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SERVIÇO SOCIAL
Quarto Texto: “Serviço Social, Das Tradicionais Formas De Regulação Sócio Política Ao
Redimensionamento De Suas Funções Sociais”
Autor: Helder Boska De Moraes Sarmento;
A discussão acerca da metodologia no Serviço Social pode ser situada no momento em que
amadurece a perspectiva “Intenção de Ruptura” no que se refere ao encaminhamento do processo
formativo; essa reflexão é impensável fora do processo de renovação do Serviço Social;
A reorientação curricular (anteriormente a metodologia profissional era subdividida em
Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo e Serviço social de Comunidade), insere-se no
bojo da discussão sobre os fundamentos sócio políticos e ideológicos da profissão. Este aspecto
legado pelo movimento de reconceituação foi extremamente positivo para a profissão.
O colapso do monolitismo (não havia idéias dissidentes e nem projetos profissionais em
conflito) que vigorava até então na profissão, cedeu lugar à uma certa perplexidade, pois havia
de se construir – após as contribuições trazidas pelo movimento de reconceituação – novos
parâmetros de análise da profissão e seus rebatimentos na prática de ensino de Serviço Social.
A primeira parte do livro traz uma discussão acerca de ensino da metodologia nas unidades
de ensino (pesquisa de âmbito nacional) e a segunda aparte uma discussão mais teórica acerca
dos fundamentos dessa questão.
A autora parte do pressuposto de não pode haver uma discussão acerca da metodologia sem
antes refletirmos sobre a teoria que imprimirá um norte aos procedimentos metodológicos.
Nobuco sublinha sua argumentação no fato de que o Serviço Social não é uma ciência e
portanto, não tem um objetivo próprio; não tendo um objetivo próprio, também não tem uma teoria
e uma metodologia próprias.
A fundamentação do Serviço Social, seja em termos teórico ou práticos (teórico-
metodológicos), encontra seu cerne nas chamadas ciências sociais e na teoria social marxiana.
Nobuco chama atenção de que algumas incongruências no interior da profissão existem por
não haver clareza suficiente da teoria marxiana; a velha queixa de que a teoria não ilumina a
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prática ou que “a teoria na prática é outra” – que é recorrente na história so Serviço Social – se
mantém devido a leituras equivocadas acerca desse referencial teórico.
Inexiste uma “aplicação” da teoria na prática (como se fosse uma injeção) antes, a relação
que se estabelece é de uma unidade, pois: “na teoria marxiana a questão do conhecimento está
internamente ligada com a questão da transformação. O conhecimento visa a transformação que é
a prática social... a teoria por si só não transforma o mundo. Ela pode contribuir para a
transformação desde assimilada por aqueles que, através de atos reais e efetivos, visem tal
transformação. A teoria marxiana é a única teoria que resgata a totalidade e que também coloca a
necessidade da transformação via a revolução socialista. E o que é teoria? “é a forma de
organização do conhecimento científico que nos proporciona um quadro integral de leis, de
conexões e de relações substanciais num determinado domínio da realidade. A teoria consiste,
também, num conjunto de princípios e exigências interligadas que norteiam os homens no
processo de conhecimento e na atividade transformadora”.
A questão da transformação é colocada por essa perspectiva teórica quando se registra a
necessidade de superação da alienação econômica ( o fenômeno da mais valia) e todas as suas
outras dimensões: a ideologia, cultural, filosofia, etc. Sob o sistema capitalista, a lógica de
exploração e de expansão generalizada da miséria se fazem presente no cotidiano das classes
subalternizadas.
A construção da dicotomia entre teoria e prática é produto de uma leitura positivista de
ciência e de prática social. A realidade social é indispensável. “Na medida em que o homem age
sobre a natureza, a sociedade, ou outros homens reais, tem-se como resultado a transformação
real, objetiva do mundo natural ou social. Nesse sentido pode-se dizer que a prática é o
fundamento da teoria, ou seja, o ponto de partida e a base principal e substancial do
conhecimento (...) na prática colocam-se à prova os conceitos e as teorias; estabelecem-se a sua
veracidade ou falsidade, precisam-se e sistematizam-se os conhecimentos” (pág. 101).
O teoricismo e o praticismo estão presentes quando não se tem clareza acerca da unidade
T/P, ocorrendo, então, a potencialização de uma ou de outra dimensão, ocasionando uma leitura
equivocada acerca do real. Todas as duas posturas se equivalem (apesar de divergentes) ao
renunciar à leitura da realidade.
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Nas propostas de ensino há uma tendência que considera haver necessidade de distinção
entre a metodologia do conhecimento acerca do ser social e a metodologia de ação sobre esse
ser social.
Ou seja, a primeira seria capaz de elucidar os leis mais gerais do capitalismo e sua
influências na vida sócio-econômica; já a Segunda daria conta de operacionalização da
intervenção profissional.
Karl Marx aos construir seu arcabouço teórico não estava preocupado com profissões, mas
exatamente em desvendar o cerne, o eixo da lógica capitalista de produção; o entendimento
acerca da funcionalidade dessa lógica é que pode nortear as visões / práticas sócio profissionais
inseridas na divisão sócio-técnica do trabalho
O método do conhecimento está estreitamente relacionado à teoria, às leis gerais do
funcionamento e desenvolvimento do ser social que se pretende estudar... A teoria social marxista
já tem embutida em si o método do conhecimento. Nesse caso, a teoria tem uma função
explicativa e reguladora, indicando como o pesquisador deve abordar o objeto que pretende
conhecer ou transformar, e que operações cognoscitivas ou práticas devem realizar para alcançar
o objetivo pretendido.
