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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE SANTO ANTÔNIO DO


DESCOBERTO – GO

O Ministério Público por seu Órgão de Execução, com assento e


sede nesta comarca vêm, à presença de Vossa Excelência, com o
costumeiro respeito propor:

AÇÃO DE INTERDIÇÃO, em desfavor de :

RAIMUNDO NONATO de tal, demais dados da qualificação.


(ACASO SEJA PESSOA JURÍDICA, A INDICAÇÃO DESTA).

I – DOS FATOS

Consta, das inclusas peças informativas, que o requerido é


proprietário da Escolar Horizonte de Ensino Fundamental, localizada no
endereço supra mencionado. Após diversas notícias desabonadoras, a respeito
da reputação moral deste, esta Promotoria de Justiça, instaurou procedimento
administrativo, instruindo-o com diversas provas.
Solicitamos ainda, relatórios técnicos periciais, aos setores
especializados em Educação, Assistência Social e Psicologia do Ministério
Público, que vieram a esta comarca e à escola se dirigiram, apresentando
pareceres detalhados e conclusivos, anexados a presente.

Neste relatório, afirmam espantados que: ”Os fatos


acontecidos na escola são dignos de repúdio e indignação, pois
demonstram o despreparo e desequilíbrio de um profissional da educação
que dirige um estabelecimento educacional. Causa espanto a violência
perpetrada por este profissional lidando com crianças e adolescentes em
processo de formação humana o profundo desrespeito com seus alunos, a
postura preconceituosa, a negligencia, a certeza da impunidade.”

A escola funciona na residência do requerido, situação esta


insustentável e incompatível com o a finalidade de um estabelecimento de
ensino, como demonstram os técnicos em seus relatos: “A Escola do
Professor Raimundo Nonato é um ambiente escolar onde a organização
interna de seus espaços oculta uma conflituosidade entre o espaço do lar,
doméstico, privado e o espaço público, o espaço escolar propriamente
dito. Essa confusão de ambientes, gera uma descaracterização do ato
pedagógico que não pode ser restrito somente à sala de aula, mas também
se reveste de especificidades que não se harmonizam com relações
familiares dificieis, onde os papéis de pai/diretor/professor,
filhas/professor, se misturam, se anulam, geram uma permanente tensão
que não é resolvida, no âmbito escolar, ao contrário, cada vez mais se
acirram e não encontram uma solução naquele espaço. Não se sabe ao
certo onde é espaço escolar, pedagógico e o espaço social, familiar,
econômico, doméstico, íntimo. Esses conflitos de papéis na unidade
familiar que se confunde com a unidade escolar causa uma anomalia no
caráter do processo pedagógico. Os espaços escolares devem refletir uma
organização com fins educacionais, onde a tônica seja a educação,
formação humana com profissionais voltados para essa finalidade sem
perturbações de outra ordem, sem a presença de condições alheios ao
processo pedagógico que não pode sofrer dentro de sua casa, influências
danosas.”

Percebe-se, através dos relatos transcritos pelos Técnicos,


que é impossível uma convivência harmônica, no mesmo espaço físico, de
escola e residência do proprietário, sem comprometimento da qualidade do
ensino oferecido. O ambiente é conturbado, impróprio e inadequado, cuja
influência, define decisivamente o processo de aprendizado, resultando em
prejuízos e deformidades incalculáveis à formação dos menores.

A pessoa do proprietário do estabelecimento de ensino


também foi alvo de estudo por parte do setor técnico pericial do Ministério
Público que assim o definiu: é uma pessoa com visão estereotipada do
mundo, com fixação na sexualidade dos alunos.

Acentua-se, que a sexualidade faz parte da natureza


humana, e que dentro da normalidade, é responsável pelo desenvolvimento
sadio de crianças e adolescentes. E como observamos, o diretor desenvolveu
uma obsessão doentia, uma visão esteriotipada do sexo, e baseia sua educação
neste sentido. Afirmou perante aos técnicos: “......as meninas são e/ou se
comportam como prostitutas”. “......a escola dele não é para ensinar
prostituição”. “.....quem manda no certo e errado é ele.”

