Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Leandro Castro
Oltramari
Universidade
do Vale do Itajaí
Experiência
PSICOLOGIA
PSICOLOGIA CIÊNCIA
CIÊNCIA EE PROFISSÃO,
PROFISSÃO, 2010,
2010, 30
30 (2),
(1), 418-427
200-211
419
PSICOLOGIA
CIÊNCIA E PROFISSÃO,
Maria Eduarda Ramos & Leandro Castro Oltramari
2010, 30 (2), 418-427
Resumo: Este trabalho está baseado em uma atividade reflexiva de grupo com mulheres que sofreram
violência doméstica. Esse grupo teve como objetivos: promover discussões que propiciassem a reflexão das
mulheres sobre novas formas de enfrentamento das situações de violência ou das consequências desta e
formar uma rede social de apoio às mulheres e oportunizar vivências de interação entre as participantes para
gerar aprendizagem, desenvolvendo mudanças na sua realidade social. Para isso, foram utilizadas reflexões
de ensino-aprendizagem baseadas nas teorias de Paulo Freire, nas quais todos(as) ensinam e aprendem. O
grupo proporcionou a aprendizagem de novas formas de agir e pensar por meio da interação entre suas
participantes. As mudanças foram percebidas através dos relatos sobre a forma pela qual conseguiam buscar
seus direitos de igualdade de gênero, ou ainda, como estavam agindo, não se submetendo às agressões físicas
e psicológicas de seus companheiros, repensando suas atitudes em relação a eles. Identificou-se, por meio
deste trabalho, que, quanto mais agentes multiplicadores se mobilizarem para fazer algo, mais se promove
uma sociedade que reflita sobre os papéis estabelecidos para mulheres e homens, sobre a desigualdade de
gênero, os direitos humanos e a violência doméstica.
Palavras-chave: Violência contra mulheres. Violência na família. Grupos de apoio. Ensino-aprendizagem.
Abstract: This paper is based on an activity that ocurred in a reflexive group activity with women who
suffered domestic violence. This group had as objectives: the promotion of discussions which would favor
reflection among these women about new ways of dealing with violent situations or its consequences and
the creation of a support network for these women, providing them with an opportunity for social interaction
among them, so there might be some learning and changing processes in their social realities. For that,
teaching-learning reflections based on Paulo Freire’s theories were useful, so that everyone involved in the
debate group could teach and learn. The group provided these women an opportunity to act and think
through interaction among the group members. These changes were noticed by the way they were now able
to stand up and fight for their rights of gender equality, and the way they acted, differently from before, no
longer submitting themselves to physical or psychological aggression inflicted by their partners and reviewing
their own attitudes in their relationships. It was identified through this research that the more social agents
stand up to do something about domestic violence, the more reflections about gender equality and papers
stablisheds by society, domestic violence and human rights are promoted.
Keywords: Violence against women. Family violence. Support groups. Teaching-learning.
Resumen: Este trabajo está basado en una actividad reflexiva de grupo con mujeres que sufrieron violencia
doméstica. Ese grupo tuvo como objetivos: promover discusiones que propiciasen la reflexión de las
mujeres sobre nuevas formas de enfrentamiento de las situaciones de violencia o de las consecuencias de
ésta y formar una red social de apoyo a las mujeres y tornar oportunas vivencias de interacción entre las
participantes para generar aprendizaje, desarrollando mudanzas en la su realidad social. Para eso, fueron
utilizadas reflexiones de enseñanza-aprendizaje basadas en las teorías de Paulo Freire, en las cuales todos(as)
enseñan y aprenden. El grupo proporcionó el aprendizaje de nuevas formas de actuar y pensar por medio de
la interacción entre sus participantes. Las mudanzas fueron percibidas a través de los relatos sobre la forma
por la cual conseguían buscar sus derechos de igualdad de género, o inclusive, cómo estaban actuando, no
sometiéndose a las agresiones físicas y psicológicas de sus compañeros, repensando sus actitudes en relación
a ellos. Se identificó, por medio de este trabajo, que, cuanto más agentes multiplicadores se movilizaren
para hacer algo, más se promueve una sociedad que refleje sobre los papeles establecidos para mujeres y
hombres, sobre la desigualdad de género, los derechos humanos y la violencia doméstica.
Palabras clave: Violencia contra mujeres. Violencia doméstica. Grupo reflexivo. Enseñanza-aprendizaje.
