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o desígner tem que lidar atualmente com a

crescente dinâmica do processo de concepçâo de


novos produtos e novos mercados, cuja
complexidade requer em contrapartida uma
correspondente atualização do seu conhecimento,
que deve estar voltado aos principais aspectos
estratégicos no desenvolvimento de benefícíos,
produtos e serviços inovadores. Para competir com
produtos globais de estilo e de moderna tecnologia,
o designar precisa dominar a linguagem da
inovação e compreender a necessidade de sua
atuação na estrutura do ramo de negócios, com
capacítaçào para atender às demandas dos
consumidores, com visões de liderança para criar
produtos significativos, interagindo no processo
crganízacíonal estratégico com propósitos de
sobreviver a desafios competitivos. Na sua
atuação gerencial precisa ainda iniciar e
manipular estratégias de desígn através de
processos de decisões, implementação e
o DESIGN COMO
comunicação, conhecer a experiência de clientes
e supervisionar a concepção de atributos "tangíveis"
e "intangíveis" visando a qualidade dos produtos. DIFERENCIAL COMPETITIVO
O desígner deve ter uma visão clara do processo de
desígn e das diferenças de linguagem e culturas,
sem perder sua relação com o contexto em que atua,
aumentando a eficiência da sua participação no
mercado de trabalho. Neste novo livro sâo o processo de design desenvolvido sob o enfoque
apresentados os resultados atuais de um trabalho
que soma a experiência profissional com atividades da qualidade e da gestão estratégica
de pesquisa que muito tem a contribuir para a
gerência de desígn, a educação de designers e a
gerência de projetos de desígn de produtos, nos
quaís a atuação do desígner é fundamental
para impulsionar a inovação. O trabalho conjunto
de pesquisa que realizamos na COPPE/UFRJ
possibilitou compreender como o desenvolvimento
do desígn no Brasil torna-se um aspecto relevante
nas atividades de ensino, com a necessidade de
estímulos para manter a qualidade do desígn
como estratégia competitiva no meio produtivo e
reforçá-Io com o melhor nível profissional possível.
Nesse sentido, as idéias aqui expressas são de
grande beneficio para os desígners que desejam se
atualizar com novas informações, utilizando-as
como um instrumento para gerenciamento de um
processo criativo ainda pouco explorado e
subutilizado na solução de problemas, para que
possa se constituir em um valor observável pelo
consumidor, tendo o desígn como elemento
essencial às estratégias de planejamento e
desenvolvimento num nível mundial.

Prof. Dr. Estevão Medeiros


Desígner Industrial, Professor COPPE/UFRJ
o DESIGN COMO

DIFERENCIAL COMPETITIVO

o processo de desigr: desenvolvido sob o enfoque


da qualidade e da gestão estratégica

FLÁ vro ÁNTHERO DOS SANTOS

2000
biblioteca -.:e
UNrVJ\LI
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAí
Rua Uruguai, 458 - Caixa Postal, 360
88302-202 - ltajai - Santa Catarina
e-mail: proppex@univali.rct-sc.br
.s.
ctes. 1~

data
ª::-~"'--2,-. -Q/X-. 0-~
:21;30.1 06
Reitor Conselho Editorial
Edison Villela Edison dÁvila
Vice-Reitor Geremias Moretto
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Pós-Graduação e Extensão Marcus Pollete
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Sueli Petry da Luz Valdir Cechinel Filho
Pró-Reitor de Administração Vera Teresinha de Araújo Grillo
Danilo Melirn Wagner Teixeira Ferreira

SS9 ,I Santos, Flávio Anthero dos, 1971


O Design como Diferencial Competitivo I Flavio
Anthero dos Samos.-. Itajai, Editora da Univali, 2000

114 P
ISBN 85086447-42-0

I. Desenhistas industriais - Orientação profissional.


2. A.1e Comercial. 3. Produtos Novos. I. Título.
CDU: 74

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Univali

Filiada a

el
editora da ~ ~3e'
Univali , Associação Brasileira das
,. .•.,....,(
Editoras Univcrsirãrias

Editora da Universidade do Vale do ltajaí


Coordenador: ------------------ Osmar de Souza
Capa: ----------------------------- Flavio Anthero dos Santos
Projeto Gráfico: ---------------- Marcos Paulo Ferreira
Revisão: ------- ..---------------- Osmar de Souza
Secretária: --------------------- Sueli Pereira da Silva There's so many different worlds
Colaboradores: -----------------José Isaías Venera,
Ricardo Erick Rebêlo 80 many different suns
LIVRARIA DA UNIVALI
Responsáveis: .Iuliana Proves i de Morais, And we have just one world
Mirian 1'. de Melio do Amaral
But we live in different ones"

2000 (Mark Knopf1er, 1984)


ÍNDICE

PREFÁCIO 09
INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO 1
O DESIGN DE PRODUTOS 19
Definições e Conceitos 19
Design: Um Sistema Processador de Informações 23

CAPÍTULO 2
A QUALIDADE DOS PRODUTOS 29
Definições e Conceitos 29
Produtos: Bens de Consumo e Serviços 29
Microprocessos e Macroprocessos 30
Processos e Funções 31
A Qualidade dos Produtos 33
Avaliando a Qualidade dos Produtos 34
O Planejamento da Qualidade 37
Clientes e Mercados 39
As Necessidades dos Clientes 41
Normas ISO e Certificação 43
CAPÍTULO 3 PREFÁCIO
GESTÃO ESTRATÉGICA DO PROCESSO
DE DESIGN 47 Quando em 1998 conheci o Flávio conversamos um
I uco sobre quais seus objetivos e já em nossa primeira
Uma Pequena História 47
.onversa ele falou de como faria para sua dissertação de
Três Exemplos 58 me trado virar um livro. Alguns meses depois ele a defendeu
EUA 59 c o primeiro passo foi dado. Depois desse, muitos outros
Alemanha 60 foram dados no amadurecimento de seus conceitos sobre qual
a principal função do design no mercado atual. Acredito ter
Japão 61 contribuído para ampliar esses seus conhecimentos como ele
As 4 Eras 65 contribuiu para ampliar os meus.
O lançamento desse livro deve ser um marco para a
Design Estratégico 72
história do design, pois é surpreendente que uma Universidade
12 Pontos Principais 84 nova como é a UNIVALI que tem um curso de design ainda em
CAPÍTULO 4 formação já possa ter produção científica desse porte.
A UNIVALI deve orgulhar-se de possuir em seu
O DESIGN DE PRODUTOS EM AMBIENTE quadro docente um profissional como o Flávio que
DE MELHORIA CONTÍNUA 95 demonstra nesse livro a importância de uma profissão nova
Clientes e Usos dos Produtos 98 como o design no contexto das modificações radicais pelas quais
o mundo está passando. O livro traz uma visão abrangente
Base Conceitual para Desenvolvimento
sobre como o design deve atuar no sentido de dar aos novos
Estratégico de Produtos 102
produtos e serviços um diferencial que possa deixá-Io à frente
Foco no Cliente e Orientação pelo Mercado 103 de seu tempo e de seus concorrentes.
Envolvimento da Organização: Pessoas e Processos. 103 Após ler este livro, que pode servir de livro texto pra
qualquer disciplina que envolva gestão, com certeza a
Planejamento Estratégico 104 importância do desig» no processo ficará bem mais evidente para
Uso da Tecnologia Adequada 104 o leitor.
É sempre um prazer ter como colegas de trabalho, forma-
Sistema Eficiente paraTratamento e Disseminação
ção e profissão pessoas com as qualidades que o Flávio tem,
da Informação 105
eles nos trazem um diferencial competitiuo enorme.
Documentação do Projeto 106
CONCLUSÃO 107 Balneário Camboriú
Primavera de 2000
APÊNDICE 111
Prof. Luiz Salomão Ribas Gomez, MSc.
Estudo de Caso 111 Coordenador dos Cursos de Design
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 119 Universidade do Vale do Itajaí
INTRODUÇÃO

o presente livro é o resultado de diversas experiên-


cias somadas. A primeira se refere à própria vivência de
estudante da Escola Superior de Desenho Industrial,
onde além das atividades acadêmicas básicas tive a
oportunidade de desenvolver dois anos de pesquisa de
iniciação científica, estágio interno e monitoria na
disciplina de Metodologia Visual.
A segunda se refere às atividades de desenvolvimento
de projetos e gestão de um escritório de design, incluindo
todas as suas nuanças e vertentes: atendimento
a clientes, gerência dos processos administrativos,
contabilização de lucros e despesas, elaboração de
parcerias com fornecedores e prestadores de serviços,
, tratégias de divulgação e marketing e até mesmo
'I elaboração de projetos! A terceira experiência é
r clacionada aos dois anos e meio de pesquisas e estudos
pura a elaboração de uma tese de mestrado que originou
boa parte desse trabalho. E por último à recente experi-
-I) ia de lecionar no Curso de Design da Univali que veio

11 con olidar o referencial teórico e prático aqui exposto.


1\ premissa básica aqui apresentada é de que o
o de design tem se transformado, cada vez mais,
!lI () . 'S

('11\ 11m dos principais diferenciais de qualidade que um


piO luto ou empresa podem ter, gerando vantagens
1'(lIIIP' itivas, valores agregados e melhor posicionamento

dI' 1'1'0 lutos c marcas com relação aos seus competidores


111) 111 .rca lo.
Porém, os programas e processos que visam implan- de uma abordagem que poderíamos definir como Gestão
tar qualidade nas empresas, geralmente, são focados nos Estratégica do Design .
aspectos gerenciais e administrativos, produtivos e Dentro dessa perspectiva, ocorre uma busca cada vez
atendimento, satisfação, retenção de clientes - fazendo maior por parte das organizações produtivas de ferramen-
com que o design fique restrito à apenas uma pequena tas e metodologias que ajudem a desenvolver
parte do esforço de se desenvolver, produzir e vender um diferenciais competitivos com o objetivo de destacar seus
produto. Em geral, o design entra nesse processo quando o produtos da concorrência.
mercado, cliente, atributos do produto, processo
Só que esta fórmula não é tão simples quanto
produtivo, dentre outros, já estão definidos. Fica restando
parece. A absorção do design pelas organizações requer
ao design uma atividade de "maquiar" o produto,
que toda a estrutura gerencial relativa a projeto,
desenvolvendo o aspecto formal de modo a torná-Io atra-
produção e atividades afins, seja alterada, permitindo que
ente, dentro de características preestabelecidas. Esse erro
o design participe de todo o processo, desde o início até
é muito comum e faz com que as empresas que já
a venda, pós-venda, desuso e reciclagem; caso contrário,
atingiram bons resultados qualitativos nos setores
a inserção dessas ferramentas e metodologias de design
produtivos, gerenciais e afins, produzam com excelência
pode não vir a agregar valor ao processo, criando mais
produtos não tão excelentes assim.
problemas para a organização. Percebe-se, então, que
Levando-se em consideração o fato de que a O ambiente e a estrutura organizacional devem estar
qualidade tem relação direta com o faturamento de uma preparados para a absorção dessas novas tecnologias de
organização e que esse faturamento está ligado com I senvolvimento de produtos, principalmente no que
a capacidade da mesma em produzir e disponibilizar seus .o n cer n e ao preparo e treinamento das pessoas
produtos para o mercado (sejam estes produtos bens ou . profissionais envolvidos, fazendo com que determina-
serviços) - e vendê-los - podemos concluir que a relação das barreiras à mudança se transformem em elementos
que se estabelece entre produto e qualidade tem que ser I'n ·ilitadores.
muito íntima, proporcionando condições adequadas para
Analisando as relações existentes entre o processo de
que a organização obtenha sucesso na busca de seus
Ik.l'iKI/ de produtos e o atual movimento da qualidade com
objetivos.
1111:-; técnicas, metodologias e ferramentas, determinando
Assim sendo, o papel comumente atribuído ao dl' que maneira um tem influenciado o outro e em que
processo de desigr: - o de "maquiador de produtos" - mais mnm .nto dentro das organizações esses processos têm
uma vez se mostra completamente ineficiente, fazendo
.ul o .o mp a t ib il izad o s de modo a tornar mais
com que as organizações passem a repensar o design
Id('qllados os produtos por elas produzidos, poderemos
de produtos como um processo fundamentalmente
1111('1\ I 'r a importância estratégica do designo
importante e um fator crítico para o seu sucesso, dentro

12 13
Primeiramente, será abordado o processo de design sendo que o principal responsável por esse fenômeno
de produtos, suas definições conceitos, as dimensões é a evolução da tecnologia. Como o design é uma área de
que o desigll de produtos pode vir a assumir nas organiza- conhecimento intrinsecamente tecnológica, a formação
ções e a formação do designer brasileiro como agente e e a atuação do designer vêm sendo colocadas em xeque
responsável pelo uso e inserção de novas tecnologias em a cada momento, toda vez que surge um novo material,
sua atuação profissional. um novo processo de fabricação ou uma mídia nova.
Posteriormente, essa análise será ampliada para a área E dentro de todo esse processo de transformações
da qualidade industrial, em que serão estudadas diversas pelo qual passamos atualmente não podemos nos
definições, as metodologias e ferramentas para inserção esquecer que existem pessoas que irão comprar e utilizar
dos conceitos da qualidade dentro do processo esses produtos e serviços e, conseqüentemente, todas
de design de produtos, as formas mais adequadas para se essas tecnologias novas. Como foi definido pelo Centro
medir a qualidade dos produ tos - uma vez que de Pesquisas da Xerox (PARC-Palo Alto Research Center)
a medição é o processo chave para qualquer transforma- como seu principal lema, "tecnologia boa é tecnologia
ção - assim como veremos, também, normatização invisível", ou seja, somente poderemos desfrutar de uma
e certificação. tecnologia em toda a sua plenitude quando não mais
percebermos que ela está lá. A mesma analogia pode
Com base nas informações e dados coletados nas
ser feita com relação aos óculos: a pessoa que está usando
fases anteriores poderemos estudar de que maneira
esses dois processos têm interagido entre si - o design não o vê. Vê apenas o mundo à sua frente. E todos esses
desafios se somam, a cada dia, à atividade de design,
e a qualidade - observando a evolução dessa relação
tendo uma clara repercussão no mercado de trabalho
através dos tempos e das diversas fases industriais
e no ensino, por isso, não podemos dissociar esses dois
detalhando a importância da Gestão Estratégica do Design:
temas.
Esses conceitos serão desenvolvidos em um estudo
Como é uma atividade recente no país, somente
de caso que exemplificará como uma típica indústria
através de muito debate, incentivo à pesquisa
nacional tem reagido a todas essas modificações
e aperfeiçoamento do ensino e prática do design é que os
e evoluções do mercado nacional e internacional e de que
profissionais e empresas da área poderão demonstrar o
maneira o design e a qualidade têm atuado como
diferencial para o sucesso de seus produtos. quanto competente e fundamental é a sua atuação para o
crescimento das organizações.
Atualmente, podemos observar de forma clara
a passagem da sociedade industrial para a sociedade Nesse momento, então, não existirá muita relevância
da informação, onde o livre comércio global é decorrência em se debater a interferência de outras áreas
da aliança entre as telecomunicações e a economia, ou profissionais no mercado de trabalho do design pois a

14 15
competência estabelecida criará naturalmente essas fron- em nível de ensino, mas em nível de desempenho
teiras que serão respeitadas tanto por profissionais dessas de- e capacitação do profissional do designerque já está atuan-
mais áreas quanto por empresários e mercado em do no mercado. Os programas de incentivo e apoio ao design, as
geral. O design terá determinado, através da postura de premiações e selos de design e de qualidade podem ser
seus profissionais, seu espaço e sua importância dentro um começo. E é assim que também queremos que esse
do mercado competitivo que se apresenta atualmente. livro seja avaliado: como uma pequena contribuição para
Como observa SOUZA (1996), com o modernismo o desenvolvimento e constante aperfeiçoamento dessa
algumas profissões estáveis e reconhecidas, passaram a tão fascinante área de conhecimento humano: o designo
prevalecer sobre outras menos "sérias". Dizer que um
indivíduo é médico, engenheiro ou advogado não
admite qualquer equívoco. Todavia, chamar alguém
de filósofo ou artista pode conter alguma ambigüidade
e, de acordo com a ocasião, isso pode ser um fator negati-
vo ou positivo. O mesmo autor segue afirmando que
as profissões podem revestir-se, ou não, de importância,
de acordo com a direção traçada por alguma ordenação
política e, conseqüentemente, o ensino dessas profissões
reveste-se, ou não, de nuanças e características mais ou
menos ricas. No caso específico do design, percebe-se que
sua valorização coincide sempre com momentos políticos
em que sua inserção pode tornar-se útil a interesses muito
claros de setores determinados das políticas
industrialistas.
Assim, mostramos e colocamos em debate a teoria
de que o processo de design de produtos, quando
utilizado de forma estruturada e com importância
estratégica dentro das organizações, é capaz de ser um
dos principais diferenciais competitivos que um produto
precisa para garantir reais vantagens sobre os concorrentes.
Mas para que essas mudanças realmente ocorram
muitas transformações devem ser implementadas não só

16 17
o DESIGN DE PRODUTOS

DEFINIÇÕES ECONCEITOS,--------

Definir e conceituar a atividade de design é um tra-


balho já exaustivamente realizado, mas parece que em
nenhum momento qualquer das definições e conceitos
até hoje desenvolvidos conseguiram abordar o design em
toda a sua plenitude, mesmo porque essa atividade está
em constante mudança, sofrendo transformações contínuas.
ALGUMAS DEFINIÇÕES NOS PARECEM INTERESSANTES características dos mesmos, exigidas para a satisfação dos
E GOSTARÍAMOS DE ANALISÁ-LAS: '-~i{entes.~~Nesse caso, existe uma separação entre
desenvolvimento de produtos e projeto de produtos.
De acordo com esse conceito, as necessidades dos
Segundo JENS BERNSEN (1987), o design é uma clientes devem ser levantadas como pré-requisitos para
forma de definir a qualidade dos produtos e da comuni-
o projeto do pr odu co. Na verdade, essa separação
cação da empresa, ativando o gerenciamento de seus
demonstra a importância que a pesquisa sobre as
recursos criativos e suas competências. É tipicamente
necessidades do mercado tem com relação à definição
o design como agente da interface que coloca, de um lado,
das características dos produtos e com o processo de designo
os produtos e organizações e, do outro, os consumidores,
usuários e mercado em geral. De acordo com esse Ainda na área conceitual, segundo o designer
pensamento, podemos verificar a estreita relação que japonês KENJI EKUAN (1996), o design faz a ligação
é colocada entre design e qualidade, deixando claro entre o plano físico e espiritual das pessoas. Analisando
o conceito de que a qualidade de um produto tem essa definição pela ótica ocidental podemos dizer que
relação direta com o seu designo o design é o responsável por satisfazer necessidades das
pessoas que muitas vezes não são tangíveis. Ou seja,
Sob o ponto de vista do designer americano IVAN
lcrerminado produto, através do seu design, passa
CHERMAYEFF (1996), às vezes, fazer design é não
ti iversas informações simbólicas - como a de status -
fazer muita coisa, apenas identificar um problema e
ti, penando um desejo de compra que vai além das
torná-l o mais simples. Seguindo a linha de que o design
deve ser objetivo e prático, sem necessitar de artifícios n . essidades físicas das pessoas, um desejo que se
('01 ca em um outro plano, aqui definido como plano
estéticos ou tecnológicos para mascarar determinado
produto, essa conceituação do design nos remete ao já espiritual, mas que pode ser representado de diversas
conhecido lema da "forma que segue a função" ainda mune iras, mostrando desejos de diversos tipos, não só
bastante difundido. ti . status, mas também de confiabilidade, segurança, etc.

