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NOVOS CAMINHOS PARA

A EDUCAÇÃO CRISTÃ
Júlio Zabatiero
www.hagnos.com.br
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© 2009, por Júlio Zabatiero
Editora Hagnos
Capa
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1a edição - Junho de 2009
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Zabatiero, Júlio
Novos caminhos para a educação cristã / Júlio Zabatiero. -- São Paulo : Hagnos, 2009.
ISBN 978-85-7742-060-5
1. Educação cristã 2. Teologia I. Título.
09-04559 CDD-268
Índices para catálogo sistemático
1. Educação cristã : Teologia : Cristianismo 268
SUMÁRIO
Prefácio
CAPÍTULO UM
Aspectos bíblicos da educação cristã
CAPÍTULO DOIS
Aspectos teológicos da educação cristã
CAPÍTULO TRÊS
Aspectos pedagógicos da educação cristã
CAPÍTULO QUATRO
Aspectos didáticos da educação cristã
CAPÍTULO CINCO
Aspectos programáticos da educação cristã
CAPÍTULO SEIS
Aspectos da espiritualidade na educação cristã
Referências bibliográficas
PREFÁCIO
NÃO HÁ LUGAR NA EDUCAÇÃO PARA PROGRAMAS imediatistas. Educar é atividade
complexa, exigente e de longa duração. A tarefa educacional, no corpo de Cristo,
abrange a vida toda e toda a vida – individual e comunitária. No âmbito das igrejas, a
educação cristã não se resume aos trabalhos da escola dominical, instituição que,
embora ainda importante e predominante na educação cristã, não pode ser considerada a
única instituição educacional da igreja. Devemos afirmar, de forma enfática, que
estruturas não escolares [não formais] são mais relevantes e apropriadas para a educação
cristã do que estruturas escolares.
Neste livro, desejo oferecer possibilidades de discussão sobre a educação cristã no
ambiente da igreja local. Não é um livro sobre a escola dominical, mas sobre a
educação cristã. Não apresenta receitas prontas, mas propostas para a transformação da
mentalidade educacional, de modo que você, leitora e leitor, possa desenvolver, em seu
próprio contexto, planos de reestruturação da educação cristã de sua igreja – em diálogo
com a teologia e a pedagogia da fé.
Proponho, também, um diálogo com nosso passado visando à construção de nosso
futuro. Nossa memória histórica é relativamente curta, mas na década de 1980 e na
primeira metade da década de 1990 houve um grande desenvolvimento da reflexão e da
prática de educação cristã na América Latina e na América do Norte – testemunhado
pela publicação de vários livros de qualidade e pelo surgimento de um bom número de
programas educacionais inovadores. Também no Brasil essa fermentação aconteceu. Na
década de 1990, atuei na formação de professores de escola dominical em várias regiões
do país, a serviço de minha denominação. Aprendi muito, deparando-me com diversas
experiências criativas e renovadoras de educação nas igrejas locais mais diversas. Uma
boa dose dessa experiência, espero, está presente neste trabalho.
Creio que pastores e pastoras, juntamente com educadores cristãos “leigos”, no dia a
dia de sua atividade ministerial, possuem todas as condições para melhor definir formas,
alvos, meios e estruturas do trabalho educacional. É com base nessa convicção que
ofereço as reflexões deste livro para a sua consideração crítica.
CAPÍTULO UM
ASPECTOS BÍBLICOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
NA SEGUNDA METADE DA DÉCADA DE 1980, houve o que se considerou um auge nos
estudos em educação cristã, época em que três autores em especial se sobressaíram:
Thomas Groome (EUA), Lawrence Richards (EUA) e o argentino Daniel Schipani (o
primeiro católico, os demais evangélicos). Em seu trabalho educacional e em seus
escritos, as grandes metáforas norteadoras da educação cristã eram: reino de Deus,
humanização, vida e missão. As igrejas cristãs descreviam sua identidade a partir da
missão e do serviço ao Deus que reina, que dá vida, que humaniza o ser humano à sua
imagem. Eram tempos relativamente otimistas – a transformação individual e social era
esperada e servia como fundamento para o trabalho eclesiástico, para o envolvimento
social e político, e para a renovação da teologia. A educação cristã era vista como
ministério indispensável e relevante para a vida da comunidade, seja através da escola
dominical, na época, em busca de renovação, seja através dos pequenos grupos, seja
através das comunidades eclesiais de base.
Nessa primeira década do século XXI, entretanto, vivemos tempos radicalmente
diferentes. As igrejas cristãs não mais descrevem sua identidade a partir dos referenciais
daqueles dias, mas a partir dos desafios que a sociedade de consumo e a mercantilização
da religião cristã lançam às igrejas e a suas lideranças. São tempos de pouca ou
nenhuma esperança, a não ser no sucesso individual, no crescimento numérico das
congregações, na espetacularização dos “ministros” do evangelho. A educação cristã
perdeu seu glamour, tornando-se o patinho feio das atividades eclesiais. Louvor,
comunhão, êxtase intimista tomaram seu lugar – limitando tanto a identidade como a
missão das igrejas no âmbito do crescimento pessoal.
A seguir, proponho uma releitura de textos bíblicos com base nas metáforas para a
educação cristã em voga nos escritos das décadas de 1980-1990. No próximo capítulo,
abordarei novas expressões mais sintonizadas com a nossa década. Você verá que, ao
pensar sobre educação, você estará de fato pensando sobre a igreja e sua missão!
METÁFORAS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
A edificação do corpo de Cristo (Ef 4.7-16)
Conforme Efésios 4.15,16, a edificação do corpo acontece quando cada um de seus
membros realiza seu trabalho sob a direção de Cristo. O trabalho de todos nós deve ser
realizado em um ambiente de amor e honestidade. Ademais, o alcance do ministério é
integral, pois devemos crescer “em tudo naquele que é o cabeça, Cristo”. Nenhuma área
da vida humana pode deixar de ser atingida pelo ensino cristão. O que significa, porém,
a edificação do corpo de Cristo? Significa o crescimento de seus membros em direção à
maturidade cristã. E esse é o tema de que nos ocuparemos a seguir.
À luz de Efésios 4.11-14, podemos enumerar as quatro principais características da
maturidade de uma igreja:
• É uma igreja em que os ministros (ordenados e não ordenados) realizam seu trabalho
para o bem de todos (v. 11,12a);
• É uma igreja em que os membros são aperfeiçoados para realizar seus próprios
ministérios. Em outras palavras, é uma igreja em que todos trabalham para o Senhor,
conforme os dons que dele receberam (v. 12);
• É uma igreja que está chegando à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de
Deus, crescendo no conhecimento teológico e na vivência da fé em Deus. Trata-se de
uma comunidade: igreja unida e companheira, em que todos – conforme sua capacidade
e possibilidade – deixam de ser meninos e meninas na fé e se tornam adultos no
conhecimento (v. 13,14);
• É uma igreja que reflete o ser de Cristo em sua vida diária. É, portanto, uma
comunidade que possui as marcas da vida de Jesus Cristo: amor, misericórdia, justiça,
submissão ao Pai, encarnação no mundo, trabalho [...] (v. 14).
O que vale para a igreja como um todo vale para cada um de seus membros
individualmente: um cristão maduro possuirá essas quatro características. É nessa
direção que devemos guiar nossos alunos – e a nós mesmos. Para isso é que existe a
educação cristã, e para isso é que somos professores!
Em Colossenses 1.28,29, a ênfase de Paulo recai sobre os indivíduos. Através do
ensino e do aconselhamento, Paulo realizava seu ministério a fim de apresentar a Deus
“todo homem perfeito em Cristo”. Ao refletir sobre sua própria vida espiritual, que
marcas da perfeição e da plenitude em Cristo você encontra? De que forma você pode
contribuir para que todos os alunos de sua classe se tornem “perfeitos em Cristo”? Uma
“dica”: a palavra perfeição, em Colossenses, tem o sentido de completo, inteiro. Ou
seja, não é tanto uma perfeição moral, mas a integridade da vida de fé em Deus.
Educar para o reino de Deus e a missão da igreja
Jesus não pregou, principalmente, a respeito de si mesmo. O seu anúncio tinha como
tema central o reino de Deus (Mc 1.14,15). Assim como as parábolas de Jesus são todas
parábolas do reino, seus milagres e exorcismos são sinais do reino. Tudo o que Jesus
disse e realizou na terra foi para a glória do Pai (Jo 17.4). Assim como Jesus serviu ao
reino de Deus, no sentido da soberania divina, também a igreja existe para realizar a
missão do reino. A igreja não é o alvo isolado da obra salvífica de Deus. O alvo é que o
reino de Deus seja estabelecido, em plenitude, sobre toda a criação (cf. 1Co 15.22-28).
Podemos resumir os aspectos centrais do sentido teológico da expressão reino de
Deus segundo a ênfase atribuída a cada um de seus substantivos. Reino de Deus é a
soberania que pertence a Deus, a glória e a majestade inerentes a seu ser divino: a
soberania indica, principalmente, a ação de Deus como Senhor de todas as coisas,
enquanto majestade e glória sinalizam sobretudo o caráter de Deus – digno de todo
louvor e honra. Nesse sentido, educar para o reino de Deus é educar para a submissão e
o serviço ao Rei. Já reino de Deus é a ação soberana de Deus no mundo, a fim de livrar
a humanidade do domínio do pecado. Educar para o reino implica guiar pessoas para a
santidade e a justiça, estimulando-as ao compromisso com a missão do reino no mundo
– assim como fez Jesus. A igreja, portanto, é constituída dos súditos do reino de Deus.
Conforme Apocalipse 1.5b, 6, somos súditos amados por Deus e resgatados pela morte
de seu Filho. A salvação nos transformou em sacerdotes de Deus Pai, ou seja,
testemunhas do reino e adoradores do Rei.
Educar para a (re-)humanização (Ef 4.17-24)
Uma das consequências básicas do pecado foi a des-humanização da humanidade. O
ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26-28). Com o pecado,
porém, tal realidade foi alterada, de forma que já não cumprimos nosso papel de
representantes de Deus na terra. Além de nos afastar de Deus e de sua vontade, o
pecado nos des-humanizou, ou seja, agimos uns para com os outros como “animais”,
cada um buscando apenas o seu próprio bem-estar. Como diz um velho ditado, “o
homem é o lobo do homem”.
Desumanizados, não cuidamos mais da natureza – que Deus nos confiou para
habitação e cultivo responsáveis. Não cuidamos mais de nosso próximo – somos como
Caim contra Abel. Não cuidamos mais de nossa relação com Deus, fomos escravizados
ao pecado e a Satanás. A salvação tem por objetivo reverter o processo de
desumanização.
Que significa, de forma bem concreta e prática, educar para a humanização? Creio
que, em primeiro lugar, é educar para a prática da justiça e da santidade. Justiça
significa, basicamente, agir para que o próximo se torne mais e mais humano, mais e
mais semelhante a Cristo, enquanto viver em santidade significa viver para que eu
mesmo me torne mais e mais humano, semelhante a Cristo. Do mesmo modo, educar
para a humanização também é educar para a criação de uma comunidade (e sociedade)
isenta de discriminações e preconceitos, na qual Cristo é amado por todos e cada pessoa
tem o direito de ser autêntica em sua justiça e santidade. É a comunidade da nova
humanidade, ou seja, das pessoas refeitas por Deus conforme a imagem de Cristo, cujos
membros abandonaram os vícios e maus hábitos do “velho homem”, do ser
desumanizado pelo pecado.
CAPÍTULO DOIS
ASPECTOS TEOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
NOVOS TEMPOS DEMANDAM novas metáforas, capazes de provocar impacto e reflexão
em tempos nos quais pouco ou nada se reflete, a não ser para a produção de resultados
imediatos e espetaculares. Novas metáforas, porém, não podem ocultar sua história:
precisam nascer do solo em que vicejaram as antigas. Assim é que os rizomas do
passado renovam seu vigor e deitam raízes, estendendo seus ramos em busca da energia
do novo terreno em que estão a viver.
EDUCAR PARA A CIDADANIA
Uma das novas raízes que brotaram dos velhos rizomas é a da cidadania. Vivemos em
um tempo em que os direitos são assumidos e defendidos intensamente, não só os
individuais, mas também os de grupos de minorias – mulheres, negros, povos indígenas,
homossexuais – que saíram a público e conquistaram espaço, visibilidade,
respeitabilidade, mesmo através de conflitos por vezes ásperos e preconceituosos. No
entanto, em meio a tantas lutas por direitos específicos, é preciso viver de forma cidadã,
pois há o risco da fragmentação do espaço público em reivindicações particulares
enquanto as grandes estruturas dominantes do mercado permanecem controlando a vida
em geral.
Em tempos de consumismo e êxtase religioso, a cidadania é o grande desafio para as
igrejas cristãs. Como viver a fé não só prazerosamente, mas também de forma
comprometida? Que compromissos assumir hoje? Que prioridades devem pautar a
agenda das comunidades e das denominações? Uma dessas prioridades é viver a
cidadania intensa e criativamente. Por isso, precisamos nos perguntar: que significa, na
prática, viver de forma cidadã? Para nos guiar na busca de respostas para essa pergunta,
ouçamos a voz de um teólogo cristão que aprendeu a teologar globalmente:
Como toda outra forma de vida, vida humana é vida compartilhada, vida comunicada e
comunicante, comunhão em comunicação. Hoje em dia, as comunidades necessárias que
moldam a vida humana são ameaçadas de dois diferentes lados: de um lado pelo crescente
individualismo dos homens e mulheres modernos, e, de outro, pela mercadorização global de
tudo, inclusive dos relacionamentos.1

