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Acta Urológica Portuguesa 2001, 18; 1: 61-65 61

Tromboflebite da veia dorsal superficial do pénis: a


propósito de um caso

Ricardo Ramires, Estevão Lima, Rui Versos, Pedro Sousa*


José Soares, La Fuente de Carvalho, João Queiroz, Pedro Soares, Manuel Ribeiro **
Adriano Pimenta***
Hospital Geral de Santo António – Porto – Serviços de Urologia e Imagiologia

*Interno Complementar
**Assistente Hospitalar
***Director de Serviço
Correspondência: Hospital Geral de Santo António – Largo Prof. Abel Salazar, 4099-001 PORTO – E-mail: rican@netc.pt

Resumo

A tromboflebite superficial das veias longitudinais (tóraco-epigástricas) da face anterolateral do tórax foi
descrita pela primeira vez por Mondor em 1939. Cerca de vinte anos mais tarde Helm e Hodge descrevem uma
trombose isolada da veia dorsal superficial do pénis. Desde então pouco mais que cinquenta casos foram
publicados.
A apresentação clínica da doença de Mondor no pénis é a de rubor e edema da face dorsal do orgão
acompanhada de uma veia dorsal palpável e dolorosa.
As causas principais desta afecção parecem ser o traumatismo associado a actos sexuais frequentes e
vigorosos, estrangulação peniana provocada por vários mecanismos, injecção peniana, infecção, neoplasias
ou cirurgia.
O diagnóstico baseia-se na anamnese, exame físico e estudo ecográfico com Doppler.
Trata-se geralmente de uma afecção benigna que resolve facilmente com tratamento adequado.
Apresenta-se o caso de um doente que recorreu ao Serviço de Urgência com esta condição a qual foi
resolvida com sucesso através de tratamento médico.
Palavras-chave: Doença de Mondor, Tromboflebite superficial, veia dorsal superficial do pénis

Abstract

Superficial venous thrombosis of longitudinal veins (thoracoepigastrics) from the anterolateral aspect of
thorax was first reported by Mondor in 1939. About twenty years later, Helm and Hodge describe an isolated
thrombophlebitis of superficial dorsal veins of the penis (TSDVP). Since then, little more than 50 cases were
reported.
The clinical presentation, is of rubor and edema and the appearing of an almost painless cord-like induration
on the dorsal surface of the penis.
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62 Ramires, Lima, Versos, Sousa, Soares, de Carvalho, Queiroz, Soares, Ribeiro, Pimenta

Etiologies of TSDVP are numerous, but the onset of the thrombosis associated to vigorous sexual intercourse
seems to be the most frequent.
The diagnosis is based on the anamnesis, physical examination and study U. S. with Doppler.
Usually is a benign and auto-limited afeccion with easy resolution if properly managed.
We present a case of a man that appeared with this condition that was properly resolved with medical
treatment.

Introdução
Apesar de descrita pela primeira vez em 1869 por
Flagge, a tromboflebite superficial dos vasos
toracoepigástricos só mereceu a atenção particular
dos clínicos em 1939 quando Henri Mondor editou o
seu artigo de revisão intitulado “Tronculite sous cuta-
née subaiguë de la paroi thoracique antéro-laterále”.
Posteriormente Braun-Falco (1955) descreve um caso
de tromboflebite da veia dorsal superficial do pénis
(TVDSP) e em 1958 Helm e Hodge e Harrow e Sloan
em 1963 alertam para o facto desta entidade ser mais
frequente do que se pensava.
Desde essa altura pouco mais de meia centena de
casos foram descritos, a grande maioria associados a Fig. 2 – Ecodopler peniano mostrando, na altura do diag-
uma história de traumatismo da veia dorsal superficial nóstico, a trombose da VDSP, evidenciada pela falta de sinal
no interior do vaso, paredes espessadas, lúmen irregular e
do pénis (VDSP) durante actividade sexual intensa. com calibre aumentado
Trata-se de uma situação de evolução clínica
benigna cujo diagnóstico é facilmente realizado à
cabeceira do doente mas que deve ser consubstan- estabeleceu após intensa e prolongada actividade
ciado através de estudo ecográfico com Doppler sexual, com episódio de coito anal sem orgasmo.
peniano, o qual evidência normalmente a trombose Na história o doente não refere traumatismo
do vaso. peniano externo, uso de elementos constritores do
Genericamente o tratamento baseia-se no uso de pénis, escorrência uretral ou doença venérea. Sem
anti-inflamatórios não esteróides e analgésicos, a história de doença hematológica prévia.
maior parte das vezes com resolução completa dos O exame objectivo mostrou um homem saudável,
sintomas. circuncisado, com uma induração ao nível do sulco
coronal do pénis, tipo corda e nodular, localizada à
Caso Clinico região média da diáfise peniana e que se estendia até
Apresentamos o caso de um homem de 32 anos, à região retropúbica. A pele encontrava-se com sinais
homossexual, que notou o aparecimento de uma inflamatórios e aderente à VDSP. Os gânglios inguinais
induração tipo corda da face dorsal do pénis (Fig. 1) eram impalpáveis e o toque rectal normal.
acompanhada de dor, durante a erecção, a qual se O hemograma, velocidade de sedimentação,
estudo de coagulação e bioquímica incluindo estudos
das funções hepática e renal e doseamento dos
lipideos séricos, assim como o estudo da urina não
revelaram quaisquer alteração.
A ecografia peniana com Doppler mostrou sinais
de extensa trombose da VDSP a qual se apresentava
de calibre aumentado, paredes espessadas e com
lúmen irregular. Encontrou-se também dilatação dos
vasos colaterais situados a jusante da veia (Fig. 2).
O doente foi medicado com Rofecoxibe (VIOXX,
25 mg id), falvinoides micronizados (DAFLON 500,
bid) e aplicação tópica de uma pomada heparinoide
(HIRUDOID pomada, bid). Foi ainda aconselhado a
manter abstinência sexual.
Fig. 1 – Tromboflebite da veia dorsal superficial do pénis.
Notar, no terço proximal do órgão a lesão de induração e a A resolução completa dos sintomas dolorosos
ruborização típicas da patologia. ocorreu em aproximadamente 24 horas.
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Fig. 3 – Ecodopler peniano aos dois meses de follow-up