Levando em conta esse contexto, em Para intervir com essa população, foram
2006, entrou em vigor a Lei nº 11.340/06, estabelecidos grupos reflexivos de gênero
conhecida como Lei Maria da Penha (Brasil, que vêm se mostrando uma alternativa para
2006). Essa Lei tem como proposta criar se trabalhar com homens e mulheres no
mecanismos para coibir e prevenir a violência enfrentamento da violência intrafamiliar e
doméstica e familiar, e prevê campanhas e de gênero. Esse modelo de grupo reflexivo
programas que promovam o enfrentamento “constitui um espaço de inclusão dos
da violência. Este trabalho irá relatar uma das sentimentos, da subjetividade e das relações
muitas formas possíveis de atendimento às em um sistema grupal de convivência e
mulheres que sofreram violência, o que está reflexão” (Acosta, 2004, p. 23). É um espaço
previsto na Lei. de reflexão sobre o cotidiano de seus
participantes. Não é um trabalho terapêutico,
Abordar-se-á a atividade realizada em uma porém tem efeitos terapêuticos. O grupo
instituição de apoio a pessoas que sofreram permite a troca de vivências, situações,
algum tipo de crime ou de violência, que sentimentos e histórias semelhantes que serão
fornece amparo jurídico, social e psicológico compartilhadas com os demais membros. Nas
para vítimas e familiares. Foram atendidas conversas, são proporcionadas identificações
nessa instituição, no período de janeiro e diferenciações que possibilitam a construção
a outubro de 2007, 201 pessoas, sendo de alternativas para as situações de violência
que 88,06% eram mulheres. Alguns dados doméstica (Acosta, 2004).
que caracterizam os casos atendidos são:
situações de violência doméstica (38,3%), Em 2006, foram iniciadas atividades reflexivas
estupro (3,48%) e assédio sexual (0,50%), de grupo com mulheres em situação de
que somam 42,28% dos casos1. violência doméstica. Esse grupo teve como
objetivo promover discussões que propiciassem
Há uma procura significativa pelo serviço a reflexão das mulheres sobre novas formas de
em decorrência da violência doméstica enfrentamento das situações de violência ou
contra mulheres nessa instituição. Esse tipo das consequências desta, e buscava também
de violência foi, em sua maioria, praticado discutir a formação de uma rede social
pelo cônjuge. Isso é compreendido por de apoio às mulheres vítimas de violência
algumas autoras como problemáticas que doméstica, além de oportunizar vivências
envolvem as discussões de gênero, em que de interação entre as participantes com a
o casal “cristaliza e reforça um círculo vicioso finalidade de aprendizagem, desenvolvendo
e perverso entre os gêneros” (Oliveira & mudanças na sua realidade social.
Vianna, 1993, p. 163). Gregori (1993) expõe
que não se pode determinar uma forma geral Grupo reflexivo de mulheres
de violência conjugal, e que há inúmeras que sofreram violência
motivações para que a relação violenta doméstica
aconteça na relação conjugal, portanto, é
necessário compreender o contexto em O trabalho partiu de uma perspectiva
que a briga ocorre e o seu significado. Não da Psicologia educacional, na qual se
há uma única causa ou explicação para a compreende que as mulheres participantes
violência contra mulheres, principalmente do grupo se comprometem com sua realidade
quando se trata de violência conjugal, pois quando se distanciam dela, para objetivá-la,
há mulheres que permanecem na relação de observá-la e transformá-la (Freire, 1979). É
violência mesmo existindo questionamentos necessário um afastamento do objeto para
constantes sobre o que faz essas mulheres se ter um olhar crítico e para refletir sobre
continuarem na relação que causa sofrimento essa realidade. Quando a realidade se torna
(Grossi, 1998). objetiva, faz com que os sujeitos possam
encontrar soluções para seus dilemas, já que um fenômeno social grave que causa
a realidade deixa de ser um beco sem saída consequências físicas e psicológicas para seus
para se tornar um desafio a ser respondido envolvidos. É rotineiro, de longa duração, e
pelo ser humano (Freire, 1980). É em grupo envolve não só a violência física como também
que essas mulheres podem ter um olhar a emocional e a psicológica (Morgado, 2004).
crítico sobre a realidade, pois, ao ouvir o Esse tipo de violência ganhou visibilidade
relato de outras em situações similares às com as lutas dos movimentos feministas,
suas, é possível pensar sobre sua própria
que denunciavam as situações utilizando
realidade, afastando-se dela para observá-la
frases como Quem ama não mata. Estudiosas
e transformá-la.
feministas elaboraram muitas perspectivas
Com o diálogo em grupo, proporciona-se sobre a violência doméstica contra mulheres.
