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RESUMO
Este artigo propõe uma reflexão sobre a responsabilidade do Estado enquanto provedor de
Políticas Públicas e a atuação dos assistentes sociais nessas políticas, tendo como objetivo,
promover ponderações a respeito das configurações assumidas pelo Estado no contexto
histórico, das respostas dadas no enfrentamento da questão social, do processo de
constituição e desenvolvimento das políticas sociais na sociedade capitalista
contemporânea. Pois, no que tange ao grande capital, a atuação do Estado está direcionada
por uma política econômica de cunho neoliberal e se propõe a oferecer a população usuária,
somente os mínimos sociais. A metodologia utilizada foi o método histórico-dialético, sendo
feito um estudo teórico, que envolveu um levantamento bibliográfico. Assim, o mesmo
desenvolveu-se através de livros, revistas, periódicos, observando os diferentes pontos de
vista acerca do tema, sendo referenciado pelos seguintes autores: Pereira (2002, 2008),
Behring & Boschetti (2009), Netto (2005), Iamamoto (2004); Raichelis (2007), entre outros.
INTRODUÇÃO
estado de naturezavi, os homens decidem passar à sociedade civil criando o poder político e
as leis. Por isso, a passagem do Estado de Natureza à sociedade civil se dá por meio do
Contrato Social. Nesse aspecto, o Estado é constituído por um acordo ou pacto, entre um
aglomerado de homens, sendo ele uma unidade de poder absoluto, tendo o dever de
representar a coletividade. Desse modo, tal transição, intercedida pelo Contrato Social,
permite que os direitos sociais, tidos como direitos naturais, presentes no Estado de
Natureza, possam ser garantidos com mais eficiência pelo Estado (CHAUI, 2009).
Todavia, Pereira (2008: 136) preceitua:
Sobre esse aspecto, é possível assimilar que o Estado, desde a sua criação, vem
assumindo algumas responsabilidades no que tange ao social. Mas, isso não ocorre com o
intuito de garantir o bem comum, mas sim como forma de controle e manutenção da
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ordem, fato este que muitas vezes foi visto na história através de ações repressivas (PASTOR
& BREVILHERI, 2009).
Ainda sobre esta perspectiva, verifica-se que, o Estado no capitalismo concorrencial
passa a ter uma interferência pontual no social, em sua fase monopolista, assume outras
funções, com uma influência contínua na reprodução da força de trabalho (PASTOR &
BREVILHERI, 2009).
Historicamente a relação do Estado com as políticas sociais, foi sendo minada pelo
implacável crescimento das forças produtivas, acondicionado pelo processo de
industrialização e pelo aumento do poder político dos trabalhadores. É possível notificar que
no final do século XIX, predominou de fato essa relação, como afirma Pereira (2008: 34).
Ainda segundo a autora, o Estado social tomou como parâmetro um modelo estatal
de intervenção na economia de mercado, que “expandiu e fortaleceu o setor público e geriu
sistemas de proteção social” (PEREIRA, 2008: 23).
O desenvolvimento da esfera pública, por meio de sua estrutura administrativa, com
um corpo especializado, foi uma das necessidades descobertas para que o Estado tivesse a
capacidade de ser o norteador da economia e capaz de implementar as medidas almejadas.
Vê-se, portanto, um Estado burocrático que age por meio do denominado sistema estatal
(PASTOR & BREVILHERI, 2009).
Vale destacar, segundo Pereira (2002), a questão social que eclodiu no século XIX
com a Revolução Industrial nos países europeus conferiu um fato ameaçador à ordem e às
instituições liberal-burguesas. Nesse contexto, nasce o Estado Capitalista regulador, ou seja,
o Estado de Bem-Estar Social. Iamamoto (2004) destaca que, a questão social é apreendida
como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista. Neste sentido,
a questão social explica a necessidade das políticas sociais, no âmbito das relações entre as
classes e o Estado.
