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ANAIS ELETRÔNICOS

II Encontro de História – Historiografia Brasileira: Problemas, Debates e Perspectivas


25 a 27 de Outubro de 2010
ISSN 2176-784X

OPERÁRIOS TÊXTEIS ALAGOANOS:


ORGANIZAÇÃO SINDICAL E LUTAS NA DÉCADA DE 1950

Airton de Souza Melo


Mestrando em História
Universidade Federal de Pernambuco
Orientadora: Prof. Dra. Maria do Socorro Ferraz
Email: airton_sm@hotmail.com

Este trabalho tem por objeto os operários têxteis, organização sindical e momentos de
conflito com os patrões, durante a década de 1950 no estado de Alagoas, sobretudo nas cidades de
Maceió, Rio Largo e Pilar.

A escolha do corte temporal ocorreu devido à atuação da classe trabalhadora, sobretudo


operária, o crescimento da produção industrial e suas consequências para o estado e à lacuna
historiográfica existente acerca de pesquisas referentes aos operários têxteis alagoanos no período
indicado. O eixo espacial abordado está ligado à quantidade e força das indústrias têxteis, sua
importância produtiva para o estado e a existência de uma maior quantidade de fontes oficiais do
governo e jornalística para realização da pesquisa.

Este trabalho sobre o operariado busca atingir objetivos tais como caracterizar a economia
industrial têxtil no final dos anos 1950, compreendendo a relação existente entre estas atividades e
as modificações no espaço e vida dos trabalhadores alagoanos na década de 1950; identificar
características da indústria têxtil que contribuíram na formação de uma estrutura social urbana e na
constituição do operariado no estado, inserindo a indústria têxtil em uma posição de destaque na
economia alagoana até meados dos anos 1960 e analisar as formas de repressão sofrida, assim
como as lutas e formas de organização dos trabalhadores têxteis, identificando a importância tática
do sindicato nas lutas entre capital e trabalho.

Através da leitura desta bibliografia e análise das fontes percebemos que escrever sobre
história dos operários alagoanos é um desafio, devido a verdadeiras lacunas historiográficas que
sobrevivem ao tempo, mas há possibilidades para as produções acadêmicas, devido às fontes

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primarias existente. Inicialmente pretendíamos dar uma maior ênfase as relações entre operários e
comunistas e a participação sindical e política dos dois segmentos nos anos 1950, sobretudo no
governo de Muniz Falcão. O contato com a documentação revelou a impossibilidade de traçar este
caminho, optamos por nos concentrarmos nas lutas e organização nos sindicatos dos operários
têxteis de acordo com as fontes utilizadas1.

A história operária em geral enfrenta um grave problema e a alagoana também não está
isenta, o que Eric J. Hobsbawm entende por “[...] produzir uma versão esotérica da história”2 .
Quando a história operária tenta atribuir ao movimento operário uma importância maior que
realmente ele possuía.

A história operária tendeu, portanto, a identificar-se com a história dos


movimentos operários, se não até com a história da ideologia desses
movimentos. E quanto mais forte e unificado o movimento em um país ou um
período, maior era a tentação desta identificação.

Ela conduziu a uma deficiência para distinguir o relativamente importante do


3
relativamente corriqueiro .

Quando Hobsbawm afirma que a história operária passou e passa por esta problemática nos
leva a uma reflexão: avaliar a validade da importância dos operários alagoanos descrita nas páginas
do jornal “A Voz do Povo” 4, que atribuíam certa organização, protagonismo e participação que
ainda não podemos assegurar em que nível, devido a relação entre aqueles homens que viviam e
sentiam o calor do momento, pela vontade de levar o jornal as mãos dos operários e abarcar
colaboradores para o jornal e militância para o Partido Comunista do Brasil (PCB), que era
proprietário do jornal. Por este motivo deixamos claro que havia uma organização e uma relação

