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FACULDADE UNIDA DE VITÓRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES


MESTRADO PROFISSIONAL

JOSÉ ARISTIDES DA SILVA GAMITO

O PARADIGMA INDICIÁRIO DE CARLO GINZBURG

Vitória-ES
2018
FACULDADE UNIDA DE VITÓRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES
MESTRADO PROFISSIONAL

JOSÉ ARISTIDES DA SILVA GAMITO

O PARADIGMA INDICIÁRIO DE CARLO GINZBURG

Texto para avaliação da disciplina “Análise do


Discurso Religioso Canônico”. Professores:
Osvaldo Luiz e Alessandro.

Vitória-ES
2018
SINAIS, RAÍZES DE UM PARADIGMA INDICIÁRIO - CARLO GINZBURG

Nos fins do século XIX, surgiu um modelo epistemológico capaz de contornar a


dificuldade da dicotomia entre racionalismo e irracionalismo (p. 143). Entre 1874 e
1876, Giovanni Morelli escreveu uma série de artigos analisando a pintura italiana sob o
pseudônimo de Ivan Lermolieff que chamou muito a atenção. Ele utilizava um novo
método de atribuição de quadros a pintores. Para distinguir quadros originais de cópias,
ele passou a examinar detalhes pouco valorizados nas análises das obras. Considerava
características anatômicas nas pinturas como o lóbulo da orelha, unha, formas dos
dedos, mãos e pés. Assim ele catalogou os traços dos pintores e fez novas atribuições de
quadros na Itália (p. 144).
O método de Morelli focava nas minúcias características de cada pintor.
Castelnuovo chegou a compará-lo com o método de Sherlock Holmes em sua técnica de
investigar (p. 145). Um caso similar de Sherlock Holmes é o de duas orelhas cortadas e
enviadas pelo correio a uma moça. O caso é solucionado quando o detetive analisa as
características anatômicas das orelhas e demonstra que elas são de um parente da moça
(p. 146). Freud se interessou pelo método de Morelli por causa da semelhança com seu
método psicanalítico. Freud valorizava também no seu método psicanalítico justamente
os resíduos, os dados marginais, os pormenores reveladores. A partir dele, Freud
acessava a intimidade do espírito humano (147). Os métodos de Morelli, Holmes e de
Freud se assemelham. E a formação que está na base desses autores, no caso de Holmes,
Conan Doyle, está a medicina com a sua prática de diagnosticar doenças através da
observação de sintomas artificiais (p. 151).
A atividade da caça exercida pelo homem por milênios fez com que crescesse de
geração em geração um patrimônio cognoscitivo. A identificação da caça pela
observação das pegadas, dos vestígios. A partir deles o caçador interpretava e registrava
dados que o ajudaria a resolver problemas futuros na sua atividade (p. 151). O saber
venatório trabalhava com arte de decifrar pistas de animais. Num espaço de tempo pode
se vincular a esse processo os métodos semelhantes que são o da invenção da escrita e o
da arte divinatória mesopotâmica (p. 152). Na arte divinatória trabalhava-se com a
análise de entranhas de animais, movimentos dos astros, gotas de óleo na água para
fazer prognósticos. Já a escrita pictográfica representava um passo enorme no processo
por causa do grau de abstração (p. 153). A jurisprudência mesopotâmica também possui
esta analogia de método. Seus textos não eram coletânea de leis, mas discussão de
casuística concreta (p. 154).
Na civilização grega, aparecem disciplinas como a historiografia e a filologia. A
investigação deixa de considerar a intervenção divina. A medicina hipocrática é um
modelo indiciário de investigação. A observação minuciosamente dos sintomas gera
registros que vão compondo um histórico das doenças (p. 155).
O paradigma científico de Galileu na modernidade vai destoar dessa sequência
de modelos indiciários. A ciência galileana opta pelo emprego da matemática e do
experimento. Dentre as ciências da época, a história e a medicina permanecem como as
únicas indiciárias (p. 156-157). A filologia foi empregada na crítica textual para depurar
os textos de suas referências sensíveis. Isso foi importante tanto na antiguidade quanto
na modernidade para editar textos de maneira mais confiável, isso envolve desde a
transcrição dos poemas homéricos até a edição dos clássicos com a invenção da
imprensa (p.157).
A crítica textual mesmo com o caráter divinatório tinha condições de operar
dentro do rigor científico. Galileu imprimiu ao método científico um sentido
antiantropocêntrico e antiantropomórfico. Mas em meio a essa tendência galileana, o
médico Giulio Mancini retratou em sua obra métodos de reconhecimento da pintura
para separar obras falsas de originais. Em analogia com a crítica textual, Mancini
procurou desenvolver um meio de reconhecimento da datação das pinturas. O
bibliotecário Leone Allaci utilizou tal procedimento para datar manuscritos latinos e
gregos (p.160). Eles seguiam o procedimento de remontar as operações às impressões.
O bolonhês Camillo Baldi utiliza o método na reconstrução da personalidade a partir da
