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Resumo
O texto ora apresentado realiza uma breve discussão acerca da participação das políticas públicas
na Gestão do território enfatizando a produção do meio rural. Para tanto, optamos por trazer a
baila os conceitos de planejamento, políticas territoriais, gestão, território, e por fim gestão do
território. Atualmente, é constante a utilização do termo Planejamento e Gestão do território, para
designar o processo de intervenção sobre o território que acontece por meio dos diversos atores
sociais – poder público, empresas, sociedade, etc. Dessa forma, o objetivo geral é promover uma
discussão sucinta acerca das políticas públicas no Planejamento e Gestão do território
direcionadas ao meio rural, e por consequência como estas políticas contribuem para a
composição do espaço rural brasileiro. Como metodologia, utilizamos a pesquisa bibliográfica,
com a leitura e fichamento de vários textos relacionados ao tema em questão. Especialmente os
textos publicados na Revista Brasileira de Geografia.
Introdução
O texto ora apresentado realiza uma breve discussão acerca da participação das políticas
públicas no Planejamento e Gestão do território enfatizando o meio rural. Para tanto,
optamos por trazer a baila os conceitos de planejamento, políticas territoriais, gestão,
território, e por fim gestão do território.
Nesse sentido, o presente artigo está organizado em três partes principais. A primeira
parte privilegia a conceituação do planejamento territorial e das políticas territoriais.
Nela, também destacamos que o processo de planejamento perpassa pelo interesse do
Estado, que por sua vez, busca atender os interesses das grandes corporações
internacionais, de modo que planeja as políticas a fim de atender as solicitações do
grande capital.
Na segunda parte faremos uma revisão conceitual dos termos gestão, e, território, onde
ressaltamos alguns aspectos relevantes proposto por geógrafos que se dedicaram a
estudar este conceito. E, por fim, apresentaremos o que os autores nos dizem sobre o
termo Gestão do Território propriamente dito. Tendo em vista, sua relevância para a
compreensão do espaço.
A terceira parte é onde faremos alusão as políticas públicas que estão presentes na gestão
do espaço rural brasileiro. Dividimos em duas partes distintas, a fim facilitar a
compreensão de cada momento vivido. No primeiro, analisamos a atuação do Estado no
período que compreende as décadas de 1970 e 1980, onde houve um forte investimento
do estado na modernização da agricultura, e como conseqüência, um eminente privilégio
para os grandes latifúndios e a concentração de terras. No segundo instante,
debruçaremos nossas atenções a década de 1990, onde houve um redirecionamento das
políticas governamentais para o fortalecimento da agricultura com base familiar, com a
criação de várias políticas de financiamento e créditos aos agricultores inseridos nesse
contexto. Nessa etapa, fazemos uma breve apresentação das políticas mais significativas
e que tiveram maior abrangência.
Por fim, faremos breves considerações com o objetivo de estimular a continuidade dos
estudos que envolvam o tema exposto, de modo que brotem novos estudos.
Conforme podemos observar nas palavras dos referidos autores, as políticas territoriais
são o conjunto de regras e intervenções ditadas ou adotadas pela iniciativa pública.
Fazendo-se uma análise a partir da leitura da citação anterior, talvez não seja nítido qual o
papel das organizações empresariais – iniciativa privada - no Planejamento e Gestão do
Território. No entanto, é um imenso equivoco desconsiderar a participação destas
corporações nas intervenções territoriais, pois elas atuam em conjunto com o Estado, por
meio de uma prática bastante conhecida dos meios políticos e econômicos, denominada
de lobby. Este ato, nada mais é do que a ação de pressionar o Estado a elaborar polícias
que sejam favoráveis a obtenção de seus interesses, principalmente, no que diz respeito a
lucratividade financeira.
Contudo, esta não é a única forma de participação das grandes corporações no
Planejamento e Gestão do Território. Com o advento da globalização o Estado brasileiro
estimula uma intensa abertura da economia nacional e, por conseguinte, o aumento no
número de grandes empresas instaladas no país. Nesse contexto, os agentes privados,
associados ao Estado, conduzem a uma condição de uso corporativo do território (SILVA;
MANZONI NETO 2008). Ou seja, as grandes organizações também possuem artifícios
que impulsionam importantes transformações no território, como podemos observar a
seguir:
Diante desse contexto, observa-se que as políticas territoriais são utilizadas como
instrumentos normativos que procuram intervir em um contexto previamente existente,
transformando-o e direcionando-o para uma nova configuração, por meio de ações
pautadas em instrumentos políticos instituídos pelos diversos agentes sociais. E, é nesse
sentido, que se dá a importância do Planejamento e da Gestão do Território, para a
definição de políticas territoriais adequadas e condizentes com os objetivos que pretende-
se alcançar.
Para que haja uma melhor compreensão acerca da Gestão do território, decidimos iniciar
esta etapa do texto fazendo alusão a gênese do referido termo, a fim de dirimir possíveis
lacunas relacionadas ao termo, uma vez que, esse é um tema cada vez mais recorrente nos
debates acadêmicos, principalmente, no que se refere as discussões no âmbito da ciência
geográfica.
