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Direito Empresarial

Agripino Alexandre
Direito Empresarial

I – Edital Sistematizado – Direito Empresarial – PGE/SE – Edital 001/2017 (26.07.17):

Itens do Edital Tópico do Livro

1 Fundamentos do direito empresarial. 1.1 Teoria da empresa. 1.2 Empresário: conceito, 1


caracterização, inscrição, capacidade; empresário individual; pequeno empresário. 1.3
Lei Complementar nº 123/2006 e suas alterações (microempresa e empresa de pequeno
porte) e suas alterações. 1.4 Prepostos do empresário. 1.5 Institutos complementares: nome
empresarial, estabelecimento empresarial, escrituração.
2 Registro de empresa. 2.1 Órgãos de registro de empresa. 2.2 Atos de registro de empresa. 2
2.3 Processo decisório do registro de empresa. 2.4 Inatividade da empresa. 2.5 Empresário
irregular. 2.6 Lei nº 8.934/1994 e suas alterações.
3 Propriedade industrial. 3.1 Lei nº 9.279/1996. 3.2 O Instituto Nacional da Propriedade 3
Industrial (INPI). 3.3 Propriedade industrial e direitos autorais. 3.4 Patentes. 3.5 Desenho
industrial. 3.6 Marca: espécies. 3.7 Procedimento de registro. 3.8 Indicações geográficas.
4 Títulos de crédito. 4.1 Classificação dos títulos de crédito: letra de câmbio, nota promissó- 4
ria, cheque, duplicata, endosso e aval. 4.2 Títulos de crédito comercial, industrial, à exporta-
ção, rural, imobiliário, bancário. 4.3 Letra de arrendamento mercantil.
5 Ação cambial. 5.1 Ação de regresso. 5.2 Inoponibilidade de exceções. 5.3 Responsabili- 5
dade patrimonial e fraude à execução. 5.4 Embargos do devedor. 5.5 Ação de anulação e
substituição de título.
6 Protesto de títulos e outros documentos de dívida: legislação, modalidades, procedimen- 6
tos, efeitos, ações judiciais envolvendo o protesto.
7 Direito societário. 7.1 Sociedade empresária: conceito, terminologia, ato constitutivo. 7.2 7
Sociedades simples e empresárias. 7.3 Personalização da sociedade empresária. 7.4 Socie-
dade irregular. 7.5 Teoria da desconsideração da personalidade jurídica. 7.6 Desconsidera-
ção inversa. 7.7 Regime jurídico dos sócios. 7.8 Sociedade limitada. 7.9 Sociedade anônima.
7.10 Sociedade em nome coletivo. 7.11 Sociedade em comandita simples. 7.12 Sociedade
em comandita por ações. 7.13 Operações societárias: transformação, incorporação, fusão e
cisão. 7.14 Relações entre sociedades: coligações de sociedades, grupos societários, con-
sórcios, sociedade subsidiária integral, sociedade de propósito específico. 7.15 Dissolução,
liquidação e extinção das sociedades. 7.16 Concentração empresarial e defesa da livre
concorrência.
8 Contratos mercantis. 8.1 Características. 8.2 Compra e venda mercantil. 8.3 Comissão mer- 8
cantil. 8.4 Representação comercial. 8.5 Concessão mercantil. 8.6 Franquia (franchising).
8.7 Contratos bancários: depósito bancário, mútuo bancário, desconto bancário, abertura
de crédito. 8.8 Contratos bancários impróprios: alienação fiduciária em garantia, arrenda-
mento mercantil (leasing), faturização (factoring), cartão de crédito. 8.9 Contrato de seguro.
8.10 Contratos intelectuais: cessão de direito industrial, licença de uso de direito industrial,
transferência de tecnologia, comercialização de logiciário (software).
9 Direito falimentar. 9.1 Lei nº 11.101/2005. 9
Capítulo 1.
Fundamentos do Direito Empresarial

SUMÁRIO: 1 Fundamentos do direito empresarial. 1.1 Teoria da empresa. 1.2 Empresário: conceito,
caracterização, inscrição, capacidade; empresário individual; pequeno empresário. 1.3 Lei Complementar
nº 123/2006 e suas alterações (microempresa e empresa de pequeno porte) e suas alterações. 1.4 Pre-
postos do empresário. 1.5 Institutos complementares: nome empresarial, estabelecimento empresarial,
escrituração.

1. FUNDAMENTOS DO DIREITO EMPRESARIAL

O Direito Empresarial é o ramo do direito que tem por objeto a regulamentação da ati-
vidade econômica organizada para fins de circulação de bens e serviços.
Engloba não só a atuação do comerciante de forma individual ou em sociedade (Direito
Comercial e Direito Societário), mas também os contratos e subcontratos decorrentes da
prestação de serviços (Direito Contratual Empresarial e Prestação de Serviços), os Títulos de
Crédito (Direito Cambial), a Propriedade e Atividade Industrial e o Agronegócio, e, por fim,
a Recuperação e a Liquidação Judicial e Extrajudicial (Direito Falimentar).
Começando por uma rápida abordagem do histórico desse ramo do Direito, convém
salientar que desde a Antiguidade são regulamentadas algumas atividades comerciais do
ser humano, partindo-se do primitivo contrato de troca ou permuta (escambo) ao surgi-
mento das primeiras moedas, inaugurando o contrato de compra e venda.
A doutrina compreende, porém, que o Direito do Comércio tem início, de forma autô-
noma, a partir da intensificação das atividades comerciais em meados da Idade Média, pas-
sando por três fases, que inclui a atual, conforme quadro esquemático abaixo:

Direito Subjetivo – início da normatização da atividade empresarial, com o crescimento


1ª FASE (Idade
do comércio no fim da Idade Média e o surgimento das “Corporações de Ofício”. É cha-
Média e
mada de fase subjetiva porque o direito mercantil só se aplicava aos comerciantes, como
Moderna)
um direito de classe ou corporativo.
Direito Objetivo – Teoria dos “ATOS DE COMÉRCIO”. No momento histórico das Revolu-
ções Liberais e do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (especialmente na
2ª FASE
Inglaterra, França e Estados Unidos), a legislação deixou de ser subjetiva, aplicando-se a
(Influência das
qualquer pessoa que praticasse atos considerados mercantis. A principal referência legis-
Revoluções
lativa é o Code de Commerce (1808) francês, subsequente ao Código Civil Napoleônico
Burguesas)
(1804). O Código Comercial Brasileiro (1850) inspira-se nesta legislação, tendo o Regula-
mento n. 737/50 elencado os atos considerados de comércio.
958 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

Direito Objetivo – Teoria da EMPRESA. Este período inicia com o Códice Civile (1942 –
Itália), que unificou o direito privado. O núcleo conceitual do Direito Comercial deixa
3ª FASE de ser ato de comércio, e passa a ser a empresa, ampliando a incidência das regras de
(Evolução Pós direito empresarial e adaptando-se à dinâmica da sociedade pós-guerra e à globaliza-
Guerra) ção. O Direito Brasileiro adotou a Teoria da Empresa com o novo Código Civil (2002), que
revogou parte do Código Comercial de 1850 (que ainda regula o Comércio Marítimo –
Segunda Parte).

Como se observa da tabela acima, o Código Civil Brasileiro de 2002, seguindo o exem-
plo do Código Civil Italiano de 1942, unificou parte do Direito Privado, regulamentando a
Teoria Geral do Direito Empresarial, incluindo as regras gerais do Direito Societário e do
Direito Cambial.
Acontece que esta unificação formal do Direito Civil e do Direito Empresarial não impli-
cou na unificação material, pois este mantém sua Autonomia Científica.
Ademais, a própria Constituição Federal, em seu art. 22, I, destaca, dentro da compe-
tência legislativa privativa da União, tanto a disciplina do “Direito Civil” quanto do “Direito
Comercial”, destacando, portanto, a autonomia dos ramos do direito em comento.
Tal autonomia revela-se, inclusive, na análise de suas fontes, características e princípios.
As fontes do Direito Empresarial, como qualquer ramo do Direito, podem ser assim
divididas e exemplificadas:

FONTE EXEMPLOS MAIS IMPORTANTES


CF/88: traz regras e prin- Código Civil e Comercial: Leis Especiais e Tratados:
Formal Primária: cípios do Dir. Empresarial. Trazem regras gerais do LPI, LRJF, LU, Tratado de
a LEI. Dir. Empresarial e Comércio Viena sobre Aviação, etc.
Marítimo.
Analogia: ex.: aplicação Princípios Gerais do Costumes: os usos e costu-
das regras da Cédula Rural Direito Empresarial: mes servem para integração
para as Cédulas Industriais Mesmo não expressos nas do direito empresarial na
Fontes Formais
e Comerciais. normas do direito empresa- ausência de lei. Ex.: cheque
Secundárias:
rial, encontram-se implícitos pós datado.
os da Boa Fé Objetiva e da
Função Social da Empresa.
Equidade: o juiz pode uti- Jurisprudência: a juris- Doutrina: a doutrina tem
lizar a equidade quando prudência ganha cada vez sua importância realçada a
a lei o permitir, como na mais força no cenário atual, partir dos Enunciados das
fixação de danos morais especialmente diante da Jornadas de Direito Civil e de
Fontes Informais: por ilícitos contratuais. sistemática dos precedentes Direito Empresarial do CJF,
vinculantes adotada pelo que serão citados ao longo
Direito Civil. Ex.: Súmulas dessa obra.
370 e 388, do STJ, sobre o
cheque.

Ainda dentro da autonomia material do Direito Empresarial, destacam-se característi-


cas específicas desse ramo do direito:
a) Simplicidade das formas: facilitando a dinâmica dos negócios e as transações eletrô-
nicas;
b) Cosmopolitismo: tratados internacionais são fontes recorrentes do Direito Empresarial;
Direito Empresarial 959

c) Onerosidade: a atividade empresarial é essencialmente econômica – visa lucro;


d) Fragmentarismo: engloba leis diversas, tratados e disciplinas próprias, como o
Direito Societário e o Direito Cambial (títulos de crédito).
Por fim, embora não previstos expressamente no Edital da Magistratura, convém estudar
os princípios próprios do Direito Empresarial, consoante quadro sistemático a seguir, de
forma a confirmar a sua autonomia científica:

A livre iniciativa é um dos Fundamentos do Estado Brasileiro (superprincípios), devendo-se


incentivar o empreendedorismo na ordem econômica, observados os valores sociais do
Livre Iniciativa:
trabalho e a dignidade da pessoa humana, como destacam o art. 1º, III e IV, e o art. 170,
caput, ambos da CF.
Decorrente da Livre Iniciativa, o Estado Brasileiro deve permitir que todos possam livre-
mente concorrer no mercado (art. 170, IV e parágrafo único, da CF), com lealdade, situa-
ção que se opõe ao monopólio e ao abuso do poder econômico. Destaca-se, em relação
a este princípio, a Lei 12.529/11 (estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrên-
Livre cia – SBDC e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem eco-
Concorrência: nômica), disciplinando, dentre outros, a atuação da autarquia federal CADE (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica). Convém, ainda, citar a Súmula Vinculante n. 49,
do STF (Conversão da Súmula n. 646, do STF): “Ofende o princípio da livre concorrência
lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo
em determinada área”.
O art. 170, III, da CF, reitera a função social da propriedade na Ordem Econômica, mas,
ao cumular este princípio com a livre concorrência, livre iniciativa, proteção do pequeno
empresário, a defesa do consumidor e do meio ambiente, a redução das desigualdades
e a busca do pleno emprego, demonstra a importância social da atividade empresarial,
Função Social da
como fator de geração de renda, porém observando que a atividade não deve resultar em
Empresa:
enriquecimento sem causa e a onerosidade excessiva, muito menos na ofensa a direitos
sociais. A doutrina preleciona, no Enunciado n. 53, da JDC/CJF: Deve-se levar em con-
sideração o princípio da função social na interpretação das normas relativas à empresa, a
despeito da falta de referência expressa. Trata-se de princípio geral do direito empresarial.
Diversos são os dispositivos legais que ratificam o princípio da preservação da atividade
empresarial, seguindo-se o raciocínio do princípio anterior, diante dos prejuízos causados
Preservação da
à economia e à geração de empregos com a quebra do empresário. Destacam-se, por
Empresa:
exemplo, a possibilidade de continuação da empresa pelo incapaz (art. 974, do CC) e a
regulamentação da Recuperação Judicial e Extrajudicial pela Lei 11.101/05.
O princípio da Boa Fé objetiva, explícito nas regras gerais do direito contratual civil, tam-
bém é aplicável aos contratos empresariais, impondo deveres complementares ou ane-
xos de comportamento aos empresários, tais como informação, segurança, assistência,
Boa Fé Objetiva: probidade, lealdade, etc. Neste sentido, foi aprovado na I Jornada de Direito Empresa-
rial do CJF: Enunciado n. 29. Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função
social do contrato e a boa-fé objetiva (arts. 421 e 422 do Código Civil), em conformidade com
as especificidades dos contratos empresariais.
Por se tratar de tema previsto no Edital, convém ainda lembrar que o art. 170, V, prevê
expressamente como um dos Princípios da Ordem Econômica, e, portanto, do próprio
Defesa do
Direito Empresarial que regula a atividade econômica privada, o respeito ao Direito dos
Consumidor:
Consumidores, destinatários finais da atividade empresarial. Em capítulo próprio dessa
obra, o tema será destacado de forma pormenorizada.
960 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

1.1. Teoria da empresa


Como observado no item referente à evolução histórica do Direito Empresarial (1.1),
este ramo do direito encontra-se em sua terceira fase, influenciado pela Teoria da Empresa.
Enfim, o atual Direito Empresarial funda-se na Teoria da Empresa, ou seja, o núcleo
conceitual do Direito Comercial deixa de ser ato de comércio, e passa a ser a empresa,
ampliando a incidência das regras de Direito Empresarial e adaptando-se à dinâmica da
sociedade pós guerra e à globalização (referência legislativa – Códice Civile de 1942 –
Itália).
Adotou-se então uma cláusula geral que define a empresa e o empresário, que também
veio a ser adotada pelo Direito Brasileiro com o Código Civil de 2002, que revogou grande
parte do Código Comercial Brasileiro (1850), adotando finalmente a Teoria da Empresa.
No atual Direito Empresarial, o conceito de empresa é: a atividade econômica organi-
zada para a circulação de bens e/ou serviços (art. 966, do CC). Portanto, não se pode confun-
dir a Pessoa Jurídica (a Sociedade) com a atividade por ela exercida (natureza jurídica da
Empresa).
A Teoria foi Estruturada pelo jurista italiano Alberto Asquini, a partir do acolhimento da
Teoria da Empresa, pelo Código Civil Italiano em 1942, sem um conceito previsto na lei.
Trata-se da chamada “Teoria Poliédrica”, que destaca quatro perfis da empresa, também
adotada no direito brasileiro:
a) Perfil Subjetivo: regulamentação da pessoa do empresário (pessoa natural) e da
sociedade empresária (pessoa jurídica), sujeitos do direito empresarial;
b) Perfil Objetivo: consiste no patrimônio próprio ou social, utilizado pelo empresário
para o exercício da empresa – o estabelecimento empresarial (objeto de subitem
específico);
c) Perfil Funcional: disciplina a próprio atividade empresarial, que é econômica e orga-
nizada para um determinado fim – a circulação de bens e serviços.
d) Perfil Institucional: trata-se do disciplinamento dos prepostos do empresário, item
também regulamentado pelo CC/02 (Institutos Complementares, conforme subi-
tem adiante), que colaboram para o desenvolvimento da empresa.

1.2. Empresário: conceito, caracterização, inscrição, capacidade; empresário indivi-


dual; pequeno empresário
O Empresário é o empreendedor individual que exerce atividade de empresa, assu-
mindo inteiramente os riscos do negócio como pessoa física. Mesmo que possua CNPJ,
não é considerada Pessoa Jurídica (com exceção da EIRELI, que é considerada uma pessoa
jurídica, nos termos do art. 44, VI, do CC – item 2).

1.2.1. Caracterização e capacidade


São considerados requisitos para que uma pessoa seja considerada um Empresário:
Direito Empresarial 961

a) Exercício profissional e habitual da empresa (art. 966, do CC):


O primeiro requisito exige a análise do art. 966, do CC. Convém destacar que nem toda a
atividade econômica, ou seja, com fins lucrativos, pode ser considerada empresarial.
Neste sentido, compreende-se, da inteligência do art. 966, parágrafo único, que não
se considera empresarial a atividade decorrente do exercício de profissão intelectual, de natu-
reza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo
se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
Assim, o exercício das atividades de natureza exclusivamente intelectual está excluído
do conceito de empresa (Enunciado n. 193, da JDC/CJF). Assim, advogados, médicos, enge-
nheiros, arquitetos, técnicos em informática, etc., quando trabalham de forma autônoma,
não são considerados empresários (exceção à regra geral da atividade lucrativa).
Acontece que, mesmo os profissionais intelectuais, artistas, cientistas e literatos podem
ser considerados empresários (exceção da exceção), se estiver presente o elemento de
empresa.

