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Capítulo I

Introdução

1.1. A Importância dos Tratados no Mundo


Contemporâneo

À medida que o Direito Internacional tradicional


evoluiu. com a finalidade primordial de regulamentar as
relações entre Estados independentes e soberanos. O"
tratados ganharam grande importância.
No mundo contemporâneo. os tratados são de um"
importância vital para o desenvolvimento das relações
internacionais entre os Estados, tendo em vista que as
matérias de maior relevância são. observadas e regula-
mentadas por esta fonte do Direito InternacionaL
Atualmente, na ordem internacional, a norma se forma
principalmente através dos tratados, face à imperiosa
necessidade de se regulamentar com urgência novai:
matérias provenientes de uma sociedade internacional
em constante transformação.'
Celso Mell02 destaca da seguinte maneira a ques.
tão da importância dos tratados na atual ordem interna-
cional:

o costume internacional e uma fonte inapropriada para regular o Direito:


Internacional de cooperação. exigindo.se hodiernamente uma regula
mentação positiva de novas questões econômicas, sociais. culturais (.
administrativas. dai o crescente número e importância dos tratados.
2 Celso D. de Albuquerque Mello - Ratificação de Tratados - Estudo df'
Direito Imernacional e Conscit;lcional, Rio de Janeiro. Freitas Bastos
1966, p. 12.

II
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"
Francisco de Assis Maciel Tavares Ratificação de 'ITatados Internacionais

A partir do século XIX os tra tados têm se A ausência da institucionalização na socie-


multiplicado inclusive pelo aparecimento dos dade internacional e do consequente órgão
tratados multilaterais. A internacionalização legislativo faz com que aquelas funções se
dos mais diversos ranJOS da vida econômica e desenvolvam mediante os tratados internacio-
social tem feito com que surja um sem número nais. Por isso, de modo análogo ao acontecido no
de tratados. direito interno com a fonte legislativa, na ordem
internacional aumenta incessantemente esta
Brotons,3quanto à crescente importância dos trata- atividade convencional, que vai cobrindo um
dos, faz a seguinte observação: campo anteriormente ocupado exclusivamente
pelo costume.
Os tratados constituem a fonte mais impor-
tante do Direito Internacional, a fonte por exce- Embora o fenômeno legislativo referente ao desen-
lência do Direito Internacional particular. Mais volvimento dos tratados seja precário, alguns autores,
numerosos que em qualquer tempo passado, entre estes Reuter,5 sustentam a idéia de que alguns
com eles se edificam em grande medida a coe- acordos aproximam-se sensivelmente, quando de sua
xistência e a cooperação em um amplo arco de elaboração (seleções e ajustes), da técnica legislativa.
ma térias onde se identificam interesses comuns Em sintese este é o pensamento do autor:
e se evidencia a intgrdependência dos Estados.
Na sua origem, os acordos internacionais
Outro fato que traduz a importância e o crescente então bilaterais estão impregnados de concep-
aumento dos tratados na sociedade internacional con- ções contratuais (...) em seguida, torna-se multi-
temporânea é a ausência de um órgão legislativo interna- lateral e, pelas suas formas, assim como pelos
cional. O periodo após 1945 revela a ênfase das Nações seus objetos, aproxima-se sensivelmente da téc-
Unidas na codificação dos tratados, com características nica legisla tiva.
que ultrapassavam o fenômeno convencional, prevendo,
embora timidamente, traços do fenômeno legislativo. Contudo, somente o crescimento dos tratados na
Esta questão é observada por Rubio. da seguinte United Nations Treaty Serles já seria suficiente para
maneira: atestar a grande importãncia da utilização dos tratados
na prática internacional e das regras deles derivadas
para o Direito Internacional contemporâneo.6
3 Antonio Remira Broton5 - Derecho Internacional Público - II Derecho de
los Datados, Madrid. Tecnos,1987, p. 28. 5 Paul Reuter - Droit International Publico Paris, Themis. 1993, p. 122.
oi Alejandro Herrero y Rubio - Derecho Internacional Publico. Valladolid. 6 Apenas na primeira década coberta pela U.N.T.S.. que se estende de
1974. p. 51. 1945 a 1955. foram editados 255 volUmes contendo 3.633 tratados legis-

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",.