Quando escrevemos um texto, não precisamos ficar anunciando que referencial teórico
iremos utilizar; a forma de abordagem do fenômeno já situará ao leitor qual a minha leitura e
entendimento da questão.
Entretanto o método não transforma o real pois entre a teoria e a atividade prática
transformadora, se insere um trabalho de mediação (...) a teoria precisa ser transformada em
prática através das mediações adequadas buscando sua objetivação ou realização (pág. 102).
Mediação: é a relação do imediato com o mediato; o imediato se refere aos fenômenos
com os quais estou lidando nesse momento, como por exemplo: o abandono de crianças, a
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criminalidade, etc. e o mediato é a discussão da estrutura social – da ideologia, enfim, da super
estrutura da sociedade capitalista.
Torna-se necessário a discussão acerca da metodologia supere o formalismo das etapas pré-
concebidas e o empirismo grosseiro; também é indispensável a superação de ecletismo (a soma
e perspectivas analíticas diferenciadas e até excludentes).
OBS: O autor tece críticas quanto a grade curricular que continuou mantendo a tri-partição
das metodologias (funcionalismo / materialismo histórico-dialético e fenomenologia, no lugar do
Serviço social de caso, Serviço Social de grupo, Serviço Social de comunidade).
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O Serviço Social consiste na mediação entre a produção material e a reprodução do sujeito
para esta produção e, na mediação da representação do sujeito nessa relação.
A re-produção implica o trabalho e o processo de manter a sobrevivência da força de
trabalho no cotidiano ( pela lógica capitalista ocorre uma separação entre condições de produção
e condições de sobrevivência). Embora não consuma sem trabalhar, nem trabalhe sem consumir,
a esfera de produção lhes parece separada da re-produção. Essa disjunção se manifesta na
atribuição de recursos para sobrevivência fora do processo de pagamento do trabalho, parecendo
este como manutenção de não trabalho, ou seja, do excluído da produção (...) o “benefício”
aparece como separado da produção como ato apenas de re-produção.
A lógica das políticas sociais é a manutenção da exclusão como elemento insuprimível desta
forma de organização social.
A re-produção é desvalorizada frente a produção; re-produzir-se é meio para produzir na
lógica do capital; já na lógica do sujeito o produzir é meio de re-produzir-se.
A representação pode ser visualizada a partir da consciência que o indivíduo tem de si
mesmo e do outro. As condições de re-produção são variáveis de acordo com a correlação de
forças presentes na sociedade num determinado momento histórico.
A representação envolve as manifestações da cultura, da ideologia, do eu, da vida diária e
das relações de classe de maneira heterogênea. A identidade de classe não é nem mecânica e
nem instantânea (por isso, os diferentes espaços onde estão os trabalhadores, podem propiciar
essa consciência de classe; a luta no bairro por exemplo).
O resgate da identidade se produz através de um processo sócio-afetivo de relações
complexas envolvendo mitos, valores, sentimentos, poderes, discriminações (o fenômeno da
super posição intricada de dominações: o machismo, o racismo, a xenofobia, etc).
Faleiros aponta para a necessidade do Assistente Social trabalhar em seu cotidiano, as
micro-relações que estão dadas como naturais e a – históricas, auxiliando no desvelamento de
sua historicidade.
“O intelectual que trabalha a mediação de representação articulada à re-produção, é o
Assistente Social. É uma de suas tarefas cotidianas, desafiar e retraduzir a representação do
dominado na visibilidade do dominante” (é por ser diferente dos seus usuários que Assistente
Social pode efetivar sua contribuição).
A construção de categorias de análise para cada conjuntura de trabalho, visualizando as
relações de forças e os blocos em presença, é pressuposto metodológico fundamental, na
construção de uma racionalidade ao mesmo emancipatória e instrumental que permita unir o
macro com a micro política.
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Temos que Ter clareza de que é fundamental a construção de uma articulação entre as
mudanças operadas na micro-política (cotidianeidade) e as mudanças operadas num nível mais
geral de sociedade; trabalhar a representação e a reprodução é o desafio metodológico do Serviço
Social nos dias atuais.
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a vertente crítico-dialética arranca da expressão empírica para apanhar a processualidade que
a dissolve e resolve, na busca de suas tendências e regularidades; a sistematização do
material empírico constitui um elenco de determinações simples que permite o movimento da
razão no sentido de agarrar e reconstruir o movimento imanente do processo objetivo, o
movimento da objeto real.
A reflexão teórica não constrói um objeto, ela reconstrói o processo do objeto historicamente
dado; a teoria permite historicizar o surgimento e funcionalidade dos fenômenos.
José Paulo tece uma crítica àqueles analistas que trazem uma preocupação interna à
profissão: O Serviço Social tem uma teoria, método e metodologia próprios? Segundo esse autor
essa preocupação denota um recuo em termos do que a profissão alcançou – em termos de
maturidade – quando começou a pensar-se na relação com a realidade social e a partir dos
paradigmas das ciências sociais e da teoria marxiana.O autor sublinha a existência de duas
leituras acerca do Serviço Social no que se refere a polêmica da metodologia.
a) Visão do Serviço Social como profissão cujo fundamento elementar é um corpo teórico e
metodológico particular e autônomo.
b) Concepção do Serviço Social como profissão cujo fundamento elementar é um espaço
sócio-ocupacional, circunscrito pela divisão social de trabalho própria da sociedade
burguesa consolidada e madura.
Qual a leitura que cada uma dessas concepções fazem acerca da sistematização da prática
e de sua relação com a teoria?
a) A sistematização aparece enquanto otimizadora da própria intervenção prática,
cristalizando pautas de procedimentos profissionais.
