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O Leadsled 1950 de
John “Merc Man” Bloore
ford t-bucket 1927 - ford roadster 1935 - picape chevrolet 1954 boca de bagre
Chevrolet 1954
“Boca de Bagre”
Primeiro projeto de nova oficina
ford roadster 1935
T-Bucket 1927
www.cteditora.COM.BR
H
á consenso de que o movimento Hot Rod é forma- de Creamsicle Delight. O carro é exemplo de amor,
do por artistas. Não são simplesmente mecânicos, dedicação e, acima de tudo, do espírito rodder de seu
funileiros, estofadores, pintores, mas artistas, que proprietário.
colocam suas técnicas a serviço da preservação de Outro personagem é Bill “Leadslinger” Hines, o “Velho
uma cultura que remonta décadas atrás. E, como todo Bill”, que, aos 93 anos, ainda se mantém ativo e “traba-
artista, os rodders adquirem renome à medida que seus lhando sete dias na semana” em Garden Grove, nos Esta-
trabalhos são divulgados e reconhecidos como excepcio- dos Unidos. Em 1941 Bill finalizou seu primeiro projeto,
nais. No Brasil e no mundo, esses rodders adquirem status como autodidata, e nunca mais parou de desenvolver sua
de celebridades e se transformam, com o aval da história, arte e brindar o mundo com seus carros customizados.
em verdadeiros mitos. São apenas dois exemplos, dentre os muitos retratados
Nesta edição, pelo menos dois desses personagens são nas páginas de Hot Rods, que fazem desse universo algo
apresentados aos leitores. Na sua coluna Cultura Hot, muito mais do que um segmento da customização automo-
Victor Rodder conta a história de John “Merc Man” Bloore tiva, mas uma verdadeira paixão.
(foto), criador do Mercury 1950 “Leads lead” batizado Boa leitura!
Sumário
Hot Rods
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N
em todos os velhinhos têm cabelo branco. Ao
resgatar a história das picapes no Brasil há, cla-
ramente, uma distinção entre idade e vocação. A
C-10 surgiu em 1974, quando substituiu as Che-
vrolet C-14 e C-15, lançadas dez anos antes, que
se diferenciavam entre si somente pelas opções de
chassi curto e longo, respectivamente. O modelo chegou
a ser oferecido nas opções com ou sem caçamba, cabine
dupla (duas portas e capacidade para seis ocupantes),
além das séries bélicas destinadas ao Exército e à Mari-
nha, sem teto rígido e com para-brisa basculante.
A C-10 era a preferida pelos agricultores e fazendeiros,
valendo-se da vocação para o trabalho pesado. Já a
picape Chevrolet 1954, conhecida no mercado pelo ape-
lido de “Boca de Bagre”, mantinha aquela filosofia dos
caminhões introduzidos em 1947 e se valia da robustez
escondida entre os “cabelos brancos”, já que, além do
espírito ruralista, havia a força do estilo urbano e clássico
para banqueiros exibirem as linhas invocadas no trajeto
ao trabalho e, mais ainda, fazendo pequenas viagens
com a família. É como se a Chevrolet 1954 tivesse orgu-
Pintura Red Alert, da Nissan,
lho das “madeixas brancas” e a C-10 preferisse tintura.
recebeu 10 demãos de verniz
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Picape Chevrolet 1954
Um duelo de gerações.
Nilo Fedorovicz, 43 anos, técnico em mecânica e morador
de Curitiba (PR), se orgulha em não esconder a idade da sua
“Boca de Bagre”’. Apaixonado por automóveis antigos des-
de que morava no interior do Paraná, ele imaginou, ao dirigir
pela primeira vez um modelo C-10, que um dia iria conquis-
tar um clássico na garagem. “Sempre foram carros divertidos
e quando comprei em 2006 uma Rural Willys 1968 total-
mente original percebi que era muito prazeroso também curtir
esse tipo de carro com a família”, lembra Nilo.
A compra da Chevrolet 1954 foi ao acaso, uma vez que
o objetivo de Nilo era a aquisição de um exemplar Ford
Sedan 1937. “Após ter negociado o 37, um vizinho
comentou que havia uma picape Boca de Bagre fazendo
revisão de freios em uma oficina. Como sabia que ele
gostaria de comprar o carro e estava empolgado, decidi
comprar essa Chevrolet para revender a ele. Não deu
certo, quando retornei para Curitiba com o carro esse
meu amigo havia acabado de comprar um imóvel. Aca-
bei ficando com a picape”, conta.
Além do Ford duas portas 1937 e da Chevrolet 1954, Nilo
também é proprietário de um GMC 1953, que aguarda res-
tauração. Embora tenha apreço pela Boca de Bagre, já sabe
que terá uma difícil ação pela frente. “Se eu pudesse ficar
com todos os carros, com certeza jamais venderia algum,
mas como moro em condomínio não tenho como ficar com
mais de um carro antigo na garagem, pois tenho meus carros
para uso diário, então quando aprontar meu outro antigo
terei que me desfazer da picape”, aponta.
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Picape Chevrolet 1954
Nilo e Adriano optaram por uma caixa de câmbio automática
TH 350 com três marchas, diferencial emprestado do modelo
americano C-10. O destaque também ficou por conta do
trabalho caseiro na suspensão dianteira independente do Ford
Mustang II e na traseira com molas do modelo Blazer.
No interior do veículo, o estofamento em couro manteve o
plano original da Chevrolet, com volante restaurado e pinta-
do na cor do estofamento, botões e instrumentos originais e
acabamentos cromados. “A maior dificuldade foi encontrar
o rádio original, mas na maioria das vezes o problema é
importar as peças, pois demora muito. Dentro da picape nos-
sa única alteração fora dos padrões foi substituir a coluna de
direção para deixá-la mais confortável”, define.
As rodas de ferro seis furos aro 16, com calotas originais
e calçadas em pneus Bridgestone Turanza 235/60/16
tanto na dianteira como na traseira, somam a estética da
Boca de Bagre com a pintura Dupont: a cor escolhida
foi a “Red Alert” da Nissan feita em poliéster e com dez
demãos de verniz para dar acabamento perfeito.
Ficha Técnica
Picape Chevrolet 1954 “Boca de Bagre”
Mecânica
Motor GM 350 com 315 cavalos originais; alimentação com
carburador Holley 650 cfm; caixa de câmbio automática TH 350
com três marchas; diferencial emprestado do modelo americano
C-10 e suspensão dianteira independente do Ford Mustang II e
na traseira com molas do modelo Blazer.