1
Viver a cidadania é viver de forma responsável a liberdade, pois cidadão é quem
participa ativa e decisivamente da polis, do seu mundo. Cabe, portanto, repensar a
concepção de liberdade que anima a cidadania. Liberdade não pode ser apenas a
liberdade individual de fazer o que se deseja, nem a liberdade política da comunidade
civil na democracia e no mercado. Ainda conforme Moltmann, “liberdade é a paixão
criativa pelo possível. Liberdade não é apenas voltada para as coisas como elas são,
como na dominação. Nem é direcionada apenas à comunidade de pessoas como elas
são, como na solidariedade. Ela se direciona para o futuro, pois o futuro é o campo
desconhecido das possibilidades, enquanto o presente e o passado representam esferas
familiares de realidades. [...] Assim, como Martin Luther King, temos visões e sonhos
de outra vida, uma vida curada, justa e boa. Exploramos as possibilidades do futuro a
fim de realizar esses sonhos, visões e projetos. Todas as inovações culturais e sociais
pertencem a essa esfera de liberdade para o futuro. [...] Até agora temos entendido a
liberdade ou como um domínio – a relação de um sujeito com objetos – ou como
comunidade, na relação de sujeito a sujeito. Mas em relação a projetos, liberdade é um
movimento criativo. Qualquer pessoa que em pensamento, palavra e ação transcenda o
presente na direção do futuro é verdadeiramente livre. O futuro é o livre espaço da
liberdade criativa. [...] Liberdade, como um transcender em direção às possibilidades do
futuro, é uma função criativa. [...] É um acontecer. Somente temos nossa liberdade
criativa no processo de libertação. Nunca somos livres de uma vez por todas, mas
continuamente nos tornamos livres. E somente o povo que faz uso da liberdade
permanece livre. [...] Na história, e se nós seguimos as memórias da Bíblia,
encontramos liberdade no contínuo êxodo da escravidão e letargia e na longa marcha
através do deserto; mas não ainda na terra prometida, que é o „fim da história‟.
Liberdade é como o maná no deserto. Não pode ser armazenada. Somente podemos
confiar que o amanhã estará lá novamente. Assim, temos de usar nossa liberdade a cada
dia.”2
Portanto, educar para a cidadania é algo que idealmente nos ajuda a construir um
estilo de vida livre em relação às exigências do mercado que a tudo quer conquistar e
dominar.
FUNÇÃO DA IDENTIDADE
A cidadania cristã é a cidadania de pessoas graciosamente convidadas a se tornarem
semelhantes a Jesus Cristo, o primogênito dentre muitos irmãos. Nesses dias em que as
igrejas lutam para “manter” sua identidade, somos convidados, em vez disso, a
construir nossa identidade a partir da identidade messiânica de Jesus. A pessoa de Jesus
é, ao mesmo tempo, o modelo da pessoa livre e o projeto de vida para a humanidade
cidadã. Sejamos orientados, novamente, pelo teólogo sistemático que nos ajudou a
pensar a liberdade cidadã:
a) Se Jesus é confessado como o Cristo de Deus, então ele é reconhecido em sua pessoa
escatológica. Nele estão presentes o próprio Messias de Israel, o Filho do homem dos
povos e a vindoura sabedoria da criação. Ele é o reino de Deus em pessoa e o início da
nova criação de todas as coisas. Desse modo, ele é o portador da esperança do mundo
inteiro. Nele os crentes reconhecem o homem messiânico.
b) Se Jesus é confessado como o Cristo de Deus, então ele é reconhecido em sua
pessoa teológica. Ele é o Filho daquele Deus que ele chamou de abba, Pai querido.

2
MOLTMANN, Jürgen. God for a Secular Society: The Public Relevance of Theology, p. 159 e
segs.
Como Filho de Deus, ele vive totalmente em Deus, e Deus totalmente nele. Essa
singular relação com Deus, ele patenteia a todos que, na fé e como filhos de Deus,
clamam como ele: abba. Eles participam da alegria de Jesus. Nele os crentes
reconhecem o homem filial.
c) Se Jesus é confessado como o Cristo de Deus, ele também é reconhecido em sua
pessoa social. Ele é o irmão dos pobres, o companheiro do povo, o amigo dos
abandonados, o cossofredor com os doentes. Cura por meio de sua solidariedade e
comunica sua liberdade e poder curados por meio de sua comunhão. Nele, as pessoas
envolvidas reconhecem o homem fraternal.”3
Assim como Jesus construiu sua identidade a partir de três eixos – fidelidade ao Pai,
solidariedade com as pessoas impuras, rejeição da religião oficial (v. Mc 1.1-3,6) –,
também nós somos convidados a construir identidades multiplamente criativas e fiéis ao
Filho. Construir a identidade cristã no processo educacional da igreja demanda edificar
pessoas que sejam: (a) fiéis a Deus em seu projeto para a criação; (b) solidárias com as
vítimas do progresso e do desenvolvimento econômico e tecnológico de nossos dias; (c)
capazes de exercer discernimento crítico em relação à sua própria comunidade e
denominação, não se deixando submeter ao ensimesmamento institucional a que estão
entregues.
EDUCAR PARA A VITALIDADE
A vida continua sendo uma metáfora forte em nossos dias. Mas, diferentemente da
década de 1980, pensar de forma poética a vida hoje, traz novos desafios, levando-nos a
focar mais o processo que o resultado visado. Mais que de vida, portanto, hoje em dia
há que se falar de vitalidade. Para isso, novamente Moltmann nos auxilia:
Interpretaremos vitalidade como amor pela vida. Este amor pela vida vincula os seres humanos
com todos os demais seres vivos, que não estão apenas vivos, mas querem viver. Desafia,
também, os seres humanos em sua estranha liberdade para a vida; pois a vida, que pode ser
deliberadamente negada, tem de ser afirmada antes de poder ser vivida. O amor pela vida diz
sim à vida a despeito de suas doenças, deformidades e enfermidades, e abre a porta para uma
vida contra a morte [...]. Hoje em dia, o vigor vivo que emerge de um amor pela vida deve ser
defendido contra as petrificações da vida nas rotinas da sociedade tecnológica. Precisa também
ser protegido contra o patogênico culto da saúde em nossas modernas meritocracias.4

A vida cristã deve ser afirmada contra a morte. Na teologia paulina, os inimigos da
vida são o pecado, a morte e a carne. A carne é: (a) a esfera do mundo criado, (b) a
esfera do tempo transitório deste mundo e (c) o tempo mundial de pecado, injustiça e
morte5. Ainda nas palavras de Moltmann, “o pecado que erra o alvo da vida não é
centrado na sensualidade, nos impulsos, ou nos chamados instintos inferiores. Seu
centro é a pessoa como um todo, e especialmente o coração ou a alma dessa pessoa, o
centro de sua consciência ou de sua vontade se ela é possuída pelo instinto de morte”6.

3
MOLTMANN, Jürgen. O caminho de Jesus Cristo: cristologia em dimensões messiânicas.
Petrópolis: Vozes, 1993, p. 205 e segs.
4
MOLTMANN, J. The Spirit of Life: A Universal Affirmation. Minneapolis: Fortress Press, 1992, p.
86.
5
Cf. MOLTMANN, J. The Spirit of Life: A Universal Affirmation, p. 87-89.
6
MOLTMANN, J. The Spirit of Life: A Universal Affirmation, p. 88.
Tendo em vista que o conflito entre Espírito e carne é um conflito cósmico, e não
individual, “devemos ser redimidos com o mundo, e não do mundo. A experiência cristã
do Espírito não nos desvincula do mundo. Quanto maior for nossa esperança pelo
mundo, maior a nossa solidariedade com seus clamores e sofrimentos”7.
Vitalidade é muito mais que saúde e culto ao corpo. Educar para a vitalidade
equivale a um convite à renovação dos modos de viver, um chamado a construir
identidades cidadãs, a edificar comunidades criativas e solidariamente includentes.
Assim, segundo Moltmann, “a constante disciplina e a repressão do corpo que a
moderna sociedade industrial requer de seus membros, e a constante sujeição e
exploração da terra que a sociedade persegue, torna os seres humanos entorpecidos e a
terra infértil. [...] O sim pleno e sem reservas para a vida, e o amor pleno e sem reservas
por todos os seres vivos são as primeiras experiências do Espírito de Deus, que não é
chamado de „fonte da vida‟ à toa. [...] A espiritualidade da vida quebra as barreiras
desse entorpecimento interior, a armadura de nossa indiferença, as fronteiras de nossa
insensibilidade à dor. Reabre a „fonte da vida‟ em nós e entre nós, de modo que
possamos chorar novamente, sorrir novamente e amar novamente”8.
EDUCAR PARA A ECOLOGICIDADE
O paradigma moderno de pensamento científico cindiu ser humano e natureza como
sujeito e objeto, despersonalizando esta e desumanizando aquele – cisão desafiada pelo
movimento ecológico mundial. No entanto, o avanço global do mercado não suporta
barreiras ao seu avanço, em especial, barreiras supostamente irracionais, como as que
defendem a preservação de espécies e o ar puro... Em nosso tempo, a fé no Deus criador
requer uma nova compreensão da natureza, enquanto nova criação escatológica de Deus
em Cristo e no Espírito Santo. Tal compreensão implica em quatro tarefas teológicas:9
entender a natureza como criação de Deus, nem divina nem demoníaca em si, mas um
mundo contingente; contrapor à divisão científica moderna entre sujeito e objeto a fé
que vê na criação uma comunidade; reconhecer que a subjetividade humana de razão e
de vontade, contraposta à natureza, também é criação, portanto contingente, e não
absoluta; compreender como criação tanto a natureza “visível” quanto aquilo que é
invisível.
Para Moltmann, abolir a divisão entre ser humano e natureza significa reduzir a
pretensão de posse e dominação, substituindo sobretudo o ter pelo ser: “No moderno
mundo da pessoa, foi expandido, através da ciência e da técnica, cada vez mais, o „ter-
natureza‟. A medicina moderna alcançou seus sucessos neste campo, que podemos
caracterizar como „ter-corpo‟ da pessoa. Não obstante, a pessoa é natureza, e o corpo
que ela objetivou como sua propriedade é simultaneamente ela própria em sua
existência corpórea. Localizar novamente o mundo da pessoa na história da natureza e
descobrir de novo a natureza no ser-corpo não é nenhuma fuga da responsabilidade que
cabe ao ser humano moderno através do poder por ele conquistado. Ao contrário,
significa descobrir dimensões da vida que foram reprimidas e marginalizadas e superar,
a partir delas, as desumanidades e as desnaturalidades do mundo moderno. O ser-
natureza da pessoa é a realidade original. O dominar-natureza e o possuir-natureza são

