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Lucas Moreira
ARENDT, Hanna. “Os domínios público e privado”. In: ARENDT, Hanna. A condição
humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.
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O homem agora pertencendo a dois domínios: aquele que refere-se à família
(bios oikos) e o que refere-se aos outros homens (bios politikons), desenvolve modos
diferenciados de relacionar-se. Á vida familiar grega destinava-se o tratamento
despótico e hierárquico, onde o homem imponha-se a todos da casa. Á vida política
grega destina-se aos homens que têm suas necessidades atendidas na vida familiar e,
portanto, são livres para a vida política, isto é, a de poder agir (praxis) e discursar
(lexis). A premissa de liberdade, então, é esta: que não haja necessidade na qual seja
preciso atender. Os homens que tinham sua vida familiar organizada por suas mulheres
e escravos, eram isentos das responsabilidades desta, embora a controlasse de maneira
despótica, e poderiam, assim, participar da vida política, ou seja, “a vitória sobre as
necessidades da vida no lar constituía a condição óbvia para a liberdade da pólis”, diz
Arendt. Logo, a vida política era destinada apenas a homens com a condição de livres e
que, por apresentarem esta mesma condição, eram todos iguais. Assim, a pólis
diferenciava-se do lar por ser o lugar dos “iguais” e o lar da completa “desigualdade”. É
então que encontramos a primeira figuração do público, isto é, a vida política como
convívio como a sociedade e passível de ação, e o privado, a vida familiar como
convívio particular e privada de qualquer ação.
Durante o período feudal, o público e privado estreitaram-se a tal ponto que era
quase impossível diferenciá-los: o senhor do feudo agia como o chefe da família dentro
dos seus limites do feudo, diferenciando-se ao passo que administrava a justiça dentro
deste, coisa esta que o chefe de família só conhecia fora do domínio político. Notamos,
com isso, o advento do social, uma espécie de absorção do domínio público pelo
domínio privado, o que mais tarde resultou nos interesses privados assumindo uma
importância pública. A ascensão desta sociedade trouxe, aparentemente, o declínio da
vida familiar, mas na verdade representou a homogenia do privado e o público. Na
modernizada, isto é, no período de ascensão do social, a ação, bem como na vida
familiar, é privada aos seus membros; o que espera-se deles é um tipo de
comportamento regulado e imposto. Na liberdade, a ação é substituída pelo
comportamento regulado, que Hannah Arendt atenta para uma espécie de
“conformismo”, e o rela significado para “público e privado” agora refere-se à coisas
que devem ser expostas para adquirir existência e à coisas que devem ser ocultadas.
No final do capítulo, Hannah Arendt fala acerca da bondade humana como uma
prática da vida ativa e apresenta-nos um ensinamento sobre esta prática, decerto uma de
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suas principais preocupações relatadas em grande parte de suas obras. A filosofia de
Arendt deixa, então, uma análise empírica e materialista na história e nos faz questionar
sobre nossas ações e principalmente “o que estamos fazendo”.