Sendo assim, inicialmente, buscamos entender o significado da palavra gestão junto a
dicionários da língua portuguesa, no intuito de facilitar a compreensão do termo. Neste
sentido, encontramos que Gestão refere-se “ao ato ou efeito de gerir; gerência”
(FERREIRA, 2000). Enquanto, Bueno (1986), coloca que o significado de Gestão está
relacionado a “Gerência; administração”.
Buscando elucidar melhor essa questão inicial, trazemos à baila as palavras de Souza
Lima (2002, p. 16), onde gestão é entendida como “gestar – formar e sustentar (um filho)
no próprio ventre e gerir – exercer gerência sobre; administrar; dirigir; gerenciar”.
No que se refere ao conceito de gestão, Davidovich (1991), considera que:
Diante disso, temos um duplo significado, em que, a gestão pode ser o ato de gerenciar,
administrar algo, como por exemplo, o território, bem como, o ato de criar ou elaborar
algo.
Dando continuidade a compreensão acerca do termo objeto de análise no presente texto,
faremos uma breve apresentação do que se compreende pelo conceito de território, no
âmbito da geografia, para em seguida nos aprofundarmos no viés da unificação analítica
do termo Gestão do Território propriamente dito.
Dessa forma, Território, é compreendido pelos geógrafos como uma unidade de espaço
permeada por relações de poder envolvendo diversos agentes sociais, e seus respectivos
interesses. Tal assertiva pode ser observada nas palavras de Davidoch (1991, p. 8): “o
território implica um determinado uso do espaço, consubstanciado em mecanismos de
apropriação, de controle e de defesa por agentes públicos e privados, através dos quais se
viabilizam práticas de poder”.
A fim de corroborar com a proposição supracitada faremos menção à elaboração teórica
proposta pelo geógrafo Claude Raffestin, em um de seus principais trabalhos, intitulado
“Por uma Geografia do Poder”, quando ele explicita que o espaço geográfico atua como
substrato, um palco, ou seja, pré-existente ao território, como podemos observar a seguir:
Seguindo a vertente conceitual proposta pelo autor citado acima, observamos a presença
de um caráter político administrativo do território, onde o espaço é marcado pela projeção
do trabalho humano com suas linhas, limites e fronteiras. Por isso, ele enfatiza que uma
das conseqüências da projeção do trabalho humano é a “territorialização” do espaço.
Poderíamos fazer uso de várias outras proposições conceituais sobre território, no
entanto, decidimos tomar como referência apenas a concepção de Fany Davidovich e
Claude Raffestin, tendo em vista que nosso objetivo nessa parte do texto não é fazer uma
extensa discussão por meio de várias concepções teórico-metodológicas. E sim,
possibilitar uma breve discussão sobre o significado da palavra Gestão e sua relação com
o Território.
Diante do exposto até aqui, abordaremos de forma mais enfática a problemática acerca do
território e de sua gestão, pois esse é objeto de análise no presente trabalho, juntamente
com as políticas territoriais que atuam no espaço rural.
Destarte, não é de hoje que a discussão sobre Gestão do Território está em evidência nos
trabalhos acadêmicos. Percebe-se que desde o fim da década de 1980, o debate ganhou
força, adentrando a década seguinte. Tal situação deve-se ao contexto social, econômico e
jurídico vivido pelo Brasil, mediante a aprovação da Constituição de 1988, que define
uma nova forma de ordenar o país.
Podemos perceber essa relevância quando observamos as edições da Revista Brasileira de
Geografia, que foram publicadas nesse período, pois há uma grande quantidade de artigos
que abordam esta temática. Já em 1988, Bertha Becker, escreve “A Geografia e o resgate
da Geopolítica”, nessa oportunidade a autora propõe uma distinção entre territorialidade e
gestão do território, pois, segundo ela, são duas faces, conflitivas, de um só processo de
reorganização política do espaço contemporâneo. Assim, é, justamente, nessa perspectiva
que Becker (1988, p. 108), diz:
A ideia defendida por Becker nos permite identificar que as estratégias e ações adotados
no âmbito da Gestão do Território são pautadas em finalidade econômica, relações de
poder, e elementos de ciência e tecnologia.
Na tentativa de aprofundar ainda mais nossa discussão acerca da Gestão do Território,
também, optamos por fazer alusão a uma outra contribuição dada por Becker, quando ela
deixa claro que a Gestão do Território vai além da administração pura e simples, bem
como, é cada vez maior a sobreposição de poder entre os atores sociais, principalmente,
os de ordem pública e privada, como podemos observar:
Outra autora que está inserida no contexto exposto, e em seus estudos faz considerações
sobre o termo em destaque é Fany Davidovich. A autora publicou um trabalho na Revista
de número 53 onde ela faz uma breve, porém, relevante discussão acerca das
considerações conceituais.
