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ANO 1440 Junto-Acosto bE 2015 Revista de Legislagao e de Jurisprudéncia Redactores © Comproprictirios (Profanne de Frade de Dist de Caimi) Antigos Directores Manuel Chaves ¢ Caer (Funded) Guilherme Motcira Joe Alber das Reis Femando A. Pres de Lima J.J Tora Ribeiro Jeo de Matos Annes Varela Manuel Henrique Mesuia Director e Comproprietétio Anuénio Joaquim de Matos Pino Moncro ‘Comissio de Redacsso Ausénia Jou de Matos Paro Monsro Joo Cavfo da Sx Jost Cato Vin de Andrade Francico Manvel Peete Cacho AncSnio Castaira Neves Jonge de Fipueedo Din ‘Maio Jlio de Almeida Costs Rui Nogucia Labo de Alario e Siva Jos Joaquim Gomes Canodho Guilherme Freie Falto de Oliveira Manuel Henrique Mesquia Manel Calor Lopes Por Jorge Fein Sinde Manteiso Manuel da Costa Andrade Fernando Alves Corea Rui Manuel Gear de Moura Ramor Joie Calo de Siva José Carlos Viera de Andrade José Francisco de Faia Cosa Vital Marine Moni Soe Fancn dea Ce Joe Conta Nats Sumdrio Seco de doutrina Arbitagem e propricdade indus medicamentos de referencia ¢ medicamentos genésicos — Joo Carlos da Concciggo Leal Amado Fernando José Couto Piowo Bronze ‘Aubela Maca Vino de Mitanda Rodeiguss Joaatss Eduardo Mendes Machado Joaquim José Coelho de Sousa Ribeiro ‘Maria Jofo da Sa Balls Madeira Antunes Filipe Caniano Nunes dos Sance Jota Carlos Sims Gongs Loueio Tadeo Aninio Piet de Conta Ganges Alerndre Migua Cardoso Soveral Martins ‘Manuel Coaciro Nogucits Serene Paulo Cardoso Corres da Mots Pinto Alene Libro Diss Pccira Flipe Miguel Ca de Albuquerque Mator Lae Miguel de Andrade Mesquta Francice Mansel Brito Pere Cacho Carolina de Caruo Nanes Vicene Cunha Pedro Canara Azevedo Mai “Mata José Olvera Capel Pinto de Resende ‘ALBIusoaD Db Sovesal. Magri. a8 Secgio de jurisprudéncia S.TJ., Acérdfo n.° 7/2011 — Proceso n.° 456-08.3GAMMV — FJ (Vinho novo em odie vee “Anoagto erica de wm acbrto do ST]) ~ Mason. a Costs ANDRADE. 433 TERE, Atri de 19 de Fever de 2015. (A compemase do dani arinanal do prope ‘rio por morte de animal de estimagdo) — Fuuve 0: Atsuquengue Matos... 465 Coimbra Editora Ne 3993 d) O STJ quis associar 0 de queixa dos titulares das faculdades de fruigéo, 020 ou uso 2 estrutura tipica da infracgdo. Para tanto inscreveu na area de tutela tipica do Dano, os interesses e valores corresponden- tes a estas relagées de goz0 ou fruigio, eti- gindo-os ao estatuto de bens juridico-criminais, protegidos a par e ao lado da propriedade. Isto é f€-lo invocando para o efeito a sua dignidade penal e caréncia de tutela penal, que considera iguais, se néo mesmo superiores as da propriedade. Fé-lo, noutros termos, con- vertendo, sem mais, um juizo de conveniéncia politico-criminal num enunciado de direito penal positivado. Operando nomine suo alte- rages aos momentos nucleares do ilicito tipico do Dano, nessa mesma medida ultra- passando a sua legitimidade ¢ competéncia. E colocando-se em contra-mao face as exigen- cias da legalidade, reserva de lei, divisio de poderes ©) O procedimento do acérdéo surge outrossim inguinado por um vicio doutri- nal-categorial. Porque tem subjacente a con- vicgio da vinculagio entre ofendido e direito de queixa, pressupondo que novas (e mais alargadas) respostas em sede de direito de queixa pressupéem novas (e mais alargadas) solugies em sede de ofendido e, reflexamente, em matéria de bem juridico tipico, drea de sutela tipica, factualidade tipica, exc. O que, jd 0 vimos, nao se dé: as solugées adopradas em sede de queixa néo tém como prius neces- sitio solugées homélogos a0 nivel do ilfcito tipico. A) No discurso do STJ € também patente um vicio de indole heuristico-met dolégica, traduzido na auséncia da indi pensivel fundamentacéo hermenéutica da proposta de re-interpretagéo do tipo da sua area de tutela. Acresce que 0 acérdéo nfo projecta, néo discute e menos ainda assume, as implicagées da sua compreensio sobre 0 regime juridico de Dano. E, par- ticularmente, sobre as situagées de confliso, patente ou oculto, entre proprietitio € os demais titulares das faculdades de fruigéo ou gozo. REVISTA DE LEGISLAGAO E DE JURISPRUDENCA 465 @) No que vai coenvolvida uma iiltima e definitiva conclusio-sintese, atinente a funda- mentagéo ensaiada pelo Supremo, Para anco- tar o direito de queixa dos titulares das facul- dades de frui¢io ou goro prejudicados pelo Dano, 0 ST] levou a cabo as alteragbes — ‘que considerou indispensveis — nos momen: tos nucleares do tipo de ilicito da infracga S6 que, para além de desnecessdria, uma via proibida, por violagio de inultrapassiveis bali- as constitucionais. E, como tal, uma fundamentaso no lograda, outra forma de dizer uma falta de fundamencagd ‘4)_E voltamos ao inicio, & pardbola que nos ofereceu o titulo deste escrito. Tal como © conhecemos, com o desenho positivado ¢ vigente, o crime de Dano nio comporta na sua drea de tutela, os “novos” bens jurfdicos que nela pretendeu inscrever 0 douto acér- dio do STJ. E que erigiu em fundamenta- io da tese de alargamento da titularidade do direito de queixa. Conclusio que deixa aquela tese suspensa no at, & espera da fun- damentagio que, verdadciramente, néo acon- keceu. Na simbologia da pardbola que nos ofere- ceu o titulo sob que inscrevemos estas as reflexdes, pode ter-se rompido 0 odre velho . € no se salvou o vinho novo. Manuez pa Costa ANDRADE Tribunal da Relagio do Porto Acérdio de 19 de Fevereiro de 2015 Sumério: / — Néo hevendo norma legal que estabelera (que a seguradora sb pode beneficiar da exclucdo da cobertura do contrato alegendo a matéria de facto ertinente ¢ manifestando a intengio dese fazer valer dda excepedo correspondent: (o que teria de fécer na ‘ontestapio), 0 tribunal pode conhecerefciasamente do preenchimento das cliuslas de excludo da cober- tune do contrato de seguro desde que 0 proceso, ainda (que nao por alegesio de ré, fornega 0 fatos necerd= 466 rior para 0 efit (ara. 496° do antigo 579° do trove CPC) HA cds do