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Oligopólio
12.1 Introdução
Nos últimos capítulos temos estudado o ferramental de teoria dos jogos. A motivação para
isto vem do fato de que várias situações econômicas relevantes são inerentemente estratégicas.
Agora nós estudaremos algumas destas situações e para tanto faremos um uso intensivo das
ferramentas que aprendemos antes. Em particular, nós nos concentraremos em situações em
que mais de uma empresa tomam decisões a respeito de suas quantidades a serem produzidas
e seus preços.
Ou seja, ambas as
rmas têm custo marginal constante e igual a c. Ainda, suponha que a
demanda pelo bem y possa ser representada por uma curva de demanda inversa linear. Isto
é, suponha que o preço cobrado pelo bem y seja dado pela seguinte fórmula:
p (y1 + y2 ) = a b (y1 + y2 ) :
Finalmente, para completar a descrição da situação que queremos estudar, nós faremos a
hipóstese de que a
rma F1 toma a sua decisão de produção antes da
rma F2 e, somente
após tomar conhecimento da decisão de produção da
rma F1 ; é que a
rma F2 escolhe
quanto produzir.
A situação descrita acima tem um componente estratégico forte. A
rma F2 tomará uma
decisão completamente informada, já que ela observará o que a
rma F1 fará primeiro. Por
outro lado, a
rma F1 sabe disto e, além do mais, ela sabe que F2 tomará uma decisão ótima
dada a informação que ela tiver no momento de sua escolha. Logo, a
rma F1 vai levar tal
fato em consideração na hora de tomar sua decisão de produção e agirá estrategicamente
com o objetivo de maximizar o seu lucro.
141
142 CAPÍTULO 12. OLIGOPÓLIO
Observe que, dadas as escolhas de produção das
rmas, os seus lucros podem ser escritos
como
1 (y1 ; y2 ) = p (y1 + y2 ) y1 cy1
e
2 (y1 ; y2 ) = p (y1 + y2 ) y2 cy2 :
Agora que nós já temos a descrição completa do nosso jogo, tudo que nós temos a fazer
é resolvê-lo.12.1 Como vimos na aula sobre jogos sequenciais, pelo menos se não estamos
interessados em equilíbrios de Nash baseados em ameaças vazias, o método de solução mais
adequado para tais jogos é o da indução retroativa. Ou seja, primeiro identi
caremos as
melhores respostas da
rma F2 para cada possível escolha y1 da
rma F1 . De posse de tal
informação podemos, então, identi
car qual a escolha ótima de F1 .
Suponha, então, que a
rma F1 tenha escolhido um nível de produção y1 . Qual a melhor
estratégia para a
rma F2 ? Como F2 está preocupada em maximizar o seu lucro, a decisão
ótima de F2 resolverá o seguinte problema de maximização:
Em termos da curva de demanda inversa linear que nós estamos assumindo aqui a condição
acima pode ser escrita como
by2 + a b (y1 + y2 ) = c:
Resolvendo a equação acima para y2 nós encontramos
a by1 c
y2 (y1 ) = :12.3
2b
Ou seja, a análise acima nos permite escrever a escolha ótima da
rma F2 como função do
nível de produção da
rma F1 . Dada a racionalidade dos nossos jogadores, a hipótese com
que trabalhamos em teoria dos jogos é que a
rma F1 consegue prever este comportamento
da
rma F2 e, portanto, tomará a sua decisão de produção levando tal fato em conta. Em
termos da árvore de decisão do jogo, isto signi
ca que agora temos a situação simpli
cada
representada na
gura 12.2
Nós vemos na
gura 12.2 que a
rma F1 tomará a sua decisão de produção levando em
conta o que a
rma F2 fará no período seguinte. O fato mais importante representado na
gura é que dadas as decisões ótimas de F2 , o lucro da
rma F1 passa a ser função apenas
da sua decisão de produção. Ou seja, o lucro da
rma F1 será dado por
1 (y1 ; y2 (y1 )) = p (y1 + y2 (y1 )) y1 cy1
a by1 c
= p y1 + y1 cy1
2b
y1 a c
= p + y1 cy1 :
2 2b
12.2
Observe que, como sempre, esta condição está simplesmente dizendo que a receita marginal tem que ser
igual ao custo marginal.
