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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000176305

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº


0000320-86.2013.8.26.0069, da Comarca de Bastos, em que são apelantes CÁSSIO
MINORU YOROZUYA e CÁSSIO MINORU YOROZUYA EIRELI, são apelados
MARCOS MORANDI, FERNANDO MORANDI e MÁRCIA SOLANGE DO
ROSÁRIO MORANDI.

ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São


Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso, com
declaração de voto vencedor pelo 2º Juiz. V. U.", de conformidade com o voto do
Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DONEGÁ


MORANDINI (Presidente) e CARLOS ALBERTO DE SALLES.

São Paulo, 13 de março de 2018.

Marcia Dalla Déa Barone


RELATOR
Assinatura Eletrônica
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VOTO Nº 19.347

Apelante: Cássio Minoru Yorozuya e outro


Apelado: Marcos Morandi e outros
Comarca: Bastos
Juiz: Paolo Pellegrini Junior

Ação de indenização por danos morais e materiais Sentença


de procedência em parte Insurgência do réu
Responsabilidade civil pela ofensa aos deveres da boa-fé
objetiva na fase pré-contratual (puntuação) Fase de tratativas
avançadas geraram a justa expectativa nos autores em acreditar
que o negócio seria firmado Realização de uma série de
diligências por parte dos autores para a formalização do
negócio Prejuízos materiais configurados Dever de
indenizar Danos morais Inocorrência Dissabores
enfrentados pelos autores que não são suficientes para ensejar
abalo moral Sucumbência recíproca Recurso provido em
parte.

Dá-se provimento em parte ao recurso.

Vistos,

Ao relatório de fls. 674/676, acrescento ter a


r. sentença julgado procedente em parte o pedido para o fim de condenar
os requeridos, solidariamente, ao pagamento de indenização material
correspondente a: R$ 1.350,00, referentes aos valores pagos ao engenheiro;
R$ 14.500,00, referentes às despesas com viagens de avião; e os encargos
referentes aos juros mensais pela utilização de crédito obtido junto à
Cooperativa de Crédito SICREDI União Paraná São Paulo, que até a
propositura da ação resultavam no montante de R$ 64.000,00, cujo valor
deverá ser acrescido dos encargos mensalmente contratados enquanto durar
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ou enquanto durou a obrigação, montante a ser apurado em liquidação de


sentença. Os valores deverão ser corrigidos a partir do desembolso de cada
verba e acrescidos de juros legais a partir da citação. Condenou, ainda, os
autores ao pagamento de danos morais no importe de R$ 88.000,00, a ser
corrigido monetariamente a partir do arbitramento e acrescido de juros de
mora a contar da citação. Condenou os réus ao pagamento das verbas de
sucumbência.
Os réus interpuseram recurso de apelo (fls.
688/694), pugnando pela reforma da r. sentença para que o feito seja
julgado improcedente. Narram que jamais encerraram as negociações com
os autores de forma abusiva ou abrupta, tendo dado como encerradas as
tratativas após analisarem a certidão do imóvel, na qual constavam
restrições bancárias, como alienação fiduciária e hipoteca, bem como
verificaram ser o bem objeto de inquérito civil pelo Ministério Público.
Aduzem que por se tratar de uma cidade pequena, é comum que as
pequenas reuniões sejam realizadas no Tabelião de Notas, de modo que tal
fato não significa necessariamente que o negócio seria fechado. Alegam
que agiram nos limites da boa-fé objetiva, nos padrões costumeiros do
local, sendo honestos e probos. Quanto ao valor da condenação por danos
materiais, afirmam que as despesas com a viagem foram suportadas pela
empresa Aviação Agrícola, pessoa estranha a este processo, não tendo,
ainda, os apelantes solicitado o comparecimento dos apelados naquela
cidade. Impugnam, ainda, a assinatura constante da planilha de custos de
fls. 295, sobretudo contrastando a assinatura do apelado Marcos Morandi
com a assinatura constate da procuração de fls. 29. Subsidiariamente,
pugnam para que, ao menos, os custos sejam divididos entre as partes por
igual. Aduzem que não há que se falar em danos morais, uma vez que os
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apelantes agiram dentro dos limites da boa-fé objetiva, de modo que os


