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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................................02
O CONTO...........................................................................................................................04
OS MITEMAS................................................................................................................... 05
A CIRCUM-AMBULAÇÃO............................................................................................ 08
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 11
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INTRODUÇÃO
ainda mais redundante, uma vez que toda a literatura é constituída pela linguagem e essa, por
sua vez é oriunda da capacidade racional do homem para produzir símbolos. Na base, tudo é
símbolo (MOISÉS, 2004), tudo é simbólico e o que definiria qualitativamente uma obra
literária não seria a presença de símbolos que lhe permitissem interpretações demasiado
subjetivas.
positivamente um trabalho artístico, ou, pelo menos, não deveria qualificar. Mesmo assim, em
termos de se apresentar uma possível leitura, não se pode desprezar, para o bem da chamada
dentro do assim chamado texto artístico, pois, como diz Barthes (1974), em seu ensaio “Por
onde começar”, uma leitura literária sempre pede que se escolha uma porta de entrada e uma
Sabendo disso é que nos propomos a realizar uma leitura analítica, a partir dos
pressupostos teóricos são fornecidos pela análise estrutural dos mitos desenvolda por G.
caracteriza a relação do ser humano com o mundo”, e “a motivação profunda das produções e
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Devido à simplicidade de nossa contribuição à análise dos mitos no presente trabalho, utilizamos apenas noções
bastante diminutas da enorme pesquisa de Durand que trata de trazer ao nível do esquema e do natural (e,
consequentemente do mito) as relações sociais, artísticas, religiosas e cognitivas estabelecidas ao longo da
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o regime noturno, marcado pela presença de elementos que indicam conformidade diante da
Tratamos nesse trabalho de encontrar um fio condutor que nos permita tentar entender
a mais que complexa, difícil, trama do supramencionado conto, se possível, em sua estrutura
menos evidente.
história da humanidade.
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O CONTO
Brasil. Tal “saga” tem início com o “velório” de Hildebrando, que morrera, supostamente,
Janis Mohor é casada com Jan, entretanto permanece virgem até o dia de sua morte,
também por assassinato. Jan é uma personagem caricaturalmente sensível, uma vez que
“ao chorar por sua esposa, chorava pelo próprio coração [sic] as dores do mundo.
Chorava porque, neste mundo tão grande, tantos viventes sofriam sem solução, viviam para
(Fazenda Mutum), acompanhada por um ex-monge (Belizário) que lhe deseja bem em
sentimentos para além da estima. A viagem tem como finalidade vingar a morte do pai, e a
vingança tem destinatário certo, já que o pai da mulher-moça lhe contara quem foi o
assassino3.
A cavalgada deveria durar um dia, mas inexplicavelmente acaba durando bem mais
que isso. Chegando à sua fazenda, Janis passa longo tempo durante a noite em uma piscina e
no dia seguinte sai para guerrear com Tariq Muza, assassino de seu pai. Depois de duas
sessões de guerra, a moça acaba caindo morta, virgem e deixando dois eunucos, um deles (seu
marido), rico.
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A página 135 indica 19 e a página 148 indica 29 anos. Poder-se-ia atribuir esse lapso a algum problema de
digitação durante a editoração do texto, uma vez que a filha de Hildebrando tem apenas 20 anos. Mas é
importante assinalar o caráter inverossímil do conto ainda na página 135 quando se diz: “O tesouro estava
escondido naquela casa que ele comprara antes de ir preso por ter roubado um pão. (...) eram dois grandes
diamantes dentro de um tubinho dentro de uma caixa de mogno.”. É importante entender que quem acaba de
comprar uma casa (possuía também uma fazenda) não deve ser preso, nem em um mundo mágico-mítico, o que
não é o caso (há registros histórico-geográficos que indicam espacialidade e temporalidade e eliminam o tempo-
espaço mitológico), por ter roubado um pão (crime que deveria indicar extrema pobreza). Importante, ainda, é
assinalar que o mesmo homem que foi preso por roubar um pão possuía dois grandes diamantes. Existe aí, no
mínimo, um problema de revisão de texto final.
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A trama é, no mínimo, confusa e com problemas de coerência na progressão textual neste ponto também, já que
a página 135 nos diz que “Esse que o matou (o pai de Janis Mohor) permanece oculto” e da página 136 “Mas
como Janis sabia que fora ele, o turco Tariq Muza, quem lhe assassinara o pai? Foi o pai que lhe contara”.
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OS MITEMAS
estrutura dos mitos e que se repetem nos processos de remitologização”. Podemos, dentro de
desses símbolos podem promover uma significação da obra em análise que se estende fora
de alguns desses símbolos ou mitemas, a saber: a morte, o cavalo (cavalinho), a cama (leito),
destacado.
sociedade para sociedade, de região para região, cabendo, sempre ao arbítrio do analista
Em ordem alfabética:
Cama (leito):
leito do nascimento, o leito conjugal, o leito fúnebre são objeto de todos os cuidados e de uma
espécie de veneração: centro sagrado dos mistérios da vida, da vida em seu estado
Cavalo:
Uma crença, que parece estar fixada na memória de todos os povos, associa
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originalmente o cavalo às trevas do mundo ctoniano, que ele surja, galopante como o sangue
nas veias, das entranhas da terra ou das abissais profundezas do mar. Filho da noite e do
mistério, esse cavalo arquetípico é portador de morte e de vida a um só tempo, ligado ao fogo,
destruidor e triunfador, como também à água, nutriente e asfixiante. (CHEVALIER, 2003, pp.