contrat que exci (2 cobertuna des danos causades pela “nobseroincia “des dipoigies leas em vigor que repulamentem ‘dence anima eporase& previo do art. 3. ‘do do art. 7%, do DL nt 31412008, de 17.12. {IT — Para exclu a coberura do seg com ese ‘iundamento € nestria que a infaca legal come- ‘ida iia impuravel 40 dono do cho, pelo menos, & rule de negligence, 0 que reclama, no mimo, @ demoninagto de que no cao 01 dons do clo podiars f deviam ter previsto 0 comportamente do cio € tdoprade 0s medidas part 0 vtar, IV — Const ‘tm dado civilicacional adguirido nas sciedades ‘ropes madernas 0 repeita pelos dicts dor an- mais aceitagn de que os anima so eres vives ‘arecides de tengo, exidadese protec do home, ‘nde cosas de que 0 homem posse dspor a seu ‘belprecer pelo que a relagéo do homers com ous enimais de compankia poset jd hoje un relevo a fe ‘Le ondem juridica que nao pode ser desprecado jus: ‘fleondo que wa atendid como dano no patrime- rial rsceptoel de tte jurdica 0 degst sofiide ama mort de wm animal de companbia. ‘Acordam os Juizes da 3. Seceo do Tribunal da Relagio do Port: I. Ba. residente em ..., Penafel, instaurou acsio judicial contra C... ¢ mulher Dov Esse todos residentes na mesma localidade, € F.... ‘Companhia de Seguros, S.A., com sede em Lis- boa, pedindo a condenagio dos demandados a pazar-he a quanta de €55.570,60 de indemniza- {do pelos danos pattimoniais ¢ nao patrimoniais foftidos, acrescidos de juros, & taxa legal, desde a ciragio até efectivo pagamento. ‘Para o efeito, alegou, em sintese, que em 31/08/2009, quando passava na rua, foi atacada € mordida por um cio de raga “pastor alemio", percencente aos Les Réus e que estes utilizavam hho seu proprio interesse mas néo cuidaram de ‘manter preso, permitindo que 0 mesmo se encon- trasse solto no interior da propriedade, donde saiu para atacar a autor porque a 2.* Ré filha dos ® Réus, abriu 0 porto que dé acesso & via pblica permitindo-lhe a safda para a via péblica. Em consequéncia do ataque do cio, a autora softeu les6es comporais ¢ danos materiais dos quais pretende ser ressarcida 'AREE... contestou aceitando a existencia do contrato de seguro invocado pela Aurora, impug- nando a demais factualidade alegada pela autora ¢ alegando que jf suportou despesas com a assis- téncia hospitalar prestada & autora pelo que do Revista DE LEGISLAGAO & DE JURISPRUDENCIA Ne 3993 capital seguro apenas se encontra dispontvel a ‘quantia de €45.943,60. ‘Os demais Réus contestaram impugnando a versio do acidente apresentada pela autora ¢ jimputando-lhe a culpa pela agressio, perpetrada pelo cio dos réus. ‘A acgio prosseguiu até julgamento, findo 0 ‘qual foi proferida senenca julgando acy par- cialmente procedente, absolvendo a Ré G... do pedido e condenando os Réus C... ¢ mulher D... ea Ré F..., solidariamente, a pagarem 4 autora a quantia de €10.766,40, acrescida de juros de mora, ¢ ainda a quantia que se vier a liquidar correspondente ao valor despendido pela Aurora ras deslocagoes que realizou ea que aludem as alineas AE) ¢ AG) da matéria apurada, quantia esa limitada a0 valor do pedido e, quanto i ré F..., a0 montante de €35.177,20. Do assim decidido, a ré F... interpds recurso de apelagio, terminando as respectivas alegacbes com as seguintes conclusbes: 1. Perante a prova testemunhal produ- zida em audiéncia de julgamento ¢ face & auséncia de documento comprovative do facto, nunca o Tribunal recorrido podia dar como provados @ facto constante da ali- nea AB) da douta sentenga recortida 2. Nos cermos das alfneas 4), 6) ¢ ¢) do no 1 do art. 640.2 do CPC, entende defende a Ré que o facto constante da alfnea 'AB) da douta sentenca recortida néo pode ser dado como provado, ou seja, rem de ser dado como nio provado. 3. E isto porque o depoimento das tes- remunhas H... ¢ I... grandes amigas da ‘Autora ¢ que com ela passeiam todos os dias, nada disseram sobre a matéria, o que eviden- cia a nio realidade do facto. ‘4. Por ourto lado, o depoimento das tescemunhas J..uy K... € Love para além de ‘merecerem a devida distincia decorrente de secem familiares directos da Autora (marido, sobrinha ¢ cunhada), néo foram assertivos, revelaram contradigées ¢ sfo desmentidos pela experitncia da vida '5. Assim, face aos meios probatbtios indi- cados pela RE neste seu recurso, néo pode dar-se ‘como provado o fietoque consta da alinea AB) da doura sentenga recorida, devendo revogar-st a douta sencenga recorrida nesta parte e quanto 4 matéria de facto — & 0 que se requer nos termos do art. 662.° do CPC. » 3993 6. A nio se dar como provado 0 factos referido no nimero precedente, a accéo cem de ser julgada parcialmente improcedente no que diz respeito & condenacéo da Ré quanto 4 a0 montante indemnizatério pelos salérios alegadamente perdidos pela Autora durante 0 tempo de incapacidade temporéria, arento 0 disposto no art. 342.° do Céd. Civil, que assim se mostra violado. 7.. Nesta conformidade, o montante indemnizat6rio pelas perdas salariais durante a incapacidade temporiria nfo pode, nem deve, exceder © montante de € 821,65. 8. Assim, a condenagéo da Ré em quan- tia superior viola 0 disposto nos arts. 562.° 2 564.2 do Céd. Civil, pelo que deve ser revogada a douta sentenga recortida em con- formidade com 0 exposto. 9. A néo se dar como provado o factos referido no nimero cinco destas conclusdes, a acsio tem de ser julgada parcialmente improcedente no que diz respeito & condena- ‘gio da RE quanto & 20 montante indemniza- ‘brio pelo dano futuro decorrente da incapa- cidade de que a Autora ficou afectada, atento © disposto no art. 342.° do Céd. Civil, que assim se mostra violado. 10. Nesta conformidade, 0 montante indemnizatério pelo dano futuro decorrente da incapacidade permanente de que a Autora ficou afectada no pode, nem deve, exceder 0 montante de €900,00. 11. Assim, a condenagio da Ré em mon- tante superior constitui violagio do disposto no art. 564.