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GOVERNADOR VALADARES
2017
VINNY OLIVEIRA CARVALHO DE MELO
Resumo: o presente artigo procura fazer uma reflexão filosófica a respeito da filosofia
historicista. Nesse sentido, questiona se a história seria a principal ciência dentro das ciências
humanas, e ainda, se todos os conhecimentos seriam provisórios e mutáveis ou se deveríamos
afirmar a existência de certas verdade imutáveis ou inquestionáveis.
Introdução
Por ter certo conhecimento prévio a respeito de tal perspectiva, fui motivado a realizar
esse trabalho quando observei a presença do historicismo em alguns textos da pós-graduação em
saúde mental que estamos realizando: onde afirma-se que o ser humano é um "ser histórico", que
a ciência histórica seria "o método básico de estudo da humanidade" - e outras afirmações
semelhantes, como demonstrarei.
A história da filosofia está repleta de exemplos que corroboram com essa última visão:
como se pode ver claramente no clássico History of Philosophy, de Paul J. Gleen.
Entre os pré-socráticos, Heráclito foi um dos primeiros a afirmar a absoluta mutabilidade
das coisas: deduzindo daí a impossibilidade do nosso conhecimento. Protágoras e Carnéades já
pregavam o relativismo, enquanto no período que se seguiu à morte de Aristóteles, a Grécia
antiga se viu dividida entre uma série de escolas filosóficas, entre elas a escola cética que
afirmava basicamente a nossa incapacidade de obter uma ciência certa e inquestionável. Já no
tempo de Santo Agostinho, os acadêmicos também afirmavam que a ciência era apenas a busca
da verdade e não sua real posse. No declínio da idade média, por sua vez, temos o caso de
Guilherme de Ockam e todo o movimento nominalista que negou a existência dos universais. E
no que se refere à modernidade, não é exagero afirmar que o período enquanto tal se caracteriza
essencialmente por uma espécie de questionamento radical do saber: vide Lutero e seu
questionamento contra a Igreja; Descartes e sua dúvida radical; Kant e a crítica da razão pura;
Nietzsche e a negação das certezas imediatas, etc.
Seja como for, a princípio basta ressaltar que a tendência de se negar ou reduzir o poder
da cognição humana, independente das formas singulares como se manifesta e se justifica em
seus diversos modos, não é nenhuma novidade e muito menos um privilégio exclusivo ao nosso
tempo: trata-se de um fenômeno praticamente universal. Ao se analisar a dinâmica das culturas,
observa-se que o ceticismo costuma surgir especialmente quando o número das filosofias e das
diferenças e oposições entre elas se multiplica: como no período pré-socrático, por conta das
diversas doutrinas heterogêneas e aparentemente inconciliáveis entre si; e nos próprios dias
atuais, com tantas religiões e ideologias diferentes. De fato, como a contradição é naturalmente
insuportável para a mente humana, o recuo no ceticismo ou no relativismo absoluto pode se
apresentar como uma saída fácil: ao invés do doloroso trabalho de pensar e solucionar as
contradições entre as diferentes filosofias, mais confortável é simplesmente não fazer nada - e ao
invés de tentar compreender, apenas decretar que não é possível compreender - e ao invés de
investigar se uma teoria é verdadeira ou falsa, apenas dar de ombros e decretar que "cada um tem
sua verdade": fim de papo.
E mais ainda, em um texto intitulado Saúde mental nas diferentes fases da vida se vê
claramente o relativismo vinculado a essa concepção historicista:
“Se os lugares que ocupamos e de onde enunciamos nossas proposições não são
fixos, não podemos mais situar estes mesmos posicionamentos senão em uma
perspectiva relacional e de transferência e disputa por sentido e, portanto, não
há porque negá-los radicalmente, mas, sim, trabalhá-los através de
negociações.” (PELLICCIOLI, 2017 – p5.).
“Essa condição humana apenas pode ser pensada quando integramos o sujeito
na história, ou seja, as formas de viver, mediante as quais nos objetivamos como
humanos, são forjadas por condições de possibilidades sócio-históricas nas
quais esse sujeito se encontra.” (PELLICCIOLI, 2017 – p13).
Como se vê, advoga-se que o homem é um “ser histórico”; que a “radicalidade histórica”
seria o “elemento constitutivo do humano”; que a própria ciência histórica seria o “método
básico para o entendimento da humanidade”, etc. Em todos os casos, por que essa importância
atribuída à ciência histórica?