Parte interna
Estofamento em couro; volante restaurado e pintado na cor do
estofamento; botões e instrumentos originais e acabamentos
cromados.
Parte externa
Rodas de ferro seis furos aro 16 com calotas originais; pneus
Bridgestone Turanza 235/60/16; pintura Dupont “Red Alert” da
Nissan feita em poliéster e com dez demãos de verniz.
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Quem fez?
Nilo Fedorovicz e Adriano Domingos de Oliveira; Pintura: Paint
Perfect - (41) 9154-0317; Mecânica: Aphonso (41) 3286-0385;
Estofamento: Sérgio (41) 3668-8378.
Hot Rods 15
História
H
oje em dia, com os carros elé- a primeira efetivamente prática e que advento dos motores de combustão
tricos timidamente aparecen- apresentava as características básicas interna, a gasolina não tinha muita
do nas ruas, percebemos que dos motores que se fabricam até hoje. utilidade. O petróleo era destilado
os carros do dia-a-dia, por Diferentemente de outros pesquisadores mais para a retirada do querosene
mais luxuosos e sofisticados da época, Otto foi além do projeto e para uso em iluminação. A gasolina
que sejam, ainda dependem construiu um protótipo da sua versão era um subproduto desta destilação
de uma máquina inventada há mais comprovando sua eficiência. Com ape- do petróleo e chegava até a ser des-
de 100 anos. E que esta máquina usa nas um pistão na horizontal, seu motor cartada. Por esta disponibilidade, a
“fogo” para gerar energia: o motor a gerava 3 HP de potência a 180 rpm. gasolina passou a ser o combustível
combustão interna. O ano era 1876 e O combustível usado era o gás da rede preferido para uso nos motores de
o inventor foi o alemão Nikolaus Otto. de iluminação da época. Para a igni- combustão interna.
ção deste combus-
tível, uma chama
piloto era utilizada
(semelhante à dos
aquecedores a
gás mais antigos).
Esta característica
limitava seu uso a
aplicações esta-
cionárias.
Em 1884, Otto
desenvolveu uma
ignição elétrica
através de mag-
neto (um tipo de
Motor pioneiro de combustão interna de quatro tempos: gerador de ele-
Ciclo Otto tricidade), o que
Hot Rods 16
Benz 1885:
motor a gasolina
exposto, quatro
tempos e com
um cilindro
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A caçada ao
Santo Graal
Encontrar um carro raro, como um Ford Coupe 3 janelas 1932,
depende de sorte e também e de muita dedicação
Texto e fotos: Manoel G. M. Bandeira
T
odos certamente viram e acompanharam com
muita emoção os filmes da série “Indiana Jones”,
nos quais a obsessão do personagem principal o
leva a situações de extremo perigo na ânsia de
conseguir o objeto mais raro, mais precioso de
todos. No caso do filme a busca era pela Arca
da Aliança ou pelo Santo Graal.
No mundo real estamos sempre buscando alguma coisa,
quer seja na nossa vida profissional, nos nossos estudos,
ou mesmo no nosso hobby. Algumas pessoas se satisfazem
com pequenas conquistas. Porém, existem sempre aqueles
que não se contentam com o lugar comum, querem sempre
mais e buscam ultrapassar os limites do que é considerado
como possível para a maioria das outras pessoas.
Estou no mundo dos hot rods desde os 18 anos, e isso foi em
1979. Então, já vi e vivi muita coisa, muita coisa mesmo e
posso dizer, sem medo de errar, que os rodders que iniciaram colecionadores realizavam verdadeiros safáris na busca
sua caminhada no meio rodder até o final da década de por carros clássicos e/ou raros. E, com seus clubes bem
1980, em sua grande maioria, tinham um desejo em comum: organizados, tinham grande vantagem sobre os rodders,
encontrar um Ford Coupe ou Roadster 1932 ou 1934. pois as informações e dicas sempre chegavam primeira-
A raridade se constrói em cima da dificuldade de se encon- mente a suas mãos.
trar algo. E encontrar no Brasil um destes carros sempre foi
tarefa muito difícil, eu diria até que quase impossível. A vez dos rodders
Até meados da década de 1990 os colecionadores de A partir da segunda metade da década de 1990, com a
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carros originais ainda atuavam muito forte na restauração evolução do movimento Hot Rod no Brasil, e a consequen-
de carros. Muitos deles mantêm até hoje um acervo con- te valorização dos nossos carros (isso aliado a uma sen-
siderável com muitos exemplares ainda sem restauração, sação de dever cumprido por parte da maioria dos cole-
aguardando a hora para, quem sabe, voltar a brilhar nas cionadores, que já consideravam suas coleções como um
ruas e nos museus. Neste período era muito difícil que um acervo concluído), passaram a surgir novas oportunidades
rodder conseguisse comprar um carro tão raro assim. Os de negócios também para os rodders. Hoje podemos até
acreditar que qualquer informação sobre a descoberta de dedicação e do amor de todos pelo que estão fazendo,
um carro raro perdido em alguma garagem ou matagal o segredo vem da pura paixão pelo hobby por parte de
(coisa rara nos dias de hoje), chega primeiramente aos Sergio Liebel. Ele constrói a maioria dos carros para ele
rodders, que normalmente acabam dando um destino digno mesmo. Isso mesmo, ele faz o veículo para seu deleite,
ao carro ou, muitas vezes, aos pedaços que restaram dele. usa o carro por algum tempo, e então, como todo bom
Construir um hot rod exige, sem dúvida alguma, uma dose rodder, sente a necessidade de começar um novo projeto,
muito grande de paciência e dedicação por parte da pes- acaba vendendo a maioria dos seus carros justamente
soa que decide encarar esta empreitada. Geralmente, o para que possa dedicar seus esforços a um novo projeto.
grande desafio está em conseguir conviver em harmonia Foi desta forma que ele acabou encontrando dois Ford
com latoeiros (lanterneiros, chapeadores ou funileiros, depen- 1932 Coupe 3 janelas, que evidentemente acabou com-
dendo da região), pintores, eletricistas, estofadores etc. prando. Um desses carros, que está agora em sua oficina
Mas, como dissemos acima, a dificuldade muitas vezes se já com o teto rebaixado, acabou de receber uma linda
torna um desafio, e vencer desafios, ultrapassar limites, está pintura em tom bordô fosco, que deu ao carro um ar nos-
no sangue de quem decide construir um hot rod. Este foi o tálgico lembrando em muito os carros que competiam nos
combustível que moveu e ainda move os rodders pelo mundo lagos secos da Califórnia em meados do século passado.
afora desde o início do movimento, início este que, na verda- Por sua oficina já desfilaram vários carros, entre eles um Ford
de, se confunde com a própria história do automóvel. Roadster 1932, que foi totalmente restaurado em seus míni-
mos detalhes, e hoje embeleza as ruas de Belo Horizonte.