ATENÇÃO!
Sobre o reconhecimento do elemento de empresa, o Candidato deve estar atento aos Enunciados n. 194 e 195, da
JDC/CJF:
Enunciado n. 194: Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fato-
res de produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida.
Enunciado n. 195: A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica, devendo ser ana-
lisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um
dos fatores da organização empresarial.
Ex.: o médico que passa mais tempo administrando a clínica que possui diversos outros médicos contratados,
do que atendendo diretamente os clientes.

b) Capacidade (art. 972, do CC):


Em regra, o Empresário deve ser capaz.
Acontece que há uma exceção: admite-se a continuidade da empresa pelo incapaz,
nas hipóteses dos arts. 974-975, do CC:
Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar
a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança.
§ 1º Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias
e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autoriza-
ção ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou
do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros.
§ 2º Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao
tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo
tais fatos constar do alvará que conceder a autorização.
§ 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá regis-
trar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde
que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos:
962 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;


II – o capital social deve ser totalmente integralizado;
III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser
representado por seus representantes legais.
Art. 975. Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa que, por disposição de lei,
não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com a aprovação do juiz, um ou
mais gerentes.
§ 1º Do mesmo modo será nomeado gerente em todos os casos em que o juiz entender
ser conveniente.
§ 2º A aprovação do juiz não exime o representante ou assistente do menor ou do interdito
da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados.
Portanto, o exercício da empresa por empresário incapaz representado ou assistido,
somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor
na sucessão por morte (Enunciado n. 193, da JDC/CJF).
c) Ausência de impedimento (art. 972, do CC):
O terceiro requisito para se considerar o indivíduo um empresário é a ausência de impe-
dimento.
Quanto aos impedimentos, que não excluem a responsabilidade pelas obrigações con-
traídas (art. 973, do CC), é de se ressaltar que a própria CF/88, em seu art. 5º, XIII, confirma
a liberdade de profissão, atendidas as qualificações legais. Permite, portanto, que a legis-
lação imponha restrições ao exercício de atividade remunerada, e, no caso do direito de
empresa, alguns exemplos de impedimento podem ser listados:
a) Os leiloeiros, inclusive rurais (Decreto nº 21,981/32, art. 36);
b) Os funcionários públicos (Lei 8112/90, art. 117);
c) Deputados, Senadores e Vereadores (arts. 29, IX e 54, II, ambos da CF);
d) Os Estrangeiros, que não possuem impedimento geral, mas algumas restrições a
determinadas atividades, tais como: a) empresa jornalística e de radiodifusão (pri-
vativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos – art. 222, CF); b)
exploração de jazidas e recursos minerais (art. 176, CF);
e) Comandante de embarcação brasileira contratado sob condição de parceria com o
armador sobre o lucro proveniente do transporte de carga, salvo havendo conven-
ção em contrário (Código Comercial, art. 524);
f) Os militares da ativa (Lei nº 6880/80, art. 29);
g) Os magistrados (Lei Complementar nº 35/79 – LOMN, art. 36, I);
h) Os falidos enquanto não reabilitados (arts. 81 e 158, da Lei 11.101/05); –
i) Os empresários que desrespeitarem as normas contidas na Lei Orgânica da Seguri-
dade Social (Lei 8.212/91, art. 95, § 2º, d);
Direito Empresarial 963

j) Os condenados em alguns crimes que vedam a atividade empresarial (corrupção


ativa, concussão, peculato, crimes falimentares, crimes contra a economia popular,
etc).
Convém destacar que os impedimentos acima não vedam a participação social, como
sócio ou acionista, sem assunção da condição de administrador ou empresário individual.
Assim, um juiz, por exemplo, pode comprar ações de uma Sociedade Anônima, na quali-
dade de investidor, mas não pode, por outro lado, ser o titular de uma EIRELI.
Ainda sobre o tema, convém destacar as situações decorrentes do casamento:
Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde
que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação
obrigatória.
Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que
seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gra-
vá-los de ônus real.
Naturalmente, o caso do art. 978, a alienação depende do fato do empresário providen-
ciar a vinculação do bem imóvel à atividade empresarial mediante registro, pois o patrimô-
nio empresarial não se confunde com o patrimônio pessoal.

1.2.2. Inscrição
Quanto à inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis – RPEM (atualmente
regulamentada pelo DREI – Departamento de Registro Empresarial e Integração), que é
feito nas JUNTAS COMERCIAIS de cada Estado, trata-se de uma obrigação legal, mas não de
um requisito para definir se a pessoa é, ou não, empresário.
Neste sentido, vide os Enunciados 198 e 199, das Jornadas de Direito Civil do CJF:

ATENÇÃO!
Sobre a inscrição do empresário no RPEM, o Candidato deve estar atento aos Enunciados abaixo:
Enunciado n. 198 – Art. 967: A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracte-
rização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos
do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem
incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário.
Enunciado n. 199 – Art. 967: A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de sua
regularidade, e não de sua caracterização.

Frise-se que a regra é diametralmente oposta quando se trata de Empresário Rural.


Quem exerce atividade econômica rural, promovendo de forma profissional e organizada a
circulação de bens e serviços não é obrigado a se inscrever no RPEM, mas só será conside-
rado empresário se promover o registro (art. 971, do CC).

1.2.3. Empresário Individual, Pequeno Empresário e a Lei complementar n. 123/2006 e


suas alterações
O Empresário Individual é a Pessoa Física que exerce a atividade empresarial, como já
destacado nos itens 1.2.1 e 1.2.2. Pode atuar de diversas formas, como responsabilidade
964 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

limitada e ilimitada, enquadrando-se, inclusive, nas hipóteses da Lei Complementar n.


123/06. Deve ter CNPJ, para fins tributários, mas é Pessoa Física.
Quando enquadrado como Pequeno Empresário – Microempresário ou Empresário de
Pequeno Porte – passa a contar com tratamento favorecido perante a lei, especialmente
para fins empresariais e tributários, incentivo legal previsto no art. 970, do CC, e no Estatuto
da Pequena Empresa (Lei complementar n. 123/2006).
De acordo com Enunciado n. 200, da JDC/CJF, é possível a qualquer empresário indivi-
dual, em situação regular, solicitar seu enquadramento como microempresário ou empre-
sário de pequeno porte, observadas as exigências e restrições legais.
O Estatuto da Pequena Empresa – Lei complementar n. 123/2006 – define três espécies
de Pequenos Empresários (parâmetros que servem para pessoa física ou jurídica – socie-
dades):
a) Microempreendedor Individual (MEI): aquele que tenha auferido receita bruta, no
ano-calendário anterior, de até R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais), optante pelo
Simples Nacional e que não esteja impedido de optar pela sistemática prevista neste
artigo. (Art. 18-A, § 1º, da LC 123/06);
b) Microempresário (ME): aquele que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta
igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais);
c) Empresário de Pequeno Porte (EPP): aquele que aufira, em cada ano-calendário,
receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou infe-
rior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais).

1.3. Prepostos do empresário


Os prepostos são os auxiliares do empresário no exercício da atividade empresarial
(perfil institucional da empresa). O Código Civil destaca como principais prepostos do
empresário:
a) Gerente: exerce função administrativa decisória, de acordo com os limites dos
poderes conferidos no ato constitutivo ou no ato posterior devidamente arqui-
vado que o elegeu (Teoria Ultra Vires Societatis – art. 47 cumulado com o art. 170,
ambos do CC);
b) Contabilista: profissional responsável pela escrituração empresarial e preenchi-
mento dos livros empresariais, conforme tópico anterior, embora possa delegar
outros auxiliares para este fim.

1.4. Institutos complementares: nome empresarial, estabelecimento empresarial,


escrituração.
A seguir, serão pontuados os institutos complementares do Direito Empresarial:
Direito Empresarial 965

1.4.1. Estabelecimento empresarial


Um dos institutos complementares do Direito Empresarial (perfil objetivo da empresa),
o tema Estabelecimento Empresarial pode ser sistematizado conforme tabela abaixo:

Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da


Conceito
empresa, por empresário, ou por sociedade empresária (art. 1.142).
Natureza Universalidade de Fato (art. 90)
Envolve BENS CORPÓREOS E INCORPÓREOS, destinadas à atividade empresarial, tais
como:
a) Estoque;
b) Equipamentos;
c) Mobiliário;
Configuração
d) Marcas;
e) Patentes;
f) Nome Empresarial;
g) Ponto Comercial;
h) Fundo de Comércio.
É contrato que tem por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabeleci-
mento como um todo, ato formal que só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de
averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro
Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. Após a negociação,
Trespasse e seus
não pode o alienante fazer concorrência ao adquirente no prazo de 05 anos, salvo dispo-
efeitos
sição contratual expressa em sentido contrário. Se ao alienante não restarem bens sufi-
cientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende
do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou
tácito, em 30 dias a partir da notificação.
No cômputo do VALOR de uma SOCIEDADE EMPRESÁRIA, além do ESTABELECIMENTO
COMERCIAL, também é levado em consideração do AVIAMENTO, que não está incluído
Aviamento
no conceito ora estudado e representa a CAPACIDADE LUCRATIVA da empresa, inerentes
ao histórico da sociedade.

1.4.2. Nome empresarial


Outro instituto complementar de grande importância para as provas de concurso,
segue esquematizado na tabela abaixo:

Conceito É a firma social ou a denominação adotada para o exercício de empresa.


Compreende a Firma Individual (Empresário Individual); a Firma Social (sociedades,
utilizando-se nomes civis); e Denominação (Sociedades, utilizando-se o ramo de ati-
Distinções vidade). Não se confunde com TÍTULO DO ESTABELECIMENTO, também conhecido
como NOME FANTASIA, que tem finalidade de tornar conhecido do público, ao con-
trário do nome empresarial, que identifica a pessoa jurídica e que é objeto de registro.
A firma tem por base o nome civil do empresário individual ou de um ou mais sócios
da sociedade (art. 1158, § 1º). Submete-se ao PRINCÍPIO DA VERACIDADE, razão pela
Firma
qual a retirada, falecimento ou exclusão de um sócio cujo nome componha a firma
impõe a alteração desta (art. 1165).
966 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

A denominação não se submete ao princípio da veracidade, podendo-se utilizar


qualquer palavra ou expressão, desde que atenda ao princípio da novidade (não
confundindo o consumidor com outra sociedade) e da exclusividade (o nome regis-
Denominação
trado fica protegido no âmbito estadual ou mesmo federal – arts. 1163 e 1166) e não
contrarie a moral pública. Normalmente são utilizadas expressões que identificam a
atividade exercida pela sociedade.
O nome empresarial é protegido, desde que registrado na Junta Comercial, valendo
a proteção para tal Unidade da Federação (art. 1166), e não pode ser alienado (art.
Proteção 1164). Não confundir a proteção ao NOME EMPRESARIAL, que NÃO possui Lei Espe-
cial que trate do assunto, com a proteção à MARCA, que está disciplinada pela Lei n.
9.279/1996 (Lei de Propriedade Industrial – LPI).
EI Só pode utilizar firma individual (art. 1156).
EIRELI Poderá utilizar firma ou denominação, acrescidas de EIRELI (art. 980-A).
Soc. em nome Só pode utilizar firma, acrescido de e (&) companhia (Cia.) – art. 1157.
coletivo
Soc. em comandita Só pode utilizar firma, com o nome dos sócios comanditados – art. 1157.
simples
Soc. limitada Pode utilizar firma ou denominação, acrescido de limitada (Ltda., art. 1158).
Soc. cooperativa Só pode utilizar DENOMINAÇÃO, acrescido de COOPERATIVA (art. 1159).
Só pode utilizar DENOMINAÇÃO, acrescido de sociedade anônima (S.A. ou S/A, que
Soc. anônima pode estar no início, no meio ou no fim da denominação) ou companhia (Cia., que só
pode estar no início ou no meio da denominação) – 1160.
Pode utilizar firma ou denominação, acrescido de comandita por ações (1161). No
Soc. em comandita
caso de firma, deverá ser utilizado o nome dos sócios que respondem pessoal e ilimi-
por ações
tadamente pelas obrigações sociais.
Soc. em conta de Não poderá utilizar firma ou denominação (1162).
participação
Podem utilizar firma ou denominação, a depender do tipo societário, acrescido de
ME e EPP
microempresa (ME) ou empresa de pequeno porte (EPP).

ATENÇÃO!
Sobre a proteção ao nome empresarial, o Candidato deve estar atento aos Enunciados doutrinários das Jorna-
das de Direito Civil e as mais recentes, de Direito Empresarial, abaixo:
Enunciado n. 491 – Art. 1.166: A proteção ao nome empresarial, limitada ao Estado-Membro para efeito mera-
mente administrativo, estende-se a todo o território nacional por força do art. 5º, XXIX, da Constituição da
República e do art. 8º da Convenção Unionista de Paris.
Enunciado n. 1, da I Jornada de Direito Empresarial: 1. Decisão judicial que considera ser o nome empresarial
violador do direito de marca não implica a anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os
efeitos, preservado o direito de o empresário alterá-lo.
Enunciado n. 2, da I Jornada de Direito Empresarial: 2. A vedação de registro de marca que reproduza ou imite
elemento característico ou diferenciador de nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou
associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em consonância com o
art. 1.166 do Código Civil.

1.4.3. Escrituração empresarial


A escrituração empresarial é realizada, como regra geral, nos LIVROS EMPRESARIAIS,
que, naturalmente, diante da informatização da atividade, podem ser substituídos por
fichas mecanizadas.
Direito Empresarial 967

Sobre a escrituração empresarial, podem ser resumidas as principais regras e conse-


quências jurídicas no quadro abaixo:

Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema


de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros,
em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço
patrimonial e o de resultado econômico.
Regra Geral
§ 1º Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos
interessados.
§ 2º É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o
art. 970.
Obrigatórios: Em regra, o LIVRO DIÁRIO ou BALANCETE DIÁRIO E BALANÇOS (arts. 1.180
Livros e 1.185). Leis especiais podem exigir livros especiais obrigatórios.
Empresariais: Facultativos: São auxiliares e servem à organização da Sociedade. Ex.: Livro Caixa, Livro
de Contas Correntes; Livro de Obrigações a Pagar, etc.
a) Autenticação (art. 1.181);
b) Escrituração por Contabilista (art. 1.182);
Requisitos dos
c) Idioma e moeda nacional e em forma contábil, por ordem cronológica (art. 1.183);
Livros:
d) Fidelidade e clareza acerca da realidade patrimonial e dos negócios (art. 1.188);
e) Distinção entre ativo e passivo (arts. 1.188-1.189).
a) Código Civil:
Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal,
sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário
ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades
prescritas em lei.
Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração
quando necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade,
administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência.
§ 1º O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento
ou de ofício, ordenar que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, sejam examina-
dos na presença do empresário ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de
pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão.
§ 2º Achando-se os livros em outra jurisdição, nela se fará o exame, perante o respectivo
juiz.
Exibição judicial Art. 1.192. Recusada a apresentação dos livros, nos casos do artigo antecedente, serão
– Matéria de apreendidos judicialmente e, no do seu § 1o, ter-se-á como verdadeiro o alegado pela
prova: parte contrária para se provar pelos livros.
Parágrafo único. A confissão resultante da recusa pode ser elidida por prova documental
em contrário.
b) Código de Processo Civil:
Art. 417. Os livros empresariais provam contra seu autor, sendo lícito ao empresário, toda-
via, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não cor-
respondem à verdade dos fatos.
Art. 418. Os livros empresariais que preencham os requisitos exigidos por lei provam a
favor de seu autor no litígio entre empresários.
Art. 419. A escrituração contábil é indivisível, e, se dos fatos que resultam dos lançamen-
tos, uns são favoráveis ao interesse de seu autor e outros lhe são contrários, ambos serão
considerados em conjunto, como unidade.
Art. 420. O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral dos livros
empresariais e dos documentos do arquivo:
968 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

I – na liquidação de sociedade;
II – na sucessão por morte de sócio;
III – quando e como determinar a lei.
Exibição judicial Art. 421. O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exibição parcial dos livros e dos docu-
– Matéria de mentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao litígio, bem como reproduções
prova: autenticadas.
c) STF:
Súmula n. 260, STF: O exame de livros comerciais, em ação judicial, fica limitado às
transações entre os litigantes.
Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte
Exceção ao
ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do
Sigilo:
pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais.
Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa
Conservação: guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade,
enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados.
Capítulo 2. Registro Empresarial

SUMÁRIO: 2 Registro de empresa. 2.1 Órgãos de registro de empresa. 2.2 Atos de registro de empresa.
2.3 Processo decisório do registro de empresa. 2.4 Inatividade da empresa. 2.5 Empresário irregular.
2.6 Lei nº 8.934/1994 e suas alterações.

A inscrição do Empresário no Registro Empresarial – Registro Público de Empresas Mer-


cantis (RPEM) – não é ato constitutivo da qualidade de empresário, mas em regra é obriga-
tório para o exercício das atividades (art. 967, do CC), com a exceção do empresário rural
(art. 971, do CC).

2. REGISTRO DE EMPRESA
2.1. Órgãos de registro de empresa
Como já destacado no capítulo anterior, existem atividades remuneradas que não são
consideradas empresariais (art. 966, parágrafo único).
Assim, quando se trata de uma sociedade não empresarial (simples), o registro fica a
cargo do Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, consoante art. 1.150, do CC.
Por outro lado, o empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público
de Empresas Mercantis (RPEM) a cargo das Juntas Comerciais de cada Estado e do Dis-
trito Federal. O registro deverá conter as informações determinadas pelo art. 968, do CC.
Caso o empresário individual venha a admitir sócios, poderá solicitar ao RPEM a transfor-
mação de seu registro de empresário para registro de sociedade empresária (art. 968, § 3°,
do CC).
Convém destacar que a Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa (SEMPE),
órgão vinculado à Secretaria de Governo da Presidência da República, conforme a Lei nº
13.341/16, tem como competência formular, coordenar e articular políticas e diretrizes
para o apoio à microempresa, empresa de pequeno porte e artesanato, além do fortaleci-
mento, expansão e formalização de MPE.
O antigo Departamento Nacional do Registro do Comércio (DNRC), atual Departa-
mento de Registro Empresarial e Integração (DREI), hoje faz parte da estrutura adminis-
trativa da SEMPE.
O DREI é o responsável pelas funções:
a) No plano técnico: de supervisão, de orientação, de coordenação e normatização
sobre registros públicos empresariais efetivados pelas Juntas Comerciais dos Esta-
dos e Distrito Federal;
970 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

b) No plano administrativo: atuação supletiva às atividades das Juntas Comerciais de


todo o Brasil.

2.2. Atos de registro de empresa, processo decisório e inatividade (Lei nº 8.934/1994


e suas alterações)
Os principais atos de registro empresarial, disciplinados pela Lei n. 8.934/94 e executa-
dos pelas Juntas Comerciais, são o seguintes:

É o nome do ato de inscrição dos tradutores públicos, intérpretes comerciais, leiloeiros,


Matrícula – Lei nº trapicheiros e administradores de armazéns-gerais, profissionais que desenvolvem ativi-
8.934/1994 dades para-comerciais. Os dois primeiros, além de matriculados, são também habilitados
e nomeados pela Junta, enquanto os três últimos são apenas matriculados.