caligrafia. Com enfoque no individual, ele considerava que certas características da
escrita são inimitáveis. É um trabalho semelhante ao de Mancini que ao priorizar a
singularidade do pintor, poderia distinguir quais quadros seriam seus e quais seriam
falsos (p. 161).
Conhecimentos com maior exigência nos traços da singularidade escapavam da
possibilidade de aplicação do método científico rigoroso. O método matemático tendia à
generalização. A solução talvez era procurar uma via de conhecimento científico do
individual (p. 163). Filarete sustentou que não se poderiam construir dois edifícios
idênticos (p. 163) O conhecimento individualizante tem a característica de ser
antropocêntrico e etnocêntrico. O paradigma galileano tendia a subordinar à norma a
anormalidade por causa do procedimento de generalização (p. 164). Houve tendência
em aplicar o método matemático também a fatos humanos. Isso foi feito nas pesquisas
rigorosas que serviam a fins militares e fiscais dos Estados absolutistas. Mas as ciências
humanas se acomodaram ao modelo qualitativo (p. 165). No século XVIII, Cabanis
chegou a discutir sobre a exatidão da medicina e admitiu que o catálogo de todas as
doenças não alcança o desenvolvimento das doenças em cada indivíduo. Havia o
desafio da quantificação, não era possível eliminar o indivíduo. Essas observações
mostram as dificuldades do debate epistemológico (p. 166).
A partir do século XVIII, a burguesia se apropria de saberes indiciários ainda
não registrados pela cultura escrita. O exemplo mais expressivo dessa tarefa é a
Encyclopédie (p. 167). Os antigos saberes ganharam nova reformulação. Determinadas
experiências passaram a ser mediadas pelo livro. O romance tornou-se meio de acesso à
experiência geral e foi importante para dar novo rumo ao paradigma indiciário (p. 168).
O romance policial se insere neste tipo de conhecimento que procura pelos vestígios
conhecer fatos passados. As ciências como a arqueologia e a paleontologia operaram
nesta perspectiva diacrônica. Estas tiveram de se voltar ao paradigma indiciário,
deixando de lado o método galileano (p. 169).
Entre os séculos XIX e XX, com o aparecimento das ciências humanas
modifica-se o quadro das disciplinas indiciárias (p. 170). A característica mais forte das
ciências humanas é o trabalho sobre o individual. (p. 171). No Egito greco-romano para
firmar um contrato de casamento pouco se exigia para identificar das partes (p. 1712).
Com o aumento da criminalidade e a construção dos presídios teve de se pensar em
aperfeiçoar as formas de identificação de indivíduos. Em 1879, Alphonse Bertillon
desenvolveu um método baseado em medidas do corpo que formavam uma ficha do
indivíduo (p. 173). Bertillon recorreu ao “retrato falado” para melhorar seu método.
Galton propôs o uso de impressões digitais (p. 174). Purkyne havia estudado e
percebido que não há dois indivíduos com as mesmas impressões digitais (p. 175).
William Herschel aplicou o procedimento das impressões digitais na administração das
colônias britânicas (p. 176).
O método indiciário marcou profundamente as ciências humanas e lhes deu
forma (p. 177). Os sinais e indícios das particularidades podem indicar uma realidade
mais ampla e profunda (p. 177). O rigor científico de saber matemático não alcança as
minúcias do indivíduo e das experiências do cotidiano (p. 179). É um método que
permite um rigor flexível (p. 179).
O paradigma indiciário procura dar conta de dimensões do homem, da cultura e
da vida cotidiana que um método do tipo galileano não pode alcançar através da sua
tendência em matematizar tudo. As ciências possuem constituição e natureza
diferentes. O método das ciências da natureza não tem como ser do mesmo modo
daquele empregado nas ciências do espírito.
Em se tratando de sua aplicação à literatura, o método indiciário pode ser eficaz
pelo fato de textos serem vestígios do pensamento de um autor. A busca indícios e de
raízes na forma e na semântica do texto pode aproximar o leitor do autor do texto. Os
textos possuem características sociais como uso da língua, tipo de escrita, cultura, mas
são marcas individuais impressas através de signos no papel. Era alguém que estava
pensando ou se posicionando sobre algo no seu mundo.
A pretensão que não pode sustentar na aplicação deste método é o do rigor
científico galileano. O rigor flexível que é próprio deste método não significa também
uma falta de objetividade. Se na relação leitor-autor há compreensão de uma mensagem
é porque existe objetividade. Se os dois se fechassem em suas subjetividades não
poderia haver compreensão, haveria uma cisão entre mundos.
Para não correr o risco de o leitor-intérprete fazer observações erradas do texto
ou ser traído por sua individualidade, a socialização de leituras seria recomendada para
enriquecer a busca indiciária do sentido de um texto.

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