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FICHAMENTO

MARICATO, E. Metrópole, legislação e desigualdade. Estudos avançados, vol. 17, p.


151-167, 2003.

O processo de urbanização brasileiro se deu sob grandes expectativas de


independência dos séculos de colonização, modernidade e oportunidades. As reformas
promovidas na década de 30 de regulamentação do trabalho urbano e de incentivo à
industrialização, no entanto, não foram capazes de romper com o histórico de
desigualdades (MARICATO, 2003).

A utilização arbitrária da lei para a manutenção do poder concentrado resultou em


bolsões de pobreza de forte segregação urbana, com acesso restrito à cidade e seus
equipamentos (moradia, saúde, lazer, emprego, etc.) e com forte discriminação racial e
de gênero (MARICATO, 2003). A autora complementa que “à tradição secular de
desigualdade social, a reestruturação produtiva internacional (tomando a expressão de
Harvey), do final do século XX, acrescentou características mais radicais” (p. 152).

Essa reestruturação, chamada “globalização”, além do forte impacto que


desempenhou no chamado “desemprego tecnológico”, forneceu as condições para que o
capitalismo transformasse a relação espaço/tempo, intensificando a velocidade da
informação, flexibilizando e desregulamentando aquilo que no Brasil, segundo Maricato
(2003) ainda não era realidade plena: o trabalho e as políticas sociais de bem-estar
humano.

Maricato (2003) lembra que a libertação da mão de obra escrava foi acompanhada
da legislação de terras (Lei de Terras de 1850) que proporcionou aos latifundiários a
continuidade no processo de concentração fundiária e controle produtivo. Segundo a
autora, essa tradição se estende até o final do século XX, quando o trabalhador é o
“excluído produtivo” do mercado imobiliário privado devidos aos baixos salários,
restando a produção não-capitalista de suas moradias em morros, encostas, beira de
córregos, por meio de “expedientes de subsistência”.

O Brasil convive com uma dualidade: modernização dos padrões de uso e


ocupação do solos (através de leis e códigos de zoneamento, de obras, etc.) de um lado, e
uma herança colonial que formou o pensamento da burguesia brasileira, pensamento esse,
que não reconhece as classes mais “baixas” como dignas de direitos, num processo de
“mercantilização do trabalho” que resultou em ocupações ilegais como a regra
(MARICATO, 2003).

A legislação urbana brasileira surge tão somente para a regulamentação do


mercado imobiliário (MARICATO, 2003). A autora afirma que os Códigos Municipais
de Posturas do final do século XIX subordinaram determinadas áreas urbanas ao capital
imobiliário, expulsando a massa trabalhadora dos centros das cidades rumo às áreas
rejeitadas por esse mercado, rumo também às áreas de proteção ambiental, num processo
de segregação espacial que criou ambiente favorável à “extração da renda imobiliária” e
também à promoção da desigualdade.

De acordo com Maricato (2003, p. 157), a baixa abrangência sempre foi uma das
características do mercado residencial privado brasileiro, sendo ilegal a maior parte da
produção habitacional no país até o fim do século XX, e a autora lembra ainda que o
Estado sempre se mostrou tolerante quanto à essa “ilegalidade”, especialmente os
governos municipais, encarregados de gerirem o processo de ocupação do solo. A autora
comenta: “aparentemente constata-se que é admitido o direito à ocupação mas não o
direito à cidade”.

Essa tolerância estatal, segundo Maricato (2003), não se relaciona com a


sensibilidade política à carência de habitação legalizada, mas essas ocupações são
realizadas sem estrutura fornecida pelos governos, e sua remoção, além poder significar
indisposições no expediente político, são de alto custo, e essa massa populacional “não
cabe” no orçamento público.

A nova legislação urbana: o Estatuto da cidade

(...)a lei é utilizada como expediente de manutenção e fortalecimento de poder


e privilégios, contribuindo para resultados como a segregação e
a exclusão. A questão central não está na lei em si, ou seja, na sua inadequação,
mas na sua aplicação arbitrária. (MARICATO, 2003, p. 160)

Maricato (2003) afirma que os instrumentos referentes ao direito à habitação e à


cidade ficaram, com o texto, submetidos à formulação no Plano Diretor municipal, o que
“travou” a aplicação das conquistas trazidas na lei.

Para Maricato (2003), a justificativa de todos esses problemas não se encontra na


ausência de legislação, mas em sua aplicação arbitrária. A autora afirma que o aparato
legislativo brasileiro é moderno, e que a Constituição Federal de 1988, bem como o
Estatuto das Cidades, trazem novos instrumentos urbanísticos para reestruturação do
quadro habitacional no país.

A democratização da produção de novas moradias e do acesso à moradia


legal e à cidade com todos seus serviços e infraestrutura exige a superação de
dois grandes obstáculos – terra urbanizada e financiamento – que, durante toda
a história da urbanização brasileira, foram insumos proibidos para a maior
parte da população (MARICATO, 2003, p. 163).

A autora finaliza afirmando que uma maior participação dos governos na


urbanização e legalização das áreas já ocupadas é apenas uma das atitudes a serem
tomadas, mas a criação de condições para que as classes mais baixas possam emancipar-
se da alternativa única das favelas, com novos ambientes e novas estruturas, com
transporte, saneamento e segurança, é o grande desafio das políticas públicas relacionadas
à habitação no país (MARICATO, 2003).

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