202-203).
Centauro:
homem, e o resto do corpo e as pernas, de um cavalo. Os Centauros vivem com suas fêmeas,
as Centauras; nas florestas e montanhas, alimentam-se de carne crua; não podem beber vinho
sem embriagar-se; são muito inclinados a raptar e a violar as mulheres. (...) Nas obra de arte, o
rosto dos Centauros traz geralmente a marca da tristeza. Eles simbolizam a concupiscência
carnal, com todas as suas brutais violências, e que torna o homem semelhante às bestas
quando não é equilibrada pela força espiritual. (...) São a antítese do cavaleiro. (CHEVALIER,
2003 p. 219).
Janela:
512.)
Jardim:
vivências paradisíacas.
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Morte:
animal, uma planta, uma amizade, uma aliança, a paz, um época. Não se fala na morte de uma
tempestade, mas na morte de um belo dia. (...) Enquanto símbolo, a morte é o aspecto
Sombra:
A sombra é, de um lado, o que se opõe à luz; é, de outro lado, a própria imagem das
coisas fugidias, irreais e mutantes. (...) A sombra é considerada por muitos povos africanos
como a segunda natureza dos seres e das coisas e está geralmente ligada à morte.
A CIRCUM-AMBULAÇÃO
mortes na sequência da narrativa, uma vez que chega para morrer e se deita em sua cama, que
passa a simbolizar o seu leito de morte. Tal ciclo tem fim apenas com a morte de sua filha,
Janis Mohor.
verde”, conforme Chevaleir (2003), o cavalo, nesta nossa leitura da narrativa, pode simbolizar
Desse modo, a presença da morte seria trazida pelos cavalos sempre presentes no texto
figura mitológica, parte humano e parte equino, que, salvo em alguns poucos casos, é a
representação do homem em seu estado animalesco, pouco evoluído e bestial, por se associar
A nossa leitura segue no sentido de que tudo se liga indicando o fim fatídico e
mesmo fim de seu pai, não se importando se é virgem ou não; pelo caminhar da história, é
aproximando, indicando, também no plano semântico da obra, uma ligação: a virgem, que em
praticamente todas as culturas simboliza a pureza, realiza uma viagem de alguns dias, com
pausa de quase uma noite em piscina, rumo à sua vingança (vingança pela morte de seu pai).
De acordo com a leitura dos símbolos presentes (jardim, cavalo, centauro, viagem),
tudo no texto se encaminha para o previsível: morte da filha, na sequência da morte do pai.
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As outras personagens, dentro dessa leitura, passam a ser acessórias, não exercendo
função alguma além de anunciar o que vem sendo anunciado desde o início da narrativa. O
monge-eunuco, Belizário, que conta suas histórias “fantásticas”, vê o objeto de sua paixão
morrer sem poder fazer nada, e Jan, marido de Janis, continua, aparentemente, sendo uma
personagem secundária dentro da trama, a não ser por ser uma personagem capaz de domar os
cavalos.
Verificando desse modo, podemos dizer que Jan é quem acaba por ser privilegiado,
pois ele é quem entende dos mensageiros da morte (os cavalos, e entender de cavalos é sua
única habilidade) e é quem fica com a herança que deveria ser deixada por Hildebrando a
Janis. É difícil saber o que alegoriza a sombra que observa pela janela o cavalinho correndo
em círculos, talvez seja a própria sombra de Jan a espreitar a morte de sua esposa, não se sabe.
***
O conto, parece ser, explorando o termo “Sinfonia”, que lhe dá nome, um réquiem,
uma execução musical fúnebre, acompanhada pelo trotar de alguns cavalos, orquestrada pelo
riqueza e felicidade não andam juntos, já que a herdeira havia perdido o pai e recebido
herança, mas tendo libertado sua violência interior (centauro) e tentado fazer justiça com as
próprias mãos, tendo, por isso, sido castigada, de um modo místico, pela misteriosa sombra
vulgar provérbio “dinheiro não traz felicidade”, sem que se trabalhe ou demonstre a origem de
tal riqueza e sua finalidade; o segundo, liga-se ao fato de que não se pode fazer justiça com as
próprias mãos (o que, dentro de uma sociedade moderna, não é mesmo admissível), mas com
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Não importa quão delicada e pura, dedicada e valente fosse nossa protagonista, ela morre duas
vezes, mas já nasceu morta, e aquele que é imprestável (no caso, seu marido, e, talvez, neste
ponto o narrador tenha tido sucesso) sempre acaba tendo as melhores oportunidades no
mundo real. Isso só endossaria o que Barthes diz a propósito do mito: o mito é uma fala
REFERÊNCIAS
BARTHES, Roland. Novos Ensaios Críticos seguidos de O grau zero da escritura. São
Paulo: Cultrix, 1974.
CHEVALIER, Jean. et. al. Dicionário de Símbolos. 18. ed. Rio de Janeiro: José Olímpio,
2003.
DICKE, Ricardo Gilherme. Sinfonia equestre. In. ______. Toada do esquecido e Sinfonia
equestre. Cuiabá: Carlini & Caniato; Cathedral Publicações, 2006.
MIRCEA, Eliade. O mito do eterno retorno. São Paulo: Mercuryo, 1992. pp. 55-86.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.