12.3
Na verdade, para valores de y1 muito grandes a expressão acima nos dará um valor negativo para y2 .
Em tais situações a melhor resposta da
rma F2 seria produzir zero. A expressão mais correta para as
respostas ótimas da
rma F2 é
a by1 c
y2 (y1 ) = max ;0 :
2b
No entanto, nós vamos ignorar tal complicação aqui e agir como se a
rma F2 pudesse de fato escolher um
nível de produção negativo se ela desejasse. Isto não afetará a nossa discussão intuitiva aqui e, além do mais,
o equilíbrio de Nash que vamos encontrar é o mesmo que encontraríamos se trabalhássemos com a expressão
mais correta acima.
144 CAPÍTULO 12. OLIGOPÓLIO
Como sempre, o objetivo da
rma F1 é maximizar o seu lucro. Ou seja, F1 resolve o seguinte
problema de maximização:
y1 a c
max p + y1 cy1
y1 2 2b
A condição de primeira ordem do problema acima é
1 0 y1 a c y1 a c
p + y1 + p + = c:
2 2 2b 2 2b
Em termos da curva de demanda inversa linear que nós estamos assumindo aqui a expressão
acima pode ser escrita como
b y1 a c
y +a b + = c:
2 1 2 2b
Observe que com tais níveis de produção o preço cobrado pelo bem será dado por
a c a c
p = a b +
2b 4b
1 3
= a + c:
4 4
Já os lucros das
rmas serão dados por
1 3 a c a c
1 = a+ c c
4 4 2b 2b
(a c) (a c)
= a c
8b 8b
2
(a c)
= :
8b
12.3. FIXAÇÃO SIMULTÂNEA DE PREÇOS 145
1 3 a c a c
2 = a+ c c
4 4 4b 4b
(a c) (a c)
= a c
16b 16b
2
(a c)
= :
16b
Observe que, embora a
rma F2 tenha a oportunidade de fazer a sua escolha de produção
já tendo conhecimento de quanto a
rma F1 está produzindo, em termos estratégicos isto é
uma desvantagem. Como a
rma F1 é capaz de prever o comportamento da
rma F2 , ela
acaba escolhendo um nível de produção relativamente alto, já sabendo que isto levará F2 a
produzir relativamente menos. Portanto, liderar é uma vantagem.
dada por 8
< p1 y (p1 ) cy (p1 ) , se p1 < p2 ;
1
(p1 ; p2 ) = p1 y(p21 ) c y(p21 ) , se p1 = p2 ;
0, se p1 > p2 :
:
O ganho, ou lucro, da empresa F2 será análogo. Agora que temos a descrição completa do
jogo, nós podemos investigar se este possui algum equilíbrio de Nash. Como a proposição
abaixo nos mostra, o único equilíbrio de Nash de tal jogo corresponde à situação em que
ambas as empresas escolhem um preço igual ao custo marginal c:
Proposição 12.1. O único equilíbrio de Nash do jogo de Bertrand é o per
l (p1 ; p2 ) = (c; c) :
Demonstração da Proposição. Considere primeiro um per
l em que p1 > p2 . Se p2 > c, então
seria melhor para F1 escolher um preço entre c e p2 . Isto lhe daria um lucro positivo que é
melhor que o lucro zero que ela estava obtendo anteriormente. Suponha, então que p2 = c.
Neste caso, F2 está obtendo um lucro de zero, quando ela poderia obter um lucro positivo
se escolhesse um preço entre c e p1 . Nós concluímos que não existe nenhum equilíbrio de
Nash em que p1 > p2 . Um raciocínio absolutamente análogo mostra que não existe nenhum
equilíbrio de Nash em que p2 > p1 . Ou seja, em qualquer equilíbrio de Nash do jogo acima
nós necessariamente temos que ter p1 = p2 . Considere agora um per
l em que p1 = p2 > c.
