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E eles acreditavam que o retorno de uma era similar [à “Era Dourada”], antecipado em
seus respectivos textos sagrados e tradições orais, dependeria não do esforço
consciente do homem, mas das leis de ferro, inerentes à própria natureza da
manifestação visível, tangível, e onipresente; sobre as leis cósmicas. Eles acreditavam
que o esforço consciente do homem não é senão uma expressão dessas leis em ação,
levando o mundo, querendo ou não, sempre para onde o seu destino está; ou em uma
palavra, que a história do homem, assim como a história do resto da vida, é apenas
um detalhe na história do universo, sem princípio nem fim; um resultado periódico da
necessidade interior que conecta todos os fenômenos dentro do tempo.
E assim como os antigos poderiam aceitar essa visão da evolução do mundo e ainda
tirar pleno partido de todos os progressos técnicos ao seu alcance, também podem – e
assim fazem – nos dias de hoje, milhares de homens educados dentro dos limites das
velhas culturas centradas nas mesmas visões tradicionais e, também, em meio às
culturas mais orgulhosas industrialmente, alguns poucos indivíduos serem capazes de
pensar por si mesmos. Eles contemplam a história da humanidade em uma
perspectiva semelhante.
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Para nós, os “ismos” cujos nossos contemporâneos nos pedem para oferecer a nossa
lealdade, agora, em 1948, são todos igualmente inúteis: naturalmente traídos,
derrotados e, finalmente, rejeitados pelos homens em geral caso contenham qualquer
coisa realmente nobre; naturalmente apreciados, por algum tempo, com algum tipo de
sucesso ruidoso se for suficientemente vulgar e pretensioso a apelar para o crescente
número de escravos mecanicamente condicionados que rastejam sobre o nosso
planeta, posando como homens livres; todos destinados a provar, em última instância,
que nada servirá. As religiões consagradas pelo tempo, a cada dia mais fora de moda
hoje em dia, enquanto os “ismos” se tornam cada vez mais populares, não são menos
fúteis – se não mais: quadros de organizadas superstições, vazias de todo o
sentimento verdadeiro do Divino, ou – entre as pessoas mais sofisticadas – meros
aspectos convencionais da vida social, ou sistemas de ética (e de uma ética muito
elementar) temperados com uma pitada de ritos obsoletos e símbolos que poucos
procuram os significados originais; dispositivos nas mãos de homens inteligentes no
poder para manipular os comuns com obediência permanente; nomes convenientes,
em torno dos quais pode ser fácil convergir aspirações nacionais ou tendências
políticas; ou apenas o último recurso dos fracos e desprovidos: isto é, praticamente,
tudo o que eles são – tudo a que eles foram reduzidos no curso de alguns séculos.
Eles estão mortos, na verdade – tão mortos como os antigos cultos que floresceram
antes deles, com a diferença que esses cultos há muito tempo deixaram de exalar o
cheiro da morte, enquanto eles (os chamados “vivos”) estão ainda na fase em que a
morte é inseparável da corrupção. Nenhum desses – nem o cristianismo, nem o
islamismo, nem mesmo o budismo – pode ser confiado agora para “salvar” nada desse
mundo que uma vez eles parcialmente conquistaram; nenhum tem um lugar na vida
“moderna”, que é essencialmente desprovida de toda a consciência do eterno.
Não há nenhuma atividade na vida “moderna” que não seja fútil, salvo, talvez, aquelas
que visem satisfazer a fome do corpo: o cultivo do arroz, o cultivo do trigo, a procura
por castanhas nas matas ou a colheita de batatas em seu jardim. E a única política
sensata não pode ser senão a deixar as coisas seguirem o seu curso e aguardar a
vinda do Destruidor, destinado a limpar o terreno para a construção de uma nova “Era
da Verdade”: aquele que os hindus chamam de Kalki e identificam como a décima e
última encarnação de Vishnu, o Destruidor cujo advento é a condição da preservação
da vida de acordo com as leis eternas da mesma.
Sabemos que tudo isso vai soar como uma loucura total para aqueles, mais e mais
numerosos, que, apesar dos horrores inexprimíveis da nossa era presente, continuam
convencidos de que a humanidade está “progredindo”. Vai parecer cinismo até mesmo
para muitos daqueles que aceitam a nossa crença na evolução cíclica, que é a crença
universal, tradicional, expressa em forma poética em todos os textos sagrados do
mundo, incluindo a Bíblia. Nós não temos nada para responder a esta última crítica,
pois ela é inteiramente baseada em uma atitude emocional que não é nossa. Mas
podemos tentar apontar a vaidade da crença popular no “progresso”, seja apenas para
sublinhar a racionalidade e a força da teoria dos ciclos que constituem o pano de
fundo do estudo que é o tema deste livro.
Nós acreditamos que o valor do homem – assim como o valor de cada criatura – não
reside no mero intelecto, mas no espírito: na capacidade de refletir o que, por falta de
uma palavra mais precisa, nós escolhemos chamar de “o divino”, ou seja, o que é
verdadeiro e belo além de toda a manifestação, que permanece intemporal (e,
portanto, imutável) dentro de todas as alterações. Nós acreditamos nisso, com a
diferença que, aos nossos olhos – ao contrário do que os cristãos mantêm – a
capacidade de refletir o divino está intimamente ligada com a raça do homem e a sua
saúde física; em outras palavras, que o espírito é dependente do corpo. E nós não
conseguimos ver que as melhorias que testemunhamos hoje em dia na educação ou
no campo social, no governo ou até mesmo em questões técnicas, têm tornado
homens e mulheres individualmente mais valiosos nesse sentido, ou criado um novo
tipo duradouro de civilização em que as possibilidades do homem de perfeição em
todos os campos, assim concebido, estão sendo promovidas. Os hindus parecem ser,
hoje, o único povo que, por tradição, partilha as nossas opiniões; e eles têm, no
decorrer do tempo, falhado em manter a ordem divina – a regra das castas
naturalmente dominantes. E nós, o único povo no Ocidente que têm tentado restaurar
essa ordem divina nos tempos modernos, temos sido materialmente arruinados pelos
agentes das forças da falsa igualdade que o mundo moderno chama de forças do
“progresso”.