um encontro entre pessoas. Esse diálogo não Algumas delas compreendem que as mulheres
pode ser um depósito de ideias, mas deve ter eram vítimas das agressões dos homens, e
um caráter de transformação das pessoas. “O outras ainda levavam em conta as relações
diálogo exige igualmente uma fé intensa no de gênero e hierárquicas entre homens e
homem, fé em seu poder de fazer e refazer, mulheres.
de criar e recriar, fé em sua vocação de ser
mais humano: o que não é privilégio de uma Gregori (1993) propõe outra perspectiva
elite, mas o direito que nasce com todos os para os casos de violência conjugal. Para
homens” (Freire, 1980, p. 83)1. ela, não existe uma dualidade entre algoz
e vítima, ou seja, discorda da ideia de que
Esses diálogos ocorreram em um grupo de
o agressor seja ativo e a vítima, passiva.
reflexão que teve como objetivo o ensino/a
Segundo a autora, existe uma tendência em
aprendizagem (Zimerman & Osório,
1997). Houve ensino e aprendizagem culpabilizar a diferenciação de gênero – em
por parte de todas as pessoas envolvidas, que a mulher é ensinada a ser subordinada –
já que, no processo de interação, todas para explicar a causa das relações violentas.
aprendem e ensinam. O grupo reflexivo No entanto, essas diferenciações de gênero
não se restringe ao ensino/aprendizagem ocorrem nas relações dos casais em geral,
como troca de informações, mas constitui, não caracterizando exclusivamente aqueles
através da participação do grupo, suporte que vivenciam a violência doméstica. Ao
para que suas integrantes incorporem e construir a dualidade entre homem agressor
manipulem instrumentos de questionamento e mulher vítima, a positividade é de denúncia
e de atuação sobre a realidade. Pensar é a e indignação. Entretanto, deixa-se desfocado
sustentação principal para a aprendizagem,
o fato de haver uma parceria na relação
e, no grupo, esse elemento intervém
conjugal, em que o casal utiliza a violência
ativamente (Bleger, 1993).
como forma de comunicação.
No grupo de mulheres, cada participante
1
A palavra homem ensina e aprende ao mesmo tempo. Isso se Nessa comunicação, o casal discute ou
é empregada pelo disputa com o objetivo de ver quem dará
autor para designar dá através das trocas de experiências, de
ser humano. discussões sobre as mulheres na sociedade, a palavra final. Assim, é feita uma cena,
Os autores do de exposição de sentimentos e de reflexão um jogo em torno dessa discussão. Cada
presente artigo não
concordam com a sobre as atividades de grupo, ou seja, pela um dirá algo que tentará fazer o outro se
utilização do termo homogeneidade e pela heterogeneidade das calar, e então, um acordo final se torna
homem para subs-
ideias de cada uma. impossível. A cena terá fim em três hipóteses,
tituir ser humano,
mas mantiveram segundo Barthes (1998): cansaço mútuo dos
a citação devido Mulheres em situação de violência doméstica parceiros, chegada de uma terceira pessoa
à literalidade da
citação.
Entende-se a violência doméstica como ou a substituição da réplica por agressão. É
sentia segura. Entretanto, com as narrativas exageradas. Todo discurso para explicar o
das outras, ela também resolveu falar daquilo conflito conjugal culpabiliza os homens e suas
que ela identificou como seu sofrimento (as fraquezas (Gregori, 1993).
agressões que sofria, entre outras questões).
Algumas falas das mulheres ilustram essa Algumas falas como as descritas a seguir
primeira discussão do grupo: “Sinto falta dele, demonstraram suas queixas: “O pai deles
apesar de tudo. Quando ele era bom, ele era fez eu matar (aborto) o irmãozinho deles,
muito bom” (Dora); “Não sou capaz, não dou e meus filhos nem sabem disso” (Rosani);
conta nem da casa e dos filhos, quanto mais “Fui obrigada a denunciá-lo porque apanhei
de trabalhar fora” (Carla); “Quando você vê na frente de todos os vizinhos. Depois eles
acontecendo violência com outras mulheres, diziam que, se eu não fosse denunciar, eles
você pensa que é um absurdo, mas quando iam” (Cintia); “Ele diz que eu não presto. Ele
é com você” (Cintia). O discurso queixoso fica falando mal de mim para todos os amigos
pôde ser constatado a partir das falas das dele. Eu não mereço isso, porque sei cozinhar,
participantes do grupo. limpar a casa, sou uma boa esposa” (Bruna);
“Minha família me criou para ficar com o
O lugar representado pela queixa para essas marido, não para separar” (Bruna); “Ele não
mulheres também pôde ser representado me bateu, mas sofri violência psicológica,
no momento em que as coodenadoras, nos negligência com a família, não é violência?