Pertinente à inscrição do empreendedor individual, isto é, do empresário que exerce


sua atividade econômica como pessoa física, bem como à constituição, dissolução e alte-
ração contratual das sociedades comerciais. As cooperativas, apesar de serem sociedades
SIMPLES, devem ter também os seus atos arquivados no RPEM.
Art. 32. O registro compreende:
(...)
II – O arquivamento:
Arquivamento – a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mer-
Lei nº 8.934/1994 cantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas;
b) dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata a Lei nº 6.404, de 15 de
dezembro de 1976;
c) dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil;
d) das declarações de microempresa;
e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro Público
de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário
e às empresas mercantis;

Está ligada aos instrumentos de escrituração, que são os livros comerciais e as fichas escri-
turais. É condição de regularidade do documento, já que configura requisito extrínseco
de validade da escrituração mercantil. Pode ser também ato confirmatório da correspon-
dência material entre cópia e original do mesmo documento, desde que esteja registrado
na Junta Comercial:
Art. 39. As juntas comerciais autenticarão:
I – os instrumentos de escrituração das empresas mercantis e dos agentes auxiliares do
comércio;
Autenticação –
II – as cópias dos documentos assentados.
Lei nº 8.934/1994
Parágrafo único. Os instrumentos autenticados, não retirados no prazo de 30 (trinta) dias,
contados da sua apresentação, poderão ser eliminados.
Art. 39-A. A autenticação dos documentos de empresas de qualquer porte realizada por meio
de sistemas públicos eletrônicos dispensa qualquer outra. (Incluído pela Lei Complementar
nº 1247, de 2014)
Art. 39-B. A comprovação da autenticação de documentos e da autoria de que trata esta Lei
poderá ser realizada por meio eletrônico, na forma do regulamento. (Incluído pela Lei Com-
plementar nº 1247, de 2014)
Direito Empresarial 971

Quando o empresário vai à Junta Comercial requerer o registros de seus atos consti-
tutivos (contrato social ou estatuto) ou de alterações nos respectivos atos, cabe ao órgão
executor apreciar e julgar tais requerimentos, no que se denomina processo decisório do
registro de empresa.
Em regra, os atos próprios do RPEM são decididos de forma singular, pelo Presidente
da Junta Comercial, por vogal ou servidor que possua comprovados conhecimentos de
Direito Comercial e de Registro de Empresas Mercantis (art. 42, da Lei n. 8.934/1994).
Outros atos dependem de decisão colegiada (art. 41, da Lei n. 8.934/1994), quais sejam:
I – o arquivamento:
a) dos atos de constituição de sociedades anônimas, bem como das atas de assembleias
gerais e demais atos, relativos a essas sociedades, sujeitos ao Registro Público de Empre-
sas Mercantis e Atividades Afins;
b) dos atos referentes à transformação, incorporação, fusão e cisão de empresas mercantis;
c) dos atos de constituição e alterações de consórcio e de grupo de sociedades, conforme
previsto na Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976.
II – o julgamento do recurso previsto nesta lei.
Caso o empresário não concorde com a decisão adotada pela Junta Comercial, seja ela
uma decisão singular ou colegiada, poderá apresentar Pedido de Reconsideração, Recurso
ao Plenário ou, em última instância administrativa, Recurso ao Ministro de Estado da Indús-
tria, do Comércio e do Turismo (atualmente ao Secretário da SEMPE, consoante item 2.1).
Por fim, considera-se em inatividade o empresário ou sociedade que não proceder a
qualquer arquivamento no período de dez anos consecutivos deverá comunicar à junta
comercial que deseja manter-se em funcionamento (art. 60, da Lei n. 8.934/1994).
Neste caso, a sociedade será notificada e, não respondendo à notificação, será promo-
vido o cancelamento do registro, com a perda automática da proteção ao nome empresa-
rial. Para que o registro seja reativado, será necessário adotar o mesmo procedimento de
constituição.

2.5. Empresário irregular


Como já destacado nas primeiras linhas deste capítulo e no capítulo anterior, o empre-
sário irregular é aquele que preenche os requisitos para ser empresário (exercício de
empresa, capacidade e ausência de impedimento), mas não realizou a inscrição no RPEM.
Enfim, é o empresário não registrado.
Capítulo 3. Propriedade Industrial

SUMÁRIO: 3 Propriedade industrial. 3.1 Lei nº 9.279/1996. 3.2 O Instituto Nacional da Propriedade Indus-
trial (INPI). 3.3 Propriedade industrial e direitos autorais. 3.4 Patentes. 3.5 Desenho industrial. 3.6 Marca:
espécies. 3.7 Procedimento de registro. 3.8 Indicações geográficas.

Ao analisar o patrimônio do empresário e da sociedade empresária (perfil objetivo da


empresa), verificou-se que é composto por bens corpóreos e incorpóreos.
Dentre os bens incorpóreos, compreendem-se o conjunto de bens contidos no gênero
Propriedade Intelectual, incluindo a espécie Propriedade Industrial.

3. PROPRIEDADE INDUSTRIAL
3.1. A Propriedade Industrial e os direitos autorais. A Lei n. 9.279/96
A Propriedade Intelectual, como sinalizado, é um gênero que envolve a proteção de
todos os bens imateriais surgidos da criatividade humana.
A proteção à personalidade intelectual do indivíduo é objeto de tratados e convenções
internacionais, inclusive a Convenção de Paris (1883), revista na Convenção de Estocolmo
de 1967, da qual o Brasil é signatário conforme Decretos n. 75.572/75 e n. 635/92. Também
em 1967 foi criada a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI – sigla em
inglês WIPO), uma das 16 agências da ONU.
De acordo com a OMPI, a Propriedade Intelectual é:
“a soma dos direitos relativos às obras literárias, artísticas e cientificas, às interpreta-
ções dos artistas intérpretes e às execuções dos artistas executantes, aos fonogra-
mas e às emissões de radiodifusão, às invenções em todos os domínios da atividade
humana, às descobertas científicas, aos desenhos e modelos industriais, às marcas
industriais, comerciais e de serviço, bem como às firmas comerciais e denominações
comercias, à proteção contra a concorrência desleal e todos os outros direitos ine-
rentes à atividade intelectual nos domínios industrial, científico, literário e artístico”.
Veja-se, pelo amplo conceito ora transcrito, que a propriedade intelectual abrange
diversas espécies de direitos, inclusive os mais importantes e disciplinados por normas
especiais:
a) Os Direitos Autorais – Lei 9.610/98;
b) Os Direitos à Propriedade Industrial – Lei 9.279/96 (LPI).
Embora apenas a segunda espécie seja objeto do conteúdo de Direito Empresarial, con-
vém destacar as distinções básicas:
974 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

DIREITO AUTORAL PROPRIEDADE INDUSTRIAL


Protege a forma de exteriorização da ideia (o resul- Protege tanto a ideia como a forma de exteriorização
tado da criação humana). (o resultado da criação humana).
Decorre da anterioridade da criação. Decorre de um ato administrativo.
O registro administrativo tem natureza declarató- O registro administrativo tem natureza constitu-
ria, cuja ausência não afasta a proteção legal (art. 18, tiva, surgindo o direito a partir desse ato (arts. 7º, 109
da Lei 9.610/98). e 129, da LPI).

Quanto ao regime jurídico da propriedade intelectual, considera-se que a ideia e a


expressão da inventividade humana decorrem da sua própria liberdade de pensamento,
sendo, portanto, um direito da personalidade.
Na medida, porém, que essa criação é exteriorizada em uma obra de arte, desenho,
marca, etc., o invento passa a ter valoração e proteção especial, tornando-se propriedade
de seu autor, como um BEM INCORPÓREO (por ter existência ideal ou imaterial) e MÓVEL
(diante do reflexo patrimonial do direito pessoal em comento – art. 83, III, do CC + art. 3º,
da Lei 9.610/98 + art. 5º, da Lei 9.279/96 – LPI).

3.2. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)


O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é uma autarquia federal vinculada
ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, responsável pelo aperfeiçoamento,
disseminação e gestão do sistema brasileiro de concessão e garantia de direitos de proprie-
dade intelectual para a indústria.
Entre os serviços do INPI, estão os registros de marcas, desenhos industriais, indicações
geográficas, programas de computador e topografias de circuitos, as concessões de paten-
tes e as averbações de contratos de franquia e das distintas modalidades de transferência
de tecnologia. 
Veja-se que esta autarquia não se confunde com a juntas comerciais, que são respon-
sáveis pelo registros dos atos constitutivos das sociedades empresariais, como destacado
no Capítulo 2.

3.3. Patentes
Como já destacado, a propriedade industrial é uma espécie do gênero propriedade
intelectual, que pode ser definida como o conjunto de direitos do inventor e/ou empresá-
rio que protege suas criações que possuem aproveitamento comercial ou industrial.
A proteção dessa ideia e de seu resultado surge a partir do registro no Instituto Nacional
de Propriedade Industrial (INPI).
A Lei 9.279/96 – LPI – regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, dis-
ciplinando especificamente a proteção às seguintes criações humanas: invenções, mode-
los de utilidade, desenhos industriais e marcas.
Os dois primeiros (invenção e modelo de utilidade) podem gerar uma Patente, que é um
título de propriedade temporária outorgado pelo Estado aos inventores ou autores
Direito Empresarial 975

ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. Com este
direito, o inventor ou o detentor da patente pode impedir terceiros, sem o seu consen-
timento, de produzir, usar, colocar a venda, vender ou importar produto objeto de sua
patente e/ ou processo ou produto obtido diretamente por processo por ele patenteado.
Já a marca e o desenho industrial não geram patentes, embora também sejam protegi-
dos a partir do registro junto ao INPI.
Por fim, convém destacar as duas criações humanas, com repercussão econômica no
âmbito empresarial, que geram patentes: a invenção e o modelo de utilidade, que podem
ser assim esquematizados:
a) Invenções.

Criação decorrente do esforço humano de algo que não existia antes (diferenciando-se
Conceito
de uma mera descoberta).
Novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Não pode ser algo que poderia ser
Requisitos
obtido com técnicas já existentes (domínio da técnica – art. 11, da LPI).
Vigência A patente tem vigência de 20 anos, contados do depósito (art. 40, da LPI).

b) Modelos de Utilidade.

Criação decorrente do esforço humano que aperfeiçoa algo que já existia (melhoramento
Conceito
de uma invenção).
Objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente
nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no
Requisitos
seu uso ou em sua fabricação (art. 9º, da LPI). Também não pode ser um aperfeiçoamento
que poderia ser obtido com técnicas já existentes (domínio da técnica – art. 11, da LPI).
Vigência A patente tem vigência de 15 anos, contados do depósito (art. 40, da LPI).

3.4. Desenho industrial


Consoante já destacado, o desenho industrial não gera patente, mas é protegido
quando registrado junto ao INPI, e é regulamentado da seguinte forma pela LPI:

É a forma dos objetos industrializáveis, com seus traços, contornos e cores (aspectos
Conceito
visuais do produto).
Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto
ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resul-
Requisitos tado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabrica-
ção industrial (art. 95). Também não pode ser um aperfeiçoamento que poderia ser obtido
com técnicas já existentes (domínio da técnica – art. 96, da LPI).
O registro vigorará pelo prazo de 10 anos contados da data do depósito, prorrogável
Vigência
por 3 períodos sucessivos de 5 anos cada (art. 108, da LPI).

3.5. Marca: espécies


A marca, que também não geral patente e é um elemento visual protegido pela LPI,
quando registrada no INPI, divide-se nas seguintes espécies:
a) Marca de Produto ou Serviço: sinal gráfico que representa um produto ou serviço;
976 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

b) Marca de Certificação: vincula determinado padrão de qualidade;


c) Marca Coletiva: identifica um empresário ou sociedade empresária.
Os principais requisitos da Marca são: Novidade (relativa, suficiente para distinguir o
produto, serviço, certificação ou empresário), não coincidência com marca de alto renome
(arts. 125-126, da LPI) e desimpedimento (art. 124, da LPI).
Quanto à vigência, destaque-se que o registro da marca vigorará pelo prazo de 10 anos,
contados da data da concessão do registro, prorrogável por períodos iguais e sucessi-
vos (art. 133, da LPI).

ATENÇÃO!
Embora o prazo prescricional geral para demandas reparatórias de danos seja de 03 anos, de acordo com o art.
206, § 3º, V, do CC, o prazo prescricional para reparação de dano causado ao direito de propriedade indus-
trial é de 05 anos, conforme art. 225, da LPI e Súmula n. 143, do STJ.

3.6. Procedimento de registro


O pedido de registro da invenção ou modelo de utilidade, para fins de patente, ou o
pedido de registro da marca ou desenho industrial, será apresentado pela parte ou por
procurador qualificado, junto ao INPI, com o pagamento das taxas respectivas.
Caso o pedido seja deferido pela autarquia federal, terá o registro a vigência já desta-
cada nos tópicos anteriores.
Em sendo indeferido o pedido, cabe recurso, com efeito suspensivo e devolutivo, que
será interposto no prazo de 60 (sessenta) dias. Os recursos serão decididos pelo Presidente
do INPI, encerrando-se a instância administrativa.

3.7. Indicações geográficas


Considera-se Indicação Geográfica (IG) o nome geográfico de país, cidade, região ou
localidade de seu território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração,
produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.
A Indicação Geográfica é usada para identificar a origem de produtos ou serviços
quando o local tenha se tornado conhecido ou quando determinada característica ou qua-
lidade do produto ou serviço se deve a sua origem.
As indicações geográficas se dividem em:
a) Indicação de procedência – é o nome geográfico de um país, cidade, região ou uma
localidade de seu território, que se tornou conhecido como centro de produção, fabrica-
ção ou extração de determinado produto ou prestação de determinado serviço.
b) Denominação de origem – é o nome geográfico de país, cidade, região ou locali-
dade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou caracte-
rísticas se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores
naturais e humanos.
Capítulo 4. Títulos de Crédito

SUMÁRIO: 4 Títulos de crédito. 4.1 Classificação dos títulos de crédito: letra de câmbio, nota promissória,
cheque, duplicata, endosso e aval. 4.2 Títulos de crédito comercial, industrial, à exportação, rural, imobi-
liário, bancário. 4.3 Letra de arrendamento mercantil.

Os Títulos de Crédito formam um ramo próprio dentro do Direito Empresarial, o cha-


mado Direito Cambial.
O conceito de título de crédito, inspirado na obra do jurista italiano Cesare Vivante, está
previsto no art. 887, do CC: O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito
literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
Trata-se de conceito que reproduz os Princípios Gerais do Direito Cambial:
a) Cartularidade ou Incorporação (art. 889, § 3º): o título deve estar representado por
um documento que possua as mínimas características previstas em lei, a lhe conferir
autenticidade para fins de circulação e facilitar a dinâmica dos negócios com segu-
rança;
b) Literalidade: em regra, são as disposições previstas no título que lhe conferem cer-
teza e liquidez, devendo ser levado em conta apenas o que está escrito na cártula;
c) Autonomia – Abstração e Inoponibilidade das Exceções Pessoais a terceiro de boa-
-fé (art. 916), permitindo a livre circulação do título, independentemente do negócio
que lhe deu origem.

ATENÇÃO!
Alguns princípios, naturalmente, possuem exceções reconhecidas pela lei, pela doutrina ou pela jurisprudência.
Em relação à autonomia do título de crédito, destaque-se o teor da Súmula n. 258, do STJ: A nota promis-
sória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título
que a originou.

Por força do art. 83, III, do CC, cumulado com normas próprias dos títulos de crédito, a
doutrina considera que estes têm natureza jurídica de bens móveis.

4.1. Classificação dos títulos de crédito: letra de câmbio, nota promissória, cheque,
duplicata, endosso e aval
O Código Civil disciplina as regras gerais dos títulos de crédito atípicos, enquanto as leis
especiais e tratados internacionais disciplinam os títulos de crédito típicos.
Seguindo a ordem prevista no Edital, seguem as principais regras de cada um dos títu-
los destacados, incluindo o endosso e o aval:
978 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

4.1.1. Letra de câmbio (Decreto n. 57.633/66 – LEI UNIFORME – LU)


A Letra de Câmbio, considerado um dos mais antigos títulos de crédito, é uma ordem
de pagamento, na qual o devedor (sacador) indica ao beneficiário (credor) um terceiro
(sacado) que irá realizar um pagamento.
Sobre este título de crédito, convém destacar o seguinte:

1 – A palavra “letra” inserta no próprio texto do título é expressa na língua empregada


para a redação desse título;
2 – O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;
3 – O nome daquele que deve pagar (sacado);
4 – A época do pagamento;
Requisitos: 5 – A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;
6 – O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga;
7 – A indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada;
8 – A assinatura de quem passa a letra (sacador);
9 – Cláusula de juros (opcional na letra – art. 5º, LU – embora proibida, como regra geral,
pelo art. 890, CC/02).
a) Na própria letra, anverso, de forma pura e simples;
b) O aceite parcial é permitido, mas tem efeito de recusa, só obrigando o aceitante no
Aceite do
valor indicado;
Sacado:
c) Havendo recusa do aceite, o Beneficiário deverá fazer o protesto da letra, para viabilizar
a cobrança junto ao sacador (emitente) e demais coobrigados (avalista e endossantes)
a) Puro, simples e incondicionado, através de assinatura no verso. Endosso parcial ou limi-
tado é nulo;
b) A cláusula não à ordem é permitida pelo art. 11. Neste caso a transmissão só é possível
por cessão de crédito;
c) Em preto x em branco: indicação do beneficiário, no primeiro. O segundo torna o título
Endosso “ao portador”;
d) Próprio x Impróprio: este último não transfere o título, mas serve de mandato para
cobrança (art. 18) ou garantia pignoratícia (art. 19);
e) Tardio: posterior ao protesto ou decurso do prazo – serve como cessão de crédito;
f) De retorno: o endossatário é pessoa já obrigada no título.
a) Garantia com assinatura no anverso. Se for no verso, precisa de especificação;
b) Em preto x em branco: o primeiro indica o avalizado. O segundo interpreta-se como
Aval
direcionado ao emitente (sacador) – art. 31;
c) Ao contrário do CC, a LU permite o aval parcial (art. 30).

