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DESPESAS DE SAÚDE E POBREZA

“Quem paga, quanto paga, e em que tipo de serviço de saúde?”

Os agregados familiares cabo-verdianos gastam, em média mensal, cerca de


700 escudos em bens e serviços de saúde, montante esse que representa cerca de
1,8% das suas despesas totais e 1,3% das suas capacidades de pagamento, e
suficiente para atirar cerca de 2,4% os agregados à condição de pobres.

A saúde é um bem ao qual todos têm direito. É indiscutível a evolução do sector da saúde em Cabo Verde
desde da independência aos dias de hoje. Os indicadores da saúde demonstram claramente que há uma
grande preocupação por parte do Estado (maior provedor) em melhorar as condições de vida das
populações, cujos resultados se traduzem nomeadamente no aumento da esperança de vida à nascença
(68,4 anos em 1990 e 71,3 anos em 2002), e na considerável diminuição das taxas de mortalidade
infantil (42 por mil em 1990 e 32,2 por mil em 2002), etc. Contudo, o défice organizacional do sistema
de saúde, o problema dos escassos recursos humanos e, principalmente, os financeiros continuam sendo
um entrave ao desenvolvimento de um sistema mais eficiente.

Os maiores financiadores são o Estado, que inclui o INPS (segurança social) e as Famílias através das
despesas directas que efectuam no acto de aquisição de um bem ou serviço de saúde.

De acordo com estimativas da OMS (2001), as despesas de saúde em Cabo Verde representam cerca de
4,5% do Produto Nacional Bruto (PIB), e são maioritariamente financiadas pelo Estado (84%), que inclui
o INPS, e cerca de 16% advém directamente do desembolso directo das famílias.

É neste contexto, e com base nos resultados do IDRF 2001/2002, realizado pelo INE, que surge o estudo
das despesas da saúde efectuadas pelas famílias, objectivando a analise de quem paga, quanto paga, e em
que tipo de serviço de saúde e de como as despesas da saúde afectam a situação financeira das famílias.

De acordo com a OMS, define -se como despesas catastróficas todas as


despesas directas com a saúde superiores a 20% da capacida de de pagamento
(diferença entre total das despesas de um agregado e o limiar da pobreza –
3.604 escudos percapita mensal).

As famílias que efectuam despesas catastróficas em saúde, tendem em reduzir em outras despesas básicas,
incorrem ao risco de empobreceram ou mesmo evitem a utilização dos serviços de saúde quando
necessário.

Quem utiliza os serviços de saúde e que tipo?

Avaliar as despesas da saúde requer o conhecimento de quem utiliza os serviços de saúde e que tipo de
serviços utilizam geralmente. A utilização dos serviços de saúde é uma das causas para que qualquer
agregado familiar incorra em despesas catastróficas. Por outro lado, considera-se que a ameaça de
incorrer a despesas catastróficas faz com que as famílias evitem ou não procurem os serviços de saúde
quando necessário.

Assim, de acordo com os dados apurados no IDRF 2001/2002, cerca de, 18% da população declarou ter
tido algum problema de saúde durante as 4 semanas anteriores à entrevista, mas somente 56% destes
procurou um serviço de saúde ou um curandeiro. Não existe diferença entre a percentagem de indivíduos
que declararam ter algum problema de saúde quando se compara a população pobre e a não pobre.
Porquê os 44% não utilizaram os serviços é uma questão pertinente mas impossível de responder com
base nos resultados do inquérito, tendo em consideração que várias poderão ser as causas, desde :
considerarem que o problema não era de tanta gravidade, a automedicação, dificuldade de acesso aos
serviços de saúde ou restrições financeiras, principalmente porque verifica-se que é entre os pobres onde a
incidência da não utilização é maior (50%), contra os 40% nos não pobres.

Dos que procuraram um serviço, a preferência recai sobre os serviços públicos, independentemente do
nível de despesa, contudo com maior incidência entre os pobres (94%) relativamente aos não pobres
(90%). Seguem-se os privados, utilizados, principalmente pelos não pobres. Cerca de 5% dos pobres que
utilizaram um serviço de saúde dirigiram-se a serviços privados enquanto que a percentagem entre os não
pobres é de 13%. Como era de se esperar são os indivíduos que residem em Santiago e S. Vicente os que
mais procuraram os serviços privados de saúde.