OBS: O Serviço Social sempre se utilizou dos recursos técnicos / teóricos provindos das
ciências sociais e humanas; o Serviço Social sempre foi um segmento restrito e condicionado do
complexo de práticas institucionais.
A preocupação com a cientificidade do Serviço Social são preocupações conservadoras.
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José Paulo indica que acaba-se por esgotar a teorização na sistematização (da prática) : a
prática refigurada idealmente (modelo). A elaboração formal – abstrata dos padrões mais
regulares e reinterativos da prática tende a surgir como produto teórico.
b) O Serviço Social opera em conjunto de representações teóricas e ideais que extrai das
chamadas ciências sociais ou da tradição marxista – rearticuladas em função de suas demandas
de intervenção.
- Gramsci: filosofia espontânea – “todo homem é filósofo por ser portador de uma concepção de
mundo, de vida”.
- Filosofia de Práxis: é antes de tudo crítica de senso comum, não se tratando de novidade
absoluta, mas de “inovar, tornar crítica uma atividade já existente” (Gramsci).
- Reforma intelectual e moral: formação da vontade coletiva / a luta hegemônica e o papel nos
intelectuais (“o povo sente, mas sabe e o intelectual sabe, mas não sente”).
- José Paulo Netto: Tece críticas quanto a utilização de Gramsci e sublinha que não fica clara
a discussão deste pensador no âmbito do Serviço Social (ver pág. 186).
Karel Kosic – “...o concreto se torna compreensível através da mediação do abstrato, o todo
através da mediação da parte...”
1) Apropriação do real em sua perspectiva histórica. Apreensão do abandono nas suas múltiplas
determinações – determinação de classe social, inserção no processo produtivo, noção de
família burguesa e família proletária, o controle social da sexualidade, etc.
2) Abstrai-se o fenômeno específico com o qual se está ocupando, buscando apreendê-lo nas
determinações constitutivas de sua interioridade e singularidade.
Reconstrução do processo histórico, através do qual o pertencimento de classe determinou a
situação específica de cada criança e de sua mãe. È possível, a partir daí, entender-se os
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porquês desta mãe em sua singularidade “abandonar” seus filhos, inserindo-os
prematuramente no mercado informal de trabalho.
3) Reconstrução da totalidade a partir das conexões internas do fenômeno.
Repensar aquela criança, com sua singularidade, no fenômeno do abandono, não mais como
um ator individual, porém como um sujeito coletivo. O abandono pois, é redimensionado.
Retira-se este fenômeno da ordem moral, evitando o juízo de valor a partir de padrões
culturais, morais, religiosos e hegemônicos.
MÉTODO/METODOLOGIA: PENSAR/FAZER/PENSAR
È importante observar que esse processo é uma operação de pensamento que não está
dissociada do ato de intervenção. Ao contrário, as estratégias de intervenção delineiam-se no
processo de abstração, a partir das imposições decorrentes das determinações do fenômeno, não
sendo portanto, um ato de vontade individual, de qualquer dos sujeitos da relação.
Ainda que delineadas no processo de abstração, as estratégias de intervenção realizam-se
no fazer. Elas supõem a definição clara de objetivos profissionais, capazes de plasmar no real a
intencionalidade do agir profissional.
As estratégias de intervenção materializam-se nas relações entre sujeitos que é medida pelo
método com o auxílio dos instrumentos e técnicas. Estes são recriados no Serviço Social pela
intencionalidade, que é orientada pela referência teórica.
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Que utilidade tem para o assistente social que trabalha na intervenção direta nas
organizações governamentais, não governamentais e empresariais uma elaboração teórica da
mediação?
Serviço Social profissão interventiva e por isso o assistente social precisa além de
conhecer a realidade na sua complexidade, criar meios para transformá-la na direção de
determinado projeto sócio profissional.
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A re-construção do objeto profissional implica necessariamente:
Singularidade – devido à sua peculiar inserção sócio institucional, o assistente social coloca-se
em contato com vários níveis da realidade, que aparecem no plano da singularidade na forma de
fatos/problemas isolados. Considerando que ele se encontra num contexto institucionalizado, sua
aproximação aos fatos/problemas se dá mediatizada por uma determinada demanda institucional,
que é a representação da requisição dos resultados esperados para o trabalho profissional, dentro
de objetivos e perfil ideológico organizacionais.
A demanda institucional aparece ao intelecto do profissional despida de mediações,
paramentada por objetivos tecnoperativos, programática ou populacional. Numa palavra, a
demanda institucional aparece na imediaticidade como um fim em si mesma, despida de
mediações que lhe dêem um sentido mais totalizante.
Outro elemento que merece destaque é a necessidade do domínio da facticidade, ou seja, do
conhecimento empírico do real; condição para sua ultrapassagem. O controle de informações
implica um maior ou menor poder de fogo no jogo de forças em presença (Falleiros, 1985).
O objeto de intervenção profissional, visto exclusivamente do ângulo da singularidade, não
ultrapassa as demandas institucionais, tampouco logra alcançar ações mais ousadas no campo
das transformações sócio institucionais.
Universalidade
Particularidade:
As leis tendenciais que são capturadas pela razão na esfera da universalidade, tais como leis
de mercado, relações políticas de dominação, etc, como que tomassem vida, se objetivassem e se
tornassem presentes na realidade da vida singular das relações sociais cotidianas,
desingularizando-as e tornando aquilo que era universal em particular, sem perder seu caráter de
universalidade nem tampouco sua dimensão de singularidade.
A particularidade é a categoria ontológica-reflexiva que permite que as leis sociais
tendenciais se mostrem aos sujeitos envolvidos na ação (responsável, usuários e outros agentes)
e ganhem um sentido analítico-operacional nas suas vidas singulares.
