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A morte anunciada de uma cultura local.

As calçadas do Boulevard 28 de Setembro, no bairro carioca de Vila Isabel, são famosas por conter as partituras musicais de
sambas famosos da cidade e já serviram de inspiração para muitos artistas, como o desenho que estampa as lojas fechadas no
shopping Boulevard Rio (antigo Iguatemi). Compositores como Noel Rosa, Vadico, Silvio Caldas, Orestes Barbosa e Lamartine
Babo, entre outros, têm partitura de suas músicas desenhadas em pedras portuguesas, num trabalho curioso de calçamento, que
está em conformidade com a identidade boêmia do bairro. As calçadas foram projetadas pelo arquiteto Orlando Magdalena, em
1965, em comemoração aos 400 anos da cidade, porque o bairro foi – e ainda é - lar de famosos compositores, incluindo Martinho
da Vila.

Muitos fatores vão destruindo as calçadas ao longo do tempo: a falta de limpeza urbana, os remendos de buracos de obras
constantes, a falta de cultura da população que ignora completamente o chão que pisa, as barracas de comidas que engorduram
as pedras portuguesas, etc. Porém, mesmo com tanta falta de interesse na manutenção de um patrimônio histórico (e isso é um
grave defeito da identidade coletiva do brasileiro), nunca vi, como vejo agora, o prenúncio da morte das calçadas musicais. A atual
prefeitura da cidade parece não entender a importância histórica desse bairro, que foi abolicionista e lugar de origem do popular
jogo do bicho – recurso financeiro utilizado como captação de recursos para zoológico que ali havia.

Talvez para organizar o trânsito das milhares de mal-educadas linhas de ônibus, talvez pela criação do polêmico BRS que passa
pelo bairro, talvez pelo desprezo da opinião pública – digo talvez, porque não temos como saber quais os motivos, talvez todos
juntos – estão construindo marquises de parada de ônibus sobre as partituras. Bancas de jornais, camelôs, bares que se
expandem para fora de seus limites, raízes de árvores e, agora, marquises vão quebrando, desalinhando, escondendo, deixando
despercebido, tornando invisível, as calçadas de Vila Isabel. Uma vez invisível, quem saberá delas? E assim vai-se apagando o
passado bom, acabando com um passado de orgulho por bons compositores e belíssimas músicas. O belo prédio da antiga
fábrica de tecidos – que poderia ter se tornado um museu, ou um centro cultural – já se foi, absorvido por uma grande rede de
supermercados. O tradicional convento, que abrigou as nobres solteiras grávidas de outrora, hoje olha para a Praça Barão de
Drummond completamente descaracterizada. Mesmo o antigo zoológico, hoje bosque, que sofreu uma boa revitalização, não é
valorizado pela vizinhança.

Vejo surgirem novos prédios. Os novos moradores certamente não saberão contar a história do bairro, sequer enxergarão as
calçadas que fazem surgir a curiosidade. Nem as novas gerações dos antigos moradores saberão que o bairro contribuiu
imensamente para a história da cidade e do Brasil. A atual prefeitura parecia empenhado na recuperação histórico-cultural do Rio
de Janeiro. Acho que se esqueceu que o Rio não é só o porto...

Este texto contém uma crítica às mudanças feitas em um bairro do Rio de Janeiro. Você acha que é mais importante conservar o
que existe, conversando a história, ou transformar, buscando a modernidade?

Escreva um texto usando um exemplo de situação no seu país.

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