1
Neste trabalho não utilizamos diversas fontes para a história operária, como as entrevistas de ex-operários e
operárias que estão sob posse do Arquivo Público e os processos da justiça do trabalho que estão no
Memorial Pontes de Miranda da Justiça do Trabalho (TRT), pois iniciamos os estudos dos processos e
separamos os referentes a indústria têxtil do período proposto para digitalização que está em fase de
finalização. Mas podemos afirmar que os processos trabalhistas são uma fonte que vai contribuir muito para a
história operária, as lutas por direitos dos trabalhadores urbanos em geral e para conhecer o papel da justiça
do trabalho dentro de Alagoas.
2
HOBSBAWM, 2000, p.18.
3
Ibid., p.17.
4
Principal fonte utilizada para a realização deste trabalho e que está sob posse do Arquivo Público de
Alagoas. Material de suma importância para quem deseja estudar a história das esquerdas no estado.
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entre operários e comunistas, no entanto não podemos precisar o nível de organização do


movimento operário alagoano. O trabalho vai estudar os operários organizados, mesmo
reconhecendo a importância dos que não se envolviam com as lutas propriamente ditas. Tentamos a
todo o momento não quantificar o nível de organização e de sindicalizados, devido à
impossibilidade de fazê-lo através de nossas pesquisas, para não decairmos no erro posto por
Hobsbawm. Com a utilização de mais fontes e a exploração da história oral irá aumentar a
possibilidade de estudos sobre história operária alagoana.

TRAÇOS DA ECONOMIA TÊXTIL ALAGOANA NA DÉCADA DE 1950

A economia do estado na década de 1950 passou por transformações de ordem estrutural que
modificaram o espaço rural e urbano de Alagoas, incidindo de maneira decisiva na vida da
população para a construção da contemporaneidade. Tenório afirma que o abastecimento de água e a
introdução do esgoto, apenas restrito a Maceió na década de 1940, é estendido para as sedes
municipais no governo Arnon de Mello 5. O crescimento e modernização das cidades alagoanas se
devem também à chegada da energia elétrica. No governo Muniz Falcão é criada a Companhia de
Eletricidade de Alagoas (CEAL) 6.

Ao final da década de 1940 o número de estabelecimentos relacionados à indústria era 1.139,


já no final da década de 1950 era 1.594 7. O que representa cerca de 40% de crescimento em dez
anos. O estado estava se modernizando e nesta década a população urbana vai aumentar de maneira
considerável.

O valor da produção industrial alagoana em Cruzeiros saltou de Cr$ 843.390 em 1950, para
Cr$ 5.869.233 em 19608. Cerca de absurdos 695% em uma década. Um valor que está intimamente
ligado às indústrias de transformação, engenhos9 e usinas de açúcar, pois nos censos “[...] a indústria
açucareira foi submersa no conceito de indústria alimentar, o que dificulta um pouco a comparação,

5
TENÓRIO. 1995. p.30.
6
Loc. Cit. Atualmente se chama Companhia Energética de Alagoas.
7
Censo industrial de 1960_PB_PE_AL. Confronto dos resultados dos censos de 1950 e 1950. p.65.
8
Ibid., p.65.
9
Nos censos de 1950 e 1960 os engenhos de açúcar, que existiam em grande quantidade, estão inseridos no
mesmo grupo das usinas sucro-alcoleiras.
3
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mas não inviabiliza porque sabemos por outras fontes que a indústria da cana devia corresponder a
98% do valor da produção daquela indústria” 10. Em 1960 o valor da produção canavieira em Cr$ é
de 3.418.100. E a indústria têxtil, que é composta de apenas onze indústrias, aparece com
1.796.87011 de valor de sua produção. As indústrias sucroalcooleiras e têxteis constituíam as
maiores forças da economia de Alagoas. O número de indústrias têxteis era muito inferior à
quantidade de engenhos e usinas de sucroalcooleiras no estado, no entanto as fábricas têxteis
pagavam de salários, em milhares de cruzeiros, um total de Cr$ 277.496, enquanto a indústria
canavieira pagava Cr$274.793.