dissabores experimentados pelos autores são meros aborrecimentos,
insuscetíveis de reparação. Pretendem, de forma subsidiária, a redução do
“quantum” arbitrado, por considerarem abusivo.
Contrarrazões (fls. 702/710).
Houve oposição ao julgamento virtual.
É o relatório.
Cuida-se de ação de indenização por danos
morais e materiais em que os autores alegam que, na condição de
proprietários da fazenda denominada “Dona Olga” descrita nos autos,
estabeleceram tratativas de aliená-la ao requerido Cássio, o qual, há tempos
havia manifestado o seu desejo em adquirir o bem imóvel. Aduziram que a
fase pré-contratual evoluiu de tal forma a gerar nos autores a justa
expectativa de que o negócio seria realmente entabulado, razão pela qual
contraíram despesas para promover a regularização do imóvel, contrataram
engenheiro para confeccionar memorial descritivo, bem como se
deslocaram por diversas vezes ao cartório onde a escritura de compra e
venda seria lavrada, além de tomarem medidas financeiras para
possibilitar, juntamente com os recursos que esperavam obter com a venda
da fazenda, a compra de outro bem imóvel no Pará. Narram, contudo, que
o requerido Cássio não compareceu ao cartório na data acordada para a
celebração do contrato, informando, na ocasião, que havia desistido do
negócio.
Neste contexto, pretendem os autores o
ressarcimento dos prejuízos morais e materiais sofridos, pois acreditam que
o réu faltou com a boa-fé objetiva na fase pré-contratual e deve responder
pelos danos causados com base na responsabilidade civil pré-contratual.
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O réu, ora apelante, por sua vez, alega que as


despesas suportadas pelos autores se deram por mera liberalidade destes,
sendo certo que o negócio não foi consolidado em razão da existência de
pendências financeiras e ambientais sobre o bem. Além disso, não
concorda com os valores pretendidos.
Pela análise dos autos, verifica-se que as
partes, na fase de negociações preliminares (puntuação), tomaram uma
série de providências no sentido de viabilizar a concretização do negócio
em questão, as quais, conforme será analisado abaixo, denotam a seriedade
das tratativas.
Contrataram engenheiro civil para a
realização de memorial descritivo relativo à área do imóvel, tendo ambas
as partes arcado com os honorários deste profissional, o qual confirmou
tais fatos na condição de testemunha ouvida em audiência de instrução (fls.
415), num indicativo claro do avanço e concretude das negociações.
Ademais, os coautores se dirigiram à granja
do requerido por pelo menos três vezes para tratar do negócio em questão,
conforme narrado pela testemunha Valmir Bessa de Almeida (fls. 415), o
qual fora incumbido de realizar o transporte dos autores do aeroporto de
Tupã até a aludida propriedade do réu.
Depreende-se dos autos, ainda, que as partes
compareceram ao Cartório de Registro de Imóveis de Bastos por várias
vezes e lá deram continuidade às negociações, ocasião em que obtiveram
as certidões necessárias para a conclusão da avença, tendo o oficial do
Cartório e seu substituto minutado a escritura relativa à compra e venda da
referida Fazenda, fato este comprovado pelo testemunho de Amaury
Ferreira (fls. 415).
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Com as certidões em mãos, constatou-se a


