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ressurgiu em São Paulo através da figura de Jânio Quadros, cuja carreira política
meteórica se baseou sobretudo na pretensa moralização da administração publica.
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campanhas moralistas que criaram as condições para a derrubada de Vargas e de
Goulart, Collor conhecia muito bem o papel da demagogia moralista como grande
eleitora. Seu avô materno, Lindolfo Collor, havia sido ministro do primeiro governo
revolucionário de Vargas, em l930, e iniciara as reformas trabalhistas no pais. Rompera
com Vargas dois anos depois e sua inspiração ideológica que o levou ao integralismo -
movimento fascista brasileiro - era contudo o fascismo de Mussolini, figura que
Fernando também cultivava. Atrabiliário como seu pai, que matou um senador em pleno
recinto parlamentar, havia estado metido permanentemente em questões jurídicas
delicadas e em casos muito comentados de violência e de destempero temperamental.
Tendo vivido sua juventude em Brasília, havia fortes rumores que o identificavam com
o consumo de drogas, tema sobre o qual falrá publicamente seu irmão, posteriormente
(2).
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Montaram um aparelho de captação de recursos que se usa chamar no Brasil de
"caixinhas". Consta que em reuniões íntimas, que terminaram chegando ao
conhecimento do grande público, estabeleceram como meta chegar ao montante de 2
bilhões de dólares. Um ano depois, segundo consta a boca pequena em Brasília, fizeram
uma festa para comemorar o primeiro bilhão! Falso ou verdadeiro, estes rumores
indicam um comportamento confirmado pelas investigações policiais (3).
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família Collor, para um novo diário e um sistema de estações de rádio locais chefiados
pelo tesoureiro do seu irmão, botou a boca no mundo. Seus ataques começaram contra o
já famoso empresário e tesoureiro PC Farias. Mas pouco a pouco começaram a atingir o
próprio presidente que se negava a desprender-se do seu tesoureiro e a ceder às pressões
do irmão no sentido de preservar seu poder local.
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A comissão parlamentar de inquérito que se instaurou para apurar essas
irregularidades foi encontrando uma massa de evidências terrivelmente escandalosas
contra PC Farias e claras provas de seus vínculos financeiros com o presidente. PC
Farias havia montado um grupo de agentes em cada um dos principais órgãos públicos
por onde passavam vastos recursos. Isto lhe permitia cobrar as comissões que
normalmente se cobram nas compras dessas agências estatais. Além disso, cobrava uma
espécie de tributo dos maiores empresários do pais, nacionais e multinacionais,
seguramente em troca de seus serviços junto à presidência. Descobriu-se também uma
rede de contas bancárias de falsos clientes que foram qualificadas como "contas
fantasmas". Mais grave ainda eram as claras conexões de PC Farias com políticos das
mais distintas procedências aos quais prestava favores com uma frota de aviões que
voavam periodicamente ao exterior numa rota muito próxima à do contrabando da
droga. Pedro Collor, o irmão traído e traidor, referiu-se às desconfianças que lhe foram
reveladas pelo gerente do banco de Miami a respeito da origem dos recursos de Paulo
Cesar Farias (5). Uma liqüidez tão grande, que eles avaliaram em, só poderia vir do
tráfico de droga, afirmou-lhe o gerente. Em seguida, Pedro Collor recebeu informações
muito mais comprometedoras da própria polícia norte-americana. Estas suspeitas
aumentavam diante da compra de uma apartamento de 4 milhões de dólares em Paris,
através de um personagem vinculado ao tráfico internacional de drogas. Posteriormente,
um criminoso argentino fêz uma detalhada entrevista à revista Isto É denunciando a
intervenção direta de PC Farias no tráfico de drogas. Este aspecto do processo foi
silenciado em seguida e esquecido ao que parece, definitivamente. PC Farias passou à
ofensiva e ameaçou levar consigo muita gente importante, caso fosse condenado (6).
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do então governador com esta operação. Criou-se uma comissão parlamentar de
inquérito contra Quércia que levou à sua queda da presidência do PMDB. Esta comissão
se encerrou, contudo, com o voto minerva do presidente da mesma a favor da inocência
de Quércia (7).
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opusera sobretudo às privatizações pouco claras que pretendia Collor e à destruição do
aparelho estatal que vinha realizando em nome do neo-liberalismo. Opôs-se também ao
confisco das poupanças praticado pelo primeiro plano econômico de Collor. Itamar não
era bem visto pelas elites econômicas do país. Contudo, as Forças Armadas mostravam-
se também descontentes com a política de Collor. Ele havia destruído o Serviço
Nacional de Informação, fechou locais de pesquisa nuclear, assinou a integração do
Brasil no acordo contra a proliferação nuclear, diminuiu seriamente as verbas do setor
militar, etc. As Forças Armadas não concordavam também com a destruição do Estado
Nacional, com uma abertura do mercado nacional ao exterior exagerada que poderia
sucatear a indústria nacional e as pesquisas tecnológicas de ponta. Assustava-se também
com a ameaça de uma privatização a serviço de grupos econômicos pouco sérios como
ocorrera com a VASP, em São Paulo, ou com a USIMINAS em plano nacional.