O que também caracterizou a modernização e progresso trazido pela indústria têxtil foi o fato
dessas indústrias não passarem pela entressafra, como as usinas. “Funcionavam com uma lógica
plenamente industrial sem subserviência dos humores da agricultura”12. É essencial compreender
esta diferença, porque trouxe “[...] conseqüências bem mais progressistas do que aquelas trazidas
pelas usinas de açúcar. Os salários eram melhores a as leis trabalhistas puderam ser aplicadas, a
partir da revolução de 1930, sem que as empresas se tornassem inviáveis”13.

As indústrias têxteis alagoanas obtiveram um aumento considerável no valor da produção


industrial que cresceu de Cr$ 353.457 no final dos anos 1940 para Cr$ 1.796.384 no final dos anos
1950. Acreditamos que esse aumento em Alagoas tanto em quantidade de estabelecimentos quanto
na produção industrial contribuiu para a formação da estrutura social urbana.

ORGANIZAÇÃO SINDICAL E LUTAS DO OPERÁRIO TÊXTIL

O fato dos operários alagoanos se organizarem não é recente e nem surgiu no século XX. A
organização dos operários vem das ultimas décadas do século XIX, mas não é possível precisar uma
data para a organização proletária, no entanto temos documentos referentes à aprovação de estatutos

10
LESSA, 2008. p.5.
11
Ibid., p.65.
12
Ibid., p.10. O autor afirma que os problemas na produção alagoana de algodão são sentidos, porém a
capacidade de armazenamento e a possibilidade de conseguir fontes de abastecimento em outras regiões
tornavam a situação das fábricas têxteis mais independentes da lógica da agricultura.
13
Loc., Cit.
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de uma sociedade de proteção e auxílio criada por operários de Fernão Velho que datam 1876.
Como afirma Maciel:

As diversas sociedades mutualistas e beneficentes foram desprezadas durante


muito tempo pela historiografia da classe trabalhadora, passando depois a serem
encaradas como uma possível origem da previdência social dos trabalhadores.
Atualmente, seu papel tem sido revisto por novos trabalhos que tendem a estudá-
las como parte de uma longa tradição que contribuiu para a conformação da
classe trabalhadora no Brasil, inclusive identificando entidades e práticas que
sobreviveram durante o século XX. Os estatutos da sociedade proteção e auxílio
foram aprovados, concedendo-se autorização para funcionamento, pelo
14
presidente da província em 21 de abril de 1876 [...].

Os estatutos da Sociedade Proteção e Auxilio da Companhia União Mercantil de Fernão


Velho, em Maceió, a mais antiga fábrica têxtil do estado inaugurada em 1863, demonstram que no
século XIX já havia organização em defesa dos operários, contudo não podemos precisar o nível de
organização desses trabalhadores. As condições de trabalho e assistência das fábricas não eram as
melhores possíveis, pois havia entre os trabalhadores grande preocupação com a sua saúde e com o
bem estar das famílias, como poderemos observar no primeiro e segundo parágrafos do Artigo 1º. A
sociedade Proteção e auxílio têm por fim “[...] 1º - Auxiliar o operário doente promovendo seu
tratamento e enterro. [...] 2º - Auxiliar a viúva do operário e tratar da educação dos filhos” 15.

A legislação trabalhista como conhecemos vai ser promulgada no ano de 1941, de maneira
que a exploração das fábricas e a desobrigação com a saúde dos operários fizeram com que eles se
organizassem para cuidar uns dos outros como irmandade. Acreditamos que a partir dessas
sociedades que cuidavam da saúde dos operários e de suas famílias foram se modificando através da
necessidade de uma maior organização e ação, levando mais tarde ao surgimento dos sindicatos
como conhecemos, com a força política que o proletariado conquistou através dos anos para
reivindicarem melhores condições de trabalho e um compromisso da fábrica com a vida dos
trabalhadores e seus familiares.