A forma como se dirige aos alunos, demonstra despreparo


como educador, e ainda mais, como diretor de uma instituição de ensino.
Tratando a criança de forma autoritária, subjugando-a em sua condição de
pessoa em desenvolvimento, incapaz de formular seu juízo de valor,
caracteriza a sua absoluta desqualificação para as funções que ocupa. É na
verdade, uma ameaça à formação moral e psicológica dos seus alunos.

Consta do relatório técnico pericial: “A prática adotada


pelo Professor Raimundo Nonato constitui em crime, pois na realidade
exprime o que ele entende por atitudes sexualizadas por parte dos alunos,
mas aborda o tema inadequadamente quando relata a história do
piercing, quando despe os alunos do sexo masculino e aplica-lhes
palmadas, quando brinca de tirar-lhes o calção dentro do rio.” Este relato
da conduta do requerido, demonstra o comportamento autoritário, deturpado,
irreal e, até libidinoso. Permitir ao requerido, com estas atitudes, à frente de
um estabelecimento de ensino onde diversas crianças estarão sob sua
responsabilidade, é absolutamente perigoso. A conclusão sobre este
comportamento o próprio relatório traz, quando diz: “O professor Raimundo
Nonato não suporta ser contrariado ou criticado. Ninguém pode apontar-
lhe um defeito. Se alguém o confronta, ele freqüentemente resolve a
intriga na brutalidade. Por isso todos se submetem a ele e ao pequeno
grupo que lidera naquela escola. É o poder exercido pelo terror
psicológico com crianças e adolescentes junto com a desinformação e
negligência dos pais e professores. Tem cabimento educacional, retirar-se
as vestes dos alunos e aplicar-lhes “palmadas no bumbum” na frente de
todos? Acaso ato dessa natureza tem valor pedagógico? Talvez a filosofia
educacional medieval condecorasse o Prof. Raimundo Nonato por tal
atitude, mas com certeza não a pedagogia nos tempo de cidadania que nós
vivemos.”

Em conclusão ao tudo que viram, assim manifestam os


técnicos no relatório anexo:

“Recomenda-se após essa análise, medida legal cabível, para


que o Prof. Raimundo Nonato não conte tanto com a certeza de sua
impunidade e cesse seu terrorismo pedagógico em sua escola. Cumpre
notificar a Sub-Secretária de Educação Estadual daquele município, na
pessoa da Sra. Estela Maris Galvão Lombardi, par que tome as
providências cabíveis para que estes acontecimentos tristes e danosos
para a formação humana de crianças e adolescentes, não mais se repitam
na educação do Estado de Goiás.. O Sr. Raimundo Nonato está
cometendo, contra os alunos da sua Escola, violência psicológica, abuso de
autoridade e abuso sexual”

Percebe-se por todo relatório, a impossibilidade de manter em um


mesmo espaço físico, o requerido e crianças/adolescentes. O risco que é,
manter nas mãos do requerido, uma escola de ensino fundamental, onde
crianças e adolescentes, com a personalidade em desenvolvimento, serão
educadas é uma temeridade, uma irresponsabilidade. Imagine que educação
será passada!
DO DIREITO

I – Legitimidade ativa.

Estabelece o art. 127 da Constituição Federal “In verbis”que: “O


Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional
do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem pública, e dos interesses
individuais e coletivos. Por sua vez o art. 129 do mesmo diploma legal,
estabelece ser atribuição do Ministério Público zelar para que, os serviços de
relevância pública respeitem os interesses garantidos na Constituição Federal.

É função do Ministério Público, de acordo com o Estatuto da


Criança e do Adolescente, no seu art. 201, VIII: “zelar pelo efetivo respeito
aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes,
promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis.”