Sabemos também que existem pessoas cujas vidas foram direcionadas para algum
destino por um belo livro, um poema – uma frase simples – lida na infância distante,
como Schliemann, que prodigamente gastou em escavações arqueológicas a riqueza
que foi construída com paciência em quarenta anos de triste trabalho pesado, tudo por
causa da impressão deixada sobre ele, ainda quando menino, pela história imortal de
Troia. Mas esse tipo de pessoa sempre viveu, mesmo antes de a escolaridade
obrigatória entrar em moda. E as histórias ouvidas e lembradas não eram menos
inspiradoras do que as histórias de lemos agora. A vantagem real da alfabetização
geral, se houver uma, deve ser procurada em outro lugar. Ela não reside na melhoria
da qualidade tanto dos homens e mulheres extraordinários ou dos milhões de
alfabetizados, mas sim no fato de que estes últimos estão rapidamente se tornando
mais intelectualmente preguiçosos e, portanto, mais ingênuos do que nunca – e não
menos – mais facilmente enganados, mais susceptíveis a serem conduzidos como
ovelhas sem sequer a sombra de um protesto, desde que o absurdo que se deseje
que eles engulam seja apresentado em forma impressa e pareça ser “científico”.
Quanto maior o nível geral de alfabetização, o mais fácil é, por um governo no controle
da imprensa diária e do setor editorial – esses quase irresistíveis meios modernos de
ação sobre as mentes – para manter as massas sob o seu polegar, sem que esses
nem sequer suspeitem.
O que temos dito sobre a alfabetização pode ser repetido sobre as outras duas
principais glórias da democracia moderna: a “liberdade individual” e a igualdade de
oportunidades para cada pessoa. A primeira é uma mentira – e uma mentira cada vez
sinistra à medida que as algemas do ensino obrigatório estão mais e mais
irremediavelmente apertadas ao redor das pessoas. A segunda é um absurdo.
Pode-se perceber o como que as mentes do homem têm sido curvadas no mundo em
que vivemos hoje, tanto por condicionamento deliberado como pelo condicionamento
inconsciente, quando se encontra pessoas que nunca viveram sob a influência da
civilização industrial, ou quando alguém acaba tendo a sorte de ter desafiado, desde a
infância, a pressão perniciosa do ensino padronizado, e de ter permanecido livre em
meio à multidão daqueles que reagem exatamente como eles foram ensinados sobre
todas as questões fundamentais. A diferença entre os pensantes e os irracionais, os
livres e os escravos, é revoltante.
Quanto à “igualdade de oportunidades”, não existe qualquer forma de tal coisa existir.
Ao produzir homens e mulheres diferentes, tanto em grau e em qualidade de
sensibilidade, inteligência e força de vontade, diferentes em caráter e temperamento, a
própria Natureza lhes dá as oportunidades mais desiguais para o cumprimento das
suas aspirações, não importando quais essas possam ser. Uma pessoa
excessivamente emocional e bastante fraca pode, por exemplo, nem conceber o
mesmo ideal de felicidade, nem ter chances iguais de alcançá-lo durante a vida, se
comparada com quem nasce com uma natureza mais equilibrada e uma força de
vontade mais forte. Isso é óbvio. Some a isso as características que diferenciam uma
raça de homens de outra, e o absurdo da própria noção de “igualdade humana” se
torna ainda mais impressionante.
Para avaliar até que ponto os nossos contemporâneos têm ou não o direito de se
vangloriar de seu “espírito de tolerância”, o melhor é observar seu comportamento
para com aqueles a quem eles decididamente olham como os inimigos de seus
deuses: os homens que, por acaso, têm pensamentos contrários aos deles não com
relação a alguma ladainha teológica, em que eles mesmos não estão interessados,
mas com relação a alguma ideologia política ou sócio-política que eles vêem como
“uma ameaça à civilização” ou como “o único credo pelo qual a civilização pode ser
salva.” Ninguém pode negar que, em todas as circunstâncias, e especialmente em
tempos de guerra, todos eles realizam – na medida em que eles têm o poder – ou
justificam – na medida em que eles não têm, eles próprios, a oportunidade de realizar
– ações que em todos os aspectos são horríveis como as que foram encomendadas,
realizadas, ou toleradas no passado, em nome de diferentes religiões. A única
diferença é, talvez, que as modernas atrocidades a sangue frio só se tornam
conhecidas quando os poderes ocultos em controle dos meios de condicionamento do
rebanho – da imprensa, do rádio e do cinema – decidem, para fins nada
“humanitários”, que elas deveriam ser; ou seja, quando são atrocidades do inimigo, e
não deles mesmos – e nem dos seus “corajosos aliados” – e quando a sua história é,
portanto, considerada como “boa propaganda”, no sentido da subseqüente onda de
indignação que se espera criar e do novo incentivo que se espera dar aos esforços de
guerra. Além disso, depois de uma guerra, realmente travada ou supostamente
travada por uma ideologia – o equivalente moderno dos amargos conflitos religiosos
do passado – os horrores com ou sem razão que teriam sido perpetrados pelos
derrotados são os únicos a serem transmitidos para todo o mundo, enquanto os
vitoriosos tentam o máximo possível fingir que o seu Alto Comando nunca fechou os
olhos diante de quaisquer horrores semelhantes. Mas na Europa do século XVI, e
antes; e entre os guerreiros do Islã, envolvidos na “Jihad” contra os homens de outras
religiões, cada um dos lados estava bem ciente dos atrozes meios utilizados, não
apenas pelos seus adversários para os seus “fins sórdidos”, mas também por seu
próprio povo e pelos seus próprios líderes, a fim de “extirpar a heresia”, ou para
“enfrentar o papado”, ou “pregar o nome de Allah aos infiéis”. O homem moderno é
mais um covarde moral. Ele quer as vantagens da intolerância violenta – que é natural
– mas ele foge das responsabilidades da mesma. Progresso, também.