Ratificação de Tratados Internacionais


Francisco de Assis Maciel Tavares

Outro ponto que traduz a imperiosa relevância dos leis, pode ter pretensões a ser considerada fonte. Para
tratados é a grande diversidade de matérias regidas este autor, a única espécie de tratados que se poderá
admitir como fonte de direito geral são os negociados
pelos tratados gerais, onde se poderiam distinguir, por
por um grande número de Estados para declararem o
exemplo, os tratados constitutivos de organismos inter-
seu entendimento do direito vigente sobre determinado
nacionais regionais, os tratados que pretendem estabe-
assunto, ou para estabelecerem uma norma geral nova
lecer normas de tipo geral e os tratados para solução
que regule a sua conduta futura, ou para constituírem
pacífica de controvérsias. 7
alguma instituição internacional. B
Assim, como podemos constatar, os tratados alicer-
Partindo da distinção entre os tratados-leis e os
çam um dos pilares que sustentam o desenvolvimento
tratados-contratos, Rubio afirma serem os tratados-con-
das relações internacionais entre os Estados e o próprio
tratos, chamados também de especiais, unicamente
Direito Internacional, dadas a sua importância e a sua
fonte de obrigação entre os signatários, não sendo, por-
abrangência. tanto, fonte de Direito Internacional, como o são os trata-
dos-leis (law-making power), de caráter normativo.9
1.2, Os Tratados como Fonte do Direito Além de não existir no Direito Internacional qual-
Internacional quer hierarquia entre tratado-lei e tratado-contrato, e
não correspondendo a controvertida distinção à realida-
Os tratados constituem a fonte mais importante do de e à dinâmica da sociedade internacional que vem
Direito Internacional, embora alguns autores sustentem procedendo a transformações no processo de criação
que apenas uma determinada categoria de tratados jurídica, as diferenças entre as modalidades de tratados
seria considerada fonte. devem ser abolidas. Kelsen observa com propriedade
Brierly, fazendo nitida diferenciação entre tratados- que a função essencial de todo tratado é a criação de
leis e tratados-contratos, mantém o entendimento de normas jurídicas gerais ou individuais. 10
que somente uma classe especial de tratados, tratados- Verdross afirma serem os tratados fonte do Direito
Internacional uma vez que estes se distinguem dos
trados e publicados pelo Secretariado da ONU; já em meados de 1963 a
negócios jurídicos pelo fato de estabelecerem normas de
coleção havia atingido 470 volumes, contendo 7.420 tratados registra- conduta gerais e abstratas. Contudo, ressalta o interna-
dos - dados citados por Antonio Augusto Cançado Trindade in Principios
do Direito Internacional Contemporâneo, Brasília, Universidade de Bra-
sília, 1992, p. 10.
8 J. L. Brierly - Direito Internacional, Lisboa, Fundação Calouste Gul.
7 Como exemplo de tratados constitutivos podemos citar: a Carta da OEA
benkian, 4ã ed., p. 57.
de 1948 reformada em 1967; os pactos do BlO de 1959 e da ALALC de
9 Alejandro Herrero y Rubio, Direito Internacional Publico. Valladolid, 1974.
1960, os tratados que estabelecem nonnas de caráter geral: a Convenção
pp.48-49.
sobre Direitos e Deveres dos Estados de 1933; as Convenções sobre Asilo
10 Hans Kelsen - Théorie du Droit !nternational Publie in Recueil des Cours
de 1928 e 1954; a Convenção sobre Privilégios c Imunidades da OEA de
de l'Académie de Oroit lnternational de la Haye, valo m, t. 84, 1953,
1949, quanto aos tratados para solução pacífica de controvén:;ias pode-
pp. 134-135.
mos mencionar O Pacto de Bogotá de 1948 dentro outros.

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Francisco de Assis Maciel Tavares Ratificação de Tratados Internacionais

cionalista, que os tratados e os negócios jurídicos ado- menta ministrado pelo internacionalista pátrio Hilde-
tam a mesma forma contratual, razão pela qual um brando Accioly de que, quando falamos em fontes do
mesmo tratado poderá conter simultaneamente disposi- Direito Internacional, o que devemos ter em vista são os
cões de uma e outra índole.!! Maarten Bos propõe uma modos de formação ou manifestação desse direito, ou os
~OSiÇãO mediadora, sustentando que os tratados são fon- modos de sua materialização, e dos quais derivam direta-
tes do Direito Internacional desde que aumeritem ou mente os direitos e as obrigações dos sujeitos internacio-
modifiquem o "corpus" de regras já existentes, e são fon- naís.!5 Logo, todo e qualquer tratado deve ser considera-
tes de obrigações quando, ao contrário, desempenham a do como sendo fonte do Direito Internacional, apenas uns
função de um contrato no direito interno moderno.!2 criam normas gerais (tratados-leis), enquanto outros
Internacionalistas modernos, como Focsaneanu, criam normas particulares de conduta (tratados-con-
defendem a idéia de que um tratado só é fonte do Direito
tratos), podendo esta modalidade de tratado contribuir
Internacional se ele realmente determinar de modo efe-
para a formação de uma norma geral quando as disposi-
tivo o comportamento dos Estados,!3 14 lembrando, ain-
ções e regras avençadas são utilizadas em outros trata-
da, que se pode admitir como fonte do Direito Interna-
dos da mesma natureza ou de natureza diversa, adquirin-
cional os acordos entre organizações de comércio exte-
do assim, um valor jurídico de preceito internacional.
rior, que não são tratados.
Como observado, a questão dos tratados como fonte
do Direito Internacional é matéria controvertida entre os 1.3. A Convenção sobre o Direito dos Tratados
internacionalistas, todavia, compartilhamos do entendi-
A Comissão de Direito Internacional, quando do seu
primeiro período de sessões, que data do ano 1949, reco-
11 Alfred Verdross - Derecho Internacional Publico - Madrid, Biblioteca
Jurídica Aguilar, 6i1 ed., 1978, p. 129. nhecendo a grande importância dos tratados, decidiu
12 Maarten Bas, The Recognized Manifestation of Internacional Law - A incluir o tema como matéria a ser normalizada. Contudo,
New Theory of "Sources", 20 German Yearbook of lnternational Law,
1977. pp. 20-24.
a Comissão, envolvida em outros' temas, só a partir de
13 apud Celso D. de Albuquerque Mello, Curso de Direito Internacional 1961 pôde abordar com profundidade o assunto. No ano
Publico. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 11:1 vol., 8a ed., 1986, p. 141.
de 1966 surge um projeto sobre o direito dos tratados,
H Na atual sociedade internacional descentralizada, a vontade ou o con-
sentimento do Estado é o ponto inicial e necessario do processo de cria- recomendando-se à Assembléia Geral das Nações
çào de normas, mas não e o seu término: no processo de àesenvolvimen- Unidas a convocação de uma conferência internacional
to do Direito, a conclusão final é constituídR pelo consentimento ad idem
de uma pluralidade de anuências individuais num convênio dos Estados. visando o desenvolvimento dos trabalhos de normaliza-
Desta forma, ainda que o consentimento individual do Estado seja rele- ção. A Comissão se reuniu em Viena e, em 23 de maio de
vanle, não ê definitivo: para a criação de uma norma jurídica internacio-
nal é necessário que o consentimento de cada Estado cristalize-se no
1969, os trabalhos culminaram com a adoção da Con-
consentimento do grupo social de Escadas. Sob este prisma evitar-se.ão
falsas percepções do Direito Internacional como um Direito de voluntaris-
mo mdividualista, in Alejandro J. Rodriguez: Carrión, Lecciones de 15 Hildebrando Accioly, Tratado de Direito Internacional Publico, Rio de
De;echo Internacional Publico, Madrid, Tecnos, 2£1 ed" 1990, pp. 165-166. Janeiro. 211 ed., vaI. 1, 1956, p. 32.