"(...) A investigação deve aqui manter em aberto, em face dos seus resultados,
toda a possibilidade de uma progressão permanente. Toda fixação é apenas
provisória. É e permanece apenas um meio auxiliar para olhar com
profundidade o que é histórico. (...)" (DILTHEY, 1919 – p19).
"A primeira teoria do sensualismo foi criada por Protágoras. (...) A doutrina
relativista de Protágoras descobre que todo o conhecimento, toda a posição
axiológica ou toda a fixação de fins são determinados pelo [elemento]
puramente empírico da organização humana; exclui, portanto, toda a
comparação destas operações com os processos externos, a que se referem. Pelo
que o conhecimento, a determinação axiológica e a fixação de fins têm somente
uma validade relativa, a saber, na correlação com tal organização." (DILTHEY,
1919 – p38).
"Foi este o grande feito de David Hume. Ele próprio considerou a sua filosofia
como a continuação do cepticismo acadêmico. E, de facto, reaparecem nele os
traços fundamentais deste cepticismo – a facticidade simplesmente empírica da
nossa organização sensível e do pensamento com ela conexo; como
consequência, a eliminação de toda a relação de cópia entre o espírito apreensor
e o mundo objectivo, por conseguinte, transferência do conhecimento do mundo
para a simples consonância interna das percepções entre si e com os conceitos.
Mas é graças à sua análise que estas proposições obtêm o desenvolvimento mais
fecundo: das regularidades do acontecer surgem habituações a determinadas
conexões e, na força associativa a estas inerente, reside o fundamento exclusivo
dos conceitos de substância e causalidade." (DILTHEY, 1919 – p39).
Sendo assim, Wilhelm Dilthey explicitamente associa sua doutrina a uma epistemologia
empirista e positivista que nos conduz a uma perspectiva relativista e cética a respeito do
conhecimento humano: baseando-se sobretudo nas antigas doutrinas de Protágoras e Carnéades,
e também no filósofo moderno David Hume - grande influenciador de Kant, diga-se de
passagem.
Com efeito, não é difícil visualizar a semelhança essencial entre dizer que "todo
conhecimento é provisório" - como vimos no início de nossa análise - e afirmar que "toda
fixação é apenas provisória". Não obstante, é óbvio que com isso não estou dizendo que o autor
do texto leu Wilhelm Dilthey e nem que compartilha conscientemente dos mesmos pressupostos
epistemológicos: por enquanto apenas procurei sondar as origens históricas de uma concepção
que coloca justamente a ciência histórica como a ciência suprema no entendimento da
humanidade.
DISCUSSÃO
Respondo:
1º - Como diz Santo Tomás de Aquino, toda ciência depende do primeiro princípio
indemonstrável e autoevidente segundo o qual "afirmações contraditórias não podem ser
simultaneamente verdadeiras". Por exemplo, se Galileu afirma que a terra gira em torno do sol e
a Igreja afirma que o sol gira em torno da terra, é impossível que ambas as teses estejam certas,
uma vez que são mutuamente opostas. Nesse sentido, o princípio lógico da não-contradição que
condiciona a dinâmica cognitiva das nossas afirmações deriva da própria realidade submetida ao
princípio de identidade segundo o qual as coisas são de uma determinada forma (o ser é, o não-
ser não é). Em outras palavras, o intelecto humano funciona de modo que toda afirmação deve
necessariamente implicar na negação da afirmação contrária considerando a lógica da própria
natureza externa onde "uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo
aspecto". Sendo assim, é evidentente que, no mínimo, pelo menos esses princípios básicos da
lógica (identidade, não-contradição, etc) são absolutamente inquestionáveis.
2º – Nem todos os saberes possuem o mesmo nível de certeza ou segurança. Com efeito, um dos
aspectos que determina a superioridade da ciência (episteme) em relação à opinião (doxa) é
justamente o elemento da certeza que, por sua vez, está implicado no ato cognitivo pelo qual as
coisas são conhecidas de forma imediata ou mediante alguma espécie de demonstração perfeita.
