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RESUMO
O presente trabalho apresenta um estudo relativo a epidemiologia de acidentes ofídicos ocorridos no município
de Rolim de Moura, Estado de Rondônia entre 2000 e 2007. Foram analisados dados disponibilizados pela
Secretaria Municipal de Saúde do município, onde os resultados obtidos foram organizados referentes a idade,
sexo, procedência, zona (rural ou urbana), região anatômica picada, espécie de animal causador, classificação do
caso, soroterapia e tempo decorrido entre a picada e o atendimento.Os acidentes foram causados por serpentes
dos gêneros Bothrops, Lachesis e Micrurus. Os acidentes predominaram em pessoas do sexo masculino,
trabalhadores rurais e com idades entre 10 e 29 anos. Na maioria dos acidentes os principais locais de picada
foram pernas e pés; o tempo decorrido entre a picada e o atendimento prevaleceu entre 1 a 3 horas; 69,9% dos
casos foram classificados de nível leve e 19,3% de grau moderado; 80,7% das pessoas recebeu soroterapia, e
89,1% dos casos evoluíram para cura, exceto um caso que evoluiu a óbito.
ABSTRACT
This work presents a study on the epidemiology about ophidian’s accidents occurring in the city of Rolim de
Moura, Rondônia State, Brazil, between 2000 and 2007. We analyzed the data provided by the Municipal
Health Secretariat of the city, where the results were organized for age, sex, origin, area (rural or urban),
anatomic region bite, the species of animal , classification of the case, serum and time between the bite and the
assistance.The accidents were caused by snakes of the kind Bothrops, Lachesis and Micrurus. The accidents
predominated in male people, rural workers aged 10 and 29 years. In most accidents main sites of the bites were
legs and feet, the time between the bite and the assistance prevailed between 1 to 3 hours, 69,9% of the cases
was rated between mild and 19,3% moderate; 80,7% most people received serum, and 89,1% the cases
progressed to cure, except one case that came to death.
INTRODUÇÃO
È preciso esclarecer que peçonha não é o mesmo que veneno. Peçonha são substâncias tóxicas
produzidas em glândulas e que podem ser inoculadas nos organismos. Venenos também são
substâncias tóxicas produzidas em glândulas, porém não pode ser inoculado. Desse modo os animais
peçonhentos podem ser considerados aqueles que possuem aparato especializado para
inocular substâncias tóxicas em outros organismos; enquanto os animais venenosos não
apresentam aparelho inoculador (SANTOS et al. 1995 apud GOMES, 2007.p.15.).
________________________________________________________________________
1
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal – E-mail: carolinaanacleto@hotmail.com
2
Docente do Curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal – E-mail: reginald_ufv@hotmail.com
240
2 MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado no município de Rolim de Moura (Figura 1), Estado
de Rondônia, que está localizado nas coordenadas geográficas: S – 11º45’ e W – 61º45’.
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Segundo dados obtidos na SEDAM (2008), o município é formado por terras de média
e baixa fertilidade, de textura média a grossa, com presença de cascalho, a predominância é
do tipo Podzólico vermelho amarelo estrófico, com zonas de solo arenoso e mancho de terra
roxa. A vegetação dominante é a Floresta Equatorial Amazônica com presença escassa de
campos e cerrados, o que faz dela uma região com vários tipos de biomas, sendo assim há
grande diversidade de flora e fauna.
Para realização desse trabalho, em primeiro lugar foi feita uma coleta de dados
epidemiológicos em busca de informações que contribuíssem com a pesquisa, no município
de Rolim de Moura, Estado de Rondônia.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, ocorrem, por ano, entre 19.000 a
22.000 acidentes ofídicos com aproximadamente 115 óbitos. A maioria destes acidentes deve-
se a Serpentes do gênero Bothrops e Crotalus (FEITOSA, MELO e MONTEIRO, 1997.p.2).
Sabe-se que a ocorrência dos acidentes ofídicos está, em geral, relacionada a fatores
climáticos e aumento das atividades humanas nos trabalhos de campo no Nordeste (ARAUJO,
SANTALUCIA e CABRAL, 2003.p.6).
Após coleta e tabulação dos dados coletados nos prontuários dos pacientes cedidos
pela Secretaria de Saúde do Município de Rolim de Moura, RO, em relação aos acidentes
ofídicos, percebe-se que a maioria dos casos ocorre em pessoas com faixa etária entre 10 e 29
anos (n=36) – (Figura 02).
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Nº de casos
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1a9 10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79
Intervalo de idade
Figura 2 – Número total de casos de acidentes ofídicos em relação a idade dos pacientes atendidos no
período entre 2000 2 2007.
considerar que a idade dos indivíduos vem a ser um importante indicativo na caracterização
epidemiológica dos acidentes ofídicos.
3.2. Sexo
Em relação ao sexo dos pacientes picados por serpentes, cujos acidentes foram
notificados pela Secretaria Municipal de Saúde do município de Rolim de Moura, Rondônia,
existe predominância em relação aos indivíduos do sexo masculino. Do total de 83 casos
notificados com serpentes, 60 (72,3%) são referentes ao sexo masculino e 23 (27,7%) ao sexo
feminino.
Observa-se na Figura 3 que em todos os anos analisados o percentual de pacientes do
sexo masculino foi superior ao do sexo feminino. Percebe-se também que o número de casos
de acidentes com pacientes do sexo masculino foi maior nos anos de 2004 e 2005. De maneira
geral para o Brasil, a maior parte dos acidentes envolvendo serpentes ocorre com indivíduos
do sexo masculino (ARAÚJO, SANTALÚCIA e CABRAL, 2003).
