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São Carlos
2011
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, pelo amor, pela educação e pelo apoio e confiança que sempre depositaram
em mim independentemente das minhas decisões;
Aos meus avós, por todo o amor que sempre recebi e pela imensa experiência que jamais
se negaram em compartilhar. Tenho saudade da época que podia passar muito mais tempo
com vocês;
Ao meu orientador, professor Almir Sales, pelas ótimas aulas que freqüentei ao longo da
graduação que me fizeram despertar um grande interesse pelas estruturas de madeira;
Ao Hélio Olga, por permitir e me acompanhar pacientemente na visita feita à Ita Construtora,
explicando detalhadamente cada etapa do processo de fabricação da MLC;
Ao pessoal do LAMEM, Neto, Bragato, Calil e Rocco, que me receberam muito bem e foram
essenciais para a elaboração deste trabalho;
Ao Paulo, Thomaz, Célia e Gustavo, por tudo que me ensinaram nestes anos de
Construtora Ypês. Exemplos de seriedade e honestidade que sempre seguirei;
Muito obrigado a todos que colaboraram de forma direta ou indireta com a elaboração deste
trabalho, seja me incentivando ou me colocando em contato com pessoas muito importantes
que me ajudaram muito no trabalho.
É preciso usar a madeira para que ela não acabe.
RESUMO
Este trabalho busca fomentar um sistema estrutural que utiliza matéria prima
totalmente renovável. A madeira laminada colada é um produto engenheirado resultante da
união de diversas lâminas, através de colagens especiais, utilizando adesivos com
resistência e durabilidade adequadas para a colagem de elementos estruturais de pequeno,
médio ou grande porte. O Brasil não possui uma norma específica que oriente a produção
da MLC. O projeto de revisão da norma ABNT – 7190:2011 possui algumas informações
sobre MLC entre as muitas informações genéricas a respeito das estruturas de madeira.
Buscou-se neste trabalho coletar as informações a respeito da fabricação da MLC existentes
nas principais normas internacionais, de forma a somar com as informações existentes na
norma brasileira. Além da revisão bibliográfica foi realizada uma visita técnica a uma
empresa produtora de MLC. Com isso foi possível observar o emprego de diversas técnicas
relativas à produção do material estudado e concluir que a indústria nacional produz
elementos estruturais em MLC com qualidade equivalente ao que é feito nos países
desenvolvidos.
ABSTRACT
This paper aims to promote a structural system that uses entirely renewable
materials. Glued laminated timber (or Glulam) is a product engineered from the joining of
several layers of timber through a special glueing process, employing adhesives with
sufficient resistance and durability for bonding small, medium and large structural elements.
Brazil does not have a specific technical standard that regulates the production of Glulam.
The proposed revision to the ABNT - 7190:2011 standard has some information on Glulam
amongst the various generic information on wooden structures. Thus, this work attempts to
collect information on the manufacture of Glulam from the main international standards,
adding it to the existing information in the brazilian standard. In addition to the bibliography
review, a technical visit to a manufacturer of Glued Laminated Timber was made. This
allowed the observation of several techniques applied in the process, and led to the
conclusion that the national industry is capable of producing Glulam structural elements of
the same quality as those manufactured in developed countries.
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1
1.1 Sustentabilidade na construção civil brasileira ..................................................... 1
1.2 O preconceito que existe no uso da madeira em estruturas ................................. 3
1.3 Reflorestamentos e manejos sustentáveis ............................................................... 4
1.3.1 Florestas de eucalipto ............................................................................................. 4
1.3.2 Florestas de Pinus ................................................................................................... 7
1.3.3 Manejos sustentáveis .............................................................................................. 7
1.4 Objetivos .................................................................................................................. 10
1.5 Justificativa ............................................................................................................. 10
1.6 Estrutura do texto ................................................................................................... 11
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 12
2.1 O uso da madeira na construção civil brasileira ................................................. 12
2.2 Madeira Laminada Colada .................................................................................... 15
2.3 Exemplos de aplicação de MLC no Brasil e no exterior ..................................... 17
2.3.1 Exemplo 1 – Parque de Exposições de Brasília ................................................... 17
2.3.2 Exemplo 2 – Richmond Olympic Oval ................................................................ 18
2.3.3 Exemplo 3 – Aeroporto de Oslo (Noruega).......................................................... 19
2.4 Disposições normativas a respeito da fabricação de MLC ................................. 19
2.4.1 Variações dimensionais aceitáveis nos elementos de MLC ................................. 22
2.4.2 Seleção da madeira para a laminação ................................................................... 23
2.4.3 Preparação das lâminas ......................................................................................... 31
2.4.4 Adesivos e prensagem .......................................................................................... 33
2.4.5 Enxertos de madeira ............................................................................................. 37
2.4.6 Manufatura............................................................................................................ 38
3. A PRODUÇÃO DE MLC NO BRASIL .......................................................................... 50
3.1 Perspectivas de mercado e panorama das unidades fabris brasileiras ............. 50
3.2 Estudo de caso - Visita à Ita Construtora ............................................................ 52
3.2.1 Instalações e linha de produção ............................................................................ 53
3.2.2 Recebimento e estocagem da madeira serrada ..................................................... 55
3.2.3 Classificação visual das tábuas ............................................................................. 57
3.2.4 Emendas dentadas................................................................................................. 59
3.2.5 Montagem e colagem das peças ........................................................................... 61
3.2.6 Acabamento das peças .......................................................................................... 65
4. CONCLUSÕES ................................................................................................................ 69
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 70
1
1. INTRODUÇÃO
O engenheiro Hélio Olga, durante uma entrevista ao Podcast Rio Bravo, chegou a
comentar que alguns países europeus, entre eles a França, obrigam que as novas
edificações possuam uma porcentagem de madeira, entre outros motivos, para garantir o
seqüestro de carbono por um longo ciclo. Por outro lado, o que se vê no Brasil é o total
desconhecimento sobre o assunto, sendo proibida a execução de obras públicas com
estruturas de madeira.