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venção sobre o Direito dos Tratados. Os Estados partici- fazendo menção aos tratados concluídos entre Estados e
pantes, a partir de então, passam a reconhecer a impor- Organizações Internacionais.
tância cada vez mais acentuada dos tratados como fonte O próprio conceito de tratado que nos é dado pela
do Direito Internacional e como meio de desenvolvimen- Convenção de Viena demonstra a imprecisão terminoló-
to da cooperação pacífica entre as nações. A supremacia gica, tendo em vista que o termo tratado poderá ter
dos tratados é verificada até sobre as Constituições dos qualquer denominação particular,
Estados, prática já reconhecida internacionalmente e nas A justificativa da abrangência do termo conferida
mais modernas Constituições. pela Convenção de Viena de 1969, segundo Reuter,17 dá-
se apenas por designar tratado como um "acordo" inter-
1.4. Definição e Terminologia nacional celebrado entre Estados por forma escrita e
regulado pelo Direito Internacional, mas sem excluir que
as regras que ela propõe se aplicam aos demais acordos
A definição de tratado16 nos é dada pela Convenção
internacionais.
sobre direito dos tratados, de 23 de maio de 1969, que
Como bem observa Albino Soares, o que realmente
em seu art. 22 preceitua;
define esta fonte de Direito Internacional é o seu caráter
plurilateral, a submissão da sua regulamentação ao
1. Para os efeitos da presente Convenção:
Direito Internacional e a sua conclusão entre sujeitos
a) entende-se por "tratado" um acordo in-
deste ramo do direito, de nada importando, internacio-
ternacional celebrado por escrito entre Estados nalmente, a designação que lhe seja atribuída, em cada
e regido pelo Direito lnternacional, constante de caso concreto .18
um instrumento único ou de dois ou mais instru- No Direito Internacional, como vimos, não existe
mentos conexos e qualquer que seja sua deno- uma terminologia uniforme para designar os acordos
minação particular; entre Estados. Das várias expressões empregadas (tra-
tados; convenções; pactos; atos; declarações; protocolos
Podemos verificar que a definição de tratado con- etc.) nenhuma tem um significado muito preciso. A prá-
signada no art. 22 da Convenção de Viena de 1969 visa tica internacional tem revelado que só uma parcela dos
somente os tratados concluídos entre Estados, não acordos internacionais celebrados por escrito entre
sujeitos de Direito Internacional e regulamentado por
este recebem a denominação de "tratados".19
16 Nos comentarias ao projeto de artigos sobre o direito dos tratados, ela-
borado no 180. período de 'suas sessões, a Comissão de Direito Internacio-
nal das Nações Unidas acentuou que o termo "tratado" se utiliza em 17 Ob. cit., p. 68,
todo o projeto de artigos num s@.litido genérico para deterrnL."1ar toda 18 Albino de Azevedo Soares, Lições de Direito Internacional Publico.
classe de acordos internacionais celebrados entre Estados e consigna- Coimbra. Coimbra Editora, editado pelo Autor, 3il. ed., 1986, p. 123.
dos iJor escrito. Arnaldo Sussekind. 1Tatados Ratificados pejo Brasil, Rio 19 O 'Tribunal de Haya confirmou, ao examinar uma s~ntença de 19 de
de J:meiro, Freitas Bastos, 1981, p. 9. dezembro de 1978, a validade de um "cor.mnieado conjunto" greco-tllIco

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Francisco de Assis Maciel Tavares Ratificação de Tratados Internacionais