4.1.2. Nota promissória (Decreto n. 57.633/66 – LEI UNIFORME – LU)


A Nota Promissória é um título cambiário no qual o promitente (devedor) assume a
obrigação direta e principal de pagar ao beneficiário (credor) o valor ali designado.
Eis as principais regras referentes à Nota Promissória, a seguir sistematizadas:

1 – Denominação “Nota Promissória” inserta no próprio texto do título e expressa na lín-


Requisitos: gua empregada para a redação desse título;
2 – A promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada;
Direito Empresarial 979

3 – A época do pagamento;
4 – A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;
Requisitos: 5 – O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga;
6 – A indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada;
7 – A assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor).
Como envolve apenas duas pessoas (na letra de câmbio há três envolvidos), não há a
Características figura do aceite e do sacado na nota promissória. Ademais, dispensa o protesto para exe-
especiais: cução da dívida por falta de pagamento contra os devedores (promitente e seus avalis-
tas), por se tratar de uma obrigação direta, e não de regresso.
Aplicam-se as regras já elencadas no quadro sistemático da Letra de Câmbio (art. 77, da
Endosso
LU).
Aplicam-se as regras já elencadas no quadro sistemático da Letra de Câmbio (art. 77, da
Aval
LU).

4.1.3. Cheque (Lei n. 7357/85)


O cheque é uma ordem de pagamento emitida pelo titular de uma conta bancária, para
que o beneficiário possa sacar o valor ali contido na instituição financeira indicada no título.
O quadro abaixo contém as regras mais importantes sobre o título em comento:

Art. 1º O cheque contêm:


I – a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que
este é redigido;
II – a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
III – o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);
IV – a indicação do lugar de pagamento;
V – a indicação da data e do lugar de emissão;
VI – a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.
Requisitos: Parágrafo único – A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes espe-
ciais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica ou
processo equivalente.
Art. 2º O título, a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo precedente não
vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir:
I – na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o lugar designado
junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o cheque é pagável no primeiro
deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no lugar de sua emissão;
II – não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado
junto ao nome do emitente.
a) Trata-se de ordem de pagamento, contando com emitente, beneficiário e sacado;
b) O sacado só pode ser instituição financeira, que não pode ser endossante ou avalista;
c) O cheque não admite aceite ou recusa de aceite. O critério para pagamento é objetivo:
Características existência ou não de fundos na conta respectiva. Se o Banco devolve indevidamente um
Especiais: cheque por considerar, erroneamente, falta de fundos, cabe ao emitente indenização por
dano moral, in re ipsa (Súmula n. 388, do STJ);
d) O cheque ao portador é possível, desde que o valor seja igual ou inferior a R$ 100,00;
e) Considera-se não escrita a cláusula de juros no cheque (art. 10).
980 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

f) O cheque é uma ordem de pagamento à vista, não admitindo a lei o cheque com ven-
cimento anterior. A jurisprudência, porém, admite a existência do cheque pós-datado
Características (conhecido como “pré-datado”), inclusive com a possibilidade de condenação em danos
Especiais: morais no caso de apresentação antecipada (Súmula n. 370, do STJ);
g) Prazo para APRESENTAÇÃO: 30 dias na mesma praça, e 60 dias da emissão em praça
distinta.
a) Cruzado – Tanto o cheque ao portador quanto o nominal podem ser cruzados, com
a colocação de dois traços paralelos, em sentido diagonal, na frente do documento. O
cruzamento é geral se entre os dois traços não houver nenhuma indicação ou existir ape-
nas a indicação ‘’banco’’, ou outra equivalente. O cruzamento é especial se entre os dois
traços existir a indicação do nome do banco. O cheque com cruzamento geral só pode ser
pago pelo sacado a banco ou a cliente do sacado, mediante crédito em conta. O cheque
com cruzamento especial só pode ser pago pelo sacado ao banco indicado, ou, se este for
o sacado, a cliente seu, mediante crédito em conta;
Espécies: b) A “crédito em conta”: inscrição no verso do cheque feita pelo emitente ou endossante,
e, neste caso, o portador não pode sacar o cheque, apenas creditar o valor em sua conta
ou promover compensação ou transferência;
c) Administrativo: é o cheque emitido pelo próprio banco, para pagamento de despesas
próprias;
d) Visado: é obtido junto ao banco, que dá garantia de que seu pagamento será honrado.
Para visar o cheque, e portanto garanti-lo, o banco faz a devida reserva do valor estipu-
lado com o dinheiro disponível na conta do emitente.
a) CONTRAORDEM OU REVOGAÇÃO: A contraordem é a manifestação de vontade do
emitente de revogar o cheque, cabendo somente a ele este ato, mediante apresenta-
ção de aviso ao banco sacado, contendo as razões motivadoras, cabendo-lhe ainda optar
pela via judicial ou extrajudicial. Os efeitos da contraordem somente são produzidos após
expirado o prazo de apresentação do cheque que, a contar da data de sua emissão, é
de 30 dias para cheques da mesma praça e de 60 dias para cheques de outras praças.O
aspecto prático mais relevante da contraordem é a não permissão, expedida pelo emi-
tente, de que o cheque seja pago após o seu prazo de apresentação. Inexistente a con-
Sustação e traordem, o banco poderá pagar o cheque em até seis meses após expirado o prazo de
contraordem:
apresentação (art. 35);
b) SUSTAÇÃO: Já a sustação do cheque surge como mecanismo de oposição ao paga-
mento durante o seu prazo de apresentação. Tanto o emitente como o portador legi-
timado do título podem requerê-la junto à instituição bancária. Basta para isto que
apresentem relevante razão de direito, dentre as quais estão o extravio, o roubo, o furto,
a falência do credor, ou, ainda, o descumprimento de prestação obrigacional pelo credor
do título. No caso de extravio ou crime, o Banco Central exige a apresentação de Boletim
de Ocorrência em delegacia competente.
a) Pode ser “em preto” ou “em branco”;
b) É possível a cláusula “não à ordem”;
c) Deve ser aposto no verso do título;
Endosso
d) É nulo endosso parcial;
e) Admite-se o endosso próprio e o impróprio;
f) O endosso tardio equivale a cessão de crédito.
a) Garantia com assinatura no anverso. Se for no verso, precisa de especificação;
b) Em preto x em branco: o primeiro indica o avalizado. O segundo interpreta-se como
Aval
direcionado ao emitente (sacador) – art. 30, parágrafo único, da Lei do Cheque;
c) Ao contrário do CC, a Lei do Cheque permite o aval parcial (art. 29).
Direito Empresarial 981

4.1.4. Duplicada (Lei n. 5.474/68)


A Duplicata é o título de crédito extraído da fatura emitida pelo vendedor em uma com-
pra e venda mercantil ou prestação de serviços.
Sobre a Duplicada, destaque-se o seguinte:

I – a denominação “duplicata”, a data de sua emissão e o número de ordem;


II – o número da fatura (para cada fatura, uma duplicata, respeitada a ordem cronológica
das entregas para fins de fiscalização pela receita federal);
III – a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista (apenas estas
duas hipóteses);
IV – o nome e domicílio do vendedor e do comprador;
Requisitos:
V – a importância a pagar, em algarismos e por extenso;
VI – a praça de pagamento;
VII – a cláusula à ordem;
VIII – a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser
assinada pelo comprador, como aceite, cambial;
IX – a assinatura do emitente.
a) Criação do direito brasileiro para proteger os comerciantes no caso de venda ou presta-
ção de serviços para pagamento a prazo, com a aplicação do direito cambial;
b) É título de modelo vinculado e causal em relação ao negócio jurídico principal;
c) É vedada a duplicata ao portador e também a cláusula “não à ordem”;
d) A perda ou extravio da duplicata obrigará o vendedor a extrair triplicata, que terá os
mesmos efeitos e requisitos e obedecerá às mesmas formalidades daquela.
Características e) As hipóteses de RECUSA ao ACEITE por parte do Comprador (Devedor ou Sacado) são
Especiais: objetivas e taxativas:
Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:
I – avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por
sua conta e risco;
II – vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente
comprovados;
III – divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
Aplicam-se as regras já elencadas no quadro sistemático da Letra de Câmbio (art. 25, da
Endosso
Lei das Duplicatas).
Aplicam-se as regras já elencadas no quadro sistemático da Letra de Câmbio (art. 25, da
Aval
Lei das Duplicatas).

4.2. Títulos de crédito comercial, industrial, à exportação, rural, imobiliário, bancário


Os Títulos de Crédito ora indicados são as CÉDULAS e NOTAS de CRÉDITO, que se des-
tinam a representar operações de financiamento, promovidas por instituições financeiras,
para fins de fomento às atividades produtivas do país.
São títulos de maior complexidade, com estrutura contratual, porém regulados pelo
direito cambiário, especialmente no que se refere à certeza, liquidez e exigibilidade, requi-
sitos essenciais para serem considerados títulos executivos extrajudiciais.
982 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

A principal distinção entre a CÉDULA e a NOTA é a garantia: apenas as cédulas de cré-


dito admitem GARANTIA REAL (hipoteca, penhora ou alienação fiduciária), além da garan-
tia fidejussória (aval).
Segue abaixo a regulamentação dos títulos mencionados no Edital:

4.2.1. Cédulas e notas de crédito rurais

Legislação: Decreto-Lei n. 167/67.


Financiamentos rurais, concedidos por instituições financeiras ou cooperativas de crédito
Objeto:
rural.
Aplicação do O emitente da cédula fica obrigado a aplicar o financiamento nos fins ajustados, devendo
crédito: comprovar essa aplicação no prazo e na forma exigidos pela instituição financiadora.
Juros a serem definidos pelo CMN, com possibilidade de capitalização inferior a um ano
Encargos
(Súmula n. 93, do STJ), além de juros de mora de 1% ao ano e multa moratória de 10%,
financeiros:
para o caso de cobrança judicial ou administrativa.
Aval (fidejussória) e, para as Cédulas, penhor ou hipoteca (real). É possível que o bem em
Garantias: garantia seja de terceiro, que também figurará como garantidor do título, até o limite do
valor do bem empenhado ou hipotecado.

4.2.2. Cédulas e notas de crédito industriais

Legislação: Decreto-Lei n. 413/69.


Objeto: Financiamentos de projetos industriais, concedidos por instituições financeiras.
Aplicação do O emitente da cédula fica obrigado a aplicar o financiamento nos fins ajustados, devendo
crédito: comprovar essa aplicação no prazo e na forma exigidos pela instituição financiadora.
Juros a serem definidos pelo CMN, com possibilidade de capitalização inferior a um ano
Encargos
(Súmula n. 93, do STJ), além de juros de mora de 1% ao ano e multa moratória de 10%,
financeiros:
para o caso de cobrança judicial ou administrativa.
Aval (fidejussória) e, para as Cédulas, penhor ou hipoteca (real). É possível que o bem em
Garantias: garantia seja de terceiro, que também figurará como garantidor do título, até o limite do
valor do bem empenhado ou hipotecado.

4.2.3. Cédulas e notas de crédito de exportação

Legislação: Lei n. 6.313/75.


Financiamentos à exportação ou à produção de bens para exportação, bem como às ati-
vidades de apoio e complementação integrantes e fundamentais da exportação, conce-
Objeto:
didos por instituições financeiras. Obs.: Ficam isentos de IOF os financiamentos referentes
a este título, conforme art. 2°.
A aplicação de crédito decorrente da operação de que trata o artigo anterior poderá ser
Aplicação do ajustada em orçamento assinado pelo financiado e autenticado pela instituição finan-
crédito: ceira, dele devendo constar expressamente qualquer alteração que convencionarem
(aplicação subsidiária do DL 413/69).
Juros a serem definidos pelo CMN, com possibilidade de capitalização inferior a um ano
Encargos
(Súmula n. 93, do STJ), além de juros de mora de 1% ao ano e multa moratória de 10%,
financeiros:
para o caso de cobrança judicial ou administrativa (aplicação subsidiária do DL 413/69).
Aval (fidejussória) e, para as Cédulas, penhor ou hipoteca (real). É possível que o bem em
Garantias: garantia seja de terceiro, que também figurará como garantidor do título, até o limite do
valor do bem empenhado ou hipotecado (aplicação subsidiária do DL 413/69).
Direito Empresarial 983

4.2.4. Cédulas e notas de crédito comerciais

Legislação: Lei n. 6.840/80.


Financiamentos de atividade comercial ou de prestação de serviços, concedidos por ins-
Objeto:
tituições financeiras.
A aplicação de crédito decorrente da operação de que trata o artigo anterior poderá ser
Aplicação do
ajustada em orçamento assinado pelo financiado e autenticado pela instituição finan-
crédito:
ceira, dele devendo constar expressamente qualquer alteração que convencionarem.
Juros a serem definidos pelo CMN, com possibilidade de capitalização inferior a um
Encargos ano (Súmula n. 93, do STJ), além de juros de mora de 1% ao ano e multa moratória
financeiros: de 10%, para o caso de cobrança judicial ou administrativa (aplicação subsidiária do
DL 413/69).
Aval (fidejussória) e, para as Cédulas, penhor ou hipoteca (real). É possível que o bem
em garantia seja de terceiro, que também figurará como garantidor do título, até o
limite do valor do bem empenhado ou hipotecado (aplicação subsidiária do DL 413/69).
Garantias:
Obs.: A não identificação dos bens objeto da alienação fiduciária cedular não retira a
eficácia da garantia, que incidirá sobre outros de mesmo gênero, quantidade e quali-
dade (art. 4°).

4.2.5. Cédula de crédito bancário

Legislação: Lei n. 10.931/04.


A Cédula de Crédito Bancário é título de crédito emitido, por pessoa física ou jurídica, em
favor de instituição financeira ou de entidade a esta equiparada, representando promessa
Objeto:
de pagamento em dinheiro, decorrente de operação de crédito, de qualquer modalidade
(art. 26).
I – a denominação “Cédula de Crédito Bancário”;
II – a promessa do emitente de pagar a dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível no seu
vencimento ou, no caso de dívida oriunda de contrato de abertura de crédito bancário, a
promessa do emitente de pagar a dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, correspon-
dente ao crédito utilizado;
Requisitos: III – a data e o lugar do pagamento da dívida e, no caso de pagamento parcelado, as datas
e os valores de cada prestação, ou os critérios para essa determinação;
IV – o nome da instituição credora, podendo conter cláusula à ordem;
V – a data e o lugar de sua emissão; e
VI – a assinatura do emitente e, se for o caso, do terceiro garantidor da obrigação, ou de
seus respectivos mandatários.
Encargos Juros a serem definidos no título, capitalizados ou não, além de atualização monetária e
financeiros: encargos de mora, sem fixação de um limite legal (art. 28).
A Cédula de Crédito Bancário poderá ser emitida, com ou sem garantia, real ou fidejussó-
Garantias:
ria, cedularmente constituída. (art. 28).
A Cédula de Crédito Bancário será transferível mediante endosso em preto, ao qual se
aplicarão, no que couberem, as normas do direito cambiário, caso em que o endossatário,
Endosso: mesmo não sendo instituição financeira ou entidade a ela equiparada, poderá exercer
todos os direitos por ela conferidos, inclusive cobrar os juros e demais encargos na forma
pactuada na Cédula (art. 29, § 1°).
984 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

4.3. Letra de arrendamento mercantil


Trata-se de um título de crédito que representa um valor a ser recebido decorrente de
contratos de arrendamento mercantil (leasing), que podem ser emitidos pela credora do
contrato originário, como forma de adquirir capital no mercado.

Legislação: Lei n. 11.882/08.


As sociedades de arrendamento mercantil poderão emitir título de crédito representativo
Legitimidade: de promessa de pagamento em dinheiro, denominado Letra de Arrendamento Mercantil
– LAM. Trata-se, portanto, de título de crédito causal, vinculado a negócio jurídico.
I – a denominação “Letra de Arrendamento Mercantil”; 
II – o nome do emitente; 
III – o número de ordem, o local e a data de emissão; 
IV – o valor nominal; 
V – a taxa de juros, fixa ou flutuante, admitida a capitalização; 
VI – a descrição da garantia, real ou fidejussória, quando houver; 
Requisitos:
VII – a data de vencimento ou, se emitido para pagamento parcelado, a data de venci-
mento de cada parcela e o respectivo valor; 
VIII – o local de pagamento; e 
IX – o nome da pessoa a quem deve ser pago.
Obs.: A LAM não constitui operação de empréstimo ou adiantamento, por sua aquisição
em mercado primário ou secundário, nem se considera valor mobiliário para os efeitos da
Lei no 6.385/76.
Encargos Juros a serem definidos no título, capitalizados ou não, além de atualização monetária e
financeiros: encargos de mora, sem fixação de um limite legal.
Garantias: A LAM poderá ser emitida, com ou sem garantia, real ou fidejussória.
O título é livremente endossável, mas, ao contrário da maioria dos títulos disciplinados
Endosso: por lei especial, o endossante da LAM não responde pelo seu pagamento, salvo estipula-
ção em contrário.
Capítulo 5. Direito Processual Cambial

5. AÇÃO CAMBIAL. 5.1 AÇÃO DE REGRESSO. 5.2 INOPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES.


5.3 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL E FRAUDE À EXECUÇÃO. 5.4 EMBARGOS
DO DEVEDOR. 5.5 AÇÃO DE ANULAÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DE TÍTULO.
Os títulos de crédito são títulos executivos extrajudiciais. Logo, a ação que tem o a fina-
lidade de cobrar o valor ali constante na cártula, em face do devedor principal e codeve-
dores, é uma ação cambial, seja ela uma ação de execução típica ou uma ação monitória.
Os temas supra indicados, a bem da verdade, fazem parte do programa de Direito Pro-
cesso Civil, senão vejamos:
a) Ação Monitória (procedimentos especiais – item 18 do Edital de Direito Processual
Civil);
b) Ação de Execução, Inoponibilidade de Exceções, Responsabilidade Patrimo-
nial e Fraude à Execução e Embargos de Devedor (processo de execução – item
20 do Edital de Direito Processual Civil);
c) Ação de Regresso (além do estudo dentro do Procedimento Comum – item 17 e
subitens do Edital de Direito Processual Civil), é também assunto abordado no tema
Intervenção de Terceiros – Denunciação da Lide (item 9, do Edital de Direito Proces-
sual Civil);
d) Ação de Anulação e substituição de título (era procedimento especial no CPC/73
– art. 907 – mas não consta no CPC/15 naquele rol, razão pela qual será considerada
ação corrente pelo rito comum – item 17 e subitens do Edital de Direito Processual
Civil).
Dessa forma, para evitar sobreposição de assuntos em livros distintos da mesma cole-
ção, deixaremos os aspectos processuais para o livro de Direito Processual Civil, ao tempo
em que fixaremos nossa atenção nos aspectos relativos aos prazos para ajuizamento das
ações cambiais.
A prescrição para os credores dos títulos de crédito, em regra, é de 03 anos a partir do
vencimento (art. 206, § 3º, do CC), salvo no caso do cheque, cujo prazo especial é de 06
meses.
Acontece que, estando o título prescrito para fins de execução, nos prazos acima, ainda
é possível ao credor utilizar outros meios de exercício da pretensão judicial (como ação
monitória ou ação de cobrança), no prazo máximo de 05 anos a partir do vencimento, com
986 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

fundamento no art. 206, § 5º, I, do CC, pois a dívida inscrita em um título de crédito, mesmo
prescrito, é liquida e vencida.