Neste caso ambas as empresas estão dividindo o mercado. Mas seria melhor para F1 , por
exemplo, cobrar um preço um pouco menor do que p2 . Deste modo a demanda pelo bem
não iria mudar muito e ela não teria mais que dividir o mercado com F2 . Nós concluímos
que nenhum per
l em que p1 = p2 > c é equilíbrio de Nash do jogo em questão. Só nos resta
uma última possibilidade, o per
l p1 = p2 = c. Neste caso, ambas as empresas estão obtendo
um lucro nulo. Mas qualquer outro preço fará com que elas não vendam nada e, portanto,
continuem com lucro zero. Ou seja, p1 = c é de fato uma melhor resposta para F1 quando
F2 joga p2 = c e p2 = c é de fato uma melhor resposta para F2 quando F1 joga p1 = c. Nós
concluímos que (p1 ; p2 ) = (c; c) é o único equilíbrio de Nash do jogo.12.6 k
A proposição acima nos mostra que quando duas empresas concorrem através da
xação
simultânea de preços elas acabam se comportando como se estivessem em um caso de
competição perfeita. Observe que o preço do produto neste caso acaba sendo igual ao custo
marginal, o que é exatamente o que aconteceria no caso de competição perfeita. Tal resultado
vem principalmente da nossa hipótese de que ambas as empresas vendem exatamente o
mesmo produto. Deste modo, qualquer diferença de preços faz com que as vendas da empresa
que esteja cobrando mais caro reduzam-se imediatamente a zero.
A demanda agora será representada por uma curva de demanda inversa linear, isto é
Para
nalizar a descrição do modelo, nós vamos supor que todas as empresas tenham
que determinar as suas quantidades produzidas simultaneamente. Tal situação pode ser
perfeitamente descrita como um jogo. Os conjuntos de estratégias de todos os jogadores
serão dados por A1 = ::: = AN = [0; 1), em que yi 2 Ai é a quantidade produzida pela
empresa i. Os ganhos de cada um dos jogadores serão dados pelo seu lucro, ou seja,
Dada a forma funcional que nós assumimos para p, a equação acima pode ser escrita como
a c (N 1) yi
yi = :
2b 2
Resolvendo a equação acima nós obtemos
a c
yi = :
(N + 1) b
148 CAPÍTULO 12. OLIGOPÓLIO
Observe que, de fato, quando N = 1, nós obtemos a solução de monopólio que havíamos
encontrado antes. Da mesma forma, quando N = 2, nós obtemos
a c
yi = ;
3b
que é a solução que havíamos obtido no caso de duopólio. Para completar a análise, vamos
calcular o nível de produção agregado e o preço que tais escolhas implicam. O nível de
produção agregado é simplesmente a soma do que todas as empresas produzem e, portanto,
será dado por
N (a c)
yAgregado = :
(N + 1) b
Já o preço cobrado será
12.5 Exercícios
Exercício 12.1 (Fixação Simultânea de Preços com Custos Marginais Distintos). Suponha
que duas empresas vendam exatamente o mesmo produto e a competição se dê através da
xação simultânea dos seus preços. A parte da demanda neste mercado é modelada por uma
curva de demanda linear, ou seja,
y (p) = a bp:
Quando as empresas cobram preços diferentes, somente a empresa com o menor preço atende
o mercado. As vendas e, consequentemente, o lucro da outra empresa são iguais a zero. No
caso em que as duas empresas cobram o mesmo preço, a nossa hipótese será que somente a
rma 1 vende.12.7 Finalmente, nós assumimos que as empresas têm as seguintes funções de
custo:
C (y1 ) = c1 y1
12.7
Esta hipótese tem que ser feita por razões técnicas. Sem tal hipótese, razões que não são economicamente
interessantes acabam fazendo com que o jogo não tenha equilíbrio de Nash.
12.5. EXERCÍCIOS 149
e
C (y2 ) = c2 y2 ;
em que c2 > c1 e a=b > c2 .12.8
(a) Suponha primeiramente que a empresa 2 não exista. Ou seja, suponha que a empresa 1
seja monopolista neste mercado. Que preço ela cobrará?