Apesar da imprecisão do termo "tratados" decor- d) Protocolo: é comum ter dois significados:
rente da liberdade das partes em adotar a terminologia documento escrito sém forma de tratado,
que melhor lhe convier, e com o propósito meramente pelo qual se registram os resultados de uma
descritivo, podemos observar que: Conferência diplomática;23
a) Tratados: o termo é usado habitualmente nos documento em que são criadas normas jurí-
acordos bilaterais entre Estados que versem so- dicas denominado "protocolo-acordo". che-
gando alguns autores a afirmarem serem
bre matérias de grande importância (paz, neu-
verdadeiros "tratados", utilizado como su-
tralidade, limites territoriais, extradição etc.);
plemento a um acordo jâ existente;24 25
b) Convenção: é o tratado que cria normas gerais,
e) Ato: quando estabelece regras de direito;26
nâo havendo divergência quanto à sua estrutu- f) Pacto: é um tratado solene;
ra. Como informa Hildebrando Accioly, houve g) Estatuto: é empregado para designar os trata-
época em que se preferia a terminologia "con- dos coletivos geralmente estabelecendo normas
venção" para compromissos referentes a maté- para os tribunais internacionais;
rias de natureza econômica, comercial ou admi- h) Acordo: designação utilizada para os tratados
nistrativa. reservando-se o termo "tratado" para que versem sobre matéria econômica, financei-
ajustes mais importantes ou sobre assuntos de ra, comercial e cultural;
natureza política;20 i) "Modus vivendi": acordo temporário ou provisório;
j) Concordata: dá-se a denominação de concorda-
c) Declaração: quar.do há a intenção de proclamar-
ta aos acordos que versem sobre assuntos reli-
se certas regras ou princípios de Direito Inter-
giosos. A concordata trata de assuntos que se-
nacional reconhecidos pelas partes contratan-
jam da competência comum da Igreja e do
tes. isto é. "acordos que criam princípios jurídi- Estado;
cos ou afirmam uma atitude política comum". A I) Compromisso: versa sobre assunto a ser subme-
esse conjunto de regras ou princípios chama-se tido à arbitragem;
declaração;2l 22

23 Protocolos das conferencias realizadas em Buenos Aires, em dezembro


de 1870 e janeiro de 1871, entre os plenipotenciários do Brasil. Argentina
de 31 de maio de 1975 com fundamento de sua jurisdição. Admitiu o e do Uruguai; aí se discutiu o projeto de tratado definitivo de paz com a
Tribunal que não existe regra de Direito Internacional que proíba que um República do Paraguai.
"comunicado conjunto" constitua um acorda internacional.. .. ", Ín 24 Ver Celso D. de Albuquerque Mello. ob. cit., vol. 1, pp. 142-143.
Antonio Remira Brotons, oh. cit., p. 36. 25 Protocolo relativo â demarcação dos limites territoriais entre Brasil e a
20 Hildebrando Accioly, ob. cit" vaI. 1, p. 544. Venezuela. firmado no Rio de Janeiro em 24 de julho dI'": 1928.
21 Verdross inclui ainda Q termo "convênio" como sinônimo de "declara. 26 Ato Geral de Berlim de 1885; Ato de Chapultepec, pelo qual se tornou
ção", oh. cit., p. 129. conhecida a resolução sobre assistência miltua, apro',rada na Conferência
22 Declaração de Londres de 1909 sobre direito maritimo. Interamericana do México de 194.5.

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Francisco de Assis Maciel Tavares Ratificação de Tratados Internacionais

m) Troca de notas: são acordos sobre matéria admi- estes métodos de classificação são desprovidos de valor
nistrativa e podem ter caráter temporário ou pro- cientifico.28
visório; Contudo, a classificação que apresenta um maior
n) Carta: documento de forma solene pelo qual interesse metodológico é a que distingue os tratados em
se estabelecem direitos e deveres, utilizado dois critérios, ou seja, o critério relativo à forma (tratados
inclusive para constituir Organizações Inter-
bilaterais e multilaterais) e sob o prisma material (trata-
nacionais;27 dos-leis e tratados-contratos).
o) Convênio: tratados que versem sobre matêria
Quanto ao primeiro critério, este diz respeito ao
cultural ou de transporte.
número das partes contratantes, isto é, bilaterais quan-
do há apenas duas partes e multilaterais quando há
Na relacão acima poderíamos ainda incluir os
várias partes.
denominado~ "gentlemen's agreements" e o "pactum de
contrahendo ". Quanto ao primeiro, é apenas um fato O segundo critério, no que diz respeito aos tratados-
internacional, embasado em declarações de vontade leis (Law making Treaties), tem por finalidade fixar nor-
pessoal de órgãos das relações exteriores de dois ou mas de Direito Internacional e podem ser igualados a
mais Estados. Há apenas uma ligação pessoal e moral leis. São celebrados geralmente entre muitos Estados.
entre as pessoas envolvidas, não criando uma obriga- Os tratados-contratos têm por finalidade regular
ção jurídica para os Estados, não tendo o acordo cará- interesses recíprocos dos Estados contratantes. Em
ter oficial. A segunda modalidade, poderíamos dizer geral seus signatários são pouco numerosos.
que é um acordo preliminar de compromisso assumido Não há qualquer impedimento no sentido de serem
pelo Estado em concluir um acordo final sobre detenm- adotadas as duas modalidades em um só tratado, como
nada matéria. ocorreu no caso do tratado de paz de Versailles de 1919,
Como podemos observar, a questão da terminologia o qual continha disposições contratuais e normativas.
é irrelevante para o Direito Internacional. A doutrina mais atual vem mencionando outras
categorias de tratados como, por exemplo, os tratados
1.5. Classificação dos Tratados multilaterais-gerais e os tratados multilaterais-restritos.
Quanto aos primeiros, estes tendem para a irrelevância
Existem vários métodos de classificação dos trata- do número de partes signatárias, e o segundo tende a
dos, atendendo a diferentes fatores como, por exemplo, dar importância ao número de siguatários que neles
a apreciação do objeto do tratado; o modo de execução; participam.29
a época da conclusão etc. Como salienta Rousseau,

28 Charles Rousseau. Droit International Public, Paris. DaIJoz. 8' ed .. 1976, p. 24.
27 CaI:a da ONU. 29 Albino de Azevedo Soares. ob. clt., p. 153.