Este trabalho, portanto, busca ampliar o conhecimento relacionado a este tema que é
pouco explorado nas disciplinas de graduação, porém de uma importância muito grande do
ponto de vista da sustentabilidade.
3
Mesmo uma pessoa leiga consegue perceber que a engenharia civil brasileira ainda
necessita passar por transformações consistentes no que diz respeito à racionalização das
construções.
Nas moradias brasileiras a madeira tem uma boa aceitação apenas na composição
de seus telhados, mas a grande maioria da população opta por executar a estrutura e a
vedação de suas habitações em concreto armado e alvenaria (MELLO, 2007).
As duas maneiras mais usuais de se obter madeira de forma sustentável são através
dos reflorestamentos e dos manejos sustentáveis.
A seguir serão apresentadas algumas informações a respeito das fontes mais usuais
de madeira, apontando os pontos positivos e negativos de cada uma.
plantada, mesmo sendo o eucalipto uma das espécies mais eficientes do ponto de vista da
produção de biomassa, produzindo mais biomassa por litro de água consumido do que a
maioria das outras culturas (VITAL, 2007).
Técnicas de manejo empregadas – existem técnicas de manejo que podem ser mais
favoráveis ao solo do que outras. Deixar galhos, folhas e cascas sobre o solo no momento
da colheita pode aumentar o nível de nutrientes do solo e ainda ajudar a reduzir o processo
erosivo (VITAL, 2007).
Para o professor Walter de Paula Lima, uma explicação para o surgimento da crença
popular de que o eucalipto resseca o solo vem de uma análise em escala micro do
problema. Esta é a escala onde ocorrem as ações de manejo, onde o homem planta, colhe,
destrói, desmata, compacta o solo, impermeabiliza, soterra nascentes, destrói a mata ciliar,
cria gado, constrói açudes. Todas estas ações e muitas outras ocorrem na escala das
pequenas propriedades rurais, onde também estão localizadas as micro-bacias
hidrográficas, que são as grandes formadoras e alimentadoras dos rios e dos grandes
sistemas fluviais.
O apelo econômico resultante de cada uma destas pressões conflitantes, uma pela
conservação e a outra pela derrubada das florestas, é um fator importante para que uma
8
O Brasil possui mais de 470 milhões de hectares de florestas tropicais nativas, desse
total 50% são protegidas por medidas governamentais estaduais ou federais. Esses dados
9
Embora existam trabalhos que mostram boas perspectivas com relação aos manejos
para a produção de madeiras, seja pelo benefício da paisagem, para a população regional
ou para a indústria, existem três impedimentos logísticos imediatos. Primeiramente a
população de modo geral não tem conhecimento, tampouco experiência no assunto, sendo
assim, caso sejam feitas tentativas de manejos sem o auxilio técnico necessário, fatalmente
a floresta sofrerá algum dano. Em segundo lugar os retornos dos investimentos em manejos
não são tão atraentes como os retornos provenientes de outros tipos de investimentos. O
terceiro fator que dificulta a implantação de manejos sustentáveis no Brasil é o baixo custo
da terra em determinadas regiões, sendo mais barato comprar um hectare de terra com
floresta virgem e desmatar totalmente do que colocar dinheiro para a manutenção do
manejo da propriedade já existente.