Nesse sentido, toda afirmação cujo conhecimento seja eminentemente certo implica na
impossibilidade da afirmação contrária e consequentemente exclui qualquer espécie de dúvida ou
temor. A opinião, por outro lado, se distingue da ciência pela privação da certeza implicada na
ausência do conhecimento imediato. Não obstante, a opinião não se identifica com a ignorância
(simples privação do conhecimento) e nem com a dúvida. Por sua vez, o estado cognitivo da
dúvida se caracteriza pelo movimento oscilatório entre ideias contraditórias, de forma que a
inteligência simplesmente não possui informações suficientes para afirmar ou negar determinada
verdade. Em contrapartida, a opinião já se fundamenta em alguma demonstração imperfeita pela
qual certa verdade se apresenta como possível em detrimento do seu oposto: de forma que a
inteligência tende para um lado e não para o outro. Porém, justamente pela imperfeição de sua
demonstração, seja pela deficiência daquele que conhece ou pela complexidade intrínseca do
próprio objeto conhecido, a opinião necessariamente comporta certa parcela de dúvida e temor
enquanto não exclui absolutamente a possibilidade de que as coisas sejam o oposto daquilo que
se afirma ou nega. Pois bem. A ideia de que o conhecimento científico é “sempre provisório” ou
absolutamente questionável, por assim dizer, em primeiro lugar acaba desconsiderando essa
hierarquia inerente à própria natureza do saber: afinal de contas, se todos os conhecimentos
fossem igualmente provisórios ou questionáveis não haveria nenhuma diferença qualitativa entre
a episteme e a doxa, o que é evidentemente falso. E pior ainda: no fundo seria como se todos os
nossos conhecimentos fossem duvidosos, o que também é absurdo. Ademais, tal posicionamento
implicitamente nega o próprio movimento no qual a inteligência adere de forma necessária a
alguma verdade evidente ou perfeitamente demonstrável.
10º – Como Aristóteles indica na Metafísica, toda mudança é substancial ou acidental. Por sua
vez, a mudança substancial só pode ser de dois tipos: geração ou corrupção. Na geração a
substância do agente que realiza o ato de gerar permanece a mesma e o que muda é apenas uma
parte de sua matéria: como o homem e a mulher permanecem substancialmente os mesmos
enquanto o espermatozoide e óvulo adquirem uma nova forma, qual seja, a do embrião humano.
E ainda, na corrupção a forma substancial se perde mas a matéria continua existindo sob nova
forma: como o corpo que se decompõe depois da morte, a madeira que se transforma em fumaça
e cinzas pela ação do fogo, etc. Por outro lado, as mudanças acidentais podem ser de vários tipos,
mas em qualquer caso a substância não se altera: como um animal que muda de lugar mas não
altera a própria natureza, como o aumento de quantidade que também não afeta a essência da
substância, e assim por diante. Portanto, toda mudança no objeto pressupõe algum aspecto
imutável: seja da perspectiva da matéria que permanece apesar das múltiplas formas, seja a partir
da própria forma substancial que permanece a mesma no curso das alterações materiais. Pelo
contrário, é impossível que os objetos sejam absolutamente mutáveis em todos os seus aspectos
ao mesmo tempo.
11º – Em referência à citação que define o homem como "ser histórico", deve-se compreender
que a definição de qualquer coisa se faz pela composição do gênero próximo e da diferença
específica. Ora, o termo “ser” descreve algo comum a tudo aquilo que existe: portanto
simplesmente não pode constituir o gênero próximo de nenhum ente – sendo justamente o
gênero universal, por assim dizer. Por outro lado, a historicidade, ou seja, o fato de estar sujeito
ao movimento, à mudança, ao tempo, etc, também não pode ser a diferença específica do
homem: pois de certa forma todos os seres da natureza são históricos, isto é, constituídos na
dimensão do tempo. Consequentemente, é evidente que a expressão “ser histórico” não pode
definir o ser humano. Na verdade, o homem se inclui no gênero próximo dos animais e sua
diferença específica é a racionalidade. Com efeito, não definimos o homem como um “ser
histórico”, e sim como animal racional.
12º – Em referência à citação que coloca o estudo da história como o "método básico de
entendimento da humanidade", é preciso entender o seguinte: para que uma ciência seja colocada
nessa posição o mínimo necessário é que seu objeto material seja o próprio ser humano. Ora, o
objeto material da ciência histórica não é o ser humano, e sim os fatos do passado de forma geral,
como já afirmamos. Logo, é evidente que ela não pode ser o método básico de estudo da
humanidade.