14
MACIEL, 2007. p. 91.
15
Loc., cit.
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Na historiografia alagoana há uma lacuna na história da organização dos trabalhadores na


indústria têxtil: existem estudos envolvendo o final do século XIX e início do século XX, no entanto
em nossas pesquisas não encontramos material sobre os aos 1920, 1930 e 1940, utilizamos fontes
que datam após os anos 1950. Esta triste realidade limita nossa análise acerca da organização
operária e da transformação de sociedades de proteção e auxílio em sindicatos como conhecemos
hoje.

A luta entre patrões e empregados sempre foi intensa, as disputas entre os partidos políticos
colocava mais fogo no caldeirão efervescente da luta entre capital e trabalho. No estado as disputas
entre operários e empresas pela direção dos sindicatos vai ser uma constante, como podemos ver
nesta matéria do jornal “A Voz do Povo”:

No dia 9 de novembro realizou em segunda convocação as eleições do sindicato


têxtil de Fernão Velho. Foi vitoriosa a chapa independente encabeçada pelo
tecelão Abelardo Lins que teve 81 por cento da votação. Teve mais de 5000
votos enquanto a chapa da empresa só conseguira 130. Com o pretexto do anti-
comunismo, os golpistas pretendem anular a eleição impedindo a posse do
candidato independente. Cumpre ao povo defender sua posse. A vitória de
Abelardo não é isolado [sic]. É uma vitória do movimento sindical da região e do
16
país [...].

A eleição do candidato Abelardo Lins é destacada pelo jornal como uma vitória esmagadora
da classe trabalhadora, com mais de 5000 votos o candidato independente sobrepujou a chapa da
empresa. Não podemos precisar os motivos determinantes para a grande derrota da patronal nas
eleições de 1955, no entanto, posições tomadas pela liderança sindical no ano de 1953 exemplificam
ações contrárias aos interesses dos trabalhadores. Em duas de suas atas o Sindicato dos
Trabalhadores da Indústria de Fiação e Tecelagem de Fernão Velho, o então presidente Pitágoras,
vai pedir aos trabalhadores para não se envolverem com a política do estado e não deixarem de ir ao
trabalho como forma de protesto17. Em 1958, Abelardo Lins se reelegeu presidente do sindicato

16
Vitória da chapa de Fernão Velho. A Voz do Povo. Maceió: 11 doze. 1955. Ano X, número 13, p. 2.
17
Livro de atas do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Fiação e Tecelagem de Fernão Velho (1953 –
1963). Disponível em: <http://picasaweb.google.com.br/golberylessa>. Acesso em: 22 jun. 2008.
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como informa o título da matéria do jornal A Voz do Povo. “Reeleito Abelardo Cavalcanti contra
quatro candidatos saiu vitorioso com maioria absoluta”18.

Em outra edição A Voz do Povo traz uma matéria intitulada “Exploração na fábrica Saúde”,
denunciando os sucessivos aumentos na jornada dos operários da Fábrica Norte Alagoas: “[...] como
o trabalho extraordinário é um grande negócio pra os patrões [...] encaminha-se o sr. Aloísio
Nogueira para descarregar nas costas de seus operários o peso das suas dificuldades. O trabalho
agora vai das 6 as 21 horas”19. O ponto da matéria que chama atenção é referente à omissão do
sindicato têxtil: “[...] O seu presidente, o sr. José Reis que é também delegado de polícia, prefere
silenciar diante da exploração desenfreada a que estão condenados os trabalhadores de
SAÚDE”20. Sindicato presidido por delegado de polícia e não por um operário da fábrica,
esse fato nos leva a reflexões, devido à gravidade do tema. Qual motivo levaria a um
delegado de polícia a concorrer ao cargo de presidente de um sindicato de operários têxteis?
O controle dos operários impedindo insurgências e movimentos contra a ordem estabelecida
na defesa de uma determinada ideologia, nesse caso a dos patrões. Outra problemática foi
que no sindicato dos operários têxteis de Saúde o presidente não era funcionário da fábrica,
não vivenciava a realidade e nem o cotidiano fabril. Como este delegado conseguiu
autorização para concorrer à presidência de um sindicato de uma fábrica em que não
trabalha? Não temos evidências que levem a afirmar categoricamente, mas provavelmente
houve uma ação patronal para a realização deste fato. Não há possibilidade de este episódio
ter sido benéfico para o conjunto dos têxteis de Saúde. A não participação dos sindicatos
nas causas trabalhistas enfraquecia muito o universo dos trabalhadores que perderam
importante meio de reivindicação e luta como foi mostrado acima quando a não intervenção
do sindicado em favor dos proletários em momentos de ataque realizado pela fábrica
desarticula um contragolpe por parte dos operários que estavam de mãos atadas.