A busca pelo Santo Graal dos Hot Rods, um Ford 1932
Coupe três janelas, a realização deste sonho, não é
para qualquer um, depende de muito amor e dedicação,
depende de estar preparado para que a qualquer momen-
to surja a rara oportunidade de ficar frente a frente com o
seu sonho. E, e se isso acontecer, você deve estar pronto
para abrir mão de algumas coisas em sua vida pessoal
e encarar seu sonho de frente. Cavalo encilhado não
passa duas vezes. Então, se você também tem o sonho
de encontrar um carro raro, se tem em sua vida um Santo
Graal, esteja preparado, pois a qualquer momento você
também pode deparar com o seu sonho, bem ali, na sua
frente, quem sabe em um anúncio na internet. Só não se
esqueça que viver é melhor que sonhar, e às vezes curtir o
que se tem é melhor do que desejar o impossível.
Indiana Jones
Há mais de 20 anos um rodder vem se destacando no cenário
nacional, construindo carros simplesmente espetaculares, que
vão muito além do que se imaginava possível encontrar em
nossas terras até o final dos anos 90, carros com um padrão
de qualidade muito próximo dos melhores hot rods americanos.
Sergio Liebel é um rodder tão apaixonado que acabou
montando sua própria oficina. Escolheu a dedo seus cola-
boradores, e o trabalho na oficina flui de forma natural.
A impressão que se tem quando se visita a oficina é que
todos estão fazendo realmente o que gostam. É comum
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T
oda manhã, exceto segundas e feriados, pontu-
almente às 8h ele divide espaço com faxineiras
que deixam o piso reluzente. Começa também a
troca de turno dos seguranças; um homem alto de
bigode vai deixar o posto para dar lugar ao cole-
ga magro de cabelo raspado e terno alargado na
cintura. Os funcionários administrativos começam a parar
os carros no estacionamento privativo e, observados pelas
centenas de câmeras, entram no prédio antigo recém refor-
mado. Pouco antes das 11h a fila começa a surgir em fren-
te à bilheteria. Crianças acompanhadas dos pais, jovens
com camisetas dos Beatles, senhores com resquícios de
fumo de cachimbo na barba e moças que lixam as unhas
enquanto aguardam a abertura do espaço já dão sinais de
impaciência. Finalmente começa a venda de ingressos e,
na sequência, dois funcionários com camisetas desbotadas
que sugerem um “Posso ajudar?” organizam uma segunda
fila, esta, definitiva. Durante todo o dia, entre selfies inusi-
tados e vovôs que relembram as aventuras a bordo de um
Cadillac Fleetwood, há quem simplesmente se limite a “cor-
rer os olhos” pelas histórias reveladas e, fatalmente, quei-
ram tocar nos objetos expostos – mesmo sabendo que o
contato não é permitido. A noite chega e, novamente, outra
troca de seguranças. Desta vez, despedidas e bocejos.
Raro modelo roadster de empresá-
Apagam-se as luzes e o piso já não brilha como na manhã.
rio não quer saber de museu
Hot Rods 22
Hot Rods 23
Ford 1935 Roadster
O Ford Roadster 1935 é obra de arte, mas que prefere
as ruas ao museu. O exemplar, junto ao proprietário, não
parece querer a fama de “intocável” e, por isso mesmo,
carrega filosofia mais democrática para evitar rotina. “A
sensação de rodar com o carro é indescritível. E ele não
quer ficar trancado, gosta das ruas”, comenta Luiz Sergio
Filippetto, empresário de Curitiba (PR) proprietário do Ford.
Há mais de quarenta anos na família, o clássico mantém a
fama nas ruas curitibanas. Adquirido no passado em São
José dos Pinhais, há quem acredite que o roadster esteja na
melhor fase. “Tenho uma amizade desde a infância com o
Filippetto e acompanhei ao lado dele todos os passos junto
ao Ford. Não se trata apenas de um modelo muito raro,
roadster com carroceria de cinco lugares, mas acredita-se
que tenham sido produzidos menos de 150 unidades. Ele
faz parte da nossa história de vida. Pessoalmente volto a ter
18 anos quando estou passeando nesse carro”, descreve
Edmar Fabri, 60 anos, economista e amigo de Filippetto.
Se o cabriolet 1935 tem status de preciosidade, como
alguém poderia querer vendê-lo? A explicação esbarra
em questões financeiras. “Já na época esse carro era
conhecido na região e o dono precisava de dinheiro para
concluir um curso de pilotagem civil. Foi nesse momento
que o Filippetto efetuou a compra. Penso também que foi
um caso de amor à primeira vista”, aponta Edmar.
Além do Ford 1935, Filippetto também está em fase de
concluir a restauração de uma picape Ford F1 1951 que,
assim como o roadster, está na família há muitos anos. Já
Edmar mantém uma perua DKW Vemaguet e um Puma GTS.
Hot Rods 24
Na parte externa, os destaques são a pintura
verde original e as rodas artesanais exclusivas
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Ford 1935 Roadster
Herança
Quando Filippetto adquiriu o roadster já havia um conjunto
de mudanças feitas pelo antigo proprietário, como motor
com bloco de alumínio, cabeçotes Edelbrock, carburação
dupla, freios dianteiros de Lincoln, caixa de mudanças “rela-
cionada” e outros equipamentos de ponta para a época.
A fase atual esbanja suspensão dianteira Heidts – modelo
Superide II – específica para o chassi e a suspensão tra-
seira com four link tradicional. Os freios dianteiros combi-
nam discos de Corvette com pinças Wilwood de quatro
pistões, e na traseira com sistema a tambor.
O motor básico é o Ford 302 V8, com bielas e pistões forja-
dos, cabeçotes e árvore de comando Edelbrock, balanceiros
roletados Crane, bomba de água e óleo Milodon e carbu-
rador Edelbrock 650 cfm. Completam a estrutura a ignição
Mallory e os coletores de exaustão artesanais. A potência
estimada para o roadster é de 360 cavalos a 6.000 rpm.