1.4 OBJETIVOS
1.5 JUSTIFICATIVA
Para que a construção civil brasileira se desenvolva é necessário acabar com certos
preconceitos e mudar velhos costumes para que se possa empregar materiais mais
modernos nas situações em que estes forem mais adequados.
A madeira laminada colada é um destes materiais que merece ser mais utilizado
devido ao alto grau de industrialização e racionalização presente na fabricação dos
elementos.
11
Este trabalho é composto por cinco capítulos, sendo o primeiro deles este capítulo
introdutório.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
É preciso lembrar que também existem aquelas habitações em madeira que atendem
inteiramente as necessidades de seus usuários, geralmente pertencentes a camadas mais
abastadas da sociedade, porém na maioria das vezes, segundo Bittencourt (1998), estas
construções luxuosas não são possuidoras de qualquer preocupação com a racionalização
da produção, não acrescentando nada para o desenvolvimento de qualidade, modernização
e inovação tecnológica das construções de madeira do Brasil.
O preconceito que gira em torno das construções em madeira no Brasil, não apenas
as residências, mas também em obras de pontes, torres, postes, entre outras, deve-se ao
fato de não serem levados em consideração os quesitos básicos de projeto, gerando
edificações de qualidade ruim, de baixa durabilidade, que não suprem as necessidades de
seus usuários.
Calil (2002) afirma que a imagem ruim da madeira foi sendo construída ao longo do
tempo porque as indústrias de aço e concreto sempre investiram em pesquisas, que ao
serem divulgadas foram imediatamente acompanhadas pelas normas de cálculo, permitindo
a elaboração de projetos tecnicamente sofisticados. As indústrias da madeira (serrarias)
14
existem em todas as regiões do país, não são unidas, não se comunicam e tampouco
seguem critérios técnicos sobre o material, já as indústrias do concreto e do aço, que são
em número reduzido e geralmente de grande porte, são mais organizadas e seguem normas
específicas, que inclusive foram desenvolvidas com o seu auxilio.
Apesar do forte predomínio do uso não racional da madeira neste país, existem
inúmeras linhas de pesquisas que buscam contornar esta realidade, propondo muitas
soluções racionalizadas, ecologicamente corretas, econômicas e principalmente soluções
que satisfazem todas as necessidades dos seus usuários.
Entre outras qualidades, a madeira adulta apresenta maior densidade, sendo este
um dos fatores de maior importância para a fabricação de elementos de MLC com qualidade
e eficiência estrutural, portanto Azambuja (2006) afirma que é extremamente importante
fazer o corte da tora de madeira de forma diferenciada, aproveitando ao máximo a madeira
adulta, com maior densidade e melhores índices de resistência.
O uso de peças de seção transversal reduzida também é visto de forma positiva por
Rocco e Sales (1998) com relação aos defeitos de secagem, que ocorrem com maior
freqüência em peças de grandes dimensões.
A estrutura é composta por arcos de madeira laminada colada com 100 metros de
vão livre, intercalados por uma série de painéis de madeira que produzem um visual
ondulado.
Na Figura 3 são apresentadas uma vista aérea e uma visão interna do ginásio
construído para as olimpíadas de inverno de Vancouver.
19
Além da madeira, outros materiais como concreto armado e treliças espaciais de aço
também foram utilizados, aproveitando as melhores características de cada um.
- Lâmina: Geralmente sua espessura varia entre 2,5 cm e 5,0 cm, de acordo com a
altura e a curvatura da peça a ser construída.
- Emendas Transversais: usa-se este tipo de emenda quando o objetivo é obter uma
lâmina de largura superior à da lâmina simples.
- Linha Adesiva: Existem diversos tipos de adesivos, que devem ser empregados de
acordo com a espécie de madeira, tipo de peça a ser produzido, seu uso e o ambiente de
sua instalação. Para ambientes interiores usa-se com freqüência os adesivos à base de
melanina ou de caseína e no uso exterior são adotados aqueles à base de resorcinol.
Segundo a AITC A190.1:2007, o tamanho e a forma do MLC devem seguir o que foi
contratado entre comprador e vendedor, sendo aceitável as variações dimensionais
descritas a seguir:
- Comprimento: +/- 2mm, até 6,1m; além de 6,1m +/- 2mm a cada 6,1m ou a fração
correspondente.
Em uma peça com 305 mm de altura a diferença entre as medidas das duas
extremidades da sua seção podem ser, no máximo, de 3 mm para mais ou para menos,
como detalhado na Figura 7.
