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Resumo
O Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF) é uma iniciativa de duas
organizações não governamentais brasileiras: o Instituto Paulo Montenegro e a Ação
Educativa. O Instituto Paulo Montenegro é ligado a uma grande empresa de pesquisa
que atua em toda a América Latina – o IBOPE – e tem como objetivo canalizar
recursos financeiros e técnicos da empresa para iniciativas de interesses social sem
finalidade lucrativa. A Ação Educativa tem como missão a defesa de direitos
educacionais, atua na área de pesquisa e informação, desenvolvimento de programas
de educação de adultos e mobilização social.
O INAF é a única iniciativa de medição do alfabetismo da população adulta em nível
nacional existente no Brasil. Seu objetivo é oferecer à sociedade informações sobre
habilidades e práticas de leitura, escrita e matemática da população adulta brasileira,
de modo a fomentar o debate público e subsidiar a formulação de políticas de
educação e cultura.
Abstract
The National Functional Literacy Indicator (NFLI) is an initiative of two Brazilian non-
governmental organizations: the Paulo Montenegro Institute and Ação Educativa. The
mission of Paulo Montenegro Institute is the development and execution of projects
within the bounds of Education. The institute is connected to a large research institute
that operates in all of Latin America – IBOPE – and its objective is to channel financial
and technical resources from the company to carry out initiatives that are non-profit
and have a social interest. The mission of Ação Educativa is the defense of educational
rights and it operates with research and information, developing adult education
programs, social mobilization and advocacy.
The NFLI is the only initiative in Brazil, with national coverage, to measure the literacy
level of the adult population. Its objective is to offer Brazilian society information
regarding skills and practices of the Brazilian adult population, related to literacy and
numeracy, so as to foment public debate and assist in formulating policies for
education and culture.
Metodologia
O INAF é feito com base em pesquisas anuais realizadas junto a amostras de 2 mil
pessoas representativas da população brasileira de 15 a 64 anos. Em entrevistas
domiciliares, são aplicados testes e questionários aos sujeitos que compõem a
amostra. O intervalo de confiança estimado é de 95% e a margem de erro máxima
estimada é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados
encontrados no total da amostra.
Methodology
The NFLI is elaborated based on annual surveys held with representative sample
groups of 2 thousand persons, which represent the Brazilian population from age 15 to
64. During home interviews, tests and questionnaires are applied to those that make
up the sample group. The estimated confidence interval is 95% and the estimated
maximum error margin is 2.2% above or below the results found from the total
sample.
The first NFLI survey, carried out in 2001, dealt with reading and writing skills. In
2002, mathematical skills were focused and, in 2003, reading and writing skills were
re-assessed. In alternating these themes, the NFLI has a long-term perspective: to
construct an indicator that will greatly assist understanding literacy and enable
monitoring its evolution.
Por que medir o alfabetismo adulto?
1. Histórico
No Brasil, contamos com estatísticas oficiais sobre o analfabetismo desde o final do
século XIX. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítistica (IBGE) apura esse índice
com base na auto-avaliação da população recenseada sobre sua capacidade de ler e
escrever. Ao longo do século XX, as taxas de analfabetismo entre brasileiros com 15
anos ou mais vieram decrescendo paulatinamente, ainda que o número absoluto de
analfabetos só tenha começado a diminuir a partir de 1980.
Na linguagem corrente, o termo “analfabeto” significa outras coisas além de saber ler e
escrever”, é um qualificativo fortemente estigmatizante, que carrega outros sentidos
como “ignorância”, “cegueira”, “chaga” e “subdesenvolvimento”. Mas recentemente, o
termo “analfabeto funcional” passou a ser também utilizado, estendendo todos esses
estigmas não só aos chamados analfabetos absolutos (que vêm diminuindo em termos
percentuais e absolutos no Brasil), mas também a todos aqueles que tiveram acesso
limitado à escolarização ou que têm um domínio limitado das habilidades de leitura e
escrita. Nesse caso, já estamos falando de um número muito maior de
“estigmatizados”, já que dois terços da população brasileira maior de 14 anos têm
menos de oito anos de ensino, nível mínimo de escolarização que a Constituição
brasileira garante como direito a todos os cidadãos.
Sendo uma iniciativa de duas organizações não governamentais que mantém diálogo
constante com pesquisadores acadêmicos, por um lado, e com a imprensa, de outro, o
INAF possibilita um cruzamento interessante entre diferentes lógicas que constituem o
analfabetismo como um problema social no Brasil contemporâneo.
O INAF orienta-se por uma concepção ampla de alfabetismo, que abarca não só
habilidades de leitura, escrita e cálculo numérico, mas também as práticas de leitura,
escrita, cálculo e representação numérica dos diversos segmentos sociais, em diversos
contextos. Considera também relevantes as expectativas e os julgamentos das
pessoas sobre suas habilidades e práticas, tendo em vista a dimensão ideológica da
1
Bernard Lahire. L’invention de l’illetrisme: rhétorique publicque, éthique et stimates. Paris: Édition da
Découverte, 1999.
construção do alfabetismo como problema social. Por esse motivo, o INAF utiliza dois
tipos de instrumentos para coleta de dados: os testes (de leitura/escrita e matemática)
e questionários que recolhem informações detalhadas sobre os usos que as pessoas
fazem dessas habilidades em diversos contextos, os acervos e equipamentos a que
têm acesso, as opiniões que têm sobre suas disposições e capacidades para usar a
leitura, a escrita e o cálculo numérico.
foram incluídas perguntas muito simples, que podem ser resolvidas por pessoas
com níveis mínimos de habilidade, tais como localizar (apontando) o nome da
revista em sua capa, para o quê, em princípio, não é necessário decodificar as
letras, mas sim ter alguma familiaridade com o tipo de impresso;
para resolver as tarefas o entrevistado tem a sua disposição lápis, papel e uma
máquina de calcular simples;
nas tarefas que envolvem cálculo, o entrevistador registra não só a resposta do
entrevistado mas os recursos utilizados para realizar os cálculos (cálculo mental,
lápis e papel e/ou calculadora)
as tarefas mais fáceis são as que exigem leitura ou escrita de números familiares;
as mais difíceis exigem a elaboração de um plano de resolução envolvendo
contagem ou uma seqüência de operações, ou ainda a interpretação de gráficos de
barra e setor e mapa em escala.