7
MOLTMANN, J. The Spirit of Life: A Universal Affirmation, p. 89.
8
MOLTMANN, J. The Spirit of Life: A Universal Affirmation, p. 94-97.
9
Cf. MOLTMANN, Jürgen. Deus na criação: doutrina ecológica da criação. Petrópolis: Vozes,
1993.
fatos secundários. Estes permanecem dependentes da realidade original, porque eles
constroem em cima dela e dela vivem.”10
Educar para a ecologia demanda das comunidades cristãs que se abram à
integralidade do agir recriador de Deus, que ultrapassem as fronteiras do
antropocentrismo moderno e derrubem as fortalezas da morte que se escondem sob o
manto do desenvolvimento e da livre-iniciativa.
Que tal você desenvolver essas ideias, formulando projetos bem concretos de como
vivenciar as novas metáforas da educação cristã – metáforas, de fato, do que significa
ser cristão no mundo de hoje!
CAPÍTULO TRÊS
ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
EM BUSCA DE UMA PEDAGOGIA DA EDUCAÇÃO
O EDUCADOR CRISTÃO PRECISA DE UMA BOA pedagogia como instrumental teórico de
seu ministério. A análise das atividades educacionais na igreja, em geral, demonstra que
utilizamos uma pedagogia antiquada, incapaz de atingir os objetivos da educação cristã,
basicamente uma cópia do tradicional modelo pedagógico escolar brasileiro que
privilegia o intelecto e o teórico em detrimento do existencial e do concreto. É, ainda,
uma pedagogia individualista e alienante, pois não capacita o aluno a viver
comunitariamente nem a entender plenamente sua realidade para poder transformá-la.
Nessa pedagogia, ensino e aprendizado são instâncias em separado – como se só o
professor ensinasse e só o aluno aprendesse. A fim de superarmos essa tendência, é
necessária uma nova concepção pedagógica. Neste capítulo, apresento a proposta de
Paulo Freire para estimular nossa reflexão e renovar nossa prática educacional.
A escolha dessa proposta se baseou em três critérios: sua qualidade pedagógica,
reconhecida por educadores “seculares”; sua abertura para o diálogo com a religião e a
teologia, uma vez que valores e conceitos teológicos desempenham papel fundamental
na educação cristã; e sua aplicação prática em programas de educação cristã criativos e
inovadores na década de 1990.
UMA PEDAGOGIA INTEGRAL E TRANSFORMADORA
Talvez seja desnecessário falar de Paulo Freire, um dos maiores educadores do século
XX, reconhecido em todo o mundo. Contudo, nunca será demais lembrar que ele uniu
teoria e prática de forma exemplar em sua carreira como pesquisador, professor e
dirigente educacional; que ele jamais separou sua atividade pedagógica de sua fé cristã e
de seu compromisso com o reino de Deus, transformador tanto da vida individual
quanto da social; e que sua teoria e sua prática inspiraram um bom número de cristãos
em suas atividades pedagógicas.
Como convite à reflexão, apresento a proposta de Freire de uma forma muito
peculiar: um conjunto de citações extraídas do livro Pedagogia da esperança. Essas
citações apontam para algumas das dimensões da atividade pedagógica, estimulando-
nos a pensar sobre o que fazemos, nossos motivos, nossas metas e os modos de alcançá-
los. Acompanhando as citações, incluo perguntas para interpretar e aplicar o texto à vida
eclesial e ministerial.
DIMENSÃO ANTROPOLÓGICA DA AÇÃO PEDAGÓGICA
10
MONTMANN, Jürgen. Deus na criação: doutrina ecológica da criação. Petrópolis: Vozes, 1993,
p. 83.
A ação pedagógica possui uma dimensão antropológica (referente ao ser humano, sua
existência, seus sonhos, seu cotidiano, suas lutas). Vivemos em uma época marcada
pela falta de esperança. O que esperar, se a sociedade não vai mudar mesmo? Por que
esperar, se podemos comprar tudo o que desejamos? A quem esperar, se a cada dia são
produzidos novos heróis e heroínas pela TV? Como esperar, se temos de nos ocupar
com o trabalho, as compras, o lazer...? Entretanto, sem esperança, o ser humano
diminui, torna-se menos que humano, animaliza-se.
A esperança é necessidade ontológica1 [...]. Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo
e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança, no
pessimismo, no fatalismo. Mas prescindir da esperança na luta para melhorar o mundo, como se
a luta se pudesse reduzir a atos calculados apenas, à pura cientificidade, é frívola
ilusão.Prescindir da esperança que se funda também na verdade como na qualidade ética da luta
é negar a ela um dos seus aspectos fundamentais. [...] Enquanto necessidade ontológica a
esperança precisa da prática para tornar-se concretude histórica.2

A esperança é um dos temas fundamentais da teologia cristã. Cremos no Deus da


esperança que nos faz viver em esperança: “E o Deus da esperança vos encha de todo o
gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo”
(Rm 15.13). A esperança é uma necessidade, mas também é um dom, uma dádiva de
Deus para seus filhos. Como cristãos, vivemos em esperança. No entanto, há cristãos
que vivem uma esperança alienada, ingênua. Acham que basta esperar “sentado” a volta
de Cristo e tudo se resolverá por si. Outros, porém, são ativistas em excesso e perderam
de vista a esperança, crendo que só o presente interessa para o cristão. Releia o texto de
Paulo Freire e, à luz das novas metáforas para a educação cristã, reflita sobre as
seguintes questões:
1. Como é a esperança ingênua e quais suas consequências?
2. Como se relacionam esperança e prática para a construção da identidade? Qual é o
papel da ação pedagógica na prática da vitalidade?
3. A comunidade cristã tem como uma de suas tarefas levar esperança a um mundo sem
esperança. Como seu ministério e a escola dominical podem ajudar a sua igreja local a
ser mais ativa e comprometida no serviço à humanidade e à natureza?
DIMENSÃO CRÍTICA DA AÇÃO PEDAGÓGICA
A prática pedagógica mais comum em voga nas escolas é a da repetição de conteúdos
previamente determinados. Temos um conteúdo para ensinar e nos limitamos a ele.
Jesus não fazia assim, pois não era mero seguidor das tradições dos anciãos. Jesus era
um mestre criativo e inovador. Era, também, um mestre profético, pois apontava os
erros do seu povo e da religião oficial, indicando novos caminhos e possibilidades.
Jesus era um mestre crítico e criativo. Veja como Freire aponta para essa dimensão da
ação pedagógica e depois medite sobre as questões mais adiante:
Na linha progressista, ensinar implica, pois, que os educandos, em certo sentido, „penetrando‟ o
discurso do professor, se apropriem da significação profunda do conteúdo sendo ensinado. O ato
de ensinar, vivido pelo professor ou professora, vai desdobrando-se, da parte dos educandos, no
ato de estes conhecerem o ensinado. Por sua vez, o(a) professor(a) só ensina em termos
verdadeiros na medida em que conhece o conteúdo que ensina, quer dizer, na medida em que se

1
Ontológico é aquilo que se refere ao próprio ser humano, à essência da pessoa humana.
2
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1994, p. 10-11.
apropria dele, em que o aprende. Neste caso, ao ensinar, o professor ou a professora re-conhece
o objeto já conhecido. [...] Ensinar é assim a forma que toma o ato de conhecimento que o(a)
professor(a) necessariamente faz na busca de saber o que ensina para provocar nos alunos seu
ato de conhecimento também. Por isso, ensinar é um ato criador, um ato crítico e não mecânico.
A curiosidade do(a) professor(a) e dos alunos, em ação, se encontra na base do ensinar-
aprender.3

1. O professor só ensina se aprender, ou seja, se, curiosamente, reflete e medita sobre o


conteúdo do que vai ensinar, experimentando-o na vida concreta. Nesse sentido, como a
revista da escola dominical deve ser utilizada? Será que é suficiente repassar a lição
antes da aula? Não seria preciso gastar tempo com as lições, ocupar-se delas no dia a
dia, começar a preparar a aula já na segunda-feira?
2. Conhecendo o conteúdo do que ensinará, o professor motiva e ajuda os alunos a
conhecerem criticamente esse mesmo conteúdo. Quais são as diferenças entre um
conhecer crítico e um conhecer tradicionalista? Como a sua ação pedagógica pode
ajudar sua classe a desenvolver um conhecimento crítico da realidade e da teologia?
3. Ensinar é um ato criador. Teologicamente, ensinar é participar da atividade criadora
de Deus. Através do ensino na igreja, Deus dá vida a novas criaturas, muda as pessoas,
edifica a igreja, vocaciona homens e mulheres para a missão. Você ensina com
criatividade ou segue uma rotina tradicional, já estabelecida? Quais são as
características do trabalho pedagógico quando marcado pela criatividade?
DIMENSÃO DIALOGAL DA AÇÃO PEDAGÓGICA
A prática pedagógica mais comum que encontramos nas escolas é a do monólogo: o
professor fala, os alunos ouvem e aprendem. Professores sabem, por isso ensinam.
Estudantes não sabem, por isso aprendem. Nada mais longe da verdade e da prática de
Jesus! Ensinar e aprender são atos tanto de mestres quanto de estudantes. Mestres
ensinam e aprendem. Estudantes aprendem e ensinam. Isso acontece no diálogo
pedagógico, na troca de saberes entre professores e alunos. Analise a posição de Paulo
Freire sobre esse tópico e reflita sobre as perguntas a seguir.
Minha experiência vinha me ensinando que o educando precisa se assumir como tal, mas
assumir-se como educando significa reconhecer-se como sujeito que é capaz de conhecer e que
quer conhecer em relação com outro sujeito igualmente capaz de conhecer: o educador [...]. No
fundo, o que eu quero dizer é que o educando se torna realmente educando quando e na medida
em que conhece, ou vai conhecendo os conteúdos, os objetos cognoscíveis, e não na medida em
que o educador vai depositando nele a descrição dos objetos, ou dos conteúdos [...]. Mais do que
ser educando por causa de uma razão qualquer, o educando precisa tornar-se educando
assumindo-se como sujeito cognoscente [que conhece] e não como incidência [objeto] do
discurso do educador.4

1. Aos colossenses, Paulo escreveu: “Instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente, em toda


a sabedoria” (Cl 3.16). O que esse texto bíblico, junto com o texto de Freire, sugere
sobre o papel de alunos e professores na sala de aula? Que exigências o caráter dialogal
da ação pedagógica estabelece para você, professor?
2. Ser educando não é algo automático. Muitos dos nossos alunos não são educandos,
mas apenas frequentadores da escola dominical. O que faz do aluno da escola dominical

3
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança, p. 81.
4
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança, p. 47 e segs.
um educando? Como o seu trabalho pedagógico pode ajudar a transformar
frequentadores em educandos e educandas?
3. A ação pedagógica é um diálogo que se torna possível pelos conteúdos estudados,
mediado pela realidade em que vivem os dialogantes, ou seja, mestres e estudantes.
Assim, como incentivar os alunos a usarem melhor e mais criticamente a revista? Como
você e sua classe podem tornar a revista um apoio para o diálogo dentro da sua
realidade, e não apenas um conjunto de conteúdos com os quais concordar ou discordar?
DIMENSÃO PROCESSUAL DA AÇÃO PEDAGÓGICA
A educação não se limita à sala de aula, ao estudo de conteúdos e à avaliação intelectual
da matéria. A educação cristã parte da vida cotidiana e leva à prática no dia a dia. Como
disse Jesus: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7.21). À luz do ensino de
Jesus, reflita sobre estas palavras de Paulo Freire:
O educador ou a educadora crítica, exigente, coerente, no exercício de sua reflexão sobre a
prática educativa ou no exercício da própria prática, sempre a entende em sua totalidade. Não
centra a prática educativa, por exemplo, nem no educando, nem no educador, nem no conteúdo,
nem nos métodos, mas a compreende nas relações de seus vários componentes, no uso coerente
por parte do educador ou da educadora, dos materiais, dos métodos, das técnicas.5