Como nosso tema é a relação entre design e Ainda dentro do ambiente da qualidade temos um
qualidade, torna-se importante saber como o movimento 11 iagrama que mostra como o design atua dentro de
da qualidade define e conceitua o design.J:Je a!:.Drdo CQID ,i.'1 'mas de desenvolvimento de produtos (figura 1).
JURAN (1990), um dos principais teóricos da qualidade,_ Podemos perceber claramente nesse diagrama como
o desenvolvimento de produtos é o processo experimen- _ " nt ivi dade de design é uma peça chave dentro do
,tal de escolha das características dos mesmos que 11I()(,'s o de qualidade e responsável por trabalhar
correspcndcm às- es dos clientes, enquant2 .l ivr rsos aspectos do processo de desenvolvimento
--' --_._-~----
projeto de produtos é o -IQ.~~so de definição das
---------'--'- '-'-
111- pro lutos - como as características de manutenabilidade

20
21
e confiabilidade - de modo a torná-I o tecnicamente Todas essas definições, um tanto distintas entre si,
eficiente na medida em que o produto é facilmente foram selecionadas porque abordam o universo do design
encontrado (disponibilidade) e cumpre sua missão de diversos ângulos, sem deixarem de ser, ao mesmo tem-
(dependabilidade). Se esse processo de design for eficaz po, complementares.
teremos um custo adequado que tornará o produto
viável técnica e economicamente, pronto para ser consu-
c DESIGN: UM SISTEMA PROCESSADOR DE
mido. É o design sendo definido como parte integrante
INFORMAÇÕES
de um sistema, processando informações diversas
de modo a atingir a qualidade do produto final.
Com a análise dessas e de outras definições e
QUALIDADE SISTEMAS conceitos acerca da atividade de design, desenvolvemos
um enfoque em que o design é abordado como um
sistema processador de informações (figura 2).
Nesse sistema existe uma entrada e uma saída.
Design Tanto os insumos quanto os resultados desse sistema são
Disponibilidade Dependabilidade
do do
informações. Ou seja, o processo de design de produtos
Produto Produto
é alimentado por informações de especificações técnicas
(E ngenhari a/Pr o d ução/ Design Ind u strial/Materiais/
Ergonomia), informações acerca de mercados e consu-
midores (Marketing/Sociologia/Psicologia/Antropologia/
Economia) e informações estratégicas (Vendas/Distribuição),
dentre outras.
Após processar esses insumos, o resultado obtido não
é um produto ou um projeto. O resultado do processo de
design serão mais informações que irão identificar
determinado produto ou empresa no mercado,
posicionando-o com relação a concorrentes e consumi-
dores. Informações como, por exemplo, caro ou barato
(Custo Final), bonito ou feio (Estética), frágil ou durável
QUALIDADE PRODUTOS (Robustez), fácil de manter (Manutenabilidade), fácil de
Figura I. A relação entre qualidade dos sistemas e qualidade dos produtos encontrar (Disponibilidade), dentre outras.

22 23
Como podemos ver, a atividade de design de produ- objetivo de diferenciar determinado produto de seus
tos atinge diversos níveis e diversas áreas de atuação concorrentes. Na verdade, publicitária e mercado-
dentro de uma organização, o que a caracteriza como um logicamente falando, o design virou uma grande moda.
macroprocesso, ou seja, é um processo que interfere em Existem "hair-designers" - uma espécie de barbeiro
diversos outros processos menores, maiores e/ou de pós-moderno - produtos com design inteligente, design
mesmo porte. ergonômico, design robusto ou design arrojado. Robustez,
ergonomia, "inteligência" e demais adjetivos que a mídia
incorpora são, na verdade, características intrínsecas ao
CLIENTES/MERCADOS o:> ,.......-- o:> ESTÉTICA/CUSTO
próprio processo de designo Portanto, bastaria dizer que
ENGENHARIA - PRODLÇÁo/MATERUlIS o:> o:> ROBUSTEZ/CONFIABllIDADE-MANUTENABllIDADE
determinado produto têm ou não designo Ou melhor,
ERGONOMIA ~i o:> DISPONIBILIDADE
existiu ou não um processo eficaz de design no projeto,
o:> o:>
VENDAS/DISTRIBUiÇÃO USABllIDADE
desenvolvimento, produção e lançamento de determina-
ENTRADA SAíDA
do produto. Não há meio termo nem necessidade de
Figura 2. O design como um sistema processador de informações
adjetivos, o que nos leva a concluir que se muitas das
empresas presentes na mídia dessem ao design, dentro
Assim, fica difícil imaginar essa atividade sendo
de seus processos produtivos, a mesma importância que
executada por uma única pessoa, por um único designer:
dão à ele no seu marketing, com certeza estariam produ-
Na verdade, o design é uma atividade integradora
zindo e disponibilizando produtos muito melhores.
e compatibilizadora de diversos tipos de informações que
são necessários para se desenvolver e lançar um produto Empresas de diversos portes já entenderam esse
no mercado. conceito de desigr: há muito tempo, quando incorpora-
ram-no à sua realidade e aos seus mais diversos processos,
Mesmo em escalas menores, o designer nunca atua
tornando-se líderes de mercado e referência em designo
isoladamente, pois utiliza-se de diversos conhecimentos
Porém, em muitas empresas o design participa de apenas
que foram disponibilizados durante o passar do tempo
algumas etapas do desenvolvimento, projeto e lançamen-
por campos de conhecimento diversos. Ao consultar uma
to de um produto, geralmente quando já está tudo definido
tabela de variáveis antropométricas para definir um
e especificado, sendo chamado apenas para dar uma "cara",
â.n~ulo ou uma medida, o designer não deixa de estar par-
uma forma ao produto, ou desenvolver uma embalagem
ticipando de uma espécie de trabalho de equipe.
ou uma marca, terminando, assim, o produto e determinan-
Portanto, conceitualmente, o design não pode ser
do sua curta existência.
definido como uma atividade isolada, mesmo que, atual-
mente, a mídia venha se utilizando amplamente de Na verdade, o conceito de design é muito maior do que
conceitos errados acerca do design de produtos com o apenas isso. De acordo com as mais modernas técnicas

24 25
e ferramentas de projeto e de gestão, o design deve estar diversas, ou seja, pensam globalmente, mas agem
presente desde o início do processo de concepção do pro- localmente.
duto, na determinação de seu mercado e das necessidades Com essas definições e conceitos acerca do design
e expectativas de seus futuros consumidores, até a podemos comprovar a importância de sua atuação para a
reciclabilidade, passando por todas as etapas necessárias. qualidade dos produtos, além de constatar que essa é uma
Assim, o design passa a atuar, dentro desse sistema atividade intrinsecamente tecnológica: mesmo que esse
complexo e altamente multidisciplinar, como um ele- produto seja uma peça gráfica - design gráfico - o processo
mento de integração, como uma ponte - como define o
designer americano ROBERT BLAICH (1996) que
-
.•. de "criação" envolve muito mais fatores técnicos do que artísti-
cos, trabalhando junto a diversas áreas afins.
durante anos esteve à frente do Departamento de Design
A atividade de "criação" desenvolvida dentro do
da Philips - que irá ligar e traduzir diversas linguagens,
processo de design é condicionada por diversos fatores
que são as diversas áreas de conhecimento envolvidas,
limitadores do projeto (processos de fabricação, recursos
em uma só: a qualidade do produto final e a satisfação do
disponíveis, tecnologia, materiais, erc.) e é sempre
cliente.
direcionada para um, ou mais, clientes, ao contrário do
Ainda segundo BLAICH, o desigll é a ponte que in- processo artístico. Além de, no desigu. esse processo ser
tegra marketing, engenharia e pesquisa, devendo estar regido por métodos específicos de projeto, metodologias
na liderança desse processo, pensando globalmente e ferramentas que fazem com que a solução criativa seja,
e agindo localmente. O design de puro styling já não é mais na verdade, mais o resultado de um trabalho estruturado e
suficiente, devendo ser encarado como uma sistemático do que o resultado de uma inspiração isolada.
atividade estratégica e fator crítico para o desempenho
Todavia , o conhecimento das artes e de suas mais
da organização e seus produtos. O pensamento deve ser
diversas formas de expressão constituem uma fonte muito
global porque as condições atuais exigem e fica cada vez
importante de referências que irão ajudar os designer: a formar
mais difícil, em qualquer ramo de atividade, atuar
seus próprios repertórios, principalmente no que concerne
isoladamente e sem referência no que está sendo
à parte estética, formal e conceitual do seu trabalho.
realizado pela concorrência e pelo mercado em geral.
E a ação deve ser localizada porque, apesar da economia Portanto, a fusão, ou confusão, que comumente é feita
ser global, os mercados são locais e têm exigências entre desigll e arte deve ser definitivamente resolvida.
e preferências individualizadas. O mesmo alimento Esse problema se mostra presente desde o início da
produzido e vendido no mercado nacional necessita de atividade no Brasil, o que pode ser comprovado ao se
embalagem diferenciada se for expor tad o para o analisar a dificuldade que havia para se definir o primeiro
mercado do oriente médio, por exemplo. Muitas currículo da Escola Superior de Desenho Industrial -
multinacionais atuam em mercados diversos sob marcas primeira instituição a ensinar design em nível superior no

26 27
Brasil - pois algumas correntes de pensamento
defendiam uma aproximação maior com as artes plásti-
cas e outras com a área tecnológica. O design de produtos
é uma atividade tecnológica por excelência e deve ser
assim encarada por designers, empresários, demais
profissionais e mercado em geral.
Observamos, então, que a atividade de design de
produtos assume, cada vez mais, um papel de elevada
importância dentro dos processos de qualidade atuais -
um papel estratégico - baseando-se no atendimento total
ao cliente, em inovações a ritmo rápido, e na transforma-
ção dos sistemas de produção, aspectos que envolvem, A QUALIDADE DOS PRODUTOS
diretamente, a integração dos processos de concepção e
I de produção para gerar novas soluções, sem deixar de ter
claramente, durante todo o tempo, qual a missão, qual o
-
I
! objetivo do seu designo Ou seja, o design "gratuito",
i
meramente estético, decorativo ou elemento publicitário
não tem mais lugar em organizações competitivas e em
mercados cada vez mais exigentes. O design deve ser
planejado estrategicamente com um objetivo determi-
nado: a qualidade do produto com relação à sua
adequação ao uso. Afinal, como exemplifica EKUAN DEFINIÇÕES
ECONCEITOS--------
(1996) "se você precisa ir de um ponto ao outro rápido,
você precisa de um carro. Se você precisa ir de um ponto ao
outro, mas sem ser rápido, você precisa de duas pernas ...". PRODUTOS: BENS DE CONSUMO E SERVIÇOS

Quando nos apropriamos de conhecimentos típicos


de uma determinada área de atuação torna-se necessário
deixar claro certos conceitos por ela utilizados. Dentro
da abordagem da qualidade, quando se fala em produtos,
estes poderão ser tanto um serviço como um bem de
consumo, ou seja, produto é tudo aquilo que sai de um
processo prod u tivo.

28
A principal diferença que distingue o produto "bem PROCESSOS E FUNÇÕES
de consumo" do produto "serviço" é que esse último tem,
durante seu processo produtivo, a presença do cliente ou
usuário final em pelo menos uma das etapas produtivas. Até algum tempo atrás a maioria das organizações
Esse trabalho tem seu enfoque direcionado para os bens gerenciavam o projeto e desenvolvimento de seus
de consumo, todavia a maioria dos pontos aqui aborda- produtos através de funções:
dos podem, e devem, perfeitamente ser aplicados à
indústria de serviços.
~ a função de marketing

MICROPROCESSOS E MACROPROCESSOS
~ a função de engenharia
~ a função de vendas
~ a função de produção, dentre outras.
As organizações produzem diversos tipos de produ-
tos em diversos processos produtivos. Quando o departa-
mento de pessoal gera uma folha de pagamentos, ele Porém, para que esse produto ficasse pronto para ser
gerou um produto e, assim, sucessivamente em todas as consumido, essas funções tinham que interagir entre si
atividades necessárias para a existência de uma em diversos níveis e estágios da produção. Só que essas
organização. relações eram rnantidas estáticas e separadas, cada uma
Os processos que geram os produtos vendidos aos atuando ao seu tempo e executando as tarefas inerentes
clientes são macroprocessos, uma vez que passam por à sua função. Se algo desse errado, com certeza iria
diversas atividades e áreas funcionais distintas dentro de sempre existir uma função anterior ou posterior que não
uma organização (ex.: projeto e desenvolvimento foi realizada a contento.
de produto, marketing, engenharia, produção) e por isso
A partir do momento em que as organizações passam
mesmo são considerados fatores críticos de sucesso, uma
a gerenciar suas atividades através de processos e não mais
vez que em cada uma dessas áreas existem peculiarida-
des e problemas particulares a cada uma delas. Se esse de funções, muitas relações que existiam anteriormente
macroprocesso não for bem gerenciado, todos os são questionadas e reavaliadas. Os processos sempre
problemas que surgirem durante seu percurso irão afetar existiram dentro das organizações, mas eles não eram
a qualidade final do produto. Por isso afirmamos, no "enxergados" e gerenciados a contento, até mesmo
início, que para uma empresa adotar o design como uma porque isso iria afetar o jogo de poder e política que
atividade estratégica e fundamental para o seu bom sempre existiu entre as funções e seus respectivos
desempenho, toda a sua estrutura deve estar compatível chefes de departamento, que envolvia prestígio pessoal,
com essa mudança, já que o desigr: é um macroprocesso status que a função conferia às pessoas e maior facilidade
por excelência. para se eximir de possíveis falhas. Com isso, a qualidade

30 3.1
final do produto isolado mais importante - aquele que
gera receita para a empresa - era fortemente influenciada por
todos esses aspectos (figura 3).
IJ PROCESSO DE DESIGN
Organização

Processos Mercado
•••
Figura 4. O macroprocesso de design de produtos

Cargo

Figura 3. As funções e os processos.


A QUALIDADE DOS PRODUTOS

Como podemos presumir que o objetivo de qualquer


organização com fins lucrativos é ser eficaz em suas E O que seria exatamente essa qualidade do produ-
atividades, de modo a tornar seu produto competitivo to? Resumidamente, dentro do ambiente da qualidade,
e obter lucro, esse cenário passou a se mostrar ineficiente poderia se dizer que qualidade de produto é ADEQUA-
ocasionando sensíveis perdas de mercado a diversas çÃO AO USO. Se determinado produto é adequado ao
empresas, o que na maioria das vezes estava ligado uso que se propõe, logo ele tem qualidade. Todavia, essa
à perda da liderança em qualidade. Isso fez com que as ADEQUAÇÃO AO USO atinge diversos níveis e pode
organizações passassem a se organizar não mais por ser interpretada de diversas maneiras.
funções, mas sim, com ênfase maior nos processos, Esse USO ao qual o produto se propõe não pode
aqueles que realmente fazem surgir os produtos. ficar restrito única e exclusivamente ao uso final feito pelo
Assim, a gerência por processos cria um comprome- usuário ou comprador. Um produto só pode ser conside-
timento e um envolvimento muito maior entre as antigas rado ADEQUADO quando ele é projetado com relação
funções, criando um ambiente organizacional aos seus mais diversos "USOS".
extremamente propício para que o design possa se Por exemplo, ao se transportar, distribuir e vender
desenvolver de maneira eficaz, procurando atingir a um produto, ele deve ter sido projetado e planejado para
qualidade do produto final. que essas atividades possam ser realizadas da melhor

32 33 .
maneira possível, da maneira mais ADEQUADA. Ao se O modo com que se avalia a qualidade de um
efetuar uma manutenção preventiva ou corretiva ou ao se produto é fator chave para o processo de design, uma vez
reciclar um produto, ele também deve ser ADEQUADO que sem o processo de medição não se pode precisar o
a essas atividades. Portanto, o produto deve ser ADEQUA- que está certo e o que está errado. Sem medição não há
DO às mais diversas etapas do seu ciclo de vida para poder controle sobre o desempenho do produto e por conseqü-
ser considerado um produto de qualidade (figura 5). ência não se pode melhorar e aperfeiçoar continuamente
Ou seja, se a qualidade final do produto tem relação o processo de design, nem obter informações para o de-
direta com sua ADEQUAÇÃO AO USO, podemos dizer senvolvimento de um produto novo. Essa medição deve
que um produto tem qualidade quando ele for avaliado ser feita utilizando-se os instrumentos corretos na hora e
com relação a uma série de fatores e não somente no contexto adequado, sob pena das informações resul-
algumas características isoladas. ) tantes da pesquisa não terem o valor esperado.
Assim sendo, dependendo das referências e dos É muito comum os consumidores compararem e
instrumentos que forem utilizados, a avaliação da avaliarem produtos com direcionamento e objetivos
qualidade de um produto pode sofrer muitas variações. distintos, deixando-se influenciar por gostos estéticos
pessoais, "fidelidade" a uma determinada marca ou pelo
AVALIANDO A QUALIDADE DOS PRODUTOS custo final do produto - se é mais caro é melhor.
O profissional que trabalha na concepção e
desenvolvimento de produtos tem que ter amplo
A qualidade de um produto deve ser avaliada e
conhecimento de como o consumidor e o mercado
definida de acordo com uma série de características,
pensam, agem e avaliam os produtos. Costuma-se dizer
incluindo-se situações de uso. Não se pode simplesmen-
que a qualidade de um produto deve ser aquela que
te isolar um produto do seu contexto de utilização e
o consumidor deseja, ou seja, de nada adianta desenvol-
julgar sua qualidade, por mais que as empresas tentem
ver um alimento que mate a fome por um mês se tudo
fazer isso nas mais diversas mídias.
que o cliente deseja é esperar até o jantar. Todavia,
o designer deve ter consciência das variações que as
QUALIDADE = ADEQUAÇÃO avaliações feitas pelo mercado e pelos consumidores po-
PRODUTO AO USO dem apresentar e fazer com que a forma que ele avalia
o produto seja a mais próxima da que o cliente avalia.
~
Só assim poderá se desenvolver um produto que real-
I DIVERSOS USOS I mente atenda às necessidades e expectativas do merca-
~ do consumidor de maneira adequada.
Deve-se ter em mente que, sob o ponto-de-vista do
... '------' consumidor, o produto é avaliado com relação a algumas
Figura 5. Qualidade = adequação ao uso poucas características fundamentais de desempenho -