Na transmissão a escolha foi por um câmbio automático
Ford C4 com conversor pequeno e estol para 2100 rpm.
Há ainda na estrutura um diferencial Dana com relação
de 3,90 x 1 sem blocante.
O interior foi refeito em couro bege escuro e o tecido da
capota importado para manter a originalidade. Na parte
externa, os destaques são para a pintura verde original e as
rodas artesanais exclusivas para o modelo. “Esses cuidados
estéticos são interessantes. Por exemplo, houve o cuidado
de guardar uma amostra da tinta verde utilizada na época
para posterior reprodução. E as rodas de aro 15 foram
feitas por um irmão do Filippetto. O Ford 35 foi o último
modelo com esse tipo de roda com raios”, explica Edmar.
Aderindo à filosofia de que carro antigo nunca fica pron-
Interior foi refeito em couro bege e
to, Filippetto e Edmar acreditam que sempre há procura
pelo próximo detalhe. “Há poucos meses conseguimos
o tecido da capota foi importado
recuperar a originalidade da cobertura do pneu reserva.
Sempre é possível incrementar algo”, garante Edmar.
O Ford 35 prefere dormir na garagem. Não quer saber
de museu. Parece querer ficar perto dos amigos, longe
de qualquer mesmice. “E é assim que ele está comigo há
mais de quatro décadas”, orgulha-se Filippetto.
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Hot Rods 27
Ford 1935 Roadster
Ficha Técnica
Ford 1935 Roadster
Mecânica
Motor Ford 302 V8 com 360 cavalos a 6.000 rpm; bielas e pistões
forjados; cabeçotes e árvore de comando Edelbrock; balanceiros
roletados Crane; bomba de água e óleo Milodon; carburador
Edelbrock 650 cfm; ignição Mallory; coletores de exaustão
artesanais; câmbio automático Ford C4 e diferencial Dana com
relação de 3,90 x 1 sem blocante.
Parte interna
Bancos em couro bege escuro; tecido branco da capota importa-
do; cromados no travão da capota e demais detalhes como puxa-
dores internos das portas e bordas dos instrumentos no painel.
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Parte externa
Pintura verde original; detalhes cromados e rodas artesanais aro
15.
Quem fez?
cxcxcxcxcxcxcxcxccxcxcxcxcxcxcxcxcxcxcxcx.
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Serviço
Com frescura!
Acompanhe a adaptação de um reservatório de expansão para
radiador de aço inox em um modelo Ford Roadster 1931 e garanta
a refrigeração adequada do motor
Texto e fotos: Cosme Santos, da Garage Oldschool
N
os carros modernos, o sistema de arrefecimento assim, sempre ocorre perda nesse processo. Além disso, o
conta com um componente chamado reservatório reservatório tem de estar posicionado no nível correto.
de expansão. A peça, além de reservar a água, A tampa do reservatório também tem um papel importante
também dispõe de um espaço interno para a no funcionamento do sistema. Quando a temperatura do
expansão do ar sob alta pressão do sistema em motor estiver muito alta, a pressão interna do sistema de
temperatura alta do motor. Quando sujo, o reserva- arrefecimento aumenta e a tampa contém uma válvula de
tório retém o calor e pode contribuir para o aquecimento do alívio para manter a pressão calibrada no sistema.
motor. O reservatório do sistema de arrefecimento também Neste passo-a-passo, vamos acompanhar a instalação de
pode trincar e deixar vazar toda a água, sem poder suprir um reservatório de expansão de aço inox da Mr. Gasket,
a necessidade em uma eventual falta de água. com capacidade de cerca de um litro, em um Ford Roads-
A tampa do radiador segura a pressão até certo ponto. tar 1931. A peça tem cerca de 30 cm de altura e 3” de
Após isso ela abre e deixa passar a água e o vapor que se diâmetro. Este é um sistema de reservatório de expansão
condensa no reservatório. Após esfriar o radiador, cria-se um de inox aberto diferentes dos modelos originais que saem
déficit de pressão que puxa novamente a água para dentro nos carros de hoje. É uma peça adaptada para não per-
do mesmo através da mesma mangueira que o expulsou. Isso der a água do radiador, e pode ser instalada em motores
se a tampa do radiador estiver em bom estado. Mas, mesmo de 4, 6 e 8 cilindros.
Trabalho realizado em Ford Tudor resultou em melhor visual e garantia
de correta refrigeração do motor
Bonnie,
Clyde e o V8
Conheça a história do casal de gângsteres mais famoso dos EUA e sua
predileção pelos Ford V8, que considerava imbatíveis durante suas
fugas da polícia
A
história de crimes e amor de Bonnie Parker e Clyde várias fotos em diferentes poses, expondo armas de diversos
Barrows, o mais famoso casal de gângsteres dos calibres, e as enviava aos jornalistas contando detalhes
Estados Unidos, que na década de 1930 assaltou sobres seus crimes. Outra curiosidade é que a palavra ‘’boi-
bancos, matou policiais (e não policiais) e mobilizou na’’, hoje, veio de Bonnie, por causa daquele aparato que
os órgãos de segurança norte-americanos numa Bonnie usava na cabeça.
caçada sem precedentes – durou dois anos e terminou
com a execução de ambos, a provar que o glamour do A nova adaptação
banditismo que se vê nas fotos são corpos desfigurados Na minissérie Bonnie e Clyde, a protagonista é interpretada
de chumbo na vida real. O filme “Bonnie & Clyde – Uma pela atriz inglesa Holliday Clark Grainger, conhecida pelo
Rajada de Balas” (1967) se inspirou nessa história verí- papel de Lucrécia Bórgia no seriado Os Bórgias. Ela teve dois
dica, acrescentou-lhe charme e o tal glamour e contribuiu grandes desafios nesse trabalho: representar pela primeira vez
para mitificar a trágica trajetória desses dois jovens cria- uma norte-americana e dominar o arrastado sotaque texano.
dos no Texas durante a grande depressão econômica e Além disso, Holliday contracenou com dois nomes de
que embarcaram numa viagem violenta, apaixonada e peso do cinema: William Hurt, vencedor do Oscar de
suicida. Viagem sem volta e que eles sabiam, como fala- melhor ator por “O Beijo da Mulher Aranha”, e Holly Hun-
vam entre si, que acabaria em dois cês: “cage and coffin” ter, ganhadora do Oscar de melhor atriz por “O Piano”.