13º – As ciências cujo objeto material é o mesmo só podem se diferenciar entre si pelo objeto
formal, isto é, o aspecto ou a parte do objeto que se contempla: assim a medicina estuda o
funcionamento do corpo humano em geral, mas o cardiologista se especializa no sistema
cardíaco enquanto o neurologista tem por objeto formal o sistema nervoso; e semelhantemente, a
ciência física se divide em diversas especialidades – mecânica, termodinâmica, etc, – conforme a
própria realidade física se divide em vários aspectos. Com efeito, entre as ciências que
compartilham o mesmo objeto material a mais perfeita será aquela cujo objeto formal for o mais
perfeito: seja porque abrange todas ou a maioria das partes que compõe o objeto, seja porque se
especializa em uma parte que predomina sobre as outras - como as leis da matemática
predominam sobre as leis da física, e a mente humana predomina sobre o corpo. Dessa forma, a
psicologia e a medicina, por exemplo, tem em comum o objeto material que é o ser humano; mas
enquanto a medicina considera o homem principalmente a partir do corpo – ou especificamente
em relação às potências vegetativas e todas as demais que a ela necessariamente se vinculam
(como as potências sensitivas e locomotoras) –, o objeto formal da psicologia é a potência
intelectual. Nesse sentido, além de evidentemente ser nossa atividade mais elevada, a
inteligência é o que especifica o homem enquanto homem: pois a corporeidade, a vida, a
sensibilidade, etc, são perfeições que nós compartilhamos com os outros animais; sendo que o
homem se define justamente como animal racional na medida em que os outros são irracionais.
Portanto, como seu objeto formal não é um aspecto qualquer, mas sim o aspecto essencial do ser
humano, a psicologia parece ser a ciência mais perfeita entre as ciências humanas, e não a
ciência histórica ou qualquer outra.
14º - O objeto formal da ciência histórica são os fatos do passado na medida em que se referem
ao homem. Mais especificamente, trata-se de compreender os nexos causais entre esses fatos
enquanto são influenciados ou relacionados ao curso das ações humanas: como no caso da
revolução francesa na idade moderna e da peste negra na idade média, por exemplo. Seja como
for, como o passado enquanto tal não pode ser o objeto direto da contemplação empírica – na
qual se fundamenta todas as ciências –, a ciência histórica só atinge o seu objeto de forma
indireta: primariamente através do testemunho das pessoas que podem comprovar os fatos do
passado e secundariamente através de outras evidências como documentos, obras de arte,
monumentos arquitetônicos e coisas desse tipo. Ora, na psicologia e na medicina o ser humano é
objeto direto da contemplação empírica. Logo, não parece nada verossímil que a ciência histórica
seja o método básico das ciências humanas e muito menos a mais perfeita entre elas: uma vez
que seu objeto material nem mesmo se restringe ao ser humano e pelo fato de seu objeto formal
não ser o homem enquanto homem.
15º - Na verdade, o primeiro aspecto que apreendemos do ser humano é a sua biologia. Sendo
assim, se for preciso falar em um "método básico" entre as ciências humanas esse deve ser o
biológico, e não o histórico.
16º - Por fim, a ideia de Wilhem Dilthey segundo a qual só existiria antagonismo entre as
diversas religiões e que as mesmas nunca chegaram a "uma decisão em nenhum ponto
importante" é no mínimo uma ignorância histórica absurda que, além disso, demonstra um
tremendo erro de avaliação filosófica. Talvez o exemplo mais claro que demonstra a semelhança
entre as concepções de mundo diz respeito ao ponto de vista moral. Com efeito, todos os grandes
sábios da humanidade sempre reconheceram aquele princípio básico segundo o qual os atos
humanos devem ser comandados pela razão e não pelas paixões: princípio do qual deriva todos
os preceitos que proibem os vícios e estimulam as virtudes humanas. Do oriente ao ocidente, do
hinduísmo ao cristianismo, homens como Sidharta Gotama - o Buda -, Confúcio e Laotsé,
Sócrates, Platão e Aristóteles, Cícero e Marco Aurélio, Santo Agostinho e Boécio, Santo Tomás
de Aquino e Avicena, etc, foram capazes de testemunhar, cada um à sua maneira, o poder da
inteligência humana, a capacidade do livre-arbítrio, a existência de Deus (ou dos deuses), a
diferença entre o bem e o mal, a virtude e o vício, e assim por diante. Não obstante, apesar das