primeiros encontros, propuseram modificar o Claro que é” (Amanda).
nome do grupo. Elas preferiram permanecer
com o nome: Grupo reflexivo de mulheres Muitas vezes, as mulheres que sofrem
Muitas vezes, as
vítimas de violência. Esse nome só foi violência não consideram esses atos como
mulheres que
sofrem violência questionado pelas participantes após muitos violência (Morgado, 2004). Essa percepção
não consideram encontros e reflexões, despertando, assim, foi relatada em alguns casos, como, por
esses atos o desejo de modificá-lo para Grupo de
como violência
exemplo, “Ele não me machuca como antes,
(Morgado,
mulheres (“A palavra mulheres já diz tudo. Já agora só dá tapa, chute. Nada que me deixe
2004). cabe ali sofrimento, alegria, força, coragem, marcada” (Carla); “Nunca sofri violência,
tudo, – comentou uma das participantes). quem foi violentada foi minha filha;... Ele
me forçava a transar com ele, era horrível”
Muitos dos encontros foram baseados nas (Rosani).
trocas de queixas e relatos dessas mulheres.
Os assuntos presentes nesses discursos A queixa, como expõe Gregori, é presente
foram: insatisfação com o companheiro,
no discurso dessas mulheres. No entanto, foi
falta de confiança em si mesma, amar o
necessário ouvir os seus relatos queixosos para
companheiro mesmo na relação violenta,
que o grupo interagisse a partir de suas falas.
proteção e cuidado com o cônjuge, o lugar
A discussão entre elas, sobre semelhanças
das mulheres como donas de casa, esposas e
e diferenças, conselhos e questionamentos,
mães, traições do marido, alcoolismo e vícios
foi fundamental para a convivência entre
do companheiro, incapacidade de sair dessa
situação de violência e problemas com a as participantes. Ao ouvir os relatos, elas
sexualidade, entre outros. De maneira geral, entraram em contato com suas realidades,
os temas relatavam questões de gênero, não observando-as com certo afastamento. Com
o posicionamento das mulheres como sujeitos esse olhar distanciado do objeto, foi possível
na relação, e a desvalorização de si mesma. desenvolver uma reflexão crítica sobre a
As mulheres afirmaram, em seus discursos, realidade (Freire, 1979). Portanto, ouvir as
que o casamento era um projeto de vida a queixas dessas mulheres e fazer com que
longo prazo que havia sido desestabilizado se escutassem reciprocamente permitiu-lhes
pelas condutas inadequadas do marido, como apreender novas formas de pensar e agir frente
bebedeira, mulheres, boemia, práticas sexuais à violência que enfrentavam (Freire, 1979).
sua realidade através de uma ação-reflexão, que faz as mulheres procurarem a delegacia
lendo os quadrinhos e ouvindo a música e denunciarem a violência (Oliveira &
para uma aproximação crítica (Freire, 1980). Vianna, 1993). Entretanto, diante da vida
e da situação de violência, essas mulheres
Em um dos encontros, uma das participantes demonstraram não conseguirem se perceber
relatou estar “largando a caneca de pedinte como agentes atuantes na relação e capazes
e se responsabilizando por sua vida e de se responsabilizar por si mesmas.
felicidade” (Glória). A partir dessa fala, as
coordenadoras propuseram uma atividade: Alguns casais mantêm uma relação de
as mulheres escreveriam suas queixas em violência de forma não reflexiva ou
um papel (exemplos, “gostaria de meu espontânea, e participam do jogo de
marido me valorizasse”, “queria que minha acusações e xingamentos. Entretanto, é no
filha me desse atenção”, entre outras). corpo da mulher que haverá maiores danos,
Depois deveriam jogar as queixas em uma e é nela que o medo se instala, como é
caneca denominada: caneca do pedinte, frequente ouvir nos relatos das participantes
ou seja, aquela caneca que se utiliza para do grupo: “Peguei o ônibus com o olho
pedir esmola aos outros. Em seguida, cada roxo, o cobrador me olhava e eu morri de
participante pegou aleatoriamente um papel vergonha” (Carla). A mulher se torna vítima
de dentro da caneca, sem ser o seu papel. nessa situação, pois sofre os danos físicos e
Elas leram para o grupo o que estava escrito psicológicos, porém, de certa forma, é uma
e depois disseram se se identificavam ou relação de violência, e, quando as mulheres
não com o que leram, e qual conselho se colocam como não sujeitos, passivas,
dariam para quem escreveu a queixa. fazem parte desse ciclo de violência (Gregori,
Também foi questionado ao grupo quem 1993).