° do Cd. Civil, pelo que deve a outa sentenca recorrida ser revogada em conformidade com 0 exposto, 12, Independentemente do que se alega nos nimeros anteriores, a Ré nfo podia ser condenada em qualquer montente, atenta a clausula de excluséo constante do contrato de seguro € 0s factos que foram dados tomo provados a respeito do sinistro que vitiniou @ Aurora, 13, B que o sinistro ocorreu na via pibliea — a Autora foi mordida pelo cio N... na via piblica — ¢ nesse momento 0 dito cio encontrava-se na via piblica sem ter agaimo na bocs ¢ sem trela, violando, assim, © disposto no art. 7.° do D-L, n° 314/2003. 14, Tal violacio faz funcionar a cldusula de exclusio prevista no art. 49, ne 1, alle nea A), das condigées gerais da apélice, pelo REVISTA DE LEGISLAGKO E DE JURISPRUDENCIA 467 que, atento o facto de se tratar de um seguro facultativo ¢ de tal céusula ter sido aceite pelo corréu segutado, & aplicivel a0 caso dos autos. 15. Por isso, a Ré ora Recorrente devia ter sido absolvida do pedido. 16. Assim, a condenagio da Ré ora Recorrente constitui violagio do disposto nos arts, 32.° a 35.° do Regime Juridico do Con- rato de Seguro, nos arts. 397.°, 398.° ¢ 405.° do Céd. Civil, nos arts. 425.° e 462.° do Céd. Com. ¢ ainda no art, 7.° do D.L. ‘n° 314/2003, pelo que deve a douta sentenga recorrida ser revogada em conformidade com (0 exposto e, consequentemente, deve a Ré ser absolvida do pedido. 17, Também importa considerar que a indemnizacio por danos ndo patrimoniais & 18. Atenros os factos provados, consi- derando o que acima se refere quanto 3 io relevincia para o efeito da morte do ciozinho da Autora M..., entende a Ré {que © valor justo ¢ adequado para indem- hizar tais danos da Autora deve ser 2 quan- tia de 5.000,00 € 19. Assim, a condenagéo em quantia superior constitui violacéo do disposto nos arts. 496.° © 494.° do CC, pelo que deve a douta sentenga recorrida ser revogada em conformidade com 0 exposto. ‘A autora recorrida respondeu a estas alegagdes defendendo a falta de r2zi0 dos fundamentos do recurso ¢ pugnando pela manurensio do julgado. ‘Apés os vistos legais, cumpre decidir. IL. As conclusdes das alegagées de recurso demandam desce Tribunal que resolva as seguintes questées,colocadas.na sua devida sequéncia légica: i) Sea prova produzida impée a alteragio da decisio de julgar provado o facto do item AB). ii) Se & possivel conhecer de uma eventual causa de exclusio da responsabilidade da 1 seguradora nao alegada na contestasio. ii) Se as cléusulas do contrato de seguro celebrado com a recorrente excluem a sesponssbilidade da ré seguradora nas concreras circunstincias em que ocorreu iv) Se a indemnizacio por danos patrimoniais € nio patrimoniais deve ser reduzida Revista DE LEGISLAGAO E DE JURISPRUDENCIA IMT. Na decisio recorrida foram considerados provados os seguintes facros: ‘A — Os primeiros Réus eram donos do canideo da raga ‘pastor aleméo', com cerca de 60 em de altura, portador do Boletim Sanicé- fio n.° ..» licenciado para a época 08/09 com ‘a Licenga n.? 1 da Categoria A, emitida pela Junta de Freguesia ... e portador do chip de identificagio n.° .... que dava pelo nome de'N.... B — No dia 31.08.2009, cerea das 07:45 horas, 0 cantdeo “N...” estava solto dentro da casa dos Réus C... € D... tendo a Ré G..., entéo aberto o porto dessa casa, que dé acesso a via pablica. ‘C-— Por acordo celebrado entre C... 2 ré Companhia de Seguros F..., S.A. em vigor a data dos factos e titulado pela apélice no... a Ré Companhia de Seguros F. S:A., assumiu a responsabilidade pelo page- mento de valores pecunirios emergentes de lesées corporais e/ou materiais causados a terceiros pelo cio de nome “N...” © de raga Pastor Alemio. D — Nos tecmos do acordo referido em ©), © montance do capital seguro € de €50,000,00 (cinquensa mil euros) ¢ consta estabelecida uma “franquia aplicével em danos materia (néo oponivel a.terceiros)” de 10% sobre o valor pecuniério a pagar tercetos. E— A&E... pagou as despesas com os ‘ratamentos a0 dedo da Autora, no Centro Hospitalar Tamega ¢ Sousa, E.RE., no mon- tance de €4.056,40. F — Em 31.08.2009, a Autora era dona do cantdeo de pequeno porte € de raca inde- finida, com cerca de 25 centimetros de altura, «que dava pelo nome de "M.. ponto 1.° da base instrurétia. G — No dia 31.08.2009, cerca das 7h45m/08h00m, 2 Autora caminhava pela Rua ..., da freguesia .... em Penafiel, na companhia de uma prima, de uma amiga ¢ do “M...” — resposta 20 ponto 2.° da base H — (...) € a0 passar junto & casa dos Réus C... € D..., quando a RE G... abriu 0 portio que veda a propriedade onde se loca- liza aquela casa e que dé acesso & via publica, a fim de sair com 0 veiculo automével para 0 trabalho, alrura em que a Autora, a prima, a amiga eo “M...” caminhavam naquels via — resposta 20 Ne 3995 piblica, pasando junto aquele portéo, seguindo o “M... atrés” da Autora, da prima eda amiga desta, 0 "N...” sait do interior daguela propriedade ¢ correu na direcsio do cao da Autora — resposta a0 ponto 3.° da base instrutéria. 1—O SN...” atacou 0 “M...” € aboca- rnhou-o, acabando por Ihe provocar a morte em momento nio concretamente apurado — res- posta 20 ponto 4.° da base instruréria. J — Ato continuo, mal viu.o “N...” a ‘cotter em direegio a0 “M...” a fim de o ata- car, a Autora correu em socorto do canideo “ML...” ¢ quando chegou a0 local onde se encontravam ambos os cies ¢ fez 0 movi- ‘mento de se baixar para pegar no “M...", 0 *N...", largou 0 "M..." ¢ atacou a Aurora, mordendo-Ihe a mio direita — resposta a0 ponto 5.° da base instrutéria, K — Ao ver o relatado em J), a RE G..- acorreu ao local em socorro da Ausora — res- posta 20 ponto 6. da base instruréria. L — Em consequéncia do ataque do *, a Autora sofreu esfacelo do dedo indicador da mio dircita, face ventral, com atingimento dos flexores, deficit de flexo do dedo com dor e parestesias de face radial tumefacgio palpivel na face palmar — res- posta a0 ponto 7.