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Passagens de textos de J.

Agassi sobre a relação entre ciência e metafísica


Trad. por Valter A. Bezerra

As teorias são concepções acerca da natureza das coisas (tais como a teoria de Faraday do
universo como um campo de forças). As teorias e os fatos científicos podem ser interpretadas
a partir de diferentes pontos de vista metafísicos. Por exemplo, a teoria de Newton da
gravitação como ação a distância foi interpretada por Faraday como uma aproximação a uma
(futura) teoria do campo gravitacional. Uma interpretação pode se desenvolver até uma teoria
científica (tal como a teoria do campo gravitacional de Einstein), e a nova teoria científica
pode ser ser difícil de interpretar a partir de um ponto de vista metafísico adversário. As
doutrinas metafísicas normalmente não são tão criticáveis quanto as teorias científicas;
usualmente não há refutação, e portanto não há experimento crucial, na metafísica. Porém
algo como um experimento crucial pode ocorrer no seguinte processo. Duas concepções
metafísicas diferentes oferecem duas interpretações diferentes de um corpo de fatos
conhecidos. Cada uma dessas interpretações se desenvolve em uma teoria científica, e uma
das teorias científicas é derrubada num experimento crucial. A metafísica por trás da teoria
científica derrotada perde seu poder interpretativo e é então abandonada. É assim que alguns
problemas científicos são relevantes para a metafísica; e em geral é a classe de problemas
científicos que exibe essa relevância que é escolhida para estudo. [J. Agassi, “The nature of
scientific problems and their roots in metaphysics”, em: Science in Flux, p. 210. Dordrecht:
D. Reidel, 1975.]

A metafísica de Descartes (que era uma aperfeiçoamento daquela de Galileu) era uma
concepção do universo como um mecanismo de relógio. Ela não explicava quase nada; não
fora projetada para explicar nada. Descartes afirmava que qualquer hipótese científica que ele
pudesse abraçar deveria ser tal que se conformasse à sua metafísica. Ele acrescentou que
hipóteses explicativas que se conformassem à sua metafísica poderiam sempre ser
encontradas. Boyle fez a mesma afirmação acerca da sua própria metafísica semi-cartesiana, e
o mesmo fez Newton a respeito de sua própria metafísica (em seu prefácio e no Escólio Geral
aos Principia). Mas esta repetida afirmação do metafísico é, freqüentemente, falsa. Pode-se
argumentar que a sua doutrina deixa um espaço insuficiente para a explicação, que ela
proporciona um quadro excessivamente estreito. Quando se percebe ser este o caso, surge a
demanda por um novo referencial metafísico. A metafísica estagna em culturas não-
científicas (ou não-críticas); ela é progressiva nas culturas científicas. Ela então progride
porque se sente que as doutrinas metafísicas existentes são referenciais restritivos, e portanto
insatisfatórios. [J. Agassi, “The nature of scientific problems and their roots in metaphysics”,
em: Science in Flux, pp. 226-227.]

Não sei porque os eventos significativos na história da ciência deveriam ser metafisicamente
significativos, porém até agora tenho constatado ser quase sempre esse o caso. Sugiro a teoria
segundo a qual a significância com relação à ciência (pura) é, usualmente, a significância com
relação aos referenciais metafísicos da ciência. É compreensível que se os referenciais
metafísicos são projetos de pesquisa, eles deveriam ser levados muito a sério, porém por que
deveriam todos os projetos de pesquisa (pura) ser vinculados a algumas doutrinas
metafísicas? De fato, penso que a maioria dos projetos de pesquisa não são pensados, pelos
menos não conscientemente, para serem relevantes para a disputa entre as doutrinas
metafísicas da época. Contudo, esses projetos, vistos posteriormente como significativos,
exibem a capacidade de lançar luz sobre questões metafísicas correntes. Não diviso outra

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explicação para esse fenômeno a não ser que é essencialmente o interesse metafísico que
confere significância (puramente científica) a esta parte da ciência e não àquela; portanto, a
maioria dos cientistas (puros) está mais preocupada com a metafísica do que pode parecer. [J.
Agassi, “The nature of scientific problems and their roots in metaphysics”, em: Science in
Flux, p. 232.]