(cadeia e caixão). O famoso bandido é interpretado pelo ator Emile Hirsch,
O casal foi acusado de homicídios, roubos de carros e assal- conhecido por protagonizar “Na Natureza Selvagem”. Em
tos a bancos e postos de gasolina por todo o meio-oeste dos comparação com as outras versões da história, a minissérie
Estados Unidos. Clyde não queria aparecer ou ficar conheci- retrata Clyde de forma mais sensível e complexa. A direção é
do, ao contrário de Bonnie, que queria a fama e que tirava do veterano Bruce Beresford, de “Conduzindo Miss Daisy”.
Hot Movies
Hot Rods 35
Hot Movies
“O
uísque é o melhor amigo do homem. É o
cachorro engarrafado”. Paulo Cezar Menuc-
ci, 45 anos, empresário e presidente do
Curitiba Roadsters, concorda em gênero,
número e teor alcoólico com a frase de Viní-
cius de Moraes. Talvez Paulo decida criar
sua própria crença, substituindo a figura do cão pelo car-
ro. Henry Ford possivelmente iria adorar a ideia.
Basta observar um detalhe ousado no projeto deste Ford
T-Bucket 1927 para entender o enredo: o tanque de combustível
é um barril de chope de 50 litros e o marcador é uma pequena
garrafa de uísque. “Foi a forma que encontrei para visualizar o
nível de combustível no barril”, conta o inventivo Paulo.
No segmento de hot rods há diversos projetos com os
quais a criatividade ganhou muito mais espaço nos deba-
tes, do que a própria mecânica que o modelo carrega.
Essa reinvenção e o espírito de redescobrir possibilidades
fazem de qualquer proprietário de um hot sorrir à toa.
Paulo Menucci começou a rir a bordo de um Chevy 1934
– seu primeiro carro antigo –, depois o sorriso foi amplia-
do para um Mercury Woodie customizado e, agora, a
extensão do riso é dividida entre o T-Bucket e um Chevrolet
Fleetline 1949. “Por influência dos amigos do Curitiba
Roadsters fui pegando gosto pelos T-Buckets também, foi
quando comecei a procurar algum modelo disponível para
Tanque é um barril de chope e o
compra e encontrei este 1927 em São Paulo”, comenta.
marcador uma garrafa de uísque
Hot Rods 40
Hot Rods 41
Ford T-Bucket 1927
O carro, segundo Paulo, estava com o projeto praticamen-
te concluído, restando apenas mudanças na parte estética
com nova pintura, jogo de rodas e pneus. A mecânica
escolhida contou com um bloco V8. “Ele recebeu o Ford
292, que pelo meu gosto é um dos melhores modelos V8,
pois é um motor grande que ronca bonito. O importante
também é harmonizar, pois a linha que divide o projeto
perfeito do ridículo é muito pequena”, sugere. Para dar
mais “corpo” ao motor, foi instalado um kit blower com
dois carburadores Webber e que, na estimativa, gera 280
cavalos. A caixa de câmbio conta com três marchas.
A estrutura do Fordinho carrega ainda suspensão diantei-
ra com feixe de molas e traseira com coil over, além do
sistema de freios a tambor. O destaque do exterior do veí-
culo está diante das rodas aro 15 com 6” na dianteira e
15” na traseira, a pintura em preto fosco e o desenho em
homenagem aos 20 anos do Curitiba Roadsters.
Ficha Técnica
Ford T-Bucket 1927
Mecânica
Motor Ford 292 V8 de 280 cavalos, kit blower com dois carbura-
dores Webber e caixa de câmbio de três marchas.
Parte interna
Tapeçaria em couro preto e instrumentos com borda cromada.
Parte externa
Rodas aro 15 com 6” na dianteira e 15” na traseira, pintura em
preto fosco e desenho nas laterais. Barril de chope à mostra
Hot Rods 46
Quem fez?
Mecânica - Alison da Joker´s Hot Rods - (41) 9118-6076. Rodas
e pneus VFort - (41) 3254-5222 e Carroceria Aurelio Backo - (41)
9188-3373.
Hot Rods 47
Hot do leitor 2
Meu Bebê
Acompanhe as agruras e a persistência de um
homem para construir seu primeiro hot rod
Texto e fotos: Emerson de Oliveira
“M
eu Bebê, este é o nome de batismo
do meu Fordinho 1938. Meu nome é
Émerson Ricardo de Oliveira, nasci em
1973 e sou apenas mais um amante da
velocidade. A Vila Carolina, na zona
norte de São Paulo, sempre foi o berço
de garotos jovens como eu que, em vez de perderem
tempo com modernos videogames, ficavam trancados em
suas garagens, com um carro qualquer, e preparando ou
melhorando sua mecânica para apresentar o carro mais
agressivo e veloz. Veja bem, não estou falando de filmes
de Hollywood, mas de uma realidade comum em algum
lugar de São Paulo.
A aquisição do veículo
O “Caveira” era um cara que conhecia muito de Dodge
e teve vários. Eu, na época, fiz um péssimo negócio com
um Challenger amarelo acabado. O Caveira, como fazia
vários rolos com Dodge, me ofereceu um rolo no Challen-
ger em troca de um carro pior ainda. Ele me cientificou
que o carro era pior e mais velho. E eu nem fui ver o car-
ro. Pedi para meu irmão mais velho ir ver o carro e meu
irmão, por sua vez, quando viu, falou por telefone mesmo:
Emerson, o carro é muito louco.
Assim, estou com ele até hoje. Projeto, ostentação, decep-
ção, serviços braçais, suor, muito suor, dinheiro perdido,
dinheiro gasto, dinheiro investido e dinheiro jogado fora.
Ostentação, vícios e várias tragédias...
Depois de vários mecânicos e funileiros levarem meu pou-
co dinheiro, tomei a atitude de fazer tudo sozinho. Sabe
aquela frase: “Faça você mesmo”? Então, demorou...
Os Irmãos Metralha, de uma funilaria na zona Norte, foram
meus professores e me explicaram como transformar um car-
ro todo original em um hot rod.