O conjunto de complexos que a razão arranca do real através de aproximações sucessivas,
possibilita uma visão mais ampla e profunda da realidade social, a partir da qual e na qual se
inscreve a intervenção profissional.
O aparato operativo, que se particulariza nas práticas profissionais, deverá ser construído,
executado e (re)construído dentro de uma perspectiva ontológica de fidelidade ao movimento do
objeto de intervenção e não segundo uma concepção abstrata do espaço profissional do
assistente social.
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Condições objetivas: são aquelas relativas à produção material da sociedade, são condições postas na realidade material.
Exemplo: divisão do trabalho, propriedade privada dos meios de produção, a conjuntura, os espaços sócio profissionais; condições
subjetivas: são as relativas ao sujeito, às suas escolhas, do grau de qualificação, competência, ao seu preparo técnico e teórico
metodológico, referenciais teóricos, metodológicos, dentre outros.
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O que ocorre com a instrumentalidade, com a qual os homens controlam a natureza e
convertem os objetivos naturais em meios para o alcance de sua finalidades, é que ela é
transporta para as relações dos homens entre si, interferindo em nível da reprodução social.
Os homens tornam-se meio/instrumentos de outros homens, a partir da compra/venda da
força de trabalho como mercadoria, de modo que a instrumentalidade, convertida em
instrumentalização de pessoas, passa a ser condição de existência e permanência da própria
ordem burguesa, via instituições e organizações sociais criadas com este objetivo.
Na sociedade do capital, o trabalhador deixa de lado suas necessidades enquanto pessoa
humana e se converte em instrumento para a execução das necessidades de outrem (de sujeito,
transforma-se em objeto).
b.3) Nas modalidades de intervenção que lhe são exigidas pelas demandas das classes
sociais. Estas intervenções, em geral, ocorrem no nível do imediato, sendo de natureza
manipulatória, segmentadas e desconectadas das suas determinações estruturais,
apreendidas nas suas manifestações emergentes, de caráter microscópico.
Nos três casos acima (b1, b2, b3) são operações realizadas por ações instrumentais, são
respostas operativo-instrumentais, nas quais impera uma relação direta entre pensamento e ação
e onde os meios (valores) se subsumem aos fins. Abstraídas de mediações subjetivas e
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universalizantes (referenciais teóricos, éticos, políticos, sócio profissionais, tais como os valores
coletivos), estas respostas tendem a perceber as situações sociais como problemáticas
individuais.
No Brasil, com o crescimento da miséria e agudização das tensões políticas, bem como o
fato das políticas sociais, enquanto mecanismo de regulação social, não conseguirem garantir o
atendimento desta demanda crescente, vão sendo criados novos mecanismos, como formas de
solução a estes problemas e suas contradições, marcados pela seletividade.
Os plantões sociais são espaços que acabam por tornarem-se verdadeiros centros de
triagem e encaminhamentos de demandantes para garantia de suas necessidades básicas. Assim,
no interior das organizações sociais e principalmente naquelas de perfil assistencial, justamente
por não serem capazes de absorver a grande demanda, a triagem se constitui uma prática
institucional cumprindo seu perfil de seletividade.
É nessa prática que o Serviço Social é chamado a atuar, principalmente, por conhecer as
reais necessidades da população, valendo-se de critérios de elegibilidade, incorporado nas
funções burocráticas e, em última instância, marcado por uma carga de poder decisório sobre as
condições de vida desta população.
Não por acaso, tradicionalmente, o plantão social tornou-se um serviço, por vezes, quase
sinônimo de Serviço Social, com procedimentos inerentes ao seu fazer profissional entendidos
como técnicas de triagem.
Dessa feita, constituiu-se como um serviço permanente, muitas vezes confundido como um
espaço físico, mesmo que precário, sem solubilidade, marcado pelos processos de aprendizagem
e disciplinamento burocrático-institucional, através do qual o conhecimento criterioso da vida da
população atendida subsidia uma ajuda individual redutora de tensões, base sobre a qual
definem-se os critérios de elegibilidade e encaminhamento.
Assim, o encaminhamento, muitas vezes confundido com transferência de responsabilidade
entre setores e organizações, torna-se um serviço sempre parcial e insuficiente.
O encaminhamento ainda não é compreendido como a busca de uma solução para os
problemas e situações vivenciadas pela população, como garantia de direitos.
Por outro lado, identificam-se práticas profissionais que ao privilegiarem ações coletivas,
descaracterizam o plantão social como serviço emergencial para o atendimento direto e
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mobilizador de recursos, quando necessários. Assim, se por um lado, esses profissionais ao optar
por reduzir os mecanismos assistencialistas buscam alcançar novos direitos sociais, por outro,
desprestigiam o atendimento direto de situações imediatas e/ou emergenciais específicas desta
parcela significativa da população.
O plantão social continua sendo um serviço necessário ao atendimento direto, concreto e
emergencial da população, sob o qual estão abrigados um conjunto de ações educativas (político-
ideológicas), através das quais são garantidas uma parcela das necessidades básicas, sem
necessariamente serem entendidos ou efetivarem-se como direitos sociais.
Entende-se que o plantão social está circunscrito pelas relações entre a existência de
necessidades da população e a ausência das condições para supri-las; portanto, sua superação
não é apenas técnica ou gerencial, mas acima de tudo política, pois implica uma recondução das
formas de compreender os direitos sociais e implementar as políticas sociais e, nestas, a
reorganização dos serviços sociais.
Assim, compreende-se que as possibilidades de superação das tradicionais práticas de
triagem e encaminhamento realizadas através do plantão social implicam:
3. avaliar as demandas e necessidades que não estão sendo supridas, com base na
informação sistematizada e compartilhada com a população, a partir da ótica dos
direitos sociais, visando rever os programas e serviços que se destinam a estas
situações, possibilitando, ainda, a qualificação da infra estrutura e dos serviços.