Tabela 3
Resultados do INAF - Habilidades de leitura e escrita e habilidades
matemáticas
Analfabetismo 9% 8% 3%
Total 100% 161 (100%) 599 (100%) 739 (100%) 501 (100%)
(2000)
Ler 36%
Escrever 34%
Obs: soma dos percentuais dos que declaram ser incapaz, ter
muita ou alguma dificuldade para realizar as ações.
20% dos que não competaram sequer uma série aprenderema a ler e escrevem,
provavelmente por outros meios que não a escolarização
Quase um termco dos que compeltarqam de uma a três séries escolares (32%) se
encontram ainda na situação de analfabetismo absoluto – não sabem ser e
escrever. Outros 51% se mantém num nível muito rudimentar de domínio da
leitura e escrita (Nível 1).
Mesmo entre pessoas com 4 a 7 anos de estudo, pouco mais da metade atinge os
níveis básico e pleno de habilidade (Níveis 2 e 3).
12
20 16
40
59
43
51
80 46
42 37
32
2 14 4
80% dos entrevistados com até 3 anos de estudo não ultrapassam o nível 1 (só
conseguem ler números familiares).
Só na população com pelo menos 8 anos de estudo é que mais de 80% atingem os
níveis 2 ou 3.
Entre as pessoas que têm mais de 8 anos de estudo mas não completaram a
educação secundária (8 a 10 anos de estudo), o percentual dos que atingem o nível
3 de habilidades matemáticas (25%) é significativamente menor do que os que
atingiram esse nível em leitura e escrita, na mesma faixa de escolaridade (40%).
Gráfico 2: Nível de numeramento de acordo com a
escolarização/ anos de estudo completos (%).
2
12
21 25
56
50
64 59
38
38
13 16 5
Proporções bastante significativas de pessoas não lêem (38%) e nem escrevem (42%)
nada no contexto de trabalho. A proporção dos que lêem ou escrevem três ou mais
tipos de materiais e que, portanto, fazem usos mais diversificados de suas habilidades
de alfabetismo corresponde, respectivamente, a XX e XX%. Como era de se esperar,
as pessoas com mais escolaridade são as que têm, no ambiente de trabalho, maiores
demandas de leitura e escrita.
Quantidade de tipos de materiais que lê e escreve no ambiente de trabalho, por anos de estudo –
INAF 2003
Total Até 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 anos ou mais
É fato que as demandas de leitura e escrita no ambiente do trabalho são restritas para
a maioria da população. Entretanto, isso não significa que a leitura e a escrita não
sejam práticas amplamente disseminadas junto à população:
32% afirmam que lêem jornal pelo menos uma vez por semana;
30% afirmam ler revistas pelo menos uma vez por semana.
Tipos de materiais que mais gosta de ler para se distrair (duas opções), por anos de estudo – INAF
(2003)
Revistas 45 28 40 48 59
Outros livros 38 23 31 45 52
Jornais 33 29 31 31 40
Outros 1 3 1 2 1
Tipo de livro que costuma ler, ainda que de vez em quando, por anos de estudo
Livros didáticos 22 13 17 26 37
Poesia 15 3 16 23 19
9. Alfabetismo e tecnologia
Hoje em dia, o computador é também um importante veículo de textos escritos,
entretanto, seu uso é muito reduzido na população: só 13% utilizam computador pelo
menos uma vez por semana e 6% utilizam eventualmente, enquanto 81% não
utilizam.
Outro recurso tecnológico mais simples, entretanto, é bem mais disseminado junto à
população: 49% afirmam usar habitualmente a calculadora para realizar operações em
seu dia-a-dia. Em algumas questões do teste de habilidades matemáticas, a taxa de
utilização desse instrumento supera os 70%. Apesar de seu uso favorecer as
possibilidades de acerto do item no teste, os usuários nem sempre são bem sucedidos
na resolução do problema. Em parte por não dominarem seus recursos, mas também,
e principalmente, porque a resolução de problemas não depende apenas da execução
dos cálculos, mas capacidade de elaborar e executar controladamente um plano de
resolução e verificar a pertinência do resultado. Frente a esse grau de disseminação do
uso da calculadora junto à população, é surpreendente que os programas de educação
básica para crianças e adultos não a utilizem com recurso pedagógico com mais
freqüência; tanto para que mais pessoas aprendam a usá-la com eficiência como para
que possam dedicar-se mais à compreensão das situações-problema e das relações
numéricas do que com a mecanização dos procedimentos de cáculo.
Uma parte expressiva dos brasileiros está inserida em postos de trabalho que não
exigem nenhuma habilidade de leitura e escrita, os setores mais modernos da
economia, que demandam trabalhadores com maiores capacidades de processamento
de informação escrita ainda são limitados.