Começando do zero: primeiro o chassi de Galaxie. O
chassi foi adquirido com o Osada Carburadores. No
galpão dele tinha um chassi todo f... e um assoalho novo
neste mesmo Galaxie. Era só levar para casa. Como o
dinheiro era pouco, aluguei uma charrete de tração ani-
mal e pronto, joguei na charrete e toca pra Vila Carolina.
Com o chassi em casa, serrei, cortei e levei todas as
peças cortadas para o José Torneiro e seu neto. Essa
dupla foi responsável por alinhar e soldar o chassi e tam-
bém alinhar e balancear o eixo cardã.
O motor foi montado em partes. O bloco foi adquirido
com um cara chamado Carlos, um chinês com um baita
estoque de partes e peças de Dodge. Cabeçote, coletor
de admissão, cárter, foram adquiridos um uma cidade do
interior. Lá só tinha motores V8 movidos a álcool. Tive de
fazer duas viagens para esta cidade. Uma para conferir e
outra para trazer as peças. Já com a mecânica definida,
Hot do leitor 2
tinha um impasse: a frente original do Ford 1938 é uma.
Um determinado modelo, que não tinha como recuperá-
-lo. Fiz então mais uma viagem com o Mafu, um cama-
rada que, na época, tinha uma caminhonete Chevrolet.
Combinei com o Mafu de ir novamente para o interior em
busca de peças de carros antigos. Meu faro para carro
antigo é infalível e, perguntando aqui e ali, chegamos na
“mina de ouro”, onde comprei um Ford 1939 completo. E
cito meu mano Mafu, que não me deixa mentir.
Levamos um dia para desmanchar o carro, pois ele não
tinha documento. Lotamos a caminhonete e regressamos
para a Vila Carolina. Esta é só uma parte da história e
nem vou falar para vocês das diversas vezes que precisei
ir lá no China. Mas uma dessas vezes não posso deixar
de contar... Neste dia precisava de uns para-barro de
Galaxie e só tinha o dinheiro da passagem e da peça.
Fui até lá, comprei as peças, coloquei-as nas costas e
vim embora. Na primeira parte do caminho foi fácil, do
ferro-velho até a estação de trem. Mas, na estação, não
me permitiram passar com todo aquele ferro-velho enferru-
jado, empoeirado, mofado etc. Olhei para o segurança e
falei: Eu saí da Vila Carolina e cheguei até aqui. Se você
não me deixar passar, eu vou a pé. Ele não permitiu e eu
voltei a pé até a Vila Carolina. Saí de manhã e cheguei
à noite. Tudo por causa do meu Bebê”.
uma charrete
Hot Rods 51
Cultura Hot
Creamsicle Delight
A história de John “Merc Man” Bloore e seu Leadsled 1950
Texto: Victor Rodder::Fotos: Mel Gabardo
A
Cultura Hot Rod é dinâmica e envolvente, isso é certo. e dedicação, e acima de tudo, o espírito rodder de seu pro-
E é construída por cada um de nós, aos poucos e na prietário, John Bloore, que gostaria que todos refletissem.
prática. Nada aqui é teórico. Por isso, bons exemplos Mas vamos aos fatos. Leads leads são meus carros preferi-
são mais do que essenciais. E é isso que me levou a dos, sem absolutamente qualquer dúvida quanto a isso. E
contar aqui as histórias de personalidades como Ed na minha última visita a Las Vegas, durante o car show do
“Big Daddy” Rooth, Von Dutch, Clay Smith, Carrol Viva Las Vegas Rockabilly Weekend, um carro em meio a
Shelby e tantos outros. Por seus exemplos. E, pensando nisso, tantos outros me chamou a atenção: era uma combinação
nesta edição, em vez de elencar a vocês aspectos técnicos, de “Candy Colors” com as flames que se destacava sob
históricos ou culturais isoladamente, vou contar uma boa e o sol de Nevada. Estava cercado de outros carros mais
verdadeira história. E a personagem principal desse capítulo “agressivos”, digamos assim (carros “com cara de mau”
da Hot Rod Culture é um Mercury 1950 “Leads lead” batiza- parecem que estão em alta, na moda. Mas a verdade é
do de Creamsicle Delight. Mas é sobre o exemplo de amor que nos anos 50 a “pegada” era outra!).
Em 1980 “Big Al” comprou o carro. O conjunto mecânico já
As primeiras customizações desse carro são bem anteriores era preparado em cima de um motor Buick “nail head” com
aos anos 80. O proprietário mais antigo do carro que se tem câmbio de três marchas. Foi “Al” quem instalou os faróis de
notícia é “Big Al”, da cidade de Vulcan, ao sul do Canadá. Buick 53 e as lanternas traseiras em forma de nota musical,
Aqui é como o carro estava em 1979 pintando tudo de dourado
receber o pagamento da aposentadoria vai instalar uma por carros antigos customizados! E mesmo com tantos
transmissão automática overdrive e um conjunto de amor- percalços no caminho, parece nem se incomodar! O
tecedores e suspensão modernos. O eixo traseira também que vale, segundo ele, é que desde que comprou o
vai ser substituído. “Quando eu atualizar a suspensão tra- carro, em 2001, dirigiu e curtiu muito.Washington,
seira vou instalar bolsas de ar, um eixo Ford 8 polegadas Kansas, Arizona, Califórnia e Utah já viram de perto
e freios a disco! E vou pôr uma injeção de combustível essa obra de arte sobre rodas. E ele sempre chegou lá
com F.A.S.T. controller!” sozinho! Sem trailers, sem reboque, sempre rodando.
Cultura Hot
Cena Fifties
Quando carros como este podiam ser vistos a todo
momento pelas ruas, em meados dos anos 50, a garo-
tada que os dirigia se encontrava nas lanchonetes,
drogarias e sorveterias. Qualquer lugar com uma juke-
box e uma “soda pop” gelada era ponto de encontro.
Carros pretos eram coisa de velho (Henry Ford tinha
passado três décadas produzindo carros pretos...) Por
isso as cores dos customs eram vivas, alegres e reme-
tiam para os doces. Eram as “candy colors”.
E vem desse contexto a personalização deste Mercury.
E vamos todos concordar que sob o sol do deserto de
Nevada, nada melhor do que um delicioso picolé!
Além do castigo de três anos com o carro na garagem,
John conta que, para poder trazer o carro até o Viva
Las Vegas Car Show, foi necessário substituir todo o
sistema de sapatas de freio e cilindros de roda traseira
devido aos vazamentos que se desenvolveram com o
carro parado tanto tempo! É como diz o ditado. Pedra
que não rola cria limo!