No ano de 1958, uma edição do jornal “A Voz do Povo”, datada de 30 de março de


1958 registra com muito entusiasmo a posse da nova diretoria do sindicato dos operários
têxteis de Saúde. Empossado o novo presidente, o operário Antônio Cícero Barbosa, “A

18
A Voz do Povo. Maceió: 30/03/58. Ano XII, número 13, p. 1. Não sabemos o motivo, mas a partir de
janeiro de 1958 as edições do jornal têm a numeração zerada e reiniciada.
19
A Voz do Povo. Maceió: 29/07/56. Ano XI, número 20, p. 2.
20
Loc. cit.
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chapa vitoriosa teve uma centena de votos a mais do candidato da empresa, sendo por isso
mesmo a posse uma festa dos operários de Saúde, que mais uma vez derrota a chapa da
empresa”21. Um ponto importante desta matéria é a participação na posse do sindicato de
Saúde uma delegação dos sindicalistas do bairro maceioense de Fernão Velho.

Compareceu a festa de posse uma delegação do Sindicato de Fernão Velho com


cerca de 40 pessoas chefiadas pelo sr. Abelardo Cavalcanti. Após a sessão solene
de posse foi oferecido um coquetel aos convidados e pessoas presentes, tendo em
22
seguida um animado baile.

A aproximação de sindicatos operários têxteis de cidades diferentes demanda compreender


que havia interação entre os sindicatos, com conversas, troca de experiência e pontos de vista.
Identificamos através de nossas fontes indícios de interação entre os trabalhadores alagoanos, como
ficou registrada a participação de sindicalistas do bairro maceioense de Fernão Velho.

Quando criticamos a participação da polícia nas questões da classe trabalhadora e que a


participação do sindicato para concentrar os operários na organização de suas lutas é fundamental
para o conjunto dos trabalhadores, a greve realizada no dia 11 de agosto de 1956 por operários da
fábrica União Mercantil pode exemplificar o valor da ação do sindicato ao lado dos trabalhadores e
a postura da polícia ao lado da fábrica. Os trabalhadores paralisaram os trabalhos na fábrica por que
“[...] recusaram-se a receber menos que o novo salário mínimo de Cr. 2.200,00 [...]”23. Levando esta
denuncia ao presidente do sindicato, Abelardo Lins, este “[...] juntamente com a comissão de
trabalhadores foi a gerência, esta, recusa-se a atender aos operários [...]”24. Os trabalhadores
paralisaram os trabalhos por cerca de 04h30min, “[...] durante a paralisação chega a polícia [...]
chefiados pelo primeiro delegado Sival Gaia invade a fábrica para forçar os operários a trabalharem.
Juntamente com a polícia chegou o delegado do trabalho Edson Falcão”25. Neste número do jornal

21
Tomou posse a nova diretoria do sindicato de Saúde. A Voz do Povo. Maceió: 30, três. 1958. Ano XII,
número 13, p. 3.
22
Loc. cit.
23
A Voz do Povo. Maceió: 12 oito. 1956. Ano XI, número 22, p. 4.
24
Loc. cit.
25
Loc. cit.
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A Voz do Povo não se sabia com precisão o que foi decidido, somente que após um tempo os
operários voltaram a trabalhar.