existência de restrições constantes nas matrículas, consistentes em
alienação fiduciária e duas hipotecas. Quanto à alienação fiduciária,
comprovaram os autores que já estava quitada, tendo a testemunha Hilário
confirmado ter se dirigido ao Cartório de Registro de Imóveis com a
respectivas notas promissórias quitadas (fls. 563). Por outro lado, quanto às
hipotecas, os autores contraíram empréstimo junto à Cooperativa de
Crédito SICREDI União Paraná São Paulo no sentido de quitar a dívida e
levantar tais anotações. Este fato foi confirmado pelo funcionário da
Cooperativa ouvido em juízo (fls. 505/508).
Neste contexto, verifica-se que os autores,
munidos da expectativa de que o negócio seria em breve concluído,
empreenderam esforços no sentido de liberar o imóvel de todo e qualquer
ônus, providenciando toda a documentação necessária para tanto.
As alegações do requerido no sentido de
afirmar que não desistiu do negócio de forma abrupta ou abusiva não
foram satisfatoriamente demonstradas nos autos, sendo certo que o
conjunto probatório leva à conclusão contrária à sua tese.
Não há qualquer elemento que comprove
que o imóvel em questão possuía pendências administrativas ou ambientais
que justificassem a desistência do negócio, tampouco que teria sido
ludibriado pelos corretores que intermediavam a negociação.
Desta forma, conclui-se que as partes
avançaram de forma profunda nas tratativas, tendo os autores, confiando
no desejo do réu de firmar o negócio, realizando inúmeras despesas
antecipatórias para concretizar o negócio.
Como é cediço, as partes devem guardar,
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tanto na conclusão do contrato como na sua execução, a boa-fé objetiva,


garantindo-se a segurança das relações negociais, devendo os contratantes
zelar pela confiança recíproca, além de prestarem todos os esclarecimentos
e informações acerca dos termos do negócio e das expectativas envolvidas,
deixando claro suas intenções a fim de não gerar falsa ilusão no outro
contratante. Tais deveres possuem especial relevância na fase de tratativas.
Não obstante não se negue que a fase de
negociações preliminares não vincule as partes quanto à celebração do
contrato definitivo, não há dúvidas de que é perfeitamente possível a
responsabilização civil nessa fase do negócio jurídico pela aplicação do
princípio da boa-fé.
A este respeito aliás, transcreva-se o teor do
Enunciado n. 170 da III Jornada de Direito Civil do CJF: “A boa-fé
objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações
preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer
da natureza do contrato.”
Com efeito, colacionam-se ensinamentos da
doutrina:
“por tal caminho, aquele que desrespeita a boa-fé
objetiva na fase de debates pode cometer abuso de
direito (art. 187 do Código Civil), o que gera o seu
dever de indenizar. A responsabilidade do abusador
ou violador da boa-fé é objetiva, conforme o
Enunciado n. 37 CJF/STJ aprovado na I Jornada de
Direito Civil” (Tartuce, Flávio, Direito Civil, v. 3:
teoria geral dos contratos e contratos em espécie
Flavio Tartuce ; 8. Ed., - Rio de Janeiro:
Forense São Paulo: Método, 2013)

E, ainda, precedentes jurisprudenciais deste


E. Tribunal de Justiça de São Paulo:
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1003286-38.2014.8.26.0079
Classe/Assunto: Apelação / Indenização por Dano Moral
Relator(a): Francisco Loureiro
Comarca: Botucatu
Órgão julgador: 6ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 11/03/2015
Data de publicação: 12/03/2015
Data de registro: 12/03/2015
Ementa: RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL Culpa in
contrahendo Princípio da boa-fé objetiva, geradora de deveres
de conduta, de modo a não defraudar a confiança despertada
na parte contrária Comportamento concludente da ré, que
gerou na autora a legítima expectativa de que celebraria
contrato de cessão de licença de uso de sua marca Avença
que não foi ultimada sob justificativas que contradiziam
declarações anteriores da própria requerida Dever de
indenizar eventuais danos decorrente de violação ao princípio
da boa-fé objetiva Natureza aquiliana (ou terceiro gênero) da
responsabilidade pré-contratual que não permite ao ofendido
pedir interesses positivos, correspondentes àquilo que
ganharia caso o contrato tivesse sido celebrado Dever de
indenizar tão somente os interesses negativos, recolocando a
autora na situação em que antes se encontrava Interesses
positivos que não devem ser indenizados, sob pena de colocar
a demandante em posição igual ou mais vantajosa do que
aquela que existiria se o contrato tivesse realmente sido
celebrado Ausência de provas, contudo, dos danos negativos
alegados Prejuízos de ordem extrapatrimonial tampouco
restaram demonstrados nos autos Ação improcedente Recurso
não provido.

