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Aspectos fisiopatológicos e assistenciais

Aspectos
fisiopatológicos e
assistenciais de

de enfermagem na reabilitação da
enfermagem na
reabilitação da
pessoa com

pessoa com lesão medular


lesão medular

PHYSIOPATHOLOGICAL ASPECTS AND NURSING CARE ON REHABILITATION OF PATIENT


WITH SPINAL CORD INJURY

ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS Y ASISTENCIALES DE ENFERMERÍA EN LA REHABILITACIÓN


DE LA PERSONA CON LESIÓN MEDULAR

Denise Stela Bruni1, Kelly Cristina Strazzieri 2,Marcella Nicoletti Gumieiro 3, Romy Giovanazzi 4,
Vinício de Góes Sá 5, Ana Cristina Mancussi e Faro 6

RESUMO ABSTRACT RESUMEN 1 Aluna do 4o ano do


O traumatismo raquimedular Spinal cord injury can cause El traumatismo de la médula Curso de Graduação
em Enfermagem da
é uma agressão à medula neurological damage such as espinal puede llevar a daños Escola de Enferma-
espinhal que pode ocasionar alterations in the motor, neurológicos, incluso a la gem da USP (EEUSP).
danos neurológicos, tais sensitive and autonomic alteración de las funciones denfe@bol.com.br
2 Aluna do 4o ano do
como alteração das funções function. In this paper, details motora, sensorial y Curso de Graduação
motora, sensitiva e autônoma. of clinical complications such autonómica. En este trabajo em Enfermagem da
as PVT, infection, respiratory EEUSP.
Este artigo tem como nos proponemos descubrir strazzieri@ig.com.br
propósito relatar insufficiency, pressure ulcers, detalladamente las más 3 Aluna do 4o ano do
detalhadamente as principais autossomic disreflection, importantes complicaciones Curso de Graduação
em Enfermagem da
complicações clínicas orthostatic hypotension, clínicas resultantes de ese tipo EEUSP.
resultantes desse tipo de sphincteral-vesical and de lesión, y enseñar las manicoletti@hotmail.com
lesão, e apresentar as intestinal disfunctions, are intervenciones asistenciales 4 Aluna do 3o ano do
Curso de Graduação
intervenções assistenciais de related. And will also present de enfermería que puedan em Enfermagem da
enfermagem que possam prophylactic and therapeutic ayudar en la promoción del EEUSP.
auxiliar na promoção do bem nursing care interventions bienestar y en la mejora de la romybelza@bol.com.br
5 Aluna do 3o ano do
estar e na melhoria da designed for the well-being calidad de vida de los Curso de Graduação
qualidade de vida dos and improvement in life quality pacientes, sea en carácter em Enfermagem da
pacientes, seja em caráter de for patients. de lesión ya instalada o en EEUSP.
ivamy@uol.com.br
acometimento já instalado ou carácter profiláctico. 6 Professor Livre
profilático. Docente do
Departamento de
Enfermagem Médico-
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS PALABRAS CLAVE Cirúrgica da EEUSP.
Traumatismos da medula Spinal Cord Injury. Lesión Medular. rafacris@usp.br
espinhal. Rehabilitation. Rehabilitación.
Reabilitação. Nursing. Enfermería.
Enfermagem.