No dia 29 de setembro de 1956 foi publicada uma matéria intitulada “Significativa Vitória dos
Operários de F. Velho”, congratulando o resultado da luta dos operários, a respeito da greve em
Fernão Velho iniciada no dia 11 de agosto de 1956, que conquistaram “[...] o reajustamento a que
tinham direito, em virtude de estarem sendo prejudicados em 17% de seus salários”26. O jornal
ressaltou a “valiosa experiência” da união dos operários das demais secções com os que
reivindicavam reajuste salarial para garantir direitos constitucionais. Este é outro indício da
interação entre os operários que mesmo sendo de outras secções participaram do movimento em
favor da correção salarial dos seus companheiros.

Utilizando o jornal “A Voz do Povo”, observamos como se dava a luta pelo controle dos
sindicatos e quão importante é a questão do poder sobre o mesmo. A denúncia feita pelos operários
da cidade de Rio Largo que eram coagidos pelo gerente da fábrica e o prefeito da cidade para não
votar no candidato dos operários. O controle do sindicato por meio dos operários representava um
risco para a classe patronal. Sobre a função do sindicato Ricardo C. Antunes afirma que:

O sindicato, ao tornar-se representante dos interesses da toda classe operária,


conseguindo em seu seio todos os assalariados que não estavam organizados,
evitando que o operário continuasse sua luta isolada e individual frente ao
27
capitalista.

O sindicato tem a função de unificar e organizar os trabalhadores num caminho da


manutenção e conquista de direitos de trabalhistas e sobrevivência, que em vários momentos
ultrapassa os portões das fábricas chegando à esfera governamental. Dificultando a ação dos
capitalistas, pois os operários podem se proteger de forma coletiva. Em Alagoas os operários têxteis
conquistavam vitórias e sofriam derrotas em função do nível de organização de classe, como pode
ser constatado a partir da analise das páginas do jornal.

26
A Voz do Povo. Maceió: 29 nove. 1956. Ano XI, número 28, p. 1.
27
ANTUNES, 1986. p.13.

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Dentro e fora das fábricas havia repressão contra os operários alagoanos, que eram
intimidados por funcionários (capangas) particulares armados, gerentes das empresas e até pessoas
ligadas a instituições estaduais e municipais como polícia militar. Em dezembro de 1956, operários
da indústria têxtil de Rio Largo denunciaram “[...] coação exercida pela empresa contra os
trabalhadores, daquele centro fabril, por ocasião das eleições do sindicato dos trabalhadores” 28. Os
trabalhadores foram ao jornal para tornar público a contínua repressão aos funcionários da Fábrica
Progresso e Fábrica Alagoana, na cidade de Rio Largo, que “[...] foram coagidos nas suas próprias
máquinas de trabalho pelo gerente da fábrica e pelo prefeito da cidade, que ameaçaram os operários
de perderem o trabalho e a gratificação se eles votassem no candidato dos operários”29. O prefeito
da cidade de Rio Largo ameaçou expulsar os operários do bairro de Fernão Velho que se
encontravam nesta cidade para apoiar os operários das duas fábricas de Rio Largo, pois havia apoio
dos operários do bairro de Fernão Velho aos trabalhadores da outra cidade que era próxima.

A liberdade sindical era reclamada no jornal ao governador do estado, Muniz Falcão. “Falsa
Liberdade Sindical”30, era o nome da matéria publicada no jornal “A Voz do Povo” no dia 09 de
dezembro de 1956 fazendo um balanço da intromissão patronal nas eleições no sindicato da fábrica
têxtil de Saúde, sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Açúcar e no sindicato das duas
indústrias têxteis de Rio Largo, repudiando a atitude do delegado do trabalho Edson Falcão que não
impedia a violência, as ameaças e processos ilegais por parte dos patrões para tomar o controle dos
sindicatos e inviabilizar as lutas dos trabalhadores.