2.4.2.1 Densidade
2.4.2.2 Espécie
2.4.2.3 Umidade
Cada lote de tábuas deve apresentar a umidade mais homogênea possível, com a
finalidade de evitar o surgimento de defeitos na colagem. Uma forma de prevenir estes
defeitos está na imediata utilização de um lote de madeira depois de concluída a sua
secagem e estabilização do teor de umidade (NBR 7190:2011).
A NBR 7190:2011 ainda determina que na composição das peças, a colagem das
lâminas deverá ser feita com a madeira seca, com no máximo 18% de teor de umidade, e
impõe que lâminas adjacentes não podem apresentar variação de umidade superior a 5%.
O tratamento das tábuas que darão origem às peças de MLC devem ser feitos com
produtos que não interfiram na aderência da cola, além de garantirem a durabilidade e a
proteção biológica satisfatória para o elemento (NBR 7190:2011).
A. Classificação Visual
Carreira (2003) ainda acrescenta que o principal aspecto que influencia o nível de
qualidade visual é a presença de nós e a inclinação das fibras da madeira.
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Independentemente da seção transversal da peça, a porção que pode estar ocupada pelo
nó é praticamente constante para cada classe. A partir desta constatação fica mais simples
o sistema de classificação visual, tornando a área de cada nó o fator determinante para a
classificação da peça.
As lâminas múltiplas, compostas por duas ou mais peças posicionadas lado a lado,
para obtenção de uma largura maior, devem ser examinadas como peças individuais de
madeira, exceto quando as lâminas já unidas são fornecidas por outro fabricante, desde que
seja qualificado por um laboratório idôneo (AITC A190.1:2007).
Toda classificação deve ser feita examinando as quatro faces da lâmina, além de
suas duas extremidades. A classificação quanto à resistência estrutural leva em
consideração a localização e a natureza dos nós, assim como outras características
presentes na superfície da madeira (AZAMBUJA, 2006).
Portanto a madeira antes de ser utilizada é avaliada com relação ao tamanho dos
nós, inclinação das fibras e densidade ou taxa de crescimento, de acordo com a norma
(AITC A190.1:2007).
Coiado e Dias (2004) afirmam que quanto mais anéis de crescimento de madeira de
inverno existirem por polegada, maior a resistência à tração da peça, sendo este um fator
mais importante na determinação da resistência final do que a quantidade de nós e a
inclinação das fibras.
27
- Caso exista medula, esta deverá ocupar menos de 1/6 da largura final.
- A inclinação das fibras, naturalmente causada pela existência de defeitos, não pode
exceder 6 graus.
B. Classificação mecânica
A NBR 7190:2011 determina que a classificação mecânica prévia deverá ser feita
para cada tábua de um lote, através de ensaio não destrutivo, para a determinação de
módulo de elasticidade na flexão (EM), que será utilizado como referência no processo de
composição das peças. Desta classificação surgem dois sub-lotes, com tábuas que
apresentam (EM) superiores e inferiores à média representativa das tábuas da espécie
empregada.
Lâminas classificadas por prova de carga são aquelas cujas resistências são
atestadas por ensaios de tração realizados individualmente em cada lâmina.
De acordo com a AITC A190.1:2007 os ensaios devem ser feitos sob supervisão de
um laboratório idôneo. A lâmina de madeira classificada por prova de carga deve ser
submetida ao controle de qualidade baseado em ensaios de tração em peças estruturais,
como especificado na norma americana AITC 407-2005. Todos os ensaios devem ser
realizados em peças individuais de madeira, sem emendas nas extremidades.
As lâminas provenientes das tábuas classificadas por prova de carga devem ser
colocadas à prova novamente após a laminação, de acordo com as exigências para cada
tamanho de lâmina. A reclassificação pode ser dispensada se o módulo de elasticidade e o
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Todas as superfícies de colagem (face, topo e lateral) devem ser lisas, isentas de
fibras levantadas, interrompidas, queimadas ou vitrificadas e de outras variações que
prejudiquem o contato das fibras nas superfícies de ligação. Deve-se manter a superfície de
colagem livre de pó, material estranho ou exsudação, pois a ocorrência destes gera uma
colagem ineficiente (AITC A190.1:2007).
2.4.3.2 Esmoado
O comprimento mínimo de cada tábua deve ser de 100 cm, a largura deve ser tal que
após o acabamento final da peça a lâmina apresente pelo menos 5 cm. Não deverá existir
lâmina com largura superior a 20cm (NBR 7190:2011).
A norma AITC A190.1:2007 afirma que as lâminas não devem exceder 51mm de
espessura. A variação da espessura ao longo da largura da lâmina não deve exceder +/-
0,2mm. A variação da espessura ao longo do comprimento de uma lâmina não deve
exceder +/- 0,3mm. As variações aqui descritas devem ocorrer de tal forma que o efeito
acumulativo destas não resulte em variações maiores do que as permitidas para o elemento
acabado
A lâmina de madeira com densidade de até 0,50 g/cm³ pode apresentar área da
seção transversal máxima de 60 cm². Madeiras com densidade maior do que 0,50 g/cm²
poderão apresentar área máxima da seção transversal de 40 cm² (NBR 7190:2011).
