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In:
WOOD. Ellen e FOSTER. John Bellamy (orgs.) Em defesa da história: marxismo e pós-
modernismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.
123 O lembrete de que nossa identidade não é naturalmente dada, mas socialmente
construída, constitui um antídoto útil à ideia de que diferenças humanas são fixas e eternas.
Mas, ao insistir em que a sociedade é inerente e irredutivelmente heterogênea e
diversificada, e ao rejeitar qualquer ideia de "totalidade", que poderia nos permitir ver os
aspectos comuns ou as ligações entre elementos heterogêneos e diversificados, o discurso
pós-estruturalista solapou sua própria capacidade de contestar explicações naturalistas das
diferenças. O resultado paradoxal, argumentarei em seguida, é uma concepção de identidade
que difere muito pouco da teoria racial do século XIX.
125 Rattansi considera o antiessencialismo como igual a uma insistência na
indeterminação. Neste sentido, ele reflete grande parte do pensamento pós-moderno que
encontra o sentido de formas sociais não em relações, mas em diferenças.
Mas esse tipo de indetem1inação é exatamente o fundamento das explicações a-
históricas. De que maneira, por exemplo, podemos compreender a natureza histórica do
capitalismo como forma social específica sem identificar os determinantes específicos que o
distinguem de outras formas sociais, em outras épocas e lugares?
De que maneira, então, devemos analisar a raça nas modernas sociedades capitalistas?
Se tratamos a raça como sendo apenas uma "identidade" separada de quaisquer determinantes
sociais, então ela se torna não uma relação social historicamente específica, mas um aspecto
eterno da sociedade humana da mesma maneira que acontece nas teorias biológicas
reacionárias de raça, nas quais diferenças raciais constituem uma necessidade natural e
permanente .
126 Para os pós-estruturali stas, po1tanto, os fenômenos sociais não poderiam ser
explicados mediante referência a alguma outra propriedade que lhes conferisse sentido.
Esse tipo de antiessencialismo torna contingentes todas as relações determinada s,
destituídas de qualquer necessidade endógena
(…) Como observa Robin Cohen, os pós-modernistas parecem acreditar que "o
indivíduo constrói e apresenta qualquer identidade dentre grande número de identidades
sociais possíveis, tudo dependendo da situação.
128 Sabemos, porém, que, na realidade, diferenças raciais são relações sociais, que não
são simplesmente produto depreferências pessoais, e que negritude equivale a mais do que
um semestre de programa de estudos sobre o negro.
Não se segue que, porqu e uma montanha parece assumir formas diferentes quando
vista de ângulos diferentes, ela não tem objetivamente forma alguma ou tem uma
infinidade de formas.
Método
(…) ao louvar a indeterminação e combater a ideia de totalidade, tudo isso em nome do
antiessencialismo, abala sua própria capacidade de explicar historicamente fatos sociais. Os
fatos são arrancados de seu contexto vivo e compreendido s apenas em isolamento. A ironia é
que essa metodologia assemelha-se, mais do que a qualquer coisa, ao empirismo radical dos
positivistas, à própria teoria do conhecimento que o antiessencialismo procurou derrubar.
131 De que maneira, por exemplo, eles distinguiriam entre uma história racista e outra não-
racista? Segundo as premissas pós-modernistas, ambas seriam válidas em seu próprio contex-
to. A capacidade dos pós-modernistas de contestar o discurso racista é prejudicada por sua
própria crença na relatividade do significado.