mais se identificava ou não com o que foi
lido. Essa dinâmica rompeu a fala queixosa Foram realizados três encontros com histórias
das participantes, já que falavam da queixa que davam possibilidade de reflexão sobre
de outra, e não diretamente de si mesmas. suas condições de agência diante da situação
No final, todas devolviam os papéis para a que vivenciavam, de se responsabilizarem
caneca do pedinte, que foi jogada no lixo por suas vidas, de lutarem pelos seus ideais
(simbolizando o abandono das queixas). e pelos seus direitos e de enfrentarem as suas
As mulheres do grupo relataram que a dificuldades. Houve dois discursos presentes
dinâmica serviu para conhecerem que havia nas reflexões. Um deles era que “sou sempre
sentimentos semelhantes entre elas e o engolida pela vida” (Carla); “Não consigo”
quanto se queixavam sem agir para mudar (Márcia); “Estou vivendo tudo isso por
a situação. castigo, eu mereço estar passando por isso”
(Carla). E outro era: “eu estou enfrentando os
Ao se colocarem no papel de vítimas e desafios da separação, é difícil, mas eu vou
verbalizarem suas queixas, essas mulheres conseguir” (Dora); “Enfrentei as situações
ficavam passivas diante de suas vidas. complicadas de doenças, inclusive, e sei que
Quando foi proposto a elas que deixassem vou superar” (Amanda). Então, as mulheres
de se queixar e se responsabilizassem que se mostravam mais confiantes diante do
por si mesmas, através do simbolismo da futuro apoiavam as que estavam inseguras,
caneca do pedinte, apesar da dificuldade, sugerindo possibilidades de enfrentamento
conseguiram realizar a tarefa. A maioria das das situações, como, por exemplo, “arruma
mulheres expressava o sentimento de serem um emprego, eu vi que tem vaga numa
vítimas, e foi através da narrativa que isso loja, vou te passar” (Amanda). Esse é um
foi percebido como um traço identificatório exemplo do processo educativo que o grupo
entre elas. Esse sentimento de ser vítima, vivenciou, de ensino/aprendizagem e apoio
por um lado, pode ser positivo, uma vez mútuo entre as participantes.
Referências Acosta, F. (2004). Conversas homem a homem: grupo reflexivo Brasil. (2006). Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria
de gênero: metodologia. Rio de Janeiro: Instituto NOOS. mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher. Recuperado em 10 de outubro de 2008,
Azerêdo, S. (2007). Preconceito contra a mulher: diferença, de http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/_Ato2004-2006/2006/
poemas e corpos. São Paulo: Cortez. Lei/L11340.htm
Barthes, R. (1998). Fragmentos de um discurso amoroso. Rio de Morgado, R. (2004). Mulheres em situação de violência
Janeiro: Francisco Alves. doméstica: limites e possibilidades de enfrentamento. In H.
Gonçalves & E. Brandão (Ed.), Psicologia jurídica no Brasil (pp.
Bleger, J. (1993). Temas de psicologia: entrevista e grupos. São 309-339). Rio de Janeiro: NAU.
Paulo: Martins Fontes.
Oliveira, E. M. de, & Vianna, L. A. C. (1993). Violência conjugal
Freire, P. (1979). Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra. na gravidez. Revista Estudos Feministas, 1(1), 162-165.
Freire, P. (1980). Conscientização: teoria e prática da libertação: Osório, L. C. (2003). Psicologia grupal: uma nova disciplina para
uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: o advento de uma era. Porto Alegre: Artmed.
Moraes.
Suárez, M., & Bandeira, L. (Ed.). (1999). Violência, gênero e crime
Gregori, M. F. (1993). Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, no Distrito Federal. Brasília, DF: Paralelo 15.
relações violentas e a prática feminista. Rio de Janeiro: Paz
e Terra. Testoni, R. J. F., & Tonelli, M. J. F. (2006). Permanências e rupturas:
sentidos de gênero em mulheres chefes de família. Psicologia
Grossi, M. P. (1998). Rimando amor e dor: reflexões sobre e Sociedade, 18(1), 40-48.
a violência no vínculo afetivo-conjugal. In M. P. Grossi
& J. M. Pedro (Ed.), Masculino, feminino, plural: gênero Zimerman, D., & Osório, L. C. (Ed.). (1997). Como trabalhamos
na interdisciplinaridade (pp. 293-313). Florianópolis: Ed. com grupo. Porto Alegre: Artes Médicas.
Mulheres.