A norma AITC A190.1:2007 determina que todos os adesivos utilizados devem estar
de acordo com a norma AITC 405-2005.
A norma BS EN 385:2001 orienta que a escolha do adesivo deve ser feita levando
em consideração as condições climáticas em serviço, a espécie de madeira, o tratamento
preservativo (caso haja) e os métodos de produção.
Azambuja (2006) afirma que a pressão aplicada entre as lâminas adjacentes no ato
da colagem é um fator importante para garantir a qualidade do MLC, peças lixadas ou
abrasivamente aplainadas exigem cuidados particulares.
A norma ainda acrescenta que caso o fabricante da cola não tenha uma
recomendação específica com relação à pressão de colagem entre as lâminas adjacentes,
deve-se aplicar uma pressão mínima de 0,7 MPa para madeira de densidade inferior a 0,50
g/cm³ e uma pressão não inferior a 1,2 MPa para madeira de densidade superior a 0,50
g/cm³.
A norma DIN 68 140:1971, orienta que a colagem das emendas dentadas também
deve ser feita sob pressão, variando de acordo com o comprimento do dente e a densidade
da madeira. Um dos limitantes superiores para a determinação da pressão aplicada neste
caso é o surgimento de fissuras, não devendo nunca exceder 0,5 cm no fundo dos dentes.
Um gráfico que relaciona a pressão de colagem com o comprimento dos dentes é
apresentado na Figura 15.
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2.4.4.1 Rotulagem
Cada recipiente contendo adesivo deve ser identificado com o nome do fabricante,
descrição do adesivo, número do lote e data de validade. Em todos os recipientes devem
existir etiquetas, com especificações apresentadas de forma clara e visível para o
observador (AITC A190.1:2007).
A norma americana também defende que adesivos com a data de validade vencida
não devem ser utilizados, a menos que o fabricante faça uma avaliação e garanta que o
produto possa ser utilizado sem afetar a qualidade do produto final. Neste caso a nova data
de validade deve ser mostrada no local adequado da etiqueta.
Cada novo lote de adesivo deve ser testado e ter sua resistência e durabilidade
comprovadas antes de ser liberado para o uso. As amostras para este teste podem ser
feitas separadamente, antes do uso do adesivo na produção, ou retiradas da primeira
remessa da produção realizada com este novo lote de adesivo. Os ensaios devem utilizar as
espécies de madeira que serão utilizadas na produção da MLC, adotando sempre os
mesmos procedimentos de cura utilizados na produção (AITC A190.1:2007).
Ensaios de cisalhamento devem ser feitos a cada novo lote de adesivo, de acordo
com a norma americana AITC T 107:2004. A resistência média ao cisalhamento da amostra
deve ser maior ou igual a 90% da média da resistência ao cisalhamento paralelo às fibras da
madeira (sem nós), de acordo com a ASTM D2555.
37
Para a umidade de 12% e inferior, deve ser usado o mesmo valor para a resistência
ao cisalhamento. A média do valor de ruptura na superfície cisalhada ou quebrada de cada
corpo de prova deve ser maior que 80% da resistência da madeira sã para adesivos
utilizados em coníferas ou folhosas não densas e maiores do que 60% da resistência da
madeira sã para adesivos utilizados em folhosas densas (AITC A190.1:2007).
No mínimo 4 emendas devem ser testadas. A média do valor de ruptura nos corpos
de prova ensaiados deve ser maior que 80% da resistência da madeira sã para adesivos
utilizados em coníferas ou folhosas não densas e maiores do que 60% da resistência da
madeira sã para adesivos utilizados em folhosas densas (AITC A190.1:2007).
A durabilidade das emendas deve ser testada de acordo com o ensaio descrito na
norma AITC T110-2004 em cada novo lote de adesivo. Após um ciclo completo, as coníferas
não devem apresentar mais do que 5% de delaminação e as folhosas não mais do que 8%
de delaminação. As amostras para avaliação das emendas longitudinais devem ser
preparadas utilizando os mesmos procedimentos de cura da produção (AITC A190.1:2007).