34 35
poucas, mas vitais - e que a empresa fornecedora desse o PLANEJAMENTO DA QUALIDADE
produto deve ter conhecimento dessas características por
eles percebidas. A forma com que a empresa mede tem
que estar estreitamente ligada à forma como o cliente Assim sendo, a maneira com que a organização
mede o produto, além da medição do desempenho com- planeja o seu processo de gestão da qualidade tem
petitivo, que é a comparação com a concorrência, o que fundamental importância para o seu sucesso, incluindo-
também é feito pelo cliente em tempo integral. se nesse planejamento o design, uma vez que as caracte-
rísticas dos produtos, sejam elas positivas ou não, terão
Muitas vezes um cliente está muito satisfeito com o
relação direta com a forma com que o planejamento foi
seu produto e vai, muito satisfeito, comprar com o seu
feito.
concorrente. Isso acontece porque ele comparou e achou
mais interessante a proposta do outro. A primeira compra Um planejamento da qualidade deficiente terá como
foi estimulada por diversos fatores como, por exemplo, resultado óbvio uma má qualidade, o que gera retrabalho,
qualidades percebidas ou divulgadas do produto altos custo e nível de desperdício, sem falar na perda de
(rnarketing), conhecimento da marca, opção estética ou valor agregado para os processos e produtos. Qualquer
econômica. Já a segunda compra terá como base a falha nesse processo poderá ser multiplicada geometri-
experiência acumulada durante a utilização do produto camente no que concerne à qualidade do produto final,
que será avaliado e comparado em tempo integral, influenciando decisivamente na relação custo-benefício
consciente ou inconscientemente. que deve ser equilibrada da melhor maneira possível
dentro desse planejamento. Nem tanto ao custo, nem
Observamos, então, que a qualidade do produto tem tanto ao benefício: mas à melhor equação entre os dois.
um aspecto dinâmico, e faz nascer um compromisso
Dentro desse cenário, podemos verificar que poucos
entre produtor/consumidor/fornecedor e demais envol-
profissionais de design têm conhecimentos específicos
vidos: Essa qualidade do produto é uma variável clara e
sobre planejamento da qualidade aplicada a produtos.
perfeitamente mensurável e, na maioria dos casos, está
Obviamente, se o conhecimento sobre o tema é escasso,
ligada diretamente ao valor custo-benefício do produto
a possibilidade de falhas é bem maior. Essas falhas de
final.
planejamento irão ter reflexos no desempenho do
Isso nos leva a concluir que a busca pela qualidade produto final que é o responsável direto pelo trinômio
deve ser um processo de melhoria contínua e que na vendas/faturamento/lucro da organização.
verdade a qualidade total não existe: alguém sempre pode
Esse planejamento deve ser realizado de forma
criar algo de novo que agregue mais valor ao seu produto estruturada e sistemática, com o auxílio de metodologias
do que o do concorrente, desencadeando uma nova bus- c ferramentas específicas que podem ser moldadas
ca pela mudança e conseqüente liderança do processo. de acordo com as características específicas de cada

36 37
----------------~._----_.----.--:~

projeto ou organização. Assim, poderemos ter claramen- características, e se temos conhecimento de que são
te definidas quais as metas da qualidade do produto que essas características que irão influenciar o cliente na hora
deverão ser atingidas para que ele seja ADEQUADO AO da compra, podemos concluir como esse planejamento
USO. é importante dentro do processo de designo
E essa é uma das etapas mais importantes: a defini- Muitas empresas alegam que sistemas de gestão da
ção das metas da qualidade. Essas metas devem ser as qualidade ou processos de desenvolvimento de produ-
metas de quem? Da empresa? Do designer? Afinal, quem tos nele baseados são caros de implantar, mas devemos
compra os produtos da empresa? Quem faz girar o ciclo ter conhecimento que, na relação direta, a maior
de vida do produto? O cliente é claro. qualidade custa mais caro (isso não é uma regra); as
Se o produto não for comprado, consumido, na práti- deficiências do produto, originadas em sistemas e pro-
ca, ele não existe. Existe apenas na teoria ou na pratelei- cessos inadequados, irão afetar claramente os custos e a
ra, se preferir. Então, é mais do que justo que essas me- venda, nesse caso, a qualidade maior custaria bem me-
nos (isso é uma regra).
tas da qualidade sejam as metas do cliente. Aliás, existe
um ditado na qualidade que diz: "se você quer ter
sucesso, pergunta ao seu cliente o que ele quer e dá a
CLIENTES E MERCADOS
ele 100%". Pode parecer fantasioso, mas algumas
grandes empresas, líderes em seus mercados, estão
conseguindo algo bem próximo dessa realidade.
Então, como iremos basear nossas metas da qualida-
Outro fator importante é que esse cliente não de do produto no mercado e nos clientes, temos que ter
está mais isolado do mundo, nem preso a uma determi- bem claro quem são eles (figura 6). O mercado podemos
nada empresa. Ele está inserido em um mercado cada definir como o meio-ambiente onde se encontra a orga-
vez mais competitivo e global. Então, ao se definir as me- nização, tendo como participantes, por exemplo, o go-
tas da qualidade do produto, que é uma responsabilida- verno, órgão reguladores, concorrentes e fornecedores. Os
de do departamento de projeto de produtos, devemos concorrentes podem estar atuando tanto na entrada como
ter claramente o foco no cliente, mas, sem deixar de lado, na saída, ou seja, se determinada empresa se utiliza das
a orientação pelo mercado (mercado mundial), para não mesmas matérias-primas que outra, apesar de fabricarem
termos nossos clientes indo comprar o produto do produtos distintos, elas também são concorrentes. Con-
concorren te. Ao ver apenas o cliente, deixamos correm pela entrada, pela alimentação do processo pro-
de observar o que está sendo feito pelos concorrentes dutivo. Isso vale também, e principalmente, para as ino-
e as principais tendências (tecnológicas, mercadológicas vações tecnológicas e informações estratégicas que ali-
etc.) - o que seria uma falha grave. mentam o processo.
Se temos conhecimento de que o planejamento da Os clientes, de um modo amplo, são todos aqueles
qualidade do produto irá afetar decisivamente suas que são impactados pelos produtos e/ou processos de uma

38 39
Poucas classes de produtos conseguem atingir mer-
organização, podendo ser divididos em cliente interno e
cados e consumidores distintos em tempo integral.
cliente externo - cliente não é só aquele que compra ou
A maioria dos produtos é segmentada por mercados
usa o produto (mais adiante essa definição de cliente será
diferentes que eventualmente contam com a participa-
melhor desenvolvida). Uma empresa que produz um
ção de um consumidor não esperado. Portanto, ao se
produto ou tem um processo produtivo prejudicial ao
definir metas e características, isso deve ser feito tendo
meio-ambiente acaba impactando, negativa e indireta-
como base os consumidores mais assíduos daquele
mente, uma série de outros clientes além daqueles que
determinado produto. Conhecê-Ios bem é fator
adquirem os seus produtos.
primordial.
Esses clientes externos que compram e consomem
FATORES POLíTICOS/
ECONÔMICOS/SOCIAIS o produto da empresa podem ser divididos, ainda, em
duas classes distintas: o cliente/comprador e o cliente/
ORGANIZAÇÃO PORTFÓUO
usuário. Em um determinado momento esses dois pa-
MERCADO ~
FORNECEDOR ~ SUBSISTEMAS INTERNOS DE PRODUTOS péis podem ser desempenhados por uma mesma pessoa,
caprtal ~
DOOO[] ~[t]OOIU ~ ~ todavia, em muitos casos, o cliente que compra o produ-
pessoas
materiais ~ MERCADO to não é o cliente que irá utilizá-lo. Essa diferenciação
RECEPTOR
tecnologia ~L.:::;::::::::::::::::~..!:;::;::::::~:;;;!....J torna ainda mais complexo o direcionamento e a alimen-
t_ FEEDBACK DO MERCADO tação do processo de design do produto que, para ser efi-
caz, deverá ser adequado a essas variáveis.
CONCORRENTES [NAS ENTRADAS E SAÍDAS)
Seguindo essa linha de raciocínio, a próxima e óbvia
Figura 6. Mercados e clientes (com base em RUMMLER, 1994) etapa é saber o que os clientes desejam, ou seja, quais
ão as suas necessidades. Isso pode ser feito de diversas
Conhecer o mercado onde a organização está inserida
maneiras, como, por exemplo, através de pesquisas de
e identificar os seus clientes são procedimentos básicos
mercado ou clínicas de produtos.
para o início do desenvolvimento de qualquer produto.
Outro conceito importante é o fato de que dentre
a variada gama de clientes que uma organização pode ter, As NECESSIDADES DOS CLIENTES/COMPRADORES E
existem alguns poucos e vitais que efetivamente CLIENTES/U SUÁRIOS
garantem a razão da empresa estar funcionando.
Ou seja, qualquer produto tem compradores fixos
Devemos ter bem claro que as necessidades huma-
e compradores eventuais. O ideal seria atender a todos
nas são ilimitadas, seja em volume ou em variedade, e
o tempo todo, porém, mercadologicamente isso
podem ser de vários tipos, inclusive aquelas que são
é inviável.

41
40
desconhecidas das próprias pessoas, e que se manifes- uma outra linguagem, ou seja, para cada necessidade -
tam apenas quando um novo produto é lançado, como que agora se transforma em uma meta a ser alcançada -
por exemplo, o walkman. deve haver uma ação específica para que ela possa se
É importante ressaltar que essas necessidades não tornar real. E isso deve ser feito de uma maneira precisa
são fixas e imutáveis, elas se transformam com o tempo e e eficaz, para que possa ser medido e avaliado.
acompanham o desenvolvimento das sociedades e cul- Quando não se consegue medir, não se pode avaliar
turas, obrigando as empresas a estarem sempre atentas de maneira adequada e, conseqüentemente, não se pode
ao que acontece nos mercados. Muitas empresas já fe- melhorar continuamente - não se pode girar o ciclo do
charam ou passaram por dificuldades por não percebe- PDCA - aqui aplicado ao ciclo de vida do produto.
rem a tempo as mudanças que se processavam, pensan- A medição do desempenho dos produtos tem o objetivo
do que seus produtos continuariam líderes de mercado a claro de assegurar que eles irão atender plenamente às
despeito de diversos outros fatores. necessidades dos clientes em tempo integral.
Ora, se já é difícil prever as necessidades do O ciclo do PDCA (figura 7) é uma criação do
consumidor, mais complicado é saber o quanto ele movimento japonês da qualidade e se refere ao ciclo de
deseja pagar pelo produto, ainda mais levando-se em vida de um produto no mercado, dividindo-o em quatro
conta que o objetivo do fabricante é maximizar a partes: o Planejamento, a Execução, a Avaliação e a Ação
diferença entre valor e custo. Caberia, então, aos designers, Corretiva. De uma maneira simplificada seriam as
a tarefa de interpretar a avaliação feita, por parte dos con- quatro atividades básicas necessárias para se garantir o
sumidores, da qualidade que eles desejam em determi- desenvolvimento, lançamento e manutenção de um
nado produto e criar soluções adequadas com custos atra- produto no mercado.
tivos, equilibrando o fator custo-benefício sem
colocar em xeque a qualidade.
NORMAS ISO E CERTIFICAÇÁO
Afinal, o trinômio qualidade, custo e prazo deve ser
alcançado ao mesmo tempo, como demandam os consu-
Quando abordamos o fato da qualidade ter relação
midores atuais. Conseguir cumprir o prazo às custas de
direta com as características do produto que serão deter-
baixa qualidade e alto custo, ou conseguir qualidade às
minadas durante o planejamento, com base no mercado
custas de alto custo e longo prazo, são atitudes
, nos clientes, devemos deixar bem claro que essa
impensáveis para as organizações líderes de mercado.
qualidade se relaciona diretamente com a qualidade do
Definidas as necessidades dos clientes, o processo projeto, não tendo nada a ver com conformidade de pa-
de design de produtos sob enfoque da qualidade deve Irão, conforme asseguram, por exemplo, as normas ISO
fazer com que essas necessidades sejam traduzidas para
série 9000.

42 43
PLAN - Planejamento: maneira mais organizada uma vez que ele será documen-
1 - O que fazer tado e sistematizado de uma maneira mais eficiente, o
2 - Como fazer que é muito importante, mas não é o bastante para
assegurar qualidade do produto final com relação às mais
DO - Executar: variadas exigências do mercado. Certificação pode ser um
3 - Educação e treinamento dos passos para iniciar uma organização na gestão pela
4 - Coleta de dados qualidade, mas com certeza não é o único nem o mais
importante.
CHECK - Verificar: As normas ISO série 14000 que tratam de qualidade
5 - Comparar o planejado com e impacto ambiental é que deverão ter um maior
o executado e positivo efeito na atividade de design, uma vez
que irá incluir ao processo de projeto e desenvolvimento
ACT- Ação: de produtos variáveis que não existiam em muitos
6 - Agir corretivamente sobre projetos até agora e que tratam da reciclabilidade, uso de
as diferenças materiais, emissão de poluentes e temas afins.
Figura 7. O ciclo do PDCA Com base nesses conceitos e definições podemos
concluir que a qualidade do processo de design reflete,
o fato de uma empresa estar certificada garante que claramente, a qualidade do produto final - a conformida-
ela desempenha seus processos (ou alguns deles) de de com o que foi planejado - definindo os requisitos ne-
acordo com algum padrão ou norma que foi estabelecido cessários para elaboração das especificações do produto
previamente. de acordo com as necessidades dos clientes e a orienta-
Isso irá garantir melhor funcionamento interno, um ção do mercado. Essa postura proativa, trazendo a quali-
sistema de documentação eficaz, além de criar um dade para o início do processo, fazendo certo da primeira
ambiente favorável para diversos conceitos da qualida- vez, é condição essencial para o sucesso de um produto,
de. Mas, de modo algum, uma certificação ISO assegura ao contrário de práticas de modificações incrementais, que
qualidade do produto final. muitas vezes não agregam valor, são limitadas e têm cus-
Por exemplo, uma determinada empresa pode ter o to elevado.
seu serviço de manutenção e assistência técnica certifi- Com base nesses conceitos abordados, muitas
cados, mas isso não garante que o produto final que é metodologias e ferramentas foram elaboradas com
comprado pelo mercado tem qualidade. o objetivo de permitir que o projeto seja iniciado tendo
No que tange à qualidade design, as normas ISO claros os objetivos e os atributos de qualidade
série 9000 garantem que o projeto será elaborado de uma do produto, a partir das necessidades dos usuários.

44 45
o uso desses métodos e ferramentas fortalece o
processo de desenvolvimento de produtos e permite uma
maior eficácia para alcançar o resultado desejado, fazen-
do com que o produto atenda às necessidades do cliente
e tenha uma considerável margem competitiva.

GEST ÃOESTRATÉGICA DO
PROCESSO DE DESIGN

UMA PEQUENA HISTÓRIA--------

Nessa etapa, iremos situar cronologicamente e traçar


um p.erfil de como o processo de design de produtos e
o movimento da qualidade se situaram historicamente
em nossa época, procurando entender como atingiram
o atual estado de importância dentro da sociedade
industrial, influenciando e determinando o sucesso
de produtos e organizações através de "leis e forças" de
mercado. Assim, poderemos entender como o design
,.
de produtos acompanhou o avanço tecnológico das eras /

moderna e pós-moderna, sua contribuição dentro desse

46
cenário e sua transformação em elemento estratégico para existia no trabalho artesanal: um total controle sobre to-
o sucesso dos negócios e diferencial competitivo dos produtos. dos os processos, de modo a torná-I os o mais eficiente
Podemos identificar, claramente, três grandes eras possível, assegurando que o produto final será adequado
tecnológicas na história recente da humanidade. para o consumo e uso, dentro de uma estrutura produtiva e
O século XVIII com a Revolução Industrial, seus gran- administrativa o mais horizontal possível e com contato
des engenhos mecânicos e o início do que poderíamos próximo com o cliente ou usuário final. Tudo isso eram
identificar como a mais próxima representação da econo- características do processo produtivo artesanal.
mia de mercado atual. O século XIX com a aplicação da O único fator que não existia como existe hoje é
máquina a vapor na geração de energia para produção a força do mercado e o controle deste por parte de uma
industrial e as transformações mais profundas e definiti- pequena parcela da sociedade. O sistema artesanal de
vas que se sucederam nos processos produtivos· , e , finalmente , produção começou a conhecer o seu fim justamente
o século XX em que a tecnologia dominante passou a ser a quando as forças de mercado começaram a privar o
busca, processamento e disseminação da informação. artesão do controle de todas as etapas do processo produ-
Anteriormente a essas eras supra citadas, a produção tivo. Primeiramente, o artesão perdeu o acesso fácil à
de bens de consumo e, por conseqüência, o processo de matéria-prima e, posteriormente, à comercialização dos
desigll de produto e as noções da qualidade eram atribui- eus produtos, ficando à mercê de atravessadores e inter-
ções dos artesãos, que se organizavam de maneira a mediários - leiam-se comerciantes - que passaram a
aperfeiçoar e transmitir seus conhecimentos em ontrolar justamente as entradas e saídas do processo
um sistema de mestre/aprendiz, em que o profissional produtivo artesanal. Restava apenas o controle sobre o
detinha o conhecimento técnico acerca de todas as processo produtivo propriamente dito.
etapas produtivas e de todo o ciclo de vida do produto. Nessa época, o surgimento do mercado como
Desde a seleção da matéria-prima, passando por afirmação da classe burguesa inicia a divisão social do
todas as etapas produtivas e chegando à comercialização uab al h o criando as bases para a implantação da
do produto, todas essas etapas eram de competência dos sociedade industrial. "O mercado transforma-se, assim,
artesãos que as controlavam e podiam, assim, garantir a em uma entidade universal através da qual os homens se
qualidade de seus produtos. O próprio movimento r conhecem a si próprios e se opõem a qualquer
recente da gestão pela qualidade costuma fazer analogias dispositivo imaginário que coloque a ordem social fora
em que situa a busca pela qualidade dos produtos e do âmbito desse novo universo".(DECCA, 1993).
serviços como uma volta ao período de trabalho artesão, Criado esse novo conceito de divisão social
colocando este último em local de destaque na história 10 trabalho, o dono do processo produtivo de então - o
da produção de bens e serviços. E na realidade, o que nrtesão - passou a depender da figura do negociante
a gestão pela qualidade busca é na sua essência o que capitalista que se interpôs entre ele e o mercado para