(b) O caso em que as duas empresas escolhem os seus preços simultaneamente pode ser
modelado como um jogo. Por simplicidade, suponha que os conjuntos de estratégias
dos jogadores sejam A1 := [c1 ; a=b) e A2 := [c2 ; a=b). A interpretação aqui é que pi 2 Ai
é o preço escolhido pela
rma i. Os ganhos de ambos os jogadores serão dados pelos
seus lucros obtidos, de acordo com os preços escolhidos por ambas as
rmas. Seja p o
preço que você encontrou na letra (a) e suponha que c2 p. Uma das empresas tem
uma estratégia estritamente dominante neste caso. Qual delas e que estratégia é esta?
(c) Dado o que nós aprendemos na letra (b), é possível perceber que o jogo acima tem um
número in
nito de equilíbrios de Nash que têm a mesma característica. A característica
de tais equilíbrios é que apenas uma empresa venderá neste mercado. A outra empresa
escolherá qualquer preço que seja superior ao cobrado pela sua concorrente. Descreva
esses equilíbrios.
(d) Suponha agora que c2 < p. Agora, embora o jogo tenha um único equilíbrio de Nash, este
continua tendo a mesma característica. Ou seja, nós continuamos tendo apenas uma
empresa vendendo em equilíbrio. Encontre o equilíbrio de Nash do jogo neste caso.
Exercício 12.2 (Cournot com Custos Fixos). Suponha que duas empresas vendam exatamente
os mesmos produtos e que a competição entre ambas se dê pela
xação simultânea das
quantidades a serem produzidas. Novamente, suponha que a demanda seja representada
por uma curva de demanda inversa linear, ou seja,
p (y1 + y2 ) = a b (y1 + y2 ) :
Suponha, também, que o custo de produção de ambas as
rmas seja dado por
C (yi ) = d + cyi :
(a) Suponha que as empresas paguem o custo
xo d, mesmo se decidirem não produzir. Isto
é, suponha que mesmo que a empresa i escolha yi = 0, ainda assim seu custo seja dado
por C (0) = d + c 0 = d. Encontre o único equilíbrio de Nash do jogo neste caso.
(b) Suponha que a = 5, b = 1, d = 2 e c = 2. Calcule o lucro que ambas as empresas
obteriam no equilíbrio acima.
(c) Se você fez as contas corretamente, você notou que o lucro obtido por ambas as empresas
no equilíbrio acima foi negativo. Suponha agora que ambas as empresas tenham uma
estratégia adicional de não entrar no mercado. Neste caso, elas não produzem nada,
mas também não têm nenhum custo. Suponha que a empresa 2 esteja usando esta
estratégia. Qual a melhor resposta para a
rma 1?
12.8
A segunda condição garante que com um preço p = c2 a demanda pelo bem é estritamente positiva.
150 CAPÍTULO 12. OLIGOPÓLIO
(d) Mostre que, dados os valores dos parâmetros na letra (b), quando a
rma 1 produz a
quantidade que você encontrou na letra (c), a melhor resposta para a
rma 2 é realmente
car fora do mercado. Isto é, mostre que qualquer quantidade que a
rma 2 resolva
produzir lhe dará um lucro negativo.
Exercício 12.3 (Liderança de quantidade com custo quadrático). Suponha que duas empresas
produzam o mesmo produto e suas funções de custo sejam dadas por c(yi ) = yi2 . Suponha
também que a demanda pelo bem y seja representada pela seguinte curva de demanda inversa:
p(y1 + y2 ) = 56 (y1 + y2 ):
Finalmente, suponha que a
rma 1 tome a sua decisão de produção antes da
rma 2. Somente
após tomar conhecimento da decisão de produção da
rma 1 é que a
rma 2 decide o quanto
ela vai produzir. Modele a situação acima como um jogo sequencial e encontre as quantidades
que as duas
rmas vão produzir em equilíbrio usando o método de indução retroativa.