Isto posto, o Ministério Público é o titular de legitimidade para a


defesa dos interesses de crianças e adolescentes, sejam eles individuais,
coletivos ou difusos. Na presente hipóteses, interesses coletivos, considerando
que os alunos hoje matriculados são vítimas em potencial (“certas”), havendo
possibilidade se não houver impedimento à ação do requerido, que novas
vítimas passem a existir.

II – Da fundamentação jurídica

Estabelece a Constituição Federal de 1988:


“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança
e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.”(Grifo nosso).

O Estatuto da Criança e do Adolescente por sua vez determina a


sociedade, família e Estado o dever também de zelar pelos direitos de crianças
e adolescentes, colocando-os a salvo de qualquer forma de ação que lhes cause
risco, para tanto basta uma breve leitura do disposto nos arts. 3º, 4º e 5º.

A integridade física, moral, o respeito e a dignidade de crianças e


adolescentes também devem ser protegidos da simples ameaça de lesão, até
porque, nesta fase, considerando a condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento, a lesão certamente acarreta prejuízo maior.

“Art. 17 - O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da


integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos
espaços e objetos pessoais.”

“Art. 18 - É dever de todos velar pela dignidade da criança e


do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor.”

Ainda, visando a proteção dos direitos de crianças e adolescentes,


determina o Estatuto da Criança e do Adolescente:

“Art. 15 - A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao


respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e
sociais garantidos na Constituição e nas leis.”

A ação constrangedora, vexatória, negligente, imprudente ou


opressiva contra os direitos de crianças e adolescentes, tem repercussões
inclusive na esfera criminal, a medida em que caracteriza crime: “Art. 232 -
Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância
a vexame ou a constrangimento: Pena - detenção de seis meses a dois
anos.”

Pelo relatório técnico pericial dos assistentes do Ministério


Público, o requerido em sua escola, coloca em risco todos os alunos, sendo
dever de todos, inclusive do Poder Judiciário, impedir qualquer ameaça de
lesão aos direitos destes, ação esta da qual não pode se omitir, sob pena de o
socorro chegar muito tarde.

III– A Educação.
A Educação é direito fundamental social. Visa o pleno
desenvolvimento da pessoa, o preparo para o exercício da cidadania e o
trabalho, nos termos do art. 205 da Constituição Federal de 1988.

Considerando o que preceitua o ECA, (art. 6º, In fine), estar a


criança e o adolescente, em condição peculiar de desenvolvimento, a
educação deverá ser prestada de forma a preservar valores morais em patamar
razoável. Como diz o ditado: “nem tanto ao mar, nem tanto a terra”. Baseado
nisto, dita o art. 53, II ter direito crianças e adolescentes, de “ser respeitado
por seus educadores.”

Educação é a base da sociedade. Toda povo que almeja progresso,


vitória, futuro promissor, investe com seriedade na educação de seus jovens.
Diz o linguajar popular que “o futuro se faz hoje”, referindo-se a correta e
adequada educação.

“O inciso II afirma o direito do educando de “ser respeitado


por seus educadores”. Esse direito ao respeito, aqui
especificado no processo pedagógico, consta do “caput” do
art. 227 da Constituição Federal, juntamente com os direitos à
liberdade e à dignidade. Esse respeito, sem dúvida, é a base
sobre a qual se assenta a integridade física, psicológica, moral
e cultural do educando, um dado que deverá ser levado em
conta na estrutura curricular e no quotidiano relacionamento
entre crianças, adolescentes e adultos na vida escolar.”
Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado – Comentários
jurídicos e sociais, Malheiros, Antônio Carlos Gomes da Costa,
169/170.