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É neste contraditório campo de relações sociais que os interesses e necessidades vão se
constituindo em demandas, na medida em são apropriadas pelas organizações e se
institucionalizam em resposta. Nesta prática institucional, a leitura e análise sistemática dessa
realidade pelos assistentes sociais é de vital importância pois, das solicitações individuais,
esparsas, casuais ou institucionalizadas, podem se constituir demandas coletivas
potencializadoras de novas conquistas e direitos sociais ou de novos serviços e projetos voltados
aos interesses diretos da população atendida.
Para tanto, a informação clara e precisa dos recursos, serviços e direitos é fundamental,
papel para o qual o assistente social tem se preparado significativamente nos últimos anos,
consolidado pela postura explicitada pelo Código de Ética profissional.
Um fator determinante para que isso seja realizado é a organização e o desenvolvimento da
prática e postura investigativa, que implicará diretamente na qualificação profissional. É aí que se
percebe o quanto as facetas da realidade apreendida pelo assistente social em sua prática
investigativa se constituem fonte possibilitadora de seu fazer, e mais, de repensar o seu fazer, sua
prática institucional.
É ainda neste espaço da prática investigativa que se torna relevante o domínio de
conhecimento sobre os recursos institucionais existentes. Normalmente reconhecido e
denominado cadastramento de recursos sociais, consideramos hoje que o domínio da informação
e conhecimento crítico dos direitos sociais, serviços critérios sócio-institucionais de atendimento
são fatores fundamentais para a tomada de decisão e ação, tanto para o assistente social ou
instituição, mas principalmente para a população usuária e demandante.
Será que temos clareza de que a questão social (que é o objeto do Serviço Social) “é a
manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a
burguesia?” (Marilda Iamamoto).
A autora sublinha que o projeto ético-político profissional indica o objetivo desta intervenção:
a construção de uma sociedade democrática que, implica a constituição de uma prática com
caráter reflexivo. A prática educativa deve ser crítica, criativa, politizante, que aponte para a
ruptura com o instituído.
A prática reflexiva tem como base a socialização da informação como instrumento de
indagação e ação sobre a realidade social. A autora sublinha que a direção a ser impressa é o
investimento em trabalhos grupais (ênfase no coletivo). O saber socializado tem como objetivo a
instrumentalização da população (construção da cultura do direito).
O direito existe formalmente, mas, dependendo da forma como se usufrui dele, transforma-se
num objeto de favor, doação, constrangimento, troca...
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A participação do usuário como sujeito na relação profissional não se realiza apenas pelo
“desejo” do profissional: é a presença da horizontalidade, da solidariedade, articuladas à
competência para produzir uma ação investigativa, crítica e politizante.
A autora sublinha o conceito de senso comum (impossibilidade de uma ligação clara entre
consciência e seu objeto – relação teoria/prática), cotidianeidade: “a prática cotidiana, espontânea,
é auto suficiente e dispensa a participação da atividade teórica. O cotidiano assim “é um mundo
de coisas e significações em si.”
“Uma prática voltada para a criação / reprodução de relações solidárias, horizontais,
democráticas, não se encontra de forma acabada” (Vasconcelos). O princípio é a aceitação e o
respeito às diferenças. Ser solidário significa ser igual. Significa ter e partilhar interesses e
responsabilidades recíprocas.
O lugar profissional exige do assistente social a responsabilidade e o dever de trazer para o
espaço profissional o desconhecido, a informação inacessível e diferente, o saber, o conhecimento
impossível de ser produzido pelos diferentes segmentos da população, exatamente pela inserção
que tem na realidade social.
A autora sinaliza que a direção social da prática objetiva o fortalecimento da população
usuária dos serviços sociais como sujeitos políticos e coletivos, ultrapassando “um discurso de
mera denúncia para a elaboração de propostas competentes e eficazes para melhorar a qualidade
dos serviços prestados e criar mecanismos que propiciem a crescente participação da população
no controle desses serviços” (Iamamoto, 1992).
Para isso faz-se necessário uma capacitação permanente do assistente social para tornar-se
competente.
A autora elege alguns temas (nove temas) que articulados entre si, indicam os cuidados
metodológicos que o assistente social deve ter no processo de construção de sua ação.
Ana Vasconcelos organiza a exposição desse seu texto através de temas que vão se
articulando entre si; o destaque dos temas foi feito a partir de uma preocupação pedagógica; não
devem assim, ser entendidos de forma isolada; eles buscam apresentar os quesitos à construção
de uma prática reflexiva.
Partindo da consideração de que a linguagem é nosso instrumento de trabalho (conforme
ressaltado por Marilda Iamamoto), a autora sublinha que a prática reflexiva tem como base à
socialização da informação como instrumento de indagação e ação sobre a realidade social. À
população não basta se organizar para reivindicar; faz-se necessário ter acesso a um saber que a
instrumentalize no como e no que reivindicar, na busca de alternativas possíveis e como viabilizá-
los.
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O homem comum não tem o recurso teórico para entender e transformar o mundo. A
ausência de conhecimento acerca dos direitos por parte da população faz com que ela seja
manipulada pela instituição, não as utilizando enquanto direito de cidadania.
Vasconcelos sublinha que a socialização das informações seguramente pode ser utilizada na
transformação das condições geradoras do adoecimento que, sem sobra de dúvida, repercutirão
na melhoria da qualidade de vida da população.