° da base instrutéria. M_—E, em consequéncia, a Autora rece- beu assisténcia no Servigo de Urgéncia do Hospital de Penafiel, tendo sido sujeita a limpeza, desinfeecio da ferida e aproximagéo do tecido com sutura com ponto de seda penso, ¢ foi encaminhada para 0 Centro de Saide para realizagio de penso ¢ retirada de pontos — resposta ao ponto 8.° da base ins- rucbria. N — Desde o dia 31/08/2009 até Dezembro de 2009, a Autora foi assstida no Centro de Satide de Penafiel e submetida a sucessivos tratamentos de limpeza e desinfec- gio da ferida, realizagéo de pensos e revirada de pontos — resposta ao ponto 9.° da base inseeutéria. (O — Em 15.09.2009, a Autora foi reo- bservada e inserita para cirurgia — tatamento de nevroma, tenolise dos tendées flexores — resposta ao ponto 10.° da base instrucéria. P — Em 30.12.2009, a Autora foi sub- metida a cirurgia, com artrolise da articulagéo interfalangica proximal, tenolise dos tend6es flexores, neurolise do nervo digital cubital ¢ Ne 3993 cexérece de nevroma lateral, com colocagio de placa antiaderente entre os tend6es € 0 0580 — tesposta 20 ponto 11.° da base instrutéria Q— Apés cirurgia, a Autora foi orien- tada para consulta e apresentou rejeigio da placa antiaderente, 0 que causou atraso de encerramento da ferida operatéria, atraso na mobilizagio do dedo, e rigidez. do mesmo — resposta a0 ponto 12.° da base instrus6ria. R — A Autora iniciou fisioterapia em (02.02.2010 — resposta 20 ponto 13.° da base instrutéria. $ — Em 17.03.2010, a Autora mantinha drenagem do aludido dedo através de um orificio da ferida, e foi inscrita para nova cirurgia para limpeza cirdrgica e nova tenolise alargada dos tendées flexores — resposta 20 onto 14.° da base instrutéria. ‘T — Em 25.03.2010, a Autora foi ope- rada por apresentar tigider do dedo, e foilhe efectuada limpeza cirtirgica com exérese de placa antiaderente, tendlise dos tendoes flexo- res e colocagio de sistema dinamico de flexio para inicio de mobilizagio do dedo — res- posta a0 ponto 15.° da base instruséria U— Em 14.04.2010, a Autora apresen- tava encerramento da ferida e, em 16.04.2010, iniciou fisioterapia, mantendo-se em vigilancia com consulta mareada para 14.07.2010 — resposta 20 ponto 16.° da base instrutéria, ‘V — Em 14.07.2010, a Autora apresen- tava tigider e limitacéo a nivel da articulagio IEP parestesias distais do dedo e nesse dia teve alta da consulta — resposta 20 ponto 17.° da base instrutéria, ‘W — Em consequéncia das lesées causa- das pelo cio “N...”, a Autora ficou com as seguintes sequelas: — dor na zona cicatricial — hipoestesia do 2.° dedo; — flexo com anquilose das 3 articulagbes do 2.° dedo (ME, IFP e IFD) — resposta a0 ponto 18.° da base inserutéria, : Y— As soquelas refridas em W) determi- nam 4 Aurora um défice funcional permanente de integridade fisico-psiquica de 5 pontos — resposta ao ponto 19.° da base instrut6ria. X — Em consequéncias das lesées softi- das ¢ das sequelas referida em W), a Autora tem dificuldades em utilizar a mao direita para trabalhar, tendo de efectuar esforcos suplementares acentuados para realizar a sua actividade habitual, apresentando cicatriz ope- ratéria irregular, nacarada, de 4 centimetros Revista De Lecistacko & pe JuaispaupeNca 469 de comprimento, que se inicia na face palmar do 1.° metacarpo € se estende até & face pal- ‘mar da falange proximal do 2.° dedo, havendo repuxamento de tecidos nessa falange € na transigéo do metacarpo para a falange proxi- tal; rigidez da articulagéo metacarpofalngica do 2.° dedo (mobilidade entre 0s 0.° 5 65.9); anquilose da articulagio interfalan- gica distal do 2° dedo da mio dieita a 90.° ¢ efectua a pinga entre o polegar ¢ 0 2.° dedo com muita dificuldades, tendo dificuldades em pegar em pequenos objectos, como segurar a esferografica ou lépis, pegar talheres, copos « objectos em casa, em limpar a casa, como por exemplo em mudar os lengéis da cama ou em limpar o cho com um pano ¢ tem dif- culdades em descascar batatas — resposta aos pontos 20.° ¢ 21.° da base instrutéria. Z— A data do ataque do “N...” 2 ‘Aurora fazia umas horas, como empregada doméstica, na casa de uma senhora, no que auferia uma quantia mensal nunca inferior a 200,00 curos — resposta ao ponto 22.° da base instrutéria. ‘AA — (...) E tatava da sua lide domés- tica, cultivava o terreno da sua casa, criava animais domésticos, colhia frutas, legumes, cames € ovos — resposta 20 ponto 23.° da base instruséria AB — (..) E confeccionava compotas, enchidos e doces, que utilizava para consumo do seu agregado familiar e para comerciali- zar, auferindo uma quantia nunca inferior 100,00 euros mensais nessa actividade — res- posta a0 ponto 24.° da base instrutéria. AC — Em consequéncia das les6es softi- das e das sequelas delas emergentes, a Autora esteve totalmente impossbilitada de trabalhar de 31.08.2009 2 14.07.2010, data em que teve alta por cura clinica, tendo durante esse periodo de tempo estado de baixa médica e recebendo 0 subsidio mensal de doenga no montante de 121,50 euros — resposta a0 ponto 26.° da base instrutéria AD — (...) € deixou de fazer, durante 0 periodo de tempo referido em AC), a lide doméstica, de cultivar 0 terreno da sua casa, de eriar animais ¢ confeecionar as comporas, enchides ¢ doces — resposta ao ponto 27.° da base instrutéria. ‘AE — Em consequéncia das lesbes softi- das, desde 31.08.2009 até 14 de Julho de 2010, a Autora teve de se deslocar, mais 470 de uma ves por semana, 20 Hospital de Pena- fiel ¢ 20 Centro de Satide de Penafel, para tratamentos, consultas ¢ sessbes de fisioterapia —resposta a0 ponto 28.° da base instrutéria. AF — Em 25.03.2010, a Autora foi sub- metida « uma segunda operagio e, desde entéo e até 14.07.2010, teve de se deslocar 20 Hospital de Penafiel ¢ ao Centro de Satide sos termos relatados em AE) ¢ com a regula- ridade af referida, para tratamento médico — resposta ao ponto 29.