A grande maioria dos indivíduos que tiveram necessidade de procurar um serviço de saúde fizeram- no a
pé (54%), tendo 54% destes demorado menos que 15 minutos e 32% entre 15-29 minutos, tempo
demasiado longo no caso de uma emergência. Um quarto da população teve que recorrer aos transportes
públicos e somente 16% utilizou transporte próprio.

Quem paga, quanto paga e em que tipo de bem ou serviço de saúde?

De acordo com os resultados do IDRF 2001/2002, a nível nacional, os agregados familiares gastam, em
média mensal (oop 1 ), cerca de 700 escudos em serviços de saúde, montante esse que representa cerca de
1,8% das suas despesas totais (oopexp 2 ) e 1,3% da sua capacidade de pagamento (oopctp 3 ).

No entanto podemos constatar que este valor varia consoante o domínio de estudo, e as características
sócio-económicas dos agregados. Enqua nto que, as despesas médias mensais da saúde, dos agregados
pobres, rondam os 200 escudos, as dos não pobres atinge os 900 escudos, quantia 4,5 vezes maior, não
porque os não pobres adoecem com mais frequência do que os pobres, mas sim porque estes quando
necessitam recorrem mais aos serviços privados, onde o atendimento é mais personalizado e mais rápido,
e consequentemente mais caro. No caso dos agregados familiares pobres qualquer despesa, extra o de
subsistência, afecta a sua situação financeira. Como consequência por mais pouco que despendem com
saúde, já é o suficiente para pesar sobre a sua capacidade de pagamento sendo muitas vezes a causa da
situação de pobreza em que se encontram.

Os agregados urbanos gastam quase três vezes mais em saúde do que os que residem no meio rural,
consequência do maior acesso e de representarem os com maiores possibilidades financeiras. No entanto
o peso das despesas da saúde nas despesas totais é maior nos agregados rurais (2,0%) do que nos urbanos
(1,3%) e o peso na capacidade de pagamento é idêntico (1,3%).

Com efeito, Sal e S. Vicente são os domínios de estudo onde mais se gasta em saúde mensalmente, 1.416
ECV e 1.206 ECV, respectivamente, no entanto o impacto nas despesas totais e na capacidade de
pagamento é diferente. Enquanto que em S. Vicente as despesas de saúde representam 2,3% das despesas
totais e 1,8% da capacidade de pagamento dos agregados, no Sal, estas representam cerca 1,5% da despesa
total e 1,3 da capacidade de pagamento. Já nos domínios onde a incidência da pobreza é maior, - S. Antão,
Fogo, Interior de Santiago, as despesas médias com a saúde podem ser baixas mas têm um peso
significativo, quer nas despesas totais dos agregados quer na capacidade de pagamento.

1
oop – despesa média mensal em saúde
2
oopexp – peso da despesa em saúde na despesa total do agregado
3
oopctp – peso da despesa em saúde na capacidade de pagamento
OOPEXP
2,5 1000
OOPCTP
OOP 900
893$
2 800

700
695$
1,5 600

1,4% 2,0% 500


1,3% 2,1%
1 1,1% 2,2% 400

300

0,5 200
188$
100

0 0

Total NAO POBRES POBRES

Estrutura das despesas de saúde

As despesas em medicamentos, são as que mais pesam no bolso dos caboverdianos, independentemente da
sua condição económica, representando mais de metade do total das despesas em saúde (54%). Seguem-se
as consultas feitas no privado (19%) e a aquisição de aparelhos (18%), tais como: aparelhos e próteses
dentárias, lentes de contacto e óculos de correcção.

Inerentes à sua própria condição económica e financeira, os pobres consagram 87% dos 200 escudos
mensais, destinados à saúde, à compra de medicamentos e 6% em consultas, sendo 4% feitas no privado
e 2% no publico. Seguem-se as consultas de estomatologia (dentistas) que representam cerca de 4% da
despesa média mensal do agregado. A procura do privado por parte dos pobres pode ser um indicio da
incapacidade de resposta do sistema publico aos utentes, tendo em conta todo o processo de espera para se
obter uma consulta ou uma analise.

Ao contrario, entre os não pobres, 20% das despesas em saúde foram em consultas, maioritariamente
feitas no privado. Seguem-se as analises (10% no privado e 1% no público), e a aquisição de aparelhos
(8%). A despesa em medicamentos diminui para 51% entre os não pobres.