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[...] mas tal ascensão não deu por cima e por fora dos conflitos de classe. Nesses
conflitos, ganha proeminência a história participação dos trabalhadores em sua
luta contra o despotismo do capital e o poder tendencialmente concentrador do
Estado. Na falta de condições objetivas de transformar o sistema que os oprimia, a
classe trabalhadora aproveitou os impactos de outras condições objetivas e
subjetivas presentes [...] para abraçar, no seio do próprio sistema, a causa dos
direitos sociais (PEREIRA, 2002: 33).
Assim, o Estado de bem estar social que emergiu após a segunda grande guerra, teve
como uma de suas finalidades a de promover reformas, trouxe uma melhoria das condições
de vida da classe trabalhadora, uma sensação de estabilidade empregatícia, o que levou os
trabalhadores a pensarem em níveis de igualdade, a absterem-se de um projeto mais radical
em prol de conquistas e reformas imediatas (PASTOR & BREVILHERI, 2009).
Segundo Behring e Boschetti (2009), o Estado de bem estar social, foi logo, um
acordo em que os partidos social-democratas renunciaram de fazer a revolução socialista
para conseguir o atendimento de exigências mínimas, de reformas imediatas, viabilizado
pelas políticas sociais.
Neste âmbito, é admissível afirmar que o Estado de bem estar social não foi um
Estado voltado exclusivamente para a classe trabalhadora, embora fosse possível conseguir
alguns benefícios para grande parte desta categoria assalariada, como exemplo, viu-se um
ganho na melhoria das condições de vida dos trabalhadores. O que é possível detectar é que
este Estado convencionou medidas de caráter social sem, contudo, perder seu caráter
capitalista (PASTOR & BREVILHERI, 2009).
Segundo Navarro (2002), o Estado de Bem-Estar Social, que teve seu auge nos anos
50, caracterizou-se pela ampliação dos gastos sociais e pela significativa conglobação de
capital. Enfim, no final da década de 60, as perspectivas de desenvolvimento principiaram a
esgotar. Nesta mesma ocasião, se energizaram os movimentos da classe trabalhadora, cujas
exigências não se restringiam às questões econômicas, mas, sobretudo, à democracia no
cerne das fábricas.
Neste caminho, o autor pontua que os movimentos operários reivindicavam o
controle operário sobre o processo trabalhista, considerado por amplos setores como
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Neste caminho, é possível verificar que baseado nas experiências, o Estado não se
apartou por completo do processo de regulação da força de trabalho; da concretização de
atos no campo da saúde e da educação; de intervenções ativas por meio de transferências
de renda e de domínio da pobreza, ou seja, no campo das políticas sociais, dentre várias
outras interferências.
Com efeito, é possível detectar que existem ações institucionalizadas que visam o
provimento de rendas básicas ou mínimas, objetivando atender às demandas dos sujeitos
sociais. “Tudo isso não pode reeditar a noção clássica de Welfare State; mas não retiram do
Estado funções sociais históricas de gestão e distribuição direta ou indireta de benefícios e
serviços, que ainda se fazem presentes em quase todos os contextos nacionais” (PEREIRA,
2008: 204).
Nesse âmbito, a autora pontua:
Por fim, pode-se ressaltar que é um erro pensar que a participação de muitos atores
não-governamentais na efetivação da política social, melhorou a provisão do bem estar ou
que houve mudanças substantivas nessa provisão, tal provisão que antes era protagonizada
somente pelo Estado, hoje é difundida também para a sociedade civil (PEREIRA, 2008).
Nesse sentido, Abreu (2002) chama atenção para o papel de educador social dos
assistentes sociais, com uma “função pedagógica” própria da profissão. O desafio
profissional é buscar responder às demandas da população com o compromisso no projeto
ético-político da profissão através de princípios e valores fundados na concepção de
superação das desigualdades sociais, com direitos sociais universais na reafirmação da
cidadania, ou seja, no seu caráter emancipatório (NEVES, SANTOS, SILVA, 2012).
Vale destacar que, ao longo da história da humanidade e no contexto da ordem
burguesa, os direitos de cidadania tornam-se fundamentais para que as classes subalternas e
o conjunto de forças interessadas na construção de uma sociedade mais igualitária,
consigam avançar na construção de projetos políticos que apontem nesta perspectiva. Com
isso, torna-se importante, sobretudo, para os excluídos do mercado e da participação
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política, a luta para garantir melhores condições de vida e por oportunidade de participar
das decisões que dizem respeito à vida de toda sociedade (SOARES, 2002).