Uma enorme quantidade de preconceito em favor de nosso tempo pode permitir que
pessoas sejam conquistadas por tais falácias.
O homem primitivo – e, muitas vezes, também, o homem cuja civilização não é nada
“moderna” – é ruim o bastante, é verdade, com relação ao seu tratamento dos
animais. Basta viajar aos países menos industrializados do sul da Europa, ou ao
Próximo e Médio Oriente, para adquirir uma certeza muito clara sobre este ponto. E
nem todos os líderes modernos têm sido igualmente bem sucedidos em colocar um
fim a essa antiga e burra crueldade, seja no Oriente ou no Ocidente. Gandhi não pôde,
em nome daquela bondade universal que ele repetidamente anunciava como o
princípio essencial da sua fé, evitar que os homens hindus matassem de fome
deliberadamente os seus bezerros machos, a fim de vender algumas pintas extras de
leite de vaca. Mussolini não conseguiu detectar e lidar com todos os italianos que, sob
seu governo, persistiram com o hábito detestável de depenar frangos vivos sob o
fundamento de que “as penas saem mais facilmente”. Não há como fugir do fato de
que a bondade com os animais em escala nacional não depende dos ensinamentos de
qualquer religião ou filosofia. É uma das características distintivas das raças
verdadeiramente superiores. E nenhuma alquimia religiosa, filosófica ou política pode
transformar metais comuns em ouro.
Isso não significa que um bom ensino não possa ajudar a trazer o melhor de cada
raça, assim como em cada homem ou mulher individualmente. Mas a civilização
industrial moderna, na medida em que ela é centrada no homem – e não controlada
por qualquer inspiração de um modo super-humano, cósmico – e tende a enfatizar a
quantidade em detrimento da qualidade, produção e riqueza em vez do caráter e valor
intrínseco, é tudo menos conveniente para o desenvolvimento de uma bondade
universal consistente, mesmo entre as melhores pessoas. Ela esconde a crueldade.
Ela não faz nada para suprimi-la, ou até mesmo para diminuí-la. Ela perdoa, ou
melhor, exalta qualquer atrocidade contra os animais que seja direta ou indiretamente
relacionada com ganhar dinheiro, dos horrores diários dos abates dos matadouros ao
martírio dos animais nas mãos do circo, do caçador ao vivisseccionista. Naturalmente,
o “maior” interesse dos seres humanos é apresentado como justificativa – sem que as
pessoas percebam que o homem que está disposto a comprar entretenimento ou luxo,
“comidas saborosas”, ou mesmo informações científicas e meios de curar doentes, já
não é mais digno de estar vivo. O fato é que nunca houve tamanha degeneração e
doenças de todos os tipos de descrições entre os homens quanto neste mundo de
vacinação obrigatória (ou quase obrigatória) e inoculação; este mundo que exalta os
criminosos contra a Vida – carrascos de seres vivos inocentes para fins do homem,
tais como Louis Pasteur – considerado entre os “grandes” homens, embora tenha
condenando os realmente grandes, que se esforçaram para destacar a sagrada
hierarquia das raças humanas diante da hierarquia óbvia de todos os seres, e que,
aliás, construíram o único Estado no Ocidente cujas leis de proteção dos animais
lembravam, pela primeira vez depois de séculos (e na medida em que foi possível em
um país industrial moderno de clima frio), os decretos do imperador Asoka e
Harshavardhana.
Esse mundo pode muito bem se vangloriar de seus cuidados com cães e gatos e
animais de estimação em geral, enquanto tentando esquecer (e tentando fazer as
melhores civilizações esquecerem) o fato hediondo de que um milhão de criaturas
passa por vivissecção anualmente somente na Grã-Bretanha. Mas não é possível nos
fazer esquecer dos seus horrores escondidos e nos convencer de seu “progresso”
quanto à bondade para com os animais, tanto quanto à sua bondade crescente para
com as pessoas “independentemente do seu credo”. Nós nos recusamos a ver nela
outra coisa senão a prova viva mais escura daquilo que os hindus têm caracterizado
desde tempos imemoriais como “Kali Yuga” – a “Idade das Trevas”, a Era da
Melancolia, a última (e, felizmente, a mais curta) subdivisão do atual ciclo da história.