Recebido: 12/09/2002
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Rev Esc Enferm USP
Aprovado: 03/10/2003 2004; 38(1):71-9.
INTRODUÇÃO A medula pode ser lesada por corpos
Denise Stela Bruni
Kelly Cristina Strazzieri estranhos ou por processos relacionados a
Marcella Nicoletti Gumieiro O presente trabalho apresenta os aspetos uma vascularização deficiente, levando à
Romy Giovanazzi fisiopatológicos e assistenciais desenvol- isquemia, hipóxia, edema e causando danos
Vinício de Góes Sá
Ana Cristina M. e Faro
vidos por um grupo de estudantes do Curso à mielina e aos axônios (2).
de Graduação em Enfermagem, durante o
ensino-aprendizagem prático junto aos Freqüentemente, as vértebras mais
pacientes em fase aguda da lesão medular. envolvidas são a 5ª e a 7ª cervicais, a 12ª
Sua finalidade é divulgar parte do conheci- torácica e a 1ª lombar. Tais vértebras são as
mento apreendido pelos alunos sobre a mais suscetíveis pois há uma grande faixa de
Reabilitação em Enfermagem, especificamente mobilidade nestas áreas da coluna(2).
em pessoas com múltiplas incapacidades, que,
segundo a Organização Mundial de Saúde O dano à medula espinhal varia de uma
concussão transitória, da qual o paciente
(OMS), traduz-se por restrições ou lacunas
recupera-se completamente (contusão,
na performance de atividades próprias ao ser
laceração e compressão da substância da
humano. Descrever as bases assistenciais dos
medula) até uma transecção completa da
cuidados de enfermagem apreendidos e
mesma, tornando o paciente paralisado abaixo
implementados pelos alunos, orientados e
do nível da lesão traumática (2-3).
supervisionados por uma docente de
enfermagem, durante o ensino prático de Sendo assim, a lesão pode ser:
campo da disciplina Enfermagem Médico-
Cirúrgica na Saúde do Adulto. O estudo • Lesão completa - as funções motora e
fundamentou-se na coleta de dados de sensitiva estão ausentes abaixo dos 3
entrevista, exame físico e busca em prontuário segmentos caudais consecutivos ao nível da
de maneira sistemática com vistas à identifi- lesão;
cação de problemas. Com a análise das alte- • Incompleta sensitiva - a atividade motora
rações e correlacionando-as com a fisiopa- está presente e permanece certa sensibilidade;
tologia da lesão medular, buscou-se o plane-
jamento da assistência e a sua implementação • Incompleta motora não funcional - a função
com a avaliação dos resultados durante todo motora está ausente ou com o mínimo uso
o processo. funcional;
• Incompleta motora funcional - a função
De acordo com Faro (1), as expectativas
motora está preservada e há funcionalidade
de estudantes de enfermagem quanto ao
abaixo do nível da lesão (1,4).
ensino de Reabilitação, durante o curso de
graduação, são positivas e apontam propostas O TRM envolve uma série de compli-
para ampliar esta abordagem mesmo durante cações, dentre elas o choque medular, que
a hospitalização, ou seja, compreendê-la o representa uma repentina perda da atividade
mais precocemente possível. reflexa na medula espinhal (arreflexia)
abaixo do nível do trauma. Nesta condição
ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS os músculos enervados pela parte do
E ASSISTENCIAIS NOS DISTÚRBIOS segmento da medula situada abaixo
NEUROLÓGICOS DECORRENTES do nível da lesão ficam completamente
DO TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR paralisados e flácidos e os reflexos são
ausentes. A pressão arterial cai e as partes
O trauma raquimedular (TRM) é uma do corpo abaixo do nível da lesão ficam
agressão à medula espinhal que pode ocasionar paralisadas e sem sensibilidade (2-3).
danos neurológicos, tais como alterações da
função motora, sensitiva e autônoma, Com os traumatismos cervicais de coluna
ocorrendo predominantemente nos homens torácica superior, a enervação para os
em idade produtiva (18-35 anos) (1). principais músculos acessórios da respiração
é perdida acarretando nos seguintes
Metade dos traumatismos resultam de problemas respiratórios: redução da

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Rev Esc Enferm USP
acidentes com veículos motorizados, quedas,
acidentes de trabalho, esportivos (princi-
palmente aquáticos), e outros decorrentes de
capacidade vital, retenção de secreções,
aumento da pressão parcial de CO2, redução
da pO2, insuficiência respiratória e edema
2004; 38(1): 71-9. ferimento por armas de fogo (2). pulmonar. Os reflexos desencadeantes das
funções vesical e intestinal são afetados Insuficiência Respiratória
Aspectos
ocasionando ileoparalítico, priapismo, fisiopatológicos e
retenção urinária, alterações digestórias Os problemas respiratórios estão assistenciais de