Talvez nunca tenhamos tido em nossa história necessidade tão grande de ensinar, de estudar, de
aprender mais do que hoje. De aprender a ler, a escrever, a contar. De estudar história,
geografia. De compreender a situação ou as situações do país. O intelectualismo combatido é
precisamente esse palavreado oco, vazio, sonoro, sem relação com a realidade circundante, em
que nascemos, crescemos e de que ainda hoje, em grande parte, nos nutrimos. Temos de nos
resguardar deste tipo de intelectualismo como também de uma posição chamada
antitradicionalista que reduz o trabalho escolar a meras experiências disso ou daquilo e a que
falta o exercício duro, pesado, do estudo sério, honesto, de que resulta uma disciplina
intelectual.6

A própria diretividade da prática educativa que implica ir ela sempre além de si mesma, de
perseguir objetivos e metas, sonhos, projetos, coloca ao educador esse direito e esse dever [de
ensinar o que lhe parece fundamental ao tempo e ao espaço em que se acha].7

1. A prática educativa é uma totalidade composta de relações entre os seus vários


componentes. É um processo que se estende muito além da sala de aula. Como você
pode fazer da escola dominical um instrumento de aprendizado para a vida?
2. Nas igrejas também se pode perceber a rejeição ao estudo sério e disciplinado. Está
mais na moda a experiência emocional que o saber crítico. O que você pode fazer para
ajudar seus alunos a revalorizar o saber bíblico e teológico?
3. A ação pedagógica vai além de si mesma. Como traduzir as metáforas da educação
cristã em projetos concretos de vida e ação? Como o seu trabalho pode contribuir para
chegar a esses alvos? Como planejar e executar a ação pedagógica para que o seu
encontro educacional seja o ponto de partida da educação, e não o ponto de chegada?

5
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança, p. 110.
6
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança, p. 114 e segs.
7
FREIRE,, Paulo. Pedagogia da esperança, p. 131.
Como um exercício final nessa reflexão sobre a pedagogia – mas jamais conclusivo –
vejamos as seguintes afirmações de Danilo Streck, educador luterano e professor de
pós-graduação na Unisinos, escritas nos “velhos tempos” da educação cristã à luz das
novas metáforas aqui propostas. Para o prof. Streck, a educação cristã deve ter como
eixo a práxis: educar é formar a pessoa para agir de acordo com a vontade de Deus.
Dialogue com suas afirmações:
1. “O critério da práxis faz com que a relação pedagógica seja orientada no diálogo
entre educadores e educandos, numa relação horizontal, uma vez que ambos são sujeitos
do processo educacional”;
2. “O critério da práxis não permite que se viva na e da certeza de dogmas, mas requer
que se mantenha uma presença curiosa diante da realidade que se deseja transformar”;
3. “O critério da práxis faz com que a educação deixe de ocorrer em espaços
ideologicamente ascéticos (como se isso fosse possível), e conviva com as alegrias e
frustrações da criação do mundo novo.”8
CAPÍTULO QUATRO
ASPECTOS DIDÁTICOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
NO CAPÍTULO ANTERIOR, ANALISAMOS a proposta pedagógica de Paulo Freire em
diálogo com a fé cristã. Como pô-la em prática? Apresento, neste capítulo, uma breve
discussão sobre como organizar e realizar os encontros educacionais cristãos (na
linguagem tradicional, “aulas”). Repare, novamente, como proponho um diálogo com a
didática dos tempos em que a educação cristã era vista de forma mais vibrante e
entusiástica. Não custa lembrar que precisamos participar desse diálogo com o novo
contexto social, eclesial e teológico em mente.
UMA DIDÁTICA DA PRÁXIS COMPARTILHADA
Colossenses 1.9-11 fala de uma vida digna do Senhor como alvo da vida cristã. Nos
evangelhos, essa mesma ideia recebe o nome de “seguir a Jesus” ou o que chamamos de
discipulado. A didática da educação cristã é, portanto, uma didática da práxis, ou seja,
da prática bem refletida ou da teoria bem praticada; e da práxis compartilhada, ou seja,
da práxis vivida em comunidade e a serviço do reino de Deus. Assim, todo encontro
educacional cristão deverá contribuir para que aperfeiçoemos tanto nossa teoria
(teologia) da fé, quanto a nossa prática de vida – tanto em nível individual quanto
comunitário – a fim de que a igreja cresça como agente do reino de Deus no mundo.
Nesse sentido, a palavra de Deus e o ensino-aprendizado “dialógico” são
fundamentais. Thomas H. Groome destaca cinco momentos, ou passos, do encontro
educacional cristão, que não podem faltar em um ministério eficaz. Vamos analisá-los e
discutir como colocá-los em prática no nosso trabalho local. Posteriormente, você
poderá reler esses cinco pontos de Groome à luz de Colossenses 3.16,17.
1. Ação presente. O primeiro momento em um encontro educacional é “um convite
aos participantes para que deem nome à sua ação presente, em resposta ao foco

8
STRECK, Danilo. Um diálogo entre a teologia e a pedagogia numa perspectiva latino-americana.
Curitiba: Celadec, 1996, p. 40-41.
específico da unidade”1. Em outras palavras, é o momento no qual compartilhamos
nossos sentimentos, pensamentos e problemas concretos – individual e socialmente.
Afirmamos anteriormente que o ensino é um ministério pessoal e que deveria levar
em consideração a realidade dos alunos. Por isso, é indispensável que toda aula permita
um momento em que os alunos compartilhem um pouco de suas vidas. Isso não precisa
ocorrer sempre no começo da aula, nem é necessário que todos os alunos falem em
todas as aulas. Significa, sim, que você precisa ser sensível às necessidades pessoais de
seus alunos, conduzindo a aula – seja qual for o tema em discussão – na direção do
suprimento dessas necessidades.
2. Reflexão crítica. É o questionamento sobre nossa “ação presente”, quando
“evocamos (a) a razão crítica para avaliar o presente, (b) a memória crítica para
descobrir o passado no presente, e (c) a imaginação criativa, para visualizar o futuro no
presente”2. Em Colossenses 1.9-11, essa atividade é chamada de discernimento, e não é
só fruto de nossa razão, memória e imaginação, mas também da ação do Espírito em nós
e através de nós.
Em toda aula deve ocorrer, também, uma avaliação do que nós já sabemos, pensamos
e fazemos. Se queremos uma educação “transformadora”, precisamos nos armar de
coragem para rever nossos erros e acertos, reajustando a direção. Nesse sentido, as
lições de nossas revistas oferecem bastante material, pois apresentam diferentes visões
da realidade atual e da teologia reformada. Isso possibilita o confronto de opiniões, o
que ajuda a exercer a autocrítica.
3. Diálogo. É, propriamente dito, o estudo do tema bíblico, teológico ou missiológico
da lição (encontro educacional). Nesse momento, o conteúdo da lição vem iluminar a
ação presente e a reflexão crítica. “O diálogo é um encontro de sujeito a sujeito (eu--
você), no qual duas ou mais pessoas compartilham e ouvem”3. É quando não só
estudamos um tema, mas aperfeiçoamos nossa vivência comunitária e fazemos teologia.
Convém acrescentar que, na prática, o nome dado a esse momento, “diálogo”, não
significa que só o método da discussão seja apropriado.
4. Caso. É quando relacionamos o tema estudado com a nossa vida pessoal e
comunitária. É a aplicação do que estamos estudando à luz de todo o conjunto de nossa
fé e da tradição, de modo a percebermos a ação de Deus na realidade. É a hora em que
avaliamos nossas convicções e práticas, a fim de que – se necessário – haja
transformações ou aperfeiçoamentos.
Esse momento é muito semelhante ao da reflexão crítica. A diferença é que sempre
ocorre depois do estudo da lição do dia. Popularmente, podemos chamá-lo de
“fechamento” da discussão didática: a hora em que juntamos as pontas soltas e
atribuímos um contorno bem definido ao conteúdo apresentado e debatido.
5. Visão. Encerra-se um encontro educacional cristão com propostas de ação concreta.
O conteúdo estudado deve ser transformado em ação missionária no mundo. “É uma
oportunidade para que o indivíduo e o grupo escolham uma resposta de fé, uma práxis

1
GROOME, T. H. Educação religiosa cristã. Compartilhando nosso caso e visão. São Paulo:
Paulinas, 1985, p. 309.
2
GROOME, T. H. Educação religiosa cristã. Compartilhando nosso caso e visão, p. 257.
3
GROOME, T. H. Educação religiosa cristã. Compartilhando nosso caso e visão, p. 280.
cristã, à luz de tudo o que foi colocado antes”4. Finalmente, cada aula deve ser
concluída com sugestões concretas: o que foi estudado no domingo de manhã deve ser
aplicado ao longo da semana. Isso pode ajudar, também, no início da aula seguinte –
quando a classe poderá conversar sobre a aplicação da lição anterior na vida cotidiana.
Esses cinco momentos não devem ser entendidos rigidamente de forma cronológica,
mas como partes de um todo indivisível – o encontro educacional. Provavelmente você
já realiza esses passos, mesmo sem atribuir a eles os mesmos nomes. É fundamental,
porém, que você se discipline para sempre colocá-los em prática.
Algo que os professores costumam perguntar – quase sempre a si mesmos – é o que
fazer na próxima aula. Se é importante variarmos os métodos de ensino, é mais
importante ainda mantermos uma estrutura fixa de atuação pedagógica. Use sua
experiência e criatividade para misturar, sempre de forma atraente, os cinco ingredientes
do pudim educacional, de modo que seus alunos apreciem o “prato” e, realmente,
cresçam em Cristo Jesus. Muitos dizem que o cristianismo matou o prazer de viver. Não
precisa ser assim: a educação cristã pode (e deve) ser uma experiência agradável – para
Deus e para nós mesmos!
Groome propõe uma forma para o encontro educacional em que os cinco passos não
podem ser confundidos com métodos nem com técnicas de ensino. Na estrutura
proposta por Groome, é necessário utilizar métodos e técnicas adequados e relevantes.
Para essas ferramentas, voltaremos nossa atenção a seguir.
MÉTODOS DE ENSINO
A didática5 é a reflexão sobre a atividade de ensinar. Embora lide também com questões
relativas ao aprendizado (ação do aluno), seu foco principal é a ação do professor. Uma
das áreas abordadas pela didática engloba as questões de método, metodologia, técnicas
e procedimentos de ensino. Segundo Preiswerk, o método e a metodologia devem ser
entendidos da seguinte maneira: espaço das inter-relações dentro dos diferentes
componentes da educação, e entre eles: estrutura social, atores, finalidades, conteúdos.
O método é um conjunto de relações e de interações que define, em última instância, o
caráter e a natureza de uma determinada educação. [...] Por metodologia, seguindo o uso
mais comum, entendemos o conjunto das técnicas utilizadas durante o processo
educacional.”6
Pelas definições acima, percebemos que o método se relaciona com o modo pelo qual
conduzimos todo o nosso trabalho educacional. Podemos considerar o método, por
exemplo, a partir das atividades que o aluno realiza para o aprendizado. Nesse sentido,
podemos citar quatro tipos diferentes e complementares de método que podem ser
usados nas aulas e demais encontros educacionais cristãos:

4
GROOME, T. H. Educação religiosa cristã. Compartilhando nosso caso e visão, p. 327.
5
Esta lição se baseia no curso de educação cristã ministrado pelo dr. Matthias Preiswerk
(pastor metodista suíço, hoje, morando na Bolívia) e publicado pelo Seminário Bíblico Latino-
americano (Costa Rica) e Comissão Evangélica Latino-americana de Educação Cristã, com o
título Educación cristiana – não consta a data da publicação.
6
PREISWERK, Matthias Educación cristiana, p. 54.
1. “Um método dedutivo parte de uma lei ou de um conjunto de conhecimentos
estabelecidos pela cultura ou pela ciência e os aplica a casos determinados. Começa
com o geral ou universal e chega ao particular.”7
Talvez esse seja o método mais comum usado nas escolas dominicais. O ponto de
partida é a compreensão de um princípio bíblico, um conceito teológico ou uma
doutrina. Depois de apreender o conteúdo, passa-se a discutir sua aplicação.
2. “Um método indutivo procede exatamente ao contrário: parte de casos e situações
particulares; compara-os, tenta ordená-los e trata de encontrar uma lei que permita
relacioná-los. Vai do particular para o geral.”8
Esse método é pouco usado em classes de escola dominical. Em parte porque o uso
de materiais curriculares previamente preparados dificulta a sua utilização. Contudo, a
razão principal para seu pouco uso, segundo me parece, está no fato de que em nossa
tradição protestante temos dificuldade em construir o saber teológico a partir das
experiências cotidianas. Quase sempre ficamos na troca de experiências sem reflexão
crítica.
3. “Um método interativo (dialético) aproveita os conhecimentos já adquiridos e os
reinterpreta a partir de situações novas que se apresentam. Confronta constantemente o
particular com o geral.”9
Esse método aproveita os aspectos positivos dos dois anteriores. Seria interessante
usá-lo com alguma frequência em nossas aulas. Afinal de contas, a maior parte de
nossos alunos já conhece parcialmente os temas que estudamos. Assim, é importante
que os temas a serem estudados sejam analisados a partir de novas perspectivas e
situações.
4. “Um método divergente inventa e cria novos conhecimentos, colocando em relação
elementos que pertencem a diferentes campos do saber e cujo encontro pode provocar
uma novidade.”10
Esse é, talvez, o mais rico e mais difícil método a ser usado. Ele se utiliza de
conceitos, saberes, experiências e situações a partir de diferentes campos do saber –
sociologia, psicologia, teologia etc. – a fim de construir novos conceitos e
possibilidades de compreender e transformar a realidade. Pode ser usado na escola
dominical, sobretudo, porque nossos alunos têm formação escolar e experiências de
vida diferentes e podem contribuir para a produção de novos conhecimentos bíblico-
teológicos.
Para aplicar esses métodos, devemos selecionar as técnicas apropriadas a cada um
deles. É comum encontrarmos professores preocupados com as técnicas a serem usadas
a fim de que suas aulas sejam interessantes e motivadoras. Entretanto, as técnicas, por si
só, não são capazes de resultar em uma boa educação. Analise com atenção o seguinte
trecho extraído do livro do dr. Preiswerk e reflita sobre o seu próprio uso de técnicas de
ensino – tanto avaliando o que você já tem feito como propondo novas possibilidades
de atuação.

7
PREISWERK, Matthias Educación cristiana, p. 55.
8
PREISWERK, Matthias Educación cristiana, p. 55.
9
PREISWERK, Matthias Educación cristiana, p. 55.
10
PREISWERK, Matthias Educación cristiana, p. 55.
As técnicas em educação, como em qualquer outro campo da vida humana, têm um aspecto
instrumental. Todavia, não são neutras e o educador não pode usá-las sem se questionar a
respeito dos valores que elas transmitem.

Efetivamente, por trás das técnicas, atrás de determinados procedimentos didáticos,


estão presentes, em maior ou menor grau, valores e projetos que podem facilitar ou
entorpecer as finalidades propostas – mesmo que não haja uma relação direta entre as
finalidades e as técnicas.
Um material didático pode ter uma aparência muito atrativa, utilizar procedimentos
criativos e, ao mesmo tempo, estar a serviço de um projeto educacional muito
conservador e reprodutor dos valores dominantes. Do contrário, um material pode ter
objetivos transformadores da realidade e, mesmo assim, usar técnicas que contradizem
as finalidades. De forma mais concreta, uma técnica como a exposição, por exemplo,
pode servir tanto a um discurso fechado e impositivo, como à narração de uma parábola
que transforma a compreensão que o(a) educando(a) tem de si mesmo(a) ou de Deus.
A pesquisa pode ser uma busca criativa ou uma perda de tempo, quando o(a)
educando(a) não sabe o que e nem para que está pesquisando.
Um audiovisual pode ser o meio mais eficaz para transmitir uma verdade fechada e
alheia à realidade do educando(a) ou um estímulo criativo para despertar novas
dimensões e conhecimentos.11
TÉCNICAS DE ENSINO
Até aqui, estudamos especialmente aspectos mais teóricos da didática. Agora
enfocaremos algumas técnicas de ensino que podem ser aplicadas para que a nossa
pedagogia se concretize. Em vez do termo técnica, os manuais de didática preferem o
termo método – em sentido claramente diferente do adotado por Preiswerk. Aqui,
utilizaremos o termo técnica de acordo com a definição desse autor.
Ao tratar de técnicas, nós as consideramos caminhos para alcançarmos nossos
objetivos. Portanto, não há técnicas infalíveis, universais ou receitas prontas para a aula.
Por isso, precisamos preparar bem nossas atividades de ensino – não só os conteúdos a
serem discutidos, mas também as técnicas que usaremos. Precisamos caminhar em
busca da excelência didática, ou seja, da perfeição no ensino, para que haja aprendizado
e edificação na igreja.
Não abordaremos todas as técnicas possíveis. Há excelentes livros sobre o assunto
(veja, a seguir, algumas sugestões). Apenas destacaremos alguns procedimentos básicos
para o trabalho em sala de aula:
1. Preleção. Exposição do tema, pelo preletor, diante de um auditório. É um método
bom para quando a classe estiver motivada e o conteúdo for novo. Se, por um lado, a
exposição poupa tempo, por outro, dificulta a participação da classe, exigindo muita
habilidade do professor para manter o nível de atenção. Ao usá-la, procure sempre
preparar perguntas para a classe responder, ou alterne a preleção com pequenos
trabalhos em grupo ou outros métodos participativos.
2. Dinâmica de grupo. Há múltiplas formas de trabalho em grupo a serem adotadas em
sala de aula. Por exemplo: a discussão do tema por toda a classe em conjunto; a divisão
em grupos menores, para estudo, discussão ou reflexão; os grupos compartilhados etc.
Seja qual for a dinâmica usada, porém, precisa ser previamente preparada e selecionada,
senão pode se tornar meramente um bate-papo nada educacional. Os métodos de grupo
possuem a grande vantagem de ampliar a participação da classe e, no contexto da igreja,

11
PREISWERK, Matthias Educación cristiana, p. 56-57.
ajudam a aumentar a comunhão. Possuem, entretanto, também os seus limites. Se a
classe não estiver acostumada a trabalhar, o grupo pode ser “grupo”, ou seja, apenas
tempo perdido.
Caso você goste de usar métodos de grupo, mantenha-se bem informado sobre eles,
sempre buscando adquirir novas experiências e materiais sobre o assunto. Em minha
experiência pessoal, os métodos de grupo são úteis quando estão inseridos em uma
exposição, ou quando os alunos estão bem motivados para trabalhar por conta própria.
São importantes, ainda, no estudo de textos bíblicos – pois ajudam a vislumbrar os
diferentes ângulos de um texto, especialmente se for um texto difícil.
3. Dramatização. É a “representação teatralizada de situações reais da vida com o
propósito de dar e receber informações, alcançar melhor compreensão das situações e
favorecer maior integração do grupo”12. Entre outras vantagens, a dramatização nos
ajuda a “entrar” no mundo pessoal do tema a ser estudado e a nos envolvermos
concretamente com o tema. Exige, porém, disposição e preparo prévio do grupo – o que
também apresenta a vantagem de aumentar a comunhão e a integração da classe. É bem
apropriada para lidar com temas existenciais e pessoais, pois ajuda-nos a expressar
nossas emoções.
Aprecio bastante as dramatizações. Entretanto, é muito difícil usá-las com adultos,
pois costumamos nos sentir mais inibidos. A situação dos jovens é, em geral, diferente,
pois eles ainda não se deixaram dominar pela “sisudez” das responsabilidades da vida
adulta na sociedade capitalista. Para que a dramatização funcione, precisamos nos abrir
para Deus, para o próximo e, especialmente, para nós mesmos. Devemos, ainda, levar
em conta que uma dramatização “didática” não deveria tomar mais do que metade do
tempo da aula (para preparação e execução).
4. Recursos audiovisuais. Vivemos na era da imagem, e não da palavra. Sem o
acompanhamento visual, a palavra falada perde muito de sua eficácia. É fundamental,
portanto, que saibamos utilizar os diversos recursos audiovisuais disponíveis a fim de
melhorarmos nossa comunicação e nosso ensino. Esses recursos incluem o simples e
velho quadro-negro, cartazes, retroprojetor e os mais modernos datashows e outros
recursos informático-televisivos.
Sua utilização deverá variar de acordo com as possibilidades da igreja e em
conformidade com os objetivos educacionais estabelecidos. Não devemos usar os
audiovisuais apenas para deixar a aula mais interessante. Eles devem estar em sintonia
com os objetivos da aula e com os momentos da prática educacional cristã.
5. Leitura dirigida. “O método da leitura dirigida consiste em o professor orientar a
aprendizagem do aluno por meio da leitura de adequada seleção de textos.”13 O hábito
da leitura não é muito desenvolvido em nosso país, e esse é um dos grandes motivos do
baixo nível educacional de nossa população. Na igreja, a leitura é fundamental, pois
nossa fé se alimenta da palavra de Deus – texto que deve ser constantemente lido e
estudado. Os encontros educacionais podem ser um bom instrumento para o
aperfeiçoamento da arte da leitura, não só com o uso da Bíblia, mas também de revistas
didáticas e livros diversos.
A leitura transcende a simples identificação de palavras e frases, incluindo a
compreensão do texto escrito em sua totalidade: ideias, pressupostos, implicações