várias divergências teológicas que realmente existem entre as religiões, do ponto de vista
filosófico também é possível observar concordâncias significativas: tanto que na idade média os
grandes mestres das religiões monoteístas - Santo Tomás de Aquino, no catolicismo,
Maimônides, no judaísmo, e Avicena, no islã - reconheceram os princípios básicos da ética e da
teologia natural de Aristóteles. No próprio século XX temos as obras de René Guenon, Frithjof
Schuon e sua filosofia perenialista que busca atingir justamente aquele núcleo de conhecimentos
metafísicos comum à todas as principais tradições religiosas. E na atualidade, por sua vez, o que
se observa é um grande movimento ecumênico mundial onde se prega a superação das diferenças
dogmáticas em prol do reconhecimento da igualdade dos princípios éticos entre as religiões. De
forma geral, desde os antigos sumérios até as tribos da américa latina afirma-se a existência de
alguma dimensão transcendente em relação a qual a humanidade está destinada. E mais ainda,
certas verdades específicas, como a existência de um Deus único, a imortalidade da alma, a ideia
de recompensa e punição conforme os méritos e deméritos (a distinção entre o céu e o inferno,
por assim dizer), são ideias praticamente universais entre todas culturas. Portanto, ao contrário
do que prega Wilhelm Dilthey, é óbvio que não existe apenas antagonismo entre as diferentes
concepções de mundo.
Considerações Finais
Os argumentos apresentados são suficientes para demonstrar que a ciência histórica não
pode ser o método básico no estudo do ser humano e que nem todos os conhecimentos podem ser
considerados provisórios. Mais do que isso, fornece algumas indicações pelas quais se pode
refutar o relativismo religioso e o sensualismo epistemológico de Wilhelm Dilthey: o qual
identificamos como uma das principais referências do historicismo moderno.
Por fim, gostaria de ressaltar que o presente trabalho não pretende ofender ou disputar
gratuitamente com os mestres que elaboraram os referidos documentos da pós-graduação de
saúde mental. Trata-se apenas de uma reflexão crítica sobre um assunto que considero relevante
pelos motivos já expostos. Ademais, ao afirmar a existência de certos conhecimentos
inquestionáveis não quero dizer que o meu próprio trabalho seja inquestionável. Pelo contrário,
penso que apenas através do diálogo e do confronto de ideias se poderá chegar a um maior nível
de compreensão sobre a natureza de um tema tão complexo, seja para confirmar ou negar o que
foi dito.
me antecipo à seguinte objeção: o que tudo isso tem haver com a questão da saúde mental? Qual
a relevância desse trabalho contra o historicismo no contexto da presente pós-graduação?
Pois bem. A saúde mental é uma realidade complexa que não se define apenas pela
ausência de doenças, mas sim principalmente pelo desenvolvimento das virtudes intelectuais e
morais específicas ao ser humano, entre elas a própria virtude da ciência. Com efeito, a virtude
da ciência se constitui pela aplicação do intelecto ao conhecimento de determinadas realidades:
como o biólogo estuda a vida, o matemático estuda as grandezas numéricas, o advogado estuda
as leis humanas, e assim por diante. Ora, o historicismo, como se demonstrou, é uma ideologia
que ameaça a integridade do próprio ato intelectual na medida em que nega – de forma implícita
ou explícita – a nossa capacidade atingir um conhecimento inquestionável, por assim dizer.
Consequentemente, a relevância do meu trabalho consiste em fornecer argumentos que
desconstroem a perspectiva historicista e ao mesmo tempo fundamentam os princípios
epistemológicos necessários ao progresso da ciência, contribuindo inclusive para a higienização
mental do próprio ambiente acadêmico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES - Metafísica - 2.ed - São Paulo: Edipro Edições Profissionais Ltda, 2016. 368p.
GLEEN, Paul J. - History of Philosophy - 9.ed - Nova York: B. Heder Book co, 1944 - 381p.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich - The Philosophy of History (1837) - Batoche Books - 485p.
JÙNIOR, Renan da Cunha Soares - História e legislação em saúde mental - Campo Grande:
UCDB, 2017. 58p.
PELLICCIOLI, Eduardo Cavalheiro - Saúde mental nas diferentes fases da vida - Campo
Grande: UCDB, 2017. 59p.
SERRA, Maria Luiza Arruda de Almeida - Metodologia do ensino superior - Campo Grande:
UCDB, 2017. 68p.