0134186-53.2006.8.26.0000
Classe/Assunto: Apelação / Promessa de Compra e Venda
Relator(a): Francisco Loureiro
Comarca: Jacareí
Órgão julgador: 4ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 15/09/2011
Data de publicação: 20/09/2011
Data de registro: 20/09/2011
Outros números: 4609154600
Ementa: RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL. Despesas
realizadas pela autora, de forma antecipada, com o objetivo
de viabilizar negócio futuro com o réu. Não celebração do
contrato, após uma séria de diligências e pagamentos feitos
pela autora. Comportamento concludente do réu que gerou
expectativa da autora de finalização do contrato e estimulou a
realização de despesas para a regularização do imóvel.
Composição de interesses negativos, consistentes nos danos
que sofreu a autora com a frustração do negócio na fase de
puntuação. Sentença de procedência. Recurso improvido.

Desta forma, restou satisfatoriamente


demonstrado que os autores sofreram danos materiais em razão da conduta
do réu, devendo ser mantida a condenação do requeridos ao ressarcimento
das despesas com engenheiros, com as viagens a Tupã, bem como os
encargos financeiros para a contração de empréstimos com o intuito de
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quitar a hipoteca que recaía sobre a fazenda “sub judice” e para viabilizar a
compra de outra propriedade rural no Estado do Pará.
Os gastos com o engenheiro Marcos Morales
foram confirmados pelo próprio profissional, que relatou que cada um dos
contratantes o remunerou na quantia de R$ 1.350,00, devendo o réu
ressarcir os autores referida quantia.
A contratação de empréstimos financeiros
junto à Cooperativa de Crédito SICREDI também restou demonstrada (fls.
139/140), e se mostrou necessária para que os autores pudessem levantar a
hipoteca pendente sobre o imóvel, bem como garantir o pagamento de
outra propriedade rural localizada no Estado do Pará, cujo pagamento
dependia do recebimento do valor correspondente à venda da fazenda
objeto da presente demanda. Deste montante (empréstimo) deverá ser
abatido o valor correspondente à dívida pendente e a cargo do autor junto à
Cooperativa (hipoteca), pois a despeito da contratação do empréstimo o
próprio autor se beneficiou do pagamento da dívida (de sua
responsabilidade). Alertada pelo voto do e. Desembargador Carlos Alberto
de Salles, entendo que nem mesmo os encargos que o autor suportou para
quitar esta dívida devem recair sobre os requeridos, já que o pagamento da
dívida aproveita aos proprietários do imóvel, no caso a parte autora.
As despesas com as viagens aéreas que os
autores fizeram até o local onde o negócio seria fechado merecem ser
ressarcidas e foram suficientemente demonstradas pelo documento de fls.
144. O fato de constar o nome da Aviação Gaivota não elide a obrigação
de indenizar, uma vez que restou demonstrado que os voos foram
realizados em benefício do sócio daquela empresa, autor da presente
demanda.
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Por outro lado, com a devida vênia do