12
NÉRICI, I.G. Metodologia do ensino: uma introdução. São Paulo: Atlas, 1999, p. 277.
13
NÉRICI, I.G. Metodologia do ensino: uma introdução. São Paulo: Atlas, 1999, p. 104.
práticas, defeitos etc. A leitura crítica nos ajuda a superar os limites intelectuais, a falta
de consciência político-social e a ingenuidade teológica. Crescer na arte de ler é
importante para o desenvolvimento espiritual. O apóstolo Paulo jamais deixou o estudo
e a leitura, mesmo na prisão (2Tm 4.13), pois sabia da necessidade de continuar
crescendo na fé.
Encerrando esta breve discussão sobre métodos de ensino, precisamos lembrar que
educadores não são infalíveis. Também somos discípulos de Jesus Cristo, temos nossas
angústias e limites, nossos saberes e dúvidas. Existe uma ideia velada, mas difundida,
de que professores são infalíveis e sabem tudo. Não podemos passar essa imagem para
nossos alunos. A autenticidade e a transparência são fundamentais no trabalho
educacional, especialmente no ensino cristão. Sempre que você experimentar alguma
dúvida, angústia ou sensação de limite, saiba compartilhar esses sentimentos com sua
classe, para que você também seja edificado por seus alunos. Além disso, não há chance
de sermos bons professores se não formos bons aprendizes. Valorize a dúvida e a
curiosidade: são o ponto de partida para o conhecimento.
CAPÍTULO CINCO
ASPECTOS PROGRAMÁTICOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
SE A EDUCAÇÃO CRISTÃ NÃO SE RESTRINGE nem à escola dominical, nem às aulas
tradicionais; se a educação cristã é a formação do povo de Deus para a vida e a missão;
se a educação cristã é ferramenta do Espírito para a renovação da igreja, podemos nos
indagar em termos mais práticos e estruturais: que alternativas concretas se apresentam
para a nossa prática educacional global, enquanto igrejas cristãs, no início deste novo
século e milênio?
REINVENTANDO A DIMENSÃO EDUCACIONAL DO CULTO
Enquanto a ênfase na educação cristã regredia, crescia exponencialmente a valorização
do culto e da música na igreja local. Na década de 1990 e nesses primeiros anos do
século XXI, presenciamos grandes avanços na música e na liturgia das igrejas
evangélicas, também acompanhados de limites e graves problemas.
Refletindo de forma esquemática sobre os pontos positivos dessas mudanças, talvez
possamos destacar: o corpo dos cristãos passou a fazer parte viva dos cultos: palmas,
movimento, dança, coreografia se tornaram comuns em muitas igrejas; ritmos,
melodias, letras brasileiras foram incorporados aos cultos; o ministério de adoração
passou a ser enfatizado, e muitos jovens se envolveram com a música e o louvor na
igreja; emoções que anteriormente tinham pouco lugar no culto passaram a ocupar lugar
central – alegria, exaltação, autoafirmação.
Sem desmerecer nenhum desses avanços, é preciso, porém, enumerar alguns aspectos
negativos adotados na prática litúrgica “típica” em igrejas evangélicas: a lógica
litúrgica se tornou demasiado simples (ou, por que não dizer simplista?), reduzindo-se
os cultos a músicas em sequência e sermão; há uma ênfase demasiada sobre o
desempenho musical, em detrimento da maturidade espiritual e emocional dos grupos
de louvor; a escolha de canções para o culto depende, em demasia, de critérios
mercadológicos e midiáticos – o CD que “vende mais”, a canção que mais toca nas
rádios, a cantora ou cantor “mais famoso”; o baixo nível de formação e reflexão
teológica da maior parte dos novos “levitas” e dirigentes de louvor, acompanhado de
relações conflitivas com pastores e pastoras.
Em um livro sobre educação cristã, você pode se perguntar, por que tais
considerações sobre culto e liturgia? Porque o culto é uma das estruturas mais
importantes da educação cristã na igreja local? Não! Não se preocupe, não vou propor
que os cultos voltem a ser “chatos”, “antiquados”, seguindo as regras da liturgia
européia. O culto é, primariamente, encontro de adoração a Deus, de celebração de seus
atos em nosso favor e em favor do mundo por ele criado, encontro de gratidão,
testemunho e preparação para voltar a viver, no tempo secular, a fé e a missão. E é
exatamente como culto que ele desepenha papel fundamental na formação cristã
integral. Não precisamos transformar o culto em “aula” para que ele seja educador.
Entretanto, precisamos trabalhar para que se torne presente a função educacional do
culto, para que seu caráter pedagógico seja valorizado. Senão, como haver uma
educação transformadora na igreja?
Algo que tem sido bastante esquecido é que existe uma lógica litúrgica que dá
sentido ao culto. Essa lógica deve ser fundamental para a sua estrutura. Ou seja: ao
preparar o culto, dê asas à criatividade, mas asas que nos levem ao encontro do Senhor,
e não às nuvens vazias. A lógica litúrgica se compõe de: entrada na presença de Deus
(separando o tempo “secular” do tempo “sagrado”), exaltação de Deus (que se dispõe a
nos receber em sua presença), confissão de pecado (pois não se pode entrar na presença
de Deus sem o reconhecimento de nossa pecaminosidade), gratidão a Deus pelo seu
perdão e sua ação em nosso benefício (que pode incluir testemunho e até mesmo
batismo), reconhecimento da comunidade e da comunhão cristãs (com ou sem a
eucaristia), exposição da palavra de Deus (através de sermão, ou não), compromisso
com o Deus da palavra, envio da igreja à missão no mundo. Essa lógica é, em si,
educadora. Quando o culto se reduz apenas a uma sequência de cânticos e um sermão,
ensina muito pouco – e ensina mal: que a vida cristã é apenas felicidade, busca de
bênçãos e comunhão entre irmãos. Já a lógica litúrgica ensina que a vida cristã nasce,
cresce e se concretiza em nossa submissão a Deus, em nossa vida entregue ao seu Filho,
em nossa dependência do Espírito. A forma do culto pode e deve variar, com
criatividade, mas precisa sempre ser fiel à lógica litúrgica! Quando a abandonamos, o
culto passa a impressão de “liberdade no Espírito” mas, na prática, não passa de um
tradicionalismo repetitivo – pura celebração da mesmice.
Aliada à lógica litúrgica praticada de forma contextual e criativa, o culto precisa de
conteúdo bíblico e teológico de qualidade. Hoje, a “teologia” do povo de Deus é,
primariamente, a teologia cantada e não a ouvida e lida. Escolher cuidadosamente as
músicas, não em função de ritmo, mas em função da mensagem bíblica e teológica que
transmitem, é fundamental. Nesse sentido, precisamos de uma revolução prática nas
igrejas. Dirigentes de louvor, musicistas, “levitas”, seja como for que chamemos as
pessoas que participam na elaboração e direção dos cultos, precisam conhecer
profundamente a Escritura e a teologia cristã – tanto quanto os pastores e as pastoras!
Entregar a escolha das músicas a serem cantadas no culto a quem não conhece (ou
conhece pouco, ou, pior, conhece mal) Bíblia e teologia provoca deseducação do povo
de Deus. Alguns critérios simples: as letras precisam falar muito mais de Deus do que
de “eu”, de “mim”, de “meu”... As letras precisam valorizar os alvos da vida eclesial:
discernimento, missão, humanização, cidadania etc. As letras não podem ser
antropocêntricas nem cardiocêntricas (só voltadas para as emoções). Que desafio! Há
muito trabalho a ser feito nessa área.
Outro aspecto indispensável é que o lamento faça parte de nossos cultos. O lamento,
no sentido bíblico, é composto de súplica, confissão e intercessão. Lamentar a Deus
significa que reconhecemos nossa pecaminosidade, compreendemos que ele responde à
oração, percebemos nosso compromisso missionário e oramos pelo mundo amado por
Deus – e não só por nós mesmos. O lamento é o momento litúrgico do clamor: clamar a
Deus por perdão e crescimento espiritual, clamar a Deus por crescimento e
desenvolvimento da igreja, clamar a Deus pelo mundo sem Cristo. No lamento,
especialmente na intercessão, nós nos identificamos solidária e compassivamente com a
humanidade pecadora e reconhecemos que nossa salvação nos coloca na condição de
missionários e embaixadores de Jesus Cristo no mundo. Releia e reflita cuidadosamente
sobre Colossenses 3.14-17 e o papel educacional do culto.
Para finalizar, um destaque: o culto deve sempre orientar o povo de Deus para a ação
missionária no mundo. O culto não pode ser egocêntrico, egoísta, voltado para dentro de
nós mesmos. Se for assim, será doentio – acúmulo de bênçãos provoca doenças
espirituais terríveis. A bênção de Deus deve ser repartida, ou se transformará em
maldição.
REVALORIZANDO O PEQUENO GRUPO
Uma das formas mais interessantes de renovação da igreja nas últimas décadas tem sido
a redescoberta do pequeno grupo como matriz da vida eclesial. Isto tem ocorrido desde
pelo menos a década de 1970, quando se falava de pequenos grupos e de discipulado
nas igrejas evangélicas, e quando surgiram as comunidades eclesiais de base no
catolicismo. Muitas formas de atuação em grupos surgiram e se desenvolveram. Mais
recentemente (e, às vezes, passando a impressão de que se trata de algo novo), fala-se
em células, e há vários tipos de igreja: “em células”, “com células”, células de dez,
doze, quinze membros etc. – isso sem falar nas igrejas “em cédulas”... Não cabe aqui,
no entanto, uma avaliação de cada um desses modelos.
É preciso dizer, porém, que a mutualidade ministerial é indispensável para uma
educação cristã renovada e renovadora. Igreja não é auditório, igreja não é templo.
Auditórios e templos podem até ser necessários, mas não são a igreja. Igreja é a
comunhão de pessoas com Deus e umas com as outras. Por isso, pequenos grupos são
ferramentas educacionais e ministeriais indispensáveis. O pequeno grupo é espaço
privilegiado para o estudo bíblico, para a oração, para o serviço mútuo, para a
evangelização. Mais que “transmitir conteúdos”, a vida em comunhão dos pequenos
grupos é algo que educa. No pequeno grupo não é possível “esconder-se”, mantendo-se
inativo e dependente do ministério de outros. No pequeno grupo, o dar e o receber da fé
se tornam reais, de um modo que a grande reunião cúltica não é capaz de concretizar.
Pequenos grupos e grandes igrejas não são antagônicos, nem contraditórios. Da
mesma forma, pequenos grupos e pequenas igrejas locais não são idênticos, mas
também não são inimigos. Não precisamos ser escravos de “modelos” de igreja e
ministério – podemos ser criativos também na forma como organizamos os pequenos
grupos na igreja. As classes de escola dominical podem ser “pequenos grupos”
fermentadores de renovação e crescimento espiritual. Seja criativo! No pequeno grupo,
teoria e prática podem se casar – cabe-nos inventar caminhos e estratégias para o
namoro e o casamento.
Outra forma importante de renovação da educação cristã é a mentoria (antigamente
chamada de discipulado). A diferença fundamental entre mentoria e pequeno grupo é
que este é mais simétrico (todos os membros do grupo servem uns aos outros), enquanto
a mentoria é mais assimétrica (um membro mais experiente orienta uma ou mais
pessoas). A mentoria pode ser realizada de várias maneiras, mas sua essência consiste
na formação integral mediante o exemplo de alguém mais amadurecido. A mentoria é
especialmente necessária quando se precisa e se deseja investir em lideranças,
“passando o bastão” para as novas gerações. Sem formas criativas e comprometidas de
mentoria, as novas gerações têm de reinventar a roda e o legado das gerações anteriores
se perde. O grande modelo de mentor é Jesus Cristo, cujo exemplo foi seguido por
Paulo, entre outros. A questão pessoal é: dedicaremos parte de nosso tempo na
valorização de irmãs e irmãos que assumirão, futuramente, nosso lugar?
ENSINANDO ATRAVÉS DA PRÁTICA
Na formação de lideranças e de pessoas para exercer ministérios na igreja, uma das
formas mais adequadas de capacitação é a delegação supervisionada de tarefas. Em
outras palavras, o aprendizado ocorre na prática da atividade ou do ministério que foram
delegados. Esse é um método que não deve ser praticado com exclusividade se a tarefa a
ser aprendida for complexa, demandando conhecimentos específicos. Nesses casos, o
aprendizado através da prática pode vir acompanhado de cursos para a habilitação ao
ministério em questão – e o aprendiz se torna uma espécie de “estagiário” ou, na
linguagem empresarial, um trainee. Nos casos de ministérios que demandem
conhecimentos especializados, o aprendizado através da prática é um excelente e
necessário complemento à educação formal – seja no caso de jovens ministros,
evangelistas, missionários, seja no caso de musicistas e educadores cristãos com
educação formal técnica ou superior.
Todavia, o ensino através da prática é aconselhável sobretudo na capacitação para
ministérios que não exijam cursos formais. É uma boa forma de treinamento, por
exemplo, de líderes de grupos, de professores para classes de escola dominical, de
diáconos e diaconisas etc. O crucial nessa forma de educação é a supervisão. Há alguns
requisitos para quem supervisiona: conhecimento e experiência significativos na área da
formação; disposição para se adaptar ao ritmo do aprendiz; e, além disso, uma
verdadeira paixão pelo ensino, de modo a motivar o aprendiz a crescer mediante a
prática, a leitura e o acompanhamento pessoal.
AUTOAPRENDIZADO E MÍDIA
Com o avanço das tecnologias de difusão de conhecimento e informação, o
autoaprendizado tem se tornado um processo cada vez mais importante, não apenas em
substituição a métodos tradicionais de ensino, mas inclusive como um auxiliar na
educação formal. Tendo em vista que os programas didáticos nas igrejas locais
normalmente não conseguem atender todas as necessidades educacionais de cada um
dos membros da igreja, o estímulo ao autoaprendizado é uma forma relevante e eficaz
de educação cristã. Todos os envolvidos em educação na igreja podem estimular os
irmãos a desenvolverem seus conhecimentos, valores e habilidades mediante o
autoaprendizado.
Nesse caso, a função dos educadores é dupla: (1) motivar e orientar na busca dos
conhecimentos e habilidades necessários; e (2) acompanhar e supervisionar o processo
de autoaprendizado (que não precisa se desenvolver de forma rígida) de modo a manter
o estímulo do aprendiz, a proporcionar correções de rumo quando necessário e a avaliar
o progresso realizado. A igreja local pode apoiar esse tipo de estudo abrindo espaço
para uma biblioteca em suas instalações – não só a tradicional biblioteca com livros e
revistas, mas também com recursos de outras mídias (CDs, DVDs, internet etc.).
Pode parecer banal afirmar isto, mas as pessoas não estão acostumadas a reagir
ativamente aos conteúdos a que são expostas no cotidiano. É importante que a igreja
ajude seus membros a desenvolver habilidades críticas, de discernimento, para assistir a
programas televisivos, ouvir canções, ler obras literárias ou técnicas, navegar em sites
etc. Hoje, o volume de informação que circula no espaço midiático é imenso e há muito
material de péssima qualidade. Em meio a tamanho caos de informação, o
discernimento é uma atitude cristã indispensável para o crescimento espiritual e para o
desenvolvimento da educação em uma igreja.
E A ESCOLA DOMINICAL?
Em certo sentido, a escola dominical merece um livro à parte. Apresento, aqui, apenas
alguns brevíssimos comentários. Muitos se queixam do material utilizado para o ensino.
No entanto, bem mais grave que simplesmente as falhas no material, é o fato de que a
EBD se tornou algo como uma escola de má qualidade. Vários aspectos o demonstram:
não há um perfil da pessoa egressa; não há previsão de término do curso; as aulas são
um fim em si mesmas, estruturando um programa rotineiro para que os membros
tenham o que fazer aos domingos além do culto. Para renovar a escola dominical, é
preciso que seu caráter de escola seja desenvolvido. Ora, toda boa escola necessita de
um projeto pedagógico, a partir do qual sejam confeccionados currículos. Seus
participantes devem ter clareza quanto ao que se espera de cada um, inteirando-se dos
métodos de avaliação (que precisam ser aplicados como um todo). Além disso, é
fundamental que os professores recebam formação continuada.
A maioria das igrejas locais evangélicas conta com membros experientes no ensino,
graduados e desejosos de pôr a mão na massa. Nada melhor para uma escola dominical
que aproveitar o talento e a disposição dos próprios membros da igreja para renová-la e
reinventá-la. Quando a direção da igreja local reconhece o talento das pessoas que Deus
trouxe para a igreja, permitindo que ocorra a revolução de que a EBD precisa, formas
criativas surgem e transformam significativamente o processo educacional na igreja.
Cabe, portanto, à liderança criar os espaços para essa transformação, delegando
confiantemente a tarefa a pessoas capacitadas. Não se pode, nesse caso, ter medo de
errar. Pior que errar tentando acertar é manter a escola dominical do jeito que está.
CAPÍTULO SEIS
ASPECTOS DA ESPIRITUALIDADE NA EDUCAÇÃO
CRISTÃ
JESUS, MESTRE DA ESPIRITUALIDADE E ESPIRITUALIDADE DO
MESTRE
“Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e
curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo.” (Mt 4.23)