Segundo a referida autora,
Dessa forma, a maioria dos estudiosos dessa questão usa a década de 1970, como o inicio
efetivo do processo de modernização, pois o Estado começa a participar ativamente com
a política de pesquisa e extensão voltada para o padrão mecânico-químico da
modernização e a política de articulação da produção agrícola à indústria de insumos e
implementos agrícolas e créditos subsidiados ao setor, por meio da criação da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA; e da Empresa Brasileira de
Assistência Técnica e Extensão Rural – EMBRATER, em 1972 e 1974, respectivamente.
Nesse contexto de expansão, percebe-se certo destaque para os estados do Sul e Sudeste,
pois apresentaram uma crescente mecanização, com uso intenso de adubos químicos e
fertilizantes, dentre outras modificações estruturais. Na Região Sul a modernização
tecnológica permitiu que grandes extensões de lavouras ocupassem áreas que não eram
utilizadas anteriormente, ou até mesmo, intensificassem a produção em terras que já
produziam insatisfatoriamente.
Dando continuidade a este momento, a Região Centro-Oeste também passou por um
processo de mudanças significativas, e as áreas de lavouras foram ampliadas
consideravelmente. A fronteira agrícola brasileira sofreu expansão e novas áreas dos
Cerrados foram ocupadas e incorporadas às áreas precedentes. As Regiões Norte e
Nordeste, juntamente com o Centro-Oeste, também foram palco da expansão da fronteira
agrícola, pois as terras nessas regiões eram pouco valorizadas.
Com a expansão da fronteira agrícola, os produtores rurais buscam novas oportunidades
nessas áreas recém integradas ao espaço responsável pela dinâmica agrícola nacional. Na
Região Sul as terras são mais valorizadas, que nas áreas de expansão, dessa forma
pequenos lotes de terra possuíam valor econômico significativo. Assim, os pequenos
agricultores vendem seus pequenos lotes no Sul do Brasil para investir em propriedades
maiores localizadas nos novos espaços de produção.
O modelo adotado pelo Estado para promover a expansão e modernização da agricultura
provocou uma crescente concentração fundiária em função da mecanização da atividade e
da valorização da terra. Como conseqüência desta concentração tivemos o surgimento de
novas relações de trabalho, a expropriação dos trabalhadores, êxodo rural, dentre outros.
Analisando este período observamos que num primeiro momento a modernização da
atividade agrícola se deu de forma incipiente e concentrada espacialmente em alguns
pontos do território nacional. Em um segundo momento, o financiamento rural ganha
força, e torna-se o principal instrumento da política de expansão da agropecuária no
Brasil, por meio de concessão de créditos, de modo que possibilitou a consolidação no
território do modelo agropecuário moderno e mecanizado. É, justamente, nesse contexto
que tem inicio os grandes projetos agropecuários, especialmente, os relacionados a
produção de grãos, e logo em seguida, ao os Complexos Agroindustriais – CAI.
Associado a processo de modernização, emanaram diversas transformações no meio
rural, como veremos nas palavras de Ferreira:
O referido programa tem como principais objetivos: propiciar condições para o aumento
da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria de renda, de modo que,
haja uma contribuição para a melhoria da qualidade de vida e a ampliação do exercício da
cidadania por parte dos agricultores familiares atendidos pelo programa.
A partir de 1999, o PRONAF sofreu algumas modificações em sua composição, pois o
público atendido pelo programa foi segmentado em quatro categorias distintas de
agricultores familiares, a saber: os agricultores estabilizados economicamente, formam o
Grupo D; agricultores com exploração intermediária, mas com bom potencial de resposta
produtiva, constituem o Grupo C; agricultores com baixa produção e pouco potencial de
aumento de produção, compõem o Grupo B; e por fim, os agricultores assentados pelo
processo de reforma agrária, que formam o Grupo A. Também houve uma estruturação do
programa em três eixos básicos, o PONAF infra-estrutura; o PRONAF capacitação e o
PRONAF Crédito.
Desde sua criação, até os dias de hoje o número de agricultores atendidos pelo PRONAF
tem aumentado consideravelmente. Dados do MDA informam que nos anos de 1999 e
2000 o programa abrangia 3.403 municípios, passando para 5.379 entre 2007 e 2008, o
que significa um aumento de 58% em relação a 1999 e 2000. Portanto, torna-se evidente
o maior impacto na produção do espaço agrário.
Referências
ALENCAR, Maria Tereza de Alencar; MENEZES, Ana Virgínia Costa de. Ação do
estado na produção do espaço rural: transformações territoriais. In: Campo território:
revista de geografia agrária, v. 4, n. 8, p. 121-147, ago.2009.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França.
São Paulo: Ática, 1993.
REZENDE, Gervázio Castro de. Programa de Crédito Especial para reforma Agrária
(PROCERA): institucionalidade, subsídio e eficácia. Rio de Janeiro: IPEA. Disponível
em: http://www.ipea.gov.br/pub/td/td0648.pdf. Acesso em: janeiro de 2011.