Não há nenhuma esperança de “colocar as coisas em ordem” em tal fase. Essa é,
essencialmente, a fase descrita com tanta força embora laconicamente no Livro dos
livros – o Bhagavad-Gita – como aquela em que “da corrupção das mulheres nasce a
confusão das castas; da confusão das castas, a perda da memória; da perda da
memória, a falta de compreensão; e deste último, todos os outros males”; a fase em
que a mentira é chamada de “verdade” e a verdade é perseguida como falsidade ou
ridicularizada como loucura; em que os expoentes da verdade, os líderes divinamente
inspirados, os verdadeiros amigos de sua raça e de toda a vida – os homens como
Deus – são derrotados, e seus seguidores humilhados e sua memória caluniada,
enquanto os mestres das mentiras são tidos como “salvadores”; a fase em que cada
homem e mulher está no lugar errado, e o mundo é dominado por indivíduos
inferiores, raças bastardas e doutrinas viciosas, tudo parte integrante de uma ordem
inerente de feiúra muito pior do que a completa anarquia.
Não importa quão sangrenta a queda final possa ser! Não importam os tesouros
antigos que podem perecer para sempre nesse incêndio! Quanto mais cedo ele vier,
melhor. Estamos esperando por isso – e para as glórias que se seguirão – confiantes
na lei cíclica divinamente estabelecida que rege todas as manifestações da existência
no tempo: a lei do eterno retorno. Estamos esperando por ele, e para o triunfo
posterior da Verdade perseguida hoje; pelo triunfo, sob qualquer nome, da única fé em
harmonia com as leis eternas do ser; do único “ismo” moderno, que de “moderno” tem
muito pouco, sendo apenas a mais recente expressão de princípios tão antigos quanto
o Sol; o triunfo de todos os homens que, ao longo dos séculos e hoje, nunca perderam
a visão da Ordem eterna, decretada pelo Sol, e que têm lutado com um espírito
altruísta para expor essa visão aos demais. Estamos aguardando a restauração
gloriosa, desta vez, em escala mundial, da Nova Ordem; a projeção no tempo, na
próxima assim como em todas as recorrentes “Eras Douradas”, da Ordem eterna do
Cosmos.
Essa é a única coisa para a qual vale a pena viver – e morrer, se for dado esse
privilégio – agora, em 1948.
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Apenas uma “Era da Verdade”, em que tudo é como deveria ser – um mundo no qual
a ordem social e política na Terra é uma réplica perfeita da eterna Ordem da Vida –
pode ser não-violenta. E nas lendas eloqüentes de todas as nações antigas, a
sociedade ideal, no alvorecer do tempo, é dita ter sido naturalmente assim. Havia,
então, nada a ser mudado; nada para que derramar o próprio sangue ou o de outras
pessoas; nada a fazer, senão desfrutar em paz a beleza e as riquezas da Terra
iluminada pelo Sol os, e louvar deuses sábios – os “devas” ou os “resplandecentes”,
como os arianos antigos os chamavam – reis da terra no verdadeiro sentido da
palavra. Cada homem e cada mulher, cada raça, cada espécie estava, então, em seu
devido lugar, e toda a divina hierarquia da Criação era uma obra de arte para a qual e
da qual não havia nada para adicionar ou tirar. A violência era impensável.
Mas a violência não é uma coisa ruim em si mesma. Verdade, ela se pôs como uma
necessidade apenas depois que o mundo havia se tornado, em grande medida, “ruim”
– infiel ao seu arquétipo atemporal; não mais em sintonia com o sonho criativo da
Mente universal, que uma vez ele expressou. O próprio surgimento da violência era
um sinal de que a “Era da Verdade” havia sido irremediavelmente fechada; que o
processo de queda da história estava ganhando velocidade. No entanto, a violência
não pode ser julgada independentemente de sua finalidade. E o propósito é bom ou
ruim; valioso ou não. Ele é valioso quando aqueles buscam fazê-lo, não apenas
desinteressadamente – sem nenhum desejo primordial de glória pessoal ou felicidade
– mas também de acordo com uma ideologia que expresse a verdade impessoal e
atemporal, mais-que-humana; uma ideologia enraizada na clara compreensão das leis
imutáveis da vida, e destinada a apelar a todos aqueles que, em um mundo em queda,
ainda mantêm dentro de seus corações um desejo invencível pela Ordem perfeita
como ela realmente era e será novamente; como ela não poderia deixar de ser, no
início de cada retorno do ciclo do tempo. Qualquer finalidade que seja inteligente, e
objetivamente consistente com os objetivos de guerra das imortais Forças da Luz na
sua luta eterna contra as Forças das Trevas, isto é, da desintegração – aquela luta
ilustrada em todas as mitologias do mundo – esse propósito, eu digo, justifica qualquer
quantidade de violência altruísta. Além disso, enquanto a “Era das Trevas” em que
estamos vivendo continua, mais e mais escura e mais e mais feroz ano após ano,
torna-se cada vez mais impossível de evitar o uso da violência a serviço da verdade.
Nenhum homem – nenhum semi-deus – pode trazer, nos dias hoje, mesmo uma
quantidade relativa de ordem real e de justiça a qualquer área do globo, sem o uso da
força, especialmente se ele tem apenas alguns anos à sua disposição para tentar
fazê-lo. E, infelizmente, quanto mais o mundo avança na era atual das maravilhas
técnicas e humilhação humana, mais os grandes homens de inspiração são
submetidos ao fator do tempo, assim que eles tentam aplicar seus elevados
conhecimentos intuitivos da verdade eterna para a solução de problemas práticos.