mostrando, a manutenção da trombose da VDSP

Após cerca de dois meses foi novamente exa-


minado (Fig. 3) tendo-se notado a persistência da
lesão peniana. Optou-se por iniciar 400 mg diários de
vitamina E. No seguimento, aos quatro meses, a lesão
tinha praticamente desaparecido e o doente mantinha-
-se perfeitamente assintomático e com erecções nor-
mais (Fig. 4). Fig. 4 – Erecção normal e desapareciemnto da lesão (4 meses)

Discussão
A tromboflebite da veia dorsal superficial do pénis da VDSP; por vezes pode observar-se a presença de
é uma doença de evolução benigna. Embora seja uma um coágulo intravascular.
patologia de aparecimento raro, o seu diagnóstico é, As principais entidades clínicas que fazem
a maior parte das vezes fácil, num contexto clínico, diagnóstico diferencial com a TVDSP são a doença
através de uma história de aparecimento de uma de Peyronie e a linfangite esclerosante do pénis. Nesta
induração na face dorsal do pénis, dolorosa ou não e última entidade os vasos assumem um trajecto ser-
por vezes com sinais inflamatórios. pentiginoso, são transilumináveis e pliáveis à pal-
O exame físico mostra um sinal clínico particular pação. Na trombose da veia dorsal o vaso tem um
ao obviar a induração numa localização e com uma trajecto linear e uma consistência firme em rosário.
extensão anatómica típicas. A palpação cuidadosa Na etiologia da TVDSP vários factores foram
da veia na linha média do dorso peniano revela um implicados (Tabela 1) embora a maioria dos estudos
vaso trombosado que se assemelha a um fio de arame apontem como principal causa uma história de
entrançado. traumatismo relacionado muitas vezes com um acto
Se o doente não tiver sido circuncisado, a sexual vigoroso.
inspecção cuidadosa do prepúcio, da corona da A patogenia da TVDSP é idêntica à das trombo-
glande e do sulco balano-prepucial pode mostrar a flebites superficiais e pode ser resumida pela co-
existência de factores precipitantes que possam ser nhecida tríade de Virchow: lesão da parede do vaso,
responsabilizados pela trombose do vaso tais como alterações do fluxo sanguíneo e alterações dos
úlceras, infecções, cálculos, tumores ou corpos próprios constituintes do sangue. O traumatismo do
estranhos. endotélio e a estase sanguínea condicionada pela
De acordo com os vários autores o estudo erecção peniana leva à activação dos sitemas de
analítico do sangue não trás quaisquer informação coagulação e fibrinolítico produzindo um estado de
para o diagnóstico excepto nos casos onde existam hipercoaguabilidade local responsáveis pela trom-
antecedentes patológicos conhecidos. bose venosa.
O diagnóstico deve ser alicerçado com um estudo A TVDSP pode apresentar-se como uma trombo-
ecográfico do pénis com Doppler principalmente nos flebite aguda com sinais inflamatórios significativos,
casos em que o diagnóstico não for muito evidente. dor e febre, de uma forma subaguda manifestada
Os achados ecográficos mais relevantes são os de apenas pela induração do vaso e acompanhada de
não compressibilidade ou ausência de fluxo no interior uma dor ligeira ou como um edema crónico limitado
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64 Ramires, Lima, Versos, Sousa, Soares, de Carvalho, Queiroz, Soares, Ribeiro, Pimenta