Em todos os domínios de estudo, com excepção da ilha do Sal (18%), os medicamentos representam o
grosso das despesas em saúde, com maior destaque para a ilha do Fogo (89%). Os agregados
sãovicentinos são os que mensalmente, em média, mais gastam na aquisição de medicamentos (580
ECV), contudo, o seu peso na despesa total com a saúde é das mais baixas (48%). A ilha do Sal apresenta
uma estrutura de despesas diferente dos outros domínios de estudo. As consultas, maioritariamente feitas
no privado, ou mesmo no estrangeiro, representam cerca de 55% do total das despesas médias em saúde.

Despesas catastróficas e empobrecimento

Em Cabo Verde, baseado na linha de pobreza de 3.604 ECV mensal percapita, somente 2% dos agregados
apresentaram despesas com a saúde maior que 20% da capacidade de pagamento, ou seja, despesas
catastróficas. Cerca de 3% dos agregados familiares tem despesas com a saúde consideradas elevadas
(entre 10%-20% da capacidade de pagamento).

Um estudo feito pela OMS junto de 59 países demonstra que a proporção de famílias que enfrentam
despesas catastróficas devido às despesas directas com a saúde varia entre os 0,01% na Republica Czech e
na Slovakia e os 10,5% no Vietname. Na maioria dos países desenvolvidos, onde existem instituições
sociais que protegem os agregados com despesas catastróficas, somente quatro países tiveram mais de
0,5% de agregados com despesas catastróficas: Portugal (2,7%), Grécia (2,2%), Switzerland (0,57%) e
EUA (0,55%). Dos dez países em vias de desenvolvimento, incluídos no estudo, a proporção média é de
3% de famílias com despesas catastróficas sendo a proporção mais baixa observada na Namíbia e em
Djibuti, 0,5%.

O nível económico e financeiro do agregado não é um factor de impedimento de despesas elevadas ou


catastróficas em saúde. Entre os pobres 2,7% incorrem em despesas catastróficas e 3,3 em despesas
elevadas. Entre os agregados não pobres a percentagem dos que incorreram em despesas catastróficas é de
1,9% e em despesas elevadas é de 3,0%.

Entre os pobres o facto é justificável pela sua condição financeira precária onde qualquer despesa para
além do normal já incorre em despesas catastróficas. Entre os não pobres admite-se que estes incorrem
em despesas catastróficas com a saúde porque podem ter a possibilidade de financia- las quer através de
empréstimos bancários ou alienação de bens de valor, ou então sacrificando outras despesas não
essenciais.

Em todos os domínios de estudo existem agregados com despesas catastróficas, no entanto a incidência é
maior nos domínios mais pobres, caso de S. Antão e Resto de Santiago com cerca de 2,8% e 2,7% dos
agregados, respectivamente. Contudo, globalmente podemos admitir que S. Vicente é onde os agregados
são mais afectados devido as despesas com a saúde. Cerca de 2,6% as despesas são catastróficas e 4,4%
são elevadas.

Globalmente somente 0,5% dos agregados empobreceram devido às despesas com a saúde, sendo a
incidência maior entre os agregados pobres (2,4%) e os não pobres baixos (0,4%). Entre os muito pobres
não se verifica empobrecimento tendo em conta que estes já eram pobres antes de efectuarem as despesas
com a saúde. Com excepção da ilha do Sal, em todos os domínios constata-se a existência de agregados
que empobreceram devido a despesas com a saúde, com maior proporção nos domínios com maior
incidência de despesas catastróficas, os casos de S. Antão e Resto de Santiago. No Fogo, apesar da
proporção dos agregados que incorreram em despesas catastróficas ser inferior à média nacional, verifica-
se uma percentagem significativa de agregados que empobrecerem (cerca de 0,54%).

CONTRIBUIÇÃO DAS FAMÍLIAS PARA O SISTEMA DE SAÚDE

Será que os agregados familiares cabo-verdianos estão a contribuir financeiramente de forma equitativa
para o sistema de saúde?

Com base no índice de equidade da contribuição financeira, uma medida absoluta, fortemente
correlacionada com as despesas totais em saúde, assim como, com base no índice de GINI (0,51), pode-se
concluir que apesar das despesas com a saúde não serem muito elevadas em Cabo Verde, ainda existe
alguma desigualdade de contribuição financeira por parte das famílias para com o sistema de saúde,
consequência dos diferentes níveis de rendimento, penalizando cada vez mais as famílias que têm menos
recursos.

Estas são apenas algumas conclusões que o IDRF 2001/02 permite. Será brevemente publicado um
relatório mais detalhado de análise do tema.

Instituto Nacional de Estatística na Praia – Cabo Verde, aos 27 de Julho de 2004

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