(dilatação gástrica), alterações cardiocircula- relacionados com o comprometimento da função enfermagem na


reabilitação da
tórias (hipotensão, bradicardia) e oscilações pulmonar cuja gravidade depende do nível da pessoa com

térmicas (3-4). lesão. Os músculos que contribuem com a lesão medular

respiração são os abdominais-intercostais,


O choque medular é parte, se não o todo, enervados por T1 a T11, e o diafragma enervado
do acometimento da lesão medular. Ele pelo nervo frênico do plexo cervical com raízes
desencadeia os efeitos “anormais e de C3 a C5. Por isso, no traumatismo da coluna
incorretos” do organismo/metabolismo do cervical alta, a insuficiência respiratória aguda é
paciente, implicando em ações de enferma- a causa mais comum de morte (2).
gem que promovam a manutenção ou o
O padrão respiratório deve ser observado,
reestabelecimento da saúde, visando a
a tosse avaliada e os pulmões auscultados, pois
melhoria da qualidade de vida (4-5).
a paralisia dos músculos acessórios do
A partir dos efeitos do choque medular, pescoço, abdominais e da parede torácica e
descritos acima, a assistência de enferma- diafragma reduz o reflexo tussígeno e dificulta
gem será fundamentada nas alterações a eliminação das secreções brônquicas e
decorrentes, sejam elas transitórias ou faríngeas (principalmente em lesão de T1/T6).
permanentes. A possível insuficiência respiratória iminente
é detectada pela observação do paciente,
Frente ao exposto, podemos afirmar que mensuração da capacidade vital e monito-
a pessoa com lesão medular apresenta rização dos valores da gasometria arterial. A
múltiplas incapacidades e, com isso, requer aspiração pode ser indicada, contudo deve ser
cuidados complexos pertinentes a tantas utilizada com precaução pois pode estimular o
alterações. À seguir pontuamos as principais nervo vago, produzindo bradicardia (2).
alterações encontradas durante a nossa
A monitorização constante pela equipe
experiência no campo prático, bem como a
de enfermagem deve ser precoce e necessária
assistência proposta.
tanto na fase aguda quanto na crônica. A
enfermagem, ao avaliar o padrão respiratório
Trombose Venosa Profunda (TVP)
do paciente, deve proceder a ausculta
A TVP é uma complicação decorrente da pulmonar, investigar alterações instaladas
imobilidade comum em pacientes com TRM. considerando os hábitos pré-existentes (1).
Aqueles que a desenvolvem estão sob risco Caso o paciente não consiga tossir
de embolia pulmonar. A presença de TVP é efetivamente devido à redução do volume
avaliada através da mensuração da panturrilha inspiratório e a incapacidade para desenvolver
e constatada caso haja aumento significativo pressão expiratória suficiente, a fisioterapia
na circunferência deste segmento (2). torácica e a tosse assistida podem ser indicadas.
É importante assegurar a umidificação e a
A terapia com doses baixas de
hidratação para prevenir que as secreções se
anticoagulantes é iniciada para evitar a TVP e
tornem espessas e de difícil remoção mesmo
a embolia pulmonar; é indicado o uso de meias
com a tosse. O posicionamento adequado no
elásticas, a execução de exercícios
leito, a mudança de decúbito e a tapotagem
fisioterápicos que promovam amplitude de
melhoram o desconforto (2).
movimento, uma hidratação adequada e a
anulação de estímulos báricos externos nos Para tratamento de pacientes com
membros inferiores decorrentes da flexão dos afecções crônicas, incapacitantes como a
joelhos enquanto o paciente está acamado (2,6). lesão, são encorajadas a vacina pneumo-
cóccica e contra influenza (2).
Os cuidados de enfermagem ao paciente
com TVP devem ser formulados considerando- Úlcera de Pressão (UP)
se a ausência do reflexo motor e a imobilidade
que o paciente tetraplégico ou paraplégico
apresenta, ou seja, posicionamento adequado
no leito, com ligeira elevação, bem como
Como o paciente com TRM fica imobil-
izado e apresenta incontinência urinária e
fecal, perda de sensibilidade, alterações no
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Rev Esc Enferm USP
movimentação passiva. turgor e na elasticidade da pele e circulatórias, 2004; 38(1):71-9.
a ameaça para desenvolver UP é constante. a inspeção destas áreas duas vezes ao dia,
Denise Stela Bruni
Kelly Cristina Strazzieri Nas áreas de isquemia tecidual local em que observando a presença de eritema, edema ou
Marcella Nicoletti Gumieiro há pressão contínua e na qual a circulação escoriações. As superfícies em contato com
Romy Giovanazzi periférica é inadequada, as UP desenvolvem- o corpo, como lençóis e colchões, devem ser
Vinício de Góes Sá
Ana Cristina M. e Faro se dentro de 6 horas. Os sítios mais comuns macias, e estar bem posicionadas, evitando
localizam-se acima da tuberosidade isquiática, assim ondulações que possam traumatizar a
na região sacra, na trocantérica, nos pele do paciente (1,7).
calcanhares e nos cotovelos (2,7).
A ausência de sensibilidade exige cuida-
De acordo com a profundidade e a extensão dos como nutrição equilibrada, hidratação
das feridas, podemos classificá-las desta forma: cutânea e posicionamento correto seja no leito
grau 1, eritema na pele intacta; grau 2, úlceração ou em cadeira de rodas (1).
superficial com perda da camada epidérmica e
derme, sem atingir o subcutâneo (é o caso das Uma vez instalada a úlcera, o tratamento
bolhas); grau 3, danos ao nível da epiderme, deve ser realizado por meio de curativos
derme e subcutâneo com proximidade da fáscia diários , alívio total da pressão sobre a área e
muscular que, embora possa estar exposta, desbridamento das regiões necrosadas.
ainda não foi atingida; grau 4, extensiva Aconselha-se recorrer a um profissional
destruição com necrose de tecido, danos em qualificado, como o enfermeiro, que avalie e
estruturas musculares, tendões, ossos e até cuide corretamente do ferimento (1,8).
cápsula sinovial. É possível a presença de
infecção local e exsudato (assim como nos Disreflexia Autonômica
outros níveis) e o paciente corre grave risco de É uma emergência aguda que ocorre em
evoluir para septicemia (1). pacientes com lesão medular como resultado
Compete ao enfermeiro propor condutas no de respostas autônomas acentuadas aos
sentido de orientar e treinar o paciente/família/ estímulos que são inócuos em indivíduos
cuidador quanto às mudanças de decúbito normais. Essa síndrome é caracterizada por
minimamente a cada duas horas nas posições cefaléia intensa, hipertensão paroxística, pupilas
dorsal e laterais (direita -esquerda). O decúbito dilatadas, visão embaçada, piloereção, sudorese
ventral pode ser indicado para paraplégicos profusa, congestão nasal e bradicardia.
somente quando há impossibilidade de usar os Acontece comumente em pacientes com lesão
laterais e/ou dorsal (1,7). medular acima do nível T6 (2).