entendimento do juízo sentenciante, não vislumbro a ocorrência de danos
morais passíveis de reparação.
O mero aborrecimento não é passível de
indenização, que se limita às hipóteses em que existe ofensa à honra ou
abalo que ultrapasse aquele comum à vida de relação.
No mesmo sentido, cabe colacionar o
ensinamento do professor Sérgio Cavalieri Filho que, em sua obra
“Programa de Responsabilidade Civil”, ed. Atlas, 2010, fls. 87, pontifica:
“só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou
humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia
e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimentos, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral,
porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no
trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais
situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio
psicológico do indivíduo."
Com a reforma em parte da r. sentença,
verifica-se que as partes sucumbiram de forma recíproca, devendo cada
qual arcar com o pagamento das custas e despesas processuais que
adiantaram, bem como honorários advocatícios dos patronos da parte
adversa, ora fixados em 15% sobre o valor da condenação.
Em face do exposto, pelo voto, Dá-se
provimento em parte ao recurso.

MARCIA DALLA DÉA BARONE


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Relatora
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DECLARAÇÃO DE VOTO

3ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

Apelação n° 0000320-86.2013.8.26.0069
Comarca: Foro Distrital de Bastos
Apelantes: Cássio Minoru Yorozuya e Cássio Minoru Yorozuya
Eireli
Apelados: Marcos Morandi, Fernando Morandi e Márcia
Solange do Rosário Morandi

Juiz sentenciante: Paolo Pellegrini Júnior

VOTO VENCEDOR n° 15610

Trata-se de recurso de apelação interposto em


face da sentença de fls. 674/684 que julgou procedentes em parte os
pedidos da inicial, para condenar os réus ao pagamento de
indenização por danos materiais (R$ 1.350,00, referentes aos valores
pagos ao engenheiro; R$ 14.500,00, referentes às despesas com
viagens de avião; e encargos referentes aos juros mensais pela
utilização de crédito obtido junto à Cooperativa de Crédito SICREDI
União Paraná - São Paulo, cujo valor deverá ser acrescido dos
encargos mensalmente contratados enquanto durar ou enquanto
durou a obrigação), com valores corrigidos a partir do desembolso e
acrescidos de juros legais a partir da citação; bem como ao
pagamento de danos morais em R$ 88.0000,00 (oitenta e oito mil
reais), com correção a partir da sentença e juros de mora a contar da
citação.
Adota-se, no mais, o bem lançado relatório de E.
Desembargadora Relatora Márcia Dalla Déa Barone.
Respeitado o voto da Relatora, pelo qual,
inicialmente, dava-se provimento parcial ao apelo para afastar os
danos morais, é o caso de dar provimento parcial à apelação em
maior extensão.
Inicialmente, concorda-se com a conclusão
referente à quebra de justa expectativa gerada aos vendedores em
razão do abandono das negociações preliminares.
Ficou demonstrado nos autos que foi realizado um
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esboço de uma escritura de compra e venda (fls. 124/132 e conforme