Eles são forçados a agir, não apenas por completo, mas também rapidamente, se não
quiserem ver as forças da desintegração acabar com seu inestimável trabalho. E,
gostem ou não, por completo e rapidamente significa, quase inevitavelmente, agir com
violência firme. Pode-se dizer, com mais e mais certeza enquanto a “Era das Trevas”
avança, que os homens-deus de ação são derrotados, pelo menos por enquanto, não
por terem sido cruéis demais (e, portanto, por terem despertado contra si mesmos e
suas idéias e seus colaboradores a indignação das “pessoas decentes”), mas por não
terem sido cruéis o suficiente – por não terem matado os seus inimigos em fuga, até o
último homem, na breve hora do triunfo; por não terem silenciado tanto os milhões de
hipócritas como os seus mestres, os produtores de contos de atrocidades, com
violência mais substancial, e extermínios mais completos.
Quanto à violência que é usada para avançar os objetivos de guerra das forças da
morte, ela é e sempre foi de dois tipos: por um lado, dirigida contra a própria Vida –
primeiro, contra toda a inocente Natureza, e então contra os interesses vitais da alta
humanidade, em nome do “plano comum” – e, por outro lado, contra os homens em
particular que, cada vez mais conscientes da realidade trágica dessa idade da
escuridão, adotam uma posição em favor do reconhecimento dos valores eternos da
Vida e do restabelecimento da ordem de acordo com a sua verdadeira e eterna base.
Eles estão com pressa – não como a heróica elite, por impaciência generosa; não por
um desejo de ver a “Era da Verdade” ser restabelecida antes de seu tempo, mas
apenas por uma luxúria febril; por uma vontade de roubar do mundo, para si mesmos,
todas as vantagens materiais e todas as satisfações da vaidade que forem possíveis,
antes que seja tarde demais. E conforme o tempo passa, essa pressa se transforma
em delírio. O único obstáculo em seu caminho que ainda os desafia – que irá sempre
desafiá-los, até o fim – é precisamente essa elite orgulhosa a qual o desastre não
desanima, a qual a tortura não pode quebrar, a qual o dinheiro não pode comprar.
Consciente ou inconscientemente, sejam eles próprios completamente maus, ou
apenas cegos por uma estupidez inata, os agentes da desintegração guerreiam contra
os homens de ouro e aço com uma fúria infernal, sem esmorecer.
Mas deles não é a violência franca e desavergonhada dos inspirados idealistas que
lutam para trazer de volta, rapidamente, a elevada ordem sociopolítica que é boa
demais para o mundo indigno de sua época. A deles é um tipo de violência covarde,
safada, escondida, mais e mais eficaz por ser, do lado de fora, mais enfaticamente
negada, tanto pelos miseráveis que a aplicam ou aceitam, como pelos estúpidos bem-
intencionados que realmente acreditam que tal coisa não exista. Ela é motivada por
sentimentos que não se pode apresentar, mesmo em um mundo degenerado, sem
correr o risco de derrotar o próprio propósito: por puro ódio, enraizado na inveja – o
ódio dos fracos inúteis com relação aos fortes, por não outro motivo senão por eles
serem realmente fortes; o ódio das almas feias (encarnado, mais frequentemente, em
corpos não menos feios) com relação aos de grande beleza natural; com relação à
nobre, magnânima, abnegada, e real aristocracia do mundo; o ódio do infeliz, e mais
ainda, do tedioso – daqueles que vivem apenas por seus bolsos, e não têm nenhum
motivo para morrer – com relação àqueles que vivem, e estão prontos para morrer, por
valores eternos. Assim é, cada vez mais, a violência generalizada dos nossos tempos,
cada vez menos reconhecida, em seu disfarce sutil, até mesmo para as pessoas que
realmente sofrem com ela.
A violência franca e corajosa, que qualquer idealista com uma visão real é obrigado a
usar assim que ele tentar traduzir sua intuição da verdade eterna em ação, em um
mundo teimosamente degenerado, curvado sobre a sua própria destruição, é a
violência que, dizemos, nunca é exercida – e nunca poderia, logicamente, ser
exercida, salvo, talvez, em certos casos de urgência vital – contra quaisquer outras
criaturas vivas que não sejam pessoas. Seu único propósito é esmagar, tão rápida e
completamente como for possível, toda a resistência a uma ordem sócio-política
imposta muito cedo para ser apreciada por todos aqueles a quem ela afetaria. Como
veremos, ela não afeta apenas os seres humanos. Ela inclui, e deverá abranger,
também, no longo prazo, todos os seres vivos. Caso contrário, ela não seria uma
ordem baseada na verdade eterna, e a violência usada para impô-la não se justificaria.
Mas apenas os seres humanos podem e se opõem a essa ordem. Apenas eles são,
portanto, à medida que se tornam obstáculos ao seu estabelecimento ou à sua
manutenção, vítimas justificadas da violência necessária daqueles cujo dever é
defendê-la. Como conseqüência do fato de que eles não têm nada a ver com a
formação da sociedade humana, os animais inocentes nunca são atormentados por
homens que acreditam que, em todo caso, a tortura pode somente ser dispensada
quando aplicada para avançar fins impessoais políticos que estejam em harmonia com
os princípios eternos.