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Nº de Casos 6
4
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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Ano
Masculino Feminino
Figura 3 – Número de casos de acidentes ofídicos em relação ao gênero dos pacientes analisados no
período de 2000 a 2007.
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Nº de Casos
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3
2
1
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Ano
Figura 04. Freqüência por ano em relação ao local de residência dos pacientes que sofreram acidentes
ofídicos no período de 2000 a 2007.
Local da Picada 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Total
Ign/Branco* 1 0 0 0 0 6 2 0 9
Cabeça 0 0 0 0 1 1 0 0 2
Braço 0 0 1 1 0 0 0 0 2
Ante-Braço 1 0 0 0 0 0 1 1 3
Mão 1 2 1 0 3 1 0 0 8
Dedo da mão 0 0 2 0 1 0 0 1 4
Coxa 0 0 0 0 1 1 0 0 2
Perna 1 0 1 3 6 3 3 3 20
Pé 2 4 6 4 4 3 0 4 27
Dedo do pé 1 1 2 0 0 0 1 1 6
Total 7 7 13 8 16 15 7 10 83
* Ignorado/Em branco
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Número de Casos
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8
6
4
2
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Ano
As serpentes podem ser classificadas em dois grupos básicos: as peçonhentas, que são
aquelas que conseguem inocular seu veneno no corpo de uma presa ou vítima, e as não
peçonhentas, ambas encontradas no Brasil, nos mais diferentes tipos de habitat, inclusive em
ambientes urbanos. A serpente peçonhenta é definida por três características fundamentais:
presença de fosseta loreal; presença de guizo ou chocalho no final da cauda; presença de anéis
coloridos (vermelho, preto, branco ou amarelo) (BUTANTAN, 2003.p.27).
As jararacas são encontradas, em sua grande maioria, em áreas mais limitadas, como
as áreas de mata, apesar de alguns tipos habitarem também zonas de caatinga e cerrado. No
Brasil, ocorrem entre 19 e 22 mil acidentes ofídicos por ano. São registrados anualmente
17.000 acidente botrópico com letalidade em torno de 0,6% dos casos tratados (BRAZIL,
1991). As serpentes do gênero Lachesis apresenta a cauda com escamas eriçadas como uma
escova. É a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5m. São
encontradas apenas em áreas de floresta tropical densa, como a Amazônia, pontos da Mata
Atlântica e alguns enclaves de matas úmidas do Nordeste (BUTANTAN, 2003.p.27). O nome
pico-de-jaca foi dado em virtude do aspecto da pele desse animal se parecer muito com a fruta
em questão (BUTANTAN, 2003.p.27).
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Nº de Casos
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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Ano
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Nº de Casos
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2
1
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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Ano
Ign/Branco 0-1 horas 1-3 horas 3-6 horas 6-12 horas 12 e mais
Figura 07. Tempo decorrido entre a picada e o atendimento dos pacientes no período entre 2000
a 2007.
3.8. Soroterapia
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Nº de Casos
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4
2
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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Ano
Figura 08. Recebimento de soroterapia contra acidentes ofídicos nos pacientes atendidos no
período de 2000 a 2007.
Vital Brazil em suas experiências descobria que a única arma contra o envenenamento
ofídico era o anti-veneno especifico (o soro obtido a partir do veneno do animal que causa o
acidente e neutraliza a ação desse veneno), então deu-se prosseguimento à preparação de
soros antiofídicos, para atender ao grande número de acidentes com serpentes peçonhentas, já
que o Brasil era um país com grande população rural (BOCHNER e STRUCHINER,
2003.p.4). O Soro é produto de origem biológica (chamados imunobiológicos) usados na
prevenção e tratamento de doenças. A diferença entre esses dois produtos está no fato dos
soros já conterem os anticorpos necessários para combater uma determinada doença ou
intoxicação (BUTANTAN, 2003.p.13).
251
Os soros são utilizados para tratar intoxicações provocadas pelo veneno de animais
peçonhentos ou por toxinas de agentes infecciosos, como os causadores da difteria, botulismo
e tétano. A primeira etapa da produção de soros antipeçonhentos é a extração do veneno -
também chamado peçonha - de animais como serpentes, escorpiões, aranhas e taturanas. Após
a extração, a peçonha é submetida a um processo chamado liofilizacão, que desidrata e
cristaliza o veneno (BUTANTAN, 2003.p.14).
Referente à evolução dos casos de acidentes com serpentes, a maioria evoluiu para
cura, porém houve um caso de óbito no ano de 2003, conforme ilustrado na Figura 09.
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Nº de Casos
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8
6
4
2
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Ano
Figura 09. Evolução dos casos dos pacientes atendidos no período de 2000 a 2007.
letalidade geral de 0,46%, sendo a maior taxa observada entre acidentes causados por
Crotalus (5 óbitos-1%), seguido por Bothrops (10 óbitos-0,5%).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos dados apresentados pôde-se constatar que para o grupo das serpentes ocorreu um
número maior de casos com pessoas do sexo masculino, os acidentes foram causados em sua
maioria com serpentes do gênero Bothrops, trabalhadores rurais e com idades entre 10 e 29
anos.
Os principais locais de picada foram pernas e pés; o tempo decorrido entre a picada e
o atendimento prevaleceu entre 1 a 3 horas; os casos foram classificados entre leve e
moderados; a maioria das pessoas recebeu soroterapia, e quase todos os casos evoluíram para
cura, exceto um caso que levou a óbito.
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