Logo, o profissional do Serviço Social tem um papel relevante a desempenhar, pois é
no dia-a-dia de sua prática e da convivência social que pode construir e fazer a história da
profissão, na medida em que a atuação comprometida de cada Assistente Social com a
dimensão ético-política aponta uma direção social que poderá, de forma efetiva, responder
às necessidades dos usuários na intervenção das políticas públicas.
Considerações Finais
Abreu (2002); Behring & Boschetti (2009); Cabrero (2002); Chaui, 2009; Creveld (2004);
Iamamoto (2004); Pereira (2002, 2008); Netto (2005); Navarro (1996); Neves; Santos; Silva
(2012); Pastor (2009); Pastorini (2002); Raichelis (2007); Rodrigues; Rodrigues (2008); Simões
(2009); Sedese (2006); Soares (2002); Yasbek (2005).
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REFERÊNCIAS
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. 3. ed. São Paulo:
Cortez, 2009.
CREVELD, Martin Van. Ascensão e declínio do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
NAVARRO, V. Produção e Estado do bem-estar: o contexto das reformas. In: NETTO, José
Paulo (Org.). “Transformações societárias e Serviço Social”. Serviço Social & Sociedade, n.
50, São Paulo: Cortez, 1996.
NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós - 64. 8.
ed. São Paulo: Cortez, 2005.
PASTOR, M.; BREVILHERI, E. C. L. Estado e Política Social. Serviço Social em Revista. v. 12. n.
01. Londrina, Jul/Dez 2009.
__________. Política Social: temas & questões. São Paulo: Cortez, 2008.
SIMÕES, C. Curso de direito e serviço social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2009. (Biblioteca Básica
de Serviço Social; v.3)
SOARES, L. T. Os custos do ajuste neoliberal na América Latina. 2. ed. São Paulo: Cortez,
2002.
YASBEK, M. C. Estado e Políticas Sociais. Revista Praia Vermelha. 18. ed. UFRJ. Rio de
Janeiro, segundo semestre 2005.
i
Bacharel em Serviço Social. Especialista em Gestão de Políticas Públicas e Serviços Sociais.
Mestranda em Gestão Pública e Sociedade da Universidade Federal de Alfenas – Campus
Varginha/MG. E-mail: cleocardoso04@yahoo.com.br
ii
Bacharel em Serviço Social. Especialista em Psicologia e Serviço Social Judicial. Assistente Social
de Serviço de Acolhimento Institucional. Email: tayalves18@hotmail.com
iii
Graduada em Serviço Social. Especialização em Política de Assistência Social e Gestão do Sistema
Único de Assistência Social.
iv
Estado Totalitário é aquele que estende sua presença reguladora e repressiva, em absolutamente
todos os níveis da sociedade (cultura, artes, economia, política, leis e etc.), ou seja, o Estado Total.
v
Estado Democrático: Expressa a “descentralização das decisões, das políticas públicas e dos
gastos sociais; pelas autonomias de gestão e participação da sociedade civil; pelo respeito à vida
familiar e às comunidades, às regionalidades e plurinacionalidades”(SIMÕES, 2009: 87).
vi
O conceito de Estado de Natureza tem a função de explicar a situação pré-social na qual os
indivíduos vivem isoladamente. Segundo Hobbes (século XVII) em Estado de Natureza, os indivíduos
vivem isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos ou “o homem lobo do
homem”. Nesse estado reina o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta. Já para
Rousseau (século XVIII), em Estado de Natureza, os indivíduos vivem isolados pelas florestas
sobrevivendo com o que a Natureza lhes dá, desconhecendo lutas e comunicando-se pelo gesto, o
grito e o canto, numa língua generosa e benevolente. Esse estado de felicidade original no qual os
humanos existem sob a forma do bom selvagem inocente, termina quando alguém cerca um terreno
e diz: “É meu”. A divisão entre o meu e o teu, isto é, a propriedade privada, dá origem ao Estado de
Sociedade (CHAUI, 2002).