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Maria
Manuela Galhardo. Lisboa: Difusão Editorial, 1988. p. 13-67
FICHAMENTO
CAPÍTULO I
“A utensilagem vale pela civilização que soube forjá-la; vale pela época que a utiliza; não
vale pela eternidade, nem pela humanidade: nem sequer pelo curso restrito de uma evolução
interna de uma civilização.” (p. 36, grifos meus).
“Apesar desta limitação, de natureza teórica, é bem claro que a posição dos historiadores da
primeira geração dos Annales pesou fortemente na evolução da historia intelectual francesa.
Ela fez deslocar, com efeito, o próprio conjunto de questões: doravante o que Importa
compreender não são já as audácias do passado, mas muito mais os limites do pensável. A
uma história intelectual das inteligências sem rédeas e das ideias sem suporte opõe-se uma
historia das representações coletivas, das utensilagens e das categorias intelectuais disponíveis
e partilhadas em determinada época.” (p. 40).
Questionar as delimitações
“Estas distinções primordiais, expressas na maioria das vezes através de pares de oposições
(erudito/popular, criação/consumo, realidade/ficção, etc,)” (p. 54).
Pouco a pouco, os historiadores tomaram consciência de que as categorias, que estruturavam
o campo da sua analise (com uma evidencia tal que passava a maior parte das vezes
despercebida), eram elas próprias - tal como aquelas que eram objecto da história - o produto
de divisões móveis e temporárias. (p. 54).
É preciso reavaliar as distinções:
1. primeira divisão tradicional: “a cultura da maioria” x “a intelectualidade dos pensamentos
do topo” (p. 54).
2. a oposição entre criação e consumo, entre produção e recepção;
“Definido como uma «outra produção», o consumo cultural, por exemplo a leitura de um
texto, pode assim escapar a passividade que tradicionalmente lhe é atribuída. Ler, olhar ou
escutar são, efectivamente, uma serie de atitudes intelectuais que — longe de submeterem o
consumidor a toda-poderosa mensagem ideologia e/ou estética que supostamente o deve
modelar — permitem na verdade a reapropriação, o desvio, a desconfiança ou resistência,
Essa constatação deve levar a repensar totalmente a relação entre um público designado como
popular e os produtos historicamente diversos (livros e imagens, sermões e discursos,
canções, fotonovelas ou emissões de televisão) proposto para o seu consume.” (p. 61-60).
Intenção do leitor:
“[...] é necessário relembrar que todo o texto e o produto de uma leitura, uma construção do
seu leitor: este não toma nem o lugar do autor nem um lugar de autor. Inventa nos textos uma
coisa diferente daquilo que era a ‘intenção’ deles.” (p. 61).
3. “Mas qual o estatuto desses textos múltiplos que a história intelectual toma como objeto de
análise? Tradicionalmente, é a sua própria função que supostamente lhes confere uma
unidade: todos eles, com efeito, constituíam representações de um real que se esforçariam por
aprender sob modalidades diversas, filosóficas ou literárias.” (p. 62).
“O texto, literário ou documental, não pode nunca anular-se como texto, ou seja, como um
sistema construído consoante categorias, esquemas de percepção e de apreciação, regras de
funcionamento, que remetem para as suas próprias condições de produção.” (p. 63).
“O real assume assim um novo sentido: aquilo que é real, efetivamente, não é (ou não é
apenas) a realidade visada pelo texto, mas a própria maneira como ele a cria, na historicidade
da sua produção e na internacionalidade da sua escrita.” (p. 63).
Conclusão?
A tarefa do historiador:
“O historiador procura localizar e interpretar tempo realmente o artefacto num campo em. que
se intersectam duas linhas.” (p. 63).
“Ler um texto ou decifrar um sistema de pensamento consiste, pois, em considerar
conjuntamente essas diferentes questões que constituem, na sua articulação, o que pode ser
considerado como o próprio objecto da historia intelectual.” (p. 64)
Os problemas dos conceitos de objecto intelectual e cultura:
Conceito de objecto intelectual:
“São, portanto, as relações com os objectos que os constituem, de forma específica para cada
caso e segundo composições e distribuições sempre singulares. A história intelectual não deve
cair na armadilha das palavras que podem dar a ilusão de que os vários campos de discursos
ou de praticas são constituídos de uma vez por todas, delimitando objectos cujos contornos,
ou mesmo os conteúdos, não variam; pelo contrario, deve estabelecer como centrais as
descontinuidades que fazem com que se designem, se admiram e se avaliem, sob formas
diferentes ou contraditórias, consoante as épocas, os saberes e os actos.” (p. 65).
O conceito de cultura:
Não separar os conceitos de cultura, economia e social, como faziam os historiadores
quantitativistas:
“Na verdade, é preciso pensar como todas as relações, incluindo as que designamos. por
relações econômicas ou sociais, se organizam de acordo com lógicas que põem em jogo, em
aero, os esquemas de percepção e de apreciação dos diferentes sujeitos sociais, logo as
representações constitutivas daquilo que poderá ser denominado uma ‘cultura’, seja esta
comum ao conjunto de uma sociedade ou própria de um determinado grupo.” (p. 66).
Não restringir o conceito de cultura a produções intelectuais elitizadas:
“Pensar de outro modo a cultura, e por consequência o próprio campo da historia intelectual,
exige concebê-la como um conjunto de significações que se enunciam nos discursos ou nos
comportamentos aparentemente menos culturais.” (p. 66).
CATEGORIAS DO TEXTO
Representação
São os sentidos da realidade descritos por um determinado grupo específico ou pessoas
singulares que influenciam seus atos. São sempre determinadas pelos interesses e à posição do
grupo/indivíduo.
Prática
Apropriação
É a maneira como os textos ou discursos afetam o leitor e a partir desse novo conhecimento e
dos sentidos dados ao texto, o leitor assume uma nova postura diante do mundo.
Leitor
Aquele que dá novas significações aos textos, as práticas, os sentidos, quais ele interpreta e se
apropria são históricas e variam dependendo da sociedade e da cultura.
Assimilação
Uma imagem ou signo que possui um significado para determinado grupo social.
Cultura
Desvio