Inúmeros estímulos podem desencadear


A inspeção cuidadosa da pele deve ser feita
este reflexo como a distensão vesical (a causa
em todas as mudanças de decúbito, mantendo
mais comum), estimulação da pele (tátil, dolorosa,
sempre leito e períneo livres de sujidades. No
térmica), distensão de órgãos viscerais,
banho o paciente deve utilizar sabonete neutro
especialmente intestino (devido a constipação
e sua pele deve ser enxaguada e seca
e impactação) e unhas encravadas. Ocorre vários
delicadamente, não friccionando a toalha
meses depois do trauma tendo maior incidência
contra a pele. Áreas sensíveis à pressão devem
em tetraplégicos, desaparecendo dentro de 3
ser mantidas bem lubrificadas e hidratadas
meses após o trauma (2).
pelo uso diário de creme umectante (2,7).
Como inúmeros estímulos podem
Podem ser colocadas espumas nas formas
desencadear tais reflexos, foram selecio-
de cilindros, quadrados, retângulos e
nadas intervenções de enfermagem de
triângulos para oferecer apoio e sustentação
urgência. São elas:
às regiões dorsal, poplítea, dos cotovelos e
calcanhares. Na região sacral tem-se • colocar imediatamente o paciente sentado;
preconizado o uso de almofadas d’água
quadradas e de espuma siliconizada em • registrar pulso e pressão arterial para avaliar
diferentes densidades (1,7). a eficácia das intervenções;
• esvaziar imediatamente a bexiga através de
O paciente é orientado e esclarecido

