi. (iii) Soy yo.
8
Esse movimento é considerado prosódico por Zubizarreta (1998). Ele ocorre para conciliar o traço [+F]
(=”foco”) de um constituinte com o lugar do acento nuclear.

17
[31] a. O João [TP ele comeu a torta]
b. [TP ele comeu a torta] o João.

Já no PE não temos pronomes fracos, que podem ocorrer dentro de TP. Quando o pronome ou
um DP aparece, ele é externo. Daí ser possível a ordem VOS, que resulta do movimento de
TP.

[32] a. O João [TP come-u a torta]


b. [TP Come-u a torta] o João.

No exemplo abaixo, enquanto o pronome eles é um pronome forte no PE, no PB eles é


também um pronome fraco, admitindo ser duplicado com um pronome forte quasi-homófono
(cf. Duarte 1995 e Britto 1998):

[33] a. Eles [TP cantam ] PE


b. [TPCantam eles] PE

[34] a. Eles, [TP eles cantam]. PB


b. [TP Eles cantam ]. PB

O movimento do TP nas inversões livres de línguas de sujeito nulo é prosodicamente


motivado, para conciliar o traço [+F] de um constituinte com o lugar do acento nuclear na
sentença.(Zubizarreta 1998, cf. nota 8). Segundo a autora, esse tipo de movimento é
sensível a peso, postulação que será usada na correlação a ser estudada na seção seguinte.

6. A correlação entre perda de clíticos e a restrição de monoargumentalidade na


ordem VS

Os estudos empíricos de Andrade Berlinck (1989, 1995 e 2000) e Kato et alii (1996) atestam
que o único tipo de verbo ainda produtivo na ordem VS no PB é o inacusativo, que parece
aceitar essa ordem de forma irrestrita:

18
[35] a. Chegou o trem.
b. ?Telefonou o cliente9.
c. *Assinou uma carta o chefe do departamento.
d. **Enviou uma carta a todos o presidente da associação.

A situação atual resulta de um processo de mudança por que passou o PB ao longo de pelo
menos dois séculos. Andrade Berlinck mostra que construções como as exemplificadas em
[35c-d] eram possíveis e relativamente comuns na língua utilizada em terras brasileiras no
século XVIII, tornando-se residuais nos dados mais recentes. O gráfico 5 ilustra esse
percurso.

Gráfico 5: Posição do sujeito em orações declarativas

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
XVIII/1 XVIII/2 XIX/1 XIX/2 XX/1 XX/2

SV VSX VXS

Por outro lado, as construções inacusativas com SN posposto mantiveram um padrão de uso
bastante regular nesse mesmo intervalo de tempo, como mostra o gráfico 6.

9
Embora os dados mostrem apenas uma ocorrência residual de VS com verbos inergativos, o falante não a
rejeita como os padrões VOS.

19
Gráfico 6: Freqüência de VS no PB.

45%
40%
40%
35%
33% 30% 30%
30% 29%
25%
26%
20%
15%
10%
5%
0%
XVIII/1 XVIII/2 XIX/1 XIX/2 XX/1 XX/2

VS

Estudando o comportamento da inversão no PB, Kato e Tarallo (1988) deram à generalização


descritiva encontrada nos estudos anteriores o rótulo de “restrição de monoargumentalidade”.
Nesta seção tentaremos verificar de que forma a perda dos clíticos pode estar relacionada à
perda da inversão.

Vimos na seção anterior que o movimento-P que produz a ordem VOS é sensível a peso.
Essa restrição no PB parece ser mais radical do que nas demais línguas românicas. Podemos
sugerir que isso se deve ao fato de o PB ter perdido seu clítico de terceira pessoa, que abrange
hoje a segunda e a terceira pessoas do discurso. Como o clítico de primeira pessoa ainda é
preservado, esperaríamos que com ele tivéssemos a possibilidade de inversão. E de fato é
possível termos [36]a, mas não [36]b e c: o primeiro porque o clítico de terceira pessoa
desapareceu e o segundo porque o TP com um DP pleno como objeto é excessivamente
pesado para a aplicação do movimento-P.

[36] a. Me surpreendeu o filme.


b * O surpreendeu o filme.
c. * Surpreendeu meu filho o filme.

O clítico dativo diferencia te de lhe, este último caindo em desuso na região centro-leste do
Brasil. Temos então o seguinte contraste:

20
[37] a. Me telefonou o Pedro.
b. Te telefonou a Maria?
c. * Lhe telefonou o Pedro.
d. ??Telefonou pra mim o Pedro.
e. ??Telefonou pra Maria o Pedro.

Já o PE conta com o paradigma de clíticos plenos e conta ainda com a ênclise, o que vai
permitir uma possibilidade generalizada de inversão:

[38] a. Surpreendeu-me o filme.


b. Surpreendeu-o o filme.
c. ?Surpreendeu o meu filho o filme. (Ao meu filho surpreendeu o filme)10

[39] a. Telefonou-me o Pedro.


b. Telefonou-te a Maria?
c. Telefonou-lhe o Pedro.
d. ?Telefonou ao Pedro a Maria. (Ao Pedro telefonou a Maria)

Veremos, a seguir, como os dados quantitativos da perda da inversão e da perda do clítico


podem ser relacionados.

O gráfico 7 apresenta os percentuais de freqüência da ordem VOS com verbos transitivos


diretos nos corpora analisados, do início do século XVIII ao fim do século XX. A curva
decrescente formada por esses índices reproduz os resultados gerais já apresentados no
gráfico 5, embora se observe aqui percentuais de ocorrência de VOS em geral mais baixos.

10
As construções do tipo V2, produtivas no PE, parecem ser um recurso para evitar excesso de peso no
movimento-P.

21
Gráfico 7: VOS em orações declarativas com verbos
transitivos diretos
14%
13%
12%
10%
8%
7%
6%
4%
4%
2% 2%
2%
1%
0%
XVIII/1 XVIII/2 XIX/1 XIX/2 XX/1 XX/2

VOS

Segundo a idéia de que o movimento que gera VOS é sensível a peso, deveríamos esperar
que essa ordem ocorresse com mais freqüência quando o complemento do verbo se
realizasse como um pronome clítico ou como um objeto nulo. De fato é o que se constata
quando os resultados apresentados acima são reanalisados segundo essas distinções, como
nos mostra o gráfico 8:

Gráfico 8: VOS segundo a forma do objeto direto

35%

30% 31%
24%
25%

20%
17%
15% 13%
11%
10%
5% 5% 4%
5% 4%
5% 2%
1% 0% 2%
0% 0% 0%
XVIII/1 XVIII/2 XIX/1 XIX/2 XX/1 XX/2

objeto nulo pronome clítico DP pleno

7. Conclusões

Os estudos de mudança aqui relatados e as correlações feitas sobre elas deixam claro que o
PB se caracteriza, após 500 anos de descoberta, com uma gramática própria, bem distante
das demais línguas românicas de sujeito nulo.

22
Roberts (1993) interpretou as mudanças ocorridas no PB como paralelas às que ocorreram
no francês antigo, língua de sujeito nulo. Analisando as ainda produtivas inversões
inacusativas e existenciais, Kato (2000b) mostra que tais inversões se distanciam do padrão
italiano e português europeu e se aproximam mais das inversões do francês. Outros estudos
mostram o PB como uma língua orientada para o discurso (Pontes 1987, Galves 1993,
Negrão 1999). Como essas duas tendências podem ser conciliadas em um único sistema?

Há muito ainda a se pesquisar no milênio que se inicia, mas podemos dizer que muito se
descobriu no final deste que passou.

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