ATENÇÃO!
Neste sentido é a jurisprudência do STJ: Súmula n. 299: É admissível a ação monitória fundada em cheque
prescrito. No mesmo sentido, agora em relação à nota promissória, é a Súmula n. 504: O prazo para ajui-
zamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal,
a contar do dia seguinte ao vencimento do título. Reforçando a tese e destacando a autonomia do título,
vide ainda a recente Súmula n. 531: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o
emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.

Frise-se que o prazo quinquenal para ajuizamento de ação monitória ou de cobrança


vale para qualquer título de crédito vencido e prescrito.
Capítulo 6. Protesto de Títulos

6. PROTESTO DE TÍTULOS E OUTROS DOCUMENTOS DE DÍVIDA: LEGISLAÇÃO, MO-


DALIDADES, PROCEDIMENTOS, EFEITOS, AÇÕES JUDICIAIS ENVOLVENDO O
PROTESTO
Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumpri-
mento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida (art. 1º, da Lei n.
9.492/97).
O serviço de PROTESTO DE TÍTULOS é disciplinado pela Lei n. 9.492/97, além das regras
específicas das leis especiais dos títulos de crédito.
Seguindo o programa previsto no Edital, o candidato deve estar atento aos seguintes
pontos da legislação relativa ao protesto de títulos e outros documentos de dívida:

Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.
§ 1º O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento da
obrigação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução.
§ 2º Após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de pagamento,
Modalidades: vedada a recusa da lavratura e registro do protesto por motivo não previsto na lei cambial.
§ 3º Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite e não
a) Falta de
proceder à devolução dentro do prazo legal, o protesto poderá ser baseado na segunda
pagamento;
via da letra de câmbio ou nas indicações da duplicata, que se limitarão a conter os mes-
b) Falta de aceite; mos requisitos lançados pelo sacador ao tempo da emissão da duplicata, vedada a exi-
gência de qualquer formalidade não prevista na Lei que regula a emissão e circulação
c) Falta de das duplicatas.
devolução do
§ 4º Os devedores, assim compreendidos os emitentes de notas promissórias e cheques,
título.
os sacados nas letras de câmbio e duplicatas, bem como os indicados pelo apresentante
ou credor como responsáveis pelo cumprimento da obrigação, não poderão deixar de
figurar no termo de lavratura e registro de protesto.
§ 5o Não se poderá tirar protesto por falta de pagamento de letra de câmbio contra o
sacado não aceitante. (Incluído pela Lei nº 12.767, de 2012)
Art. 3º Compete privativamente ao Tabelião de Protesto de Títulos, na tutela dos interes-
ses públicos e privados, a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do
aceite, o recebimento do pagamento, do título e de outros documentos de dívida, bem como
lavrar e registrar o protesto ou acatar a desistência do credor em relação ao mesmo, proceder
Procedimentos: às averbações, prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados,
na forma desta Lei.
(...)
Art. 12. O protesto será registrado dentro de três dias úteis contados da protocoliza-
ção do título ou documento de dívida.
988 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

(...)

Procedimentos: Art. 14. Protocolizado o título ou documento de dívida, o Tabelião de Protesto expedirá a
intimação ao devedor, no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento,
considerando-se cumprida quando comprovada a sua entrega no mesmo endereço.
Art. 27. O Tabelião de Protesto expedirá as certidões solicitadas dentro de cinco dias úteis,
no máximo, que abrangerão o período mínimo dos cinco anos anteriores, contados da
data do pedido, salvo quando se referir a protesto específico.
§ 1º As certidões expedidas pelos serviços de protesto de títulos, inclusive as relativas
à prévia distribuição, deverão obrigatoriamente indicar, além do nome do devedor, seu
número no Registro Geral (R.G.), constante da Cédula de Identidade, ou seu número no
Cadastro de Pessoas Físicas (C.P.F.), se pessoa física, e o número de inscrição no Cadastro
Geral de Contribuintes (C.G.C.), se pessoa jurídica, cabendo ao apresentante do título para
protesto fornecer esses dados, sob pena de recusa.
§ 2º Das certidões não constarão os registros cujos cancelamentos tiverem sido averba-
dos, salvo por requerimento escrito do próprio devedor ou por ordem judicial.
Art. 28. Sempre que a homonímia puder ser verificada simplesmente pelo confronto do
número de documento de identificação, o Tabelião de Protesto dará certidão negativa.
Art. 29. Os cartórios fornecerão às entidades representativas da indústria e do comércio
ou àquelas vinculadas à proteção do crédito, quando solicitada, certidão diária, em forma
Efeitos: Banco de de relação, dos protestos tirados e dos cancelamentos efetuados, com a nota de se cui-
dados: dar de informação reservada, da qual não se poderá dar publicidade pela imprensa, nem
mesmo parcialmente. (Redação dada pela Lei nº 9.841, de 5.10.1999)
§ 1º O fornecimento da certidão será suspenso caso se desatenda ao disposto no caput ou
se forneçam informações de protestos cancelados. (Redação dada pela Lei nº 9.841, de
5.10.1999)
§ 2º Dos cadastros ou bancos de dados das entidades referidas no caput somente serão
prestadas informações restritivas de crédito oriundas de títulos ou documentos de dívi-
das regularmente protestados cujos registros não foram cancelados. (Redação dada pela
Lei nº 9.841, de 5.10.1999)
§ 3º Revogado. (Redação dada pela Lei nº 9.841, de 5.10.1999)
Art. 30. As certidões, informações e relações serão elaboradas pelo nome dos devedores,
conforme previstos no § 4º do art. 21 desta Lei, devidamente identificados, e abrangerão
os protestos lavrados e registrados por falta de pagamento, de aceite ou de devolução,
vedada a exclusão ou omissão de nomes e de protestos, ainda que provisória ou parcial.
Art. 31. Poderão ser fornecidas certidões de protestos, não cancelados, a quaisquer inte-
ressados, desde que requeridas por escrito. (Redação dada pela Lei nº 9.841, de 5.10.1999)
a) Ação de Sustação de Protesto: trata-se de medida de natureza cautelar, tutela de
urgência, que pode ser obtida entre a notificação do devedor e a efetivação do protesto
Ações judiciais (prazo de 03 dias úteis – art. 12 c/c art. 14 c/c art. 17);
envolvendo o
protesto: b) Ação de Cancelamento de Protesto: é a ação principal de mérito ou pedido de mérito
que tem o objetivo de cancelar o protesto após o registro respectivo, fundada em vícios
do título ou no cumprimento da obrigação.
Capítulo 7. Direito Societário

SUMÁRIO: 7 Direito societário. 7.1 Sociedade empresária: conceito, terminologia, ato constitutivo. 7.2
Sociedades simples e empresárias. 7.3 Personalização da sociedade empresária. 7.4 Sociedade irregular. 7.5
Teoria da desconsideração da personalidade jurídica. 7.6 Desconsideração inversa. 7.7 Regime jurídico dos
sócios. 7.8 Sociedade limitada. 7.9 Sociedade anônima. 7.10 Sociedade em nome coletivo. 7.11 Sociedade
em comandita simples. 7.12 Sociedade em comandita por ações. 7.13 Operações societárias: transformação,
incorporação, fusão e cisão. 7.14 Relações entre sociedades: coligações de sociedades, grupos societários,
consórcios, sociedade subsidiária integral, sociedade de propósito específico. 7.15 Dissolução, liquidação e
extinção das sociedades. 7.16 Concentração empresarial e defesa da livre concorrência.

O Direito Societário, que estuda as Sociedades, empresariais ou não, é mais um ramo do


Direito Empresarial, dentro do perfil subjetivo da empresa.
A seguir, serão abordados pontualmente os temas do Direito Societário previstos no
Edital.

7. DIREITO SOCIETÁRIO
7.1. Sociedades empresárias: conceito, terminologia, ato constitutivo
Ao contrário do Empresário Individual, que atua em regra como Pessoa Física (salvo na
hipótese de EIRELI), a Sociedade é o exercício da empresa por duas ou mais pessoas, que
celebram contrato de sociedade e se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o
exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Há diversas espécies de sociedades previstas no Código Civil, porém convém destacar
que a terminologia EMPRESARIAL se refere às sociedades que exercem atividade empre-
sarial, enquanto o termo SIMPLES se refere às sociedades de natureza não empresarial.
Para fins de formalização da sociedade, disciplinando as regras que vão gerir as relações
entre os sócios unidos a um objetivo comum, pode ser celebrado um contrato social ou um
estatuto, que será o ato constitutivo levado a registros para fins de personificação.

7.2. Sociedades simples e empresárias. Classificação


Como já destacado no item anterior, uma das classificações das sociedades decorre do
seu objeto social, da natureza das atividades exercidas.
De qualquer sorte, inclusive para uma melhor compreensão do candidato quanto a
outros institutos que serão a seguir destacados, convém destacar as diversas classificações
das sociedades:
990 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

a) Quanto ao objeto:

Pessoa Jurídica que exerce atividade de empresa, sujeita a registro. Independente-


mente de seu objeto, considera-se empresária a SOCIEDADE POR AÇÕES (art. 982).
Sociedade
Os demais tipos societários podem ser empresariais ou não, a depender do objeto. O
Empresarial
Registro Público de Empresas Mercantis (RPEM) é realizado pelas Juntas Comerciais
de cada Estado.
Pessoa jurídica que NÃO exerce atividade de empresa. Serão sempre SIMPLES as
COOPERATIVAS (art. 982, parágrafo único), embora seu registro seja feito pelas Juntas
Sociedade Simples
Comerciais. Os demais tipos societários podem ser empresariais ou não, a depender
(lato sensu) OU Não
do objeto. Se forem simples, o registro será efetivado no Cartório de Registro Civil de
Empresária
Pessoas Jurídicas. Também é simples a SOCIEDADE DE ADVOGADOS, de acordo com
Estatuto da OAB.

b) Quanto à Personalidade Jurídica:

Sociedade São as Sociedades Regularmente constituídas, através do registro dos atos constituti-
Personificada. vos (art. 985, do CC), no órgão competente (art. 1.150, do CC).
São duas espécies previstas no CC:
Sociedade Não I – Sociedade em comum: são as sociedades irregulares ou de fato, que funcionam
Personificada. enquanto não inscritos os atos constitutivos;
II – Sociedade em Conta de Participação, objeto do próximo item.

c) Quanto ao ato constitutivo:

Sociedade O ato constitutivo é um contrato social. Ex.: Simples, Limitada, Sociedade em Nome
Contratual. Coletivo, Sociedade em Comandita Simples.
Sociedade O ato constitutivo é um estatuto. Ex.: Sociedade Anônima, Sociedade em Comandita
Institucional. por Ações, Cooperativas.

d) Quanto à responsabilidade dos sócios:

Mesmo com o benefício de ordem, a responsabilidade dos sócios pelas dívidas sociais
Com Resp. Ilimitada. é ilimitada. Ex.: Simples, Sociedade em Nome Coletivo, Sociedade em Comandita Sim-
ples e Sociedades não personificadas.
A responsabilidade dos sócios pelas dívidas sociais é limitada ao capital social inte-
Com Resp. Limitadas. gralizado. Ex.: Limitadas, EIRELI e as Cooperativas (que podem ter responsabilidade
limitada ou não).
Os sócios não se responsabilizam pelas dívidas sociais. Ex.: Sociedades Anônimas.
Sem Resp. por Também não respondem pelas dívidas sociais os sócios comanditários nas socieda-
dívidas sociais. des em comandita simples e os sócios acionistas não administradores nas Sociedades
em Comandita por Ações.

7.3. Personalização da sociedade empresária


Como qualquer Pessoa Jurídica, a sociedade adquire personalidade jurídica com a ins-
crição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos – art. 985, do CC.
De acordo com o art. 1.150, do CC, “O empresário e a sociedade empresária vinculam-
-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade
simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para
aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.”.
Direito Empresarial 991

Quanto ao Registro Público de Empresas Mercantis, indicamos ao candidato a análise


do Capítulo 2 dessa obra.

7.4. Sociedade irregular


A sociedade será personificada se tiver personalidade jurídica própria, distinta de seus
sócios. Consoante art. 985, do CC, a sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição,
no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).
Por outro, lado, quando a sociedade não promove a inscrição registral, é considerada
sociedade irregular, ou seja, não personificada.
O Código Civil prevê duas espécies de sociedade que não são personificadas: a Socie-
dade em Comum (arts. 986-990, do CC) e a Sociedade em Conta de Participação (arts. 991-996,
do CC):

7.4.1. Sociedade em comum


A Sociedade em Comum é a hipótese clássica de Sociedade Irregular ou de Fato,
pois se trata da reunião de pessoas com fins lucrativos sem a devida inscrição do ato cons-
titutivo (art. 986, do CC).
Eis as principais regras, sistematizadas:

Natureza Sociedade Não Personificada.


Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a
Constituição
existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.
Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titu-
Patrimônio social
lares em comum.
Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais,
Responsabilidade
excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela
dos sócios
sociedade.

7.4.2. Sociedade em conta de participação


A Sociedade em Conta de Participação é tratada pelo Código Civil como uma Sociedade
Não Personificada, independentemente do registro do ato constitutivo. Trata-se de uma
opção do legislador pela vedação dessa espécie social, diante dos riscos de acobertamento
de impedidos ou “laranjas” na figura do sócio oculto.
Eis as principais regras, sistematizadas:

Natureza Sociedade Não Personificada.


A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer forma-
Constituição
lidade e pode provar-se por todos os meios de direito.
O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu
Registro instrumento em qualquer registro (civil ou empresarial) não confere personalidade
jurídica à sociedade.
992 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é


exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua pró-
Responsabilidade
pria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspon-
dos sócios
dentes. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, exclusivamente
perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social.

7.5. Teoria da desconsideração da personalidade jurídica


A Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, que também é tema do livro de
Direito Civil, posto que se aplica também àquele ramo do direito, é recorrente nas provas
de concurso.
Aplica-se ao Direito Empresarial a regra contida no Código Civil (art. 50), bem como o
procedimento previsto no CPC/15 acerca do incidente de Desconsideração (arts. 133-137),
como uma das hipóteses de Intervenções de Terceiros.
Por fim, quando se forma uma relação entre a Sociedade Empresária, na qualidade de
fornecedora, e o Consumidor, destinatário final de um produto ou serviço, aplica-se o art.
28, do CDC, inclusive para fins de desconsideração indireta em face dos grupos societários.
O quadro abaixo traz as principais questões que envolvem o tema, de forma sistemati-
zada:

Requerimento e Não pode ser deferida ex officio, dependendo de requerimento expresso da Parte ou
Legitimidade: do Ministério Público – art. 50, do CC/02 + art. 133, do CPC/15.
Legitimidade O incidente processual ou pedido de desconsideração na petição inicial é direcio-
Passiva: nado, em regra, contra os sócios e/ou administradores.
O pedido, que pode ser feito em qualquer fase do processo, só será deferido se com-
provado o abuso de personalidade, caracterizado pela CONFUSÃO PATRIMO-
NIAL e o DESVIO DE FINALIDADE. Neste sentido o art. 50, do CC/02 e entendimento
doutrinário revelado pelos Enunciados das Jornadas de Direito Civil do CJF:
· Enunciado 146: Nas relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de
Requisitos: Desconsideração da Personalidade Jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalidade
social ou confusão patrimonial).
· Enunciado 281: A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art. 50 do
Código Civil, prescinde da demonstração de insolvência da pessoa jurídica.
· Enunciado 282: O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só,
não basta para caracterizar abuso da personalidade jurídica.
O art. 28, do CDC, tem um regramento mais flexível e a regra é mais abrangente. O
Art. 50, do CC/02 x CDC adotou a TEORIA DA MENOR DESCONSIDERAÇÃO, e o CC/02 adotou a TEORIA
Art. 28, CDC DA MAIOR DESCONSIDERAÇÃO, com disciplinamento mais rígido, exigindo estrito
cumprimento dos requisitos legais.
Pode ocorrer a desconsideração indireta da personalidade jurídica quando a P.J.
Desconsideração
utiliza outras empresas do mesmo grupo econômico para desviar patrimônio. É pre-
Indireta
vista no art. 2°, § 2°, da CLT e no art. 28, §§ 2º a 4°, do CDC.
Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a
pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.
Procedimento
§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos
previstos em lei.
Direito Empresarial 993

§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da perso-


nalidade jurídica.
Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de
conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial.
§ 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as
anotações devidas.
§ 2º  Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade
jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa
jurídica.
Procedimento
§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2º.
§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específi-
cos para desconsideração da personalidade jurídica.
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-
-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão
interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.
Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens,
havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente.

7.6. Desconsideração inversa


A Desconsideração da Personalidade da Pessoa Jurídica foi projetada para as hipóteses
em que a Sociedade não possui patrimônio para arcar com suas dívidas, e o credor tem
interesse em cobrar seu crédito em face dos bens particulares dos sócios, quando há abuso
de personalidade.
Acontece que a casuística demonstrou que era também comum a situação em que o
sócio se valia da pessoa jurídica para “esconder” patrimônio, caracterizando confusão patri-
monial ou desvio de finalidade.
Foi por força do Princípio da Eticidade que fundamenta a própria teoria, que o STJ con-
solidou o entendimento de que é possível a desconsideração inversa em situações como
esta, desde que preenchidos os requisitos essenciais previstos no art. 50, do CC (desvio de
finalidade ou confusão patrimonial).