48 49
conseguir continuar produzindo e vendendo seus nessa primeira fase de implantação do sistema de
produtos. Assim, criou-se uma estrutura de hierarquia fábricas. Isso aconteceu devido ao fato do processo
social sem a qual o próprio processo de trabalho ficava de design dos produtos e dos processos produtivos terem
impossibilitado de existir, pois o acesso ao mercado lhes era sido divididos e estruturados de maneira que ficava difí-
negado. cil, até mesmo para os donos da fábrica, controlar todos
Todavia, o acúmulo de capital nessa época de início os processos de uma maneira eficaz para garantir um
do capitalismo industrial estava restrito a algumas etapas produto de qualidade. Juntem-se a isso as diversas
apenas, sem o controle, ainda, dos processos produtivos. turbulências sociais dessa época, em que as manifesta-
Esse "problema" foi resolvido com a implantação do ções contra a implantação desse sistema industrial e as
sistema de fábricas. Assim, podemos concluir que próprias condições muito precárias de produção impossi-
o surgimento do atual sistema industrial não esteve bilitavam que se produzissem produtos com qualidade.
ligado às necessidades de crescimento tecnológico, mas Excetuando-se alguns processos produtivos que
sim, à necessidade de implementar com maior eficácia o mantiveram um alto nível de qualidade e que visavam
controle do capital sobre os processos produtivos e atender às classes burguesas (por exemplo, a produção
a força de trabalho. Como afirma MAGLIN, citado em de mobiliários, jóias e vestuário) os demais produtos eram
DECCA (1993) "o que estava em jogo era justamente carentes em termos de "design" e de qualidade.
um alargamento do controle e do poder do capitalista Esses movimentos que se colocaram contra a implan-
sobre o conjunto de trabalhadores que ainda detinham tação do sistema de fábrica atingiram seu ápice na
os conhecimentos técnicos e impunham a dinâmica do destruição das máquinas utilizadas na indústria.
processo produtivo. E isso é muito importante, uma vez Todavia, é interessante perceber que as máquinas destruídas
que do lado dos trabalhadores estava a resposta ao eram apenas aquelas que não se adaptariam a um processo
problema da eficácia técnica e da produtividade. produtivo menor, artesanal, e eram concebidas apenas para a
Transferir esse controle da produção para as mãos dos produção no ambiente das fábricas.
capitalistas não significou, absolutamente, maior eficácia Assim, podemos constatar que o movimento artesanal
tecnológica tampouco uma maior produtividade. O que não era contrário ao desenvolvimento da tecnologia, mas
se verificou, isto sim, foi uma maior hierarquização sim à implantação daquele sistema industrial capitalista
e disciplina no trabalho e a supressão de um controle que aniquilaria toda uma estrutura social iniciando uma
determinado: o controle técnico do processo de trabalho nova, em que o tempo e a força de trabalho seriam
e da produtividade ditado pelos próprios trabalhadores" . a moeda de troca entre o capital e o trabalhador e não
E por conseqüência, o processo de design e os mais o seu conhecimento e qualificação técnica.
conceitos acerca da qualidade dos produtos, tão marcantes As máquinas que poderiam ter um uso doméstico foram
no processo artesanal, se perderam quase por completo sendo substituídas por grandes engenhos mecânicos que

50 51
tornasse inevitável a instituição da fábrica, como por o surgimento dos primeiros conceitos acerca do design
exemplo, a estrutura hidráulica de Arkwright (1768), o de produtos. Esses saberes que eram inerentes aos
tear mecânico de Cartwright (1784), as máquinas de fiar ar te sãos passaram a ser, então, resgatados pelo
de Crompton (1779) e a aplicação da máquina a vapor empresário capitalista que já havia privado os trabalha-
de Watt (1875) para geração de energia (DICKSON, in dores desses conhecimentos técnicos acerca do ciclo de
DECCA,1993). vida dos produtos. Se em um determinado momento
Verificamos, assim, que os grandes avanços desse processo de transformação da sociedade,
tecnológicos surgiram como conseqüência do sistema de os conceitos artesanais de qualidade e design haviam se
fábricas e não o contrário. perdido, no início do século XX esses conceitos come-
Dentro desse cenário, podem-se definir algumas çam a ser retomados pela produção industrial, até mes-
razões para o sistema de fábricas ter sido tão necessário mo como mais um fator de reafirmação do cenário indus-
para a constituição do que conhecemos por sociedade trial capitalista como demonstra DECCA (1993):
industrial e capitalista, como demonstra DICKSON "A fábrica produziu, ao mesmo tempo em que
(1978): "Em primeiro lugar, os comerciantes precisavam proliferou, um conjunto complexo de instituições capa-
controlar e comercializar toda a produção dos artesãos, zes de garantir a sua permanência e, o que é mais
com o intuito de reduzir ao mínimo as práticas de desvio importante, capazes de garantir a continuidade da acu-
dessa produção. Além disso, era do interesse desses mulação capitalista, representada agora pelo amplo
comerciantes a maximização da produção através do domínio, controle e apropriação de saberes técnicos.
aumento do número de horas de trabalho e do aumento Aqui, o momento em que, para o social, a fábrica ou
da velocidade e do ritmo de trabalho. Um terceiro ponto a indústria mecanizada, transforma-se, como num passe
muito importante era o controle da inovação tecnológica de mágica, na única medida capaz de aferir os avanços da
para que ela só pudesse ser aplicada no sentido da sociedade. Assim, esse conjunto de instituições que
acumulação capitalista; e, por último, a fábrica criava uma e desdobrou desde a fábrica até os organismos científi-
organização da produção que tornava imprescindível os, pouco a pouco, foi transformando a produção de
a figura do empresário capitalista". saberes técnicos numa esfera especializada de controle
Esse autor identifica, ainda, o surgimento de um ocial, e, progressivamente, as questões de eficácia
"determinado padrão tecnológico" que passou c produtividade tornaram-se regras do jogo da acumula-
a contribuir para a implantação desse sistema, de modo a ção capitalista. Isto é, eficácia e produtividade foram
garantir "ordem, disciplina e controle da produção por reduzidas aos problemas de melhor e mais racional
parte do capitalista". Dentro desse padrão tecnológico LI tilização da tecnologia pelos trabalhadores fabris".
podemos identificar a primeira grande era do movimento "Enfim, o sistema de fábricas introduz determinantes
da qualidade: a era da inspeção e, posteriormente, [ue lhe são inerentes (...) ao mesmo tempo em que se dá

52 53
uma separação crucial: a produção de saberes técnicos .DENIS, citando nomes como Godfrey Sykes,
totalmente alheia àquele que participa do processo Christopher Dresser, Lewis F. Day e William Morris que
de trabalho. Assim, não estão em jogo na fábrica apenas . atuaram na indústria inglesa.
as questões relativas à acumulação do capital, mas Nesse resgate e acúmulo de saberes técnicos por parte
também os mecanismos responsáveis pela concentração da dominação capitalista podemos situar, claramente, o
do saber e, conseqüentemente, de dominação social". processo de design de produtos e a gestão da qualidade,
A valorização do método, da ciência, da técnica e da cada um exercendo o seu papel estratégico. O movimento
razão, como observa SOUZA (1996), coincide com da qualidade se situou mais confortavelmente nesse
a afirmação político burguesa a partir da fase expansionista papel, até mesmo porque ressurgiu no meio empresarial
do capitalismo no último quarto do século XIX. e seu objetivo sempre foi trabalhar para a maximização
Engenheiros, urbanistas e médicos, particularmente os do lucro, seja na melhoria dos processos gerenciais
sanitaristas, apresentam uma ideologia de progresso que e produtivos ou no atendimento total ao cliente.
promete, com base na técnica na ciência e na indústria, Já no processo de design de produtos, apesar de
"mais e melhor" para todos. Quantidade passa a ser sinô- ter sua origem nesse mesmo cenário de formação da
nimo de qualidade e essa circunstância determinou as sociedade industrial, podemos identificar claras
questões de ensino, a definição de áreas de interesse vertentes de crítica e oposição a alguns conceitos
e de seu desenvolvimento ético e moral. estabelecidos da economia capitalista de mercado.
Como demonstra DENIS (1996), no estudo dos Tanto na Bauhaus, quanto em Ulm - e, posteriormente,
fenômenos industriais, principalmente o caso britânico no Brasil - podemos identificar grupos preocupados em
por ter sido o pioneiro, as evidências apontam para uma produzir design para classes menos favorecidas, em que o
transformação significativa na origem social, na inserção design atuaria como uma espécie de agente integrador da
produtiva e no prestígio profissional do designer ao longo sociedade e não excludente; facilitando o acesso aos
do século XIX. Com exceção de alguns artistas plásticos produtos e aos confortos da tecnologia a todas as classes
de renome que executaram trabalhos de desenho indus- sociais e não para alguns privilegiados apenas.
trial em base comercial, como john Flaxman ou Alfred Criticando, claramente, produtos que não tivessem uma
Stevens, o designer britânico da primeira metade do sécu- utilidade adequada ou que fossem desenvolvidos tendo
lo XIX tendia a ser um trabalhador assalariado, muito como objetivo finalidades menos nobres: como o styling e
especializado, todavia, pertencente à classe operária. o kitsch, iniciando um período em que a forma dos
Com a evolução da indústria o designer passou de um produtos deveria ser concebida levando-se em considera-
profissional com origem operária para um profissional ção única e exclusivamente a função a que se destinava.
liberal, da classe média e com conhecimentos artísticos e Essa ideologia de determinados grupos ligados ao
pretensões ao conhecimento teórico, como observa design foi considerada utópica e de fato apenas poucos

54 55
projetos voltados para essa atuação social do design Porém, como observa DENIS (1996), situar as
tiveram êxito. A contribuição mais efetiva ficou na esfera discussões acerca do ensino de design apenas a partir da
da crítica e contestação, na medida em que se percebia Bauhaus e de Ulm limita a análise ao que poderíamos
que para a modificação das estruturas sociais seriam chamar de design moderno, uma vez que existia na
necessárias medidas muito mais relacionadas à política Inglaterra, a partir de 1837, uma rede nacional
do que ao design propriamente dito (SOUZA, 1996). denominada Schools of Design, que tinha por objetivo
Essa rebeldia de algumas vertentes do design com relação disseminar os conceitos de design de então para os traba-
lhadores industriais, visando ampliar os horizontes teóri-
à estru tura ind ustrial capitalista teve origem em
cos dos profissionais e aprendizes empregados na indús-
intelectuais de esquerda que atuavam na esfera das artes
tria. Segundo esse autor, essas escolas eram bastante pre-
em que o design industrial teve seu berço.
cárias e por volta de 1853 passaram a ser denominadas de
Esses movimentos tentavam lutar contra a principal Schools of Art e finalmente, a de Londres transformou-se
vocação do design de produtos que era ser mais um em 1896 no Royal College of Art, desvinculando-se das
elemento de afirmação da sociedade industrial e, por características industriais iniciais. Como esse modelo in-
conseqüência, do acúmulo de capital. Era como se glês não obteve o sucesso esperado, é comum observar-
tentassem se desculpar, frente à sociedade, com relação mos os debates acerca do ensino moderno e pós-moder-
à atuação da profissão que desenvolvia produtos que no de design a partir da escola alemã. Afinal, foi com base
seriam produzidos e vendidos por empresários capitalis- no curso fundamental desenvolvido na Bauhaus, poste-
tas, gerando lucro para estes últimos. riormente concretizado nos EUA com a imigração dos pro-
Todavia, a atuação do design , apesar de dependente fessores desta escola para lá e, finalmente, aperfeiçoado
em Ulm - no que se convencionou Conceito Ulm - que o
da estrutura da sociedade industrial, pode influenciar no
ensino do design se firmou e se espalhou pelo mundo
estabelecimento de uma sociedade melhor na medida em
influenciando diversas escolas, inclusive a ESDI.
que desenvolve produtos e cria ambientes melhores e
mais adequados às pessoas. As demais estruturas sociais, Ainda de acordo com esse autor, podemos observar
realmente, são muito mais influenciadas por fatores polí- que o surgimento do design enquanto profissão e a absor-
ticos que fogem da esfera de atuação do designo O estabe- ção de seus conceitos pelas indústrias e sociedades não
lecimento de uma política de design para o país demons- ocorre na mesma época em todos os lugares e nem de
tra o nível de importância da atuação dessa atividade não modo uniforme, mas sim acompanhando o ritmo e as
somente para a área industrial e econômica, mas também particularidades da industrialização em cada sociedade.
na necessidade de se criar bases próprias de conhecimento Durante o processo de industrialização moderno
sem as quais não será possível, para as empresas nacio- podemos observar três coincidências históricas - aponta-
nais, competir no mercado global, o que teria uma das inicialmente por SOUZA (1998) em seu livro "Notas
influência social muito grande. para uma História do Design" - que, aparentemente, não

56 57
mantém vínculo de acontecimento, mas que conduziram haviam definido o mundo moderno. Por volta de 1848, o
a três muitos bem sucedidas experiências de industriali- fantasma do comunismo já rondava a Europa e o
zação e consolidação do desigll, inclusive, como elemento Manifesto Comunista de Karl Marx havia sido publica-
social. do. Praticamente nada se antepunha ao expansionismo
dos grandes impérios coloniais, principalmente o britâ-
nico, seguido por França, Áustria, Holanda e Bélgica.
TRÊS EXEMPLOS Além do comunismo, no entanto, outro problema emer-
gia numa Europa praticamente já loteada em territórios
e zonas de influência econômica: a questão dos naciona-
Esse fato pode ser identificado de uma forma clara e lismos surgidos com o advento das revoluções industriais
precisa ao se verificar o processo de industrialização de de segunda geração. Ciência e tecnologia aplicadas à
três países que têm o design como um elemento integrador industrialização e como via de progresso e desenvolvi-
e não excludente, incorporado em sua cultura e socieda- mento, não mais apenas como princípios gerais de
de: Os EUA, Japão e Alemanha. interpretação do mundo, abriram a novos países - ou a
Esses três países podem ser, sem sombra de dúvida, países que não haviam participado dos processos do
rotulados como líderes em investimento e pesquisa em final do século XVIII - a oportunidade de reivindicar
design e na disponibilização de produtos de alta seu espaço no cenário industrial burguês que se
desenvolvia" .(SOUZA, 1996).
qualidade. Esse fato não é mera coincidência: se anali-
sarmos o processo de formação da sociedade industrial
desses países, podemos entender mais claramente como
EUA
aconteceu esse processo de liderança mundial. Podemos
encontrar alguns exemplos de liderança em design
e qualidade em outros países, como os relógios suíços - Em 1861, os Estados do sul do país, de base escravista
oriundos do conceito de Gute Form - os objetos e agrária, revoltam-se com a eleição do abolicionista
desenvolvidos nos países escandinavos - dentro do Abraharn Lincoln (em 1860) para presidente, decidindo
movimento conhecido por Neue Sachlichkeit - ou o design se separar do resto do país, iniciando, assim, a Guerra de
italiano enquanto exercício formal. Secessão que duraria até 1865 deixando um saldo
No caso de EUA, Japão e Alemanha, o processo de de 617.000 mortos e a derrota dos Estados do sul para os
transição para uma sociedade industrial ocorreu pratica- do norte, cuja economia encontrava-se muito mais próxi-
mente em uma mesma época e com características muito ma da realidade industrial.
semelhantes que criariam as bases para o design e Com o fim do conflito, inicia-se um período de gran-
a qualidade como entendemos atualmente. Nesta época de desenvolvimento econômico e industrial por todo o
"a revolução francesa e a revolução industrial inglesa país com a rápida urbanização das cidades, construção de

58 59
ferrovias que ligariam o país de costa à costa e a chegada expansionista que irá consolidar um poderoso complexo
de um grande contingente de imigrantes que colaborari- industrial baseado na produção de carvão mineral e ferro
am sensivelmente com o processo de industrialização. bruto e nas indústrias siderúrgica, metalúrgica e mecânica.
A partir desse período, estabelece-se uma política
externa isolacionista com pequenas anexações de terri- JAPÃO
tórios na América do Norte e na América Latina - guerra
hispano-arnericana - e incursões no Oriente e Ásia. Essa
Desde o século XII, o país passa a ser dominado pe-
política se mantém até meados do século XX e até a 2a
los xoguns, espécie de senhores feudais com origem mi-
Grande Guerra Mundial, quando os EUA emergem como
litar (samurais) que mantém o país isolado do resto do
grande potência mundial e responsável pela reconstru-
ção da Europa ocidental e do Japão, já com uma produ- mundo por 8 séculos. Em 1854, forçado a abrir os portos
ção industrial invejável e com uma sociedade muito bem ao comércio ocidental, o xogunato Tokugawa, então no
estru turada. poder, sofre diversas pressões internas para que seja
mantido o isolamento. Esses conflitos internos entre os
xogunatos terminam em 1868 com o início da era Meiji
ALEMANHA
que assume o poder abolindo o feudalismo e introduzin-
do o Japão na era moderna e industrial.
A Unificação Alemã, consolidada em 1871, tendo Na década seguinte, o Japão iniciaria um processo
como principal personagem Otto von Bismarck, dá de expansão imperialista travando guerras com a China e
início a um período de crescimento industrial que a Rússia, que o colocaria no domínio de boa parte da Ásia
colocaria a Alemanha na condição de grande potência até o fim da 2" Grande Guerra.
mundial e protagonista de duas das grandes guerras Como podemos constatar, além de se iniciarem no
desse século. mesmo período histórico - por volta de 1870 - o processo
Essa unificação foi liderada pela Prússia, o Estado de início da era moderna e industrial nesses três países
germânico de maior crescimento econômico e industrial têm características muito comuns como, por exemplo,
que travou uma série de guerras, inicialmente com o apoio serem fruto de um conflito interno armado, onde as áreas
da Áustria - guerra contra a Dinamarca - e, posteriormen- mais desenvolvidas forçaram a transição de uma época
te, contra a França, que seria o último empecilho para a rural para a sociedade industrial, criando bases concretas
formação do Estado alemão unificado, anexando diver- para o desenvolvimento de algumas das mais bem
sos territórios ao sul da Prússia. sucedidas sociedades baseadas na industrialização e no
Na década de 1880, o país, já unificado, inicia uma capitalismo. Existiu um processo claro de transição, de
fase de expansão econômica e uma política externa ruptura, entre uma fase e outra que proporcionou

60 61
as condições para que, mais tarde, as questões acerca da qualquer ruptura nas estruturas então vigentes e sem uma
qualidade e design dos produtos pudessem vir à tona, adequação da sociedade e do país para essa nova fase.
já com uma determinada cultura industrial estabeleci da. O mesmo capital, que dominava os meios de
Um fator de diferenciação do processo de industria- produção rural e a posse da terra, passou a ser direcionado
lização desses países se comparados com a Inglaterra, por para a área industrial, mantendo as mesmas classes
exemplo, foi a criação de uma estrutura educacional dominantes na função de patrões, transferindo, assim,
e de assistência social ampla e muito forte, em as classes trabalhadoras para a indústria. Assim, as
contrapartida ao modelo Inglês que foi eficiente no estruturas sociais não sotreram profundas alterações,
acúmulo de capital durante um importante período apenas mudaram de cenário, do meio rural para o meio
histórico, mas mostrou-se ineficiente com o passar dos urbano e industrial. Tampouco se formulou uma propos-
tempos, além de terem tido uma importante participa- ta de desenvolvimento que tivesse se sustentado por si
ção popular e um caráter nacionalista. No nosso caso, como só e que fosse capaz de realizar mudanças profundas nas
observa SOUZA (1996), o Brasil gastou grande parte estruturas sociais do país.
de suas riquezas no século XIX para manter sua integri- Assim sendo, quando o conceito de design industrial
dade territorial, mas o objetivo era manter uma estrutura chegou definitivamente ao país por intermédio da
centralizada de poder por parte das elites e não unificar fundação da ESDI (Rio de Janeiro, 1962), podia-se
para garantir desenvolvimento econômico. con tar apenas 30 anos de uma efetiva te n tativa
Com a criação dessas estruturas sociais, a consolida- de industrialização em larga escala e uma total falta de
ção de uma cultura industrial típica foi uma conseqüên- conhecimento por parte do mercado sobre tal atividade.
cia lógica e coerente e, dentro desse cenário, o design dos Sem uma cultural industrial estabelecida e sem
produtos passou a ser uma necessidade real do mercado condições educacionais e sociais adequadas, o início das
e não uma utopia política ou social. atividades da ESDI ficou condicionado muito mais a
fatores políticos do que de mercado.
Dentro desse processo, o Brasil teve uma história
atípica em que a era industrial moderna só pode ser Quando a questão do design moderno surgiu na
determinada com precisão a partir de 1930 e, mesmo Bauhaus e posteriormente foi absorvida por demais
assim, de uma forma bastante incipiente uma vez que as países industrializados - e tão estudada e discutida em
estruturas sociais e culturais não eram adequadas para Ulm - já havia nesses locais condições e necessidades
essa transição. Enquanto nos países citados anteriormente reais para o crescimento da atividade de acordo com
houve uma guerra interna para consolidar a ruptura características muito próprias e inerentes àquelas
entre o processo rural, quase feudal, e o início da era culturas e sociedades, como, por exemplo, o styling
industrial e moderna, no Brasil, essa transição se deu sem amencano.