testemunho prestado pelo serventuário do cartório de registro civil a
fls. 440/449); e que as partes contrataram um engenheiro para que
fosse realizado o levantamento topográfico e o memorial descritivo
da parte a ser desdobrada, porque o réu não tinha interesse na sede
da fazenda (cf. fl. 119/123 e testemunho prestado pelo engenheiro
em questão a fl. 430/439).
Isso demonstra que havia um interesse inicial pela
compra do imóvel, gerando uma justa expectativa de concretização
do negócio, até porque, com o dinheiro da venda, os vendedores
realizariam a compra de outro imóvel.
Os réus, por sua vez, não apresentaram justo
motivo para encerrar as negociações. Afirmaram genericamente que
teriam sido coagidos pelos corretores e que haveria restrições
ambientais no imóvel. Contudo, não comprovaram tais alegações.
Em relação à indenização concedida em sentença,
restaram demonstrados os valores gastos com o engenheiro
(R$1.350,00), conforme foi confirmado por ele em audiência. Além
disso, o serviço de levantamento topográfico e de elaboração do
memorial descritivo da área a ser desmembrada foi igualmente
comprovado (cf. fls. 119/123 e fl. 430/439).
Em relação aos custos com o avião, o documento
de fl. 144 demonstrou ter havido seis voos no aeroporto estadual de
Tupã, realizados por aeronaves de propriedade da empresa Aviação
Agrícola (de propriedade do autor fl. 340) e, no mais, o documento
de fl. 295 comprova que o custo de um monomotor é de 1.200,00
(mil e duzentos reais) por hora. Portanto, para aproximadamente
doze horas de voo, o valor do dano apontado na inicial (R$
14.400,00) está demonstrado.
Todavia, discorda-se do voto da Relatora quanto
ao pagamento dos juros sobre o empréstimo obtido junto à
cooperativa de crédito.
Com efeito, restou demonstrado nos autos que foi
o vendedor que se mostrou interessado em vender o imóvel ao réu
anos depois deste último manifestar interesse de compra.
Segundo testemunho de José dos Santos, Cássio
foi informado do interesse da venda da fazenda e, em razão disso,
ele disse ao vendedor que tinha interesse em apenas uma parte do
imóvel “se os documentos estivessem certos” (fl. 534).
Obviamente a venda da fazenda em questão
somente seria possível se fossem cancelados os ônus que existiam
sobre as matrículas. E na medida em que não havia qualquer pré-
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contrato realizado entre as partes, era o vendedor que deveria


levantar as hipotecas.
Com isso, o fato de a empresa de aviação do
apelado ter solicitado um empréstimo para cancelar as hipotecas (fls.
139 e 294) não autoriza a transferência dos custos dessa operação
financeira (no caso, os juros) ao possível comprador.
Era um custo, portanto, que, salvo disposição
contratual em contrário, cabia ao vendedor que, no caso, também
estava interessado em vender o imóvel, tanto que isso ocorreu
posteriormente.
Desse modo, afasta-se a condenação ao
pagamento dos juros sobre o empréstimo.
Em relação aos danos morais, acompanha-se o
voto da E. Desembargadora Relatora.
Afinal, por um lado, muito embora tenha havido
desistência injustificada do negócio, não se pode concluir pela
existência de frustação ou angústia indenizáveis. Por outro lado, a
despeito do valor da venda da fazenda (R$ 5.112.000,00) e da
intenção de utilizar a quantia recebida para compra de outro imóvel,
os vendedores não tiveram a precaução de realizar um pré-contrato,
o que causa estranheza, até mesmo porque os autores estão longe
de serem pessoas leigas nesse tipo de negociação.
Os apelados tinham condições de tomar as
medidas jurídicas cabíveis para, ao menos, minimizar os efeitos
decorrentes de uma possível desistência do comprador. Como isso
não ocorreu, descabe agora o pedido de indenização por danos
morais.
Nesses termos, uma vez afastada grande parte das
indenizações (já que os apelados pediram danos materiais em
R$338.800,00 e serão vencedores de aproximadamente
R$20.000,00), verifica-se ter havido sucumbência mínima dos réus.
Com isso, a despeito da procedência parcial da
demanda, arcarão os demandantes com as despesas processuais e
com honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o
valor atualizado da causa.
Ante o exposto, por este voto, dá-se provimento
parcial ao recurso de apelação, para afastar os danos morais e os
danos materiais consistentes nos juros do empréstimo junto à
Cooperativa de Crédito SICREDI União Paraná São Paulo.
Diante da sucumbência mínima dos réus, arcarão
os autores com as despesas processuais e com honorários
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advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado


da causa.

CARLOS ALBERTO DE SALLES


2 º Juiz
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Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes assinaturas digitais:

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1 11 Acórdãos MARCIA REGINA DALLA DEA BARONE 7F55F0B
Eletrônicos
12 15 Declarações de CARLOS ALBERTO DE SALLES 802DB6C
Votos

Para conferir o original acesse o site:


https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo
0000320-86.2013.8.26.0069 e o código de confirmação da tabela acima.

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