Esses homens não toleram a imposição de dor sobre as criaturas que vivem para
pesquisas destinadas, nas mentes dos torturadores e dos seus apoiadores, a aliviar os
sofrimentos da humanidade doente ou para satisfazer simples desejos por
informações “científicas”. Porque se eles realmente são expoentes dos ideais da “Era
Dourada” – homens de ação, com a consciência da verdade eterna e um amor ardente
pela perfeição – não há chance de eles compartilharem, seja sobre a humanidade ou
sobre as doenças, ou sobre a ânsia mórbida por um ocioso conhecimento a qualquer
custo, os preconceitos comuns que têm vindo a se desenvolver, há séculos, como
resultado da crescente decadência deste mundo. Eles não podem acreditar que todas
as vidas humanas, degeneradas como possam ser, sejam, necessariamente, válidas
de serem salvas. E eles devem acreditar que a melhor forma de erradicar as doenças
não é descobrindo novos tratamentos para ensinar homens e mulheres a viverem
vidas mais saudáveis, mas sim, antes de tudo, fortalecendo as raças naturalmente
privilegiadas com uma política sistemática e racional, aplicada, em primeiro lugar, à
arte básica da procriação. E eles devem sentir um desprezo para com todas as formas
de pesquisa inúteis, sem falar da curiosidade criminal sobre o mistério da vida, que
transformou centenas de homens como Pavlov, ou Voronoff – ou Claude Bernard – em
verdadeiros monstros.
Há mais. A ideologia do forte naturalmente anda de mãos dadas com repulsa por
todas as formas de crueldade para com os lindos animais indefesos. Nietzsche
exaltou a bondade como a maior força do super-homem – “a última vitória do
herói sobre si mesmo”. E a bondade que não abrange toda a vida não é bondade
de forma alguma. A bondade que leva o homem a “amar os seus inimigos” sem
exigir que ele ame as criaturas inocentes da terra, que não lhe causaram
nenhum dano intencional; a bondade que o aconselha a poupar as vidas dos
homens, mas o permite perseguir e comer os outros animais, e vestir suas
peles, ou é hipocrisia ou imbecilidade. A ideologia do forte rejeita esses dois mil
anos de contradição com desprezo.
Isto é tão verdade que as únicas pessoas que têm, em nossos tempos, se
esforçado para criar uma ordem sócio-política sobre a base de uma tal ideologia;
as pessoas que defendem mais consistentemente a violência saudável,
necessária, que é indissociável de qualquer luta contra as forças da decadência
– os fundadores da Alemanha nacional-socialista – são precisamente aquelas
que expressaram o amor mais sincero por toda a Natureza em seu sistema
educacional, e fizeram tudo o que podiam para proteger, por lei, tanto os animais
como as florestas; é tão verdadeiro, que o líder que os inspirou – Adolf Hitler,
agora tão descaradamente caluniado e tão amargamente odiado por um mundo
inútil – não só se absteve de carne em sua própria dieta diária, mas é , pelo que
sei, o único governante europeu que já contemplou seriamente a possibilidade
de um continente sem matadouros, e ele realmente tinha a intenção de tornar
esse sonho uma realidade, logo que pudesse.
Compare isso com o tratamento das criaturas nas mãos da maioria das pessoas que
negam os indivíduos e raças superiores o direito de serem implacáveis em sua heróica
luta contra o Tempo; daqueles que gostariam que nós acreditássemos que eles
“amam os seus inimigos” e que eles têm um verdadeiro horror com relação a
quaisquer atrocidades! Nós vimos, e nós vemos todos os dias, como os hipócritas
tratam os seus inimigos – quando eles os pegam. E nós sabemos quais atrocidades
eles podem executar contra outros seres humanos – ou ordenar, ou pelo menos
tolerar – quando elas se adaptam às suas finalidades. Eles tratam os animais da
mesma maneira. Eles consideram os crimes ocultos diariamente cometidos contra os
animais neste mundo cada vez mais perverso, como uma coisa natural, tal como
fazem com os que são cometidos contra os homens e mulheres que eles consideram
como “fanáticos perigosos”, “criminosos de guerra” e assim por diante.
Naturalmente, eles acham boas desculpas para justificar sua atitude – e sempre farão
isso; a lógica foi concedida ao homem para que ele pudesse se justificar aos seus
próprios olhos, seja qual for a monstruosidade que ele possa decidir apoiar. Mas suas
premissas são totalmente diferentes daquelas das pessoas altruístas que lutam com
brutalidade consistente pelos ideais de harmonia com a perfeita ordem cósmica. Seu
argumento básico é “o interesse da humanidade” – de forma indiscriminada; o
“interesse da humanidade” como um todo; da “maioria” dos seres humanos, bons,
maus e indiferentes; e apenas dos seres humanos. Seus ideais – expressão da
tendência decadente do Tempo, que acelera o homem para o seu fim – são qualquer
coisa, exceto ideais da “Era Dourada”.
Qual é a humanidade que os agentes de bom coração das forças da escuridão
querem realmente “salvar”, à custa de sofrimentos indizíveis infligidos a criaturas
saudáveis, inocentes e belas nas câmaras de tortura da “ciência”? Certamente não a
elite forte e orgulhosa da humanidade, à espera do seu dia para começar um novo
ciclo histórico, sobre as ruínas do mundo atual. Esses homens e mulheres que
pertencem a essa minoria saudável não precisam de tal medicamento laboriosamente
descoberto, e não iriam aceitá-lo. Não. A maioria dos nossos contemporâneos que
defendem a imposição de dor sobre as criaturas que vivem em prol da
“pesquisa” está preocupada com o alívio do “sofrimento” da humanidade. Eles
são cheios desse amor mórbido para com os doentes e os aleijados, os fracos e
os deficientes de todo tipo, que o Cristianismo colocou na moda e que é, sem
dúvida, um dos sinais mais nauseantes da decadência do homem moderno.