62 63
Ao contrário do Brasil, onde o exemplo mais próxi- início da consolidação da atividade no país através de
mo do início do sistema de fábrica é o engenho de açúcar programas de incentivo e da mídia (que tornou o design
que evoluiu para as usinas de açúcar, mantendo, até hoje, ~~ ~rande modismo) na década de 1990 - 60 anos após o
quase que as mesmas características do sistema de IniCIOdo processo de industrialização.
engenho no que concerne à organização do trabalho e ao Analisando estes fatos históricos podemos perceber,
acúmulo de capital nas regiões produtoras, não se formou claramente, que os conceitos de design e qualidade dos
uma cultura industrial que possibilitasse uma melhor produtos.' presentes à época da produção artesanal,
~o:a~ deixados de lado em um primeiro momento, no
aceitação por parte do mercado dos conceitos acerca do
IniCIO da formação da sociedade industrial moderna
design de produtos e sua importância estratégica para o sendo ~etomados, posteriormente, após a consolidaçã~
país e para as empresas. desse sistema.
Existem exemplos multo isolados, como mostra
DENIS (1996) ao citar a existência de dois As 4 ERAS
"desenhadores" - um português e um inglês - trabalhan-
do no Estabelecimento Ponta da Areia pertencente ao Essa retomada se deu em diversos níveis e cenários
Visconde de Mauá, na indústria de ferro fundido um tanto diferentes, que podem ser estruturados em qua-
e estaleiro - Niterói, Rio de Janeiro. Ainda assim, estes tro ~randes eras, fazendo-se uma analogia com o desen-
volvirnento das organizações industriais, como demons-
profissionais ocupavam uma categoria separada dos
tra a figura 8:
engenheiros e dos feitores, mestres e mandadores.
Seria uma posição intermediária bastante comum no que
concerne à inserção do design na estrutura industrial, DESIGN ••••
Início de funcionamento
observa o autor. da Bauhaus (1919)
A Bauhaus techa (1933)
e Inicia-se em 1953 a
IníciO do ensino de
• design no Brasil (ESDI/62).
Popularização do design
pela mídia e absorção
na Alemanha e dos escola de Ulm onde o Epoca de grande expansão
Todavia, observamos que, apesar de atrasado, o fundamentos do designo de~gn se consolidorío. do design pelo mundo.
pelas empresas como
elemento estratégico.
Brasil segue a naturalidade do curso da história. Situan-
do-se o início da sociedade industrial daqueles países
em 1870, com o início do estudo formal do design moder-
I
1" ERA 2" ERA 3" ERA C"ERA
(1900-1930) (1930-1960) (1960.,990) (1"0-_)
no em 1920 na Bauhaus - 50 anos depois - e a consolida- Inspeção como torma Controle estatístico como Início da garantia da Era da gestão estratégica.
de assegurar qualidade. torrno de assegurar qualidade e do cliente
ção da atividade por volta da década de 1950 - 80 anos Foco na tareta, qualidade. como fator Importante.
Qualidade=adequação
ao uso.
abordagem reativa. Foco no processo. Foco no sistema.
depois - veremos que, o nosso processo de criação de Foco no negócio.

consciência e da necessidade do design no mercado e na QUALIDADE ••••

sociedade está seguindo o mesmo rumo: início da indus-


trialização em larga escala em 1930 e surgimento da Figura 8. Linha do tempo.
primeira escola de design em 1962 - 32 anos depois - e

64 65
Ia ERA tentativa de resgate dos valores perdidos na ruptura
entre o meio de produção artesanal e o início efetivo da
industrialização. Assim, os alunos da escola tinham aulas
Os conceitos da qualidade foram introduzidos, nos
em oficinas de marcenaria e artes plásticas, por exemplo.
aspectos produtivos, durante essa 1a Era do século XX,
em que a forma de se verificar a qualidade dos produtos Como demonstra FONTOURA (1997), "no programa
se baseava na inspeção pura e simples dos resultados inicial da Bauhaus o ensino artesanal deveria ser um
obtidos. Esse processo não agregava valor nenhum nem componente essencial e deveria constituir o
ao processo produtivo nem aos produtos propriamente fundamento da escola (...) o artesanato não era algo isolado,
ditos e, com o tempo, mostrou-se totalmente ineficiente mas um meio imprescindível para se chegar a um fim.
na medida em que sabemos que as pessoas procuram nos O artesanato constitui uma categoria pedagógica fundamen-
produtos, justamente, os valores agregados que eles tal, representa a forma como o indivíduo aprende, através
oferecem. do uso das mãos, o manejo técnico dos objetos (...) O artesa-
nato foi entendido como uma atitude ética frente ao
Nesta época, reinavam as teorias de Ford e Taylor
trabalho, ou seja, como ideal de responsabilidade, cuidado
acerca da organização do trabalho e dos meios produtivos
na execução de detalhes, busca da qualidade".
- administração científica - determinando claramente a
função das pessoas dentro dos processos: engenheiros Em 1925, a escola muda-se de Weimar para Dessau
planejam e operários executam. e, em 1932, para Berlim onde encerraria suas atividades
devido à uma total incompatibilidade com o governo
Durante esse período, que se situa entre o início
nazista de então. Muitos de seus profissionais transferem-
do século e a década de 1930, aproximadamente (essas
se para os EUA, contribuindo significativamente para
fronteiras entre as eras não são tão precisas, existindo
o processo de design dos produtos americanos e para o
elementos comuns entre elas), surgia na Bauhaus
estabelecimento da atividade naquele país. Em 1953, os
(1919-1933) a discussão e tentativa de formalização dos
ideais da Bauhaus ressurgem em Ulm, já mais elabora-
primeiros conceitos modernos acerca do design
dos e com enfoques diferentes, onde o concretismo das
dos produtos, tendo como berço a arte, mas com uma
artes plásticas exerceriam grande influência sobre
necessidade, já presente no mercado, de que os produtos
o design dos produtos, agora já estabelecido enquanto
fossem pensados de acordo com critérios mais adequados
atividade profissional e intelectual, gerando um design
e específicos que só a engenharia não era capaz de desenvolver.
apoiado na ciência e na técnica em que o designer seria
Dessa forma, a Bauhaus se propunha a integrar, de um elemento associado no processo de decisões da
uma certa forma, a arte aos aspectos produtivos, produção industrial" (SOUZA, 1996).
desenvolvendo produtos que melhor atendessem às
necessidades da sociedade industrial, em uma primeira

66 67
A evolução natural das tecnologiase as duas guerras
mundiais desse século forçaram um aumento significativo
da produção industrial e a inspeção pura e simples já não
era mais suficiente frente à crescente demanda de Após a 2" Grande Guerra havia, principalmente no
quantidade e qualidade dos produtos, principalmente, mercado norte americano, uma demanda de consumo
os que eram voltados para o mercado bélico. muito grande e que ficara reprimida durante os anos em
que durou o conflito armado, quando a produção indus-
trial esteve voltada, a maior parte do tempo, em produzir
para a guerra. Nessa época, no auge da produção, os EUA
estavam produzindo "um navio por dia e um avião a cada
cinco minutos; em seis anos de guerra, fabricaram 87 mil
Assim, a qualidade migrou para a era do controle
tanques, 296 mil aviões, 2.434.000 caminhões e 53
estatístico dos processos em que os métodos e ferramen-
milhões de tonelagem naval" (ARRUDA, 1985).
tas de análise estatística permitiram um melhor controle
sobre os produtos e sobre a produção. Essa produção demandava uma enorme quantidade
de trabalhadores produzindo sem parar, fazendo muitas
Nessa época, o design começava a se consolidar
horas extras e acumulando capital sem ter muitas opções
enquanto instituição, desenvolvendo suas teorias e
de onde gastar. Junte-se a isso o fato de inúmeras
conceitos que começavam a ser absorvidos pela socieda-
tecnologias terem sido desenvolvidas para a guerra e, com
de e pelas indústrias dos países mais industrialmente
o fim desta, havia a necessidade de utilizá-Ias na produ-
avançados, notadamente na Alemanha e EUA e, em
ção de bens de consumo para o mercado civil.
menor escala, alguns outros países da Europa.
Assim , a demanda de consumo e a demanda de
Nesse momento o design e a qualidade dos produtos continuidade do ritmo de produção se completaram
voltavam a trilhar um caminho muito próximo, todavia, criando um mercado competitivo em que várias empre-
as organizações tinham uma visão apenas interna dos seus sas diferentes dispunham de recursos tecnológicos para
negócios, o que tem seu expoente máximo na afirmação disponibilizarem produtos semelhantes no mercado,
de Ford que dizia que qualquer um poderia ter um gerando concorrência entre elas pela disputa da prefe-
automóvel Ford de qualquer cor, desde que fosse preto. rência dos clientes por esse ou aquele produto.
Após essa fase, passou-se a perceber um fator, já
Estava criado o cenário ideal para que design e
presente, e que iria forçar as empresas a mudar de postura
qualidade voltassem a caminhar lado a lado em busca
com relação ao mercado: o cliente.
do desenvolvimento e produção de produtos competiti-
vos e com alto nível de adequação. Essa 3" Era pode ser
definida como a fase da garantia da qualidade, ou seja, a

68 69
r-----------------------------·-------------- ..
·------------------------------ , -

figura do cliente no negocio das organizações passou em lugar de destaque entre as concorrentes. Sem dúvi-
a ter muita importância e era necessário garantir para da, o design começava a ser utilizado como elemento estra-
ele que determinado produto fosse adequado ao uso e tégico dentro do negócio das organizações.
deveria ser por ele consumido. Foi, também, com base no investimento em design e
Nessa época o design de produtos despontava como qualidade dos seus produtos que os EUA se destacaram
uma atividade profissional realmente promissora e como grande fornecedor de manufaturados e que o
fundamental para o desenvolvimento de qualquer Japão conseguiu sair de uma posição histórica adversa,
sociedade industrial. Foi nessa época e, com base nesses transformando seus produtos em sinônimo de qualidade
argumentos, que se fundou no Brasil (Rio de Janeiro, e designo
1962) a ESDI - Escola Superior de Desenho Industrial. A despeito de alguns casos isolados - como o design
Em outros países, onde o processo de industrialização já dos produtos dos países nórdicos e escandinavos e
havia sido implementado há tempos, o design já havia se o apuro formal do design italiano - em que foram os
consolidado como atividade profissional e já contava com aspectos culturais e sociais que caracterizaram a sua
uma razoável produção intelectual relativa ao tema, produção, podemos dizer que esses três países
iniciando sua vocação como fator estratégico na diferen- (Alemanha, EUA e Japão) foram bem sucedidos pionei-
ciação dos produtos. ros em utilizar os conceitos de design e qualidade como
O design moderno, como comenta SOUZA (1997) fator fundamental na consolidação de suas sociedades
"não foi uma conseqüência linear das revoluções, industriais modernas até então.
ideologias e, infelizmente para ele mesmo, menos ainda Seguindo uma tendência natural, as organizações
do racionalismo em seus aspectos iluministas. Mas, cer- evoluíram para o que podemos definir como uma 4a Era
tamente tentou-se caracterizá-lo e defini-Io a partir de em que a gestão estratégica dos negócios passou a ser
princípios presentes nessas áreas e fenômenos. Talvez fator fundamental e, dentro desse contexto, o design
nenhuma outra profissão deva tanto ao conceito de assume de vez o seu papel no mercado.
ensino quanto o design moderno, o que caracteriza muito
bem a sua origem ideológica".
Todavia a vocação estratégica do design viria se
formando aos poucos e a Braun, fabricante de eletrodo-
mésticos, é um claro exemplo desse fato. Ao adotar o
slogan que afirmava que os seus produtos eram As tecnologias de processamento da informação,
direcionados para o consumidor esclarecido, ela notadamente a consolidação de uma base mundial de
segmentava o seu mercado com base no design dos seus telecomunicações e o crescimento vertiginoso
produtos, criando um padrão ideológico que a posicionaria da informática, criaram as condições para que um

70 71
produto pudesse ser desenvolvido no país A, produzido acreditamos que bom design significa bom negócio".
no país B e comercializado nos países C, D, E e F, por (Thomas ].vVatson Jr. in LA\iVRENCE, 1987).
~:
exemplo. As poucas fronteiras políticas econômicas que S "Um bom gerenciamento (do processo de design)
ainda existiam - como o bloco de países liderados pela consegue reconhecer fatores, no ambiente, que indiquem
antiga URSS - deixaram de existir e o mercado asiático, a necessidade por um novo produto e que estratégias
tradicionalmente mais afastado, integrou-se de vez à eco- serão adequadas para seu lançamento". (URBAN e
nomia de mercado mundial, transformando-se em um HAUSER,1980).
imenso celeiro de produção industrial. Se design e qualidade dos produtos têm essa relação
Dentro desse cenário, a gestão estratégica passou tão íntima é lógico que esse processo deve ser gerenciado
a ser pré-requisito para a sobrevivência e sucesso de de forma adequada. A despeito da capacidade produtiva
qualquer organização e o conceito de design estratégico das organizações, assim como, seu porte ou ramo
é a melhor forma de traduzir isso, fazendo com que de atividade, sempre existirá uma forma (mesmo que
os produtos e organizações obtenham o diferencial intuitiva) de planejar e administrar os seus negócios
competitivo que as fará conquistar uma maior participa- que será definida como a forma de gestão daquela
ção no mercado e produção de produtos mais adequados determinada empresa.
aos consumidores e ao meio-ambiente (talvez o grande O processo de design enquanto agente responsável
fator novo dessa era). Assim, fecha-se o primeiro grande pelo desenvolvimento dos produtos e, por conseqüên-
ciclo de vida da sociedade industrial moderna, com uma cia, da consolidação ou não da imagem da empresa no
clara tentativa de resgate dos valores que ela mesma mercado, está presente em todas as atividades
enterrou no início de sua existência. industriais necessárias para se produzir e vender um
produto. "O novo conceito de gestão do design incorpora
o processo de design de produtos como um elemento fun-
DESIGN ESTRATÉGICO
cional no planejamento estratégico da empresa. O design
está, cada vez mais, se afirmando como um importante
diferencial competitivo e a gestão estratégica do design é
"O processo de design é um excelente conceito para
a melhor maneira de fazer isso tornar realidade" como
definir a qualidade dos produtos. Fica impossível definir
demonstra BERSEN (1987).
a qualidade dos produtos sem um conceito de design
definido". (BERSEN, 1987). De certa forma podemos observar que o processo
de design de produtos - ainda que diferente de como o
"Na IBM nós não acreditamos que o design possa
entendemos hoje - está presente na humanidade desde
fazer um produto ruim ficar bom. Todavia, estamos
que o homem primitivo confeccionou suas primeiras
convencidos que o design pode, concretamente, ajudar um
ferramentas e na razão direta em que sua sobrevivência
bom produto a atingir todo o seu potencial. Em suma,
dependia da qualidade com que esse processo

72
era executado. Dentro dessa analogia, o design Como podemos ver, todas essas caracterrs ncas
é igualmente importante para a indústria atual. As técni- estratégicas que um produto e uma empresa deverão ter,
cas de produção, a qualidade dos materiais e o conheci- são atribuições típicas do processo de design, daí sua
mento acumulado pela engenharia já não são mais, por si importância dentro do cenário atual onde o design passa a
só, suficientes para garantir que uma empresa se mante- ser abordado como uma atividade gerencial por
rá competitiva. excelência - como identificamos ao definir o processo de
Como observa MAGALHÃES (1995), o processo de design como um sistema processador de informações - que
design deve ser capaz de definir requisitos do novo deverá ser a principal atividade de qualquer organização
produto a partir de dados oriundos de um contexto mais produtiva e para onde todos os esforços devem
amplo, em que o design se insere. Desse contexto, o convergir.
denominado design estratégico destaca não só os usuários Dentro dessa nova realidade, os designers devem ser
e consumidores como também a sociedade, denomina- educados e preparados adequadamente para desem-
dos de uma maneira geral como beneficiários do penhar funções gerenciais que lhes são particularmente
produto. A partir desta definição, o design estratégico inerentes. Essa nova forma de conceituar a atividade de
também se preocupa com o fabricante do produto, pois design irá envolver pessoas de dentro e de fora da
este também se beneficia com o produto. Assim, procu- organização dentro de um macroprocesso multidisciplinar
ra-se o equilíbrio entre as necessidades do mercado, a que deve ser gerenciado de forma adequada para que se
capacidade e a disponibilidade da empresa fabricante (for- obtenha êxito. Para isso, metodologias e ferramentas como
necedor) e a sociedade.
a QFD - Quality Function Deployment - podem contri-
Dessa forma, o que fará o diferencial de um determi- buir significativamente para o aumento das chances de
nado produto dentre os seus concorrentes - já que as sucesso.
tecnologias produtivas e administrativas estarão acessí-
Assim, temos o contraponto entre o design operacional
veis no mercado - será, justamente, a qualidade com que
e o design estratégico (figura 9): no operacional a forma
ele atenderá aos requisitos dos seus clientes, a maneira
segue a função (operações prático-operacionais), já no
como ele se comunicará com o mercado (embalagens,
estratégico a forma segue a mensagem, a função de
mídia ...), o meio-ambiente em que ele será comercializado
e a imagem de quem o fabrica perante o mercado. comunicar para o mercado e para as pessoas os benefícios
e vantagens que são oferecidos naquele produto
Assim, o que realmente passa a ter importância é
e esperados pelas pessoas.
a eficácia do processo de design: desenvolver o produto
certo; e não o conceito ultrapassado de eficiência O conceito de design estratégico demonstra que
do processo de design: desenvolver corretamente o o importante é as pessoas perceberem que determinado
produto (ver figura 9). produto será adequado ao uso através das suas mais
variadas funções, sejam elas práticas, estéticas ou simbólicas.