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sondagem de alívio;
quanto ao desenvolvimento das UP nas
proeminências ósseas expostas à pressão • promover lavagem intestinal ou fleet-
Rev Esc Enferm USP
contínua e prolongada. Pacientes paraplé- enema, considerando uma possível
2004; 38(1): 71-9. gicos são incentivados a usar espelhos para constipação como causa do evento;
• eliminar qualquer outro estímulo que possa • na traqueostomia, aspira-se adequadamente Aspectos
se constituir num evento desencadeador, as vias aéreas; fisiopatológicos e
como objetos injuriando a pele ou uma assistenciais de

corrente de ar frio, bem como roupas e • proporciona-se hidratação adequada com o enfermagem na
reabilitação da
calçados apertados; intuito de fluidificar secreções (2). pessoa com
lesão medular
• administrar o tratamento medicamentoso O risco de infecções do trato urinário são
(alfa e beta bloqueador e miorrelaxante) minimizadas ou prevenidas por:
conforme prescrição médica (2).
• uso da técnica asséptica no manuseio do catéter;
Infecções • hidratação adequada;
Os pacientes tetraplégicos e paraplégicos • programa de treinamento vesical;
estão mais predispostos à infecção e • prevenção de superdistensão vesical e estase (2).
“sepsis”, decorrentes de uma variedade de
fontes. Por exemplo, o trato urinário, devido A infecção pelo rompimento da
ao funcionamento anormal da bexiga e a integridade da pele é evitada pela (o):
constante manipulação -cateterismos-,
apresenta episódios de distensão vesical e • periodicidade na mudança de decúbito;
alteração das características da urina, com
• posicionamento adequado e conforto, tanto
aspecto turvo devido aos sedimentos
no leito como em cadeira de rodas;
provocados pela infecção. No trato
respiratório, o comprometimento do meca- • avaliação regular de todas as áreas do corpo,
nismo da tosse, passível de estar ausente, se possível utilizando um espelho para melhor
contribui para a freqüente ocorrência de visualização da pele;
pneumonia; doenças intra abdominais podem
• cuidado regular com a limpeza e lubrificação
estar presentes sem sintomas ou sinais
da pele;
localizados, por exemplo, na pancreatite o
exame físico revela aumento da espasticidade • alívio da pressão, particularmente sobre
e defesa abdominal; áreas de úlceras por áreas fissuradas da pele, proeminências
pressão apresentam riscos para tornarem-se ósseas e calcanhares;
infectadas causando osteomielite e febre pela • lençol sem dobras ou rugas (2).
própria integridade tissular prejudicada,
exposição ambiental e déficits nutricionais (2). Bexiga Neurogênica
A intervenção de enfermagem na (disfunção vésico-esfincteriana)
prevenção da infecção e da sepsis é essencial A bexiga é controlada por mecanismos
para reduzir a morbimortalidade, manter a voluntários e involuntários, e, imediatamente
integridade da pele e reeducar a bexiga e o após um trauma medular, torna-se atônica e
intestino, corrigindo a inconti-nência urinária não pode contrair-se pela atividade reflexa. A
e fecal. É essencial o acompanhamento da retenção urinária é o resultado imediato da
temperatura corporal e seu registro (2). lesão medular. Como o paciente não sente a
O risco de infecção respiratória, sobretudo distensão vesical, o superestiramento da
em tetraplégicos, pode diminuir quando: bexiga e do músculo detrusor pode ocorrer e
retardar o retorno da função vesical. Qualquer
• evita-se o contato entre pessoas com lesão nervosa que interfira neste mecanismo
sintomas de infecção respiratória; origina uma bexiga neurogênica(2).
• estimula-se a tosse e a prática de exercícios Já quando a lesão do centro miccional (ao
respiratórios que ajudam a evitar o acúmulo nível das raízes S2, S3 e S4 que correspondem
de secreções; às vértebras T11 e T12) isola a bexiga da
medula, o paciente pode referir vontade de
• orienta-se quanto à mudança de decúbito; urinar, mas não há esvaziamento vesical. Caso

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• administra-se anualmente vacinas profi- faça algum esforço, é possível que ocorra a
láticas contra a influenza; drenagem de urina da bexiga autônoma (1).