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Francisco de Assis Maciel TavaIes Ratificação de Tratados Internacionais

1.6. Condições de Validade dos Tratados nais, contudo, esta condição deverá ser prevista e per-
mitida pela Constituição dentro dos limites estabeleci-
Todo Estado goza, por definição, em virtude de sua dos por esta.33
soberania, do ius ad tractatum, isto é, da capacidade É salientada por Verdross a existência de certos pre-
para celebrar tratados, sendo esta uma manifestação ceitos jurídicos-internacionais gerais ou particulares que
capital da personalidade juridica internacionapo declaram obrigatórios na esfera internacional os compro-
Não existem em Direito Internacional regras técni- missos assumidos por determinados órgãos estatais,
cas sobre a formação de tratados.31 São vãlidos neste independentemente de que estejam ou não autorizados a
campo, em larga medida, os princípios gerais que regem celebrar acordos pelo ordenamento interno (ex.: coman-
os contratos entre particulares com algumas caracterís- do militar em tempo de guerra tem a faculdade para cele-
ticas próprias. brar acordos em matérias militares (armisticios) em virtu-
Os requisitos ou elementos essenciais para que um de de um antigo costume internacional).3.
determinado tratado possa ser considerado válido po- O direito de "concordata" sempre foi garantido à
dem ser assim enumerados: a) capacidade das partes Santa Sé.
contratantes; b) habilitação dos agentes signatários; Os beligerantes e governos no exilio também são
c) consentimento mútuo; d) objeto lícito e possivel. reconhecidos como sujeitos de Direito Internacional com
capacidade de concluir acordos relacionados à sua con-
a) Capacidade das Partes Contratantes dição, dependendo para tanto do reconhecimento por
terceiros desta condição.35
Todo Estado soberano tem capacidade para contra- Em termos gerais, também são aplicados aos "mo-
tar ou para contrair direitos e obrigações por meio de vimentos de libertação nacional" os mesmos direitos de
tratados.32 Esta capacidade estende-se, ainda, às Or- reconhecimento como sujeitos de Direito Internacional,
ganizações Internacíonais, aos beligerantes, à Santa Sé como os garantidos aos beligerantes e governos em exi-
e a outros entes internacionais. lia. Sua capacidade de concluir acordos depende do aval
Devemos ressaltar que somente os acordos regidos
pelo Direito Internacional são tratados, excluindo-se,
assim, os acordos entre Estados regulados pelo direito 33 Como observa Celso Mello, "os Estados-membros de uma federação e os
interno como, por exemplo, o acordo de compra de uma dependentes possuem geralmente o direito de convenção apenas para
determinadas matérias". Oh. cit., vaI. 1, p. 144.
área levado a termo por um governo a outro. 34 Alfred Vcrdrass, ob. cit., p. 144.
Os Estados dependentes ou os membros de uma 35 O reconhecimento dos revoltosos como beligerantes surge como instituo
to de 0.1. no início do seculo XIX na prática diplomática, principalmente
federação também podem concluir tratados internacio-
inglesa e também norte-americana ... Os revoltosos quando não reconhe.
cidos pelo governo legal ou por terceiros estados podem se encontrAr em
30 Antonio Remira Brotons, ob. cit., p. 49. uma de duas situações: a) a da5: convenções de 1949; b) a do Protocolo 11
31 J. L. Brierly, ob. cit .. p. 324. de 1977. Celso D. de Albuquerque MeUo. Guerra Interna e Direi,::: Inter.
32 Hildebrando AccioJy, ob. cit .. vo1. 1, p. 560. nacional, Rio de Janeiro. Renovar. 1985, pp. 49 e 56.

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Ratificação de Tratados internacionais
Francisco de Assis Maciel Tavares

das Organizações regianais das áreas a que pertença:n As pessoas ou órgãos investidas desses paderes (plenos
(OUA,Liga Árabe ...), isto é, reconhecimento. de q~e saa poderes) são denominadas plenipatenciários,
representantes legitimas dos povos que aspIram a mde- O instituto dos plenos poderes se desenvolveu no
Renascimento por influência do Corpus Jllris Civilis,
pendência, .
Na parte introdutória do presente trabalho mencIO- sendo regulado pelas normas do mandato, isto. é, do
namos que a Convenção de Viena de 1969defimu a trata- direito civil, tendo surgido face à intensificação das rela-
do comoum acorda entre Estados (art, 2), devendo-se tal ções internacionais. Ao lado desta, surge outra questão
limitação unicamente ao.propósito de facilitar o esforço de fundamental importância. O instituto se tornou neces-
sário para evitar que os tratados obrigassem imediata-
codificadordo Direita dos Tratadas (art. 1),resguardando
mente os Estadas, como era comum ocorrer quando
expressamente o indiscutível valor jurídico dos acordos
estes eram assinados diretamente pelo Chefe de Estado,
internacionais dos quais figuram como partes contratan-
tes outros sujeitos de DireitoInternacional (art. 3.a,),
c) Objeto Lícito e Possível
As Organizações Internacionais já tiveram a sua
personalidade internacional reconhecida pela Corte
A Convenção de Viena de 1969, no seu art, 53, de-
Internacional de Justiça, que considerou terem elas as
termina que um tratado será nulo quando for contrário
direitos necessários para a realização dos fins para que
a uma norma imperativa do Direita Internacional, ou
foram constituídas, A prática das Organizações Inter~a-
seja, uma norma internacional de jus congens.
cionais de concluirem tratados data da Liga das Naçaes
A narma internacional de jus congens, coma é defi-
e se desenvolveu com a ONUe as Organizações criadas
nida pela Canvençãa, é uma norma aceita e recanhecida
após a II Guerra Mundial.36 , .
pela camunidade internacianal de Estados coma um
, Temas como certa que, face à evalução e intenslfIca-
todo, cama uma norma que não. é permitida a derroga-
cão das relações internacionais em tadas as áreas, sur-
ção.,podendo, somente, ser modificada por uma subse-
~jirãonovos sujeitos de Direito Internacional, por obra e
qüente narma de Direita Internacianal geral com a mes-
reconhecimento.dos Estados, ma caráter,