A norma americana ainda determina que a aplicação dos enxertos deve seguir os
seguintes critérios:
38
- Para lâminas com largura menor do que 140mm, a altura máxima do enxerto é de
13mm. Lâminas com largura maior do que 140mm, podem receber enxertos de até 19mm;
2.4.6 MANUFATURA
A seleção e preparação das tábuas e adesivos devem estar de acordo com todas as
exigências contidas nos itens anteriores deste trabalho. A mistura do adesivo, o intervalo
entre a mistura e o espalhamento do adesivo, a aplicação do adesivo (espalhamento
propriamente dito), o tempo de montagem, a pressão de montagem, a temperatura e tempo
de cura do adesivo devem se basear nas recomendações do fabricante do adesivo,
devendo o fabricante da MLC fazer o controle diário da qualidade da produção.
Quando as emendas transversais não são coladas, estas devem ser escalonadas
lateralmente entre as camadas adjacentes, com um intervalo mínimo do tamanho da largura
de uma lâmina simples. Nas emendas transversais coladas de acordo com o previsto na
norma AITC A190.1:2007, não é necessário o escalonamento lateral. O escalonamento
entre as emendas transversais está representado na Figura 16.
40
Quando lâminas compostas por múltiplas peças não são coladas lateralmente,
entende-se que as emendas transversais das peças estão suficientemente próximas umas
das outras. Nas lâminas superiores e inferiores dos elementos, o espaçamento permitido na
emenda transversal é de 6mm, podendo ocasionalmente atingir 10mm. Nas lâminas centrais
as aberturas permitidas são as seguintes: 10mm para largura de lâmina até 235mm; 13mm
para largura de lâmina até 286mm; 16mm para largura de lâmina até 337mm; larguras
superiores a 337mm devem apresentar aberturas proporcionais à aberturas para a largura
de 337mm. Nas lâminas que contém três ou mais partes, as medidas das aberturas devem
ser acumulativas (AITC A190.1:2007).
Lâminas compostas por múltiplas partes, não coladas lateralmente, que apresentem
falhas visíveis das emendas transversais, devem ser reparadas com material de
preenchimento ou enxertos de madeira. Emendas transversais não coladas não são
permitidas em condições de serviço úmidas, onde seja possível o acúmulo de umidade
(AITC A190.1:2007).
As emendas longitudinais têm a finalidade de unir uma lâmina à outra, seja para
obter uma lâmina de comprimento maior ou pela necessidade de descarte de alguma parte
da lâmina que tenha defeitos, como os nós.
Macedo (1996) afirma que as emendas de topo são as menos eficientes pois não
apresentam uma colagem satisfatória das fibras, evidenciado por baixos valores de
resistência à tração. Pode-se apontar que a vantagem deste tipo de emenda é a sua
simplicidade de execução. Tendo em vista a limitação das emendas de topo, foi
desenvolvida a emenda biselada, que devido a suas características apresenta melhor
resistência à tração. Porém a fabricação deste tipo de emenda é muito dispendiosa, uma
vez que o corte do bisel deve ser feito com uma inclinação muito baixa, de
aproximadamente 1:10, para que a área de colagem seja elevada, atingindo assim uma boa
proporção de resistência da madeira.
A alternativa que surgiu para sanar as deficiências dos dois tipos de emendas
anteriores foi o desenvolvimento das emendas dentadas, também chamadas de emendas
por entalhes múltiplos. Estas emendas apresentam uma maior área de colagem, com perda
menor de material. Este é o tipo de emenda mais utilizado pelos produtores de MLC na
atualidade.
Dos três tipos de emendas, a NBR 7190:2011 privilegia o uso das emendas
dentadas, afirmando que as emendas biseladas devem ter sua eficiência atestada por
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laboratório idôneo. A norma também determina que a emenda de topo não pode ser
utilizada em elementos estruturais devido à sua baixa eficiência.
A usinagem das emendas dentadas pode ser feita na direção vertical ou horizontal,
como ilustrado na Figura 18:
A geometria dos entalhes múltiplos deve ser determinada em função dos esforços
solicitantes da estrutura, sendo que os principais aspectos são:
No caso de grandes esforços solicitantes, a NBR 7190:2011 orienta que deve ser
observado o seguinte:
- bd ≤0,05.Ld
- 5 < αd < 7
As características dimensionais dos dois perfis adotados pela norma brasileira estão
detalhadas a seguir na Tabela 5:
44
O perfil 1 das duas normas são muito parecidos, já o perfil 2 da norma brasileira é
menor do que o correspondente da norma americana.
Quando as emendas longitudinais são coladas junto com as faces das lâminas, é
necessário manter o alinhamento durante todo o tempo em que a colagem é realizada.