A autora sinaliza que a ação e a reflexão se constituem, para o homem comum (dotado de
um senso comum) em momentos separados. A reflexão, enquanto momento de pensar a prática, a
vida, é considerada atividade improdutiva, que não traz para a vida diária, contribuição imediata,
prático-utilitária, tornando-se desnecessária. O homem comum, na luta por sua sobrevivência
diária, luta pela satisfação das necessidades de reprodução de si e de sua família. Dessa forma, a
prática cotidiana, espontânea, é auto-suficiente e dispensa a atividade teórica. A cotidianeidade do
homem comum está condicionada social e historicamente; superar esse nível de consciência é o
grande desafio dos profissionais que lidam com sujeitos em processos educativos. O homem
comum que não se apropria das categorias de análise do patrimônio intelectual, fica
impossibilitado de desvendar a realidade e, conseqüentemente não tem condições de participar do
processo de sua transformação enquanto ser histórico.
É nesse sentido que Vasconcelos sublinha a socialização das informações enquanto
elemento fundamental, pois prioriza as demandas da população usuária. Essa socialização exige
do profissional uma competência teórica, técnica e política no que se refere à articulação das
diferentes políticas e aos recursos disponíveis, mas nem sempre conhecidos.
Aqui a autora chama a atenção para o fato de que os assistentes sociais “se escondem”
atrás dos chamados “limites institucionais” para justificarem a ausência de ações profissionais,
ficando sua prática na maioria das vezes, muito aquém das reais possibilidades de ação. Outras
vezes busca o “serviço ideal” ou “usuário ideal”. Na maioria das vezes, objeto da ação profissional
é visualizado como se fosse um obstáculo; assim sendo, perde-se a dinâmica característica da
própria realidade que está a demandar nossas ações.
Vasconcelos chama nossa atenção para o fato de que o espaço profissional não está dado à
priori; a preparação do espaço profissional requer o conhecimento dos demandantes dos serviços
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e de suas demandas – reais ou potenciais, aparentes ou implícitas – num processo continuado e
de longo prazo que certamente requer levantamentos, estudos e pesquisas.
“É preciso apreender as demandas potenciais gestadas historicamente, contribuindo assim
para recriar o perfil profissional do assistente social, indicando e antecipando perspectivas...”
(Marilda Iamamoto).
Para a autora, o estabelecimento desse contrato requer que o assistente social tenha clareza
sobre quem são seus usuários, que tipo de demandas trazem - porque buscam o serviço com
essa demanda? - dentre outras questões. Por que isso se torna tão importante? Porque o
assistente social não dá respostas prontas e acabadas, antes, procura construir com o outro,
possibilidades de ação, num processo investigativo-reflexivo-informativo; sinaliza também para o
usuário, os limites de sua ação profissional.
Nesse processo o usuário será chamado não só a dar informações, mas a questionar,
avaliar, correlacionar, analisar, interpretar, investigar, decidir sobre seu cotidiano.
Em uma reunião, ou entrevista, ou qualquer tipo de contato, o assistente social facilita, apóia,
sendo aquele que, além de articular as informações que as pessoas trazem, possibilita a procura
de suas inter-relações, sinalizando as contradições e buscando analogias.
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Tema 3 : Devolução das perguntas que são dirigidas ao profissional
Se, partirmos do pressuposto que a atividade teórica (o pensar a vida em suas múltiplas
conexões) não se integra ao cotidiano de vida das classes subalternizadas, o responder de
imediato as perguntas feitas ao assistente social, só reforçará a dependência intelectual desses
sujeitos.
Essa postura, de responder automaticamente, dificulta qualquer tentativa de mobilizar a visão
de mundo dos usuários, para que eles possam pensar, explicar, refletir, conhecer seu cotidiano,
suas reais demandas, interesses e necessidades. Quando o profissional assistente social não
monopoliza a fala antes, busca articular as falas dos usuários, ela está assim, atribuindo
importância à essas visões de mundo. Quando a resposta do assistente social vem como uma
resposta a mais ela (a informação) vem como uma outra contribuição entre outras que certamente
aparecem e, assim, passível de ser questionada, absorvida ou não (dessa feita, ao longo do
processo busca-se diluir a inserção do profissional enquanto autoridade).
Dessa feita, o assistente social (mesmo na sua diferença) passa a ser mais um a cooperar
no processo de reflexão, reforçando assim, a possibilidade de constituição de relações mais
solidárias, por que horizontais. A tática de devolver perguntas visa primeiramente que os usuários
recorram ao seu arsenal de informações, conceitos, análises; o assistente social busca articular as
visões de mundo, objetivando construir uma unidade/informação elaborada.
A autora chama a atenção de que não é qualquer pergunta que estimula a discussão grupal
e/ou individual; geralmente as perguntas abertas propiciam/estimulam a reflexão.
Até que ponto o usuário tem consciência do que falou? Até que ponto ele concorda com o
que disse?
O que Vasconcelos sublinha aqui é a constatação que podemos fazer quanto a certos
conceitos que consideramos nossos, mas que, na maioria das vezes, repetimos a-criticamente,
sem disso nos darmos conta.
O fato de vivermos numa sociedade de massas, com destaque para a propaganda que dita
normas para o viver (conduta, gestos, etc), fica difícil saber/distinguir o que é nosso genuinamente
ou o que é introjetado pela ideologia dominante.
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Segundo a autora, ouvir a afirmação dita por outro pode mostrar um significado antes não
percebido. Nesse sentido, cria-se possibilidade de questionamento, afirmação ou negação do que
foi dito (Vasconcelos sublinha que esse procedimento é mais potencializado na atividade grupal).
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Tema 6 : Uso de analogias entre diferentes situações com sinalização das conexões,
dos pontos de semelhança entre duas coisas diferentes, destas com outras, semelhança
entre duas situações dentro de suas respectivas totalidades. Divisão ou decomposição de
uma questão em partes, no sentido de facilitar a reflexão.