• desestimula-se o tabagismo, para quem tem O esvaziamento vesical pode ser feito por
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esse hábito; meio do cateterismo intermitente, a cada 4 ou 2004; 38(1):71-9.
6 horas, de acordo com o balanço hídrico do porção retal para o cérebro não conseguem
Denise Stela Bruni
Kelly Cristina Strazzieri paciente para evitar o superestiramento da passar pelo bloqueio na altura da lesão, o
Marcella Nicoletti Gumieiro bexiga e a infecção do trato urinário (2). que pode resultar em movimentação intestinal
Romy Giovanazzi insuficiente e acarretar constipação e
Vinício de Góes Sá O volume urinário em cada esvaziamento impactação fecal. Os efeitos da imobilidade
Ana Cristina M. e Faro
não deve ultrapassar 500 ml. Na impossibi- dessa musculatura variam dependendo do
lidade de se realizar o cateterismo intermitente nível e da extensão da lesão. O mecanismo de
utilizam-se sondas de demora que devem ser esvaziamento intestinal é coordenado pelo
fixadas de modo a não originar fístulas. A nível medular S2 a S4 e a lesão a este nível
sonda deve ser aberta a cada 3 ou 4 horas e deve incapacitar o desenvolvimento da
trocada semanalmente(4). defecação automática (1,9).
Ao paciente/família/cuidador incentiva-se As lesões acima de S2, muito mais
o registro da ingesta hídrica, do padrão comuns, capacitam a pessoa a desenvolver
miccional, da quantidade, do aspecto da urina uma defecação reflexa (1,9).
e também de quaisquer sensações sistêmicas
incomuns que estiverem ocorrendo (1-2). É importante investigar os hábitos
alimentares e o padrão de eliminação
Pode requerer para seu esvaziamento, a intestinal anterior à lesão medular, bem como
utilização de manobras específicas não a situação atual, considerando e avaliando-
invasivas, como a estimulação suprapúbica se a presença de ruídos hidroaéreos (9,14).
(estimulação digital por leves toques com as
pontas dos dedos na região suprapúbica), Recomenda-se uma alimentação balan-
Credê (compressão em baixo ventre com a mão ceada e uma hidratação adequada. Três
espalmada ou fechada), Valsalva (inspiração refeições por dia (café da manhã/almoço/
profunda seguida de expiração forçada, o que jantar) são recomendadas para que se tenha
aumenta a pressão intrabdominal), de acordo massa fecal suficientemente volumosa. A
com a presença ou ausência de atividade ingesta hídrica (aproximadamente de 2,5 a 3
vesical reflexa. É bom lembrar que tais estímulos litros) torna menos consistente o bolo fecal
sensitivos induzem ao esvaziamento vesical facilitando sua eliminação. Quando ocorre
incompleto e sem o controle do paciente (1-2,6). constipação, deve-se ingerir mais líquidos, o
que não se restringe somente à água mas
Para a reeducação vesical, o hábito de ingerir também sucos de frutas, vitaminas, leite e
2 a 3 litros de líquido por dia aumenta o débito iogurtes. Deve-se evitar chás e refrigerantes
urinário e contribui para a prevenção de infecções porque são constipantes e provocam
do trato urinário. Antes de dormir e uma hora flatulência(9,14).
após cada refeição (café da manhã, almoço ou
jantar), o esvaziamento da bexiga deve ser Alimentos com fibras como quiabo,
viabilizado com o auxílio das manobras de Credê, abóbora, beterraba, laranja, mamão, pêra,
Valsalva e pela estimulação suprapúbica (9). melão, ameixa preta seca, figo, milho, frutas
com casca, cereais integrais, pão preto, farelo
A lavagem das mãos, com água de trigo, e iogurtes devem ser incentivados
abundante e sabão, quando for realizado o pois, por conterem maior quantidade de fibras,
cateterismo, é fundamental (2). evitam a constipação e a flatulência. Ali-
mentos como queijos, compota de maçã, pão
O autocateterismo vesical intermitente,
branco, suco de maçã e cenoura, banana
técnica limpa apresenta muitas vantagens no
prata, coca-cola, gelatina, massas em geral,
tratamento das disfunções vesico-esfincterianas,
arroz, batata, carnes magras, feijão e repolho,
já constatadas por pesquisas nacionais/
devem ser ingeridos com moderação pois
internacionais. É um procedimento considerado
provocam constipação (9,14).
de fácil execução, que mais se aproxima da função
vesical normal, reduz episódios de infecção É recomendável que o paciente padronize
urinária, preserva a função renal e promove a seu horário para a evacuação considerando os
reeducação vesical (10-13). hábitos e horários anteriores à lesão medular,