NADA DO QUE VIMOS ATÉ AGORA TERÁ VALOR se as pessoas envolvidas na educação
cristã não forem cristãs maduras, homens e mulheres que seguem o exemplo de Jesus e,
na força do Espírito, vivem para a glória de Deus e a edificação do corpo de Cristo. Por
isso, este capítulo final trata da espiritualidade, uma espiritualidade cristocêntrica,
baseada na graça de Deus e voltada para a solidariedade cristã – a missão para a glória
de Deus.
Os evangelhos nos apresentam Jesus como um ativo servo de Deus, cujo ministério
levava em conta as múltiplas dimensões da vida. Jesus curava, ensinava e pregava, ou
seja, não negligenciava nenhum desses três aspectos: respectivamente, o físico, o
intelectual e o religioso. Em seu ministério, Jesus não via os seres humanos apenas
como corpo, apenas como mente ou apenas como espírito. Para Jesus, corpo, mente e
espírito são dimensões inseparáveis da pessoa humana.
Neste capítulo, refletiremos sobre a prática educativa de Jesus, deixando de lado
tanto sua pregação quanto suas curas. Isso não significa que possamos separar o que
Deus não separou, mas sim que nossa principal preocupação é com o ministério de
ensino na igreja. Enfatizo a impossibilidade de separar as três dimensões, porém, como
uma advertência para que nós, professores do povo de Deus, não nos descuidemos nem
do corpo nem do espírito de nossos alunos.
Jesus começou a ensinar muito cedo. Lucas narra um episódio da infância de Jesus,
aos seus doze anos, em que ele se perdeu dos pais na cidade de Jerusalém. Em vez de
brincar nas ruas, tal como seria de se esperar de uma criança de sua idade, Jesus tinha
ido ao templo, onde estava “assentado no meio dos mestres, ouvindo--os e
interrogando-os. E todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das
suas respostas” (Lc 2.46,47). Podemos perceber a partir desses versículos que a ação
pedagógica de Jesus não se limitava ao ato de ensinar, mas também incluía o de ouvir e
o de perguntar. Em outras palavras, para ensinar é preciso, primeiro, aprender! Depois,
é preciso dialogar!
Do ponto de vista humano, como aquele menino de doze anos era capaz de dialogar e
espantar, com sua inteligência, os mestres da religião? O próprio Lucas fornece a
resposta: “crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus
estava sobre ele” (Lc 2.40). As duas características da vida de Jesus que o capacitaram a
ser mestre, já nessa idade tão tenra, foram a sabedoria e a graça de Deus. Essas
características estão à nossa disposição, professores da igreja! Resta saber: como obter e
colocar em prática a sabedoria e a graça?
ONDE, QUANDO E A QUEM JESUS ENSINAVA?
Jesus ensinava nas sinagogas aos sábados (Mc 1.21), ensinava nos montes (Mt 5.1), nas
planícies (Lc 6.17), às margens dos lagos (Lc 5.3)... Em outras palavras, Jesus ensinava
em todos os lugares possíveis e a qualquer momento em que fosse necessário ensinar.
No episódio da primeira multiplicação dos pães (Mc 6.30-44), Jesus levara os discípulos
a um lugar deserto para descansar. Entretanto, ao chegar ao lugar de repouso, “viu Jesus
uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm
pastor. E passou a ensinar--lhes muitas coisas” (Mc 6.34).
Jesus ensinava aos frequentadores das sinagogas, aos seus discípulos, às multidões.
Ensinava também a indivíduos, tanto pessoas comuns como figurões importantes. Mais
de uma vez discutiu pedagogicamente com os fariseus (Mc 7.1 ss) e com os mestres da
Lei (Mc 12.28-34). Em seu ministério, Jesus ensinava a quem quer que precisasse ouví-
lo. E mais, sua motivação pedagógica variava de acordo com a situação e as pessoas
envolvidas. Compare, por exemplo, os episódios da multiplicação dos pães e o da
discussão de Jesus com os fariseus (Mc 7.1 ss). Com que motivação Jesus ensinou as
multidões que foram atrapalhar seu repouso? E com que motivação ensinou os fariseus
e alguns escribas que vieram de Jerusalém para vê-lo? (Veja, por exemplo, Mc 7.6.)
COMO JESUS ENSINAVA?
Jesus lançou mão de vários métodos e técnicas de ensino de sua época e cultura.
Utilizou-se de aulas expositivas (o sermão do monte), aulas práticas (lavando os pés dos
discípulos para mostrar-lhes o que deveriam fazer), parábolas (Mc 4.1 ss), perguntas
como resposta a outras perguntas (Mc 10.17,18), conversas (Mc 10.23-31), debates com
seus oponentes (Mc 7.1 ss) e até técnicas corpóreas (pegava crianças no colo etc.).
Jesus aplicava métodos diferentes em circunstâncias diferentes, em relação a pessoas
específicas e com conteúdos diferenciados. Analisando a didática de Jesus, vemos que
as técnicas não eram a coisa mais importante. O que importava para Jesus eram três
aspectos: a pessoa a ser ensinada, o conteúdo ensinado e a circunstância do ensino. Do
ponto de vista das técnicas, “as formas de ensino de Jesus não parecem romper com as
formas usadas pelos doutores de Israel”1. Entretanto, Jesus não ensinava como os
doutores de Israel! Como isto era possível?
1
CELADEC. “La educación cristiana a la luz de la Palabra”, in Cuaderno de Estudio, n. 25. Lima:
Celadec, 1984.
“Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade, e não como
os escribas” (Mc 1.22). Um erro de interpretação muito comum desse texto é derivar a
autoridade pedagógica de Jesus de seu poder milagroso, de sua autoridade para expulsar
espíritos impuros (Mc 1.27). No entanto, é preciso prestar atenção: no verso 21, lemos que Jesus
ensinava, em um sábado, numa sinagoga. Ouvindo-o, as pessoas se admiravam de sua
autoridade pedagógica (v. 22). Somente depois do ensino – “não tardou que...” (v. 23) – é que
Jesus liberta o homem possesso, causando nova admiração (v. 27).

Para entendermos como era a autoridade pedagógica de Jesus, precisamos seguir a


pista deixada por Marcos: ele não ensinava como os escribas. Os escribas eram os
“doutores da lei” em Israel, os mestres da religião. Vimos, logo acima, que as técnicas
de Jesus não eram muito diferentes das técnicas dos escribas. Por que, então,
manifestava Jesus uma autoridade não encontrada em meio a esses doutores? O
conhecimento histórico de que dispomos nos informa que os escribas ensinavam
baseando-se nas “tradições” dos anciãos, ou seja, ensinavam as Escrituras apelando para
a autoridade de outros mestres de tempos mais antigos, aos quais seguiam fielmente!
Imagine a seguinte situação: alguém se aproxima de um escriba e lhe pergunta como
fazer para guardar o sábado. O escriba poderia responder mais ou menos assim: “Bem,
de acordo com o mestre Fulano, você deve fazer isso... e não pode fazer aquilo...
Todavia, o mestre Beltrano já pensa de modo diferente, e afirma que você pode fazer
aquilo outro...” Se quem indaga insistisse: “Mas qual a sua opinião, mestre?”,
provavelmente ouviria: “Não é a minha opinião que importa, mas a tradição.”
Nas sinagogas, Jesus não fazia isso. Ele lia o texto bíblico (veja, p. ex., Lc 4.16,17) e
o explicava sem apelar para a tradição dos anciãos e para as disputas de opinião entre os
vários mestres-escribas. Por isso as pessoas se admiravam: Jesus tinha autoridade para ir
diretamente ao texto bíblico e apresentar a sua própria interpretação da Palavra de Deus!
Era algo que ele fazia sem ter estudado nas escolas dos fariseus (Mt 13.54-56). Jesus
vivia o que ensinava, Jesus se compadecia das pessoas a quem ensinava, Jesus se
indignava com algumas pessoas a quem ensinava. Em suma, Jesus tinha autoridade
pedagógica porque seu ensino nascia da Palavra de Deus, entrava em sua própria vida,
levava a sério a vida e as lutas das pessoas a quem ensinava e era relevante para a
situação social em que ele se encontrava. Seu ensino não era meramente “teórico”, ou
“tradicional”. Era um ensino íntegro e integral: toda a Palavra para toda a pessoa!
O QUE JESUS ENSINAVA?
A leitura dos evangelhos sinóticos2 nos mostra que o tema principal do ensino de Jesus
era o reino de Deus (cf. Mc 1.14,15 e Mt 4.12-17). O grande alvo pedagógico de Jesus
era promover a compreensão dos homens acerca do reino, com seu decorrente
comprometimento. O conteúdo do ensino de Jesus, podemos dizer, era teológico.
Não era, porém, uma teologia desvinculada da vida cotidiana! Jesus ensinava sobre o
projeto de Deus para a sua criação, especialmente para a humanidade (parceira nesse
projeto), em relação ao trabalho, à família, aos costumes religiosos, ao lazer, à relação
com a natureza. Tratava de temas polêmicos, como a violência, o adultério, a política.
Instruía a respeito dos problemas sociais e religiosos do povo judeu, oferecendo uma
visão crítica da liderança judaica, do papel da Lei, da visão religiosa sobre os portadores