Sejam eles professos cristãos ou não, todos se apegam à crença idiota de que é
um “dever” salvar, ou pelo menos prorrogar, a qualquer custo, qualquer vida
humana, mesmo que sem valor – um dever de prolongar a vida simplesmente
porque é uma vida humana. Como conseqüência, eles estão dispostos a
sacrificar qualquer número de animais saudáveis e bonitos, se imaginarem que
isso poderá ajudar a corrigir os corpos de pessoas que, na maioria dos casos,
não teriam sido permitidas a viver, ou melhor, nunca nem teriam nascido, em
uma sociedade bem concebida e bem organizada. Em seus olhos, um idiota
humano vale mais do que o modelo mais perfeito de vida animal ou vegetal. De
fato, enquanto a nossa espécie se degenera, a sua vaidade cresce! E essa
vaidade ajuda a manter os homens satisfeitos, embora eles sejam
completamente afastados da visão da perfeição, gloriosa e saudável, que
dominou a consciência do mundo em sua juventude e que ainda é, e
permanecerá até o fim, a visão inspiradora de uma minoria decrescente.
O que virou o mundo inteiro tão amargamente contra os francos defensores dos
métodos cruéis tanto no governo como nas guerras, não é tanto que eles fossem
violentos, mas o fato de que eles eram verdadeiros. Mentirosos odeiam aqueles que
contam as verdades desagradáveis, e que agem em conformidade com elas.
Como foi dito no início, a não-violência só pode existir em um mundo em que a ordem
temporal sócio-política é, na escala humana, uma réplica da eterna Ordem do
Cosmos. Qualquer pregação eficaz – e qualquer prática parcial – de pacifismo na
política, ou seja, dentro do tempo, fora de tal ordem temporal, leva apenas, em última
instância, a uma maior violência; a uma maior exploração da natureza viva, e a uma
maior opressão do homem nas mãos daqueles que trabalham pelas forças da morte.
Mas, há milênios que a ordem perfeita deixou de existir. Ela deve ser recriada antes
que a paz possa florescer. E ela não pode, agora, ser criada de novo sem violência
extrema, exercida, desta vez, com um espírito altruísta, por homens de visão.
O melhor caminho para aqueles que desejam sinceramente uma paz justa e
duradoura seria, portanto, naturalmente, fazer todo o possível para entregar o mundo
para os homens de visão, o mais rapidamente possível; ou pelo menos, não tentar
impedi-los de conquistá-lo. Infelizmente, a maioria dos pacifistas ou não querem
realmente a paz, e apenas fingem querer, ou então realmente querem tal coisa, mas
apenas sob certas condições ideológicas que são incompatíveis com a realidade
agora, e que se tornarão mais e mais incompatíveis até o final do atual ciclo histórico.
Qualquer violência praticada contra seres humanos os choca. As pessoas que apóiam
abertamente o uso da força – seja no espírito mais desinteressado e para o melhor
dos propósitos – são, por isso mesmo, um anátema em seus olhos. Ajudá-los a
conquistar e dominar o mundo? Oh, não! Tudo menos isso! Os ideais dos homens de
visão podem muito bem ser ideais da “Era Dourada”; mas os métodos deles! – a
atitude cínica deles em relação à vida humana; a perseguição implacável e impiedosa
para a eliminação até mesmo de possíveis obstáculos para a realização rápida de
seus objetivos altruístas; sua “lógica terrível” (para citar as palavras de um oficial
francês na Alemanha ocupada, depois desta guerra) – os nossos pacifistas nunca
poderiam se aliar a estes! Como resultado, eles representam algo muito pior – e
geralmente sem saber. Pois, através da sua recusa em encarar os fatos e tomar a
única atitude razoável que um verdadeiro amante da paz deveria tomar, eles se
tornam instrumentos a serviço das forças de desintegração.
Não é possível ter ambas as coisas: quem não está com as eternas Forças da Vida e
Luz, está contra elas. A menos que se viva “fora” ou “acima” do Tempo, caminha-se no
sentido da evolução inevitável da história – ou seja, no sentido da decadência e
dissolução – ou em protesto contra a corrente dos séculos, em uma luta amarga e
aparentemente impossível, mas, no entanto, ainda assim bela, com os olhos fixos
sobre os ideais eternos que podem ser traduzidos integralmente para a realidade
material uma só vez, no início de cada ciclo sucessivo, por cada nova e sucessiva
humanidade. Mas é verdade que a minoria corajosa de homens de ação que lutam
“contra o Tempo” por ideais da “Era Dourada” é obrigada a tornar-se, conforme o
tempo passa, mais e mais cruel em seu esforço para superar uma oposição universal
cada vez mais bem organizada e cada vez mais evasiva. E por essa razão, torna-se
cada vez mais difícil para que os pacifistas os sigam. Com toda probabilidade, eles
continuarão a preferir identificar-se com os agentes mentirosos das Forças das
Trevas. E isso é natural. Mais uma vez: está dentro da lei do tempo. As forças da
morte devem ter praticamente todo o mundo sob seu controle antes da vinda de um
novo recomeço, que sempre nasce como uma reafirmação do triunfo da Vida.