° da base instrutéria. ‘AG — Desde 31.08.2010 até 14.07.2010, 1 Autora efectuou as deslocagées referidas fem AE) e AF), cujo nimero total nio se logto apuray, utilzando para o efeito automével pré- prio, entre a sua residéncia € 0 Hospital de Penafiel e 0 Centro de Saiide de Penafiel, per- correndo em cada viagem pelo menos 3 Kms. — resposta a0 ponto 30.° da base instrutsra AH — ... No que despendeu quantia rio concretamente apurada nessas deslocagées — resposta 20 ponto 31.° da base instrutéria. ‘AI — Em medicamentos ¢ consultas, ‘Autora despendeu © montante de 98,10 euros — resposta 20 ponto 32.° da base instruéria. ‘AJ — O canideo "M...” era pertenca da ‘Aurora hd cerca de dois anos tendo por refe- réncia 0 dia 31.08.2009 — resposta 20 onto 33.° da base instrutéria AK — A Aucora nutria afticdo pelo cio “M...", que a acompanhava todos os dias ¢ para todo 0 lado — resposta ao ponto 34.° da base instrutéris. ‘AL — A Autora sentiu desgosto e deses- pero com a morte do “M...” e ainda sente tristeza ¢ saudade — resposta ao ponto 35.° da base instrutéria. AM — Quando foi atacada pelo canideo “N..." a Autora sentiu receio — resposta 20 ponto 36.° da base instrutéria NA — Com as les6es causadas e 08 tra- tamentos a que foi submerida, a Autora sofreu dores fisicas, ascendendo 0 quantum doloris ao grau 3 numa escala de 7 graus de gravi- dade crescente — resposta 20 ponto 37.° da base instrutdria ‘AO — A Autora ficou com a mio diteita desfigurada, ascendendo 0 dano estético per- ‘manente que afta a Autora ao grau 2 numa escala de 7 graus de gravidade crescente — esposta a0 ponto 39.° da base instrutéria, AP — Desde 14.07.2010 até hoje, a ‘Aurora sente dores no local da cicatrz, na face Revista De LEGIstAGKO E DE JURISPRUDENCIA Ne 3993 palmar da mio direita, a0 nivel do 1.° meta- carpo com 0s esforsoso, 0 que a leva, muito ocasionalmente, 2 comar Ben-U-Ron — posta ao ponto 40.° da base instrutéria, ‘AQ — Em consequéncias das limitagées fancionais ¢ estéticas supra descritas com que ficou, a Aurora, que era uma pessoa alegre, activa a trabalhadora, sente-se triste € limitada, © que causa um abaixamento da sua auto-esima da sua alegria de viver — resposta aos pon- tos 41.9 © 42.° da base instrutéria. AR — Antes da RE G... abrir © portio nos termos relatados em H), o N... encon- trava-se deitado na varanda da casa dos 1 Réus — resposta ao ponto 44.° da base instrutéria ‘AS — Nas circunstincias relatadas em H) o“N...” dirigiu-se a0 “M...” — resposta 20 ponto 45.° da base instrutéria. AT — O'N...” abocanhou 0 cio “M...” nas circunstancias relatadas em H) € 2) € apés ter mordido a Autora nos termos ¢ nas cit- ccunstincias relatadas em J) abocanhou nova- mente 0 cio “M...” € levou-o para o interior da propriedade dos 1.% Réus, onde acabou por o levar para o interior da sua jaula, que se situa no quintal dos 1. Réus, a uma dis- tincia nio concretamente apurada do portio refetido em H) — resposta ao ponto 46.° da base instrutéria. ‘AU — No momento em que 0 “N...” se abeirou do “M...” nas citcunstancias relatadas em H), a Aurora encontrava-se a caminhar a uma distincia néo coneretamente apurada adiante do "M...”, de costas vitadas para 0 tilsimo — resposta a0 ponto 47.° da base instrutéria, IV. Al da impugnagio da matéria de facto: () O M.™ Jui a quo julgou provado o seguinte facto: a aurora “confeccionava compotas, enchidos doces, que utilizava para consumo do seu agre- gado familiar ¢ para comercializar, auferindo uma quantia nunca inferior a 100,00 euros mensais nessa actividade’. Na morivagio dessa decisio, 0 M.™* Juiz cescreveu: as testemunhas “J..., K... € Le. foram igualmente concordantes entre em 2fitmar que (..) a Aurora, 2 data dos factos, fia toda a lide doméstica da sua casa e atinente a0 seu agregado familias, além de que agriculrava o seu quintal, No 3993 conde criava porcos, galinhas e outros animais, fabricava salpicées, doces, etc, consumindo o seu agregado familiar parte dos produros hortcolas dos animais que a Autora assim produzia ¢ ven- dendo esta os restantes produtos ¢ daqueles ani- ais, o que tudo se mostra conforma as regras da experincia comum quando se pondera que a ‘Aurora reside numa zona essencialmente rural (Js em que € normal/habitual as domésticas além de fazerem 0 trabalho doméstico atinente 20 seu agregado familiar e casa de morada de familia, fabricarem o seu quintal, onde produzem produtos hortcolas ¢ animais, que em parte sio consumidos pelo seu agregado familiar e a restante parte por clas vendidas como meio de obterem algum ren- dimento para os seus gastos pessoais e dos filhos ce, bem assim para ajudarem na despesa do agre- ado familiar (...). Quanto a0 rendimento que a ‘Autora retitava com a comercializagio daqueles produtos hortcolas, animais, etc, a testemunha K... referiu que esse rendimento ascendia a 100/150,00 euros mensais, enquanto L... aludia 1 150/200,00 euros mensais, o que tudo quando submetido 8s regras da experitncia comum forsa 1a que se conclua que esse rendimento ascendia a pelo menos ¢, por conseguinte, a quantia nunca inferior « 100,00 euros menstis’ ‘Convém recordar que na petisio inicial, a este respeito, estava alegado o seguinte: “32 — E, como sempre fot uma pessoa dindmica ¢ wabalhadora, nio s6 tratava de todas as suas lides domésticas, como cultivava a pro- priedade que possu e criava animais domésicos, colhendo frutas, legumes, cares € ovos, 33 — E ainda confeccionava diversos produtos caseiros, « g. compotas, enchidos € doces, 34 — Parte dos quais utlizava para con: sumo do seu agregado familiar ¢ comerci ava a parte restante, 35 — Com o que obtinha um ganko ‘mensal nunca inferior a € 150,00.” Desta matéria, 0 Tribunal julgou provado 0 seguinte, onde se inclui © ponto de facto concre- tamente impugnado: AA — (...) E tratava da sua lide domés- tica, cultivava 0 terreno da sua casa, criava animais domésticos, colhia frutas, legumes, cames ¢ ovos — resposta a0 ponto 23.° da base instrutéria REVISTA DE LEGISLAGKO & DE JURISPRUDENCIA an AB — (...) E confeccionava compotas, enchidos e doces, que utilizava para con- sumo do seu agregado familiar e para comercializas, auferindo uma quantia nunce inferior a 100,00 euros mensais nessa acti- vidade — resposta 20 ponto 24.