ATENÇÃO!
Na esteira da histórica jurisprudência do STJ, vide trecho do Informativo n. 440: “Dessa forma, a finalidade
maior da disregard doctrine contida no preceito legal em comento é combater a utilização indevida do ente socie-
tário por seus sócios. Ressalta que, diante da desconsideração da personalidade jurídica inversa, com os efeitos
sobre o patrimônio do ente societário, os sócios ou administradores possuem legitimidade para defesa de seus
direitos mediante a interposição dos recursos tidos por cabíveis, sem ofensa ao contraditório, à ampla defesa e ao
devido processo legal. No entanto, a Min. Relatora assinala que o juiz só poderá decidir por essa medida excepcional
quando forem atendidos todos os pressupostos relacionados à fraude ou abuso de direito estabelecidos no art. 50
do CC/2002.”.
994 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

O entendimento também tem respaldo na Doutrina (Enunciado n. 283, da JDC/CJF), e,


mais recentemente, foi admitida pelo CPC/15: Art. 133. (...) § 2o Aplica-se o disposto neste
Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica.
Portanto, trata-se de tese plenamente consolidada no direito pátrio.

7.7. Regime jurídico dos sócios


Enquanto o Empresário Individual assume essa condição ao preencher os requisitos
indicados no Capítulo 1, o sócio da sociedade empresária nem sempre é um empresário,
podendo ser apenas um investidor (com quotas ou ações) ou um sócio com poderes de
gestão (assumindo, neste caso, a condição de mandatário).
Nesse regime jurídico com natureza de negócio jurídico patrimonial, que une pessoas
em torno de uma sociedade, firmando-se um ato constitutivo (contrato social ou estatuto)
que será levado a registro público, convém destacar os direitos e deveres dos sócios:
DIREITOS DOS SÓCIOS DEVERES DOS SÓCIOS
Participação nos resultados (nula é a cláusula que Participação nas perdas (nula é a cláusula que exclua
exclua qualquer sócio da participação nos resultados qualquer sócio da participação nas perdas – art. 1008,
– art. 1008, do CC). do CC).
Participação nas deliberações e assembleias de sócios Integralizar o capital social, na forma e nos prazos
e acionistas. estabelecidos nos atos constitutivos.
Gerir a sociedade, conforme deliberação dos sócios O sócio que, a título de quota social, transmitir domí-
e poderes conferidos nos atos constitutivos devida- nio, posse ou uso, responde pela evicção; e pela sol-
mente registrados. vência do devedor, aquele que transferir crédito (art.
1.005, do CC).
Fiscalizar a gestão da sociedade (art. 1.021, do CC). Respeitar as cláusulas contidas nos contratos sociais e
estatutos aos quais aderir.
Direito de retirada da sociedade, com a liquidação de Prestar contas quando assumir a condição de adminis-
sua quota (art. 1029, do CC). trador (art. 1.020, do CC).

7.8. Sociedade limitada


A sociedade por quotas de responsabilidade limitada é o tipo social mais comum no
Brasil, e está disciplinada no Código Civil nos arts. 1.052 a 1.087.
Eis as principais regras, esquematizadas, dessa espécie social:
A Sociedade Limitada é constituída mediante registro do ato constitutivo, que é um
contrato social, no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (quando simples) ou no Registro
Constituição
Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais, quando tem natureza
empresarial.
Art. 1.158. Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela
palavra final “limitada” ou a sua abreviatura.
§ 1º A firma será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas,
de modo indicativo da relação social.
Nome Empresarial
§ 2º A denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o
nome de um ou mais sócios.
§ 3º A omissão da palavra “limitada” determina a responsabilidade solidária e ilimitada
dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade.
Direito Empresarial 995

O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas


Capital Social a cada sócio. Pode ser integralizado com dinheiro, bens ou créditos, mas é vedada a
formação apenas com prestação de serviços.
A responsabilidade dos sócios é limitada ao valor do capital subscrito, nos termos do
art. 1.052 do Código Civil: “Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é
restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integraliza-
Responsabilidade ção do capital social”. Esta é a razão de ser a espécie de sociedade mais comum no
dos sócios Brasil, diante da segurança conferida ao sócio: em regra, responde apenas pelo valor
de sua quota social, com benefício de ordem. Logo, para cobrar do sócio valor supe-
rior, somente é possível com a desconsideração da personalidade jurídica da pessoa
jurídica (art. 50, do CC e arts. 133-137, do CPC/15).
Aplicam-se subsidiariamente as regras das sociedades simples. Destaque-se o Enun-
Responsabilidade
ciado 66, da JDC/CJF: A teor do § 2º do art. 1.062 do Código Civil, o administrador só
dos administradores
pode ser pessoa natural.
Exclusão e direito de Aplicam-se subsidiariamente as regras das sociedades simples.
retirada
Aplicam-se subsidiariamente as regras das sociedades simples (art. 1.033 c/c art.
Extinção 1.044 c/c art. 1.087). Se a natureza for empresarial, é possível também a extinção por
decretação de falência (art. 1.044 c/c art. 1.087).

7.9. Sociedade anônima


A Sociedade Anônima ou Companhia é uma sociedade de capitais (capital dividido em
ações), sempre empresarial (art. 982, do CC), disciplinada pela Lei 6.404/76.
Eis as principais regras, esquematizadas, dessa espécie social:

Por se tratar de sociedade empresarial, seu ato constitutivo (estatuto) será arquivado
nas Juntas Comerciais. A constituição é um ato complexo, que depende de atos pre-
Constituição liminares (subscrição de ações e depósito de entrada – arts. 80-81, da Lei 6.404/76),
além de Assembleia de Constituição ou Escritura Pública, atos que serão também
arquivados.
Só pode utilizar DENOMINAÇÃO, acrescido de sociedade anônima (S.A. ou S/A, que
pode estar no início, no meio ou no fim da denominação) ou companhia (Cia., que
Nome Empresarial
só pode estar no início ou no meio da denominação) – 1160, do CC c/c art. 3º, da Lei
6.404/76.
O capital social divide-se em ações. É o montante financeiro de propriedade da
Companhia, relativo à soma das contribuições dos sócios. A sua principal função é
constituir o fundo inicial, com o qual se tornará viável o início da vida econômica da
Capital Social
sociedade. Será fixado pelo Estatuto (art. 5°), com correção monetária anual. Na sua
formação o Capital Social pode compreender qualquer espécie de bens, móveis ou
imóveis, corpóreos ou incorpóreos, suscetíveis de avaliação em dinheiro.
CAPITAL ABERTO: aquela cujo capital esteja à disposição para negociação em Bolsa
ou Mercado de Balcão, devidamente registrados na CVM (Comissão de Valores de
Mercados), ou seja, emite títulos e os vende ou na Bolsa ou no Mercado de Balcão.
Espécies CAPITAL FECHADO: São as que não se enquadram nos requisitos das sociedades
Abertas, São, normalmente, sociedades pequenas, com um número de acionistas
inferiores a 20, com patrimônio inferior ao estabelecido pela CVM para as S/A de capi-
tal aberto, enquadradas no art. 294 da Lei das S/A.
Responsabilidade Responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das
dos sócios ações subscritas ou adquiridas.
996 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

Assembleia Geral – Poder Deliberador e Legislativo: Haverá uma ORDINÁRIA anual e


EXTRAORDINÁRIA quando necessário.
Conselho de Administração – Poder Executivo: órgão de deliberação colegiada,
obrigatório somente para as sociedades de capital autorizado e as abertas, e facul-
tativo nas demais sociedades anônimas, cabendo ao estatuto dispor a respeito da
criação desse órgão. Será composto de, no mínimo, 3 membros, eleitos pela Assem-
bleia Geral.
Diretoria – Poder Executivo: A Diretoria existirá sempre, em qualquer sociedade
Órgãos Sociais anônima, competindo-lhe praticar todos os atos não apenas de gestão dos negócios
sociais, como também de orientação das atividades da sociedade, quando não existir
Conselho de Administração. Será composta de, no mínimo, 02 membros, eleitos pelo
Conselho de Administração ou a Assembleia Geral, se aquele não existir.
Conselho Fiscal – Poder Fiscalizador e de Controle: O Conselho Fiscal é um órgão
autônomo, de controle e fiscalização das atividades financeiras da sociedade e da
atuação dos administradores. Será composto de no mínimo três e no máximo cinco
membros, acionistas ou não, eleitos pela Assembleia Geral Ordinária, com mandato
anual (art. 161, § 1º) e pode ser de funcionamento permanente ou somente quando
solicitada instalação pelos acionistas, conforme dispuser o Estatuto (art. 161).
1. Responsabilidade Administrativa: A responsabilidade administrativa abrange a
má-gestão, que poderá acarretar o rebaixamento do administrador ou a sua desti-
tuição. Independe de processo formal, pois se faculta à sociedade poder rebaixar ou
destituir qualquer de seus administradores.
2. Responsabilidade Civil: Art. 158. O administrador não é pessoalmente respon-
sável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato
Responsabilidade regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando
dos administradores proceder:
I – dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo;
II – com violação da lei ou do estatuto.
3. Responsabilidade Penal: os atos de gestão também podem gerar responsabi-
lidade criminal, tais como gestão fraudulenta, crimes contra o sistema financeiro
nacional, etc.
A entrada ou saída de sócios depende da aquisição ou venda de ações, que pode
Exclusão e direito de
ser livre (sociedades de capital aberto) ou por autorização (sociedades de capital
retirada
fechado).
Art. 219. Extingue-se a companhia:
I – pelo encerramento da liquidação;
Extinção
II – pela incorporação ou fusão, e pela cisão com versão de todo o patrimônio em
outras sociedades.

7.10. Sociedade em nome coletivo


Espécie de Sociedade Personificada (arts. 1.039-1.044, do CC) mais condizente com
pequenos e médios empreendimentos, normalmente de estrutura social familiar, pois só
pode ser formado por pessoas físicas.
Eis as principais regras, esquematizadas, dessa espécie social:

Trata-se de sociedade contratual, que pode ser de natureza não empresarial (neste
Constituição caso será inscrita no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua
sede) ou empresarial (será inscrita no RPEM – Junta Comercial).
Nome Empresarial Só pode utilizar firma, acrescido de e (&) companhia (Cia.) – art. 1157.
Direito Empresarial 997

O capital social, expresso em moeda corrente, divide-se em quotas, iguais ou desi-


guais, cabendo uma ou diversas a cada sócio. Pode ser integralizado com dinheiro,
Capital Social
bens ou créditos, e é ainda admitida a formação apenas com prestação de serviços,
se não tiver natureza empresarial.
Responsabilidade Respondem de forma SOLIDÁRIA e ILIMITADA por dívidas sociais, com benefício de
dos sócios ordem, ou seja, após esgotado o patrimônio social.
A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios, sendo o uso da
Responsabilidade firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os necessários poderes.
dos administradores Quanto aos atos de gestão e prejuízos causados, aplicam-se, subsidiariamente, as regras
das sociedades simples.
Exclusão e direito de Aplicam-se subsidiariamente as regras das sociedades simples.
retirada
Aplicam-se subsidiariamente as regras das sociedades simples. Se a natureza for
Extinção
empresarial, é possível também a extinção por decretação de falência.

7.11. Sociedade em comandita simples


Mais uma espécie de Sociedade Personificada (arts. 1.045-1.051, do CC), que tem como
característica especial a existência, em seu quadro societário, de duas espécies distintas de
sócios:
a) Sócios Comanditados: são os sócios que participam da gestão da sociedade e res-
pondem pelas dívidas sociais perante terceiros;
b) Sócios Comanditários: são os sócios que apenas investem na sociedade e recebem
dividendos, em regra sem poderes de gestão e com responsabilidades por dívidas
sociais, perante terceiros, limitadas aos valores de suas quotas sociais.
Eis as principais regras, esquematizadas, dessa espécie social:

Trata-se de sociedade contratual, que pode ser de natureza não empresarial (neste
Constituição caso será inscrita no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua
sede) ou empresarial (será inscrita no RPEM – Junta Comercial).
Só pode utilizar firma, acrescido de e (&) companhia (Cia.) – art. 1157.
Nome Empresarial Observação: na firma só podem constar os nomes dos sócios com poderes de gestão e
responsabilidade por dívidas sociais, ou seja, os comanditados.
O capital social, expresso em moeda corrente, divide-se em quotas, iguais ou desi-
guais, cabendo uma ou diversas a cada sócio. Pode ser integralizado com dinheiro,
Capital Social
bens ou créditos, e é ainda admitida a formação apenas com prestação de serviços,
se não tiver natureza empresarial.
Depende da espécie de sócio:
Responsabilidade a) Sócios Comanditados: Respondem de forma SOLIDÁRIA e ILIMITADA por dívidas
dos sócios por sociais, com benefício de ordem, ou seja, após esgotado o patrimônio social;
dívidas sociais b) Sócios Comanditários: Respondem perante terceiros apenas no valor limitado ao
de suas quotas sociais, também com benefício de ordem.
A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios comanditados
Responsabilidade (necessariamente pessoas físicas), sendo o uso da firma, nos limites do contrato, pri-
dos administradores vativo dos que tenham os necessários poderes. Quanto aos atos de gestão e prejuízos
causados, aplicam-se, subsidiariamente, as regras das sociedades simples.
Exclusão e retirada Aplicam-se subsidiariamente as regras das sociedades simples.
998 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

Aplicam-se subsidiariamente as regras das sociedades simples (art. 1.033 c/c art.
1.044 c/c art. 1.051). Se a natureza for empresarial, é possível também a extinção por
Extinção decretação de falência (art. 1.044 c/c art. 1.051). Finalmente, extingue-se também
quando por mais de cento e oitenta dias perdurar a falta de uma das categorias de
sócio (art. 1051, II).

7.12. Sociedade em comandita por ações


Trata-se de sociedade de capitais (capital dividido em ações), normalmente de pequeno
e médio porte, que está disciplinada no Código Civil nos arts. 1.090 a 1.092, também sendo
aplicável, subsidiariamente, a disciplina especial das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/76).
Eis as principais regras, esquematizadas, dessa espécie social:

É constituída mediante registro do ato constitutivo, que é um estatuto, no Registro


Constituição Civil de Pessoas Jurídicas (quando simples) ou no Registro Público de Empresas Mer-
cantis, a cargo das Juntas Comerciais, quando tem natureza empresarial.
Nome Empresarial Pode utilizar firma ou denominação – art. 1.090 c/c art. 1.161, ambos do CC.
Capital Social O capital social divide-se em ações.
Responsabilidade Os sócios que são simples acionistas investidores, em geral, não respondem por dívi-
dos sócios das sociais.
Responsabilidade São os Diretores (necessariamente sócios acionistas), que respondem de forma SOLI-
dos administradores DÁRIA e ILIMITADA pelas dívidas sociais, com benefício de ordem.
Exclusão e direito de Aplicam-se subsidiariamente as regras das sociedades anônimas.
retirada
Extinção Aplicam-se subsidiariamente as regras das sociedades anônimas.

7.13. Operações societárias: transformação, incorporação, fusão e cisão


As operações de modificação social têm suas regras gerais previstas no Código Civil (arts.
1.113-1.122), embora o CC seja omisso, especificamente, sobre a Cisão. Convém destacar que
as Sociedades Anônimas possuem disciplinamento especial para as operações acima indica-
das (arts. 220-234, da Lei n. 6.404/76). De forma a harmonizar as duas legislações, a doutrina
se conjugou nos seguintes Enunciados, das Jornadas de Direito Civil do CJF:
Enunciado n. 70 – Art. 1.116: As disposições sobre incorporação, fusão e cisão pre-
vistas no Código Civil não se aplicam às sociedades anônimas. As disposições da
Lei n. 6.404/76 sobre essa matéria aplicam-se, por analogia, às demais socieda-
des naquilo em que o Código Civil for omisso.
Enunciado n. 230 – Art. 1.089: A fusão e a incorporação de sociedade anônima con-
tinuam reguladas pelas normas previstas na Lei n. 6.404/76, não revogadas pelo
Código Civil (art. 1.089), quanto a esse tipo societário.
Enunciado n. 231 – Arts. 1.116 a 1.122: A cisão de sociedades continua disciplinada
na Lei n. 6.404/76, aplicável a todos os tipos societários, inclusive no que se refere
aos direitos dos credores. Interpretação dos arts. 1.116 a 1.122 do Código Civil.
Enunciado n. 232 – Arts. 1.116, 1.117 e 1.120: Nas fusões e incorporações entre socieda-
des reguladas pelo Código Civil, é facultativa a elaboração de protocolo firmado
Direito Empresarial 999

pelos sócios ou administradores das sociedades; havendo sociedade anônima ou


comandita por ações envolvida na operação, a obrigatoriedade do protocolo e da
justificação somente a ela se aplica.
Sobre o conceito e as principais distinções entre as operações supra indicadas, convém
destacar:
a) A Transformação é a operação pela qual uma empresa ou sociedade passa de um
tipo para outro, independente de dissolução ou liquidação, obedecidos os preceitos
reguladores da constituição e inscrição do tipo em que vai converter-se. Exige apro-
vação unânime dos sócios, salvo disposição em contrário.
b) A Incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades, de tipos iguais ou
diferentes, são absorvidas por outra que lhes sucede em todos os direitos e obriga-
ções, devendo ser deliberada na forma prevista para alteração do respectivo esta-
tuto ou contrato social. Implica na extinção da sociedade incorporada.
c) A Fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades, de tipos jurídicos
iguais ou diferentes, constituindo nova sociedade que lhes sucederá em todos os
direitos e obrigações, deliberada na forma prevista para a alteração dos respectivos
estatutos ou contratos sociais. A fusão implica na extinção de ambas as sociedades
antes existentes.
d) A Cisão é o processo pelo qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio
para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguin-
do-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se
o seu capital, se parcial a versão.
Frise-se que os credores eventualmente prejudicados pela Incorporação, Fusão ou Cisão
têm 90 dias para pedir a anulação dos atos respectivos, contados a partir de sua publicação.