74 75
ri
!

OL
;::: Quando uma organização resolve investir no Ao manter, o tempo todo, o foco no cliente, a gestão
.;;
~ desenvolvimento de seus produtos - e na sua própria estratégica do processo de design irá reduzir sensivelmente
C
Q gestão - dentro de uma filosofia de gestão estratégica do as possibilidades de fracasso do produto. Para ter suces-
~
c: design, significa que muitos conceitos anteriores deverão so, esse processo deverá ser conduzido dentro de uma
!
'"~
'#;
visão global, mas suas ações devem ser localizadas, vari-
'-'o ser mudados e que fatores políticos e culturais internos
~
1-
à empresa deverão ser revistos. Assim, o design será ando de acordo com as especificidades de cada mercado,
"O
C
o macroprocesso mais importante dentro da organização sua cultura e sociedade.
,x:
'"'
';1 e a forma como ele será gerido se transformará no mais Ou seja, dificilmente existirá um produto global, que
,.-:./
"'" importante fator crítico de sucesso para a empresa e seus não necessite de adaptações e modificações para poder
~r:
;.;:: produtos, colocando-o acima de objetivos pessoais atender a mercados e clientes específicos. Se um carro
w
o ou departamentais, dentro de um processo integrado onde é lançado mundialmente, essa visão estratégica pode até
~~
'w todas as áreas envolvidas concentrarão esforços para
'q";
c» conseguir uma solução formal e estética para esse
(,;;
a questão fundamental: desenvolver, produzir e produto que o faça ser aceito em diferentes mercados pelo
f')
,: disponibilizar, para o mercado, um produto que irá mundo afora. Todavia, para cada um dos mercados em
atender plenamente aos requisitos, necessidades e que ele for comercializado determinadas características
~
( expectativas de seus clientes. deverão ser desenvolvidas para que o produto seja,
realmente, bem sucedido em todos eles, como, por
DES1GN OPERACIONAL DES1GN ESTRA TEG ICO exemplo, o volante do lado direito (Inglaterra), a
ação desde o início do desenvolvimento do produto.
ação a partir de uma proposta
suspensão reforçada e os ajustes de regulagem do motor
participando da conce imução do produto, junto com
inicial dada as demais áreas envolvidas neste processo. (Brasil) ou o sistema de aquecimento para regiões de
ação isolada de outras áreas, ação catalisadora de conhecimentos envolvidos no clima frio.
buscando uma habilitação específica. processo. assimilando sua interdisciplinaridade.
pensamento fracionado pensamento global Todos esses aspectos dos produtos são de responsa-
eficiência do dessgn desenvolver eficácia do desí gn (além da eficiência) _ desenvolver bilidade do processo de gestão estratégica do designo
corretamente o produto o produto correio
À medida que os designers encontram seu lugar na gestão
ênfase nas necessidades e desejos do beneficiário do
ênfase IlUS necessidades do produto (incluindo consumidor, usuário. fabricante e
das organizações, estas percebem como o design pode
usuário do produto sociedade) tendo os concorrentes como referência. ajudar a desenvolver os seus objetivos e intenções de uma
ênfase na solução monitoramento dos problemas e forma mais adequada e precisa do que outras áreas
de problemas prospeção das oportunidades
gerenciais com mais tradição no mercado como a econo-
processo de dentro para fora processo de fora para dentro do
do produto = a forma segue a função produto = a forma segue a mensagem
mia, o marketing e os recursos humanos. O design
solução de problemas físicos posicionamento psicológico dos produtos através da assume, assim, a condição de ferramenta para a diferen-
dos produtos especificação de atributos físicos ciação competitiva dos produtos.
Neste ponto, podemos perceber uma diferença clara
Figura 9. Contraponto entre design operacional e design estratégico.
(MAGALHÃES, 1995). que existe entre a atividade de design do produto, pura e

76 77
simples (design operacional), e o conceito de gestão a mudança da filosofia e da cultura de trabalho da
estratégica do processo de designo Este último necessita organização, o que também traz um grande risco embutido.
que toda a estrutura administrativa seja reformulada Todavia, se essa mudança for bem gerenciada, os
e que a forma de se entender o processo de desenvolvi- ganhos serão, com certeza, muito maiores e o investimento
mento de produtos seja uma tarefa experimentada por inicial grande se transformará em um lucro maior ainda e
toda a organização de uma forma integrada. Para apenas que será traduzido por uma maior aceitação do seu
consumir design, nada disso é preciso e a empresa pode produto, conquista de maiores fatias do mercado e a
contratar um profissional de fora ou, até mesmo, manter retenção e lealdade dos seus clientes.
um departamento interno de design que irá atuar em
A empresa que adota esse tipo de filosofia de gestão
algumas etapas do processo. Dessa forma, a estratégia de
e assume uma postura proativa, investindo em pesquisa
desenvolvimento dos produtos irá refletir a política geral
e desenvolvimento de produtos, tem a chance de ocupar
da empresa (ver figura 10).
maiores e melhores fatias do mercado, em detrimento das
A gestão do design pode ser dividida como gestão que adotam uma postura reativa, aguardando o lançamento
funcional do design - relativa apenas a algumas etapas do de novos produtos para, então, decidir o que fazer.
projeto do produto - e gestão estratégica do design -
Dessa forma, a postura proativa permite que a empresa
integração e plena utilização dos conceitos de design que
vislumbre melhor as possibilidades oferecidas pelo
passa a ser um real objetivo da organização. Ao optar por
mercado, explorando necessidades existentes ou
uma dessas duas formas, a organização deve ter plena
identificando - e até mesmo criando - necessidades
consciência dos benefícios - e dos problemas - que essa
novas, permitindo, também, a conquista de novos nichos
escolha poderá trazer.
de mercado além da ampliação dos já existentes, como
Ao simplesmente comprar design a empresa poderá demonstra o esquema a seguir:
estar investindo menos, mas também irá agregar menos Produtos Novos
valor aos seus produtos e, dessa forma, eles poderão não Existentes Produtos

corresponder como o esperado ao serem lançados no


mercado e o retorno será, também, menor. É uma opção
de risco e nos remete ao que já foi debatido, anterior-
mente: um maior investimento na qualidade do produto Mercado 3- Desenvolvimento de
1- Penetração no Mercado
Existente
trará despesas iniciais maiores mas, a médios e longos Produto

prazos, os resultados serão muito melhores.


Se a empresa resolver assumir o processo de design Novos 2- Desenvolvimento de 4- Diversificação
Mercados
de produtos como uma atividade estratégica e fator crítico Mercado

de sucesso, ela passará a ter um problema gerencial sério


para ser resolvido, uma vez que essa atitude implicará Figura 10. Possibilidades de estratégias para produtos (MEDEIROS, 1996).

78 79
1 - PENETRAÇÃO NO MERCADO Porém, se o design enquanto elemento estratégico
pode trazer tantos benefícios para as empresas e
Significa o aumento da participação nos mercados já
sociedades - e exemplos disso podem ser encontrados
existentes com produtos já existentes. Geralmente se dá facilmente como nos países citados anteriormente - por
através de promoções e marketing.
que essa atividade ainda não alcançou o devido
prestígio?
2- DESENVOLVIMENTO DE MERCADO Pode-se notar que uma das principais dificuldades
para o design se afirmar de vez como uma atividade
Quando determinado mercado encontra-se saturado ,
estratégica é que muitas organizações e sociedades
existe a opção de buscar novos mercados - exportação,
industriais se formaram sem o uso - pelo menos
por exemplo - o que pode determinar a necessidade de
consciente - dos conceitos de design de uma forma
se implementar modificações nos produtos.
sistemática, ficando difícil, nestes casos, de entender
como o design deve desempenhar um papel importante
3 - DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO I nessa sociedade já que a educação e a cultura que se for-
mou não estimulam a aplicação do design em larga escala.
Seria a capacidade da organização de produzir e distri-
E ainda ocorre o fato de que, quando as empresas
buir novos produtos em mercados já existentes e conhecidos.
resolvem investir em design encontram profissionais
despreparados para exercer o papel de gestores, pois não
4- DIVERSIFICAÇÃO foram preparados para isso. Esses dois pontos confirmam
o que verificamos ao analisar a formação do designer
Significa a empresa que, através de investimento em
brasileiro e a dificuldade de se absorver design no Brasil.
pesquisa e desenvolvimento, consegue atuar desenvol-
vendo produtos novos para novos mercados. N a verdade, em muitos casos, as pessoas e as
empresas têm consciência da importância estratégica do
A implantação do design como processo chave irá co-
design para o sucesso dos seus negócios e isso pode ser
locar a organização em uma filosofia proativa de
observado claramente nos apelos sucessivos que a mídia
desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo dos seus
faz, destacando o design dos produtos - moderno,
produtos e irá criar um ambiente e um know-how
ergonômico, inteligente - como importante diferencial
adequados para o desenvolvimento de novas tecnologias
de consumo e posicionamento no mercado.
que venham a tornar os produtos produzidos cada vez
mais eficientes e adequados aos seus clientes, terminan- Todavia, o design enquanto instituição ainda não
do por gerar, como retorno, uma excelente margem de conseguiu se firmar tão eloqüentemente quanto outras
lucro que é, afinal, o objetivo de qualquer organização áreas. Isso pode ser um reflexo do pouco tempo
com fins lucrativos. de existência do design como uma atividade profissional

80
..1 81
formalizada - e da própria história da industrialização fator que irá permitir um efetivo diferencial competitivo
brasileira - com relação a outras áreas de conhecimento entre os produtos - cada vez mais tecnologicamente iguais
humano, mas percebe-se claramente que esse quadro está - será a forma como eles serão pensados e desenvolvidos
mudando de forma rápida. e os valores a eles agregados.
Como observa SOUZA (1997), o processo brasileiro Se até agora os maiores avanços da sociedade
sempre deixou a população à margem das mudanças e industrial moderna - e por conseqüência o maior acúmulo
progressos que ocorriam. Dessa forma, a diferença de capital- estiveram concentrados nas formas de produ-
existente entre a realidade alemã ou de outros países ção, chegou o momento em que os investimentos deve-
de industrialização recente, como a Austrália, decorrem rão ser concentrados nas etapas anteriores e posteriores
da não preocupação real com a criação de um mercado ao processo de manufatura propriamente dito, pois são
interno efetivo. Assim "nas diversas oportunidades de nessas fases que estão as reais oportunidades de melhoria
saltos históricos qualitativos observados ao longo da his- e conseqüente aumento na margem de lucro dos produ-
tória nos últimos cem anos (República, Revolução de 30, tos. E sem um sistema adequado de gestão do processo
Estado Novo, Redemocratização, Desenvolvimentismo, de design como um elemento fundamental dentro do
Golpe de 64, Segunda Redemocratização), esse estado planejamento estratégico das organizações, fica difícil
de coisas na ordem política e econômica do país perma- vislumbrar como esses ganhos serão obtidos.
neceu inalterado. A questão burguesa da cidadania Se as organizações não acordarem para essa realida-
parece insolúvel e certamente constitui-se num bloqueio, de, o que podemos prever será o domínio de apenas
não só para o design, mas para atividades que se queiram alguns gigantes industriais que formarão oligopólios
exercer no Brasil, ligadas a interesses progressistas sobre o mercado mundial, concentrando suas atividades
(democráticos) dessa classe", conclui o autor. apenas nessas duas etapas estratégicas, deixando a
Porém, não existe na história recente do nosso produção para ser executada em países periféricos que
tempo, nenhum período mais favorável ao desenvolvi- parecerão integrados no processo mas, na verdade,
mento e efetiva consolidação do design, como esse atual. estarão à margem deste, pois não terão acesso à esfera
Enquanto sistema processador de informação, o design estratégica do negócio e ao mercado. Já podemos consta-
nunca teve tantos recursos tecnológicos à sua disposição tar diversas empresas multinacionais se fundindo
como agora. E se levarmos em consideração que os as- e comprando umas as outras e às suas concorrentes, como
pectos tecnológicos se disseminam com uma velocidade nas áreas de telecomunicações, indústria automotiva e
incrível e que, teoricamente, em um curto período de informática, dentre outras.
tempo qualquer empresa poderá tê-Ios à disposição, É como se fosse a reedição da implantação do
produzindo produtos semelhantes aos seus concorrentes sistema de fábrica do início da história das sociedades
em pontos distintos do globo, podemos concluir que o industriais. Haverá o conhecimento técnico de como se

82 83
· produzir os produtos, mas o acesso ao mercado estará executadas pelas organizações. Para ajudar nessa jornada
controlado pelo capital, monopolizando as informações são listados 12 pontos principais (com base em BERSEN-
C#',
necessárias para a alimentação do processo de design e as C 1987):
possibilidades de comercialização dos produtos. 1) Usar o design como uma ferramenta gerencial;
A aplicação dos conceitos de design estratégico pode 2) Definir claramente os objetivos do processo de
tornar o mercado acessível à diversas organizações, em design;
diversos níveis, impulsionando o processo de melhoria
3) Fazer com que o design faça parte do nível estraté-
contínua que irá manter a competitividade e a possibili-
dade de crescimento das empresas dentro desse cenário gico de tomada de decisões dentro da empresa
(alta direção);
atual.
Também é importante destacar a crescente evolução 4) Introduzir os conceitos de design passo a passo
da internet que coloca empresas de portes distintos em dentro da filosofia e cultura de trabalho da
boas condições de igualdade de competição perante o organização;
mercado, já que com a mesma facilidade com se acessa 5) Utilizar o design para concentrar os esforços para
ao site de uma multinacional é possível acessar ao site de objetivos únicos e comuns à toda a empresa;
uma concorrente de menor porte e comprar seus 6) Estipular desafios como forma de estímulo ao
produtos ou serviços. Atualmente, a internet atua demo- surgimento de novas soluções em design para os
cratizando o acesso ao mercado; se essa realidade será produtos;
duradoura é difícil de se prever, pois esse mercado é
7) Determinar os objetivos a serem alcançados
extremamente volátil e ainda muito recente.
desde o início do processo de design dos produtos;
As organizações líderes de mercado já perceberam
8) Identificar as grandes idéias sem se esquecer que,
que as mudanças nas formas de gestão e na economia
muitas vezes, elas residem nos pequenos detalhes;
estão alterando as bases competitivas das empresas.
As organizações bem sucedidas, de hoje e de amanhã, 9) Não ir de encontro às dificuldades que surgirem
estarão efetivamente utilizando-se do design como um durante o processo de design mas, ao contrário, pro-
recurso estratégico fundamental. curar conviver com elas solucionando-as da me-
lhor man err a possível sem detrimento
da qualidade final do produto;
12 PONTOS PRINCIPAIS
10) Desenvolver o processo de design como um
diálogo entre diversas áreas de conhecimento que
Essa mudança de atitude e a absorção do design como i devem agir integradas (engenharia, produção,
fator crítico de sucesso não são tarefas fáceis de serem vendas, marketing ...);

84
J 85
11) Encontrar a relação que se estabelece entre específicas, dificilmente um desses profissionais conse-
o produto e o usuário de modo a desenvolvê-lo o guiria gerenciar e desenvolver um produto de maneira
mais adequado possível; adequada, pois não foram devidamente preparados para
12) Fazer com que o processo de design do produto isso. Assim sendo, o processo de design fica de fora do
ajude a empresa a construir a imagem que ela nível estratégico de tomada de decisões, pois são poucas
deseja ter, criando uma identidade que será as organizações que têm um Diretor de Design.
conhecida e reconhecida pelo mercado e pelos Dessa forma, funções chave que deveriam ser executa-
seus clientes. das pelo processo de design, como integração entre
marketing, engenharia e produção ou considerações
O design apresenta-se como um importante fator
acerca de novos produtos, como demonstra MEDEIROS
estratégico e diferencial competitivo dos produtos no
mercado porque os clientes e consumidores estão cada (1996), são gerenciadas de forma inadequada e as
vez mais seletivos e exigentes. Assim, inovações a ritmo análises superficiais dos problemas de projeto acabam
rápido, atendimento total aos requisitos dos clientes e levando a tratamentos inapropriados com grande risco de
flexibilidade gerencial são algumas das características, insucesso. Quando o design é associado apenas à aparên-
inerentes ao processo de design, que as empresas devem cia dos produtos, isso significa que o processo de design
adotar para obter sucesso, como demonstra MEDEIROS está sendo mal gerenciado e que nem todas as possibili-
(1996). dades acerca do produto e do mercado foram devidamente
levantadas, analisadas e solucionadas adequadamente.
Dessa forma, ainda segundo o autor, as empresas que
optam por aplicar recursos na criação de novos produtos De acordo com o Guia para Gerenciamento do
e no aperfeiçoamento do design de produtos existentes, Processo de Design de Produtos do British Standards
obtêm sucessos mais freqüentes, investindo na criação Institution - BSI, qualquer produto compete em um
de novos mercados mais do que na conquista de merca- determinado mercado de acordo com a sua performance,
dos já existentes, preocupando-se em agregar valor aos aparência, preço, canais de distribuição, confiabilidade,
produtos, tanto no desenvolvimento e aperfeiçoamento segurança e manutenabilidade. E todas essas caracterís-
quanto na criação de atributos intangíveis nos serviços ticas dependem fundamentalmente do processo de design
vinculados ao produto: aumento de garantia, melhor do produto.
assistência técnica e oferta de serviços adicionais. Ainda segundo o BSI, a performance e a aparência
É muito comum encontrarmos na esfera estratégica de muitos produtos podem ser substancialmente
das organizações profissionais como, por exemplo, melhorados, o que acarretaria um maior diferencial
Diretor de Produção, Diretor Técnico ou de Engenha- competitivo e a redução dos custos de produção.
ria, Diretor de Marketing e Diretor Administrativo. Um produto com design inadequado pode afetar negati-
Todavia, apesar de qualificados para suas áreas vamente a reputação de uma empresa e suas perspectivas
i
.... _._.1
86 87
de crescimento, principalmente se o produto não for Dessa forma, os três níveis gerenciais da empresa
confiável, oferecer perigo ao ser usado ou for de difícil terão suas tarefas e metas claramente estabeleci das,
manutenção ou reparo. podendo manter foco permanente no cliente e na gerên-
cia efetiva e eficaz do processo de design de produtos, o
Para que as empresas inglesas possam adotar o design que irá gerar as vantagens competitivas do produto final.
como elemento estratégico e diferencial de qualidade de
seus produtos, o BSI desenvolveu esse conjunto de nor-
Assim, a alta gerência da organização (nível estraté-
mas que fornecem sugestões e orientações para empre-
gico) envolvida no processo de desigr: terá como atribui-
sas de diversos ramos em diferentes níveis, desde a alta
ção, por exemplo:
gerência até os designers das equipes de projeto.
Todavia, para uma organização adotar essa filosofia
1. garantir a eficácia do processo de design
ela deve ter claramente definidos três pontos fundamen-
tais: 2. assegurar treinamento dos gerentes e equipes de
design
3. contratar consultores em design
qual o negócio da organização
4. proporcionar um ambiente organizacional adequa-
- as metas (quantificadas) de crescimento e lucro
do ao processo de design estratégico
- sua identidade e sua posição no mercado
5. avaliar o processo de design dos produtos
6. estabelecer incentivos e planos de carreira para as
Além de definir um planejamento estratégico, equipes de design
incluindo: 7. avaliar o desempenho dos produtos
8. gerenciar processos de certificação dos produtos
- planejamento estratégico do negócio que defini- 9. assegurar a eficácia dos processos ligados à
rá as metas a serem atingidas qualidade dos produtos •
- planejamento estratégico do produto que deverá 10. Definir a estratégia e a política de design
ser compatível com o planejamento estratégico do
negócio e as demandas de mercado, especifican-
Se o processo de design não estiver presente no coti-
do os produtos que poderão ser fabricados pela
diano da alta gerência e não fizer parte da sua maneira de
empresa.
pensar e gerir a organização, não haverá condições para
- planejamento estratégico dos recursos disponíveis: que ele se desenvolva de forma adequada pelo resto da
financeiros, tecnológicos, humanos, etc. empresa. Uma vez absorvido pela alta gerência, caberá à