Tabela 1 – Etiologia da TVDSP Conclusões


Nas várias publicações consultadas a idade dos
Traumatismos doentes que se apresentaram com TVDSP variava
• Actividade sexual intensa entre os 21 e os 70 anos. O sinal de apresentação mais
• Elementos constrictores frequente, senão constante, foi o aparecimento de
Clampe de Cunnningham para a incontinência uma induração tipo corda da VDSP com ou sem
Preservativos atingimento do plexo venoso retroglandelar. São
Bomba de vácuo comuns queixas de certo desconforto ou dor, a maioria
das vezes acompanhado de sinais inflamatórios locais.
Auto-injecções para o tratamento da disfunção eréctil
O doente que apresentamos exibe características
Desportos de contacto clínicas similares às descritas. Trata-se de uma situa-
ção que se apresentou como um quadro subagudo
Lesões ocupacionais
que evoluiu para uma situação de cronicidade – ás
Infecção doze semanas de evolução o exame clínico mostra a
• Auto-infecções nos toxidependentes induração do vaso e a ecografia apresenta ainda
• Cálculos prepuciais infectados imagens de trombose venosa.
• Carcinoma peniano infectado Dado o doente se apresentar apenas com dor local
• Úlceras penianas infectadas e sinais inflamatórios do território da VDSP e não referir
• Fimose recorrente purulenta nos diabéticos problemas de disfunção sexual optou-se por não
tomar qualquer atitude cirúrgica e por iniciar apenas
Cirurgia
tratamento antitrombótico e antiinflamatório e acon-
• Circuncisão
selhar abstinência sexual.
Como sindrome paraneoplásico A reavaliação do doente ás doze semanas mostrou
• Neoplasia da bexiga a manutenção da situação trombótica com induração
• Neoplasia da próstata do vaso. Apoiados na fisiopatologia conheciada da
• Neoplasia do pâncreas doença de Peyronie (vasculite e infiltrado inflamatório
responsáveis pela instalação de um quadro de fibrose
gradual) e pelas propriedades da vitamina E (acção
ao sulco coronal do pénis. O quadro subagudo pode antioxidante e actuação directa na reparação do tecido
evoluir para a cronicidade. A recanalização espon- conjuntivo), optou-se por iniciar 400 mg id, PO com
tânea do vaso ocorre geralmente dentro de 6 a 8 supressão da terapia anteriormente descrita. O doente
semanas com resolução completa dos sintomas. A foi novamente avaliado aos quatro meses após o início
actividade sexual, potência e orgasmo nem sempre se do tratamento tendo-se notado resolução completa
encontram alterados pelo processo. do quadro.
A opinião dos vários autores quanto ao trata- Embora com um diagnóstico basicamente clínico,
mento da TVDSP varia entre uma atitude expectante pensamos que o estudo ecográfico acompanhado com
e o stripping do vaso. As situações agudas, acom- doppler é um importante meio auxiliar de diagnóstico
panhadas de dor e febre devem ser tratadas com dado não só mostrar a lesão como permitir fazer o diag-
anestesios locais, AINE e antibióticos. Certos autores nóstico diferencial e ser útil na avaliação do follow-up.
advogam o uso de anticoagulantes. Nos casos Ao contrário da bibliografia consultada onde os
subagudos e crónicos o uso de AINE e pomadas autores apontam para um tempo de racanalização do
locais heparinoides resolvem a maioria das vezes vaso entre as seis e as oito semanas, no nosso caso,
o desconforto e a dor. Na persistência dos sinto- a resolução completa só ocorreu ao fim de cerca de
mas recomenda-se a trombectomia ou o stripping do quatro meses. Somos assim da opinião que antes de
vaso. ponderar cirurgia devemos esgotar todas as opções
O uso de terapia anti-trombótica e anticoagulante médicas dado que em quase todas as séries foi sufi-
nas fases iniciais da doença parece ser, na maioria ciente para a resolução do quadro. Embora não
das publicações estudadas, aquela que melhor tenhamos visto descrito o uso de vitamina E no
resultados tem dado, ao contrário dos AINE que tratamento desta entidade, o seu uso talvez tenha
apenas transportam uma melhoria sintomática, interesse principalmente pelas suas acções antioxi-
diminuir o tempo de recuperação dos sintomas e a dantes conhecidas.
recanalização do vaso. Por fim, pensamos que a abstinência sexual é parte
A abstenção da actividade sexual durante o fundamental do tratamento ao diminuir o traumatismo
período de tratamento médico é essencial ao eliminar peniano e assim eliminar um factor importante
os factores de traumatismo sobre o vaso lesado. favorecedor da trombose.
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