b) Habilitação das Agentes Signatários d) Consentimento Mútuo

Geralmente cabe ao.direito interna de cada Estado Cama nas acardos em geral, as tratadas internacio-
a determinação. da campetência dos órgãas, que padem nais pressupõem um cansentimenta mútua das partes
exprimir a vontade da Estada nas relações internacia- contratantes com respeito ao seu abjeto, forma etc, Não.
nais e, portanto, autarizar a celebração. de tratados, poderemos falar de tratada válido sem que haja, expres-
samente e inequivacadamente, a cansensus, acarda de
36Celso D. de Albuquerque Mello, ob. cit., vaI. 1, p. lt;4.
vontade referente ao seu canteúdo,

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I
I
Francisco de Assis Maciel Tavares Ratificação du Tratados Internacionais

Entre os contratantes estabelece-se uma relação, b) O Erro


:ujos termos elementares são a oferta ou a promessa e a
lceitação.37 São raros também os casos de erro gerando vício ele
Verificando-se que a vontade de consentimento consentimento que venba a afetar a validade dos tratados.
num tratado padeceu de vicio, considera-se, em geral, Apesar de serem raras as alegações de erro,
que o tratado é nulo ou anulável. Havendo contradições admite-se que possam Ocorrer erros de fato como, por
entre a vontade declarada e a vontade real de uma das exemplo, erros geográficos nos mapas, versando sobre
partes o tratado também padecerá de vício. delimitação territorial.40
Como vicios de consentimento temos que conside- Como observado, o dolo e o erro, apesar de raros na
rar o dolo, Oerro e a coação: vida internacional, são comumente admitidos como vício
de consentimento e são previstos nos artigos 48 e 49 ela
a) O Dolo Convenção de Viena.
Doutrinariamente a admissão do dolo e do erro como
o conceito de dolo é observado na maioria dos orde- vícios de consentimento não é de todo pacifica. Le Fur sus-
namentos jurídicos, como sendo toda espécie de mano- tenta a idéia de que o dolo e o erro, como causas em geral
bras ou de artifícios dirigidos a induzir uma parte na con- mencionadas, no direito interno, como suscetíveis de
clusão de um tratado, provocando erro ou aproveitando- infectar a vontade, são normalmente excluídas, quando "e
se do erro existente (dolo positivo ou dolo negatívo).38 trata de acordos internacionais. A base de sustentação de
No Direito Internacional os precedentes são escas- tal idéia repousa no fato segundo o qual as partes contra-
sos e não permitem uma determinação precisa do senti- tantes, na ordem externa, costumam operar com grandes
do exato do conceito. Face à imprecisão do termo aplica- precauções, com o perfeito conbecimento de causa ao
da à prática internacional, a Comissão de Direito In- assumirem determinados compromissos, apoiando ..se,
ternacionalnão definiu o dolo, deixando a prática inter- geralmente, em informações seguras e precisas.41
nacional e a jurisprudência determinar a fixação e o
alcance do termo. c) A Coação
Os casos de dolo imputáveis a uma Organização
Internacional são muito raros, tendo em vista que seus A coação, Como vício de consentimento, pode mé.-
atos convencionais se decidem na maioria das vezes em nífestar-se de duas maneiras: a) contra a pessoa do r€'-
nivel de órgãos colegiados e é difícil incorrer em dolo presentante do Estado; e b) contra o próprio Estado.
mediante uma deliberação coletiva.39
40 Vide casos Groenlândia Oriental e o Templo de PreAh Vihear _ in Jose t~.
37 Hildebrando Accioly, ob. cit., p. 562. Pastor Ridruejo, Curso de Derecho Internacional Publico y Organizaciont,s
38 Celso D. de Albuquerquo IV!eUo, ob. Clt .. vaI. 1, p. 147. lncernacionales, Madrid. Tecnos, 3a ed., 1989, pp. 130-131.
39 Vide art. 49 da Convenção de 1986 - comentarias ao Projeto final dos arti- 41 Louis Erasme Le F\lr, Précis de Droit lncernational Public, ParIS, Dalloz, .l.a.
gos da Comissão de Direito Internacional de 1982. ed., p. 226.