88 89
· média gerência - nível de gerência de projeto ou gerên- 3. garantir que as equipes de desig« tenham as habili-
cia do produto (nível tático) - as seguintes tarefas, dentre dades necessárias para execução das etapas do
outras: processo de design e que o treinamento adequado
será ministrado;
1. assegurar que o produto desenvolvido é compatível 4. assegurar que a organização, procedimentos e
com o planejamento estratégico da organização; serviços de informação relativos aos projetos serão
adequados e atualizados periodicamente;
2. organizar a preparação do ôriefing do processo de
design; 5. dividir as tarefas entre os designers garantindo que
os requisitos definidos no brief estão claros e
3. alocar os recursos, controlar os gastos e organizar o
entendidos;
fluxo de caixa;
6. manter as equipes motivadas;
4. garantir a integração dos esforços das equipes
envolvidas, monitorar os progressos e tomar ações 7. monitorar em que medida está se obtendo sucesso
corretivas quando necessário; em atingir os requisitos do briefillg através da aná-
lise crítica do processo de design (desigll review) e
5. assegurar que os recursos disponibilizados para as
negociar as modificações, quando necessárias;
equipes de projeto serão adequados;
8. monitorar os ganhos e perdas com relação ao
6. controlar as vias de comunicação e troca de informações;
cronograma;
7. manter a alta gerência informada sobre os avanços
9. contribuir para a avaliação do produto;
e cronograma do projeto;
10. avaliar os procedimentos relativos ao processo de
8. organizar a avaliação do produto e gerenciar os projetos.
design e à qualidade do produto, implementando
melhorias quando necessário.
Ao terceiro nível gerencial (nível operacional) - ge-
rência da equipe de design - caberá as seguintes ativida- Quando esses três níveis gerenciais encontram-se
des: envolvidos com a filosofia de gestão em que o processo
1. participar da elaboração do briefing do design para de design é um elemento estratégico fica mais fácil para
garantir que ele será adequadamente definido e que o resto da organização participe de todo esse
de aplicação prática; processo, fazendo com que os produtos desenvolvidos
e produzidos sejam, realmente, de alta qualidade
2. prover adequados recursos de desigr: para que o
e adequados aos mais diversos usos aos quais serão
programa definido seja atingido;
submetidos durante o seu ciclo de vida.
Se o designer é um profissional que atua em um e satisfatória, conquistando uma melhor posição dentro
mercado altamente competitivo e dinâmico, tendo que do mercado de trabalho e das organizações atuais.
estar em contato com as mais recentes tecnologias, tanto O currículo dos cursos de design tem, em geral, o
a nível de prod ução de bens de consumo como projeto como base e espinha dorsal, ao qual as demais
também no tratamento e disseminação da informação, matérias deveriam convergir. Todavia essa integração
é de se esperar que sua formação seja adequada de modo muitas vezes não ocorre como desejado, além do fato da
a prepará-lo para essa realidade. De modo a transformá- inserção de novas tecnologias e ferramentas exigirem
10, inclusive, em um agente responsável pela descoberta não somente a criação de novas disciplinas ou laboratóri-
e inserção de novas tecnologias em sua área de atuação. os, mas a alteração da estrutura de como se ensina e
Todavia, existem diversas falhas no processo de ensino se pensa o projeto dentro das faculdades e no mercado
de design, algumas inerentes à própria estrutura de de trabalho também.
ensino do país, outras intrinsecamente ligadas à maneira
Ou seja, a maneira de projetar pode, ou não, ser
como se iniciou o ensino dessa atividade no Brasil e a
alterada dependendo dos avanços que ocorrem,
maneira como tem sido desenvolvida.
exigindo que as instituições de ensino sejam flexíveis o
No que se refere à área gerencial e planejamento suficiente para se adaptarem a essas novas realidades e,
estratégico da qualidade a qualificação dos designers, em ainda, terem uma atitude proativa, sugerindo
nível de ensino universitário, é bastante fraca, se e implementando mudanças e transformações antes
transformando em um elemento de exclusão do profis- mesmo do mercado fazê-lo ou exigir que seja feito.
sional que vê algumas atividades inerentes à sua forma-
A simples criação de um laboratório de informática,
ção sendo ocupadas por demais profissionais melhor
a compra de alguns equipamentos e a inclusão de uma
capacitados, como, por exemplo, as áreas de gerência de
disciplina para ensinar os alunos a utilizá-Ios não signifi-
produto e direção de arte, constantemente ocupada por
ca, de modo algum, que eles sejam capazes de projetar
engenheiros, administradores e pessoal de marketing e
dentro dessa nova realidade. O mesmo ocorre com as áreas
publicidade respectivamente. Além do fato de muitos
gerenciais e metodológicas. Introdução à gerência, à
designers atuarem como free-Iancers ou donos de
economia, à metodologia de projeto são matérias comuns
pequenos negócios, em que conhecimentos sobre gestão
de serem encontradas nos currículos de desenho
e planejamento estratégicos são fundamentais.
industrial. Todavia, os projetos não são pensados
Como o processo de design de produtos é uma integrando e utilizando esses diversos conceitos porque
atividade intrinsecamente gerencial, em que o designe: sua estrutura não está preparada para isso. Projetar utili-
atua gerenciando diversas informações diferentes dentro zando os conceitos de gestão estratégica do design, é bem
de um sistema processador de informações, torna-se diferente de como se ensina e se pensa projeto nas
importante suprir essa falha de formação para que o faculdades, mas é a realidade do atual mercado de
designer industrial possa atuar de maneira adequada trabalho, altamente competitivo e exigente, onde o design

92 93
é o diferencial competitivo - e não somente no que se
refere à qualidade estética e formal - que irá distinguir
um produto de seus concorrentes.
Podemos identificar, assim, a formação de um ciclo
vicioso que se cria no mercado do design industrial: as
indústrias não consomem design e, quando o fazem,
não encontram profissionais qualificados para atuarem
na realidade do mercado atual porque eles não são
preparados para tal, uma vez que não dispõem de
conhecimentos adequados sobre qualidade, planejamen-
to e gestão do processo de design de produtos, sendo
preteridos por profissionais de outras áreas.
Assim, a necessidade de se ter um design de caráter
estratégico atuando dentro das organizações não encon- o DESIGN DE PRODUTOS EM
tra respaldo na base de todo esse processo, que é a AMBIENTE DE MELHORIA
formação do profissional. Se não se forma um profissio-
nal para atuar dentro dessa realidade de mercado global, CONTÍNUA
o que teremos são profissionais cada vez mais preteridos
por carreiras concorrentes, uma profissão cada vez mais
desvalorizada e chances cada vez mais reduzidas no
mercado de trabalho para uma quantidade cada vez
maior de profissionais que são formados a cada ano. UM MODELO DE GESTÃO DO DESIGN
Se o design como diferencial competitivo dos
produtos e como elemento estratégico para o negócio das
Se a cornpetitividade é a grande palavra chave dos
organizações já é uma realidade de mercado, ele tem que
negócios atuais, em que o investimento e a absorção/
passar também a ser uma realidade acadêmica, de ensino
desenvolvimento de tecnologias torna-se peça chave para
e pesquisa em designo
o sucesso de qualquer organização, com o objetivo claro
de maximizar a diferença entre custo e lucro, é comum
que diversas metodologias e ferramentas sejam
desenvolvidas para auxiliar as pessoas e organizações
nessa tarefa.

94
Como, atualmente, temos a clareza de que o desem- Todavia, como observa MAGALHÃES (1995), as
penho de uma empresa tem relação direta com o modo metodologias aplicadas ao projeto de produto difundidas
como os seus processos são gerenciados - e o design de nas escolas de design industrial, estão voltadas para um
produtos está inserido dentro dessa realidade - também design operacional, enfatizando o planejamento e o
é de se esperar que essas metodologias e ferramentas controle do projeto relacionado com as tarefas internas
tenham relação não somente com a produção mas de desenvolvimento de produto propriamente ditas.
também com todas as etapas anteriores de desenvolvi- Assim, elas oferecem pouco instrumental para uma atua-
mento de um produto: o processo de design de produtos. ção estratégica do designer voltada para sua integração
Em uma empresa competitiva, a principal premissa profissional dentro das empresas, uma vez que elas
é atender ao cliente em todas as suas necessidades e partem do pressuposto de que o problema já vem
expectativas e, até mesmo, se antecipar a essas definido, não cabendo à atividade de desigr: participar
necessidades e superá-Ias. As necessidades do cliente e o desse processo de definição e conceituação do produto.
direcionamento do mercado tornam-se as principais Em recente pesquisa desenvolvida como parte de um
fontes de informação que irão alimentar o processo de trabalho de mestrado, alunos de último ano de cursos
desigll de produtos que irá se desenvolver de acordo com de design foram questionados sobre a importância de se
uma lógica em que as características das necessidades dos ter conhecimento sobre metodologias de projeto e a
clientes irão se transformar em requisitos dos clientes, maioria dos entrevistados avaliam seus conhecimentos
requisitos de projeto, características dos componentes do sobre esse tema como sendo apenas razoável. E quando
produto e determinar operações e requisitos de produção questionados se conheciam a QFO - uma das mais im-
de modo a fazer com que as características finais do produto portantes ferramentas que abordam o processo de desigr:
atendam exatamente às características iniciais das necessi- de forma estratégica e integrada - a maioria quase abso-
dades dos clientes. Tudo isso dentro de um claro sistema luta nunca ouviu falar sobre o tema e apenas alguns pou-
processador de informações que caracteriza o processo cos admitiram ter conhecimentos superficiais e que
de desigr: de produtos. foram adquiridos com a leitura de livros e artigos sem
Como foi mostrado no capítulo 2 (A qualidade dos vínculo com a faculdade, em estágio/trabalho ou em
produtos), um produto pode ser considerado de qualidade ·matérias eletivas.
quando é adequado aos mais diversos usos pelos quais ele Concordamos com o fato de que não existe uma
irá passar durante seu ciclo de vida. Para desenvolver única metodologia ou uma receita mágica que
um produto dentro de uma realidade estratégica de torne o processo de design eficaz em sua plenitude, e
melhoria contínua todos esses usos deverão ser que as metodologias podem e devem ser adaptadas
analisados e dissecados de acordo com o ponto de vista e desenvolvidas de acordo com as necessidades
do cliente e as informações obtidas devem ser organiza- e realidades de cada empresa, produto ou mercado.
das de forma estruturada para servirem de base para o Porém, a conceituação de como essa metodologia deve
processo de designo atuar é que está equivocada e não a metodologia por si só.

96 97
,.............................................................•.............................................................•. - .

I
Resumidamente, as metodologias de projeto se cliente comprador escolha um produto que não atenda
definem em torno de algumas etapas básicas, como totalmente ao cliente usuário.
demonstra SABOYA (1986), e que são: definição
.. do problema, análise do problema, síntese, avaliação
Cliente usuário: aquele que usa o produto. A expe-
riência que ele terá com o uso efetivo do produto fará
c
e desenvolvimento. Porém, o mais importante é com que ele o compre, ou estimule/solicite a sua compra,
o nível que essa metodologia atinge dentro da organiza- novamente.
ção e do processo de design do produto. Se a sua aplicação
Cliente capitalista: aqueles que fabricam, transpor-
se restringe ao nível operacional, a atuação do design fica
tam, distribuem, vendem e prestam serviços agregados
muito limitada. Mas quando aplicada no nível estratégico,
ao produto, obtendo, dessa forma, lucro financeiro.
ela pode ser muito mais eficaz do que eficiente e
reduzir sensivelmente as possibilidades de falhas no Cliente sociedade: aqueles que são impactados,
processo de design . direta ou indiretamente, pela existência e uso do
produto. Como, por exemplo, emissão de poluentes, uso
U ma metodologia para um processo de design
de materiais não recicláveis ou riscos à saúde ou à vida.
estratégico deve procurar desenvolver o produto com foco
permanente nos requisitos e necessidades dos clientes O processo de design do produto deve rnapear e
assegurando que o resultado final será adequado aos mais trabalhar as necessidades e requisitos dos diversos clien-
diversos usos e clientes do produto. tes de forma a tentar equilibrar fatores que poderão
parecer totalmente opostos (como obter lucro e ter preço
competitivo), mas que na verdade serão compatibilizados
CLIENTES E USOS DOS PRODUTOS
ao se utilizar uma abordagem estruturada e sistemática.
Somente dessa forma o design estará tendo um papel
estratégico que irá ser o diferencial competitivo desse
Dentro desse enfoq ue teremos a seguinte classificação
produto, atendendo às mais diversas necessidades dos
de clientes:
diversos tipos de clientes.
Cliente comprador: aquele que compra o produto.
Dentro desse processo, podem ser distribuídos
Pode ser também o cliente usuário ou um dos usuários
pesos de importância para os clientes e suas necessida-
do produto. A sua primeira motivação de compra
des, mas o ideal é que o produto chegue o mais
é baseada no que ele percebe do produto e no que
perto possível de atender a todos. De nada adianta
falam para ele sobre o produto (mídia). A segunda
desenvolver um produto adequado ao cliente comprador
compra deveria ser condicionada à experiência que o
e usuário, mas que tenha uma margem de lucratividade
cliente usuário terá com o produto, todavia, outros
baixa c quc não será atraente para os revendedores, por
fatores (financeiro, por exemplo) podem fazer com que o
exemplo. Ou então, que polua demais e desagrade o

98 99
-
.•.-
cliente sociedade causando prejuízos à Imagem Assim, ao mapear as necessidades dos clientes, que
se transformarão em requisitos dos clientes, requisitos
'- do fabricante.
Os diversos usos do produto poderão ser divididos do projeto, características dos componentes do produto,
em três categorias de função: (figura 11) características e requisitos de produção, o processo de
design estratégico deve estar atento a estas diferentes ,
Função de uso prático: diz respeito ao contato e
porém integradas, funções de uso do produto.
utilização física do produto. Pode ser sub-classificada em
funções de fabricação, embalagem, estocagem, transporte, Dessa forma, a metodologia irá procurar solucionar
distribuição e venda, uso final, manutenção, revenda, desuso, e/ou compatibilizar os problemas que compõem o que
reciclagem. KOTLER (in MAGALHÃES, 1995) chama de design mix:
a performance, qualidade, durabilidade, aparência e custo
Função de uso estético: diz respeito à parte formal
final e que impactam os diversos clientes do produto.
do produto e que terá relação, ou não, com a função de
Esse autor afirma, ainda, que "cada um desses elemen-
uso prático, mas, com certeza, terá muito haver com a
tos afetam um ao outro e começa a ser inaceitavelmente
função de uso simbólica, como, por exemplo, os recursos
caro, em termos competitivos e financeiros, decidir so-
de styling do produto. A função estética também é
bre eles separadamente - eles têm de ser especificados
responsável pela imagem da empresa utilizada de uma
em paralelo e desde o princípio do processo decisório".
forma estratégica (conceituação e consolidação da
mensagem), integrando aspectos formais do produto - Isso demonstra a importância de uma metodologia
marca, embalagens, impressos e demais itens - que (figura 11) que integre esses diversos fatores que
se transformarão em símbolos que representarão deter- compõem o design mix e que são elementos com caracte-
minados significados, posicionando-a perante o mercado rísticas de função de uso prático, estético e simbólico,
e seus concorrentes. afirmando mais uma vez que o processo estético não pode
estar dissociado do restante e ele por si só não é suficiente
Função de uso simbólico: diz respeito às mensa-
para garantir a eficácia do processo de designo As três classifi-
gens que determinado produto, marca ou empresa, pas-
cações de uso do produto têm fundamental
sam e que representam símbolos como, por exemplo:
importância e devem ser desenvolvidas "paralelamente"
status, kitsch, qualidade, robustez, juventude, tradição ou
para que o produto tenha mais possibilidades de obter
modernidade. Essa função será formada com base no uso
sucesso durante seu ciclo de vida.
prático e estético do produto, podendo também ser
planejada.