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e, dessa forma, estabeleça uma rotina (9,14).
Disfunção Intestinal
Pode-se utilizar o artifício das manobras
Devido à interrupção dos nervos da anteriormente citadas, acrescentando-se a de
Rev Esc Enferm USP
2004; 38(1): 71-9. medula espinhal, as mensagens advindas da Rosing que é a massagem feita várias vezes
no abdômen, no sentido da direita para a restrita dos sinais vitais antes e no decorrer
Aspectos
esquerda e de baixo para cima com leve da mudança de posição é uma delas. A fisiopatológicos e
compressão durante 20 a 30 minutos após as elevação lenta da cabeceira da cama, na manhã assistenciais de
enfermagem na
refeições (1,9,14). anterior ao paciente ser removido para a reabilitação da
pessoa com
posição sentada, associada ao uso de meias lesão medular
Durante as manobras, o paciente é elásticas de alta compressão e faixas
orientado a adotar a posição sentada, e caso abdominais, quando se inicia o ortostatismo,
o equilíbrio permita, deve ficar inclinado para
possibilita prevenir a manifestação dessas
a frente. Para a prevenção de lesões cutâneas
crises por melhorar principalmente o retorno
pode se adaptar espumas no assento sanitário
venoso dos membros inferiores. A medicação
e, por isso, é aconselhável evitar comadres e
vasopressora utilizada para tratar a vasodi-
urinol. Caso as manobras não funcionem, está
latação profunda, e a adoção do decúbito
indicada a estimulação retal: introduz-se o
dorsal, mantendo os 4 membros elevados, são
dedo, se possível enluvado e lubrificado,
medidas terapêuticas na vigência aguda da
suavemente no ânus com movimentos de
hipotensão ortostática (2,5).
“vaivém” durante 5 minutos. Caso não haja
êxito com a prática, recomenda-se o Cada atividade deve ser planejada com
supositório de glicerina. É aconselhável antecedência e tempo adequados para o
procurar assistência médica se não houver paciente mudar, lenta e progressivamente, da
episódios de eliminação fecal por mais de três posição de decúbito dorsal para a posição
dias. O uso de laxantes sem orientação médica sentada, e, depois, ereta (2), ou seja, a cabeça e
é desaconselhável. O enfermeiro/paciente/ o tronco são elevados progressivamente até
cuidador deve observar e anotar sempre o que, sentado, seja na cama ou em cadeira de
aspecto (cor, odor) e o volume aproximado rodas, fazendo ângulo de 90º entre tronco e
das fezes, considerando-se também o aspecto quadril, apresente equilíbrio e bem estar geral.
do abdomen (9,14).
Alterações psicossociais
Hipotensão Ortostática
Em geral, leva tempo para o paciente e a
Em lesões medulares altas, acima de T6, família compreenderem a magnitude das
ocorre a hipotensão ortostática devido a
incapacidades resultantes do TRM. Eles
privação da resposta simpática responsável
podem atravessar estágios de ajuste,
por manter o turgor tecidual e não permitir
incluindo choque, descrença, negação,
acúmulo de sangue nas paredes dos vasos
depressão, luto e aceitação. Durante a fase
sangüíneos. Esta situação é caracterizada por
aguda do trauma, a negação pode ser um
náuseas, síncope, tontura e incapacidade de
mecanismo protetor de defesa dos pacientes,
tolerar a posição supina (principalmente em
ajudando-os a superar a realidade do aconte-
tetraplégicos). Tal quadro é agravado pelo
cimento. À medida que eles consci-entizam-
déficit do retorno venoso e pela deficiência
se do agravo, o processo de luto pode
da mecânica ventilatória (9).
prolongar-se e tudo se fecha, uma vez que
Lesões de nível alto rompem com eles passam a reconhecer as metas de longo
conexões simpáticas entre o tronco cerebral alcance e as expectativas podem ser interrom-
e o coração e podem ocasionar freqüência pidas ou alteradas permanentemente. O período
cardíaca relativamente baixa. Alterações de depressão com freqüência continua à
dramáticas no pulso e na pressão arterial medida que o paciente apresenta perda de
ocorrem em pacientes com TRM alto e auto-estima em áreas de identidade própria e
não necessariamente produzem sintomas de papéis sociais e emocionais (2).
clínicos. Há também hipotensão sintomática
relacionada a alterações posturais como nas O ajustamento à incapacidade tende ao
mudanças de decúbito e de alimentação desenvolvimento de metas realistas para o
(resultante de um pool sangüíneo em membros futuro, melhorando as habilidades que
inferiores e vasoconstrição ineficaz devido a permanecem intactas e reinvestindo em
outras atividades e relacionamentos. A