“Eu aproveitei muito esse carro, desde o dia que ele
chegou na minha garagem em 2001. Já dirigi até
Washington para um Goodguys, Kansas para o Lea-
dSled Nationals, Arizona e Califórnia em numerosas
ocasiões e pelos menos duas vezes por ano a eventos
de carros em Utah”, conta.
Foi somente em 2000/2001 que o carro ganhou as
cores e formas que ostenta até hoje. Grade DeSoto, fri-
Ficha Técnica
sos laterais removidos e a nova pintura perolizada em 1950 Merc “LeadSled”
laranja com chamas violeta esverdeadas.
A hélice do radiador que rasgou o capô desse Mer-
cury voltou para as mãos do fabricante. Hoje uma Teto rebaixado em 5” com colunas de porta inclinadas
peça velha e uma adaptação com velcro e um peque- Cantos de porta e capô arredondados
no suporte permitem que as pessoas entendam um pou- Portas “keyless” com acionamento remoto
co mais da história desse obstinado leads led. Cantos Vidros elétricos
arredondados nas portas e capô dão ao carro uma 210 aberturas de ventilação no capô
harmonia e suavidade quase inexplicáveis. Para-brisa em V sem frisos
As lanternas traseiras em formas de notas musicais, os Vidro traseiro do Mercury ‘49
faróis embutidos do Buick ’53 e a grade de DeSoto Lanternas traseiras de “notas musicais”
são um espetáculo à parte. Grade de DeSoto ‘52
Na década de 50, hot rodders e kustoms eram duas Faróis Frenched do Buick ‘53
turmas bem distintas e que não se bicavam. Naquela Saias traseiras em bolha
época quem dirigia um “baldinho” 32 se referia pejo- Dummy spots de 5”
rativamente aos kustoms, chamando-os de “trenós de Side pipes
Subframe de Camaro ‘79 com direção hidráulica
Hot Rods 56
Paixão específica
Rodder de Curitiba se prepara para dirigir o único Ford 1932
Coupe de carroceria original e teto rebaixado do Brasil
Texto e fotos: Sergio Liebel
“S
ou Sergio Liebel, dono
de uma pequena ofici-
na particular chamada
Hot and Rusty, de Curi-
tiba (PR). Tenho carros
antigos e modificados
há mais de 30 anos e sempre fui
apaixonado pelo estilo hot rod. Em
especial pela linha Ford da década
de 1930. Tive muitos modelos, entre
coupes, sedans, picapes e roadsters.
Sempre procurei por um Roadster
1932, que é um ícone entre os rod-
ders e uma carroceria rara no Brasil.
O Coupe 32, para nós, brasileiros, é
tão raro que nem em sonho pensava
em encontrar um modelo como esse.
Há alguns anos recebi um telefonema
de um amigo de São Paulo, o Rampi-
ni, que conhece muitos donos de car-
ros antigos e já teve muitos também.
Ele dizia que havia uma carroceria de
um Coupe 32 à venda perto da casa
dele. Achei que era brincadeira e pedi
À esquerda, a obra ainda inacabada do rodder fotos. Quando ele me enviou as fotos,
vi que se tratava mesmo de um Coupe
Sergio Liebel 32. Comprei o carro, trouxe-o para a
oficina e percebi que havia condições
de retorno à condição original.
Hot do leitor 2
Sergio Liebel e sua turma, de Curitiba, com o Ford Coupe 1932 3 janelas,
antes de ser transformado em hot rod
Não tive coragem de cortá-lo, mas era outro, o que direcio-
fizemos o carro funcionar e ele foi nava para um projeto hot
vendido para um amigo de Belo Hori- rod, já que o retorno à
zonte (MG), que fez um chassi novo condição original seria
e guardou todas as peças originais, quase impossível.
possibilitando seu retorno à condição Fui buscar e descobrimos
original quando quisesse, pois não que o carro havia sofri-
houve mudança na carroceria. do uma batida lateral e
Quando o carro foi embora eu e estava com a carroceria
meu parceiro de montagem, Sidney desalinhada. Parei todo o
Lindbeck, sabíamos que nunca mais serviço que estava fazen-
colocaríamos as garras em uma do e decidi me dedicar
Hot Rods 60
Encurtando a direção
Acompanhe a adaptação de uma coluna escamoteável que não se
encaixava perfeitamente no projeto do nosso hot rod
Texto e fotos: Norberto Jensen
Q
uando se constrói um hot rod, não é incomum com- Tech mostra como encurtar uma coluna de direção esca-
pramos peças e acessórios que nem sempre se encai- moteável, importada, que acabou ficando com um compri-
xem perfeitamente no carro que estamos montando. mento maior do que o espaço disponível. O trabalho vai
Isso nos obriga a fazer alterações na peça, para permitir ainda a perfeita ergonomia do motorista.
adequá-la ao nosso projeto. Nesta edição, Garage Sugestões ou dúvidas, escreva para suporte@hotcustoms.com.br
01 02
03 04 05
Hot Rods 62
Solte a coluna do suporte do painel Solte o suporte da coluna com a carroceria Retire a coluna inteira
06 07 08
A coluna retirada, já fora do carro Meça o que vamos reduzir Solte o cubo do volante
09 10 11
Solte as travas do pisca e da buzina Solte as alavancas externas da coluna Solte o chicote elétrico
12 13 14
Para deslocar a parte móvel do cubo, solte Retire a parte móvel Solte o eixo da cruzeta do escamoteável
a trava plástica
15 16 17
Hot Rods 63
Retire a parte móvel da capa do tubo A capa “oca” Retire agora o tubo interno da trambulação
Garage Tech
18 19 20
Corte o tubo externo Corte o tubo interno da trambulação Recoloque o eixo sólido interno
21 22 23
Encaixe a parte interna da capa Recoloque as molas de movimento Recoloque a parte móvel do escamoteável
24 25 26
27 28
Reinstale no carro
Hot Rods 64
Esquenta!