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Francisco de Assis Maciel Tavares Ratificação de Tratados Internacionais

Quanto à coação contra a pessoa do representante pacífica dos litígios tem determinado reação contra cs
do Estado, a história tem mostrado um certo número de processos abusivos da força.43 44
casos onde o representante do Estado foi forçado a assu- As sucessíveis etapas que marcam a progressão
mir compromissos contra a sua vontade .•2 normativa da proibição do uso ou ameaça da força das
A codificação do Direito dos Tratados não põe em relações internacionais têm repercussões sobre a validil-
dúvida que esta modalidade de coação vicia o consenti- de dos tratados. Sabemos que o Direito Internacional
mento, o que gera a nulidade do tratado concluido. clássico permitia a guerra como forma suprema de auto-
Apesar da coação ser exercida sobre a pessoa do agen- tutela jurídica.45 Contudo, o Direito Internacional C011-
temporâneo, na forma da Carta das Nações Unidas (art.
te e não contra o órgão do Estado, o tratado padecerá de
2, aI. 4), reprova e proibe a prática da ameaça e da força
vício. O artigo 51 da Convenção de Viena de 1969 dispõe
levadas a cabo contra a independência política ou inte-
que a manifestação do consentimento de um Estado em
gridade territoríal de qualquer Estado.
obrigar-se por um tratado não poderá ser obtida por coa-
Por derradeiro, é de grande valia observarmos o que
ção sobre o seu representante mediante atos ou amea- preleciona Brierly quanto ao tratado imposto pela força e a
ças dirigidas contra ele. Ocorrendo tal vício o ato carece- necessidade da subordinação deste à força do direito. Para
rá de todo efeito jurídico. A mesma garantia é prevista o mencionado autor, o tratado imposto por coação só tem
. na Convenção de 1986. de tratado a simples aparência exterior. Na sua essência,
O ato de corrupção do representante do Estado tam- trata-se de um ato que pertence a uma categoria jurídica
bém pode ser invocado como vício do consentimento. diversa, pois que traduz realmente o que o Estado ou os
Com relação à coação direta contra o próprio Estado Estados que o impõem se arrogam o direito de legislar em
ou contra uma Organização internacional, através do relação ao Estado coagido. A verdadeira anomalia do direi-
uso ou ameaça da força é a mais importante e moderna to vigente não consiste na possibilidade de se impor a um
causa de nulidade dos tratados. Como bem salienta
43 Ob. cit., vai. 1, p. 564.
Hildebrando Accioly, o desenvolvimento do espírito de
44 Entre as duas grandes guerras mundiais a nulidade dos tratados rest.l-
cooperação internacional e dos métodos de solução tantes do uso ou da ameaça da (orça era mais urna pretensão politica (~O
que jurídica, ressaltando-se que o reconhecimento de tais tratados P,}I
terceiros era somente mais um passo nesta direção.
45 Dentro de um processo evolutivo, o próprio conceito e o conteúdo co
42 Exemplo clássico de coação à pessoa do representante do Estado foi o Direito Internacional está intimamente ligado â guerra e aos seus desdo-
fato ocorrido em 1808 quando Fer~andoVII, Rei da Espanha, dirigiu-se ao bramentos. Santo Agostinho (354-430) já questionava soble a legitimida-
encontro de Napoleão em Bayona. Tendo sido feito prisioneiro, foi amea- de da guerra e a distinção entre a guerra justa e guena injusta; inspird-
çado de morte por alta traição a seu pai Carlos IV, a menos que abdicas- ria, depois, S. Isidoro de Sevilha (570.632), que aprofundaria a teoria c e
se, o que ocorreu, renunciando aos seus direitos em favor de Napoleão, S. Agostinho, distinguindo várias "espécies" de guerra: e chegaria atê
que por sua vez cedeu tais direitos a seu irmão Jose. Estes fatos foram Grócio que, na sua famosa obra De iure belli BC pacis. afirmaria, pela pl i-
considerados nulos por dolo e violência pela Corte de Cádiz em 1811, que meira vez, a divisão do Direito Internacional em Direito de Paz e (~a
declarou através de Decreto a nulidade de qualquer compromisso assu- Guerra. In André Gonçalves Pereira e Fausto de Quadros, Manual ele
mido por Fernando VII. in Antonio Remira Brotons - Ob. cit., p. 438. Direito Internacional Públic:o, Coimbra, Almedina, 34 ed., 1993, p. 24.

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J
Francisco de Assis Maciel Tavares Ratificação de Tratados Internacionais