Métodos de posicionamento e alinhamento devem permitir que medidores controlem as
variações dimensionais. Na produção de peças curvadas devem ser usadas emendas
longitudinais pré-coladas, a não ser que a espessura e o alinhamento das regiões de
emendas sejam mantidos e controlados por outros métodos (AITC A190.1:2007).
nunca podem ocupar mais do que ¼ da largura das lâminas posicionadas nas regiões 10%
mais externas dos elementos fletidos, ou em qualquer lâmina tracionada (AITC
A190.1:2007).
As emendas dentadas de modo geral não devem conter nós. Em casos especiais,
onde exista um único nó pequeno, este pode ser tolerado desde que respeite a seguinte
orientação: na região tracionada do elemento fletido, composta por 10% da área da seção
transversal mais distante da linha neutra, é aceito um nó de diâmetro máximo de 10 mm; na
região restante da seção do elemento e em elementos comprimidos, é permitido um nó de
diâmetro máximo de 13 mm (AITC A190.1:2007).
A norma AITC A190.1:2007 orienta que nas lâminas simples, o espaçamento entre
as emendas dentadas de lâminas adjacentes é determinado pela medida da distância entre
qualquer ponto das emendas (pode ser considerado qualquer ponto, desde que seja o
mesmo nas duas emendas). A medida deve ser feita na direção paralela ao eixo longitudinal
das lâminas.
Em uma lâmina múltipla, a emenda deve ser considerada da mesma maneira que em
uma lâmina simples, sendo que as emendas das peças da lâmina múltipla devem estar
distantes 152 mm. Se uma lâmina múltipla apresentar duas emendas com a distância de
152 mm entre elas e uma lâmina múltipla adjacente apresentar uma emenda em apenas
uma peça, é permitido que as emendas das lâminas adjacentes estejam a menos do que
152 mm de distância, desde que a soma das larguras das emendas não seja superior à
largura total da lâmina (AITC A190.1:2007). Na Figura 21 é ilustrada esta situação:
48
Quando as emendas são classificadas por prova de carga de acordo com o teste (T
118 ou T121) da norma americana, não existem exigências com relação ao espaçamento
mínimo entre as emendas.
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A seguir será feita uma breve introdução a respeito do mercado de MLC no Brasil,
comparando-o com outros países europeus e sul-americanos. Na segunda parte deste
capítulo será apresentada uma das maiores empresas produtoras de MLC atualmente no
país.
A madeira certificada possui valor de mercado que pode variar de US$ 25 a US$
25.000,00 por metro cúbico, dependendo da espécie em questão e do beneficiamento que
recebe. A madeira em toras possui o menor valor agregado, seguido pela serrada bruta,
aplainada, seca e finalmente a industrializada, que é a forma de agregar o máximo de valor
ao produto (LOVATTI, 2007).
Poucos países são tão competitivos quanto o Brasil na atividade florestal. Em 2006 o
faturamento brasileiro com produtos derivados de florestas chegou próximo de 30 bilhões de
dólares (LOVATTI, 2007).
fonte quase inesgotável de matéria prima de primeira qualidade, que é a madeira tropical
densa, a madeira de lei, que tem um valor quase incalculável hoje em dia (OLGA, 2011).
O Chile produz 12.000 m³/ano, tendo uma economia muito menor do que a brasileira,
como mostra o gráfico a seguir, que compara o produto interno bruto dos dois países ao
longo do tempo.
No ano de 2010, como se pode observar no gráfico da Figura 22, o PIB brasileiro
ultrapassou dois trilhões de dólares enquanto a economia chilena atingiu um PIB de
aproximadamente 200 bilhões de dólares, mesmo assim o Chile produz quase dez vezes
mais MLC do que o Brasil.
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A Construtora Ita, fundada pelo engenheiro Hélio Olga, se dedica desde 1980 ao
projeto, fabricação e montagem de estruturas industrializadas de madeira. A construtora já
executou mais de 130.000 m² de estruturas, distribuídos em mais de 400 obras.
Cada projeto desenvolvido por Hélio Olga e seus funcionários é único. Sempre
atentos à necessidade de suprir todas as exigências de uso, durabilidade e sustentabilidade,
a equipe leva em consideração diversos aspectos como a topografia do terreno, o local de
implantação da estrutura, espécie mais adequada para cada situação, procedência de todo
o material utilizado, distâncias de transporte da matéria prima até a fábrica e distância da
fábrica até o local de montagem da estrutura.
produção total da Ita, sendo ela a maior produtora de MLC do Brasil, utilizando eucalipto de
reflorestamento e adesivo estrutural Purbond®.