Outra forma de repressão foi noticiada pelo editorial de “A Voz do Povo” na mesma edição, a
Fábrica Alexandria no bairro do Bom Parto em Maceió, que contratou “[...] mais um capanga de
revolver e punhal [...]”31 com o intuito de “[...] permanecer estacionado o dia todo as portas dos
sanitários contando os minutos que os operários passam nos gabinetes [...]”32 para denunciá-los a
gerência da fábrica. Capanga armado dentro da indústria como forma de controle dos trabalhadores
era mais uma maneira de oprimir e explorar de forma mais eficiente os operários das fábricas,
causando certo temor entre os mesmos.

28
Coação nas eleições de Rio Largo. A Voz do Povo. Maceió: 26 onze. 1956. Ano XI, número 34, p. 4.
29
Loc. cit.
30
Falsa liberdade sindical. A Voz do Povo. Maceió: 09 doze. 1956. Ano XI, número 36, p. 4.
31
Aumenta o número de capangas na Alexandria. IDEM, p.4.
32
Loc. cit.
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Não podemos deixar de citar a organização patronal para desestabilizar greves de operários,
como contratar temporariamente operários de outras empresas para manter a fábrica funcionando
para impedir a vitória dos grevistas, como no caso da parceria entre Pernambuco e Alagoas quando
os patrões visando por fim ao “[...] movimento paredista que irrompeu em Pernambuco há mais de
10 dias, nas fábricas têxteis”33, contrataram contramestres da Fábrica Pilarense, na cidade do Pilar,
para furar a greve dos trabalhadores têxteis pernambucanos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises feitas a partir deste trabalho são preliminares, visto que estamos iniciando uma
pesquisa de dissertação de mestrado e não utilizamos todas as fontes existentes nesse momento por
impossibilidade.

Constatamos a importância da indústria têxtil na história alagoana como atividade econômica


fundamental para o desenvolvimento e urbanização do estado, figurou até meados dos anos 1960
como um dos principais segmentos econômico do estado ao lado da indústria sucroalcooleira.
Embora a década de 1950, tenha sido comprovadamente de desenvolvimento tecnológico e
grande aumento produtivo significou o crescimento das lutas entre trabalhadores e patrões
pela manutenção dos direitos adquiridos.

Através da análise das nossas fontes, não tivemos possibilidade de explorar mais o cotidiano
fabril e se apropriar de informações que revelassem o nível de organização do operariado alagoano.
Podemos afirmar a partir das evidências encontradas que havia determinada organização em vários
momentos nas fábricas como em Rio Largo e em Maceió (fábrica Alexandria e Carmem) um maior
engajamento dos operários na luta pelos direitos legais e um envolvimento com o PCB. Através das
lutas relatadas compreendemos a importância prática da organização sindical para os trabalhadores e
a noção que o operariado alagoano do período possuía capacidade de organização sindical e política,
e a partir disso analisamos também a relevância das sociedades mutualistas e beneficentes
para o surgimento dos sindicatos como conhecemos hoje e a ação do sindicalismo têxtil nos

33
Recrutam contra-mestres de Pilar para furar greve em Pernambuco. A Voz do Povo. Maceió: 02 dois.
1958. Ano XII, número 5, p. 1.
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momento de embates pela manutenção dos salários e disputa com os patrões pelo controle
dos sindicatos. Observamos novas possibilidades de estudo da história operária alagoana
com a utilização de outras fontes orais, documentos de sindicatos dos trabalhadores têxteis e
o estudo dos comunistas aprofundando as fontes utilizadas neste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JORNAL

A Voz do Povo - 1954-1959 (52 edições).

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DOCUMENTO

Censo industrial de 1960_PB_PE_AL. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/>. Acesso


em: 13 julho de 2008.

LIVROS

ANTUNES, Ricardo C. O que é sindicalismo. 13º ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.

HOBSBAWM, Eric J. Mundos do trabalho: Novos estudos sobre história operária. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2000.

LESSA, Golbery. Trama da memória, urdidura do tempo (Ethos e lugar dos operários têxteis
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