Estado obrigações que lhe desagradam, mas na possibili- Com referéncia ao idioma no qual será redigido o
dade de que tais obrigações sejam ditadas pelo Estado documento, este é escolhido livremente pelos signatá-
que ficou vencedor numa guerra, A modificação desejável rios, Tendo as partes o mesmo idioma este será utilizado,
não se resume em eliminar a coação de todas as negocia- e quando houver divergência de idiomas geralmente,
ções, mas sim em garantir que ela só seja utilizada para adota-se o seguinte critério: a) redige-se o documento em
um objetivo lícito e por um processo licito, e não de forma tantas línguas quanto forem necessárias, atendendo-se
arbitrãria, como pode acontecer atualmente, Para Brierly, o aos idiomas dos signatários; b) adota-se por escolha um
problema dos tratados impostos pela força não é na reali- terceiro idioma; c) cumpre-se o informado no item a e um
dade tUn problema que diz respeito ao regime jurídico dos texto diverso redigido em outro idioma para dirimir as
tratados, É antes tUll aspecto particular de outro problema dúvidas porventura existentes nos demais documentos,
muito mais vasto, que contende com todo o ordenamento Para que um tratado passe a vigorar, é necessário fi
internacional - precisamente o problema da subordinação prática de uma série de atos sucessivos cuja realização
da força ao direito,45 47 depende de um processo moroso e complexo,
Alguns fatores contribuem para complexidade do pro.
cesso de formação dos tratados, entre os quais podemos
1.7, O Processo de Conclusão dos Tratados
destacar: a necessária acomodação de interesses entre os
sujeitos intervenientes; a dificuldade da matéria que cons-
Antes de desenvolvermos o procedimento referente
titui o seu objeto; o número de Estados participantes.
à conclusão dos tratados internacionais, faremos breves Podemos considerar o processo de formação dos trata-
considerações quanto à sua composição. dos como sendo o conjunto de atos mediante os quais sE'
Quanto à sua forma, geralmente os tratados são con- concebe e elaloora-se, até o nascimento, tUll tratado,
signados por escrito, porém não há nenhuma regra que ressaltando-se que cada tUll dos atos ctUllpre sua função
obrigue tal procedimento e nem quanto ao modelo a ser diferenciada na formação e celebração de um tratado inter.
adotado. nacional. Todavia, na prática diplomática, alguns desses
Geralmente os tratados se compõem de duas par- atos podem sintetizar-se em tUlla única expressão formal.
tes, ou seja, o preâmbulo e a dispositiva. O primeiro con- Merece destaque o fato de que, paralelamente fi
tém uma exposição das finalidades do tratado e a nume- um processo extenso e complexo, a prática internacio-
ração das partes contratantes.48 A parte dispositiva é nal atual utiliza-se com grande frequência de tratados
redigida por artigos. com procedimentos de conclusão mais simplificados E.
céleres, os chamados" acordos do executivo", conformE.
46 J. L. Brierly, ob. cit., pp. 325.326. veremos mais adiante.
47 Quanto ao tratado de paz, a sua validade tem sido reconhecida face ao Os interessados na celebração de um determinado
principio da efetividade.
48 Na antiguidade e no período medieval havia invocação dos deuses. tratado dispõem de liberdade de adoção do procedimen-
Atualmente só a Santa Se e alguns países islâmicos procedem desta forma. to que melhor atender seus interesses na condução da,;

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Francisco de Assis Maciel Tavares Ratificação de 1iatados Internacionais

negociações. Contudo, a liberdade conferida pelas nor- No período no qual vigorou a teoria do mandato, a assi.
mas internacionais aos interessados na condução das natura de um tratado pelo plenipotenciário era de vita,
negociações, estao subordinadas ao direito interno de importância. Neste periodo a ratificação era somente é,
cada sujeito interveniente, conforme dispõe o artigo 12 confirmação pelo chefe do Estado dos plenos podere~'
da Convenção sobre Tratados."9 outorgados ao seu representante. Devido aos risco~
Com relaçao ao procedimento adotado na conclusão desta prática de conclusão dos tratados, uma vez que os
dos tratados internacionais, a análise clássica distingue plenipotenciários poderiam comprometer o Estado, to'.
três fases: a) negociação; b) assinatura; c) ratificação. introduzida uma cláusula nos tratados que reservava ac>
Chefe de Estado o direito de dar por si mesmo o valor
a) Negociação obrigatório ao tratado através de uma formalidade dis-
tinta da assinatura.
Negociar é participar na elaboração do texto do tra-
tado, apresentando propostas e discutindo as já apre-
c) Ratificação
sentadas que irão compor as cláusulas do documento.
Na negociação a competência geral é sempre do
Neste item apenas faremos algumas considerações
Chefe de Estado, entretanto outros elementos do Poder
sobre o instituto, tendo em vista que o mesmo será abor ..
Executivo passaram a ter uma competência limitada.
dado detalhadamente no capítulo seguinte, por ser é.
A iniciativa da negociação pode proceder-se atra-
fase mais importante do processo de conclusão dos tra.
vés do um Estado interessado no acordo, este atuando
tados e tema central do presente trabalho. Em linha~
livremente ou em virtude de um "pactum de negotiando"
gerais, a ratificação é a aprovação do tratado pelos
ou de "contrahendo", de uma conferência de represen-
órgãos internos constitucionalmente competentes pam
tantes estatais ou de um órgão de uma Organização
confirmar ou declarar que este deva produzir seus efei..
Internacional. Normalmente o início das negociações se
tos. Como salienta Vazques, a ratificação é a operação
faz pelos canais diplomáticos ordinários.
que dá aos tratados sua força obrigatória" .51
b) Assinatura

A assinatura50 era um dos modos de manifestação


do consentimento do Estado em obrigar-se a um tratado.

49 Assinada em IIavana (VI Conferência Internacional) a 20 de fevereito de


1929. Sancionada pelo Decreto nQ 5.647, de 08 de janeiro de 1929.
':
R3tilieada a 30 de julho de 1929 e promulgada pelo Decreto nll 18.956. de
22 de outubro de 1929.
50 A assinatura aqui versada e aquela que ao término dos trabalhos de nego-
ciação, tem o só efeito de fixar e autonticar o texto de negociação, ficando o 51 Modesto Seara Vazquez, Derecho Internacional Publico, México. Porrua,
comprometimento definitivo do Estado a depender de oportuna ratificação. 811ed., 1982. p. 200.

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