7.14. Relações entre sociedades: coligações de sociedades, grupos societários, con-


sórcios, sociedade subsidiária integral, sociedade de propósito específico
As relações interempresariais incluem a possibilidade de reunião de sociedade autôno-
mas, em torno de um objetivo comum, com participação no capital social umas das outras,
formando grupos societários com diversos arranjos previstos em lei.
Os grupos societários ou grupos econômicos podem ser de fato e de direito, de acordo
com o esquema a seguir:

Grupo Societário de Fato Grupo Societário de Direito


Existe uma relação econômica entre sociedades, con- A sociedade controladora e suas controladas podem
figura uma relação de coligação, controle ou simples constituir, nos termos deste Capítulo, grupo de socie-
participação, porém se a constituição de um grupo dades, mediante convenção pela qual se obriguem a
formal com convenção própria. combinar recursos ou esforços para a realização dos
respectivos objetos, ou a participar de atividades ou
empreendimentos comuns (art. 265, da Lei das S.A.). O
grupo formal pode constituir-se como uma holding ou
um grupo administrativo sem personalidade própria.
1000 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

Independentemente de formar grupos societários de fato ou de direito, convém desta-


car as formas de integração econômica entre as sociedades:

Relações entre sociedades contratuais (CC) Relações entre sociedade anônimas (Lei das S.A.)
a) Coligadas ou filiadas: art. 1.099. Diz-se coligada a) Coligadas ou filiadas: art. 243, §§ 1º, 4º e 5º: São
ou filiada a sociedade de cujo capital outra sociedade coligadas as sociedades nas quais a investidora tenha
participa com dez por cento ou mais, do capital da influência significativa. É presumida influência signifi-
outra, sem controlá-la. cativa quando a investidora for titular de 20% (vinte
por cento) ou mais do capital votante da investida,
sem controlá-la. 
b) Controladas: Art. 1.098. É controlada: b) Controladas: art. 243, § 2º: Considera-se contro-
I – a sociedade de cujo capital outra sociedade possua lada a sociedade na qual a controladora, diretamente
a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas ou ou através de outras controladas, é titular de direitos
da assembleia geral e o poder de eleger a maioria dos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente,
administradores; preponderância nas deliberações sociais e o poder de
eleger a maioria dos administradores.
II – a sociedade cujo controle, referido no inciso antece-
dente, esteja em poder de outra, mediante ações ou quo-
tas possuídas por sociedades ou sociedades por esta já
controladas.
c) Simples participação: Art. 1.100. É de simples par- c) Simples participação: não prevista na Lei 6.404/76
ticipação a sociedade de cujo capital outra sociedade – Lei das S.A.
possua menos de dez por cento do capital com direito
de voto.
d) Subsidiária integral: sem previsão no CC. d) Subsidiária integral: Art. 251. A companhia pode
ser constituída, mediante escritura pública, tendo
como único acionista sociedade brasileira.
e) Consórcio: sem previsão no CC. e) Consórcio: As companhias e quaisquer outras
sociedades, sob o mesmo controle ou não, podem
constituir consórcio para executar determinado
empreendimento, sem personalidade própria (art.
278).
f) Sociedade de Propósito Específico (SPE): A Socie- f) Sociedade de Propósito Específico (SPE): não pre-
dade de Propósito Específico (SPE) corresponde a vista na Lei 6.404/76 – Lei das S.A.
uma sociedade com as mesmas características do
consórcio, porém com personalidade jurídica, que é
formada para a execução de determinado empreen-
dimento. Vide art. 981, parágrafo único: A atividade
pode restringir-se à realização de um ou mais negócios
determinados.

7.15. Dissolução, liquidação e extinção das sociedades


Consoante se observa da regra geral do art. 51, do CC, a extinção das Pessoas Jurídicas
exige um procedimento trifásico, que pode ser resumido no quadro abaixo:

1 – DISSOLUÇÃO: Encerramento por ato dos sócios, da Administração ou do Poder


Necessário o Judiciário.
cumprimento de 03
2 – LIQUIDAÇÃO: Pagamento dos débitos, cobrança dos créditos e divisão do res-
etapas (art. 51, do
tante entre os sócios.
CC):
3 – EXTINÇÃO: Baixa ou Cancelamento do Registro.
Direito Empresarial 1001

A fase de liquidação, que é obrigatória, tem suas regras gerais disciplinadas pelo Código
Civil (arts. 1.102-1.112). Convém destacar que há regramento especial para a liquidação
extrajudicial de instituições financeiras (Lei n. 6.024/74) e a própria liquidação judicial fali-
mentar (Lei n. 11.101/05).
Sobre a liquidação extrajudicial prevista no Código Civil, convém destacar, de forma
esquematizada, o procedimento ali previsto:
Pessoa designada para conduzir a liquidação. Tal atribuição é vedada ao administra-
Liquidante
dor da sociedade.
Em todos os atos, documentos ou publicações, o liquidante empregará a firma ou
Atos do Liquidante denominação social sempre seguida da cláusula “em liquidação” e de sua assinatura
individual, com a declaração de sua qualidade.
Compete ao liquidante representar a sociedade e praticar todos os atos necessários
Representação à sua liquidação, inclusive alienar bens móveis ou imóveis, transigir, receber e dar
quitação.
Art. 1.106. Respeitados os direitos dos credores preferenciais, pagará o liquidante as
dívidas sociais proporcionalmente, sem distinção entre vencidas e vincendas, mas,
Ordem de em relação a estas, com desconto.
pagamento
Parágrafo único. Se o ativo for superior ao passivo, pode o liquidante, sob sua respon-
sabilidade pessoal, pagar integralmente as dívidas vencidas.
Art. 1.108. Pago o passivo e partilhado o remanescente, convocará o liquidante
Prestação de contas
assembleia dos sócios para a prestação final de contas.
Art. 1.109. Aprovadas as contas, encerra-se a liquidação, e a sociedade se extingue, ao
ser averbada no registro próprio a ata da assembleia.
Parágrafo único. O dissidente tem o prazo de trinta dias, a contar da publicação da
Encerramento ata, devidamente averbada, para promover a ação que couber.
Art. 1.110. Encerrada a liquidação, o credor não satisfeito só terá direito a exigir dos
sócios, individualmente, o pagamento do seu crédito, até o limite da soma por eles
recebida em partilha, e a propor contra o liquidante ação de perdas e danos.

7.16. Concentração empresarial e defesa da livre concorrência.


O Estado Brasileiro exerce controle administrativo sobre a concentração empresarial,
como ocorre com a formação dos grupos societários, destacados no item 7.14, preservando
os Princípios Constitucionais da Livre Iniciativa e Livre Concorrência, a seguir disciplinados:

A livre iniciativa é um dos Fundamentos do Estado Brasileiro (superprincípios), deven-


do-se incentivar o empreendedorismo na ordem econômica, observados os valores
Livre Iniciativa:
sociais do trabalho e a dignidade da pessoa humana, como destacam o art. 1º, III e IV,
e o art. 170, caput, ambos da CF.
Decorrente da Livre Iniciativa, o Estado Brasileiro deve permitir que todos possam
livremente concorrer no mercado (art. 170, IV e parágrafo único, da CF), com leal-
dade, situação que se opõe ao monopólio e ao abuso do poder econômico. Desta-
ca-se, em relação a este princípio, a Lei 12.529/11 (estrutura o Sistema Brasileiro de
Defesa da Concorrência – SBDC e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações
Livre Concorrência:
contra a ordem econômica), disciplinando, dentre outros, a atuação da autarquia
federal CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Convém, ainda, citar
a Súmula Vinculante n. 49, do STF (Conversão da Súmula n. 646, do STF): “Ofende
o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabeleci-
mentos comerciais do mesmo ramo em determinada área”.
1002 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

Frise-se que o SBDC é formado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica –


CADE e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, com as
atribuições previstas na Lei n. 12.529/11.
Os órgãos supra indicados atuam na regulamentação da concentração econômica, em
relação a qualquer grupo ou coligação de sociedades, senão vejamos: Esta Lei aplica-se às
pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado, bem como a quaisquer associações de
entidades ou pessoas, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou sem
personalidade jurídica, mesmo que exerçam atividade sob regime de monopólio legal. (art. 31,
da Lei n. 12.529/11).
Capítulo 8. Contratos Mercantis

SUMÁRIO: 8 Contratos mercantis. 8.1 Características. 8.2 Compra e venda mercantil. 8.3 Comissão mer-
cantil. 8.4 Representação comercial. 8.5 Concessão mercantil. 8.6 Franquia (franchising). 8.7 Contratos
bancários: depósito bancário, mútuo bancário, desconto bancário, abertura de crédito. 8.8 Contratos ban-
cários impróprios: alienação fiduciária em garantia, arrendamento mercantil (leasing), faturização (facto-
ring), cartão de crédito. 8.9 Contrato de seguro. 8.10 Contratos intelectuais: cessão de direito industrial,
licença de uso de direito industrial, transferência de tecnologia, comercialização de logiciário (software).

O Direito Brasileiro prevê diversos regimes jurídicos para os contratos, tais como o cível,
o administrativo, o trabalhista, do de consumo e o mercantil.

8. CONTRATOS MERCANTIS
8.1. Características
Os contratos mercantis ou empresariais são aqueles em que ambos os contratantes são
empresários, para os quais se aplicam os Princípios Contratuais previstos no Código Civil,
e não no Código de Defesa do Consumidor (não há relação de consumo, como se verá no
item 8).
Ainda assim, algumas peculiaridades são indicadas pela Doutrina, nos recentes Enun-
ciados das I e II Jornadas de Direito Empresarial, do CJF:
Enunciado n. 21. Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado,
tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais.
Enunciado n. 23. Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer
parâmetros objetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do
pacto contratual.
Enunciado n. 24. Os contratos empresariais coligados, concretamente formados por uni-
dade de interesses econômicos, permitem a arguição da exceção de contrato não cum-
prido, salvo quando a obrigação inadimplida for de escassa importância.
Enunciado n. 25. A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no Código
Civil deve levar em conta a natureza do objeto do contrato. Nas relações empresariais,
deve-se presumir a sofisticação dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles
acordada.
Enunciado n. 26. O contrato empresarial cumpre sua função social quando não acarreta
prejuízo a direitos ou interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não parti-
cipantes da relação negocial.
Enunciado n. 27. Não se presume violação à boa-fé objetiva se o empresário, durante
as negociações do contrato empresarial, preservar segredo de empresa ou administrar
1004 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

a prestação de informações reservadas, confidenciais ou estratégicas, com o objetivo de


não colocar em risco a competitividade de sua atividade.
Enunciado n. 28. Em razão do profissionalismo com que os empresários devem exercer
sua atividade, os contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da lesão fun-
dada na inexperiência.
Enunciado n. 29. Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função social
do contrato e a boa-fé objetiva (arts. 421 e 422 do Código Civil), em conformidade com as
especificidades dos contratos empresariais.
Observadas as regras gerais supra indicadas, segue a sistematização dos contratos
empresariais previstos no Edital, com as dicas especiais que o Candidato não pode deixar
de anotar, que serão pontuadas em cada um dos itens a seguir.

8.2. Compra e venda mercantil


Além das regras previstas no Código Civil (já destacadas no livro respectivo dessa cole-
ção), destaque-se que a especificidade está na execução concursal do devedor: FALÊNCIA
(se é empresário ou sociedade empresário) ou INSOLVÊNCIA (quando não é).
Frise que, da compra e venda mercantil, pode ser emitido o título representativo da
fatura emitida pelo vendedor, qual seja, a Duplicata.

8.3. Comissão mercantil


O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário,
em seu próprio nome (principal diferença em relação contrato de mandato), à conta
do comitente. Apesar da base contratual que legitima e orienta a sua atuação negocial, o
comissário obriga-se pessoalmente perante terceiros.
Perante o Comitente, o Comissário responde pelos prejuízos ou lucros cessantes, mas
não pela insolvência de terceiros com quem contratou, salvo quando agir com culpa ou
quando constar no contrato a cláusula Del Credere.

8.4. Representação comercial


Regulada pela Lei 4.886/65, é definida pelo art. 1º: Exerce a representação comercial
autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, que desempenha,
em caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a realização de
negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para, transmiti-los aos representados,
praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios.
É uma espécie do gênero “contrato de agência”, previsto no Código Civil (art. 710), pois
a representação mercantil é específica para a realização de compras e vendas mercantis
de produtos de comércio, cabendo a comissão pelo valor da mercadoria (art. 32, da Lei
4.886/65).
Também se diferencia da comissão mercantil, pois na representação não é admitida a
cláusula Del Credere.
Direito Empresarial 1005

8.5. Concessão mercantil

Regulada pela Lei n. 6.729/79, a concessão mercantil é o contrato entre os fabrican-


tes de veículos automotores terrestres (produtores ou concedentes) e as distribuidoras
(concessionárias), que realizam a comercialização de veículos automotores, implementos e
componentes novos, prestam assistência técnica a esses produtos e exercem outras funções
pertinentes à atividade. Sobre a fixação dos preços dos veículos e dos serviços, convém des-
tacar o art. 13, com a redação alterada pela Lei 8.132/90:
Art. 13. É livre o preço de venda do concessionário ao consumidor, relativamente aos bens
e serviços objeto da concessão dela decorrentes.

1° Os valores do frete, seguro e outros encargos variáveis de remessa da mercadoria ao


concessionário e deste ao respectivo adquirente deverão ser discriminados, individual-
mente, nos documentos fiscais pertinentes.

2º Cabe ao concedente fixar o preço de venda aos concessionários, preservando sua uni-
formidade e condições de pagamento para toda a rede de distribuição. 

8.6. Franquia (franchising)

Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o


direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-
-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecno-
logia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou
detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto,
fique caracterizado vínculo empregatício (art. 2º, da Lei 8.955/94).

É, portanto, a conjugação de dois contratos: o de licenciamento de uso de marca ou patente


e o de organização empresarial.

A Lei 8.955/94 disciplina alguns aspectos da franquia, mas não há tornou uma modali-
dade de contrato típico, havendo liberdade entre as partes para pactuar as especificidades
de suas relações.

8.7. Contratos bancários: depósito bancário, mútuo bancário, desconto bancário,


abertura de crédito

A análise dos contratos bancários próprios perpassa pelas seguintes regras elementares:

8.7.1. Depósito bancário

Pelo contrato de depósito bancário recebe o depositário (Banco) um objeto móvel


(dinheiro), para guardar, até que o depositante (cliente) o reclame.

O depósito bancário pode implicar em uma série de aplicações remuneradas, desde a


poupança até contratos de aplicação a prazo com juros fixos ou flutuantes, com atualiza-
ção que será maior ou menor a depender do grau de risco assumido pelo investidor.
1006 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

8.7.2. Mútuo bancário


É a modalidade de EMPRÉSTIMO de coisas fungíveis. Tem natureza BIFRONTE, ou seja,
pode ser gratuito ou oneroso.
O mútuo bancário é o contrato bancário típico que tem como objeto o DINHEIRO, con-
siderando-se, necessariamente, um MÚTUO FENERATÍCIO (oneroso – com juros remunera-
tórios).
É preciso esclarecer que os juros moratórios deverão ser limitados ao percentual do art.
406, do CC/02. Segundo entendimento do STJ em Recurso Especial Repetitivo, isso significa
dizer que o limite é a TAXA SELIC (REsp 1111117/PR – Tema 176)
Já os juros remuneratórios, em regra, não possuem uma limitação objetiva, mas sim
devem ser fixados dentro da MÉDIA DE MERCADO, com possibilidade de capitalização infe-
rior à anual.

ATENÇÃO:
Os contratos bancários se balizam pela TAXA MÉDIA DE MERCADO, senão vejamos:
* STJ Súmula nº 296 – Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devi-
dos no período de inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limi-
tada ao percentual contratado.
* STJ Súmula nº 382 – A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica
abusividade.
* STJ Súmula nº 530 – Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetiva-
mente contratada – por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-
-se a taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a
taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor.

Quanto à possibilidade de capitalização de juros inferior a um ano, o tema também já


se encontra pacificado pela Súmula n. 539, do STJ: É permitida a capitalização de juros com
periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema
Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170-
36/2001), desde que expressamente pactuada.

8.7.3. Desconto bancário


Pelo contrato de desconto bancário o Banco antecipa o valor de um crédito contra ter-
ceiro que possui seu cliente, e, por assumir o risco de eventual inadimplência e pela dife-
rença de tempo entre o vencimento do título e o valor adiantado, desconta determinada
taxa de juros.
É semelhante ao contrato de Faturização, mas, neste caso, a regra é a cessão pro sol-
vendo, cabendo direito de regresso por parte da instituição financeira na hipótese de ina-
dimplência do terceiro, arcando o cliente com o pagamento do título não descontado.

8.7.4. Abertura de crédito


Trata-se de uma espécie de contrato em que a instituição financeira disponibiliza ao
cliente, em uma conta corrente, um determinado limite de dinheiro (cheque especial ou
Direito Empresarial 1007

limite específico em conta garantia para capital de giro), valor este que o cliente poderá
utilizar, ou não, a depender de suas necessidades comerciais ou de consumo.
A grande discussão acerca do presente contrato é a força executiva, ou não, do débito
ali contido, quando o cliente utiliza o limite e não restitui o valor ao Banco, tema que levou
o STJ a firmar diversos precedentes alinhando a ação cabível nessas hipóteses:
a) Súmula n. 233: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato
da conta corrente, não é título executivo.
b) Súmula n. 247: O contrato de abertura de crédito em conta corrente, acompanhado do
demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação moni-
tória.
c) Súmula n. 258: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não
goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.
d) Súmula n. 300: O instrumento de confissão de dívida, ainda que originário de contrato
de abertura de crédito, constitui título executivo extrajudicial.
e) Súmula n. 322: Para a repetição de indébito, nos contratos de abertura de crédito em
conta corrente, não se exige a prova do erro.

8.8. Contratos bancários impróprios: alienação fiduciária em garantia, arrendamen-


to mercantil (leasing), faturização (factoring), cartão de crédito.
São contratos especiais que podem ser celebrados com instituições financeiras ou
outras sociedades específicas, como as sociedades de arrendamento mercantil.
Eis os contratos bancários impróprios indicados no Edital:

8.8.1. Alienação fiduciária em garantia


É o contrato acessório, em regra atrelado ao contrato de mútuo ou financiamento, no
qual o mutuário-fiduciante (devedor) aliena a propriedade de um bem ao mutuante-fidu-
ciário (credor – instituição financeira). A propriedade do credor é resolúvel, pois, havendo
o pagamento integral do débito, ela se extingue o bem volta ao domínio do devedor cuja
obrigação fora quitada.
O disciplinamento legal da alienação fiduciária em garantia pode ser dividido em três
normas principais:
a) O Código Civil (arts. 1.361-1368-B): traz regras gerais sobre a alienação fiduciária de
coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor,
em contrato que deve ser levado ao registro de títulos e documentos;
b) Lei n. 9.514/1997: que disciplina o Sistema Financeiro Imobiliário, instituindo a alie-
nação fiduciária de imóveis, definida como “o negócio jurídico pelo qual o devedor,
ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor, ou fidu-
ciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel” (art. 22);
1008 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

c) Decreto-Lei 911/69: Regulamenta o art. 66, da Lei 4.728/65, disciplinando a alienação


fiduciária em garantia no mercado financeiro e de capitais. É a referência para o proce-
dimento judicial de busca e apreensão para o caso de inadimplemento de contrato de
alienação fiduciária de bens móveis.