Evento bimensal em Caçapava (SP) reúne cerca de 120 veículos,
entre carros e motos customizados de vários estilos
Texto: Da Redação::Fotos: Divulgação
Evento – Caçapava Rat Rod
C
arros e motos antigas customi-
zadas foram a matéria-prima da
segunda edição do Caçapava
Rat Rod, encontro bimensal que
acontece desde janeiro deste
ano na cidade paulista do Vale
do Paraíba. O encontro contou com
mais de 80 carros e 40 motocicletas
e atraiu, segundo os organizadores,
cerca de 5 mil pessoas durante a tarde
e a noite de sábado. A trilha sonora a
base de rock’n roll contou com música
ao vivo com as bandas Moto Serra e
Dead Fly. Com a intenção de reunir
pessoas interessadas em carros e motos
modificados, o encontro, que aconte-
ceu a céu aberto, no centro da cidade,
reuniu participantes de várias cidades
da região e da Grande São Paulo.
Para os amantes de motos não falta-
ram exemplares de Harley-Davidson,
Motos e carros custo-
com seus roncos característicos, “cafe
racers” e “bobbers”. Além dos rat
mizados em meio a
tradicionais, havia “Rat Fuscas”, com
pinturas manchadas e “por terminar”,
pin-ups: festa!
dentre outros modelos.
Hot Rods 68
Hot Rods 69
Personalidade
O velho Bill
Conheça o passado glorioso de Bill “Leadslinger” Hines, um
dinossauro da customização
Texto: Vitor Giglio::Fotos: Divulgação
B
ill “Leadslinger” Hines nasceu em Erie, Pensilvania,
em 1922, mas cresceu em Jackson, Tennessee até se
mudar para Detroit, Michigan, em 1932.
Em seu 11º ano letivo escolar, o equivalente ao
nosso colegial, Bill largou a escola e abriu um
posto de gasolina por conta própria.
Foi neste posto que Bill começou a customizar veículos,
especificamente carroceria e pintura. Em 1941 ele finalizou
seu primeiro projeto, um Buick conversível do mesmo ano.
No final dos anos 40, Bill trabalhou em uma revendedo-
ra, dando nova pintura a carros usados. Esta revendedo-
ra, por obra do acaso, pertencia ao pai de outra figura
histórica do universo automotivo: Dick Dean. Nessa épo-
ca Bill ensinou o que já aprendera para o jovem Dick. Em
1949 a dupla trabalhou em conjunto em um Hupmobile
1941, que pertencia a Dick.
No começo dos anos 50, Bill abriu sua própria oficina
em Detroit. Em 1953 ganhou seu primeiro prêmio, melhor
customização pelo projeto realizado em um Ford 1934,
que ficou conhecido como “The Golden Nugget”.
Antes de se mudar para a Califórnia, em 1958, Bill teve
tempo de desenvolver outra de suas obras primas: o Li`l
Bat, um Ford 1950.
Já na Califórnia, Bill procurou a oficina Barris Shop na
esperança de encontrar George Barris, Bill Carr ou Dean
Jeffries. Acontece que todos estavam em turnê com alguns
modelos customizados pelo país. Bill então conheceu
Gino (Gene Simmons), o gerente da loja à época.
Gino ficou tão impressionando quando viu do que Bill era
capaz que, imediatamente, fez uma oferta para que ele
começasse a trabalhar ali já no dia seguinte. E assim foi.
Impressionando a tudo e a todos, Bill personalizou suas
principais obras-primas nos anos que vieram a seguir.
Em outubro de 1960, insatisfeito com o salário que rece-
bia, Bill deixou a empresa. Alugou um espaço próximo
dali e passou a trabalhar por conta própria. Dia e noite.
Personalidade
Apesar da desconfiança e descrédito dos outros de que o aparência originais. Foi também nesta época que mudou
empreendimento próprio daria certo, Bill quebrou a ban- sua oficina para um espaço melhor, onde trabalha até os
ca: ficou ali por 23 anos. dias de hoje.
A relação com seu antigo chefe, George Barris, foi manti- Em 2004 Bill foi lembrado pelo programa Monster Gara-
da, e Bill passou a fazer serviços esporádicos para Geor- ge, e atuou na equipe de Jesse James, no projeto de uma
ge, quando lhe sobrava algum tempo. Chevy 1954. Sempre acompanhado por seu inseparável
As décadas de 60 e 70 foram talvez as mais produtivas de charuto, Bill finalmente sentiu-se reconhecido e prestigiado
Bill, no que diz respeito a qualidade e quantidade de trabalho. pelos anos que dedicou a esta arte.
Em 1981, passou a se interessar pelo processo inverso: Bill atualmente vive em Garden Grove e continua traba-
restaurar carros antigos de volta à sua configuração e lhando sete dias por semana. Isso é que é paixão!
Tampas de válvulas
O destaque da Pro-1 são as tampas de válvulas para moto-
res Dodge. As opções vão desde o modelo cromado da Mr.
Gasket, até a Edelbrock, com acabamento preto corrugado.
Preços a partir de R$ 310.
Informações: www.pro-1.com.br ou tel. (11) 3045-5544..
Roda gringa
A empresa America Parts destaca nesta edição a roda norte-americana
Magnum, importada, com furação do Dodge nacional em qualquer
combinação: 15x6”, 15x7” e 15x8”.
Informações: Tel. (11) 2647-1496 ou www.americaparts.com.br.
I
nspirado pelo artigo do “Creamsicle Delight” da la época o carro fez sucesso não só com os compradores
minha coluna de Cultura deste mês, resolvi falar sobre “comuns”, mas também, e principalmente, entre os customiza-
Mercurys! O Mercury “Eight” foi o primeiro modelo dores. Em 1949, Sam Barris construiu o primeiro “Leadsled”
da marca Mercury, da Ford Motor Company, e foi pro- a partir de um Mercury 1949 Eight, fazendo dele o modelo
duzido de 1939 até 1951, quando passou a ser um definitivo para os leadsleds que viriam. Em 1952 Sam e
modelo da Ford e não mais uma linha independente. George Barris também usaram o estilo do 49 para construir
De 1939 a 1948 o carro fez muito sucesso, mas foi defini- “o mais famoso carro personalizado de todos”, o Hirohata
tivamente com o modelo de 49 que ele cativou o coração Merc, de Bob Hirohata. Estilo e atitude estavam reunidos, e
de todos nós. O primeiro Mercury pós-guerra foi introduzido o efeito foi sentido em toda a comunidade Kustom da época.
em 1949, com um motor V8 flathead mais forte que o Ford, E com isso o Mercury ganhou um lugar especial também em
e um design completamente inovador. Era um sucesso de Hollywood. Confira aqui alguns títulos onde o “Merc” é mais
vendas, quebrando recordes em seu lançamento. E naque- do que um simples veículo.