A questão: “qual questão vale a pena investigar?” é uma questão crucial a respeito da qual
quase não existe literatura nenhuma — mas que é colocada e respondida regularmente. Os
cânones empregados nesse procedimento podem ser explicitados e aperfeiçoados. Esses
cânones são parte daquilo que tomamos como sendo o ponto de vista da comunidade à qual
pertence o pesquisador. Esse ponto de vista inclui, para repetir a asserção de Collingwood, a
metafísica da comunidade. Não que o indivíduo esteja preso ao ponto de vista de sua
comunidade  de fato, ele pode inventar o seu próprio. Mas para que uma nova metafísica
seja significativa, ela deve captar a atenção de uma audiência de investigadores. Ela faz isso
ao levantar questões que interessam a um público de estudantes que desejam investir tempo
no seu ataque. A metafísica é, então, operacionalmente  mas apenas operacionalmente 
equivalente ao cluster de questões a que ela dá origem, para usar a frase de Bromberger. É por
isso que Faraday, o inventor de uma nova concepção em física, falava sobre “aquele dever da
ciência que consiste na enunciação de problemas a serem resolvidos”. Assim, eu sugiro que a
melhor questão, aquela que mais vale a pena investigar, é aquela que é mais pode alterar o
nosso ponto de vista, a nossa metafísica, toda a nossa concepção de universo. A ciência fez da
alteração dos nossos pontos de vista um hábito, e existe método nessa insanidade [frase
tirada do “Hamlet” de Shakespeare] Além disso, tal método é contrário às concepções
metodológicas correntes, em particular aquelas de K. R. Popper. [J. Agassi, “Questions of
science and metaphysics”, em: Science in Flux, p. 244. Dordrecht: D. Reidel, 1975.]

Quando formulamos uma questão: “x?”, desejamos uma teoria da qual segue-se x, porém não
necessariamente qualquer teoria. Queremos uma teoria que se conforme à metafísica atual, ou
então uma que possa nos ajudar a desenvolver uma nova metafísica, conforme o caso. (Esses
dois casos estão em certa medida em paralelo com a ciência normal e a ciência revolucionária
de Kuhn.) Assim, qual explicação é causal é algo que depende da metafísica corrente, ou da
de amanhã, dependendo da situação em foco. E escolhemos questões que a nossa metafísica
transforma de “questões-por-quê” em “questões-qual” — topando, mais cedo ou mais tarde,
com um obstáculo que pode nos forçar a a alterar todo o nosso ponto de vista ou a nossa
metafísica. Ainda melhor, e mais realisticamente, podemos operar com mais de um conjunto
de pressupostos, transformar uma “questão-por-quê” em duas “questões-qual” rivais, e ver
qual é preferível. Essa é uma espécie de experimento crucial entre conjuntos de pressupostos
de pontos de vista metafísicos — não um experimento crucial que, na ciência, seleciona uma
resposta dentre um conjunto de conjunto de respostas a uma dada questão, mas sim um que, a
partir de um conjunto de traduções de uma dada “questão-por-quê” como “questões-qual”,
seleciona uma dessas traduções. Porém tudo isso ainda está longe de ser formulado numa
linguagem formal, ou mesmo de receber uma formulação minimamente rigorosa, e ainda está
mais ou menos “no ar”. Essa é, portanto, a minha visão da interação dialética entre a ciência e
a metafísica, apresentada à luz dos desenvolvimentos mais recentes na lógica das questões e
respostas. [J. Agassi, “Questions of science and metaphysics”, em: Science in Flux, pp. 266-
267.]

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