° da base inserutéria.” Resulta assim claro que o que estava alegado 0 tribunal julgou provado nao foi apenas que ‘a autora comercializava produtos alimentares por si produzidos, mas também que produzia esses produtos para contumo proprio e da sua familia (© que significa que o valor que o tribunal reflec- tiu na decisio da matétia de facto ¢ a recorrente impugna néo respeita apenas & receita da comer- cializagio daqueles produtos, mas também a0 ganho (poupanga da despesa que de outra forma teria de ser suporcada na aquisicéo desses produ- tos para alimentar a familia) que o resultado da actividade agricola ¢ de criadora de animais domésticos da autora representava na economia familiar Esse facto resulta claro da motivagéo da deci- sio da matéria de facto € inutiliza de todo a argumentagio do recorrente porquanto nos parece Sbvio que a actividade de criagio de coelhos € galinhas e producio de legumes, vegetais ¢ fruta pata a alimentacio da familia € cla mesma suscep- tivel de gerar um ganho (receita e/ou poupana) para a economia doméstica no valor mensal médio de € 100,00. Portanto, néo questionando a recorrente que cfectivamente a aurora criava animais domésticos, colhia frutas, legumes, cames © ovos (resposta 20 facto AA nao impugnada) independentemente do ‘maior ou menor acerto da discriminagéo dos pro- ddutos que a autora comercializava ou se 0s comer- cializava mesmo, sempre haveria que accitar a deciséo de julgar provado o valor levado a0 facto ‘AB, como resultado da actividade produtiva da De todo © modo, ouvida a prova mencionada na motivagio da deciséo recorrida e a demais referida pela recorrente € manifesto que a recor- rente 56 tem razio quanto a nio haver meio de prova que fasa referéncia & producéo de compotas c doces para vender. © marido (J...) da autora declarou com efeico, que ela fazia agricultura, no quintal ¢ no campo, vendia umas coisitas que produzia no quintal (legumes, ovos, frangos) sé para fazer dar para as despesas com a produséo agricola, mn A.sobrinha (K...) afrmou que a autora tabalhava ‘no quintal, sinha animais, estava sempre @ fazer alguma coiss, vendia ovos, galinhas, tinha muita frura que vendia, na altura néo cinha porcos mas comprava a came e fazia salpicbes, chourigos. Ba cunhada (L..)referia que a autora tinha galinhas, coethos, fia a lida da casa, trabalhava no quintal, fabricava 0 verteno, tinha tudo, vendia legumes € cessas coisas assim, fruta, ovos, frangos, fia chou- rigos e salpicses com carne que comprava fora € vendia-os a familiares. Em fungio destes depoimentos, este tribunal do pode deixar de concordar com a decisio do tribunal recorrido, excepto, como se referiu, no tocante as compotas e doces que como vimios no foram mencionados pelas testemunhas ouvidas (Ginda que seja comum isso suceder, no que con- cordamos com a motivagio da decisio da matéria de facto, para consumo doméstico, era necessiria alguma prova que o referiss). A circunstincia de a autora necessitar de comprar came para fazer 03 enchidos néo se nos afigura minimamente rele- vance uma vez que se tata efectivamente de uma pritica hoje corrente nas nossas aldeias face & dificuldade ¢ as condicionantes na produgao doméstica de poreos, sendo certo que fice ao valor cenvolvido no caso estariamos sempre a falar de quantidades muito pequenas. ‘A mengio que a recorrente faz aos depoi- rmentos das testemunhas H... ¢ I... € absoluta- mente improcedente. um facto que sendo cstas pessoas companheiras da autora nas cami- nnhadas didrias que faziam em conjunto se podia supor que as mesmas tivessem conhecimento das actividades que a autora realizava. Todavia, néo the tendo sido feitas perguntas a esse respeito (designadamente pelo mandatério da ré!) € nio sendo obrigat6rio que tais perguntas Ihe tivessem sido feitas, néo se vé como pode a recorrente pretender que do respectivo siléncio se retire algo que contratie 0 conteiido das declaragées das testemunhas que eféctivamente falaram sobre essa matérial Aré admitimos, em tese, que o siléncio de uma testemunka tenha valor probat6rio Giminuto, com cerceza), mas 0 minimo que é cxigivel para o efeito € que o silencio da teste- ‘munka seja resposta a pergunta que the tenha sido feta Pelo exposto,julga-se parcialmente procedente © recurso da matéria de facto e, pese embora a imrelevincia do pormenor,altera-se 0 ponto AB da matéria de facto, eliminando do seu corpo apenas a referencia ts compotas e doces. REVISTA DE LEGISLAGAO € DE JURISPRUDENCIA Ne 3993 B] da excluséo da responsabilidade da ré F: Na petigéo inicial, para justficar a demanda da eé F..., Companhia de Seguros, alegaram os autores que pela indemnizagao dos danos "69 — (...) responde ainda a terceira Ré, também solidariamente, porquanto por con- trato de seguro titulado pela apélice n.° .... perfeitamente vilido © em vigor a data do acidente, os primeiros RR para ela haviam sransferido a correspondence responsabilidade. 70 — Responsabilidade essa que, inclu- ive, a terceira Ré jf assumiu, tendo pago 20 ‘Centro Hospitalar Timega e Sousa as despesas com a assistincia hospitalar prestada & Autora — Doe. 16° Na contestagio que apresentou a rf sustentou 0 seguinte “1. B verdade que entre a ora contestante © C... foi celebrado um contrato de seguro do Ramo “Responsabilidade Civil dos Deten- ores de Animais de Companhia", titulada pela apdlice no ..., 2, Conforme documento que ao diante vai junto e que ora se deve ter por reprodu- ido. 3. De acordo com as condigdes gerais, especiais e particulares da apélice foi transfe- rida para a RE “o pagamento de indemniza- 6¢s exigiveis ao segurado a titulo de respon- sabilidade civil extraconcratual pelos danos decorrentes de lesses corporais e/ou materiais causadas 2 terceiros pelo” cio de nome “N...” € da raga “pastor alemio’. 