8.8.2. Arrendamento mercantil (leasing)


É o contrato no qual duas ou mais pessoas resolvem alugar ou arrendar determinado
objeto um ao outro, mediante prestação que pode ser intermediada por uma instituição
financeira. Ao final do contrato, poderá: devolver o bem ao arrendador, prorrogar o prazo
do contrato ou exercer a opção de compra pelo valor residual garantido (VRG). É um misto
entre locação e compra e venda. Admitem-se duas modalidades:
a) Leasing Financeiro: O valor das parcelas é suficiente para arcar com todos os custos
e rendimentos da operação; o preço da opção de compra é livremente pactuado, inclusive
por valor de mercado; pode ser cobrado o VRG, seja antecipadamente (Súmula n. 293, do
STJ), seja diluído nas parcelas da operação de crédito, ou ainda ao final do contrato.
b) Leasing Operacional: O valor das parcelas será de, no máximo, 90% do custo do bem;
o prazo do arrendamento deve ser de, no máximo, 75% da vida útil econômica do bem; o
preço da opção de compra será o valor de mercado; não pode ser cobrado o VRG.
A doutrina ainda cita o leasing back (de retorno), quando o empresário vende seu pró-
prio bem à arrendadora, para alugá-lo posteriormente via leasing, como forma de obter
capital de giro.

8.8.3. Faturização (factoring)


É o contrato pelo qual o faturizador adquire títulos de créditos emitidos em favor do
faturizado (credor original dos títulos). Em regra, o faturizador assume os riscos da ina-
dimplência, razão pela qual pode cobrar um deságio (o cheque tem valor de R$ 1.000,00
e o faturizador pagar R$ 700,00 por ele) ou juros pelo prazo que faltar para o vencimento.
Como se trata de contrato atípico, na impede que seja pactuada a garantia pela ina-
dimplência (como uma cessão pro solvendo).
O STJ, inclusive, tem aplicado analogicamente as regras da cessão de crédito em lití-
gios envolvendo faturizador, faturizado e emitente do título, como no Informativo n. 564
(possibilidade de oposição de exceções pessoais) e no Informativo n. 535 (responsabili-
dade pela existência do crédito – direito de regresso).

8.8.4. Cartão de crédito


O contrato de cartão de crédito é considerado impróprio por força da justaposição de
diversos contratos paralelos e sucessivos que decorrem da aquisição, pelo consumidor, de
um cartão para suas compras corriqueiras.
Eis uma resumida análise do contrato principal e dos subcontratos envolvidos, bem
como as últimas atualizações normativas acerca da espécie:
Direito Empresarial 1009

As administradoras de cartões de crédito são consideradas instituições financeiras


(Súmula n. 596, do STF), e normalmente são os próprios bancos que fornecem o car-
Cliente x
tão de crédito ao cliente, em contrato que mescla o serviço eletrônico de pagamento
Administradora
(na data de vencimento ou parcelado) e a possibilidade de mútuos sucessivos (seja
empréstimo direto – saque – ou crédito rotativo – pagamento mínimo da fatura).
Administradora da “Bandeira” do cartão x Banco; Administradora da “Bandeira” do
Contratos acessórios:
cartão x Credenciadora (a rede “maquininha”); Credenciadora x Lojistas.
Por se tratar de um crédito concedido ao consumidor sem garantia real ou fidejus-
sória, as instituições cobram taxas de juros muito altas. Na recente Resolução n.
4.549/17, do BACEN, foi determinado que o saldo devedor da fatura de cartão de
crédito e de demais instrumentos de pagamento pós-pagos, quando não liquidado inte-
gralmente no vencimento, somente pode ser objeto de financiamento na modalidade
Encargos Financeiros:
de crédito rotativo até o vencimento da fatura subsequente. Após decorrido o prazo
previsto no caput do art. 1º, o saldo remanescente do crédito rotativo pode ser finan-
ciado mediante linha de crédito para pagamento parcelado, desde que em condições
mais vantajosas para o cliente em relação àquelas praticadas na modalidade de crédito
rotativo, inclusive no que diz respeito à cobrança de encargos financeiros. (arts. 1º e 2º).
A Resolução acima faz parte de uma crescente preocupação com o Superendivida-
mento da população brasileira. Também compõe este quadro normativo alinhado à
prevenção dessa situação o Normativo SARB n. 010/2013, da FENABAN e o Manual
Superendividamento:
sobre Superendividamento do Ministério da Justiça, que determinam medidas pre-
ventivas e a utilização da mediação e da conciliação para fins de renegociação de
dívidas tais.
Por fim, convém destacar a recentíssima Lei n. 13.455/17, que autoriza a diferen-
ciação de preços de bens e serviços oferecidos ao público em função do prazo ou do
instrumento de pagamento utilizado Na prática, agora é possível existir preço dife-
Preço diferenciado:
renciado entre o pagamento à vista e em dinheiro do pagamento a prazo, via cartão
de crédito. Frise-se que a lei supera o tradicional entendimento do STJ em sentido
contrário, a exemplo do Informativo n. 571.

8.9. Contrato de seguro

Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a


garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos prede-
terminados.

A Boa Fé é da essência dessa espécie contratual. Se o segurado, por si ou por seu repre-
sentante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceita-
ção da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado
ao prêmio vencido.

ATENÇÃO:
Diante do disciplinamento previsto para o SUICÍDIO, no art. 798, do CC/02, O STJ superou o antigo entendimento
previsto na Súmula 105, do STF, e na Súmula 61, do próprio STJ, adotando agora a seguinte posição:
* Informativo n. 564:
Se o segurado se suicidar dentro dos dois primeiros anos de vigência de contrato de seguro de vida, o segu-
rador, a despeito de não ter que pagar o valor correspondente à indenização, será obrigado a devolver ao
beneficiário o montante da reserva técnica já formada, mesmo diante da prova mais cabal de premedita-
ção do suicídio.
(...)
1010 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

Percebe-se, portanto, que o art. 798 do CC/2002 adotou critério objetivo temporal para determinar a
cobertura relativa ao suicídio do segurado, afastando o critério subjetivo da premeditação. Nesse con-
texto, deve-se ressaltar o fato de que a Súmula 105 do STF (“Salvo se tiver havido premeditação, o sui-
cídio do segurado no período contratual de carência não exime o segurador do pagamento do seguro”)
foi formada, antes do CC/2002, a partir de precedentes nos quais se invalidava a cláusula de exclusão de
cobertura simplesmente porque não havia previsão legal, na época, para esta cláusula. Posteriormente a
essa Súmula, surgiu a Súmula 61 do STJ (“O seguro de vida cobre o suicídio não premeditado”), em data
também anterior ao CC/2002, em uma época em que o pressuposto de todos os precedentes tanto da men-
cionada Súmula do STF quanto da referida Súmula do STJ era a ausência de previsão legal que autorizasse
a estipulação de cláusula que eximisse a seguradora da cobertura por suicídio não premeditado, o contrá-
rio do que sucede hoje, quando a lei expressamente estabelece que o de suicídio durante os primeiros dois
anos de vigência da apólice é um risco não coberto (art. 798, caput).

Ainda sobre o a jurisprudência formada acerca da análise do Contrato de Seguro, con-


vém ainda transcrever a Súmula n. 402, do STJ: O contrato de seguro por danos pessoais
compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão.

8.10. Contratos intelectuais: cessão de direito industrial, licença de uso de direito in-
dustrial, transferência de tecnologia, comercialização de logiciário (software)
Como já destacado no Capítulo 3 da presente obra, a Propriedade Intelectual é um
gênero que envolve a proteção de todos os bens imateriais surgidos da criatividade humana,
verdadeiro direito da personalidade que passa a ter caráter patrimonial, com natureza jurí-
dica de bens móveis (art. 83, III, do CC + Art. 5º, da LPI: Consideram-se bens móveis, para os
efeitos legais, os direitos de propriedade industrial).
Ela abrange diversas espécies de direitos, inclusive os mais importantes e disciplinados
por normas especiais: a) Os Direitos Autorais – Lei 9.610/98; b) Os Direitos à Propriedade
Industrial – Lei 9.279/96 (LPI).
Ultrapassada a análise patrimonial específica, agora se debruça sobre as espécies con-
tratuais que decorrem da propriedade intelectual:

8.10.1. Cessão de Direito Industrial.


Como já destacado no tema Propriedade Industrial, a INVENÇÃO e o MODELO DE UTI-
LIDADE podem ser patenteados. Acontece que, nem sempre o inventor tem condições ou
interesse de explorar comercialmente a patente.
Como se trata de bem móvel (art. 5º, da LPI), o titular pode celebrar com outrem con-
trato de Cessão de Direito Industrial, disciplinado pelos arts. 58-60, da LPI:
Art. 58. O pedido de patente ou a patente, ambos de conteúdo indivisível, poderão ser
cedidos, total ou parcialmente.
Art. 59. O INPI fará as seguintes anotações:
I – da cessão, fazendo constar a qualificação completa do cessionário;
II – de qualquer limitação ou ônus que recaia sobre o pedido ou a patente; e
III – das alterações de nome, sede ou endereço do depositante ou titular.
Direito Empresarial 1011

Art. 60. As anotações produzirão efeito em relação a terceiros a partir da data de sua
publicação.
Veja-se que, celebrado o presente contrato, o inventor deixa de ser proprietário da
invenção e o modelo de utilidade.
Também é possível a cessão da MARCA, nos termos dos arts. 134-135, da LPI:
Art. 134. O pedido de registro e o registro poderão ser cedidos, desde que o cessionário
atenda aos requisitos legais para requerer tal registro.
Art. 135. A cessão deverá compreender todos os registros ou pedidos, em nome do cedente,
de marcas iguais ou semelhantes, relativas a produto ou serviço idêntico, semelhante ou
afim, sob pena de cancelamento dos registros ou arquivamento dos pedidos não cedidos.

8.10.2. Licença de uso de direito industrial


Partindo-se da premissa anterior, de que o inventor pode não ter interesse ou condi-
ções de explorar economicamente sua INVENÇÃO ou MODELO DE UTILIDADE, além da
opção de ceder o direito industrial, podem ainda celebrar contrato de Licença de Uso de
Direito Industrial.
O referido pacto, que é uma permissão de uso que não retira a propriedade do inventor,
está disciplinado pelo arts. 61-74, que tratam de duas espécies de licença:
a) Licença Voluntária: negócio jurídico averbado junto ao INPI entre o inventor e o
licenciado, que pode ser indicado pelo próprio titular originário ou pode ser conhe-
cido através de oferta de licença intermediada pelo INPI, através da publicação de
Editais;
b) Licença Compulsória: decorrente de decisão administrativa ou judicial, pelas razões
a seguir:
b.1. Abuso de poder econômico;
b.2. Falta de uso ou uso parcial por força de falta de fabricação ou fabricação
incompleta;
b.3. Dependência de outra patente, não havendo acordo entre os inventores.
Frise-se que licença compulsória, que tem a finalidade de dar efetividade à invenção ou
modelo de utilidade, é sempre concedida sem exclusividade (art. 72, da LPI), podendo o
titular explorar o invento ou os royalties decorrentes da licença.
Também é possível a LICENÇA da MARCA, porém apenas na modalidade VOLUNTÁRIA,
nos termos dos art. 139-141, da LPI, permanecendo o titular com o direito de propriedade
industrial.

8.10.3. Transferência de Tecnologia.


Nos contratos de transferência de tecnologia, o criador permite que outras pessoas
explorem economicamente um produto, uma marca ou um processo de trabalho por se
inventado, inclusive no que se refere à Tecnologia de Informação.
1012 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

Quando esse contrato tem como objeto algum Direito Industrial, poderá ser registrado
junto ao INPI, consoante dispõe o art. 211, da LPI:
Art. 211. O INPI fará o registro dos contratos que impliquem transferência de tecnologia,
contratos de franquia e similares para produzirem efeitos em relação a terceiros.
Parágrafo único. A decisão relativa aos pedidos de registro de contratos de que trata este
artigo será proferida no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data do pedido de registro.
O principal contrato que exemplifica a situação é o contrato de Franquia (franchising),
que nada mais é que a conjugação de dois contratos: o de licenciamento de uso de marca
e o de organização empresarial. A Lei 8.955/94 disciplina alguns aspectos da franquia, mas
não há tornou uma modalidade de contrato típico, havendo liberdade entre as partes para
pactuar as especificidades de suas relações.

8.10.4. Comercialização de Logiciário (software)


Ao contrário dos itens anteriores, os programas de computador (logiciário – software),
embora façam parte da chamada Propriedade Intelectual, são disciplinados pela Lei dos
Direitos Autorais, a Lei n. 9.610/98, que protege expressamente com obra intelectual o pro-
grama de computador (art. 7º, XII).
Convém relembrar que os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, bens móveis
(art. 3º, da Lei n. 9.610/98), e isso implica dizer que cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar,
fruir e dispor da obra literária, artística ou científica (art. 28, da Lei n. 9.610/98).
Logo, é perfeitamente possível a comercialização do invento logiciário, nos termos do
art. 49, da Lei n. 9.610/98: Os direitos de autor poderão ser total ou parcialmente transferidos
a terceiros, por ele ou por seus sucessores, a título universal ou singular, pessoalmente ou por
meio de representantes com poderes especiais, por meio de licenciamento, concessão, cessão
ou por outros meios admitidos em Direito.
Frise-se que o contrato é formal, diante da exigência legal de estipulação por escrito,
presumindo-se onerosa.
Capítulo 9. Direito Falimentar

9. DIREITO FALIMENTAR. 9.1 LEI Nº 11.101/2005


A responsabilidade patrimonial do devedor é princípio basilar dos direitos obrigacio-
nais de crédito.
O estado de insolvência é a situação do devedor cujo patrimônio não é suficiente para
arcar com suas dívidas.
Quando o devedor não é empresário, a insolvência civil ainda segue as normas previstas
no CPC/73, posto que o novo CPC não tratou do tema, conforme Art. 1.052. Até a edição de lei
específica, as execuções contra devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas,
permanecem reguladas pelo Livro II, Título IV, da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
A insolvência empresarial (Direito Falimentar) das Sociedades Empresariais e dos
Empresários é regida pela Lei n. 11.101/05, a Lei de Recuperação Judicial e Falência (LRJF).
Sobre o tema, seguem as regras mais relevantes:

Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do


empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.
Art. 2º Esta Lei não se aplica a:
Aplicação da I – empresa pública e sociedade de economia mista;
LRJF:
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade
de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde,
sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equi-
paradas às anteriores.
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
Função Social
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora,
da Recuperação
do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a pre-
Judicial:
servação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.
Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:
I – por deliberação da assembleia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei;
II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53
desta Lei;
III – quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4o do art. 56
Convolação em desta Lei;
Falência:
IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na
forma do § 1o do art. 61 desta Lei.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não impede a decretação da falência por inadim-
plemento de obrigação não sujeita à recuperação judicial, nos termos dos incisos I ou II
do caput do art. 94 desta Lei, ou por prática de ato previsto no inciso III do caput do art.
94 desta Lei.
1014 Revisão Final – Procuradoria-Geral do Estado do Sergipe

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:


I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta)
salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;
II – créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição,
excetuadas as multas tributárias;
IV – créditos com privilégio especial, a saber:
a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em
garantia;
d) aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das microempresas e
empresas de pequeno porte de que trata a Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro
de 2006 
V – créditos com privilégio geral, a saber:
a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
VI – créditos quirografários, a saber:
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao
seu pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite esta-
belecido no inciso I do caput deste artigo;
Classificação dos VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou adminis-
Créditos: trativas, inclusive as multas tributárias;
VIII – créditos subordinados, a saber:
a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.
§ 1o Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem
objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no
caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado.
§ 2o Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento
de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.
§ 3o As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações
neles estipuladas se vencerem em virtude da falência.
§ 4o Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários.
Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência
sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:
I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados
da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços
prestados após a decretação da falência;
II – quantias fornecidas à massa pelos credores;
III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu
produto, bem como custas do processo de falência;
IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido
vencida;
V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação
judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos rela-
tivos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem esta-
belecida no art. 83 desta Lei.
Direito Empresarial 1015

Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e
negociar com credores plano de recuperação extrajudicial.
§ 1º Não se aplica o disposto neste Capítulo a titulares de créditos de natureza tributária,
derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho, assim como
àqueles previstos nos arts. 49, § 3º, e 86, inciso II do caput, desta Lei.
§ 2º  O plano não poderá contemplar o pagamento antecipado de dívidas nem trata-
mento desfavorável aos credores que a ele não estejam sujeitos.
§ 3º  O devedor não poderá requerer a homologação de plano extrajudicial, se estiver
Recuperação
pendente pedido de recuperação judicial ou se houver obtido recuperação judicial ou
Extrajudicial
homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos de 2 (dois) anos.
§ 4º O pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial não acarretará sus-
pensão de direitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido de decretação
de falência pelos credores não sujeitos ao plano de recuperação extrajudicial.
§ 5º Após a distribuição do pedido de homologação, os credores não poderão desistir da
adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signatários.
§ 6º A sentença de homologação do plano de recuperação extrajudicial constituirá título
executivo judicial, nos termos do Código de Processo Civil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHAGAS, Edilson Enedino das. Direito Empresarial Esquematizado. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2017;
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. Direito de Empresa. 29. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.
MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial. 11. ed. São Paulo: GEN, 2017.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: Teoria Geral e Direito Societário. 8. ed. vol. 1.
São Paulo: GEN, 2017.
_____. Curso de Direito Empresarial: Títulos de Crédito. 8. ed. vol. 2. São Paulo: GEN, 2017.

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