O apoio das Forças Armadas foi talvez o fator mais decisivo para
bloquear iniciativas no sentido de derrubar Itamar Franco juntamente com Collor e
eleger um novo presidente seja pelo Congresso Nacional seja por qualquer outro
mecanismo. A tese de excluir Itamar era defendida pelo atrabiliário governador da
Bahia, Antônio Carlos Magalhães, populista de direita e fiel servidor da rede globo de
televisão e do seu presidente Roberto Marinho, cujos negócios se estendem a muitos
setores da economia. De outro lado, setores de ultra esquerda do PT, levantavam a
consigna de eleições gerais sem compreender a difícil correlação de forças que se
formara no país. Apesar da euforia de grande parte da militância de esquerda, que
atribuía a queda de Collor ao movimento de rua para depô-lo, as oligarquias voltavam a
unir-se em torno de sua deposição e seus setores mais conservadores queriam
sobrepassar a Itamar.
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processo político ao recusar um recurso do presidente Collor, encarrega-se agora de
julga-lo pelos crimes comuns. As elites nacionais estavam unidas em torno da execração
do criminoso.
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amplitude. É natural que estas eleições provoquem apreensões na classe dominante.
Todas as insatisfações do momento atual e dos muitos anos de luta anteriores se
canalizam para outubro de l994. O episódio Collor pesará seguramente no julgamento
popular. A questão da corrupção será um dado importante. Mas seguramente não será o
único, nem talvez o principal.
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NOTAS
(2) Após descrever as célebres violências do irmão adolescente em Brasília, Pedro Collor
afirma: "Minha tese é a de que essas crises de violência eram provocadas pelo consumo de
drogas pesadas. Não vejo outra explicação. Fernando, a partir de certa idade - mais ou menos
entre os 18 e 20 anos - passou a ser conhecido na cidade como uma pessoa violenta". Depois de
contar como quebrou uma boate inteira, batia em várias mulheres e dava surras violentas com
conhecimento de karatê, afirma: "Fernando transava drogas muito mais pesadas, incluindo
cocaína e LSD" (Pedro Collor, 1993, págs. 37-38).
(3) Renan Calheiros, um dos líderes dos "aventureiros", como ele mesmo qualificou o grupo que
assaltou o país com Fernando Collor, rompeu com o mesmo e denunciou as atividades de PC
Farias. Ele concluiu: "Era um esquema de poder sedento e guloso. Resultado: atraiu ódio, criou
escândalo e atingiu o governo no peito. Destruiu a moralidade defendida na campanha eleitoral.
É exatamente essa gula que o destruirá" (entrevista à revista Veja, 24 de junho de 1992, pág. 7).
(4) O escritor Fernando Sabino tomou o depoimento pessoal da ex-ministra para compor um
livro de grande êxito comercial. Posteriormente, a ex-ministra foi envolvida também na
recepção de recursos advindos da "caixa" de PC Farias, além de estar indiciada por outros
crimes de corrupção.
(5) Assim se expressou o gerente segundo Pedro Collor: "É que, pelo volume de dinheiro cash
que ele manipula aqui, estão começando a surgir comentários de que o senhor Farias possa estar
envolvido com o tráfico de drogas" (Pedro Collor, 1993, pág. 209). Neste capítulo sobre a
conexão Miami, Pedro Collor dá elementos muito claros para incriminar o Sr. Farias no
comércio de drogas. É impressionante como a imprensa brasileira deu um low profile a estas
evidências irrefutáveis.
(6) Já no seu primeiro depoimento à CPI o ex-tesoureiro de Collor ameaçara cinicamente com
revelar os beneficiados por sua "caixinha". A capa da revista Isto É de 17 de junho de 1992
dizia: "PC avisa que não cairá sozinho". Estas ameaças se prolongaram até sua fuga. Seu irmão,
deputado federal por Alagoas ameaça utilizar um dossiê secreto de PC Farias no caso de não se
respeitar seus interesses.
(7) O deputado Luís Salomão, líder da bancada do PDT na Câmara Federal publicou
recentemente um livro sobre os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito da VASP,
buscando provar a culpabilidade de Orestes Quércia nesta transação reconhecidamente irregular
(ver: Salomão, Luís, 1993).
(8) Sobre a corrupção durante a ditadura e no governo Sarney surgiro a leitura de José Carlos de
Assis, 1984. Sobre o período Collor ver a bibliografia citada ao final deste artigo.
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BIBLIOGRAFIA
Assis, José Carlos de, Os Mandarins da República, Anatomia dos Escândalos da Administração
Pública, Paz e Terra, SP, 1984.
Collor de Mello, Pedro, Passando a Limpo. A Trajetória de um Farsante, Editora Record, RJ,
1993.
Faro, Clovis (ed), A Economia Pós Plano Collor II, Livros Técnicos Editora, RJ,1991.
Krieger, Gustavo e outros, Todos os Sócios do Presidente, Scritta Editorial, SP, 1992.
Mendes, João Batista Petersen, A CPI do PC e os Crimes do Poder, Foglio Editora, RJ,1992.
Noblat, Ricardo, Céu dos Favoritos: O Brasil de Sarney a Collor, Rio Fundo Editora, RJ, 1990
Salomão, Francisco, VASP, Vôo 171, Negociata e Impunidade sob as Asas do Poder de Collor
e Quércia, Câmara de Deputados, 1993.
Suassuna, Luciano e Costa Pinto, Luis, Os Fantasmas da Casa da Dinda, Editora Contexto, SP,
1992.
Tavares, Maria da Conceição (ed), Aquarella do Brasil. Ensaios Políticos e Econômicos sobre o
Governo Collor, Rio Fundo Editor, RJ, 1990.
Vários, "A CPI da Imprensa. Os principais jornalistas dos maiores veículos do País investigam e
analisam a cobertura do caso PC Farias", Imprensa, Ano 4, mês 8, Rio, 1993.
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