4, Tal contrato de seguro reve 0 seu inicio em 13 de Fevereiro de 2009 e estava em vigor em 31 de Agosto desse mesmo ano. () 10. Na sequéncia de tal participa- gio, a RE pagou todas as despesas, que a ‘Aurora originow com os tratamentos 20 refe- rido dedo no Centro Hospitalar do Timega e Sousa, EPE, ¢ que ascenderam a 4.056,40 €. 11. Assim, do capital seguro apenas se cencontra disponivel 2 quantia de 45.943,60 €.” Na sentenga recorrida, 0°M."° Juiz @ quo referiu que “em sede de alegapées orais 0 ilustre mandatirio da Ré seguradora veio sustentar @ tese segundo a qual os danos sofridos pela Autora € cuja indemnizagio esta reclama nos autos néo Ne 3993 se encontram abrangidos pela gatantia conferida pelo contrato de seguro na medida em que 0 ataque perpetrado pelo cio de onde emergem agueles danos ocorreram na via péblica quando fo seguro em causa respeita 4 responsabilidade civil de derentores de animais de companhia’. {A seguir pronunciou-se sobre essa questio, vindo a concluir que “improcede @ excepcio invocada pela Ré seguradora da nao cobertura pela garan- tia confetida pelo contrato de seguro celebrado do evento danoso perpetrado pelo céo objecto desse contrato e em que a Autora faz assentar, € onde assenta, a sua pretensio indemnizatéria” (sublinhado nosso). No recurso, a r€ sustenta que “o sinisto, que vitimou a Autora, ocorreu na via pablica’, que 0 cdo a que se reporta 0 contrato de seguro “se enconsrava na via publica, sem agaimo e sem rela —e foram essas circunstincias que determinaram que ele mordesse a Aurora’. E conclu que “tal factualidade consubstancia, directamente, uma cexcepsio 4 responsabilidade civil contratada entre a RE ora Recorrente ¢ 0 Réu C..., como resulta expresso das condigées gerais da apélice. Estabe- lece-se no art. 49, n° 1, alinea A), das condigbes getais 0 seguinte: “o presente contrato nunca garante os danos causados pela inobservincia das dlisposigdes leguis em vigor que regulamencam detengio de animais de companhia". E 0 D.L. 1.2 314/2003 estabelece as condigdes em que (5 cies podem sair 4 via piblica, No n° 2 do art. 7.9 estabelece-se 0 seguinte: F proibida a presenga na via ou lugar piblicos de cies sem estarem acompanhados pelo detentor ¢ sem agaimo funcional excepto quando conduzidos & tela, em provas e treinos, ou, tratando-se de ani- mais, utilizados na caga, durante os actos venaté- ios" (sublinhado nosso). G) Nos tetmos da cléusula 4, n.° 1, alinea gh do contrato, este nio garante os danos “causados pela inobseradncia das dsposcbes legais em vigor que regulamentem a detenzéo de animais de com- panhia’ Para fundar a alegada inobservincia das dis- posigdes legais que regulamentem a detencéo de animais, a recorrente chama em seu apoio 0 Decreto-Lei n.° 314/2003, de 17 de Dezembro, € mais propriamente 0 seu artigo 7.°, 1.9 2, segundo o qual “é proibida a presenga na via ou lugar piblicos de cies sem estarem acompanhados pelo detentor, e sem agaimo funcional, excepto quando conduzidos & wea (...).” [REVISTA DE LEGISLAGAO E DE JURISPRUDENCIA 473 Sucede, no entanto, que este diploma legal, segundo o seu artigo 1.°, tem por objecto, a apro- vagio do "Programa Nacional de Luta ¢ Vigilancia Epidemiolégica da Raiva Animal e Outras Zoo- noses (PNLVERAZ), consticuido pelo conjunto de acgées de profilexia médica e sanisdria destinadas ‘a manter 0 estatuto de indemnidade do Pais rela- tivamente & raiva e 0 desenvolvimento de acpées de vigilancia sanitéria com vista ao estudo epide- tmialigico ¢ combate as outras zoonoses, ¢ estabelece as regrasrelativas & posse e detengéo, comércio, expo- sigder e entrada de animais suscepsiveis & raiva em territrio nacional”. ( artigo desde diploma legal que rege sobre a derengéo de animais (expressio usada na cliusula do contrato) néo € o artigo 7.° citado pela recor- frente mas antes 0 artigo 3.° cuja epigrafe & “deten- io de cies e gatos”. F este preceito que rege sobre © alojamento de cées € gatos, as condicbes fico-sanitérias dos alojamentos, o niimero de ani- mais a alojar ¢ 0 controle dessas condigdes de detengio dos animais. O artigo 7.°, n.° 2, do diploma legal em apreco jd nao se reporta & deten- ao de animais, reporta-se sim a0 modo como os animais detidos podem ocupar a via ow lugares priblics. ‘Acresce que face 20 objecto do diploma que contém estas disposigées, 0 sentido da sua previ- sho € tio s6 0 de evitar 0 contacto entre animais € a propagacio de doengas de que eles sejam agentes ou veiculos e nfo propriamente 0 de criat condigées para evitar que 0s animais pos- sam atacar pessoas, que € a situagio que nos cocupa nos autos. Para respeitar o fim social da norma parece, assim, dever entender-se que quando as disposicées legais violadas sio as pre- vistas no Decreto-Lei n.° 314/2003, de 17 de Dezembro, s6 estario excluidos da cobertura do seguro os danos causados pelo céo por razées sanitirias ou médicas, como por exemplo os danos decorrentes de doenga (vg. raiva) trans- mitida pela mordedura do cio. Por conseguinte, quando 2 cliusula do con- rato se refere as disposigdes legais que regem sobre a detengio de animais € 0 citado artigo 3.