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lesão no sistema nervoso central) (2).
rejeição à incapacidade causa negligência
Inúmeras técnicas podem ser usadas pela auto-destrutiva e não adesão ao programa
enfermagem para reduzir a freqüência dos terapêutico, que leva a mais frustração e Rev Esc Enferm USP
episódios hipotensivos. A monitorização depressão (2). 2004; 38(1):71-9.
A exploração e a avaliação destes aspectos CONSIDERAÇÕES FINAIS
Denise Stela Bruni
Kelly Cristina Strazzieri ajudam no desenvolvimento de um plano de
Marcella Nicoletti Gumieiro cuidados significativo para a enfermagem, como A possibilidade de descrever a assistência
Romy Giovanazzi por exemplo, arrumar meios para que sejam de enfermagem implementada por um grupo
Vinício de Góes Sá
Ana Cristina M. e Faro capazes de trabalhar e superar esta depressão, os de estudantes de enfermagem, baseada nos
pacientes devem ter, de alguma forma, esperança aspectos fisiopatológicos da lesão medular e
de alívio futuro. Portanto, eles devem ser em discussões diárias com a docente
orientados no sentido de adquirir auto-confiança responsável pela supervisão do ensino
em suas capacidades para que o auto-cuidado e a prático no campo, foram fatores essenciais
independência relativa sejam metas atingidas (2). para a desmistificação da possibilidade de
“cura” real, principalmente, para alunos de
Neste processo, entendido por Reabi- graduação em enfermagem. Parte desta utopia
litação, os cuidados físicos serão os primeiros a é proveniente não só da falta de conhe-
serem assimilados, enquanto os de ajustamento cimento, mas também da esperança dos
deverão ser contínuos por toda a vida (1). pacientes em relação à sua recuperação,
notável a cada evolução de enfermagem e
PERSPECTIVAS PARA A intervenções realizadas.
ASSISTÊNCIA DOMICILIÁRIA
As intervenções de enfermagem aqui
As pessoas com lesão medular apresentadas e sugeridas não trazem de
apresentam riscos para o desenvolvimento volta os movimentos perdidos, mas
de complicações por toda a vida. As infecções permitem a convivência com a incapacidade
do trato urinário, as úlceras de pressão e a de maneira digna e com melhor qualidade
espasticidade muscular podem aparecer de vida (5).
necessitando até mesmo de hospitalização.
Em casos de TRM, devemos considerar
Para evitar essas complicações ou o que a Reabilitação tenha início no momento
agravamento das incapacidades, pacientes e do acidente, pois envolve a aprendizagem do
familiares cuidadores têm de ser orientados sobre paciente e da família diante de uma vida
os cuidados com a pele, com o catéter vesical, completamente diferente. À partir daí, o maior
sobre os exercícios de amplitude de movimento desafio é a prevenção das complicações ou
e outros cuidados já na admissão hospitalar. de incapacidades secundárias que, se
O ensino sobre o autocuidado é reforçado contornadas, melhoram gradativamente o
durante as visitas domiciliárias pela potencial funcional dos pacientes.
Enfermeira de Reabilitação e conhecedora,
portanto, da complexidade das alterações Para superar o impacto de uma vida
oriundas da lesão medular. limitante, porém atuante, familiares e/ou
cuidadores deverão ressaltar aspectos
Podem ser recomendadas modificações positivos da recuperação, incentivando e
no domicílio para facilitar o acesso e cuidados elogiando os progressos fisioterapêuticos,
a serem realizados em casa. Materiais e assim como respeitando os momentos de
equipamentos específicos também necessitam desesperança, frustração e hostilidade, uma
de prescrição médica e de enfermagem tanto vez que também pertencem às fases de
para a aquisição como para a sua utilização. ajustamento de uma nova condição de vida.

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