E assim, dia após dia, ano após ano, agora e no futuro, os poderes conflitantes da luz
e das trevas não deixam de travar a sua luta mortal, como sempre fizeram, mas cada
vez mais ferozmente na medida em que o tempo passa. E na medida em que o tempo
passa, a luta também será mais e mais entre uma violência abertamente reconhecida
e abertamente aceita, e uma violência desonestamente dissimulada, sendo a primeira
colocada a serviço do mais alto propósito da Vida na Terra – ou seja, a criação de uma
humanidade ideal, ou de uma humanidade aos moldes da “Era Dourada” – e a outra,
colocada a serviço dos inimigos da Vida. E será assim até que, após a queda final – o
“fim do mundo” como nós o conhecemos – a liderança da sobrevivência da
humanidade caia para aquela elite vitoriosa que, mesmo em meio à decadência geral
do homem, nunca perdeu a fé nos eternos valores cósmicos, nem a vontade de
desenhar a partir deles, e somente a partir deles, as suas leis de ação.
Essa elite irá, então, não mais ser obrigada a recorrer à violência para impor sua
vontade. Ela irá governar sem oposição em um mundo pacífico, em que a Nova
Ordem dos seus sonhos será, para todos, o único estado natural e racional das coisas.
Até que o homem esqueça novamente a Verdade imutável, volte a agir como se as
leis de ferro de causa e conseqüência não lhe afetassem, e novamente se deteriore.
Todos os homens, na medida em que eles não estão libertos da escravidão do Tempo,
seguem o caminho degenerativo da história, sabendo disso ou não, e gostando disso
ou não.
Mas poucas pessoas – tão raras quanto aquelas libertadas, para as quais o Tempo
não existe, e talvez ainda mais raras do que isso – desejam tal mundo; e agem de
acordo com essa vontade. Estas são as mais aprofundadas, os agentes mais
impiedosos e eficazes das forças da morte na Terra: extremamente inteligentes, e por
vezes extraordinariamente perspicazes; sempre sem o mínimo de escrúpulos;
trabalhando sem hesitação e sem remorsos no sentido de acelerar a queda da história
e (mesmo que não consigam enxergar a situação claramente dessa forma) a chegada
da sua conclusão lógica: a aniquilação do homem e de toda a vida.
Naturalmente, eles nem sempre vêem tão longe. Mas quando o fazem, ainda assim
eles não se importam. Como a Lei do Tempo é o que é, e como o fim deve
naturalmente chegar, para eles vale a pena conquistar todo o lucro que for possível
durante esse processo que, afinal, mais cedo ou mais tarde, trará o fim. Como
ninguém é capaz de recriar o esperado Paraíso perdido – ninguém senão a própria
roda do tempo, depois de ter completado o seu ciclo – então para eles, que podem
esquecer completamente essa distante visão, ou que nunca foram capazes de
vislumbrar seu brilho; eles, que sufocam em si mesmos o anseio pela Perfeição, ou
melhor, eles quem nunca puderam experimentá-la; então assim, para eles vale a pena
tentar espremer desse momento (minutos ou anos, pouco importa) todos os prazeres
intensos e imediatos que eles puderem, até que chegue a hora em que eles deverão
morrer. Para eles, vale a pena deixar a sua marca no mundo – e forçar as gerações a
lembrá-los – até a hora em que o mundo morrer. Assim eles se sentem. Para eles,
tanto faz o que eles podem causar de sofrimento para os homens ou outros seres
vivos agindo como eles agem. Tanto os homens como as demais criaturas são
obrigados a sofrer, de qualquer maneira – eles pensam. Qualquer coisa vale, através
deles assim como através de outros, se isso puder avançar os objetivos destas
pessoas.
Os objetivos destas pessoas – dos homens dentro do Tempo, por excelência – são
sempre objetivos egoístas, mesmo quando, devido à sua magnitude material e
importância histórica, eles transcendem imensuravelmente a vida do próprio homem,
assim como de fato acontece, às vezes. Isso porque o egoísmo – a justificação da
“parte” por mais espaço e mais significado do que lhe é naturalmente atribuído no
quadro da totalidade – é a própria raiz da desintegração e, portanto, uma característica
indissociável do Tempo. Pode-se dizer, praticamente, que quanto mais uma pessoa é
completamente e inexoravelmente egoísta, mais ela ou ele vive “dentro do Tempo”.
Mas, como temos dito, o egoísmo se manifesta de muitas maneiras diferentes. Ele
pode encontrar expressão na luxúria da mera satisfação pessoal, que caracteriza o
libertino sem vergonha; ou na ganância insaciável do avarento pelo ouro; ou na
ambição individual do aspirante a honras e posição social; ou na ambição familiar do
homem que está preparado para sacrificar todos os interesses de todo o mundo pelo
bem estar e pela felicidade de sua esposa e filhos. Mas o egoísmo também pode
aparecer na exaltação da tribo ou da nação de um homem acima de todas as outras
tribos e nações, não por seu valor inerente à hierarquia natural da Vida, mas apenas
por ser a tribo ou a nação específica daquele homem. O egoísmo pode aparecer – ou
melhor, muitas vezes aparece – na exaltação indevida de todos os seres humanos,
não importando o seu nível de degradação, acima de todo o resto da criação viva,
irrespectivamente da saúde e da beleza destes últimos – a paixão que inspira a tirania
secular do “homem” sobre a Natureza. O “amor pelo homem” não está em harmonia
com os direitos e deveres ordenados por Deus para cada espécie (assim como para
cada raça e cada indivíduo), mas existe num espírito de mera solidariedade entre
parentes, bons ou maus, dignos ou indignos, apenas porque são os seus próprios.
Homens “dentro do Tempo” sabem apenas diferenciar o que é seu e o que é dos
outros, e eles amam a si mesmos em tudo o que é deles.