° que tem por objecto, sendo certo que tratando-se de uma norma de exclusio da cobertura do con- trato a mesma tem de ser interpretada em confor- midade com a sua redacgio literal e de acordo com aquilo que um declaratério normal pode concluir dessa redaegao, no podendo ser objecto de interpretagées extensivas que contribuam pata cexcluir afinal 2 eansferéncia de responsablidade 44, ‘que se pretendia com o contrato de seguro de responsabilidade civil por danos causados por ‘Mesmo que assim néo fosse, ainda por outra raxio se nos afigura néo ser aplicivel 20 caso a cldusula de excluséo da garantia do seguro. Na verdade, resulta da matéria de facto que 0 céo estava em casa dos seus donos, sendo que ai nio necessitava de ter trela nem estar com agaime. No resultou provado que 0 cio se escapuliu da casa ¢ veio para a vie piiblica por deciséo, inten- fo € acgio dos seus donos. Ora 0 contrato de seguro € um contraro de transferéncia da responsabilidade civil dos donos do cio, pelo que as cléusulas do con- ‘rato que definem os comportamentos contra- tualmente relevantes a observar pelos contra- lentes se reportam naturalmente & actuagéo dos donos do cio ¢ néo do préprio cio. Desse modo, quando a cléusula se refere & inobser- vancia das disposigées legais tem em vista, obviamente, 0 desrespeito dessas disposigées pelos donos do cio. Para se excluir a cobertura do seguro é necessério que a infracgio legal cometida soja imputivel 20 dono do cio, pelo menos a titulo de negligéncia, o que pressupée, no minimo, a demonstragio de que no caso os donos do cio deviam ter previsto 0 comportamento do cio € adoptado as medidas para o evitar. Por outras palavras, para a circunstincia de o cio, que os seus donos tinham nas condigdes regulamentares no interior da sua propriedade, ter vindo & rua atacar a autora importar uma violagio, pelos seus donos, das normas legais que exigem que © cio esteja na rua com trela ou agaime, era imperioso que se tivesse demonstrado que no caso concreto 0 cio saiu A rua, sem trela e agaime, por vontade ¢ ac¢io dos seus donos ou que estes deviam ou podiam prever que isso iria suceder e tinham condigées para o evitar. ‘A matéria de facto € omissa quanto a isso pelo que se deve entender que inexistem factos que permitam concluir que a cobertura do seguro se encontre exclufda por aplicagio da previsio da clausula 4%, no 1, alinea g), do contrato © mesmo sucederia, por exemplo, se 0 cio tivesse vindo para a rua com acaime e um ter- ceiro, alheio 20 contrato de seguro, Ihe tivesse retirado © agaime, & revelia dos donos, permi- tindo que © cio mordesse alguém. Improcede assim esta questio suscitada pela Revista DE LEGISLAGKO € 0& JURISPRUDENCIA Ne 3993 Cl da eliminagéo das indemnizagées de €1,863,30 © €1.300,00: A recorrente defende que estas parcelas da indemnizagéo fixada em 1.* instincia devem ser climinadas em consequéncia da néo prova do onto AB da matéria de facto. Como vimos, pese embora a alteragio intro- duzida na resposta a esse ponto concreto da maté- ria de facto, sta continua a evidenciar o dano que a recorrente impugnou relativo & perda do rendi- ‘mento que a autora obtinha cultivando o quintal para a alimentagio doméstica ¢ venda de alguns produtos por si produzides. Por isso, estando provado esse dano e 0 res- pectivo montante mensal médio, as parcelas da indemnizacao referidas pela recorrente também ddevem ser mantidas, até porque a recorrente anco- rava a sua discordéncia em relagio a essa parte da decisio exclusivamente na alteragio da decisio sobre a matéria de facto, Improcedem assim estas questées suscitadas D] da indemnizagio por danos nio patsi- Na decisio recorrida fixou-se a indemnizagio dos danos néo patrimoniais em €7.500,00, valor que a recorrente sustenta ser excessivo, defen- dendo, ao invés, com apelo & equidade, que a indemnizagio desse dano néo deve ulerapassar a quantia de € 5.000,00. Insurge-se a recorrente mais em particular com o facto de na decisio recorrida se ter incluido rnesse dano 0 desgosto da autora pela morte do seu cio, atacado € morto pelo cio dos réus. Néo podemos concordar com esta posigio da Em primeiro lugar porque a previsio do artigo 496.° do Cédigo Civil néo tem por objecto a questio em aprego. Esta norma refere-se is. situagées em que em consequéncia dos danos a virima morre, definindo o universo das pessoas cujos danos néo patrimoniais, emergentes dessa morte, sio passiveis de indemnizacio. No caso, 0 titular dos direitos afectados € a autora que, fli2- mente, mio morreu em consequéncia do ataque do cdo, Do que se trata, portanto, nao é de saber se alguém tem direito de idétmnizacio por danos préprios decorrentes da morte de outra pessoa, mas de saber se nos danos néo patsimoniais softi- dos pela propria autora se deve incluir igualmente Ne 3993 © desgosto ou softimento moral com a morte do seu cio, Constitui um dado civilizacional adquirido nas sociedades europeias modernas o respeito pelos direitos dos animais. A aceitagio de que os ani- ais sio setes vivos carecidos de atengio, cuidados € protec¢io do homem, e nio coisas de que 0 homem possa dispor a seu bel-prazes, designada- mente sujeitando-os a maus tratos ou a actos ‘eruéis, tem implicito © reconhecimento das van- tagens dz relacio do homem com os animais de ‘companhia, tanto para o homem como para os animais, € subjacente a necessidade de um minimo de tutela juridica dessa relacéo, de que sio exemplo a punigio criminal dos maus tratos a animais ¢ 0 controle administrative das condi- Ges em que esses animais sio detidos. Por con- seguinte, a relagio do homem com os seus ani- mais de companhia possui hoje j& um relevo & face da ordem juridica que néo pode ser despre- nado. Acresce que 2 evolusso do tratamento dos danos nao patrimoniais no nosso sistema juridico conduziu a que hoje se aceite que também as pessoas colectivas podem softer danos néo patri- moniais ¢ que inclusivamente no dominio das puras relagées obrigacionais ou contratuais 0 incumprimento dos deveres de prestagio possa causar a0 eredor danos néo patrimoniais indem- nieiveis, Néo se vé, pois, como ou porque deixar de incluir nos danos nao patrimoniais softides por uma pessoa o sofrimento ¢ 0 desgosto que Ihe causa a perda de um animal de companhia a0 qual ganhou afeigéo, que consigo partilha o dia-a-dia, que alimenta e cuida, que leva a0 vete- rindrio quando esté doente ou precisa de cuidados de saiide, Bem andow, pois, 0 M.** Juiz a quo 20 incluir nos danos néo patrimoniais softidos pela autora o dano moral da morte do seu cio. No tocante ao montante da indemnizacio a atribuir pela totalidade desses danos nio patrimo- niais, cabe acentuar que a indemnizagéo & essen cialmente compensatéria, ou seja, visa a atribuigéo 20 lesado de um montante que Ihe possa propor-

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