100 101
UNIVERSIDADE DE FRANCA
BASE CONCEITUAL PARA DESENVOLVIMENTO Foco NO CLIENTE E ORIENTAÇÃO PELO MERCADO
ESTRATÉGICO DE PRODUTOS
o foco no cliente permite que o produto seja desen-
volvido tendo como objetivo atender e superar as
Porém, nada impede que novas técnicas sejam necessidades e expectativas de seus futuros clientes,
desenvolvidas de acordo com as necessidades e realidades enquanto a orientação pelo mercado permite observar
de cada projeto específico. A própria estrutura metodológica e a concorrência, a evolução tecnológica e as relações que
as etapas a serem cumpridas podem variar de acordo com se estabelecem em uma economia como a atual , além de
a complexidade do produto que está sendo desenvolvido. fatores normativos e demais elementos que podem
impactar positiva ou negativamente o processo de designo
Todavia existem alguns fatores que não podem ser esque-
cidos e que são a base conceitual para se desenvolver um
modelo de gestão e operacionalização com enfoque es- ENVOLVIMENTO DA ORGANIZAÇÃO: PESSOAS E
tratégico. A seguir, passaremos a listar e comentar os princi- PROCESSOS
pais deles.
o estabelecimento de conceitos de design estratégico

I METODOLOGIA DE PROJETO
I e a implantação/criação
exigir uma restruturação
de um modelo nele baseado irão
por parte da organização e sua
estrutura vertical e departamental, dividida em
~"f OBJETIVO 1+ DESENVOLVER
PRODUTO DE
QUALIDADE
funções deverá ser reformulada de forma que o processo
de design passe a ser seu objetivo principal para onde

+
QUALIDADE
todas as demais atividades devem convergir. A eficácia
desse processo deve ser o principal fator crítico de suces-
PRODUTO = so da organização, estando acima de qualquer outro fator
ADEQUAÇÃO USO
ou de problemas de política interna, por exemplo.
,Ir
As pessoas envolvidas devem ter consciência dessa
I I
FUNÇÃO
realidade e a organização deve prover ambiente adequa-
FUNÇÃO
FUNÇÃO
DE USO
PRÁTICO + DE USO
ESTÉTICO
-
- DE USO
SIMBÓLICO
do para que elas possam desenvolver seu trabalho
convergindo para um mesmo objetivo. Treinamento,
I I
,Ir equipamentos, liberdade para agir e incentivo à
criatividade, ambiente de trabalho e um sistema adequa-
PRODUTO
DE
do de reconhecimento e recompensa do desempenho das
QUALIDADE pessoas são fatores fundamentais para que o processo seja
eficaz.
Figura 11. Qualidade do produto e classificações de uso.

102 103
,•..... _-------_ .._------------------------_. --------_._---------_. __ .

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ser reformulado para a nova realidade. Com relação ao


processo de design acontece o mesmo. A inserção pura
e simples de computadores, sistemas informatizados
o planejamento do projeto é fator primordial para e estações de trabalho dentro do processo projetual não
que o trabalho seja iniciado com o mínimo possível de significa, necessariamente, que ele se tornará mais
dúvidas e lacunas em branco. Informações como prazo eficaz. Com certeza determinadas tarefas serão executa-
e recursos disponíveis devem estar claramente definidas das com mais eficiência quando os projetistas
desde o início, principalmente no que se refere aos estiverem devidamente treinados e acostumados - como
recursos financeiros que serão utilizados. Interromper um desenhos técnicos - mas isso não significará que o pro-
projeto no meio ou desenvolver o produto com falhas, cesso estará sendo mais eficaz.
devido à falta de verba suficiente pode trazer muitos Um estudo de viabilidade amplo e co nsci e n te
prejuízos além do dinheiro investido. (englobando fatores humanos, financeiros, técnicos,
Com um planejamento adequado evita-se que sociais e ambientais, dentre outros) e, principalmente,
a equipe de projeto fique "dando voltas sem sair do a participação efetiva das pessoas envolvidas e afetadas,
lugar" ou que etapas importantes sejam preteridas. é que irá minimizar o risco de insucesso ao se absorver
Dessa forma, todos saberão o que fazer, quando fazer e novas tecnologias.
como fazer diminuindo as incertezas comuns em projetos
de designo
SISTEMA EFICIENTE PARA TRATAMENTO E DISSEMI-
NAÇÃO DA INFORMAÇÃO
USO DA TECNOLOGIA ADEQUADA

Ao contrário do que era usual algum tempo atrás,


A utilização da tecnologia adequada se refere não atualmente as organizações mais fortes são aquelas que
somente a que será empregada no produto em si - mate- disseminam a informação e não as que retêm informa-
riais, fabricação - mas também a que será utilizada no ção. É claro que ninguém vai contar à concorrência sobre
desenvolvimento do produto como, por exemplo, a o projeto dos seus produtos, mas as pessoas envolvidas
implantação de sistemas CAD - Oomputer Aided Design. devem estar o mais bem informadas possível, para
Ao se utilizar tecnologias de apoio ao projeto, a própria saberem exatamente o porquê estão desempenhando
maneira de se pensar o projeto é alterada e isso pode determinada atividade, quais as perspectivas futuras e
afetar positiva ou negativamente os resultados finais. desenvolverem decisões próprias acerca dos problemas
Toda implantação de novas tecnologias costuma que podem vir a surgir, além do acompanhamento
causar alguns problemas de adaptação dos trabalhadores e monitoração do status do andamento dos projetos.
envolvidos e o modo operatório então utilizado passa a

104 105
--=~ --------- -

Como o desigu de produtos é, por excelência, um venha a surgir poderá ser identificada em sua origem, não
sistema processador de informações, neste caso, mas do com o objetivo de descobrir culpados, mas com a
que em qualquer outro, deve ser desenvolvida uma intenção de melhorar constantemcnte o processo
maneira eficaz para busca, tratamento e disseminação da projetual, fazendo com que esse tipo de erro não ocorra
novamente.
informação que permita que as pessoas envolvidas no
projeto tenham a seu dispor, na hora que for preciso, as M u itas vezes determinados detalhes não são
mais diversas informações relativas ao seu projeto. documentados devidamente pois, naquele momento,
São essas informações que irão alimentar o processo de parece uma perda de tempo. Todavia, se mais tarde for
desigt: durante todo o tempo e a qualidade do resultado necessário fazer alguma alteração ou saber a resposta para
final dependerá, intimamente, da qualidade das algum questionamento, com certeza se gastará muito mais
informações disponibilizadas e processadas. tempo pesquisando do que se teria gastado da primeira
vez, além de correr o risco de não se obter a informação
Todo esse trabalho pode ser desenvolvido por uma necessária.
equipe de apoio ao projeto, também multidisciplinar, que
A documentação acerca do projeto deve se tornar uma
irá fornecer o suporte necessário para o processo de design
atividade comum e corriqueira dentro do processo
do produto. O uso de uma metodologia estruturada
estratégico de design, além de ser um dos pontos de
e sistemática para a manipulação desses dados,
partida para se obter algum tipo de certificação.
selecionando os realmente vitais para o sucesso
do produto e cruzando as informação para checar a Esses seis pontos não formam nenhuma receita
viabilidade, torna-se fator indispensável, sem o qual o mágica para se desenvolver produtos de sucesso, mas são
projeto se perderá em meio a tantos detalhes. as bases para que uma empresa possa desenvolver
produtos de forma adequada, aumentando as chances
de sucesso no mercado e fazendo com que o design
DOCUMENTAÇÃO DO PROJETO de produtos passe a ser um processo estratégico e
responsável por desenvolver diferenciais nos produtos.

Essa parte pode parecer apenas burocrática, mas um


CONCLUSÃO
projeto bem documentado é essencial para o sucesso do
trabalho. Cada alteração, cada detalhe, cada decisão da
equipe de projeto deve ser documentada constando Dessa forma, podemos concluir que na medida em
o porquê, como e quando aconteceu. Desenhos e relató- que os produtos se tornam cada vez mais parecidos,
rios devem ser devidamente numerados e catalogados de tecnologicamente, resta ao processo de design exercer o
forma que qualquer informação relativa ao projeto possa papel de diferencial. Dentro de uma abordagem estraté-
ser acessada facilmente a qualquer momento. gica, o processo de design se transforma no principal
Dessa forma, qualquer modificação ou qualquer falha que macroprocesso da organização, para onde todos os

106 107
~
i
I
I

i
.esforços devem convergir de modo a se ter um único que os designers brasileiros sejam formados e preparados
•..
'- objetivo: desenvolver, produzir e disponibilizar um para atuar dentro dessa nova realidade de mercado, com
::::> produto de qualidade, conquistando e retendo clientes e conhecimentos de gestão e planejamento estratégicos,
W
.:c
ampliando a participação nos mercados. qualidade industrial, marketing, design management
..::: Todavia, para que isso aconteça, toda a estrutura da e metodologias e ferramentas de projeto em ambiente da
<:.I

~ empresa deve ser organizada de modo a permitir que o qualidade. Assim, o cicIo de melhoria contínua
3 design passe a ser uma realidade interfuncional, do processo de design estará completo, alavancando a
;:
.:: participando de todas as etapas do ciclo de vida do profissão e fazendo com que ela se consolide de forma
""
~ produto, desde a pesquisa e análise de mercado, passan- mais estruturada e rápida em um mercado carente de boas
-<
r;: do pelo desenvolvimento, produção e venda, até a soluções em designo
2l
manutenção, desuso e reciclagem.
,..c
'F;
O estudo de caso descrito no apêndice e que foi
~ Apenas com a absorção completa do desig« pela desenvolvido em uma indústria de calçados de seguran-
~:; ça mostrou claramente a importância do design como
6 estrutura organizacional e com a adoção de uma postura
~ proativa, é que os produtos da empresa conseguirão diferencial competitivo, mesmo em um produto com alta
"O

se posicionar da melhor maneira possível no mercado, tecnologia envolvida. Nas vezes em que o design
destacando-se da concorrência e consolidando a imagem participou de todas as etapas do ciclo de vida do produto,
da empresa frente aos seus clientes. Se o design estiver as oportunidades de ganhos e de melhoria contínua dos
limitado a apenas algumas etapas do ciclo de vida do processos e do produto foram consideravelmente maio-
produto, atuando apenas como um maquiador ou estilista res do que quando o design esteve afastado da esfera
do produto, a empresa não terá absorvido o conceito estratégica do negócio. Além de verificarmos que o uso
de design estratégico e não estará pronta para as relações de uma metodologia que permitisse uma abordagem
de mercado que a economia global exige. estruturada e sistemática ao projeto teria poupado
Se essa realidade está cada vez mais presente em tempo, dinheiro e conseguido uma solução com maior
diversas organizações internacionais, algumas empresas qualidade para o produto.
nacionais e o próprio poder público já observaram a Como podemos concluir, o design é um dos grandes
necessidade de investir em design para qualificar elementos estratégicos que permitirá que as empresas
o produto nacional a concorrer no mercado global. continuem aperfeiçoando produtos já existentes e
Mesmo a despeito da inconstância e juventude do lançando produtos novos no mercado com grandes pers-
processo industrial brasileiro, o design cada vez mais pectivas de sucesso. As escolas de design,
conquista o seu espaço na mídia e se apresenta como profissionais, estudantes e mercado em geral devem
elemento estratégico e fundamental para o sucesso acordar para essa realidade e começar a recuperar o
do negócio de qualquer organização. tempo perdido, assumindo de vez a principal vocação do
Porém, não basta apenas que o mercado tenha a design: desenvolver diferenciais competitivos nos
necessidade e o hábito de consumir designo É necessário produtos .

•.............

108 109
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~~A'Ah • _-._.' ~ ·_._·~A·. •__ ' ~~"~ __ . ._~ __ , • __ · ,_~~v, ·~· .. _A ••A_ •••

APÊNDICE

ESTUDO DE CASO: INDÚSTRIA DE


CALÇADOS

Esse estudo de caso analisou uma indústria de calça-


dos do Paraná, com o objetivo de avaliar de que forma o
desigr: de produtos, o uso de conceitos de gestão estraté-
gica durante o processo de desenvolvimento/produção/
disponibilização do produto e o uso de metodologias de
projeto adequadas podem contribuir para que o produto
final tenha qualidade e que seu design seja, efetivamen-
te, o diferencial que irá posicionar e destacar o produto
em seu mercado.

NOME DA EMPRESA: CDE INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA.

Essa empresa surgiu em abril de 1988 em Curitiba,


Paraná, como uma representação de equipamentos de
proteção individual. Era formada por dois sócios,
estudantes do curso de design industrial da PUC-PR.
Em visita a um cliente da área de telecomunicações
foi feita uma solicitação para se elaborar uma forma mais
adequada para descarregar a eletricidade estática dos
operários dessa empresa. Até então eram utilizadas nessa
indústria pulseiras de aterramento que causavam
diversos problemas, desde desconforto pelo uso até
alergias e problemas de geração de eletricidade estática
ao abrir e fechar o fecho de vekro.

111
r
!

Em outubro de 1988, foi iniciado o projeto com o Folha de São Paulo e, posteriormente, uma reportagem
objetivo de solucionar esse problema. A partir desse na Rede Globo, em jornais do Paraná (Indústria e
momento, foram feitas diversas pesquisas com os Comércio e Gazeta do Povo) e uma matéria na revista
usuários finais e com produtos concorrentes inclusive no especializada IPESI iniciou a fase de produção em maior
exterior. Contando com a consultoria de um Engenheiro escala, todavia, ainda sob encomenda.
Químico, foi desenvolvida uma solução que seria um Nessa etapa, a empresa CDE controlava a fabricação
sapato especial com solado de borracha condutiva. em uma indústria de Santa Catarina onde era feita parte
Um problema observado foi a dificuldade de se da produção e a montagem da sola de borracha condutiva
acostumar o operário desse setor a usar um equipamento com o cabedal. A empresa controlava, também,
de proteção desse tipo, uma vez que ele não tinha a distribuição e o desenvolvimento de novos produtos.
o costume de fazê-lo devido à falta de obrigatoriedade
Apesar de ser um produto líder em tecnologia para a
por parte do Ministério do Trabalho.
área de calçados de segurança, a empresa investiu em
Foram elaborados dois protótipos em dezembro de design na medida em que cada pedido feito por um
1988, um sapato fechado e uma sandália. Os protótipos cliente tinha um projeto específico que transformava
, foram confeccionados em uma indústria de Santa Catarina aquele modelo em um produto exclusivo e adequado às
que era representada pela empresa CDE. suas necessidades específicas. Além de ter o uso
Até setembro de 1989 foram desenvolvidos mais da tecnologia da borracha condutiva, o produto também
de 100 pares de protótipos para teste até chegar à solução se distinguia pelo seu design exclusivo para cada cliente,
ideal que integrasse fatores ergonômicos, estéticos transformando-se em um diferencial a mais.
e dissipativos. Em julho desse mesmo ano, foi feito o Nesse momento, os principais compradores do
depósito da patente. produto eram a indústria de telecomunicações e a indús-
Foi, então, elaborada uma produção piloto de 180 tria química. Em junho de 1990, a CDE fechou um con-
pares que ficaram em teste durante 3 meses, sendo eles 2 trato de parceria para a distribuição do produto com uma
modelos de sandálias e 2 modelos de sapatos, para sexo outra empresa. A produção estava na faixa de 700 pares
masculino e feminino, respectivamente. Após diversos ao mês, ao custo variável de US$ 45,00 a US$ 50,00 a
testes e entrevistas com os usuários, vários problemas unidade.
foram detectados e a sandália feminina foi substituída Ao fechar a parceria para distribuição a empresa
por uma sandália unissex, mantendo modelos diferentes perdeu uma parte estratégica do seu processo que era o
para sapato. contato direto com o cliente final e passou a não
Em janeiro de 1990, iniciou-se a divulgação e desenvolver modelos específicos para as necessidades do
lançamento do produto, sem similar nacional até hoje. cliente. Sem o contato com o mercado o processo de design
Em 14 de março de 1990, uma reportagem no jornal não tinha informações para alimentar o trabalho de

"~o .
112 113
Esse estudo de caso demonstra alguns aspectos designers recém-formados nas faculdades do Rio de
interessantes que confirmam alguns pontos importantes Janeiro já havia apontado esse problema, também
que foram levantados durante o decorrer do livro: confirmado nesse estudo de caso por profissionais
formados em outras escolas.

1) O design tem uma vocação natural para gerenciar


todas as etapas do ciclo de vida do produto, fazen- 4) A parte estratégica do negócio é cada vez mais a
do a ligação entre produção, desenvolvimento e chave para o sucesso de uma empresa e de seus
vendas. Quando essa liderança é quebrada, o pro- produtos. Nela está, com destaque, o controle dos
duto e a empresa saem prejudicados. acessos ao mercado. Quando a empresa perdeu o
acesso ao mercado, perdeu a oportunidade de
obter informações que alimentariam o processo
2) A utilização de metodologias estruturadas que de desig« de forma a mantê-I o como o grande
permitem gerenciar melhor as informações envol- diferencial do produto. Enquanto a produção
vidas no processo de design do produto e reduzir manteve-se terceirizada, sob o controle da COE ,
as possibilidades de falhas no projeto é de vital não havia maiores problemas, mas a parceria de
importância para se obter um resultado com qua- distribuição determinou uma fase ruim para a
lidade. Ao não utilizar uma metodologia adequa- empresa e para o produto.
da, o prazo de desenvolvimen to foi
exageradamente grande (outubro de 1988 a mar-
ço de 1990), baseado na tentativa e erro, acarre- 5) O contato próximo com o cliente, participando e
tando custos bastante altos. entendendo como ele avalia a qualidade do
produto fornece informações vitais para que as ne-
cessidades demonstradas pelos clientes possam se
3) O designer brasileiro nem sempre é preparado para transformar de um simples requisito em uma
uma atuação estratégica, tendo falhas na sua for- característica do produto.
mação no que se refere a planejamento estratégi-
co, gestão pela qualidade e desenvolvimento de
produtos em ambiente de melhoria contínua, além 6) A busca de um design exclusivo que atenda de for-
de desconhecer metodologias e ferramentas de ma diferenciada os diversos clientes do produto
projeto que auxiliariam o seu trabalho tornando-o mostrou como essa característica está cada vez mais
eficaz e não apenas eficiente, ou seja, projetar presen te no mercado e é possível de ser
o produto correto e não apenas projetar atingida com um trabalho de design bem
corretamente o produto. A pesquisa feita com os planejado.

116 117
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
7) A consultoria de um Engenheiro Químico no pro-
jeto e as parcerias desenvolvidas com os fornece-
dores e fabricantes confirmam a característica ADAMS, Scott. O Princípio Dilberi. Rio de Janeiro:
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sidade de se aproximar as diversas áreas envolvi-
das para que se obtenha um bom resultado final ANDRADE, R.S. The role of simulation in designo
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Dessa forma, esse estudo de caso mostra a importân- Conference on Engineering Design, p. 401-407,
cia do design como diferencial competitivo do produto Budapest,1988.
a despeito da tecnologia envolvida e a necessidade de
que ele esteja na liderança de todo o processo. Foi com ANDRADE, R.S. Design and Quality. Harrogate.
base nesses conceitos que uma pequena empresa de ICED - International Conference on Engineering
representação passou por diversas fases se transforman- Design, Proceedings,1989.
do em uma empresa de desenvolvimento de tecnologia
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OUTRAS OBRAS PUBLICADAS
PELA EDITORA DA UNIVALI

Manual prático de citologia


Juarez Philippi

Descrever o escrever
Daniel Cassany - Tradução de Osmar de Souza

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