2
Oriunda do grego, a palavra sinóticos significa “com um ponto de vista comum”, referindo-se
aos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.
de deficiência3 e das opiniões preconceituosas em relação a estrangeiros, mulheres,
crianças, adúlteros.
O eixo do ensino de Jesus era, portanto, a percepção de que a vida humana deveria
ser posta integralmente sob a soberania de Deus. A presença do reino de Deus na terra
significava, para Jesus, a submissão ao Deus que reina e transforma a vida de pecadores
e sociedades humanas. E a forma mais eficaz do ensino de Jesus era sua própria vida:
Jesus não só discorria sobre o reino de Deus, mas vivia como seu súdito! Assim como
vivia o reino de Deus, Jesus exigia que as pessoas também o vivessem. A única resposta
digna para o ensino de Jesus era a conversão. Não a adesão religiosa, não o
consentimento intelectual, não o prazer emocional! Conversão, ou seja, aceitar o
senhorio de Cristo e, pela fé no Rei, iniciar um novo estilo de vida: seguir a Jesus.
CRESCENDO EM VITALIDADE
A vitalidade cristã advém da energia do Espírito de Deus. Em 1Coríntios 3.1, Paulo
recrimina os coríntios porque não eram espirituais, mas “carnais”, “crianças em Cristo”.
Cristãos carnais são aqueles que vivem segundo a carne, por isso são crianças em
Cristo, ou seja, imaturos, irresponsáveis, incapazes de servir adequadamente a Deus e à
igreja. Cristãos espirituais são os que vivem segundo o Espírito, por isso são adultos em
Cristo, ou seja, maduros, responsáveis, servos fiéis. Viver segundo o Espírito significa
ser guiado, liderado, conduzido pelo Espírito de Deus: “Porque, se viverdes segundo a
carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo,
certamente vivereis. Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de
Deus” (Rm 8.13,14).
A manifestação “negativa” da vida segundo o Espírito é a mortificação dos feitos do
corpo dirigido pela carne. Aos colossenses, Paulo escreveu detalhando o sentido prático
do mortificar os feitos do corpo carnal: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena:
prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno, e a avareza, que é idolatria [...]
despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência,
linguagem obscena do vosso falar” (Cl 3.5-8; veja, também, Gl 5.19-21, que enumera as
“obras da carne”).
Já a manifestação “positiva” da vida no Espírito é a prática do fruto. “Andai no
Espírito e jamais satisfareis a concupiscência da carne [...] Mas o fruto do Espírito é:
amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,
domínio próprio. Contra estas coisas não há lei” (Gl 5.16-23). Essas características da
vida no Espírito – o fruto do Espírito são exemplificadas na vida de Jesus Cristo, o
mestre por excelência, aquele que viveu o que ensinou.
Professores que desejam seguir o exemplo do Mestre Jesus precisam crescer em
vitalidade, manifestando em suas vidas tanto a forma “negativa” quanto a “positiva” da
liderança do Espírito Santo. Tanto quanto o seu trabalho propriamente dito, a vida do
professor é parte integrante da ação pedagógica cristã. Do ponto de vista da avaliação
divina, porém, é mais importante a eficácia da vida que a do trabalho. Por isso, na lição
seguinte, conversaremos a respeito das possibilidades que Deus colocou à nossa
disposição para o crescimento espiritual.
CRESCER NÃO É DEVER, É DOM DA GRAÇA
Você reparou, no texto de Gálatas 5, que a carne realiza obras e o Espírito em nós
produz fruto? Assim como a salvação, a espiritualidade cristã não se baseia em obras.

3
A religião judaica oficial considerava cegos, coxos, surdos, mudos e demais portadores de
deficiência como impuros, separados de Deus.
Um modo de ser carnal é tentar crescer pelas obras, e não pela fé! O crescimento na
espiritualidade não pode, portanto, ser encarado como um dever. Mas o que isto quer
dizer? Essa afirmação não parece estranha? Sim, é algo estranha, mas facilmente
compreensível: nós não devemos crescer espiritualmente; nós podemos crescer
espiritualmente! Enquanto o dever nos leva à prática de obras da carne, o poder nos
permite, pela fé, frutificar. E podemos crescer espiritualmente porque o Espírito de
Deus habita em nós e dirige nossas vidas. Isto é dom da graça de Deus: a habitação e o
senhorio do Espírito em nós.
Para crescer espiritualmente, a atitude fundamental é apenas uma: a fé. Assim como
recebemos a salvação pela fé, crescemos espiritualmente pela fé. Leia com cuidado a
seguinte afirmação de Paulo: “Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim
andai nele” (Cl 2.6). Como nós recebemos a Cristo? Pela fé. Como andaremos nele?
Pela fé! É assim que o próprio Paulo explica sua afirmação: “nele radicados e
edificados, e confirmados na fé” (Cl 2.7).
Muitos membros de igreja se sentem frustrados porque transformam a graça da
espiritualidade em uma lei. Tentam crescer espiritualmente pelo esforço da vontade, do
trabalho. Sem perceber, ao invés de seguir o caminho do Espírito, seguem o caminho da
carne. Sim, por incrível que pareça, muita gente que quer crescer no Espírito acaba
vivendo na carne! Crescer em espiritualidade não é dever, não é lei; é graça. Lembre-se
de Gálatas 5.23, “contra estas coisas não há lei”. Muita gente, hoje, passa pelo mesmo
problema dos cristãos gálatas: “sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito,
estejais agora vos aperfeiçoando na carne?” (Gl 3.3).
O caminho da espiritualidade é o caminho aberto pela graça de Deus. É o caminho
trilhado pelas pessoas que andam no Espírito, vivem segundo o Espírito, são guiadas
pelo Espírito de Deus. É o caminho dos que, alcançados pela graça transformadora de
Deus, vivem pela fé. Recebem o crescimento espiritual assim como receberam a Cristo
e sua salvação. Crescem não porque devem crescer, mas porque podem crescer
espiritualmente; porque podem frutificar no Espírito de Cristo.
A ESTRADA DO CRESCIMENTO: OS MEIOS DE GRAÇA
O crescimento espiritual, como possibilidade aberta pela graça de Deus, está diante de
nós para ser seguido em nosso dia a dia. O crescimento não vem por obras, mas também
não vem automaticamente. A graça de Deus estabelece, junto com a possibilidade, os
meios para o crescimento. Você pode meditar nessas palavras de Paulo: “Assim, pois,
amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais
na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é
quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp
2.12,13).
Os meios para o desenvolvimento da salvação são, na prática, as diferentes formas de
atuação da fé. Uma vez que é Deus quem efetua o crescimento, é pela fé que recebemos
a sua atuação (cf. Cl 2.6,7). E é buscando a Deus que alcançamos o crescimento em
espiritualidade:
É pela experiência da fé que reconhecemos a Deus, sua iniciativa de amor para conosco e o
caminho de nossa resposta. E, como dizíamos, essa fé, feita experiência na esperança e no amor
que gera, é o único caminho possível para a espiritualidade cristã. A busca de Deus é o caminho
da fé. E, pela experiência da fé, esse caminho é o encontro de Deus. Pela fé encontra-se Deus na
medida em que se busca a Deus.4

4
GALILEIA. O caminho da espiritualidade, São Paulo: Paulinas, 1984, p. 58.
A busca e o encontro de Deus pela fé têm o seu principal aspecto na comunhão com
Deus. A busca é feita individual e coletivamente. Coletivamente, como igreja, buscamos
a Deus no culto e no serviço missionário aos irmãos e ao mundo; individualmente, nós o
buscamos de modo pessoal, através das seguintes disciplinas interiores da fé:
Oração: é o diálogo com o Senhor, em que partilhamos nossa vida, nossos sonhos,
nossas lutas, nossos pecados, nossos desejos, nossas frustrações, nossas esperanças. A
oração cristã é um diálogo de várias faces. Em oração, pedimos a Deus, suplicando que
ele aja em nosso favor; em oração, agradecemos e exaltamos a Deus, apresentando a ele
nossa gratidão e louvor pelo que já fez e continuará fazendo por toda a humanidade, em
nós e por nós; em oração, intercedemos a Deus por outras pessoas, igrejas, situações – é
quando o foco da oração é o próximo, a quem somos chamados a amar como amamos a
nós mesmos; em oração, simplesmente conversamos com Deus, ouvimos a sua voz e
permanecemos em comunhão com ele.
Meditação: a meditação “nos leva à plenitude interior necessária para nos darmos a
Deus livremente e à percepção espiritual necessária para atacar os males sociais. Nesse
sentido, ela é a mais prática de todas as disciplinas [espirituais]”.5 Na vida corrida das
grandes cidades, perdemos o hábito da meditação, perdemos o jeito de meditar. Trata-se
de um tempo que separamos para deixar nossos pensamentos e nossa imaginação
fluírem para Deus e a partir de Deus. Meditando em Deus e sua Palavra, afastamos de
nossa mente as coisas do mundo e tudo aquilo que atrapalham nossa caminhada
espiritual. A meditação cristã é tão mais eficiente quanto mais iluminada pela Palavra de
Deus: “Para os teus mandamentos, que amo, levantarei as minhas mãos, e meditarei nos
teus decretos” (Sl 119.48); “Os meus olhos antecipam as vigílias noturnas, para que eu
medite nas tuas palavras” (Sl 119.148).
Estudo: enquanto a meditação é um fluir da mente, o estudo é um exercício de
reflexão crítica sobre a realidade em que vivemos, à luz da Palavra de Deus. É quando
buscamos entender e explicar como Deus age, onde age, por que age etc. Estudo e
meditação são as duas faces de uma mesma moeda. A face meditativa é a da
imaginação, da intuição, da mente que se entrega a Deus. A face do estudo é a do
raciocínio, da elaboração de conceitos e ideias, da mente que reconstrói os objetos de
sua reflexão. Como na meditação, o estudo essencial para o crescimento espiritual é o
estudo da Palavra de Deus, constante, sério e disciplinado.
Jejum: é a atitude de abandono temporário de uma necessidade fundamental do
corpo, a fim de orientá-lo para o serviço a Deus e ao próximo. O jejum é mal utilizado
desde tempos antigos. De instrumento de entrega a Deus e solidariedade ao próximo, foi
reduzido a arma de orgulho espiritual e hipocrisia religiosa. Para jejuar bem, convém
seguir a instrução profética:
Eis que jejuais para contendas e rixas, e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como
hoje não se fará ouvir a vossa voz no alto. Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia
aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e
cinza? chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao Senhor? Porventura não é este o jejum que
escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os
oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o
faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e se vires o nu, o cubras, e não te escondas
do teu semelhante? Então romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua
justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda (Is 58.4-8).

POSFÁCIO
5
FOSTER, Richard. Celebração da disciplina.
Ao terminar a escrita deste pequeno livro, emoções antagônicas me dividem. A
dúvida: será que é tempo para publicar um livro como este? Não me parece que o
mercado livreiro tenha interesse em uma obra desse tipo, assim como não estou seguro
de que as lideranças eclesiais estejam dispostas a revalorizar a educação cristã diante de
tantos desafios que têm de enfrentar no dia a dia.
Contra a dúvida, porém, teimosamente reaparece a esperança. Não consigo enxergar
as igrejas cristãs apenas como comunidades de pessoas conformadas com o mundo, nem
mesmo consigo vislumbrar as denominações como instituições tão embrutecidas que
não sejam capazes de se deixar arejar pelo vento novo do Senhor. Meus amigos e
minhas amigas nas lideranças de comunidades e denominações não se cansam de
lamentar o tempo em que vivemos – o conformismo, a rivalidade, o desnível
competitivo entre megacorporações religiosas e pequenas igrejas.
Mas também eles são, teimosamente, pessoas de esperança. E é a esperança, enfim, a
emoção que supera a dúvida...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Esta não é uma bibliografia exaustiva. Apresenta apenas obras em português e espanhol
representativas da produção em educação cristã nos últimos vinte anos.
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1

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