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ISBN: 978-85-63735-20-1
Diálogos com a História 2
Trabalhos apresentados na 3ª Semana de História da UFF
(março de 2015)
Diálogos com a História 2
Trabalhos apresentados na 3ª Semana de História da UFF
(março de 2015)
Organizadores:
Niterói,
PPGHistória-UFF
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Ficha catalográfica
Luís dos Santos Vilhena nasceu em 1744, na vila de são Tiago do Cassino, no
Alentejo e no ano de 1787 foi designado para o lugar de mestre régio de grego na
Bahia. Permaneceu em Salvador até 1799, quando retornou à Portugal para tratar de
sua saúde e solicitar o seu jubilamento, alcançado em 1801 2. Logo depois deve ter
retornado à Bahia, onde faleceu em 1814. É autor de 24 cartas3 que descrevem e
analisam a América Portuguesa no final do século XVIII. As primeiras 20 cartas foram
escritas na colônia e são destinadas a Filopono, que se pode traduzir por “aquele que
aprecia o esforço do trabalho”, dedicadas ao príncipe regente D. João. As demais,
foram completadas em Portugal e endereçadas a Patrífilo, o “amigo da pátria”, Rodrigo
de Sousa Coutinho, Secretário da Marinha e do Ultramar. É possível identificar um
alinhamento entre as ideias do professor régio e as do ministro, ambos em um espaço
das Luzes portuguesas, preocupadas, sobretudo, em corrigir as deficiências da
administração, em promover a expansão da agricultura na colônia por meio de
conhecimentos práticos e de métodos mais racionais.
População, agricultura e comércio são as colunas mais sólidas e a base mais estável das
colônias que conservamos na América, compreendidas no Principado do Brasil. Carece
1
Graduando em História da Universidade Federal Fluminense. Desenvolve pesquisa sob orientação do
Prof. Dr. Guilherme Pereira das Neves. Bolsista de iniciação científica (CNPq/PIBIC/UFF) vinculado a
projeto coordenado pelo Prof. Dr. Luciano Raposo de Almeida Figueiredo. E-mail de contato:
machado.ga18@gmail.com.
2
Cf. NEVES, Guilherme Pereira das. "Luís dos Santos Vilhena". In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário
do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro, Objetiva, 2000.
3
A cartas estão disponíveis em duas edições: VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no século XVIII. Salvador,
Itapuã, 1969, 3 v. e _____. Recopilação de notícias soteropolitanas e brasílicas. Bahia, Imprensa Oficial, 1921-
22, 2 v.
4
VILHENA, Luís dos Santos. Pensamentos políticos sobre a Colônia. Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, Série
Publicações Históricas 87, 1987.
239
refletirmos se tem havido a precisa atenção à solidez destas colunas, se se acham em estado
de sustentar o grande peso que sobre elas gravita e o modo por que poderão sustentá-lo, no
caso de terem saído do seu equilíbrio5.
É a capitania da Bahia a mais povoada, não é porém a mais extensa, pois que algumas
há que a sucedem; por consequência, têm logo todas as capitanias uma população extremosamente
pequena em comparação do âmbito, não só do todo do Estado, como de cada uma de por si.7
5
VILHENA, Luís dos Santos. Pensamentos políticos sobre a Colônia. Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 1987,
p. 39.
6
Ibidem, p. 39.
7
Ibidem, p. 51, grifo meu.
8
Ibidem, p. 51.
9
Ibidem, p. 54.
10
MOTA, Maria Sarita. “Propriedade e Pensamento Político na América Portuguesa em fins do século
XVIII”. In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História. São Paulo: ANPUH, 2011, p. 3.
240
fundiária também o era, já que a lei do morgadio impedia que os demais filhos do
senhorio tivessem terras para produzir:
11
Ibidem, p. 53.
12
MOTTA, Márcia Maria Menendes. Direito à terra no Brasil: a gestação do conflito, 1795-1824. São Paulo:
Alameda, 2ª. ed, 2012, p. 49.
13
Ibidem, p. 57.