Após a abertura dos paletes, a estocagem das tábuas segue sendo feita em local
descoberto, porém passam a ser cobertas com lonas, como se pode observar na Figura 26:
O equipamento que produz os entalhes múltiplos das emendas dentadas é uma fresa
semi-automatizada, operada por dois funcionários que posicionam as lâminas e acionam um
botão que inicia um movimento das lâminas em direção à fresa que permanece durante todo
o processo girando em torno de seu eixo, porém em uma posição fixa. A seqüência das
atividades de produção dos entalhes múltiplos está representada na Figura 31, desde o
equipamento desocupado, o posicionamento das lâminas, a fresagem em andamento e por
último uma emenda dentada recém colada.
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Após o posicionamento das lâminas são acionados dois pistões que imobilizam as
peças de madeira tanto no sentido vertical como horizontal, somente após esta fixação o
equipamento é acionado e as lâminas são deslocadas na horizontal para o encontro com a
fresa. Na Figura 31 são mostrados os pistões acionados e as peças de madeira já em
contato com a fresa.
do adesivo e posterior aplainamento das faces, para preparação das lâminas para a
composição e colagem do elemento de MLC.
(A) (B)
Figura 32 - Prensa de emendas no fundo, plaina em primeiro plano e lâminas recém
coladas
Após o aplainamento das lâminas, estas são organizadas de acordo com as suas
dimensões e posteriormente encaminhadas para a colagem e prensagem dos elementos.
Na Figura 33 é possível observar a organização destas lâminas.
(A) (B)
Por ser um adesivo mono componente catalisado pela água, todo o sistema de
colagem necessita trabalhar sob pressão, sem contato direto com o ar, para que a umidade
presente na atmosfera não inicie a secagem da cola. Na Figura 35 é possível ver um
pequeno compartimento no alto, contendo sílica, para que a entrada de ar no sistema seja
feita de forma que a umidade nele contida seja retida.
Na Figura 37 são retratados operários fazendo pequenos ajustes nas peças antes da
colagem, com o auxílio de uma plaina de mão elétrica e o posicionamento para a
prensagem.
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Após a colagem e prensagem, as peças são empilhadas (Figura 38) para que o
tempo de cura seja respeitado. Este tipo de adesivo requer um tempo de cura muito menor
do que os adesivos bi-componentes.
Após a prensagem e a cura das peças, estas entram na fase de acabamento, onde
serão aplainadas as faces e eliminadas as imperfeições existentes. Esta etapa tem um
caráter majoritariamente estético, podendo ser eliminada caso o elemento estrutural não
fique a vista. A parte que não é estética desta etapa diz respeito à eliminação de
imperfeições que possam facilitar o acúmulo de umidade e sujeiras que acelerem a
degradação da peça.
Figura 45 - Base metálica de pilar que evita o contato da madeira com umidade
4. CONCLUSÕES
Não resta dúvida de que o Brasil tem plenas condições de se tornar um grande
produtor de peças industrializadas de madeira, especialmente a madeira laminada colada.
Apesar de não existir uma norma brasileira exclusiva para a madeira laminada
colada, as orientações presentes na NBR 7190 englobam as principais atividades e
procedimentos necessários para a fabricação da MLC. As normas estrangeiras são
dedicadas exclusivamente para a MLC e apresentam detalhadamente o passo a passo da
produção, orientando melhor o produtor e promovendo o aumento da eficiência da unidade
fabril.
A MLC produzida hoje no Brasil não possui qualidade inferior à produzida em países
como EUA, Canadá ou Alemanha, porém a maior barreira existente, que impede a difusão
deste tipo de material, é o preconceito da maioria dos brasileiros com relação ao uso de
estruturas de madeira. Esta é a maior barreira e provavelmente a mais complicada de ser
superada no sentido de permitir o crescimento deste mercado no Brasil.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, F. C. R. Estudo comparativo entre a normalização de desempenho e
certificação ambiental para edifícios habitacionais brasileiros. São Carlos:
UFSCar/Departamento de Engenharia Civil, 2010. 54 p. Trabalho de Conclusão de Curso.
CALIL JR, C. Programa emergencial das pontes de madeira para o estado de São Paulo. In:
IX ENCONTRO BRASILEIRO EM MADEIRAS E EM ESTRUTURAS DE MADEIRA.
Resumo... Cuiabá: EdUFMT, 2004. 394 p.
CALIL JR, C.; DIAS, A. A. Utilização de madeira em construções rurais. Revista Brasileira
de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 1, p. 71-77, 1997.
RUSSELL, C.; HERNANDEZ, R.; LIU, Y. J. Glued Structural Members. In:______ Wood
handbook : Wood as an engeneering material. Was., D. C.: FPL – FS – USDA, Department
of Agriculture, Forest Service, Madison, 1999.
SOUTHERN PINE INSPECTION BUREAU. Standard Grading Rules for Southern Pine
Lumber. Pensacola, Fla, 1994.