Esse recurso visa recuperar fragmentos da totalidade de vida dos sujeitos que acorrem ao
serviço social. A individualização das queixas e a “culpabilização” introjetada, no comportamento
dos usuários, são características da ideologia dominante para melhor submeter os indivíduos à
sua lógica.
O uso da analogia facilita a percepção de semelhanças, inter-relacionamentos das diversas
situações na busca de desvendar a fragmentação da realidade e a falsa autonomia das questões
postas no que é visível e aparente do cotidiano.
A atenção profissional deve estar voltada a uma perspectiva que insira as queixas a um
universo maior que determina/condiciona as existências humanas. A dimensão educativa da
prática está presente não quando o assistente social pega pelas mãos os usuários, mas, quando
possibilita que elas se voltem sobre seu cotidiano numa atitude investigativa, analítica, crítica.
Segundo Tereza Queiroz, o assistente social articula numa mesma ação, duas dimensões
numa só unidade complexa: a prestação de serviços concretos (via recursos e capacidade
técnica) e a educação social dos setores nela envolvidos.
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melhor” a ser seguido, o que deve ser apreendido para ser reproduzido e que, na maioria das
vezes, fica esquecido, porque não foi processado.
A autora torna a sublinhar a importância da capacitação permanente no que se refere à
constituição de um perfil profissional competente. Temos encontrado profissionais tão
desesperados e confusos como os próprios usuários, o que acaba por dificultar a utilização dos
poucos recursos oferecidos pelos políticos sociais. É um fazer profissional que, além de não servir
de suporte às lutas dos segmentos populares envolvidos, traz mais desesperança, mais
sofrimento, quando não cria mais problemas para os usuários, impregnando-os com valores,
favorecendo que aceitem, resignados, a “culpa” pela situação em que vivem.
A autora sublinha a existência de três níveis de contradições que devemos estar atentos para
sinalizar:
Neste processo, é fundamental que todos envolvidos tenham clareza do que está sendo dito. O
profissional facilita a participação ao solicitar informações mais claras e precisas que explicitem
mais claramente o pensamento e as manifestações. A qualidade do esclarecimento, quando vem
do entrevistado ou de algum integrante do grupo, é diferente de quando realizado pelo
profissional, o que também faz parte do processo.
Tema 9: Momentos de silêncio que permeiam o processo / a participação colocada de
forma diferenciada para quem está numa entrevista ou numa reunião.
O silêncio nem sempre precisa ser interrompido (OCORPO FALA!!!); faz-se necessário
entendê-lo no processo, buscando obter subsídios para possíveis encaminhamentos.
Como ele surgiu? O assunto se esgotou? É por causa de uma pergunta fechada? De
uma resposta difícil de ser dada? Significa pausa para reflexão? É um momento de emoção
e/ou constrangimento? Qual a contribuição do profissional na geração daquele silêncio?
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(foram feitos comentários inadvertidos ou cobranças?). o profissional assumiu a defesa da
instituição ao invés da defesa do usuário?
É no espaço das unidades de saúde do antigo INAMPS (hoje PAM’S) que surgiu esse
questionamento do fazer profissional muito afinado com a ideologia para médica.
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A preocupação passava então por construir um espaço de trabalho onde pudessem ser
discutidas outras esferas produtoras do adoecimento dos sujeitos.
Mesmo passadas duas décadas de seu surgimento, a autora sublinha que ainda hoje
existem dificuldades na operacionalização da sala de espera, a saber:
O que captar no grupo? (Aqui está sendo exigida a sensibilidade para perceber o que nem
sempre é verbalizado):
► as lacunas;
► as reticências;
► imprecisões;
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► as verdades acabadas;
► a dificuldade de estar em grupo;
► etc...
A autora chama nossa atenção para o fato de que educar não é simplesmente a transmissão
de conhecimentos. A re-construção do saber historicamente acumulado passa pela informação
elaborada em conjunto com os sujeitos de nossa ação.
A contribuição do AS passa exatamente pela socialização de um conhecimento acumulado
ao longo da vida profissional e que diz respeito às políticas sociais, ao contexto sócio-institucional
e à visão de mundo dos sujeitos.
Sobre o que atuar o assistente social na sala de espera? Sobre as representações sociais.
Representações sociais são/revelam construções de saberes sociais: quando os sujeitos
empenham-se em entender e dar sentido ao mundo, eles o fazem com emoção, sentimento e
paixão.
Representações sociais são reveladoras de um conhecimento para entender o mundo em
que se vive e se comunicar nele. Os sujeitos as elaboram a partir da atribuição de sentido aos
objetivos socialmente valorizados.
Para Eliana, a atividade Sala de Espera é o espaço do grupo de reflexão que pode permitir a
identificação e a re-construção das representações sociais.
SPINK (que é um dos autores utilizados por Eliana) sublinha que as representações são
campos socialmente estruturados mas que a perspectiva temporal tem que ser considerada;
nesse sentido ele situa os três tempos que marcam a perspectiva temporal:
1º) O tempo curto da interação que tem por foco a funcionalidade das representações;
2º) O tempo vivido que abarca o processo de socialização (HÁBITOS);
3º) O tempo longo – domínio das memórias coletivas onde fica o depósito cultural da
sociedade (IMAGINÁRIO SOCIAL).
OBS. PROFª BETH: Dar aqui exemplo sobre sala de espera com usuários portadores da
doença Hanseníase: temos que observar/compreender o que pode ser mudado a curto, médio e
aquilo que necessita de um tempo longo no processo de constituição de uma nova consciência
sanitária.