241
produzem”14. Se, para o autor, o cidadão é gerado pela propriedade e esta lei tornaria
proprietários um grande número de brasileiros, um grande número de pessoas se
converteria em cidadãos.
Não obstante, ele propõe outra lei para solucionar um problema colonial: a
população ociosa, que terá “forças para fazer evacuar das cidades os preguiçosos
vadios e povoar de agricultores as campanhas”15. Os vadios seriam convertidos em
trabalhadores rurais, aproveitando-se os braços trabalhadores para o sucesso do
projeto colonial.
O comércio ocupou lugar importante na análise de Luís dos Santos Vilhena e foi
considerado também um dos pilares sólidos para a conservação das colônias. O
professor de grego afirma que a liberdade “é o espírito dominante do comércio, e que
sem ela impossível é que este possa florescer”, mas defende que cada um entende esta
palavra segundo seu modo de pensar. Mas, para ele, ela consiste na liberdade na
autoridade das leis, sabedorias e prudência de governo e felicidade dos povos, já que
Ele diagnostica que o comércio da América é útil e vantajoso, já que por meio
dele são fornecidos gêneros indispensáveis à Europa. Ao mesmo tempo, “de todos os
estabelecimentos de Portugal é o Brasil não só o mais rico como o mais suscetível de
melhoramento”17 e o mais interessante ao comércio, desde que povoado e cultivado o
quanto deve e pode ser. Cabe destacar a consonância desta perspectiva com a de
Rodrigo de Sousa Coutinho, considerado, por Guilherme Pereira das Neves, “um dos
14
Ibidem, p. 58.
15
Ibidem, p. 59.
16
Ibidem, p. 73, grifo meu.
17
Ibidem, p. 74.
242
mais notáveis representantes da Ilustração portuguesa”18. Secretário de Estado da
Marinha e Domínios Ultramarinos, entre 1796 e 1801, d. Rodrigo capitaneava um
conjunto de letrados, denominados por Kenneth Maxwell de “geração de 1790”19, que
buscavam reconhecer e mapear o império e percebiam a situação frágil em que se
encontrava Portugal no fim do século XVIII.
Contudo, apesar de afirmar que este comércio desfavorável tem sido “menos
lesivo” devido aos ingressos do ouro, ele defende que em breve haverá necessidade
de propor medidas para quebrar os “canos por onde a indústria estrangeira conduz
18
Cf. NEVES, Guilherme Pereira das. Rodrigo de Souza Coutinho. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário
do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro, Objetiva, 2000.
19
Cf. MAXWELL, Kenneth. "A geração de 1790 e a idéia de império luso-brasileiro". In: Chocolate, piratas
e outros malandros. São Paulo, Paz e Terra, 1999.
20
VILHENA, op. cit., p. 74.
21
Ibidem, p. 77, grifo meu.
243
para fora a nossa moeda”22. Por fim, identifica que “é os estrangeiros nas mãos dos
quais vai parar a riqueza toda das mesmas colônias”23.
22
Ibidem, p. 77.
23
Ibidem, p. 78.
24
Cf. NEVES, Guilherme Pereira das. Sociabilidades modernas e poderes tradicionais no Rio de Janeiro
de 1794. In: Actas do Congresso Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: Poderes e Sociedades. Lisboa:
Biblioteca Digital Camões, 2008. v. 1. p. 1-16.
25
Ver, principalmente, VENTURI, Franco. Utopia e reforma no Iluminismo. Bauru, EDUSC, 2003.
26
NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das; NEVES, Guilherme Pereira das. A Biblioteca de Francisco
Agostinho Gomes: a Permanência da Ilustração Luso-Brasileira entre Portugal e o Brasil. Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Rio de Janeiro, v. 165, n.425, p. 11-28, 2004. Citação extraída da
p. 14.
27
Ibidem, p. 14.
244
adotava-se uma atitude de mudança pontual e limitada quase
sempre dirigida pelas conveniências da Coroa, mas que não
implicava em uma transformação profunda na estrutura da
sociedade28.
CONCLUSÃO
28
Ibidem, p. 14.
245