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Paula Ribeiro
Aluna do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades
Fone: (71) 9932 1848 – paulinhacisv@hotmail.com
Rodrigo Araújo
Professor da UFBa – rodrigoaraujo77@hotmail.com
Resumo: Este artigo vem para discutir a idéia da racionalidade trazida pelo Iluminismo
como elemento fundamental da sociedade que traz atrelado a essa toda uma lógica e
desdobramentos na vida social e cultural do ser humano. A racionalidade orientou o perfil
da sociedade contemporânea em suas características básicas que basicamente é resumida no
triunfo da razão em detrimento a certos aspectos sensíveis do homem, como a arte e a
cultura, que a partir dessa valorização da razão, se viu marginalizada como mera diversão e
entretenimento, tirando dela a sua também essencial fonte de identidade e orientadora do
espírito humano que se expressa muitas vezes através da arte o seu modo de vida tanto
cultural, quanto político e social.
1. Introdução
Sendo assim, pode-se listar algumas linhas gerais que circundam o Esclarecimento: a
Tolerância Religiosa, sendo um termo em si já esclarecido e por ter deixado ao homem servir
de sua própria razão em questões de consciência, permitindo o uso de sua liberdade,
prerrogativa necessária a sua emancipação, o que coincide por outro viés na Laicização do
Estado, distanciando-se do sagrado; a defesa dos direitos naturais do homem e do cidadão, o
que também permite a sua liberdade de viver e exercer seus direitos e deveres dentro da
sociedade, sem contudo preterir sua faculdade de racionalizar sua condição; a rejeição dos
conhecimentos advindos da fé, encarados como senso comum e dos sistemas metafísicos
dogmáticos, como aqueles pregados por Sto. Agostinho e São Tomás de Aquino, eliminando
a Lei Divina, a Lei Eterna e assumindo a Lei Natural (como no item anterior) e o
Ordenamento Jurídico ou Lei do Homem. Partindo dessa rejeição anteriormente citada, pode-
se falar da crítica das superstições contituídas pelas religiões positivas e com defesa do
deísmo, o que de certa forma vai de encontro à tolerância religiosa. E também a luta política
contra os privilégios e as tiranias, o que obviamente permitiria a liberdade essencial para uso
da razão e também o seu uso público, totalmente proibido em tiranias.
Dessa forma, retirar da cultura todos os elementos míticos para permitir a vitória do
racional pode significar no caso do mito, retirar o encanto do canto das sereias, ou seja, tirar o
encanto das artes, coincidindo assim num gozo incompleto (conhecer, mas não abdicar da
razão), que seria a racionalização da arte. E o que pode ser observado na sociedade ocidental
contemporânea é exatamente essa arte que é tolerada, essa estrutura estabelecida para a arte,
não traz ameaça ao estabilishment, porque é esvaziada a poética da arte para a visão da arte
como produto de entretenimento seguindo a tendência do capitalismo. Assim, há uma
retaliação do senso crítico antes aliada à arte em prol da diversão cega, o que se aproxima dos
remadores do mito das sereias, em que eles tapam os ouvidos pela ordem do chefe sem o
senso crítico voltado para aquilo, se tornando servos daquela situação, o que configuraria uma
existência construída para os remadores, já que esses não têm consciência da própria realidade
vivenciada.
Esse fenômeno social da indústria cultural se torna então, em resumo, a perda do valor
que distinguia a obra de arte da lógica tecnicista do sistema social para que ela se transforme
em produção em série. Assim, a racionalização da cultura não significa apenas a apreciação
do seu encanto sob o controle da soberania da razão, mas o uso dessa racionalidade a serviço
do poder do capital para esvaziar a arte e transformá-la em fonte de poder do capital. E além
de tudo essa indústria baseada na reprodutibilidade técnica em massa da obra de arte
transformada em produto para venda, se mostra dependente de outros setores sociais mais
“potentados”, seguindo suas cartilhas e comandos para que eles prossigam com o controle
sobre essa esfera social, sem muitas mudanças. Isso pode ser resumido numa passagem do
texto de Adorno e Horkheimer que diz: “ A dependência da mais potente sociedade
radiofônica à indústria elétrica, ou a do cinema aos bancos, define a esfera toda, cujos setores
singulares são ainda, por sua vez, co-interessados e interdependentes”. E portanto, os aspectos
atrelados a essa indústria atesta certa unidade, ainda em formação, da política, já que essa
cultura em si revela fatores sociais e políticos de seu contexto, assim as diferenças vêm
cunhadas e difundidas artificialmente e essas diferenças são seguidas pelos consumidores
espontaneamente, que seguem uma hierarquia, respeitando o seu nível.
3. Considerações finais
Em resumo, o planejamento de domínio da racionalidade prevista desde o Iluminismo
e ter sido encontrado vários sinais dessas na mitologia grega, certamente foi o centro da
construção do pensamento e do espírito do homem inserido na sociedade ocidental
contemporânea que vê não só o triunfo da razão sobre o encantamento da obra de arte, mas o
triunfo do capital investido. E assim, a racionalidade com o capitalismo constrói a identidade
forjada do indivíduo que consome arte empacotada, circundando a idéia de arte como
entretenimento, não como fonte de senso crítico e reflexão sobre sua própria realidade. Diante
disso tudo explanado, Kant traz a idéia de que “a alma agia um mecanismo secreto que já
preparava os dados imediatos de modo que se adaptassem ao sistema da pura razão”. No
contexto contemporâneo esse mecanismo secreto está escancarado, mostrando que a indústria
que perpassa por tanta racionalidade, produz a irracionalidade para legitimar a idéia de arte
como distração, que é utilizada para aliviar as tensões e esquecer os problemas sociais.
Porém, a utilização do senso crítico nos permite uso público da nossa liberdade de raciocinar
e repensar os fatos, revendo a arte como instrumento de reflexão e transformação.
Referências