“partindo da consideração de que a lógica se constrói, não é


natural, Piaget coloca que a primeira tarefa da educação
consiste em formar o raciocínio. Deste ponto de vista
(educação intelectual), o direito à educação consistiria no fato
de que o indivíduo tem “o direito de ser colocado, durante a
sua formação, em um meio escolar de tal ordem que lhe seja
possível chegar ao ponto de elaborar, até a conclusão os
instrumentos indispensáveis de adaptação que são as
operações da lógica”. Quanto à educação moral, é ainda mais
evidente que, se algumas condições inatas(naturais) permitem
ao ser humano a construção de regras e sentimentos morais,
essa elaboração presume a intervenção de um conjunto de
relações sociais bem definidas (da família, por exemplo).
Quanto às educações intelectual e moral, analisadas em
conjunto, Piaget afasta o entendimento de que tais
compreenderiam apenas o direito de adquirir conhecimentos,
por entender tratarem-se “de um drieito de forjar
determinados instrumentos espirituais, mais preciosos que
quaisquer outros, e cuja construção requer uma ambiência
social específica constituída não apenas de submissão”. A
condição formadora necessária ao próprio desenvolvimento
natural. Tal entendimento implica afirmar que “o indivíduo
não poderia adquirir suas estruturas mentais mais essenciais
sem uma contribuição exterior, a exigir um certo meio social
deformação, e que em todos os níveis (desde os mais
elementares até os mais altos) o fator social ou educativo
constituí uma condição do desenvolvimento.”
O Direito á Educação e a Constituição, Marcos Augusto Maliska,
Ed. Sergio Antônio Fabriw Editor, p.156/157.

Considerando a personalidade do requerido, a condição peculiar


de desenvolvimento de crianças e adolescentes sob sua responsabilidade,
temos a exata noção dos riscos aos quais estamos expondo.

Estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente que para


defesa dos direitos previstos na lei, cabível toda e qualquer ação, art. 212.
Neste caso, é prudente impedir o requerido de administrar a escola, de
ministrar aula, de conduzir a educação de crianças e adolescentes.

Entretanto, caso isto não ocorrer, impossível é admitir, após as


elucidações acima, que a escola continue funcionando na residência do
requerido. Requerer que este saia de sua casa, nos afigura excesso, que não
desejamos cometer nesta oportunidade, entretanto, não nos esquivamos de
intransigentemente defender crianças e adolescentes da ameaça a seus direitos.

Interditando a escola, certamente o requerido estará impedido de


manter proximidade com alunos e assim de colocá-los em situação de risco
pessoal.

DA LIMINAR
Prevê o Código de Processo Civil a possibilidade de concessão de
medida liminar, desde que presentes os requisitos para tanto, quais sejam, o
fumus boni iuris e o periculum in mora, art. 461, §3º. Tal previsão encontra
respaldo no art. 213, §1º do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Assim, entedemos que, através das provas juntadas, dos


relatórios elaborados por especialistas, de Setores Técnicos Periciais,
consubstânciada está a argumentação jurídica apresentada, para admitir o
cabimento desta medida assecuratória.

Pelos argumentos de linhas volvidas, manter crianças e


adolescentes submetidos à disciplina escolar do requerido é um risco. Urgente
e necessária é pois, a medida cautelar, a fim de se evitar que os danos
causados aos menores se tornem irremediáveis.

Presentes portanto todos os requisitos legais à concessão da


medida cautelar pleiteada.

DO PEDIDO

Isto posto, requer:

1 – Seja a presente ação recebida e devidamente autuada;


2 – Seja concedida medida liminar para determinar a imediata interdição da
escola, suspendendo assim as aulas e colocando crianças e adolescentes a
salvo do risco de dano moral ou físico.
3 – Seja o requerido citado para, querendo, apresentar defesa, pena de revelia;
4 – Protesta por todos os meios de prova em direito admitido, desde já,
requerendo o depoimento pessoal do requerido.
5 – Seja ao final julgada procedente a presente ação, para determinar,
confirmando a liminar, determinar a definitiva interdição da Escola Horizonte
de Ensino Fundamental.
6 – Dá a presente causa o valor de R$ 100,00(cem reais) para efeitos
meramente fiscais.

Santo Antônio do Descoberto, ___, junho de 2005.

Renata Dantas de Morais e Macedo.

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