OBS. PROFª BETH: * (Chamar aqui a atenção para o fato dos Assistentes Sociais não terem
uma preocupação em conhecer/sistematizar as identidades culturais dos usuários).
Eliana chama nossa atenção para alguns pontos/aspectos que precisarão integrar a
discussão nos grupos:
- concepções e práticas dominantes sobre saúde/doença; (trabalhar aqui a noção teórica de
prevenção e promoção da saúde que os técnicos têm mas a população não)
► política de saúde e exclusão;
► universo sócio-cultural da população e da equipe técnica (a já conhecida arrogância do
profissional da saúde);
► particularidade do projeto: especificidade de cada ambulatório.
A autora fecha seu texto sublinhado que, os grupos de sala de espera se constituem como
dispositivos para fazer circular a palavra e que provocam; uma participação ativa dos usuários, na
compreensão da lógica do adoecimento, na descoberta das singularidades dos outros sujeitos e
na experiência coletiva de se discutir problemas considerados individuais.
A autora inicia seu texto sublinhando que a entrevista é um meio utilizado pelos profissionais
quando querem atingir um determinado objetivo. Não é assim, um instrumento aleatório, mas
encontra-se conectado a um certo fim.
Silva sinaliza que na Unidade Clínica de Adolescentes (UCA) é prestada uma atenção
integral que articula os níveis primário (prevenção), secundário ( promoção) e terciário (promoção
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e curativo). Esses níveis de atenção ocorrem: no ambulatório avançado do Morro Pau da
Bandeira, no Pavilhão Floriano Sttofel e na enfermaria de adolescentes.
A autora sublinha que o serviço social é o responsável pela porta de entrada e que aí ele é o
profissional que apresenta à população usuária, as rotinas institucionais.
Um aspecto negativo que Silva indica nesse trabalho junto à porta de entrada é que o
adolescente não demandou a atuação do assistente social sendo assim, essa 1ª entrevista é
caracterizada como compulsória.
Se a entrevista, enquanto instrumento de trabalho do Assistente Social tem que estar
conectada a objetivos, seu roteiro (o da entrevista) tem que incorporar conteúdos que abarquem
esses objetivos. A utilização desse instrumento deve possibilitar a transformação do esforço da
entrevista em momentos de reflexão, investigação e de organização da assistência à ser prestada.
Silva sinaliza uma fragilidade na organização desse ambulatório; a ausência de um cadastro
de recursos que possibilite encaminhamentos necessários à complementação da assistência
prestada.
Uma outra ordem de questão colocada pela autora diz respeito a desqualificação desse
instrumento de trabalho por alguns segmentos que alegam ser esse instrumento componente de
uma perspectiva funcionalista.
Ela indaga: existe propriedade privada da técnicas por determinadas correntes teóricas? Ou
tem a ver com a intencionalidade profissional do assistente social ?
Silva adverte que a perspectiva marxista que influenciou o serviço social não atribuiu
importância à dimensão individual presente desde os primórdios da profissão.
A autora sublinha a potencialidade existente na abordagem individual: o serviço social pode
auxiliar na ampliação da consciência sobre as muitas questões do cotidiano.
Para o desenvolvimento da entrevista; a autora chama atenção para a importância do
ambiente e da empatia construída pelo assistente social para conquistar a confiança dos usuários.
Na construção do relacionamento, o assistente social deve demonstrar interesse em ouvir as
histórias das vidas; sua postura: o assentir, o sorrir, sinalizar compreensão, são comportamentos
que podem viabilizar uma relação mais verdadeira com o outro. O assistente social deve procurar
evitar uma linguagem cifrada pois isso pode dificultar o estabelecimento de uma relação dialogal.
No estabelecimento de questões que nortearão a entrevista, o assistente social tem que
desenvolver habilidade para formular questões subjetivas que objetivem captar as visões de
mundo dos adolescentes ( suas representações sócio-culturais).
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Um cuidado que o assistente social tem que ter ( e não é restrito ao trato com o adolescente)
é o de não partilhar seus próprios valores junto aos usuários; pois os valores tem a ver com a
inserção de classe dos sujeitos.
Na ocasião da entrevista o assistente social tem que garantir o máximo de privacidade para o
usuário sentir-se à vontade para partilhar seus problemas; deverá informar também ao usuário
sobre o sigilo profissional enquanto dever do assistente social para com ele.
Marques busca nesse texto recuperar urna discussão em torno de uma atividade tão antiga
da profissão e no entanto tão desprezada em termos analitícos.
Sublinha a autora que existe um preconceito em torno dessa atividade que aparece
desprovido de urna fundamentação maior acerca da intencionalidade profissional.
Segundo Marques. a herança profissional legada em termos de instrumentalidade pode ser
recriada a partir de uma outra ordem de preocupações.
Esse texto busca superar uma certa leitura fatalista que não enxerga as possibilidades
contidas na abordagem individual.
Marques sublinha que a estrutura social se atualiza nos gestos de submissão do cotidiano e
que a reprodução do capital exige relações sociais concernentes á sua ampliação. O
cotidiano/cotidianeidade é o chão da história e palco da luta de classes, por isso a fundamental
importância de politizar as questões que são colocadas pelos usuários.
Será que o ativismo e/ou a demanda assistencial inflacionada justificam a ausência de uma
visão político-ideológica dos assistentes sociais sobre a profissão na realidade social?
A autora chama nossa atenção para o fenômeno de mercantilização de todas as esferas do
viver e que uma sociedade voltada para um tipo de consumo alienado acaba por produzir urna
subjetividade empobrecida.
É no espaço do plantão que se desembocam essas subjetividades empobrecidas e que
requerem uma visão que articule; o cotidiano e a estrutura; o
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sujeito e a estrutura; a experiência e a estrutura.
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