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No seu livro O Surrealismo no cinema, 1953, Ado Kyrou inova a crítica de cinema
usual, trazendo para a discussão questões do erotismo e outras, pouco usuais na linha
especializada da área técnica cinematigráfica. Entre elas, Kyrou comenta também a
questão do crime já levantada na Antologia do Humor Negro de Breton, 1939-1950,
principalmente a partir de autores como Thomas De Quincey, Edgar Allan Poe, sem
falar em Jonathan Swift e o Marquês de Sade.
Vale lembrar que em tudo e por tudo o crime implica a questão erótica e nunca a
execução sumária, extermínio e outras que tais atividades profissionais similares,
como a de açougueiro. Vide, por exemplo, a figura emblemática da vertigem fatal que
escapa à policia e até hoje não “explicada racionalmente” do Jack , the Ripper. Ou
então, por que não?, sublinharmos a redução jornalística de “crime passional”, que
não diz nada mas parece que diz tudo – como o cinema usual e convencional de
meras narrativas. Caso contrário, no film noir temos a diferença de que no cinema
estamos vendo, quase sempre, a scena do crime e todo o sentido noir que daí, dela
mesma decorre e atravessa todo o espetáculo para um outro patamar que não é mais
primário e nem só entretenimento.
Escolhemos dois filmes de Fritz Lang que conviveu com este tema desde
1918/1919.[Morte de sua primeira esposa ate hoje não explicada e que virou quase
um leit-motif nas suas obras todas!] O caso do “M, o maldito” e o “Testamento do Dr.
Mabuse”. A história de M começou a se formar a partir de um artigo na imprensa
alemã do final da I Guerra, de Egon Jacobson, que relata o caso inusitado de criminal
fora dos padrões da época. Imediatamente, os textos de divulgação do filme falam em
“serial killer”, o que é no mínimo uma falácia e distorce todo o sentido noir do drama
que vamos presenciar.